Louquética

Incontinência verbal

domingo, 31 de maio de 2009

Não condenem Vinícius


A beleza interior é fundamental tanto quanto a estética externa.
Há pessoas, contudo, que estão acima destes critérios e conseguem ser lindas porque sensuais. Estas pessoas são um convite e uma promessa de prazer, não nos remetem aos enjôos narcísicos dos convencidos nem aos desencantos de quem só é bonito por dentro.
Millan Kundera, no seu livro de que mais gosto, A insustentável leveza do ser, mostra que a sensualidade é o que nos faz flertar e que o flerte é sempre uma promessa de gozo.
Também seus personagens são sensuais, têm uma carga erótica fantástica e sabem usufruir dos melhores elementos desta dádiva.
Claro, na trama, as coisas ora se confundem, ora se resolvem, mesclando amor, prazer e dor.
Ainda acredito que temos dificuldade em admitir que a beleza nos suborna e que a possibilidade do prazer também o faz.
Estive muito entediada e em processo de distanciamento de Dexter. Não gostei das cobranças...aí, quando ele argumenta fragilmente, quando me dá motivos fluídos, inconsistentes para justificar as atitudes dele, me permito ser subornada pelas prazerosas possibilidades e ofertas que tenho ao estar com ele.
Lembro de Rita Lee cantando: "Vestindo fantasias/tirando a roupa", num sexo que se faz por telepatia. Não é distante da plenitude da corporeidade e da ars erótica de Foucault (História da sexualidade I) e nem sei se isso se entende ou se explica assim, teoricamente.
Mas este é um traço meu: gosto do corpo e da mente. Uma mente inteligente é muito excitante.
Então noto que aprendi a gostar das fantasias dele porque elas começaram a revelar as minhas. Vejo que construimos determinados laços de confiança e que temos curiosidades que são discutidas com respeito e no conforto da cumplicidade.
Sim, sexo é uma arte. A arte erótica é muito maior que os encontros fisicamente vazios, que sexo genital e mecânico e performático e quantitativo (entendam meu excesso de conectivos "e")...
Sexo egoísta é horrível, unilateral. É também mercadológico: moeda de troca para agradar ao outro... Não quero isso nunca mais.
Então, ao contrário do que minha madrasta dizia, sexo a gente não nasce sabendo: é aprendido. E eu não tenho a menor pressa para me formar!
Não condenem Vinícius: beleza, em todas as suas formas, é fundamental.

sábado, 30 de maio de 2009

O gosto que se discute


Preconceito é uma coisa que a gente aprende culturalmente.
Quando, finalmente, conseguimos superá-lo, ele deixa suas marcas em nossas falas, em nossos gracejos, em nossas ofensas e, de alguma forma, vindo á tona, nos diz que esteve ali e que deixou resquícios.
Tenho preconceito linguístico.
Não tenho preconceito de pessoa a pessoa: flexionamos mal enquanto falamos, não gosto da política gramatical, não gosto das idiotices de ficar presa às formalidades e acho que nunca discriminaria nenhuma pessoa por conta desses fatores referentes aos desvios da norma padrão de nossa língua.
Entretanto, para namorar, não! Se o sujeito diz "Arrupiado", "percoço", "pobrema", "sastisfeito" ou termos equivalente, meu encanto se quebra.
Se, por outro lado, ele escreve em internetês, suporto, mas não gosto.
Meu outro preconceito se revelou com a experiência: eu nunca percebi que não gostava de namorar rapazes de estatura menor que a minha.
Um dia, fortuitamente, eu estava entrando em minha casa, abrindo o portão, e Cleyton apareceu. Era comecinho da noite. Ele e a noite: combinação perfeita com aquele rosto lindo e seu ar carinhoso.
Bem, lá foi ele me abraçar. O abraço me deu ma sensação de que fui lá em baixo buscá-lo. É, eu desci para ir ao encontro do corpo dele, dos braços dele...então a gente se abraçou e o desnível de nossas alturas se revelou. Sinceramente, me senti abraçando uma criança.
Não gosto de baixinhos para namoro.
Outro preconceito meu afeta minha relação com os gordos.
Deixei Leandro, rompi, ao perceber o que eu tentava não ver: ele estava gordo.
Gordo, rotundo, baleiúdo, com dobras terríveis nos lados do corpo. A barriga era ainda discreta, mas o corpo dele descrevia uma esfera e isso retirou meu encanto por ele.
Pela lei do politicamente correto, isso é preconceito. Por outro lado, julgo ser mera questão de gosto.
Da mesma forma que gosto dos homens brancos e de suas extremidades rosadas, da mesma forma que tenho outras configurações de gosto, creio que isso pode estar também na área das preferências.
Gosto do Patrick Dempsey: a beleza dele está na imperfeição daquele nariz.

Você precisa de alguém que dê segurança



Perco a paciência com alguns comportamentos masculinos infantis: se não é gostoso discutir a relação (exercício de extrema paciência a que não costumo sujeitar os outros todo dia), também não é agradável falar eternamente pelas entrelinhas.


Quando Dexter me cobrou segurança, quando deu indiretas de que não confiava em mim, me entediei. Ui! devo parecer o estado de São Paulo! Nada de segurança.


E até pode ser verdade: não quero ser a tola que não oferece certos riscos, não quero que a segurança do outro em relação a mim vire um excesso de auto-confiança, um convencimento que atue contra mim.


Certa vez sonhei que um namorado meu escrevia um poema para mim. Memorizei este poema:


Mara


mulher


mulher nua


rua sem trânsito.




Nunca fiz poema. Nem sei fazer poema. Esse, mesmo em meu sonho - e, logo, de autoria do meu inconsciente - pertence a esse meu namorado da época (Ricardo) e uma das interpretações que recebi foi de que o poema se referia à rua sem trânsito por ser deserta, perigosa.
Outra interpretação dava conta de que era a imagem da solidão, porque o ponto de concentração da análise é a rua sem trânsito.Em outro foco, é a nudez que paralisa, que é o perigo: sou eu.
Mas, a rua sem trânsito alude, sim, à ausência de segurança.
Ora, se Dexter me pedisse um vigilante eu até daria; mas segurança custa caro.
Tudo bem, na verdade, eu me ofendi.
Não sou digna da confiança dele, não ofereço segurança.
E o que lamento é que tudo estava tão bem entre nós... tudo começando, a gente se divertindo juntos, esperando um pelo outro, trocando mensagens, idéias, outros planos de confiança...e aí me vem esta chatice de cobrança...poxa, o cara parece o SPC! é muita cobrança, meu Deus!
E eu nem sei como pago minhas contas, minhas dívidas financeiras; e então vem ele com as dívidas morais.
Não nego: passei tanto tempo só. Tenho medo de que Santo Antônio me abandone...mas, como cantou Elis Regina, "É você que ama o passado/ e que não vê que o novo sempre vem"... então, que venha o novo!



segunda-feira, 11 de maio de 2009

Relacionamentos: day after!


Parece esquisito quando a gente assume que não quer compromisso. Dá a entender que, de fato, procuramos aventuras, galinhagem ampla, geral e irrestrita. Certo, estou advogando em causa própria, assumidamente.
Só quem esteve num relacionamento de segurança máxima - é análogo à prisão: seja porque te prendem, sejam porque você se condiciona a ficar por ali, porque mesmo insatisfatório te dá algumas garantias - bem, só quem passa por essas coisas entende.
Lembro do Ultraje a rigor cantando Independente Futebol Clube e do quanto é bom pertencer a si mesmo. É preciso muita paixão para a gente querer se entregar a ponto de nem mais pertencer a si mesmo e a ponto de nosso bem-estar depender de estarmos bem com quem a gente ama, e é lindo também, mas dá um trabalho!
Tenho tanto medo dos efeitos colaterais das paixões!
Se fosse só o caso do apaixonado ficar com cara de otário , ficar sem noção, dar todas as bandeiras do mundo e achar que ninguém percebe; se fosse só o caso de ficar com o coração acelerado, de ter acessos de nervoso, de ficar fazendo malabarismos para agradar ao outro e se deixar iludir com qualquer argumento ou desculpa sem a menor lógica que o objeto de nossa paixão nos dá, tudo bem...mas isso é só a porta de entrada! a longo prazo, a gente sai arrebentado!
Para quem não entende minha fase atual, explico que morro de medo de construir história. Não quero me apaixonar de novo: quero ser feliz um pouquinho, me divertir, aproveitar que saí da prisão de segurança máxima e viver a diversidade das possibilidades que a vida me der.
Devo sofrer muito no Dia dos Namorados: não vou ter ninguém para quem escolher um presente, minha noite não será especial, não vou escolher a lingerie comemorativa da noite, não vou encomendar cesta de café da manhã, não vou mandar torpedos, nem mensagem, nem bolar presentes criativos.
Também não ganharei flores mas, por outro lado, não sofrerei as decepções decorrentes da negligência do sujeito que poderia nem se importar com a data, dizendo que essa invenção capitalista do Dia dos namorados não tem nada a ver e é um dia como qualquer outro. Além disso, eu poderia estar com um idiota que me desse um presente esquisitão e que eu teria que fazer "carinha de quem tá gostando demais". Pensem só: se o cara desconhece que eu adoro rock e MPB, que eu dou os ossos da alma pelo Parachutes do Cold Play e por tudo que é coisa do Radiohead (e da Song 2 do Blur) e me aparece cantarolando uma música sertaneja. Haja Deus!
Deveria haver seguro pós-relacionamento, para garantir o usufruto da corporeidade, do contato físico...sem essa parte a gente fica vulnerável, em desespero de causa. Muitas vezes tendemos a confundir a ausência do legume com a saudade da horta (viram como eu fui sutil e delicada? eu poderia ter dito "confundir a falta do pepino com a saudade da horta" ou até "confundir a falta da linguiça com a saudade do porco", mas como sou uma moça educada, gentil, bobinha e inocente, nem sequer pensei nestas coisas). Para quem bebe, pior ainda, porque terá que acordar e voltar para casa, aturando ressacas morais pelo resto da semana.
Mas é ótimo ser especial para alguém. O amor dói, mas é gostoso (ah, seus tarados, sei que vocês pensaram em muitas coisas que doem, mas são gostosas!kkk!!!).
O chato, quando a gente pensa em tudo isso, é notar que o período após o relacionamento é de reestruturar a vida, recobrar a individualidade, pensar o cotidiano não mais em par...isto se o relacionamento foi durável ; ou se foi curto , mas intenso ...
Então, dá um cansaço e um medo de começar tudo de novo! Putz, vem aquela fase do jogo - ih, tem que dosar as coisas, tem que tomar cuidado para não virar instrumento da vaidade do outro, tem que tomar cuidado para não deixar o outro convencido, seguro demais, tem que ter saco para as criancices de ordem variada, tem que pisar devagar em terreno pantanoso para não afundar, tem o jogo do orgulho, tem que esconder os afetos, tem que aturar tanta coisa e entrar no jogo...negócio mais cansativo!
Jogo bom é o da sedução: a neurose da espera, a troca de sinais para termos certeza de que somos correspondidos, os sonhos, os códigos, a sutileza para chegar em quem desejamos e vice-versa...mas o resto, cansa!
Por outro lado, reafirmo: não há solidão pior do que estar em companhia de uma pessoa sacana. E, claro, há pessoas que até sozinhas estão em má companhia.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Mi casa, su casa.


Há um tempo atrás eu achava terrível quando ouvia expressões do tipo: "Enjoei daquela pessoa" ou "Enjoo muito rápido dos relacionamentos"...Isso equivalia, em minha interpretação, a dizer que há pessoas descartáveis.

Há pessoas com as quais, de fato, não devemos manter contato prolongado, independentemente de serem boas ou más. Talvez eu seja uma delas, mas no sentido da minha vida particular, de minha casa.

Dizem, de uma amiga, que ela tem prazo de validade. Acho que eu também: minha tolerância, meu humor e minha paciência expiram.

Não gosto de ficar em companhia de ninguém por mais de três ou quatro dias consecutivos: enjoo!

Fora isso, nem gosto de estar na casa de outrem, nem gosto que ninguém se detenha na minha.

Não sou de fazer visitas e não gosto de ser visitada com assiduidade.

Passei dois anos no mestrado escrevendo sobre a solidão. Lógico, eram as imagens da solidão na poesia de Iderval Miranda, era um prisma Literário, ao passo que um prisma biográfico.

Gosto da minha individualidade, gosto da minha casa. E gosto da minha solidão.

Gosto que meus amigos apareçam, que tomem vinho na sala, que brinquem comigo, que fiquem até a madrugada ou que se esparramem e durmam pela casa...gosto de aconchegá-los, de mexer nos cabelos deles, de ver filmes que eu não consigo assistir porque eles estão conversando, gosto de ficar perto de todos eles, mas é aquele momento, a magia do momento.

Em Salvador fico em casa de minha amiga e não é menor minha preocupação com essas coisas.

Todo bicho precisa ter sua toca, por isso ando devagarinho, com medo de alterar a rotina, impor cheiros, hábitos e alimentos...tenho medo de incomodar porque sei que incomodo, de alguma maneira. Neste caso, a minha chatice é análoga ao cuidado e ao respeito.

Quando vou dar aulas sou compelida ao convívio coletivo. Batizei a casa dos professores de Bigbrother, porque de alguma forma é uma jaula humana, com as intrigas, as festas e outros aspectos do reality show homônimo.

O melhor lugar do planeta Terra é a minha casa, com todas as suas faltas, com seus defeitos, com suas árvores, com um sol da manhã que só há aqui, com meus cantinhos e meus cheiros, com suas confusões e bagunças, com as folhas que caem do telhado e me tiram do sério... como um caramujo, se eu pudesse, levaria minha casa comigo por onde quer que eu fosse.

Quando amanheço em minha casa, o café da manhã é o melhor do mundo.

A rádio toca sempre as melhores músicas quando estou em minha casa. Aliás, eu não vivo sem música:só quando estou na casa dos outros. Sou louca por música!

Meus gatos se assanham com meus movimentos, querendo entrar em casa; meus cachorros pedem a comida, entendem que eu acordei: é a casa fazendo barulho, se mostrando viva.