Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A melhor resposta


Para aqueles que ainda não entenderam minha vida amorosa, minhas confusões, meus ex-namorados, minhas indecisões, a melhor resposta é Terezinha, de Chico Buarque:

O primeiro me chegou como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração
Mas não me negava nada, e, assustada, eu disse não

O segundo me chegou como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar
Indagou o meu passado e cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada, e, assustada, eu disse não

O terceiro me chegou como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada também nada perguntou
Mal sei como ele se chama mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama e me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não
Se instalou feito posseiro, dentro do meu coração

Ah, que deleite!

Cinderela in the city


Algumas histórias reais nem parecem reais...vou contar uma delas hoje.
Eu havia ido a Campinas, participar de um congresso de leitura e apresentar uma comunicação.
Diga-se de passagem que eu nunca havia estado em Campinas. Se não me surpreendi com o frio, maior espanto eu senti ao ver tantos garotos de programa nas esquinas.
Tórax lindos, atléticos e branquinhos: do jeito que eu gosto, em oferta aos transeuntes. O mercado do sexo em minha cidade é invariavelmente marcado por travestis e prostitutas, sendo a presença masculina no sentido heterossexual do termo inexpressiva - na verdade, nunca vi.
Então, ao contrário da repulsa, me causou encantamento.
Olha só, num mundo masculino um instante em que vi a venda de prazer direcionada às mulheres (não dá para dizer se exclusivamente para as mulheres, mas o importante é que era pelo menos também para nós).
Não achei feio, achei encantador. Quantas Ave-Marias devo rezar? Como vou me redimir moralmente disso?
Não pensei nos contextos dele, não fiz volteios sociológicos nem investigações mentais sobre causas e consequências. Achei que o menino enfeitava a rua: Todos os prazeres, nenhum pecado. Preço, a combinar.
Mas, sim, isso foi na minha primeira noite por lá.
Quarta-feira seria minha apresentação, no Instituto de Economia da UNICAMP. Em termos práticos, longe para caralho!
Minha educação cartográfica e meu senso de orientação são proporcionais ao meu raciocínio matemático, isto é, algo entre a casa de 0 e de -1...
Aí, ao me notar perdida, encontrei um educado estudante nissei que me conduziu ao longínquo lugar certo.
Pessoa simpaticíssima, encetou um flerte comigo a que eu não rejeitei, mas não alimentei. Ficamos na postura gentil e polida.
A comunicação foi numa sala bem aparelhada e tão fria quanto a platéia formada apenas pelos próprios apresentadores das cinco sessões de comunicação agendadas para aquele horário.
Meu Deus! Pensei no quanto ralei para escrever meu texto.
Pensei no quanto li para produzir algo respeitável e submeti ao crivo extremamente fatal de uma professora do doutorado. No final das contas, não só aturei os lugares-comuns das vazias comunicações que se seguiram à minha, como saí com uma sensação chata de que aquilo tudo não valia a pena.
Então, tentei achar a labiríntica saída pois eu tinha que encontrar o meu amigo João às 15h30min.
Lá fui eu, sem pensar em absolutamente nada. Nem acreditei nisso. às vezes eu paro, ao acordar, e fico umas duas horas na cama só pensando. Literalmente, paro para pensar! Experimentei ali, o vazio.
Passei por um descampado onde havia umas pessoas sentadas. Nem prestei atenção nelas.
Ao dobrar na direção de onde eu pressupunha (erroneamente) que era a saída, veio um rapaz correndo atrás de mim e se jogou em minha frente, apressando-se em me pedir uma informação.
A informação que ele queria era referente ao fato de eu usar salto alto e andar com naturalidade...ora, tenho um namoradinho fetichista e percebi logo o fetiche de meu interceptor. Não fui rude, respondi ao questionário dele e, quando a conversa apertou, fiquei vermelha de vergonha ao perceber o flerte.
Mais educado foi ele ao me dizer: "Eu gostaria que nós tivéssemos um amigo em comum para me apresentar a você, mas não tenho. Então, corri até aqui para te conhecer"...
Ele adora saltos altos.
Explicou que o sapato, sozinho, nada significa - e, no caso, eu dava sentido àquilo que eu calçava. Era, assim, o conjunto: sapato, eu, meu andar, minha postura; que singularizavam o fetiche dele. Aí ele se tornou, para mim, Felipe. E fez-se o homem.
Daí para frente a gente se conheceu como se conhecessem as pessoas que se relacionam há pelo menos dois anos. Nas poucas horas (se é que excedeu mesmo uma hora) em que a gente conversou, andou, deu as mãos, tudo foi falado. E nada aconteceu.
Ou eu sou muito idiota ou não estou numa fase má e, por isso, achei tudo lindo!
Adoro homem que tem iniciativa.
Fugi dele depois, nem sei por que...talvez aquele medo que nos protege das coisas perigosas, talvez outros medos maiores, mas "A vida só se dá para que se deu/para quem amou/ para quem chorou/ para quem sofreu". Tenho meu direito ao encantamento e, principalmente, adoro os homens!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Era um garoto que, como eu, amava os Beatles!


Ontem ele me surpreendeu: quando a gente se encontrou, estava tocando uma música dos Beatles. Já nem sei qual era, mas comentei saudosa do quanto gostava daquele Cd, daquela música (a seu tempo, não era um CD, mas não vivi tanto a ponto de alcançar um LP dos Beatles...já os conheci em compact disc)...Aí ele me disse: é seu CD, quer dizer, é aquele que você me deu.
Ai, meu coração!
Li, naquele instante, uma linda declaração de amor. Declaração do amor não declarado.
Ele guardou o CD.
Eu comentei que achava que o CD nem mais existisse!
Não por descuido dele, mas porque depois que a gente terminou o namoro, nos idos do ano 2000, ele comentou que a outra namorada dele, minha sucessora, quebrou o bendito por ciúmes. Não comentei isso na hora, me aproveitei da falha de memória dele...Ninguém quebrou nada, pelo jeito. Era só ele querendo "causar", se mostrar disputado, despertar meus ciúmes.
O jogo cansativo seguiu, naquele ensaio de amor não assumido.
Mas, é tão bom estar com ele.
Hoje o namoro é muito melhor do que foi há nove anos atrás.
Mas nem consegui dormir, de medo: medo do que ele prenunciava, daquele cercame que ele me fez com uns assuntos difíceis de casamento...sempre na tangente, comendo o mingau pelas bordas do prato.
Quando estou com ele, queria ficar eternamente com ele.
Gostaria de ser escolhida. É empolgante! Mas, meu Deus, não quero casar com ninguém.
Mas, se ele não casar comigo, casará com qualquer outra e nunca mais eu terei o que temos agora.
Se eu casar com ele...ai, nem quero pensar! Meu Deus, como as pessoas casam?
E aquele papo de aliança me amedronta - que coisa mais esquisita, usar a coleira no dedo anular...ai, que repulsivo!
Graças a Deus ele nunca lerá este blog, que ele nem sabe que existe.
Mas tem a nossa idade, tem as cobranças sociais que pesam na cabeça dele...tem os fatores favoráveis como o fato de ele ser bonito, de eu ser independente, dos pais dele serem pessoas excelentes com as quais eu me relaciono bem, tem a sintonia sexual da gente, tem a amizade e o companheirismo entre nós e essa cumplicidade... mas tem os meus medos e as minhas convicções....tem esse meu pavor de ter filhos - como privá-lo disso? como me submeter a isso? se eu tivesse um filho, morreria, cometeria suicídio: não dou conta da minha existência, oxalá de outra!
A maternidade é, para mim, atroz; violência psíquica a que não me disponho...ah, meu Deus, o que eu faço para a gente continuar namorando? não quero casar!
Agora, o CD dos Beatles daí da imagem é do mesmo que eu dei a ele. E era assim: Jal, minha melhor amiga (aquela mesma que teve psicose pós-parto) me deu o tal CD no mesmo dia em que eu comprei o CD 1 dos Beatles para dar a ele, presente de natal.
Ela deduziu que a gente costuma querer ganhar exatamente aquilo que a gente dá. Aí acertou em cheio! e esta dedicatória que ela fez para mim será sempre um intenso prazer, um inesquecível presente, pois personifica meu CD e nossa amizade.
Ele me encontrou ontem em Salvador e fomos, bobinhos, tomar um café gelado no Shopping Salvador...depois brincamos com chantilly e fomos procurar nossa privacidade lá na Paralela...
Quando eu estou com ele, só penso nele - adoro perceber que ele me faz me concentrar.
Adoro ver que ele gosta de me agradar, que, assim como eu, viaja para tornar possível estarmos juntos: "love, love me do/ you know, I love you", como cantam os Beatles.
Ah, se ele soubesse o quanto eu gosto daqueles abraços...e como eu gosto de, sonsa, roubar beijos dele. Não gosto que ele me dê beijos: gosto de roubá-los!
Gosto das nossas criancices juntos!
Mas, parece que eu não sei dar a tal da segurança a ele.
Dar segurança e ter paciência: duas ações para as quais Deus não me preparou.