Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Hoje eu quero sair só


Ir à festa em Feira de Santana tem sido um problema: não tenho amigos por lá. Não dos que tenham gana de sair, que gostem de dançar.
Até mesmo os meus amigos mais constantes, isto é, os do trabalho, têm preferido programas contemplativos, regados à gordura e ao álcool.
Dei graças a Deus não frequentar mais a sexta sem lei, que ocorria na saída das aulas da UNEB: eram um negócio de encher o organismo de batata frita, coca-cola, vinho e carne do sol...falar mal dos outros e ir dormir uma da madrugada!!! Saí dessa e, para minha sorte, odeio álcool. Aos que ficaram, o impacto está vindo agora.
Mas o caso é que sou hiper ativa (separei para enfatizar). Minha maior amiga me dizia que eu era imperativa e não hiperativa.
Tenho o maior fogo para dançar. Gosto do agito, da atividade, da ação. Nunca fui uma boa sedentária...
Em casa, não vejo novelas porque adoro ver videoclipes e dançar: é assim, fico no Multishow, corro ao VH1, ao Play Tv...e se está ruim, circulo as rádios da sky. E danço. Geralmente, danço até às nove meia da noite ou dez. Adoro dançar!
Louvo, todo dia, esse negócio de morar sozinha. Poxa, como é bom! Ligo meu som, danço e curto o que quero.
Mas neste sábado tem festa de aniversário da Jovem Pan de Feira de Santana, com o Skank e umas bandas de maconheiro - aqui foi brincadeira com o reggae, que eu adoro, mas quis provocar um amigo meu em particular.
Vou sozinha.
Odeio festa de camisa, porque odeio farda (e também odeio coreografias) porque limitam nossa criatividade. Mas, estando sozinha, melhor pagar o dobro e ficar na área VIP...
Como em todas as festas, antevejo: não ou encontrar ninguém conhecido. Vou chegar sozinha e vou sair sozinha.
Vou me sentir um pouco deslocada e sem jeito. Ao procurar um táxi para voltar, vou me sentir desprotegida.
Apesar de tudo, vou sair pensando em me divertir. Eu não aguentaria renunciar ao prazer de dançar, de ver bandas que me interessam, particularmente, o Skank.
Há um tempo atrás eu curtia tudo isso a dois, com minha maior amiga, minha comparsa. Poxa, sinto uma falta enorme dela!!!ela me ajudava a ser louca...hoje ela é louca por um maconheiro que estudou comigo na UEFS, sem futuro, sem argumento, sem trabalho, sem perspectiva...veja, ele levou 11 anos para se formar, com medo de que o diploma lhe trouxesse a obrigação de trabalhar. E, claro, nunca apoiou nossa amizade. Aí, acabou o contato.
Meu outro amigo em Feira, Héber , é gay e concorre comigo pelos heterossexuais.
Se ele me deu a maior força em relação a muitas coisas nesta vida, por outro lado sempre fez objeções para os amigos heterossexuais dele que se interessaram por mim, jogando areia na relação entre mim e o candidato.
Pois, então, sou sozinha.
Às vezes isso me excita. É uma delícia ser e estar só, sem amarras.
Achei engraçado o pitbull problemático do meu ex-namorado dizer, hoje, que mandou Rosa, a concumbina dele, pastar um pouquinho, porque aprendeu comigo o valor da privacidade, que ele gostava de ficar sozinho. Ora, ora!!!
Desembarcar no Rio de Janeiro, na Ilha do Governador, sozinha, foi uma delícia.
Quando estive sozinha na UNICAMP, para minha comunicação e conheci Felipe, foi excelente!
Gosto de galera e tudo, mas não nego que me articulo bem com a minha solidão.
Thales criticou aquelas mulheres que saem para a festa pensando em namorar. Critico isso enquanto razão única de sair, sabe? mas é claro que eu quero ficar com alguém na festa, quero poder cantar: "Segunda-feira é só história para contar!"...seria maravilhoso
Minha festa de ano novo, Reveillon Enchanté, foi com uma turma de amigos. Só por isso valeu, porque pelo resto ouso parafrasear por um Reveillon Chatée, chatésimo.
Ô coisa chata é axé, Ivete e Saulo! Viu, nem sempre as pessoas fazem o ambiente.
Antevejo um Reveillon de 2009 para 2010 assim, sozinha: mas devo estar pela Boomerangue, dançando. Não quero é ficar idiota, pulando sete ondinhas numa festa sem glamour na Praia do Forte.
Eu, de vez em quando, fico assim, vendo tudo como previsível. Meu destino (embora eu não acredite nele) não é assim de grandes saltos, sabe?
Bem, mas sábado eu irei à festa...e como Lenine, " Hoje eu quero sair só".

O homem que copiava


Minha estréia no doutorado em Letras foi marcada pelo caso sui generis da ação movida contra o Instituto de Letras e seu explícito ato de disponibilizar obras completas e parte de obras na xérox.
Achei um absurdo!
Ora, os direitos autorais sobrevivem sem esses subterfúgios eleitos com fins de inclusão. Muitas vezes, é a partir de um capítulo reproduzido, xerocopiado, que nasce o interesse em adquirir o livro e ter acesso ao seu conteúdo integral.
A xérox atende aos pobres e serve à praticidade.
Quando Harold Bloom em seu O cânone ocidental: os livros e a escola dos tempos justifica que o cânone literário é, sim, branco, masculino e ocidental, ele também nos diz que temos que fazer escolhas. O cânone existe porque é retroalimentado a partir das escolhas, tendo em vista que, segundo ele, não há tempo, em vida, para lermos tudo.
Então, também não há bolso que resista a adquirir integralmente todos os livros que compõem as nossas referências bibliográficas.
Mas, sim: achei um absurdo esse negócio de uma denúncia anônima ao órgão responsável pelos direitos autorais. Seria uma incoerência!
Mas eu encontrei o homem que copiava.
Quem pensou que iria encontrar por aqui uma sinopse do filme homônimo de Jorge Furtado, que traz Lázaro Ramos protagonizando justamente as agruras de um rapaz que trabalha numa xérox e que decide copiar algumas cédulas, dançou! Mas advirto que é bem mais dramático.
Ao encontrar o homem que copiava, entendi as denúncias e até assinaria embaixo: ele tem uma violência gratuita e fortuita contra os seus clientes.
Pedi umas xérox no único horário possível de fazê-lo. Contudo, precisava entrar na classe, para evitar levar falta. Diante disso, esperei minha vez na fila e, chegando ao homem que copiava, informei: "Gostaria destas xérox. Como não poderei esperar agora, adianto o pagamento e retorno para pegá-las dentro de uma hora e meia, aproximadamente, quando será intervalo da aula".
Nem notei nenhuma ofensa na minha proposta.
Não lembro de ter agido de outra forma a não ser com perplexidade quando ele me respondeu: "Estou cansado dos pedidos de vocês! Não pode, não pode!!!", vociferando numa estupidez atroz.
Perplexa eu estava. Perplexa eu fiquei e só pude mesmo responder: "Guarde sua estupidez e violência para quem, de fato, merece".
Ao bom entendendor, disse a ele, nas entrelinhas, que ele estava descontando em mim a raiva mantida ou destinada a outra pessoa". E nunca mais voltei lá.
Ele é o "dono" da xérox. Um velhinho aparentemente inofensivo.
Só aparentemente!
Aí o povo da fila, que viu tudo e não entendeu, falou comigo que costumeiramente ele faz esses espetáculos.
Presumi que quem andou denuinciando o serviço dele foi alguém que passou pelo que eu passei.
Nesta semana voltei lá, depois de um semestre inteiro sem me aproximar, apesar das necessidades acadêmicas.
Ele já nem se lembra de mim...a vida continua. Mas eu não esqueci!
Cheguei à conclusão mais que óbvia de que há velhinhos medíocres e que, nem sempre, a idade traz sabedoria.


domingo, 16 de agosto de 2009

Ou isto ou aquilo!


Há males que vêm para o bem...mas a maioria, vem para ferrar a gente mesmo!
Eu estava hesitante com um concurso por fazer...ainda nem decidi se vou fazer ou não, sabe? mas o que me deixava na berlinda era o seguinte: Estou cansadíssima de estudar e trabalhar ao mesmo tempo. Se é verdade que gosto de Xique-Xique, não é menos verdade que ando de saco cheio das relações interpessoais por lá e daquela viagem extremamente desgastante.
a alternativa número 02 seria justamente o bendito do concurso, naquele lugar que eu detesto, isto é, Aracaju. Além disso, não estudei nada, ainda.
Minha bolsa de doutorado está para sair: seria o exercício de ficar dedicada apenas ao estudo, mas vivendo com uma quantia tímida de dinheiro. Ora, quem mandou eu não ter PAItrocínio, não é?
Aí me vem o chefe dizendo que solicitará a prorrogação de meu contrato e eu não sei medir isso. O bom é ter a tranquilidade do meu salário mensal...mas não aguento mais os meus sábados comprometidos com o trabalho e as aporrinhações do cotidiano do Bigbrother (isto é da casa dos professores) - que, diga-se de passagem, tem paredão e eliminação e, além disso, custam muitas estalecas se manter por lá... e eu que caí na malha das personas non gratas pela líder...ih, meu irmão, tô ferrada.
Mas minha boa notícia é essa e de fato fico mais tranquila com a possibilidade de prorrogação de meu contrato, mas não tenho mais saco para um presente contínuo desse tipo. Como diria Raul Seixas: "Tem que acontecer alguma coisa, meu bem/parado é que eu não posso ficar!"
Mas, é sério, eu estou feliz pela tranquilidade que esta notícia me traz, mas preocupada com o cotidiano...
Lembro logo de titia Cecília Meirelles em seu "Ou isto ou aquilo", mostrando a necessidade da escolha e os caminhos sempre bifurcados. Ainda bem que eu tenho dúvidas!

Medidas práticas para afastar visitas


Odeio gente em minha casa fora do prazo de validade.
O prazo de validade é de 04 dias. Depois disso, viro um urso selvagem, me incomodo com a falta de privacidade e não suporto as mudanças causadas em minha rotina.
A pedido de meu amigo Anselmo, eis as melhores dicas para afastar as visitas que já se instalaram em nossa casa:
1) A abundância e variedade do cardápio deve durar apenas 03 dias. Após esse prazo, instaure a escassez e, antes, vá gradativamente diminuindo a qualidade dos alimentos;
2) Jogue a visita na rotina da casa, isto é, nas faxinas, cuidados e conservação dos móveis da casa. Lavar pratos é desestimulante e contribuirá para que a visita caia fora - mesmo por que, a visita está em casa alheia procurando férias. Não ceda!
3) Desligue o fio terra do chuveiro: após alguns choques, a visita se tocará que esse desconforto é uma agravante na falta de qualidade do passeio pela sua casa;
4) Se você tem um animal doméstico, não o desestimule quando ele amolar as unhas nas malas da visita e muito menos reprima a tara do seu cachorro pelas pernas das visitas;
5) Faça barulho, dance músicas irritantes e encha sua casa de gente irritante e gritalhona.
6) Dê indiretas e encarne uma tensão pré-menstrual: mau humor espanta muita gente!
7) Faça pequenas armadilhas: uma torneira que esguichará água na visita; fios descascados sutilmente deixados perto da área de circulação da visita; assentos soltos de cadeiras e ações em favor dos acidentes ajudam muito.
8) Pendure uma vassoura atrás da porta, de cabeça para baixo: essa clássica simpatia deverá ser percebida pela visita. Deste modo, o recado estará dado.
Caso não surta o efeito desejado,ofereça a vassoura como veículo para a visita: se ela for esperta, notará que está sendo chamada de bruxa;
9) Exclua a visita: saia, desapareça e deixe a miserável sozinha em casa. Ao chegar, não esqueça de enaltecer as benesses da saída;
10) Se houver animais peçonhentos próximos à sua casa, espalhe alguns por lá. Ainda que você não só plante, poderá fazer terrorismo psicológico com a visita. Isso pode ser alargado para coisas como fazer propaganda dos altos índices de doenças, assaltos e violência que assola o bairro;
11) Conte misérias: as misérias do cotidiano deixam a visita deprê e a expulsam para um ambiente "melhor";
12) Invente dietas esquisitas e corte o fornecimento de alimentos na casa no final do terceiro dia;
13) Crie compromissos imaginários de modo a que a visita perceba que está atrapalhando e que você tem o que fazer;
14) Não troque nem forneça roupas de cama à visita: ela que se vire! lembre-se que quanto maiores as dificuldades criadas, menor será a estada da pessoa indesejada;
15) Encha o saco da visita com assuntos esotéricos e religiosos: ninguém suporta altas doses de paranóia.
16) Esconda os controles remotos de todos os aparelhos ou, simplesmente, retire as pilhas para simular defeito: isso é tremendamente irritante.
17) Procure não retribuir à visita: você poderá ser vítima de suas próprias ações.
Esta é uma obra de ficção. Veja lá o que vão fazer!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Entre o retorno de Saturno e o seu


Dizem dos anéis de Saturno... e eu, com medo de alianças!
Fico vesga diante da arbitrariedade da vida: quase nem temos escolha e as escolhas que fazemos não são percebidas como tal. As principais, atribuímos ao coração. Pois, bem, Psicanálise, eu sei que escolhemos e jogamos a culpa no coração.
Também dizem que o retorno de Saturno nos atinge na casa dos 30 anos. Pois, Saturno me pegou.
Adoro o Detonautas e a música O Retorno de Saturno

Visão do espaço estamos tão distantes
se acelero os passos sigo a voz do meu coração.
Ontem eu fui dormir mais tarde um pouco.
E tudo vai indo bem...
Venço o cansaço e o medo do futuro.
No teu abraço é que encontro a cura do mal
Hoje eu acordei te quis por perto.
E você não sai do meu pensamento
E eu me questiono aqui se isso é normal.
Não precisa ser de novo assim tudo igual.
Entre o retorno de Saturno e o seu,
Busco uma resposta que acalme o meu coração
Do amanhã não sei o que posso esperar.
E você não sai do meu pensamento
E eu me questiono aqui se isso é normal.
Você não sai do meu pensamento
E eu me pergunto aqui, se o natural
Vai dizer que o amor chegou no final.
Não precisa ser de novo assim tudo igual.

Foi num show dos Detonautas que eu fechei um ciclo, mas , por medo do destino, agi como uma idiota, só para variar...e desperdicei uma grande chance.
Isso foi em 2006, em Outubro, mais ou menos...pouco depois de conhecer Thales e um pouco antes de envolver com Marcelo. Ali, não vi a conjunção astral que me presdipunha ao quadro posterior das paixões.
Hoje me preocupo tanto com esses assuntos, como se fosse a pauta número um da minha vida - E talvez seja mesmo - que nem parece que eu sou aquela pessoa ponderada e responsável que vive estudando, que faz uma pesquisa séria no doutorado, que se preocupa com coisas maiores que esse circular movimento de rodar em torno do meu umbigo atacado pela paixão...olha só, é um tema só o tempo todo. O tempo todo!
Que angústia séria que me faz andar círculos. Ui!!! estou com medo!
Entre o retorno de Saturno e o dele, tudo me coopta.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Rosas nos jardins da vida


Acabei de ganhar uma rosa.
Sim, ganhei, não é ficção: eu estava aqui, escrevendo, no quarto de minha amiga, já que estou em outra cidade, e ele me deu uma rosa.
Linda!
Rosa roubada, espólio da formatura de UNOPAR a que eles foram.
Não agradeci à altura porque fui pega de surpresa, toda largada, de óculos, de roupa de ginástica que uso aqui para fugir do frio...ele, um amigo de minha amiga. Não poderia ser mais apropriado este mimo!
A rosa mudou minha noite.
Pensei no Narciso de linhas atrás e lembrei que agora o Príncipe Thales me causa uma ferida narcísica. Fere minha vaidade com a dele, não é Maria Bethânia: "Se alguém me diz/ que ele pode me ferir/ com sua vaidade/ eu prefeiro nem saber/ não acredito..."
Mas eu ganhei muito.
Por causa dele, fiz um exame que eu deveria ter feito há dois meses e tomei providências que vão ao encontro dos meus desejos, isto é, dei meus passos na direção dele, de forma indireta.
Por causa dele, cuidei melhor de mim.
Gostaria de eternizar o momento em que estivemos juntos. Gostaria de ter aproveitado bem mais.
Isso eu odeio em mim: faço umas burrices!!!eu poderia ter feito tudo diferente, poderia ter vivido mais intensamente o momento, poderia ter dado os passos apropriados, mas me deixei agarrar pela covardia. Bem, agora dou os passos possíveis. Melhor do que me sentir parada.
Sim, a rosa: vermelha, linda, repousa ao lado do computador.
Lembrei que ele e eu estávamos de camisas vermelhas quando ficamos juntos. O vermelho da rosa, a tonalidade da paixão...como posso me deixar envolver assim...ah, rosa!!! para minha sorte, ela não tem espinhos.

O rosto de Narciso


Ai, como sou fraca! me esbandalho em angústias, na preocupação com o Príncipe, se ele virá, se ele não se importa comigo, se ele se arrependeu, se ele se decepcionou...estou surpresa.
Há pouco tempo eu me vi perplexa diante dos apertos que Dexter me dava em relação à nossa relação, de modo que pensar numa união do tipo marital era atroz para mim. Não, não quero!Depois de Thales entendi que é ele que eu quero. Ele é o meu escolhido - quisera eu que a escolha fosse recíproca.Eu não me casaria com ninguém nessa vida. Nunca! Mas quando me vi com o Príncipe todas as minhas certezas, meu nunca, meu sempre, tudo foi questionado. A porta da paixão me imprensou.Não me apaixonei por ele ao longo dos nosso três anos de contato. Mas, verdade seja dita, sempre estive disponível.Não, são "sou dessas mulheres que só dizem sim", mas sempre desejei estar com ele porque a beleza me corrompe. E quando ela está aliada ao cavalheirismo, à educação, à delicadeza, ao carinho...ah, eu me sinto uma partícula de pó, eu me sinto um nada.Conversei sobre isso com Leonardo, meu amigo. Então ele me fez ir à estante e pegar Sol negro: depressão e melancolia, de Julia Kristeva.Larguei este livro logo que compus o capítulo da dissertação de mestrado que tinha a ver com a temática. Por isso o sucateei. Então, revi as partes indicadas por Leonardo:

"Para aqueles a quem a melancolia devasta, escrever sobre ela só teria sentido se o escrito viesse da melancolia. Tento lhes falar de um abismo de tristeza, dor incomunicável que às vezes absorve, em geral de forma duradoura, até nos fazer perder o gosto por qualquer palavra, por qualquer ato, o próprio gosto pela vida. Esse desespero não é só uma aversão, que pressuporia capacidades de desejar e de criar, de forma negativa, claro, existentes em mim. Na depressão, o absurdo de minha existência, se ela está prestes a se desequilibrar, não é trágico: ele me aparece evidente, resplandecente e inelutável"

Kristeva ilustrará seus argumentos através de recorrências à Literatura - o spleen já fazia festa em Baudelaire, sabemos, mas ela estuda A Dor (Marguerite Duras) e escritos de Dostoievski como confabulações deste mesmo mistério teorizado sob a melancolia, a perda, a depressão.E aí eu segui lendo, ou melhor, relendo e me encontrando naquelas palavras de Kristeva que não hesito em novamente reproduzir:

"O golpe que acabo de sofrer, essa derrota sentimental ou profissional, essa dificuldade ou esse luto que afetam minhas relações com os meus próximos são em geral o gatilho, facilmente localizável do meu desespero. Uma traição, uma doença fatal, um acidente ou uma desvantagem que, de forma brusca me arrancam dessa categoria que me pareceria normal, das pessoas normais, ou que se abatem com o mesmo efeito radical sobre um ser querido, ou, ainda...quem sabe? A lista interminável das desgraças que nos oprimem todos os dias é infinita...Tudo isto, bruscamente, me dá uma outra vida. Uma vida impossível de ser vivida, carregada de aflições cotidianas, de lágrimas contidas ou derramadas, de desespero sem partilha, às vezes abrasador, às vezes incolor e vazio."

Esta é a primeira página de Sol negro, de Kristeva. Assim mesmo: carregada de identificações para mim.
Não sou, de todo, infeliz, mas por hora experimento um certo desamparo.Ninno, a quem eu confiava a partilha de segredos e de coisas cotidianas, foi morar com uma mulher. Eu me senti só.Meu maior amigo, apaixonado, já nem se lembra de mim e é de uma negligência assustadora. Resumidamente, perdi os referenciais de esteio, de ancoradouro de minha vida.É, o senhor Caetano Veloso diz que "Um Porto Alegre é bem mais que um Seguro", mas extrapolando os trocadilhos com as cidades brasileiras, eu prefiro um porto seguro. Entendo agora quando Dexter me cobrou segurança.Estou numa fase de extremo Retorno de Saturno: meu contrato com a universidade está vencendo em 5 meses; pedi exoneração de meu outro emprego público, não tenho namorados nem relacionamentos que excedam a fugacidade e esporadicidade dos encontros incertos...e estou cansada.Olha, meu irmão, estou TÃO cansada da estrada de Aracaju e da estrada de Xique-Xique! Estou tão cansada de estudar e trabalhar e jamais ter um sábado para namoros, festas ou ócio puro...mas estou tão cansada que beiro o desequilíbrio.Deixei Aracaju há algum tempo, mas quando cito estas cidades é porque são nelas que encontro as possibilidades de emprego.
Aí retomo dona Julia Kristeva:

"Falar de depressão nos conduzirá para a região pantanosa do mito narcísico. Desta vez, entretanto, não veremos ali a esplendorosa e frágil idealização amorosa, mas, pelo contrário, a sombra lançada sobre o ego frágil, mas dissociado do outro, precisamente pela perda desse outro necessário. Sombra do desespero" (p. 13)

Ela diz que a depressão é o rosto escondido de Narciso.
Ok, não sou falsa nem vítima: não tenho depressão clínica, mas tenho bons surtos depressivos.
Para Kristeva a melancolia é o revestimento sombrio da paixão amorosa. E eu desenho uma paixão por Thales.
O abismo da paixão eu não quero. Eu tenho medo.
Estou longe de querer trocar um angústia por outra. Não quero nada disso.
O caso é que o Príncipe entrou com tudo nos meus pensamentos. Penso nele muito. Penso com saudades, com ansiedade, com insegurança...a angústia de um dia ter tido ele comigo e o medo de que nunca mais repita essa experiência. Tão boa, tão ímpar.
Ele, narciso. Eu, Eco.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O príncipe


Eis um título que nos remete a Maquiavel. Sim, o príncipe de Maquiavel é a encarnação da estratégia política, é o ensaio e o germe intelectual do estilo carismático e populista, esvaziado na popularização da idéia de se questionar ser melhor ao príncipe ser amado ou ser temido.
Meu príncipe é outro - sendo esse mesmo, porque ele foi maquiavélico ao estar comigo, ele foi carismático, ele tomou o poder, ele se apoderou de mim e dos meus pensamentos nestas quase 24 horas após o nosso encontro e nas 36 horas que o antecederam.
Quando eu conheci Thales foi numa situação traumática de um assalto de que fomos vítimas, juntamente com uns poucos passageiros que ocupavam aquele ônibus que me conduziria de volta à cidade onde moro.
Solidariedade recíproca na tragédia, trocamos números de telefone. De cara, achei ele lindo...e inacessível, impossível e etc. Mas a continuidade do contato mostrou o contrário. E o contato se estabeleceu desde agosto de 2006, se desdobrando em flertes, fantasias alimentadas, eventuais encontros em situações banais e troca de e-mails.
Ontem, finalmente, a gente ficou juntos.
Poxa, ele é um príncipe.
Cavalheiro, educado, solidário, lindo, interessante...ele tem olhos verde-claros, 1,90, cabelos lisos e lindo, parece Hugh Grant.
Nunca imaginei nada disso no contato real. Sendo lindo, julguei que ele fosse convencido, egoísta e ensimesmado.
Por ser rico, imaginei que ele fosse um boyzinho metido e oco. Enfim, transformei em possibilidades de decepção, ou melhor, transformei em defeitos imaginários todas as qualidades dele. Talvez eu esperasse a confirmação do estereótipo.
Então ele também me disse que as mulheres bonitas com as quais ele já esteve eram insuportáveis, "pessoas que se importavam mais com os próprios cabelos do que com a honradez de ter assunto que rendesse conversas". Pontuou muito bem o que me fez interessante para ele.
Diante de tudo isso, confirmando que ele era um príncipe, fui me sentindo pequena, me sentindo pouca para compartilhar a companhia de uma pessoa tão dotada de coisas boas.
Ainda me sinto assim.
Gostaria que ele me ligasse após uns quatro dias, para alimentar as neuroses da espera, claro...e queria ficar com ele infinitamente, até que os reais defeitos dele destruíssem nossa relação.
Se não bastassem os qualitativos diretos, ele beija muito bem; ele é intenso no sexo e parece que tinha o mapa do meu corpo porque sabiamente percorreu meus labirintos. Foi tão ímpar que eu me senti em dívida, me senti incapaz de dar a ele o prazer que ele me deu...e ele foi extremamente educado e cavalheiro. Meu príncipe! bem, pronome possessivo que eu adoraria poder utilizar sem restrições.
O amor é cruel, é igual às representações literárias de amor que Clarice Lispector compôs - talvez em A menor mulher do mundo, esse duvidoso amor que quer o outro para si seja mais enunciado.
Quero ele para mim.
Não tenho nenhuma estratégia ou ferramenta para isso: o príncipe tem, por isso vence as batalhas e os opositores.
Mas o príncipe é também alvo de disputa - as donzelas esperam por ele, as malvadas, se enlaçam em seu pescoço, as bruxas armam situações, as madrastas o cooptam... e são muitos os obstáculos até chegar ao beijo que desperta e ao "felizes para sempre". Quem me dera, meu Deus!!!
Penso naqueles olhos, naquela boca, naquele rosto, na forma como me acariciou a todo tempo, num carinho que eu não sabia que ele me daria e que temo, gato assustado, não ter correspondido à altura.
Coincidentemente, ele me deixou em casa exatamente à meia-noite. Agora, a carruagem virou abóbora e eu me sinto a maior borralheira da história da humanidade... se existisse fada-madrinha eu imploraria a ela qualquer modo para que este sonho nunca acabasse.