Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Você está demitido!


Vocês sabem que como uma pessoa louca, às vezes faço o povo perder tempo lendo umas besteiras bem bestas e umas bobagens tão bobas quanto estas conclusões de que uns morrem e outros perdem a vida.
Mas, a gracinha do Estado da Bahia é um pouquinho pior: estava escrito no meu contra-cheque deste Mês de fevereiro, que consultei pelo Portal do Servidor:
DEMITIDO/EXONERADO/AFASTADO DEFINITIVAMENTE.
É, não estou de brincadeira: é o estado que está tirando onda com a minha cara.
Em outros termos:" Mara, sua ignorante, se você não entendeu que seu contrato acabou, entenda que foi demitida. Não sabe o que é demitida? é o mesmo que exonerado. Ah, ainda tem dúvidas? então considere-se afastada definitivamente."
Melhor que isso foi receber o salário referente apenas ao dia de término contrato, isto é, dia 19 de fevereiro. Não é à toa: substituta rima com prostituta e isso não é mera coincidência.
Não constituir vínculo empregatício faz parte do jogo, mas cair na pindaíba em termos tão explícitos chega a ser imoral e pornográfico.
Ainda que eu seja ressarcida pelos dias que virão ( o semestre continua),isso só irá acontecer daqui a dois meses. Esse povo é muito engraçado mesmo,
Bem, eu não estou nadando em dinheiro: estou é me afogando em dívidas, já que a CAPES também não me pagou neste mês. Ok, como solução, talvez eu devesse trocar minha bolsa de doutorado por uma bolsinha menor e iniciar uma outra atividade lá na Rua Augusta ou na Avenida Brasil, quem sabe?!
Não estou nem aí par a galera do pensamento positivo: de fato, o pensamento positivo não tem funcionado para convencer o pessoal da companhia telefônica a não suspender os serviços daqui de casa, nem para deter a fúria dos meus credores pessoas jurídicas e, o que é pior, neste mês o salário que virá do estado está gordinho, até, mas passará por sérias reduções e deverá ser esticado até abril, já que em março a Miséria S.A. estará em alta.
Eu poderia estar roubando, mas estou pedindo: não me encham o saco com palavras de consolo. Consolem a minha conta corrente que está carente, tristonha, em baixa...ou enviem um vale-gás, um vale-telefone, um vale-refeição para a minha casa.
Está pensando que isso aqui é reality show, é? que nada: mara, você está demitida!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Bar do Rui: diga a ele que eu já fui!


As comemorações mais esquisitas dos últimos séculos incluem o churrasco noturno no Bar do Rui, em Xique-Xique.
O Bar do Rui está para os professores como o Mc Donald's está para o povo norte-americano.
O que motiva os professores da UNEB campus XXIV a trabalharem até às 23 horas? a certeza de que depois poderão ir ao Bar do Rui;
O que faz os professores ficarem com ansiedades gustativas? O Bar do Rui e suas batatas fritas;
O que nos motiva a andar em carros de inimigos, a pegar caronas suspeitas, a trincar os saltos finos dos sapatos nos paralelepídos das ruas? O Bar do Rui;
A melhor pizza, mesmo que esteja sem sabor, é no Bar do Rui.
O Bar do Rui é um estabelecimento de peso. Nós também. Abusamos em gorduras trans, gorduras que TRANSparecem na roupa; que TRANSbordam da calça; que TRANSformaram nossas silhuetas, mas que é a melhor dieta para ficar roliço, rotundo, barrigudo, gorducho, com azia e com arrependimentos posteriores que, com certeza, terão valido a pena pois a caloria não é pequena.
Além disso, todo mundo que trabalha nos mesmos dias que eu, vem de uma noite insone de quinta e trampo quase ininterrupto na sexta. Ainda assim, ficam na rua até 02 ou 03 da madrugada, tendo aulas a ministrar às oito da manhã do sábado. Mas , o que é o cansaço se comparado ao prazer de ir ao Bar do Rui? não tem melhor lugar no planeta terra.
Para ir ao bar do Rui, ninguém tem sono, nem cansaço, nem falta de apetite, nem dinheiro escasso.
Ninguém é tão pobre que não possa ir ao Bar do Rui, nem tão rico que possa dispensar uma noite por lá...Mas, quem faz sucesso no Bar do Rui, nem é o Rui, mas Romário o garçom mais amado e competente do pedaço!
No Bar do Rui comemoramos as coisas mais esdrúxulas de que se possa ter notícia: os namoros secretos que todo mundo sabe (!!!); a gravidez das virgens; a despedida de quem ainda nem foi; a chegada de quem nunca veio; o livro publicado que nunca saiu; o concurso em que alguém passou, mas que nunca será convocado e até mesmo minha aprovação no Vestibular da UEFS.
Já que é para falar de contradição, sou doutoranda em Letras e, agora, graduanda em Letras com Inglês.
Já vivi isso antes: estar nos dois extremos ao mesmo tempo.
Mas, em tempos magros em que o contrato não se resolve e eu me preparo para um funeral financeiro que poderá ser de um, dois, três ou seis meses sem a grana da UNEB, porque afinal, eu estou "DEMITIDA/EXONERADA/AFASTADA DEFINITIVAMENTE", eu tinha que voltar para a graduação e dar coerência ao meu currículo, se eu quisesse trabalhar na Bahia.
É isso mesmo: não só passei como acabei de descobrir que empatei com o primeiro lugar em tudo. Parecia brincadeira, mas tiramos exatamente a mesma nota em TUDO na parte objetiva. A redação do sujeito é que eu não sei, nem o critério de desempate, mas fiquei feliz por ter passado em tão boa classificação.
Então, comemoramos isso também lá no Bar do Rui. É claro que ninguém dá parabéns, nem coisa alguma, mas é pretexto para estarmos lá e sairmos com a barriga cheia de calorias (inclusive, o churrasco da meia-noite)para dormirmos o sono dos deuses - gordos deuses, eu creio. E os que dentre nós ainda não resvalaram na obesidade, certamente estão a caminho. Respondo por mim que, quando estou em feira, peso 57 quilos, mas ao voltar de Xique, sempre estou com 58 ou 58,5kg.
O que eu vejo ao falar de tudo isso, ou seja, de caloria e de volta à graduação, é que me tornei consequente e metódica em relação ao futuro.
Não suporto viver o hoje sem as mínimas garantias do amanhã.
Se o meu Poderoso Chefão me diz para eu não me preocupar com o contrato, fico ainda mais preocupada porque sei que se eu morrer a caminho da UNEB, para todo efeito, o Estado não se responsabiliza por mim, pois não sou mais funcionária pública.
E se o salário demorar a vir, o que é muito provável, quem vai me prover? o que vou fazer? se as contas vencerem e ME vencerem?
Volto à graduação porque não quero trabalhar longe de minha casa, nem depender das demandas, nem ser eternamente substituta: quero parar meu traseiro num emprego estável. Quero trabalhar e voltar para a minha casa, não viver mais esta vida louca de estrada eterna, sono perdido, tempo perdido, saúde sacrificada.
Também não atiro o meu destino para as mãos dos outros: não quero ser dependente de algum suposto favor de que um edital seja flexível para que eu possa concorrer. Isso nunca acontececeu nem para beneficiar gente queridinha, muito menos aconteceria para mim, em meu benefício. Portanto, se vejo os problemas, vou tentar resolver e não apostar na palavra de um ou na benevolência de outro.
Vejo isso: meu contrato acabou e se for renovado, estarei vulnerável financeiramente por tempo indeterminado. Sem terror e sem hipérbole: pode demorar muito ou pouco, mas o certo é que vai demorar. Tempos de vacas magras, racionamento de pasto.
Vou ter pouco tempo para mim, para cuidar da graduação, mas farei horários inteligentes. Demora, mas passa essa chatice de graduação.
E para encerrar, um motivinho bobo para comemorar no Bar do Rui: saiu o meu texto "De perto ninguém é normal: a eficácia do discurso científico em O alienista", na Revista Seara. Meus textos de 2009 também foram publicados pela UNICAMP nos anais de dois eventos, mas já começo 2010 com uma publicação nova e isso me incentiva a terminar o trabalho que está aqui, minimizado, e que se eu não terminar, estarei frita amanhã.

Nos braços de Morfeu


Tenho o sono leve, tão leve que acordo se uma pena cair no chão.
Se viajo à noite, dificilmente durmo. Dormir, para mim, é um protocolo: requer tranquilidade, silêncio absoluto e certa escuridão.
Durante quase sete anos completos, sacrifiquei meu sono no Corpo de Bombeiros. Desta época herdei uma sensibilidade ainda maior no dormir.
Claro, se alguém toca os meus cabelos, induz meu sono. Tenho também este ritual de ser "posta para dormir", como as crianças que precisam de ninar, de um sonho encaminhado na segurança de um companhia carinhosa, que nos vigia o sono e nos protege dos pesadelos.
Também não durmo sem rezar: gosto de manter as pazes com o meu anjo da guarda, de trazer elementos pacificadores para esta experiência que tantos descrevem como sendo próxima da experiência de morte, porque nos desligamos do plano material imediato.
Gosto de dormir e a necessidade do sono está aliada ao prazer de dormir.
Sei que tenho posturas antipáticas por ficar com um ódio irracional das velhinhas que ficam ouvindo música no ônibus e cantando pela madrugada a fora, me empatando o descanso, já que não considero que dormir sentanda seja dormir.
Tenho desejos atrozes e violentos de comete um homicídio contra quem perturba meu sono.
Raramente durmo no quarto da Casa dos professores que eu denomino como Ginecocracia. O motivo? acho as mulheres barulhentas. Não tenho saco para dormir em aglomerações, embora, durante o tempo em que esta referida casa andou povoada de fantasmas e de acontecimentos paranormais ou fora do normal (o diagnóstico nunca saiu) até que eu me submeti a dormir por lá.
Tentei dormir de novo lá, nesta sexta de manhã. Afinal, só havia duas mulheres na Casa.
Primeiro foi aquele barulho esquisito de carro velho enguiçando na ladeira. Não era carro, era o ronco da colega.
A outra coitada, que chegou de viagem comigo, comentou: "M. tem um sono pesadão, hein?". Concordei constrangida pelo barulho e já antevendo a impossibilidade de dormir.
Finalmente fez o silêncio.
Eu vinha de um forte chá de erva cidreira e duas drágeas de passiflora, porque tive acessos de insônia há uns dias, ou melhor explicando: o sono vinha, mas eu ficava excitada pensando em problemas e pensando em coisas que eu deveria ter dito e não disse, em coisas que eu esperava e não vinha e numa série de coisas que começaram a ocorrer depois da manhã de terça de carnaval.
Depois do silêncio e de muito me revirar, penso que dormi.
a paz não durou muito: veio o ruído de sacos plásticos remexidos; veio o rangir da porta, 1, 2, 3, 4, 5, 6, vezes aberta e fechada. E minha paciência foi embora.
Vendo que minha paciência foi embora, fui embora também: toda humilhada, catei meus panos de cama, com um ódio indescritível, com uma raiva infinita, contida pela educação de dizer: "Gente, desculpa, na boa, não dá para dormir aqui".
Lá fui eu, neste calor insuportável, me trancar no outro quarto. O lucro? 02 horas de sono.
Achei que a colega que havia chegado comigo tinha a ver com o abrir e fechar constante da porta. Mais tarde ela declarou: "Você viu o que aconteceu hoje de manhã?" e citou o caso do barulho dos plásticos, da agonia do fechar e abrir da porta e disse: "Eu desisti de dormir".
Coitada, passou de cúmplice a vítima: eu lá, achando que ela estava em dupla com a moça barulhenta.
Durante o mestrado eu dizia: "Não existo antes das nove da manhã" e ratifico que o horário de funcionamento da Mara é de 09h às 22h - fora desses horários, não existo.
Desligo todos os telefones para dormir e não atendo á porta de cara remelenta.
Odeio visitas inesperadas e talvez por isso eu seja temerosa acerca de "surpresas".
Quando eu estou dormindo ou estou acordando e aproveitando meus instantes de preguiça para me revirar na cama e me aparece uma certa amiga que adora fazer esta surpresa inopinada, de manhã, juro: se eu tivesse um bom advogado de defesa, mataria aquela criatura.
Gosto de estar em paz, nos braços de Morfeu, aproveitando o sono, o sonho, a plenitude do descanso.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Só o passado


Há quem não se reconheça ao olhar para o passado.
Há quem estranhe certos personagens que o tempo transformou em passado.
Belchior cantava que "o passado é uma roupa que já não nos serve mais". Acho que há uma parte do passado que vai se transformando em saudade e outra que a gente dá graças a Deus por ter ficado para trás, por ter se tornado passado.
Um ex-namorado meu que não me deixou saudades e que me fez questionar o passado andou exumando nosso tempo de convívio.
Ora, mas que coisa esquisita!
Temos curiosidades em saber como estão as pessoas que não vemos há tempos,mas passado é um tempo sem retrocesso. Aliás, a vida não tem retrocesso.
Ele disse de nossas paridades e outros traços de afinidades culturais e intelectuais. Interessante que a gente gosta de quem é parecido conosco, embora argumente que os opostos se atraem...ter coisas em comum pode ajudar sim, num processo de identificação, tanto quanto estar com o oposto pode trazer um efeito contrastivo de complementaridade ou, simplesmente, a gente pode fugir de quem seja completamente diferente de nós.
Ele ainda me disse que vivemos uma história juntos. Sim, vivemos e esta história agora é morta.
Não sei por que ele chegou à tardia conclusão de que temos tudo a ver. Digo, porém que tivemos e não temos mais.
O tempo tirou o meu encantamento por ele. Da última vez em que eu havia visto R, o tempo tinha levado boa parte dos cabelos dele, tinha levado o meu desejo de manter contato e o havia transfigurado num desconhecido, desfigurado a silhueta dele numa rotunda barriga a se prenunciar sob a camisa: já não era ele, mas aquele outro em que o tempo o transformou/transtornou...
Neste dia, aliás, noite, eu estava saindo do cinema com uns amigos. Ele passou por mim com a namorada dele, mas não me reconheceu. Eu viajei em seguida e o ônibus em que eu estava sofreu um brutal assalto a caminho de Xique-Xique. Era o último dia do mês de agosto. Tem uma aura negativa nessa associação que faço, pois que ligo um evento a outro e reconheço isso
Nunca esqueci que ele faz aniversário em 17 de setembro e imagino que isso tenha algum significado ou represente que ele significou muito para mim. Foi. O problema é que foi, não é!
Ele faz parte das minhas lembranças do tempo da graduação na universidade e talvez ele confunda este apego a um tempo determinado e suas circunstâncias com este desejo besta de me ver.
Definitivamente, esta pessoa não me interessa.
Não irei ao encontro dele. Não quero saber do hipócrita reconhecimento de que ele me magoou - ah, magoou? eu também não esqueci não.
Mas, por que será que deu na idéia dele de vir me procurar, de me investigar pela internet, de escrutinar minha vida? que idéia é esta?
Não tenho muita habilidade para ser estúpida, agressiva ou indelicada e às vezes não consigo ser direta, mas educamente já mostrei que não tenho interesse em reatar nenhum laço, não me interesso por ele de forma alguma e, para não deixar passar, nunca esquecerei que ele envidou todos os esforços para me separar de uma pessoa a quem eu muito amei.
A memória que ficou para mim foi destas coisas, das coisas ruins. Certamente o referencial dele por mim é outro, mais positivo...
Como disse Lulu Santos, "Só o passado rondando em minha porta feito alma penada!"

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Besame mucho!


Há pessoas que tornam um acontecimento banal algo extraordinário. Tem algo mais banal do que beijos num carnaval?
Eu estava num bloco marcadamente homossexual. Olhando para todos os lados,a possibilidade de paquera era menor que zero, salvo por um ou outro que estavam por lá na mesma condição que eu, ou seja, estavam ali pela aglomeração comemorativa e não para confimar ou afirmar politicamente lugares. Lógico que a causa maior do Afropop brasileiro é se firmar no tocante às questões sociais relacionadas ao gênero e à etnia.E em especial, é um bloco com uma proposta política a favor dos negros...
Mas eu devo dizer que eu sou muito sortuda! caramba! ele me encontrou. Claro que eu fiquei na minha durante boa parte do percurso, vi os olhares, mas desvie os olhos e, no fundo, achei tudo tão bonito, porque eu adoro ser seduzida.
Sei lá o que isso diz do meu ego, mas eu gosto de ser seduzida, gosto de ser buscada e por isso gosto de homens que têm iniciativa. Quantas vezes eu já escrevi que "a iniciativa é a mãe do resultado?".
Mas veja que sorte: o carnaval estava um tédio durante esses dias todos: poucas atrações, homens e mulheres não muito atraentes (em termos educados) e tantos outros fatores que fizeram meus amigos e eu ponderarmos sobre a queda qualitativa da festa. No domingo eu andei dispensando (idiota que eu sou) um candidato fofinho que me abordou lá na frente da portaria da UFBA. Morri de vergonha de Ilmara e sua prole ficarem lá, me vendo grudada no rapaz, ainda mais porque fisicamente ele parecia um dos filhos da loira em questão. Noooooooossa! morri de vergonha e saí pela tangente.
Diante de um quadro destes, ele me encontrou.
Não é pouco: ele me encontrou e me perguntou com um sotaque carregado: "Quieres casarte?" - é, eu esqueci de dizer que eu saí fantasiada com um véu de noiva - então, eu falei toda embaraçada (não é embarazada não, viu, gente? embarazada em espanhol é grávida!kkk!!!): "no." Ele perguntou de novo: "Entonces, quieres casarte?", mas não me deixou responder: me beijou. E seria um beijo qualquer como tantas vezes já aconteceu comigo naquela Avenida Oceânica. Eu, que assumidamente adoro os argentinos e sou Miss Mercosul mesmo!!! Mas não foi um beijo qualquer, foi o beijo que eu adoro. Foi o beijo de quem sabe beijar e eterniza o momento naquela delicadeza do encontro entre os lábios.
Falo do beijo dele, que delicadamente foi tomando a minha boca, sem pressa, sem exageros, sem desesperos: um lábio encostando no outro e o balé dos movimentos que incitam a percepção da textura dos lábios, dos gostos, do calor, da umidade...e que conquista o abraço e a vontade de que o beijo não acabe mais. A Terra parou. Não havia mais ninguém ali: só ele e eu. Ah, como foi bom!nem sei quanto durou, mas sei da intensidade, imensurável.
Aí, claro a realidade vem sob a forma dos tombos que os que dançam dão na gente.
Assustada, olhei para os lados e comentei que o trio iria atropelar a gente. Acho que ele entendeu que eu estava me desvencilhando dele - no meio do barulho a gente não tem clareza sobre o que ouve, ainda mais que eu falei em português mesmo, mas aí ele seguiu e eu dei de cara com os amigos que estavam me acompanhando...oh coisa boa é se perder num bloco! depois todo mundo se encontra e você se livra do testemunho dos amigos linguarudos. Só depois é que vi que eles estavam perto de mim há um tempo, mas não viram meu ficante, nem nada entre mim e o sujeito, mas cheguei consertando os borrões de meu batom e dei a maior bandeira...
Nem vou lamentar a pressa com que passei por dois ex-alunos meus, lindos e loucos, no meio do bloco...alunos de onde eu não sei, acho que da Pós-graduação da 2 de Julho...só ouvi: "Próooo!!!" imagine, eles estavam assanhadíssimos porque acredito que nunca me imaginaram naquele assanhamento da festa, me descabelando de dançar, vestida de noivinha, mostrando minhas discretas coxinhas. kkk!!! fofinhos, lindinhos,e ex-alunos. Opa, ex-aluno pode! ainda mais estes que eu nem sei o nome, nem a procedência...mas eu estava saindo do bloco para comprar água e aí, eu não encontrei mais os rapazes.
O importante é que ele me encontrou!
Que bom que ele me conquistou, me seduziu, fez o jogo: parecia sob medida para mim! era tudo que eu queria! Eu deveria ter dito "besame, besame mucho más!"
Ah, deixa eu me derreter e louvar a sorte: putz, há umas 04 encarnações que eu não encontrava alguém que beijasse tão bem! que sorte!!! e do jeito que eu gosto: clarinho, com um cabelinho preto e macio, fofinho...com sotaque latino! Poxa, obrigada, Senhor!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Sobre amizades e carnavais


Estive pensando, me metendo na vida alheia, de longe, é claro: como podem as pessoas ficarem de mal como se fossem crianças de 05 anos? fiquei pensando que se a amizade de alguém for mais importante do que o meu orgulho e minha vaidade, preferirei o amigo.
Também já tive amigos demais nesta vida e, por isso, sei que é muito bom não estar grudado neles. Sei da necessidade de distância, até mesmo pela preservação da relação.
E o que há de pior: às vezes a gente quer estar com o nosso amigo e isso implica em estar com ele e com o "amor da vida dele". Quer, seja amigo ou amiga, é dose você ter que aturar e puxar para o seu convívio aquele estranho que foi "apadrinhado" por sua amizade pré-existente.
Mas tem isso da gente desligar o telefone e de querer ficar só.
Tem o outro lado das coisas que é aguentar os amigos de nossos amigos que, por assim dizer, não são necessariamente nossos amigos. E quando dois amigos em comum resolvem ficar de mal e você fica no meio do fogo cruzado, vendo um atrapalhar a vida do outro, um boicotar o outro e, no final da contas, você se dar mal sem ter nada a ver com isso?
Aí também ouvi depois, no rádio, o seguinte: "Antes de pedir dinheiro emprestado a um amigo, pense muito bem sobre de qual dos dois você precisa mais". Esta é uma máxima que guarda as suas verdades: se alguém te oferece dinheiro num momento de dificuldade, beleza. Especialmente se isso não ocorreu em meio ao consumo de álcool ou entorpecentes.
Se algum amigo te oferece dinheiro e estabelece prazos e juros, melhor ainda: quem paga juros não deve favor. Contudo, é o credor quem deve saber disso e ter consciência de que esta fazendo um negócio - deve estar atento ao fato de que, se atrasar a devolução do montante emprestado, você sabe que pagará juros, portanto, se além de agiota temporário ou permanante o cara for seu amigo, saberá fazer uma leitura das circunstâncias para não cobrar fora das condições, quando, por exemplo, você trocou de emprego num órgão público e antevê que só entrará em folha de pagamento após 03 meses, em média.
Se o agiota tiver juízo, perceberá que ao longo deste tempo suas dívidas se acumularam e que o conveniente é parcelar sua parte. Mas, cuidado: alguém poderá se aproveitar disso para te humilhar, para um dia jogar na sua cara que quando o "bicho pegou", foi ele quem te emprestou uma grana - mas não fala dos juros, né?.
Mais desagradável que tudo isso é quem mistura as estações. Sinto muito, digo outra vez, se meu amigo estiver errado e meu inimigo estiver certo, admito a razão de meu inimigo e defendo seu ponto de vista.
Há ocasiões em que a gente termina uma relação e se torna inimigo daquele ser que outrora era nosso amor. Ah, que feio!
Mas neste caso tem o nosso orgulho pessoal. Poxa, quando é a gente quem termina e sabe das razões pelas quais desfez os laços afetivos, está na cara que ficamos no aguardo do pedido de desculpa e na reedificação da amizade.
Quase todos os meus ex-namorados se tornaram meus amigos. E bons amigos!
Agora que terminei com meu namorado, não falo com ele até que ele esboce suas desculpas pelo ocorrido. Não dá! para passar por cima de tudo, não dá!
Sinto a falta dele, gostava de conversar e de brincar com ele...aliás, sou daquelas pessoas para as quais o amor não é tudo - isto é, se houver amor, mas não houver bom humor, compreensão, tolerância, trocas, diversão, etc., melhor nem pensar em relação.
Um grande amigo meu esteve separado, recentemente. Isso durou um ano, em média. Agora que se reconciliou com a amada, a gente pouco se fala. Isso em nada abala a nossa amizade, porque a gente reciprocamente se entende. Não são necessárias as palavras: é o momento dele, de curtir a amada, de viver esta fase, de querer ficar a sós com ela. Vocês já notaram que Sós e S.O.S. são anagramas perfeitos? para alguns, estar só e estar a sós requer pedir socorro, pedir um "ésse- ó- ésse" porque a pessoa se sente em perigo.
Bem, mas devo pensar que amanhã estarei passando pelo ISSBA, onde fica um ponto de ex-amigos de trabalho. Ultimamente estes inventaram de me associar com a moça lá do BigBrother que tem um nome parecido com o meu e tem a paridade comigo, no sentido da vida militar. Toda hora eu tenho que aguntar isso! Aliás, acho a Anamara linda, parecida com a Ivete Sangalo, que eu acho igualmente linda, embora não curta musicalmente a moça do axé. Nem ela nem as enlatadas em geral...não acompanho o programa BBB, também, não para fazer pose de intelectual e ficar criticando e acompanhando escondido. É que a esta altura da vida, não dá para acreditar na porção reality de nenhum programa, né, mano? não vejo graça, não tem novidade e, enfim, não faz minha cabeça mesmo. Mas não sou daquelas idiotas que se fazem de desentendida sobre as figuras da mídia. Então, é claro que eu sei quem é Stefany (mesmo sem jamais ter visto a cara dela), sei quem são as mulheres Melão, Filé, Melancia, Morango e etc. Não é preciso consumir estes produtos de massa para saber quem são: eles se espalham, tocam por aí, aparecem, são comentados...
Voltando ao ISBA, então, é lá o primeiro canto que eu costumo passar durante o carnaval.
Vou, dou um "alô" para a galera, vejo se tem Tenente bonito na área, vou ali perto fazer um lanche bom e higiênico num point lá perto, volto, bebo água, atualizo as fofocas e sigo pela avenida Oceânica abaixo, verificando o potencial masculino heterossexual da área...e aí, quando tem camarote, vamos a ele; quando tem bloco, vamos a ele.
Neste ano estou meio grilada com camarote. De fato, quem fica em camarote não curte o carnaval, curte uma outra festa paralela. Claro que tem tudo de bom: banheiros limpos, comida de qualidade, cinema, salão,boate, brindes, fotógrafos, segurança...mas é uma outra festa. Dificilmente as pessoas namoram por lá, ninguém fica de flerte como na pipoca ou no bloco...cada canto do carnaval tem uma emoção diferente.
O carnaval de rua em Salvador acaba invariavelmente às 02 da manhã. Passou daí, é bagaceira pura: aparecerá algum trio excluído a cada uma hora, as pessoas já estarão sentadas no meio-fio; tudo decresce em qualidade (inclusive, os nossos critérios de paqueras). Se a festa não está boa, eu pico a minha mula e caio fora: esse negócio de ficar em lugar que já não está agradando, só para ususfruir do dinheiro gasto, está por fora.
Eu não sacrifico meu sono à toa. Também não deixo de dormir para dar um mergulho numa praia urinada e pegar um sol escaldante para me encher de bolhas, para eu ter as marcas visíveis da "suposta diversão". Estou fora, mano véio, isso não é comigo. Já viu que o blog é da Louquética, não é da Idiota!
O carnaval perfeito da louquética é assim: Saio no sábado, passo no ISBA para as coisas que eu já falei. Ando até à frente do Othon, dou de cara com uma turma de argentinos, fico com um e retardo minha entrada no camarote.
Entro no camarote, faço aquele tour e dou de cara com mais argentinos, clarinhos, altos, com um cabelinho escuro e lisinho que olham para mim e dizem: "Besos?" e eu digo: "Sí"...
Amassos depois, vou para a boate pipocar de dançar. Saio quase duas horas depois e vou olhar a avenida. Vem algum trio legal e eu vou ver lá do mirante; vou comer algumas coisa legal, volto para a boate, danço até desidratar e resolvo descer para a avenida.
Desço.
No meu caminho, mais gatos!
Encontro um amigo não muito íntimo em turma com amigos gatos. Um me apresenta aos outros, rola uma empatia, trocamos o telefone, trocamos uns amassos e tchau. Voltando para o camarote, mais argentinos disponíveis e com iniciativa.
Muitas músicas depois, sono e cansaço: hora de ir para a casa (dos outros). Banho. Cama. Bons sonhos. Acordo na hora do almoço. Mais sono. Enrolo para levantar. Banho. Acordar os demais amigos. Almoço no Souan Loun. Bib's Frapê no Habib´s da Avenida centenário, na Barra. Voltamos para a casa (dos outros). Mais descansos. ver o carnaval pela TV um pouquinho. Sono.20 horas, todo mundo pronto para reiniciar as ações da noite anterior.
Segunda-feira: Guarajuba e nada de carnaval.
Terça-feira: saideira.
Até 2011, se Deus quiser e eu existir.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Das coisas que eu sei...


Devido às sérias restrições impostas pelo mercado de trabalho local (Bahia) que solicita, em seus concursos, formação específica em Letras, resolvi desenrolar este nó de meu currículo híbrido (história/Literatura)e prestar vestibular para voltar a estudar na UEFS.
Não me preparei, mas coloquei minha presunção na bolsa e segui para as provas. Estou aqui para rir disso: ao corrigir meus gabaritos de Literatura e de Inglês, tive apenas 11 acertos em cada disciplina. Veja a situação: eu, doutoranda em Letras! atestado de burrice já!
Eu nunca acertaria aquelas formulações, loucas, objetivas...até esqueci de colocar título na minha redação, que tratou do mesmo tema de minha dissertação de mestrado: a solidão. Na verdade, solidão em tempos de internet, os prejuízos das relações reais em relação às virtuais, blablablá.
Mas eu estou aqui para tratar de outra coisa, chamada distorção perceptiva: acertei 17. Isso: dezessete questões dentre as 20 de História. Pior que isso? tive o melhor desempenho de matemática em todos os tempos of my life e, com Biologia, não foi diferente.
Mas eu não sei Matemática e os números apontam que eu sei Matemática na mesma proporção em que sei Geografia.
Não vou fazer joguinho besta, não: eu sei que não sou burra, eu tenho boas leituras...meu ego está inquieto com a possibilidade de me desclassificar por causa das coisas que eu não assinalei nos quadradinhos da redação ou pelo título negligenciado e, sobretudo, estou aflita pelo meu índice medíocre de acertos.
Eu adoro estudar e adoro tirar notas boas. Odeio mediocridade! agora, eu que aguente!
E como são as coisas: caiu uma questão lá de Literatura em que se pedia para apontar dentre os trechos reproduzidos de Jorge Amado, a marca de seu lirismo.
Pensei, pensei e vi lirismo onde um técnico em formular provas de vestibular não veria. Aí vesti as roupas dele, segui um provável raciocínio e pluft! acertei a questão!
Agora, olha que coisa mais linda:
"A vida senciente é atraída pelo sexo e pelos alimentos porque, amando e devorando, a vida se conserva e se amplia. Nem todas as espécies, no entanto, precisam se reproduzir. Em todas as que necessitam dela, o sexo é uma parte crucial do processo de transformação de energia pelo qual, deleitando-se, as espécies preservam e aumentam sua complexidade neste cosmo impregnado de energia." (MARGULIUS; SAGAN, 2002, p.11).
Fala sério! eu achei lindo!
Este é um enunciado de Biologia, mano!claro que eu acertei geral a questão, não é? afinidade! e não estudo Biologia desde os idos de 1993...
Esclarecendo: senciente é todo ser que tem a capacidade de experimentar o sofrimento (logo, ser humano, ser não-humano).
Veja isso de mostrar que a gente não quer só comida, mas quer comida e sexo, universalmente.
Como todos sabem, eu adoro, eu admiro, eu defendo e acredito nesta maravilha chamada ACASO. assim, para referendar minha simpatia com a prova de Biologia vou citar outro caso:
[...] podemos dizer que a teoria da evolução por seleção natural envolve o acaso e a necessidade. O acaso aparece na aleatoriedade do processo mutacional de geração de diversidade. A necessidade, no processo de reprodução diferencial dos indivíduos mais bem adaptados ao ambiente [...](PENA, 2007, p. 84)
Eu não sou darwinista não, gente, mas admiro quem admite a força do acaso. Nada é mais irritante do que o povo paranóico dizendo que "está escrito", como se nós estivéssemos amarrados ao destino, como os gregos supunham. Nada está escrito, tudo é aleatório. Chega de fórmulas mágicas e da idéia besta de justiça entre causa e efeito. Que nada! Quem acha isso nunca deve ter conhecido o Brasil e suas impunidades ou, ao contrário de mim, nunca viu uma pessoa escrota se dando bem e enganando todo mundo. A vida não é novela não, bobinho, com punição dos vilões no último capítulo...vai esperando!
Acertei esta questão também. E tenho outras passagens desta mesma prova em que vi tanta poesia, vi tanta Filosofia e aplicabilidade plural que eu nem sei dizer o quanto!
Mas ficarão para uma próxima as outras passagens. O que conta agora é essa distorção perceptiva que, através de meus números de acertos, dizem o que eu sei e o que eu não sei. Não creiam: não sei nada de Matemática; de Química, sei que as enzimas se reproduzem "umas en zima das outras" - kkk! - de Biologia, pouco sei; de Física só conheço as delícias do "atrito entre dois corpos"...e nunca saberia História mais do que sei de Literatura. São só números.
Coloquei esta charge acima, questionando o simulacro, porque ela tem muito a dizer sobre o mundo das aparências e sobre as distorções (ora, que é bonito parece artificial? o irreal parece mais expressivo que o real?)...

Sampa


Sou paulista de nascimento e, sendo baiana de vivência, eu pouco conheço sobre São Paulo.
Não vou escrever uma linha sequer sem aquiescência de Tati, que será citada indiretamente ao longo deste texto - até porque a descoberta de uma afinidade intelectual com ela é o que motiva falar sobre São Paulo.
No início de dezembro de 2009, circulamos pela cidade sem os deslumbramentos comuns dos turistas, dos outros olhares...talvez nossa cabeça estivesse cheia de uma visão estereotipada de São Paulo, mas estar na terceira maior cidade do MUNDO não me deixou em êxtase.
Museu da Língua Portuguesa e afins só nos mostravam o etnocentrismo paulistano, os textos óbvios na voz de Fernanda Montenegro, a sequência previsível dos poemas recitados. Salvo isso, é só tecnologia.
Mas a gente via as pichações e os grafites urbanos.
Sinceramente, eu vi a pobreza dos brancos.
A pobreza da mulher branca que eu vi era uma pobreza educada, instruída e certamente decorrente do vício em drogas. A mulher, estava suja e cheirava mal até de longe, mas não era feia e era jovem.
Ela estava bem perto do hotel em que nos hospedamos. Enquanto esperávamos o sinal abrir, ela me pediu dinheiro. Pediu educadamente. Pediu com uma comovente educação e trocou comigo uma cumplicidade, como se me dissesse: "Eu sei que você é uma pessoa boa e eu sei que você sabe que eu também sou". Como eu não podia abrir minha bolsa naquele momento sem ficar insegura, ofereci a ela o que eu tinha em mãos: meu milk shake. Ela entendeu. Eu tive, sinceramente, muita pena daquela moça. Esta foi uma experiência tocante e que me marcou no fundo daquilo que chamamos de humanidade.
Lembrei de uma outra mulher em situação de miséria, em favor de quem eu intervim uma certa vez: ela se prostituiu porque precisava de dinheiro para alimentar aos filhos. Por ser uma mulher negra, o meu tio, que era o cliente, não quis pagar.
Ela chorou tão desesperadamente que eu fui ver o que era, ali, nas proximidades da minha porta. Lembro que meu namorado pagou o dinheiro a ela e a gente fez isso sem ferir moralmente a moça.
Meu tio, monstruoso, deu de ombros!
Posso afirmar que estas duas experiências com a pobreza (claro, uma branca, outra negra, mas as duas, femininas) mexeram profundamente comigo.
Bem, eu vi as pessoas práticas, envolvidas na sua prática, no ganhar dinheiro...com suas eternas mochilas que pareciam kits de sobrevivência.
A sobrevivencia é uma coisa por lá, no sentido da dignidade como o paulistano come um churrasco grego. E como não tem vergonha de vender as frutas fatiadas para consumo imediato no centro. Sim, fruta para comer na rua! Isso na Bahia é um tabu. Assim como comer ovo (observação de João Neto sobre a dieta/almoço lá em Campinas)
Eu vi muitas gravatas.
Numa manhã, vi uma prostituta bem humorada, de uns quarenta e outros anos, na Rua Augusta, mexer com os rapazes transeuntes.
Numa tarde, vi uma prostituta encostada a um hotel na Praça da Sé, fumando e fazendo propostas aos homens.
Numa noite, vi uma prostituta com seios gigantescos que me fizeram supor se seria mais pesado levar vida de prostituta, ou o peso da existência, ou levar aqueles peitos desproporcionais. Ela estava super mal humorada, fumando, subindo uma ladeira perto do Bexiga.
Vi de longe as velhas putas da Praça da Luz - mas estas têm documentário próprio passando na GNT. Se cito as putas e as prostitutas com esse diferencial linguístico, não é gratuitamente.
Vejam vocês como São Paulo vive do sexo. E sexo é trabalho por lá, com clientela para todos os gostos e ofertas variadas - lembram que boa parte das putas da Praça da Luz passam dos 50 anos? e a convicção com que defendem sua profissão? É tudo um espetáculo sociológico porque imaginamos uma terceira idade ( e as idades a ela próximas) de um outro modo.
Paradoxo fantástico, pois que os homens ordinariamente preferem às mulheres jovens e trocam as de 40 por duas de 20, conforme pensamento corrente. Elas desafiam isso.
E como pode esse negócio também paradoxal de termos dois marcos culturais como a Pinacoteca e o Museu da Língua, dividindo espaço com as putas?
Vi o taxista, deslumbrado, mostrar orgulhoso a nós duas a quadra da escola de Samba Vai-vai. Ih, meu Deus! Não sei escrever vai-vai!
Senti aquele mau cheiro absurdo de esgoto aberto, que exalava da estação da Luz e das próprias dependências do Museu da Língua Portuguesa.
Não me lembro de ter conseguido dormir mais do que às 06 da manhã, porque as sirenes de ambulância são uma trilha sonora repetitiva na cidade.
Pelo olhar de Tati, vi aquele céu cinzento. O céu de São Paulo nunca é alegre. Eis uma cidade melancólica.
Também não vi a vida noturna tão alardeada pelos meus amigos: foi um sacrifício achar uma peça em cartaz por lá.
Festas e boates? só de strippers e outras de teor similar.
Não vi prostituição para mulheres - vi os gays e travestis e demais profissionais do sexo voltados para o público masculino.
O diferencial de Campinas continua valendo: único lugar em que vi um prostituto na rua, a serviço das mulheres. Mas, Campinas é bem parecida com Salvador, na composição étnica, nos falares, nos comportamentos... se você olhar bem, o interior de São Paulo é igual a qualquer outro interior urbanizado.
O que São Paulo tem de melhor são os homens: lindos, altos,estilosos...o Centro de São Paulo recebe hordas incríveis de tipos variados de homens, para todos os gostos: It's raining man, aleluia!
Pareço deslumbrada?estou mesmo! não costumo ver homens bonitos nem em Feira de Santana (se vejo a espécie rara, cutuco quem está ao meu lado e enfatizo: "UM gatinho! ei, UM gatinho!"), nem em Salvador, nem nos lugares onde trabalho. Mas em São Paulo, eu via homens lindos nas ruas, no metrô, nas lojas, no boteco da esquina...haja Deus!!! aí eu cutucava Tati com a mesma observação!
Ela, iludida, achou que em Campinas eu fosse ficar naquela empolgação e falar: "gato!gato!gato!"...não aconteceu isso. Afinal, Campinas não tem gato não, gente: é tão raro quanto por estas terras baianas. Por conta disso, ela concluiu que o meu tipo é o paulistano - e acertou, mas os mineiros de tipo paulistano me agradam também. O caso não é a procedência, mas o perfil físico. O diferencial real do paulistano é a iniciativa: se ele quer, ele aborda. Pronto! homem baiano é passivo, fica na espera...
Tati adora os orientais e seus descendentes que eu, nada discreta, chamo de tamagutchi.
Outras coisas ótimas que São Paulo tem são suas lojas outlets, a comida, os preços de sapatos e dos cosméticos e, claro, militares gatíssimos. O resto é construção ideológica massiva que conquista a cabeça nordestina. Só isso!
Mas, adoramos São Paulo, a da vida real.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Só um pouco de sexo!


No meu aniversário do ano passado meu namorado me deu um vibrador de presente e isso causou um bafafá endemoniado entre os meus amigos. Não contei o que ganhei: eles avançaram sobre meu discreto pacotinho quando, depois do encontro com meu amado, eu fui encontrar a turma lá no Salvador Dali, no Rio Vermelho.
Mitos foram criados, calúnias foram lançadas e o povo escandalizou na mesa do restaurante com o meu objeto de prazer favorito. Francamente, adorei o presente! Entendi porque os vibradores ganharam o epíteto de consolo: consolar é o mínimo que eles fazem. Yes, I love vibradores! só não sou ridícula de colocar um nome no meu.
Gosto de homem, da totalidade do ser masculino, do corpo todo, das palavras, do calor, do peso, do cheiro...confesso, porém, que tem uns exemplares que se resumem ao próprio pau: sem conteúdo ou, como eu digo, têm o cérebro na cueca.
Os vibradores têm uma loooonga história - Safo, em seus poemas já se referia a eles, embora os dildos nao tivessem a forma que têm hoje em dia. No caso dos primeiros vibradores modernos, o foco era o tratamento das neuroses femininas.
É recorrente a gente chamar uma mulher de mal amada como sinônimo de "mulher sem boa vida sexual ativa". Esse raciocínio tem suas bases científicas pois que a histeria usualmente fora tratada com vibrações e descargas eletrificantes (não é choque não, gente!) nas zonas genitais femininas. O mercado se apoderou, depois, da idéia - para a felicidade de quase todas - das quais, eu!
Ah, eu gosto de sex shop. Já que não há mercado do sexo para as mulheres, é um consolo!
Já fui ao Clube das Mulheres. Vocês pensam que aquilo lá é para mulheres? que rola uma prostituição para consumo nosso? que nada! eles são performers, só dançam, insinuam, interpretam. Sexo, em nosso país, é direito só dos homens!
Não fui sozinha, levei minha melhor amiga: testemunha de que aquilo lá é uma reuniãozinha do maior respeito e decoro. O máximo que a mulherada fez foi forçar o cara a mostrar o pau, porque uma moça foi lá e literalmente, "tocou o órgão" (para o bem da família brasileira e dos bons costumes, considerem que a moça era musicista e que o órgão a que me referi era um instrumento musical!)
Sabe por que eu resolvi escrever sobre isso? por causa do preconceito idiota que as pessoas têm em relação ao assunto. Primeiro, porque para muitos as mulheres não podem e não devem se masturbar; segundo, porque as que são sexuadas ficam suscetíveis aos comentários grosseiros.
Quem é que canta I touch myself?? sei lá, mas a necessidade de se tocar podem levar os homens a se tocarem de que se você tem prazer sozinha, mas não tem o mesmo prazer quando acompanhada,o problema não é com você!

Toda noite é a mesma noite
A vida é tão estreita
Nada novo ao luar
Todo mundo quer saber
Com quem você se deita
Nada pode prosperar...
É a luz de Tieta, não é , Caetano, que mostra o quanto a vida sexual dos outros é sempre tão mais interessante?! então, tá!

Outros direitos das mulheres


"Todo homem que sabe o que quer/pega o pau para bater na mulher", dizia Marcelo Nova, da extinta banda baiana de rock Camisa de Vênus, nos anos 80 do século passado - eu, criança, ouvia isso pela rádio Itapoan Fm (pois é, gente, até hoje não se sabe a verdade sobre a grafia desse negócio aí. Então rola Itapuã, Itapoã e Itapoan! escolham).Eu já era uma criança rock en roll! tenho o maior orgulho disso (Só para reforçar, lembro bem do Camisa cantando: "Oh, oh, oh!aqui em Salvador: a cidade do axé; a cidade do terror". É, mano véio, essa bundalização e balaquebaquização Sangaleana de hoje em dia perde em muito para os antepassados musicais da Bahia, mas viva o Chatée do Enchantée.
Então, meus amigos machistas, nem pensem que O Camisa de Vênus propunha a violência contra a mulher: ele estava falando de sexo, de espancar de prazer.
Há uns dois anos, estava eu indo para Aracaju, numa tarde de domingo, e na poltrona atrás da minha iam dois peões dizendo algo similar: "o que segura mulher é madeira boa". Você está pensando que ele é serralheiro, inocente? aí, ai!!!
Seja por que caminho for, que bom que os homens vêm reconhecendo a necessidade de prazer por parte das mulheres. E que bom que as mulheres estão ultrapassando algumas ilusões culturalmente criadas.
Veja só, agora o papo é com as meninas: vocês têm ou tiveram pai, irmão, primo, amigo, não é? então certamente, se passaram dos 15 anos, devem entender muito bem de homem. Quantas vezs vocês já ouviram as frases abaixo?
- Se doer, eu tiro;
- Vamos para um lugar mais calmo?
- Eu não vou contar a ninguém!
- Não vai acontecer nada que você não queira;
- Eu te ligo amanhã;
- Eu posso explicar;
- Eu não faço sexo com a minha mulher/ Nós não temos mais nada!
- Eu não posso me separar agora!
- Eu só transo com você;
- Eu tive um imprevisto no trabalho;
- Não é nada disso que você está pensando;
- Ela é só minha amiga. Agora não posso mais ter amigas?
Só não vou falar das mentiras que os homens contam porque o Veríssmo já lançou vários livros sobre o tema.
De chifres eu entendo, porque já ganhei muitos (de alguns, fiz devolução!), mas morro de pena de minhas amigas que não entendem que os homens não escolhem traí-las com mulheres mais bonitas, mais ricas, mais inteligentes, mais gostosas: não gente, para o homem, basta ser com outra mulher que o sexo já está bom. O caso é transar com alguém diferente - esses critérios de qualidade quem usa somos nós, talvez por configuração cultural.
Essas mesmas amigas têm momentos de extrema cegueira, são daquelas do grupo para os quais se pode perguntar: "Você já foi traída?" e ela dirá: "Não que eu saiba!". Ora, vê se pode!kkkkk!
Outro sofisma ridículo que eu escuto, inclusive no Café Filosófico, da TV Cultura, aos domingos à noite: Se questionado sobre quem trai mais dentre os dois gêneros hegemônicos (ou seja, homem e mulher), o palestrante diz que os dois traem e, ainda, justifica: "se os homens traem, traem com quem?" Não é um absurdo? Considerando que o homem traia com ma mulher, quem disse que ela está traindo alguém, necessariamente? muitas vezes ela é solteira e fica, como uma grande amiga minha que chamarei de G., 10 ou 15 anos esperando o crápula se separar da esposa.
E o que é pior: mulheres, o que é isso de você descerem a madeira na amante? ora, se seu marido trepou, ele foi porque quis. Não é ela quem namora ou é casada com você: é o seu marido ou namorado. Ou prefere adotar uma postura machista e me dizer que "Ela se ofereceu e ele não é viado!"? Pode ser sua melhor amiga, querida, não é problema dela: se o cara não quiser, não acontecerá.
São poucos os homens fiéis - sinceramente, de tão escasso, cito o nome de Henrique, exemplo vivo de fidelidade. Ah, onde haverá outros remanescente desta tribo? não faço a menor idéia.
Ouso dizer mais: se você também, amiga, estiver frente a frente com a tentação, vai acabar ponderando que às vezes ou você trai ao outro ou você trai aos seus desejos, ou seja, trai a si mesmo. Viva Dorian Gray: "A melhor forma de vencer a tentação é ceder-lhe!". Uhhhhhhhhhhu!
Eu brinquei porque não é preciso ter muitos neurônios para saber que os desejos não cabem num casamento, não se restringem a um namoro. Assim, qualquer um ser humano é passível de desejos que ultrapassem as esferas do que foi institucionalizado nas relações a dois.