Louquética

Incontinência verbal

domingo, 27 de junho de 2010

Como se fosse um tango


Não sei dançar a dois.
Para alguém que adora dançar, como eu, é uma contradição absurda não saber dançar a dois. Talvez isso revele um pouco da minha mínima habilidade de seguir o ritmo do outro ou de saber estabelecer o compasso, acompanhar e também conduzir...não sei fazer isso.
Quando escrevi minha dissertação, me encantei exatamente com um poema de Iderval Miranda que se chama "Como se fosse um tango". Ele diz o seguinte:

todas as sementes do nada
e a sempre falta.

Assim mesmo, em minúsculas.
Assim mesmo, pequenininho.
Assim mesmo, doloroso, revelador das angústias, das faltas, dos 'nadas".
Então, numa disciplina do doutorado caiu ,justamente para mim, um romance argentino. Na hora de fazer o artigo, nomeei "Como se fosse um tango", em paráfrase explícita com o poema de que falei.
Os Tangos e Boleros que compõem o romance Boquinhas Pintadas, de Manuel Puig, lançado em 1969, guardam uma relação estreita com o drama, com as decepções amorosas e angústias humanas, abundantes em suas letras. Nas danças, por sua vez, tangos e boleros devem ser executados em dupla, com proximidade física, com encenações, coreografias e dramatização.
O Tango nasceu no final do século XIX, na Argentina, nos subúrbios, sendo tocados, principalmente em cabarés e prostíbulos. Enquanto dança, o tango foi marginalizado e restrito, em princípio, às zonas suburbanas e periféricas por conta de ser considerado indecente. Somente as prostitutas poderiam fazê-lo, declinando dos pudores socialmente vigentes.
Posteriormente, Carlos Gardel inventou o tango-canção, ajudando a que o ritmo pudesse sofrer menos preconceitos e ganhasse o status atual, alçando prestígio artístico.
Também o bolero tem origem controvertida, mas reconhecidamente hispânicas, sendo representante dos empréstimos simbólicos das culturas de língua espanhola, seja na Europa ou nas Américas.
Eu acho tango lindo!
"Fumando espero al hombre que yo quiero!", lembro de memória essa voz, essa mulher cantando isso, com um tom de mulher da vida, como dizem por aí. E acho que talvez essa seja uma forma "original" de assunção dos sentimentos - e o tango é dançado assim, no rastejar das mulheres aos pés dos homens, em cenas de lágrimas, de abandonos, de arrependimentos, de perdas...
E quando do encontro, o tango tem toda aquela força da veracidade dos que se desejam: é quase um sexo dançado, artisticamente preservado na encenação do beijo, dos toques, da proximidade dos corpos...
Até os Engenheiros do Hawaií se renderam ao ritmo, com a música refrão de Bolero:
Eu que falei: nem pensar!
Agora me arrependo,
Roendo as unhas
Frágeis testemunhas de um crime sem perdão.
Eu que falei: nem pensar!
O coração na mão
Como um refrão de um bolero
Eu fui sincero como não se pode ser
Um erro assim, tão vulgar
Nos persegue a noite inteira
e quando acaba a bebedeira
ele consegue nos achar
num bar
Com um vinho barato, um cigarro no cinzeiro
e uma cara embriagada no espelho do banheiro...
Até me deu saudades das noites de sábado no Rio Vermelho, nos idos de 1999, 2000, 2001, 2002, 2003...e em seus revivals em 2006 e 2007, quando eu estava roxa de hematomas da paixão, querendo mais é morrer do que viver sem quem eu amava.
Na verdade, nunca aprendi a dançar a dois e agora vem você querendo mudar o meu passo!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Rivalidades com a Argentina


Sou contra qualquer tipo de etnocentrismo e abomino qualquer ação xenofóbica.
Minha simpatia por los hermanos argentinos é declarada: adoro os homens argentinos, que são excelentes de amasso, têm cabelos macios e sabem seduzir. Pouco importa se o ego deles é grande...ai, ai, deixem para lá minhas supostas grosserias.
Mas, observem esta antiga imagem, mulheres, e tirem suas conclusões.
Estas são fotos supostamente de Pelé e de Maradona, obtidas por aí pela web.
Como este não é um blog politicamente correto, nem inibidor das taras femininas, eu defendo,sim, o direito ao nu masculino - eu, né, porque sou heterossexual e gosto da matéria.
Dizem que as razões da rivalidade entre Pelé e Maradona podem ser explicadas por certos detalhes dessa foto aí. Eu duvido muito, mas não quis perder essa chance de ser sensacionalista e apelativa, usando o nu masculino - a indústria do consumo banaliza a imagem das mulheres, então, porque não restribuir?
Fora das minhas ironias, acho o nu masculino bonito mesmo, independentemente dos meus arroubos femininos e feministas.
Agora, comparativamente, vejam a foto e confrontem com a atualidade: acho que o tempo é cruel com os homens tanto quanto é cruel com as mulheres. Nós é que somos complacentes com as barrigas rotundas do homens, com seus cabelos brancos, com os sinais da idade...o oposto do que eles costumam fazer conosco, como se tivéssemos prazo de validade.

Bote a mão na cabeça que vai começar...


Quando eu estava indo para Cachoeira, ontem, a minha cidade estava um caos, para variar!
Odeio a Avenida Presidente Dutra.
Poxa, se há dois lugares em Feira pelos quais eu odeio transitar pode crer que se tratam da Avenida Presidente Dutra e da Avenida de Canal. E foi bem nesta primeira que o bicho pegou: a sinaleira em descompasso e em descontrole e, de quebra, um baita acidente bagaceira na pista - entenda-se por acidente bagaceira, aquele tipo de acidente em que não é preciso ver muito dos feridos e das vítimas para chegar à conclusão de que o estrago foi geral. Neste caso, um clássico:um carro bateu no poste; mas bateu lascando tudo, rachando o poste e a frente do carro.
Segundo consta, a culpa foi do poste.
Já no ponto de Cachoeira, estava um burburinho só: mais bagaceira, é claro - um morto lá na calçada dos fundos do Feiraguai.
Platéia é o que não falta e eu, que não sou chegada, fiquei na minha,lá eu não fui.
Depois, volta meu companheiro de carro para dizer que o morto era um "mala", com pinta de devedor da lei, de errado...quando se diz isso, de alguma maneira a gente amortiza a tragédia. Os da família lá, com cara de quem já esperavam por isso. Olha aí o raciocínio de Polícia como penetra as mentes dos civis.
Um ser humano cismado com os sinais, com as energias, com as bobagens esotéricas que assolam a vida dos adivinhos, teria desistido da viagem. Ora, mas no que uma coisa se relaciona com a outra? se eu me impressionasse, assumiria e cairia fora do outro transporte que eu iria pegar, já que de carro próprio eu só fui até esse ponto descrito.
Hoje, na volta para Feira, bem na entrada do Belém, em Cachoeira, uma patrulha da PM parou a van em que eu estava. Poxa, o povo que deve fica realmente apreensivo.
Vi o nervosismo da moça que sentou ao meu lado, dando indiretas para os policiais deixarem a abordagem para lá, vi a cara preocupada e suspeita de outro que estava sentado no mesmo banco que eu... e irritantemente, eu me mostrando favorável à ação - não vi ninguém ser destratado, nenhum desrespeito ou humilhação ( ao contrário, as mulheres ficaram na van, preservadas).
O motorista, revoltadísimo!
O boy, ah, gente, o playboy lindinho, branquinho e bem nascido, com a tarjeta da cueca Lacostes aparecendo, tomando o maior sacolejo e se mantendo sóbrio e calmo.
A moça, então, confessando que o seu namorado foi preso injustamente, apenas por não portar documentos...e meu sensor de "saia-justa" acusando que aquela ali tinha histórico de visitas à cadeia, de muita marca de dor comum à mulher de bandido.
O brother comum, lá com um pacotão de fumo no bolso que despertou suspeitas, mas desembalado, era apenas fumo de corda mesmo.
Por fim, o mala surpreendido com maconha e pedras de crack, carimbando um passaporte para encrencas sérias com a polícia, e os dois menores que estavam com ele, uns aprendizes da Al-Qaeda, à mercê dos acontecimentos.
Por pior que seja a polícia, eu ainda me sinto segura se há um policial no meu ônibus de viagem ou se passamos por abordagem. Vivi na Corporação por quase sete anos completos e hoje, como civil, ainda apoio a ostensividade da polícia como um instrumento coibidor de crimes.
Não passo por essas coisas sem lembrar das paródias que assisto, ouço e vejo. Lembrei logo da "Abordation", paródia do rebolation - "Bote a mão na cabeça que vai começar/ a abordation, a revistation..."
Por falar nessas coisas, esse povo perfeito, inteligente e acima do bem e do mal, quer fazer de conta que não sabe o que é o Rabolation, nem quem é Geyse Arruda e, muito menos do que trata a novela das oito ou o que seja o Arrocha.
Francamente, em plena Idade Mídia, num universo guiado pela mída de consumo e pelo consumo da mídia, como poderia alguém não saber disso?
Eu não assisti sequer UM capítulo de nenhuma novela atual, mas é claro que eu sei do que elas tratam; odeio Arrocha, não compro CD nem vou a show, mas como é que eu vou fazer de conta que não sei o que é? com os vizinhos até aprendi que "ela sai de casa/de bicicletinha/uma mão vai no guidon/a outra, tapando a calcinha"! não vou me vestir de pseudo-intelectual-padrão para assegurar meu assento na afro-elite, nem no mundo do bom gosto. Ora, que fingimento mais besta!
É assim que se faz um São João na Copa do Mundo!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Festa do interior


Eu estou com uma dor de cabeça tamanho monstro king-size!
Gosto da festa de São João, subjetivamente falando, mas é duro aturar o barulho dos fogos, a fumaça que arde em meus olhos e desperta homéricas crises de rinite. Ah, meu Deus, eu me assusto com as bombas!
Eu tenho que aguentar os meus bichos em polvorosa, assustados com os assovios de foguetes e bombas, eu tenho que suportar os altos cânticos da igreja evangélica que fica em meu quintal e, assim, acompanho a vigília feita por eles, à revelia dos meus desejos, já que não dá para desligar a igreja nem parar o culto.
Fiz o mesmo que você disse que estava fazendo: estudando e escrevendo para dar conta das obrigações da universidade e, assim, garantir um tempo desimpedido para ficar à toa, de novo, com você.
Ah, é festa em MEU interior!
Mesmo que eu quisese, não poderia seguir estudando nesta tarde: o culto começou e é estrondoso! acho que vou seguir a máxima que diz que "Se não se pode vencer um inimigo, junte-se a ele"...vou ali, entrar na festa também, já que a festa começou a entrar em minha casa e os protestos contra a festa também.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

No meio do caminho


Você, no meio do caminho. Eu, ali, repetindo a voz da personagem de Lobo Antunes dizendo: "Já não pertenço aqui", com o mesmo compasso, com o mesmo ritmo, com o mesmo efeito dramático interior do meu medo de te ouvir dizer: Moça!
E foi por isso que com a mesma calma convicta da personagem, passei por trás de você, toquei a suas costas com carinhosa displicência e te cumprimentei, sem oi nem como vai, mas dizendo o seu nome. Ali eu te disse Já não pertenço. E dei graças a Deus por você estar conversando com outra pessoa, na formalidade profissional, pelo que notei...e passei, porque eu sempre passo.
Já não pertencemos mais, posso dizer - sem negligenciar que fizemos escolhas, sem negar que tenho medo de ouvir: Moça!
Sempre que eu vejo a loja de bijouterias Dona Moça eu lembro de você.
Sempre que eu passo pelo antigo Pedro Falcão Vieira Center, eu lembro de você e lembro do que eu fiz com esse acaso desperdiçado...as cartografias em comum - de Feira a Aracaju, infinitas!
E é sempre o mesmo filme, também, porque eu tive que inventar que você era gay, para poupar os escândalos do paranóico que queria briga porque te surpreendeu beijando meu rosto na boate e aquele clima todo lá; e essa porcaria dessa história toda seccionada por terceiros, pelas minhas mentiras, pelas suas escolhas, pelo seu ego, pelas minhas manias, pelos imperativos de vingança, pelo fato de já nos conhecermos tão bem a ponto de termos medo disso,por sabermos reciprocamente do que somos capazes e procurarmos a proteção da distância.
Como alguém como você pode ter insegurança? Como? não te falta nada! a natureza foi generosa em ter te feito lindo e ainda te contemplar com a simpatia, com a generosidade, com a educação, com uma família legal, com grana, com competência profissional...você nem parece ser de verdade, Príncipe Encantador!
Mas, de fato, Já não pertenço. Estou em paz!

What a wonderful world!


A gente nem vê que está praticando o afastamento emocional das circunstâncias, das pessoas...e nesse diálogo de mudos todo mundo sabe o que está acontecendo, o que um realmente pensa do outro, mas por educação ou conveniência, brincamos de Louis Amstrong, vemos e dizemos "What a wonderful world!", mesmo presenciando os naufrágios das relações.
Engraçado, tenho medo físico da morte: o definhar me amedronta, a debilidade/debilitação, as limitações, a sensação do bafo quente da morte às minhas costas, enfim, mas eu reafirmo: a eternidade não me interessa, nunca me interessou e eu rezo para que isso não exista. Se existir, abro mão deste direito. Esses medos eu tenho, mas eu não me importo de ser passageira.
Como me envolvo muito com tudo que leio, ainda mais quando se trata de meu objeto de pesquisa, cito António Lobo Antunes, em As naus, em momentos distintos, de um mesmo assunto:
"E quando o chá acabou e mergulhavam diretamente na água fervida o mesmo saquito sem sabor dependurado na extremidade de uma guita, a esposa, de costas para ele, anunciou-lhe na serena voz habitual com que enterrara, trinta e oito anos antes, a filha querida, Já não pertenço aqui." (pp.53-54)
A pontuação e a ausência de pontuação em Lobo Antunes é assim mesmo, gente, não cabendo colocar o Sic. E esse raciocínio sobre a pertença prossegue mais gravemente:
"...e admitiu com desgosto que Já não pertencemos nem sequer a nós,"
E eu me interesso em ver isso que transcrevo porque ficamos sempre discutindo identidade e pertencimento e repetindo que tudo é plural, é híbrido, é múltiplo, numa abstração absurda., nem parece que isso tem aplicabilidade, razão prática...
"...e a mulher disse Não pertenço aqui num sussurro que provinha do interior de sua desilusão e de sua miséria, e repetiu baixinho Não pertenço aqui na exacta voz da noiva do retrato.'
E o marido anônimo deste romance dirá, ainda; "Não somos de parte alguma agora".
Penso se, de fato, somos de algum lugar, se somos de alguém...ah, gente, estamos de passagem, estamos sempre de passagem. Talvez os professores substitutos, os empregados temporários, os caixeiros viajantes, as aeromoças, os nômades e os ambulantes saibam disso e o admitam mais que os demais seres humanos.
Por falar em ambulante, somos, sim, deambulatórios. Não de ambulatórios e pronto-socorros (ou também, vá lá!), mas deambulamos, um mais que os outros; vagamos sem sermos almas penadas.
E Lobo Antunes fala das coisas assim, com choque e com naturalidade.
Mas, veja, essa mulher que diz Já não pertenço aqui mostra ao marido que ela não está, de todo, onde ela se encontra.
Eu me encanto. Sou deslumbrada mesmo e me encanto com isso aí que não tem nada de genial, nada de extra, a não ser para mim porque a experiência descrita dialoga com a minhas histórias de pertencimento, sempre um pertencer conscientemente transitório que me faz desdizer do ser e afirmar o estar. Por que não tenho medo? acho que eu deveria ter medo.
Sei que minha idade mental não excede os 13, 15, 16 anos. Eu me olho o bastante para saber disso - é que ficou em mim a menina, que às vezes é uma pobre menina triste e noutras é pura hiperatividade e vivacidade porque nunca aprendi a ser quieta, a ter aquela quietude dos mortos, dos letárgicos...não, sou elétrica, gosto de me mexer...beiro a ansiedade ou me entrego a ela, mas eu nunca aguentaria esperar passivamente por nada.
Berro, grito, critico e me indisponho com os programas bestas de sair para me entupir de comida, sentada bestamente em qualquer mesa, mas não é preocupação com as calorias (a propósito, novos relacionamentos me emagrecem: eu perco o apetite, eu perco o sono, ao contrário do que acontece com a maioria das pessoas, já que a estabilidade emocional faz engordar)...não tem graça a coisa contemplativa...sofro mesmo! é um sofrimento sentar e comer - tem que intercalar com uma atividade, tem que dançar, tem que andar, tem que brincar...dói mesmo em mim o negócio da passividade.
Gosto de escrever em demasia, nessa franca e declarada incontinência verbal porque assim não só descarrego minhas compulsões, como também evito que leiam todos os detalhes do que escrevo. Ninguém teria paciência para textos longos...que bom!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Aos meus amigos


Sabe quando a gente percebe que não tem inveja das pessoas ou, até, que quando algo parecido com a inveja aparece não tem nada a ver com ela? quando as vitórias dos nossos amigos se confundem com as nossas próprias vitórias.
Pode ser a vitória de Cléo, que conseguiu colocar as mãos em 80 mil reais de uma herança - e que eu, pessolmente, achava que ela deveria ter sido paciente para receber a parte realmente merecida; pode ser a vitória de Jau, ao passar num concurso; a vitória de Joaquim, ao passar no mestrado; a vitória de Gi, por ter ficado com um cara legal e gente fina; a Vitória de Tella, por finalmente ter desembaraçado o divórcio e estar voltando a dirigir; é a vitória do nosso círculo de amigos que se compraz quando um compra o carro ou a casa...e isso independe de a gente se conhecer o bastante para saber de nossos respectivos defeitos e independe de nos vermos pouco: é cumplicidade mesmo!
O que nos causa inveja - e aqui respondo em nome de todos os meus amigos citados - é uma família de gente culta, que valoriza a leitura, a formação; é chegar em casa e discutir literatura com o pai e com a mãe; é uma família como a de Tércia, de pai e mãe doutores, sensíveis, amigos; é aquela avó artista plástica que ela tem; é a biblioteca e a pinacoteca particular deles e aquele piano lindo e afinado; são os pais de Meire, semi-analfabetos, que valorizam os títulos das filhas e a criação artística de cada uma delas; são as viagens que Ana costuma fazer; é a simplicidade de Vítor, que ganha 16 mil reais por mês e nunca foi um besta materialista deslumbrado; é a fortuna cultural de Renée, é a inteligência de um , a simplicidade de outra, a criatividade de alguns tantos...é a garra de Cintia (ah, filha da luta!)...
Certamente muita gente tem inveja de nossa idoneidade moral - esse é um patrimônio comum, nosso!nós sabemos que o bem que se faz a alguém não precisa chegar ao conhecimento da pessoa favorecida, senão não é boa ação. Não usamos isso para auto-promoção, para inflar o ego e dizer: "eu ajudei"!
As enumerações acima, vocês sabem mais que eu, não são em louvor dos títulos, mas do reconhecimento e do valor simbólico de cada conquista honestamente obtida.
E para vocês, meus amigos valiosíssimos, obrigada por me acompanherem, por torcerem, por se solidarizarem nesses acontecimentos mais recentes: eu sei que vocês torcem para que eu seja feliz. Eu torço para não pôr tudo a perder e não me auto-sabotar.
Sempre penso em vocês, nos conselhos que me dão, nas atitudes de cuidado que têm comigo...no difícil exercício do perdão em que vocês ficam me imiscuindo...vou lembrar de vocês ainda mais amanhã, vocês sabem!
Antes que eu esqueça: yes, eu tenho inveja de Carla Bruni (muito linda, boa cantora, rica, inteligente, talentosa!).
Acho que nossa amizade, sim, é dar inveja!

domingo, 20 de junho de 2010

Nas suas mãos


Eu queria te dizer que de todas as coisas que aconteceram a mais importante foi sentir você pegar a minha mão num gesto de companheirismo e de compreensão, num tom de proteção e de cumplicidade.
Antes disso,eu brincava com a sua mão entre as minhas, só pelo prazer da curiosidade, pelo carinho gratuito do momento.
Gosto muito das suas mãos!
Mãos tão macias as suas!Mãos acolhedoras e carinhosas nesse amparo quente e suave do enlace das nossas mãos juntas.

"Põe a tua mão
Sobre meu cabelo
Tudo é ilusão
Sonhar é sabê-lo."
Repito os versos de Pessoa, agora, sem o menor medo de sonhar, Bruno.

Homem, homo sapiens


Preciso dizer que há um lado bem conservador em mim que diz que homem deve ser homem.
Não estou falando de homem em oposição a homossexual nem fazendo apologia ao machismo ou ao patriarcalismo: estou falando do homem-padrão de que eu gosto.
Essa minha preferência está, provavelmente, circunscrita às minhas circunstâncias de educação, de criação, de cultura e tem muito a ver com o fato de eu ser uma pessoa tímida, o que me faz esperar que um homem de verdade tenha iniciativa, por exemplo.
Então, homem, para mim, tem que ser homem: deve ter palavra, assumindo o que quer e assumindo o que disse, se assumindo como um sujeito de enunciação com bastante clareza;
Homem tem que ter postura, ser responsável por si e por suas escolhas erradas e certas;
Homem tem que ter percepção e a delicadeza necessária para tratar de assuntos melindrosos; deve contornar a própria timidez e os embaraços; deve ter noção de respeito e de equidade e, enfim, deve ter coragem. Um homem covarde, com certeza, não é um homem na plena dimensão do que pede o termo;
Homem tem que ser seguro o bastante para não promover comparativos, nem fazer perguntas comparativas em relação aos outros homens, seja em que aspecto for;
Homem, para mim, tem que superar o imperativo dos comportamentos de grupo e saber driblar as chacotas dos amigos quando declaradamente não quiser seguir os preceitos do grupo, mesmo sob a pressão moral de ser chamado de dominado.
Homem não deve ser um quantificador inveterado e sem critérios: nós, mulheres, observamos o comportamento moral dos homens e odiamos galinhas. Por outro lado, falamos bem dos homens que não ficam com qualquer pessoa, que têm critério.
Homem dependente de mamãe - psicológica e financeiramente, pior ainda - está excluído de qualquer possibilidade de ser levado a sério, exceto pelas mulheres de perfil masoquista;
Homem que quantifica seus bens e mede seu valor a partir do valor de suas propriedades é um tipo para o qual eu não perderia meu tempo nem para lhe dar bom-dia! não, um homem assim não vale isso, não vale nada!
Homem tem que saber pegar em minha mão e me transmitir segurança; tem que ter capacidade de negociar as diferenças, de propor e de se propor às adaptações.
Homem tem que assumir sentimentos.
Até chegar a homo sapiens muitas pedras rolaram! homem tem que ser sábio, tem que ter sapiência no trato com a vida. Sapiens sapiens por esta capacidade humana de saber: não a desperdice!
Estas pequenas enumerações não esgotam o que espero dos homens, mas certamente justificam porque eu continuo esperando.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O ano da morte de José Saramago


É, me abalou saber que Saramago morreu.
Saber que o cara viveu muito e intensamente nestes seus 87 anos não diminui uma certa saudade literária que se desenha - apesar da imortalidade do cânone.
Da primeira vez em que li uma obra dele, comecei pela errada, aquela que para mim é a pior: Memorial do Convento.
Oh, negócio chato! Ali eu vi a preferência dele pelos nomes horríveis para os seus personagens: Blimunda. Olha que nome desgraçado!
E pior que tudo: achei tudo uma cópia descarada de Gabriel García Márquez, especialmente em Do amor e outros demônios.
Mas depois, O evangelho segundo Jesus Cristo: que livro bom! maravilhoso! a desconstrução total das razões da Bíblia Cristã Católica - o que prova os conhecimentos do autor, já que ele reescreve a bíblia nesta passagem.
Ver um Jose atormentado por ter deixado que outras crianças morressem (25, eu acho) e não feliz por ter salvado ao próprio filho, leva-nos a pensar sobre o egoísmo e o individualismo das ações humanas.
José vive este inferno interior.
A superioridade moral de Maria de Magdala e o sexo, Jesus e o sexo e a mulher que o liberta são partes da narrativa que também me encantam.
O questionamento do maniqueísmo através das personagens do Pastor, de Deus, das circularidades com o diabo, a demonização das mulheres pela patriarcalidade da Bíblia, tudo isso é fascinantemente presente na obra. Mas é para quem aguenta, não é para qualquer fundamentalista ou obsessivo-religioso.
O Ensaio sobre a cegueira foi o livro que eu li maravilhada - novo deslumbramento meu, diante da narrativa, da aporia que aparece, das pessoas descendo aos níveis da animalidade para salvaguardar sua existência, da mediocridade, da responsabilidade moral que recai sobre quem enxerga enquanto todos estão cegos...
E A Jangada de Pedra, que na verdade eu li antes do Ensaio sobre a cegueira.
Aqui a metáfora dos temores dos portugueses de que a Península se desloque na direção do Continente Africano, ou a constatação de que Portugal está solto, deslocado da União Européia, à deriva... mas o centro da narrativa com Joana Carda, Pedro Orce, José Anaiço,Joaquim Sassa, descreve coisas fantásticas, além da presença de um bando de estorninhos a acompanhar um personagem e do sexo do homem velho, da mulher que liberta o homem com o seu sexo, a grandeza do sexo, dos mistérios do sexo e da vida:
"o erro é só nosso, com este gosto de drama e tragédia, esta necessidade de coturno e gesto largo, maravilhamo-nos, por exemplo, diante de um parto, aquela azáfama de suspiros e gemidos, e gritos, o corpo que se abre como um figo maduro e lança para fora outro corpo, e isso é maravilha, sim senhor, mas não menor maravilha foi o que não pudemos ver, a ejaculação ardente dentro da mulher, a maratona mortífera, e depois a fabricação lentíssima de um ser por si próprio, é certo que com ajudas, esse que será, para não irmos mais longe, este que isto escreve, irremediavlemente ignorante do que lhe aconteceu e então e também, confesso-lo, não sabedor do que lhe acontece agora". (p.119)
E em todas as obras que li, uma referência a Fernando Pessoa - ora é no meio do diálogo de Deus, diabo e Jesus, que há a alternância da pessoa, do Pessoa, até outras situação assumidas desde o título, no livro que me devo a leitura: O ano da morte de Ricardo Reis, já que Ricardo reis é heterônimo de Pessoa.
Esta é minha paideuma, mas ao mesmo tempo é a minha maneira de depositar flores no túmulo de um escritor de que gosto.
E é mais um que vive no meu quarto, porque digo que quando literariamente convivi com um autor, durmo com ele...ah, isso não é necrofilia: palavras são coisas vivas.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Combater num bom combate


Nos meus imensos desesperos em relação às instabilidades vividas no emprego, cogitei concorrer a vagas que não tinham qualquer relação com a área de minha atuação. É que em tempo de guerra, urubu é galinha.
No fim das contas, perdi prazos, tive uma inscrição injustamente indeferida ( e neste caso, para uma vaga sob medida para mim) e consegui fazer apenas um concurso, daqueles que a gente se inscreve e tem uma semana para dar conta das coisas.
Foi tudo irregular: o ponto da aula pública foi sorteado antes de iniciada a prova escrita, o ponto sorteado para esta prova escrita voltou a ser posto para sorteio ( o que não pode!), as pessoas copiavam o livro diretamente na prova escrita, no tempo destinado à consulta; e a banca, definitivamente, se eximiu: afirmou que quem quisesse fizesse ao mesmo (em resposta aos candidatos queixosos).
A gente sempre cogita quem é o favorecido da vez - e neste caso, os rumores eram para dois, especificamente.
O resultado saiu ontem e eu fui olhar o currículo do sujeito: incrível, tudo a ver com a disciplina.
Alimento um orgulho bobo para os tempos de hoje: o orgulho de lutar honestamente, de perfazer um bom combate - sem pôr o dedo no olho do adversário, sem recorrer a métodos ilícitos, sem cometer absurdos em favor de um resultado que me beneficie. Então, por incrível que pareça, fiquei feliz por ter perdido para alguém potencialmente capaz e superior para tratar daqueles assuntos (de tecnologia, contemporaneidade, relação homem-máquina).
Claro: não participei para perder. Se me proponho a algo, quero obter aquilo a eu me lanço, meus resultados bons. Entretanto, é uma honra perder para quem sabe mais. Terrível seria se um protegido incompetente passasse, favorecido pelas manobras das bancas e dos chefes de departamento. E quanto incompetentes e medíocres são favorecidos em detrimento dos que são capazes? hoje em dia, as vagas das universidades tendem a ser manipuladas, moedas políticas entre candidatos (e famílias de candidatos com funções e influências políticas), que são negociadas entre os diretores de departamento, em jogatinas estratégicas de acesso à política, a vagas, a trocas, a favores, a licitações nada lícitas.
Tenho pouca paciência com gente sem palavra: atualmente ainda fico consternada com a cara de pau, a ausência total de lisura, de algumas pessoas que fazem qualquer coisa por um resultado favorável a si.
Em tempos de Copa, olho como isso se manifesta: desde que o resultado seja a vitória, tanto faz se a outra equipe foi prejudicada num lance ou não. Simulam-se faltas, jogadores assumem máscaras de vítimas, fazem lances violentos. Simulam e dissimulam.
Lutar um bom combate ou ver um jogo bonito, bem disputado ou alcançar a vitória por mérito é coisa que pouco se vê.
Lembro de um exemplo super próximo, agora: uma pessoa acusou a outra de cometer atos difamatórios contra si.
Quem falou, sabe o que falou.
Quem ouviu sabe o que ouviu e de quem ouviu.
Entretanto, na hora do confronto das versões, quem ouviu negou ter ouvido e, por conta disso, quem realmente falou e não assume, agora deve devorar algum dinheiro deste meu amigo, revertendo a ação.
Acontece todo dia: os maiores pilantras passam incólume à lei porque as pessoas vão deixando para lá, declinando de dar queixa, de reagir.
Quando um desses é posto em Juízo, não há antecedentes contra ele. Reforçam-se suas bases de defesa.
Não é novidade, num país como o nosso, em que a honestidade é vista como burrice. Bom é ser esperto. E ser esperto é usar todos os subterfúgios para vencer, para tirar proveito ou para levar vantagem.
Ontem meu colega de profissão estava assim, perplexo, pelos casos de trabalhos copiados da internet e entregue a ele, em plágios descarados.
Pior: era apenas uma resenha besta, de um texto pequenininho!
A gente reprova - foi o que ele fez e o que eu faria e faço nesses casos - mas fica aquela sensação ruim de que o mundo não tem jeito, que o aluno é um pilantra tão ladrão quanto qualquer outro ladrão ou político corrupto. O produto do roubo é o produto intelectual, mas isso não invalida o delito: é roubo!
Tenho duas figurinhas, também, de quem gosto até, cujos trabalhos foram comprados. Fica na cara, não é? as pessoas em questão não escrevem daquela forma, não têm aquele arcabouço argumentativo e teórico. Mas, sem provas, nesses casos, aprovo a pessoa - Por lei, cabe ao acusador o ônus da prova. Aprovo, mas não esqueço, não confio e desejo que a pessoa se estrepe para ter noção do que está fazendo.
Também gosto da honestidade dos sentimentos - apesar de tudo, acredito que dói menos quando as coisas são claras. Sou clara quando eu estou com raiva, talvez bem mais clara do que quando tenho amor por alguém, mas sempre demonstro o que sinto.
Deixa eu aproveitar enquanto eu estou feliz e, honestamente, não vejo motivo objetivamente dado para isso.
Aproveito esse PROZAC interior e naturalmente dado (tarja preta é que não seria, né, gente? eu nunca tomaria nada para me livrar das dores que são naturais à existência - penso, como os Espíritas, que a vida na Terra é um campo de provas e expiações, embora eu não sei o que fiz para merecer certas coisas pelas quais todo mundo passa).
Um dia perguntaram algo sobre a felicidade a Clarice Lispector (tenho esse vídeo, até)e ela respondeu sem sorrisos e sem cara feliz: "Mas eu sou feliz!".
Todo mundo conhece o perfil da Clarice Lispector, claro, mas a felicidade assume muitas caras.
Estar feliz não é rir em todas as fotos ou a toda hora, nem ignorar os problemas e os entornos de cada dia. Já disse: objetivamente nada mudou em minha vida...mas mudou um negócio que eu não sei o que é, mas que me deixa feliz,e que aos que suspeitam ter relação com Bruno, afirmo que não, foi anterior a ele. Talvez tenha a ver com o sexo bom do dia primeiro de junho, sei lá...mas isso seria o "abre-caminhos", como disse Jorge Amado em Tenda dos Milagres, falando da iaba (lembrem aí que a iaba é uma mulher sem prazer sexual, até que ela encontra Pedro Archanjo): "irrigado o deserto, rota a aridez, vencida a maldição, hosana e aleluia!".
Pode ser que tenha ali, alguma coisa a ver com os dias posteriores; e boa neurótica que eu sou, fico no aguardo do retorno das angústias. Eu sei que preciso delas, a gente mora juntas, a gente vive juntas faz tempo...ela só deve ter ido dar umas voltas.
Enquanto isso, aproveito mesmo!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Na sua lápide


AO GOVERNADOR ANTÔNIO LUÍS

Sal, cal e alho
caiam no teu maldito caralho. Amém.
Fogo de Sodoma e de Gomorra
em cinza te reduzam essa porra. Amém.
Tudo em fogo arda,
Tu, e teus filho e o capitão da guarda.


Texto poético de Gregório de Matos, reproduzido em homenagem a alguém que, com certeza, não é o Governador.
Ah, sim, estar com ódio de um canalha não implica que eu não esteja feliz. Eu estou!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Se arrependimento matasse


Uso a imagem de Maria Madalena aqui neste post, mas esclareço logo que não acredito nas versões oficiais sobre ela.
Segundo o livro A verdadeira história de Maria Madalena, dos autores Dan Burstein e Arne J. De Keijzer, o que há é uma distorção erguida em meio às manobras políticas e religiosas ao longo do tempo:
"Em 591, o papa Gregório, o Grande, afirmou que Maria Madalena havia sido prostituta antes de ser redimida por Cristo. A cristandade rapidamente adotou essa instrutiva imagem da pecadora santa e a Idade Média viu nascer um culto amplamente popular em torno de Madalena. Durante a Renascença, ela se tornou fonte de inspiração para diversos pintores e, durante a Revolução Industrial, teve seu nome invocado para controlar as pessoas de má conduta (...)".
Mas deixo aqui essa questão, já que de Maria Madalena vou usar a imagem estereotipada das pessoas que se arrependem depois de muitas águas passadas.
Ontem ele me disse que estava em Joinville se sentindo a pior das pessoas,a mais solitária, a mais errada,a mais execrável...Hum...U-hum!!!
Então, veio para mim com um papo furado de amizade e inocência e blablablá, porque queria ser uma pessoa correta.
Olha só, para quem gosta de vela derretida e chicotada nas costas, para quem praticou o Kamasutra de trás para frente e para quem já fez coisas que sexualmente envergonhariam uma atriz de filmes pornô, é uma mudança e tanto!
Interessante demais isso: se arrependeu de tudo que fez. Leia-se: tudo que fez comigo...muito bem, o germezinho da culpa chegando, que bueno!
Se uma crise existencial daquela existenciazinha descarada afetou o bem-estar emocional do moço, ele deve ter concluído que não tinha nada demais em se abrir comigo (no bom sentido, é claro!)e dizer claramente que eu faço parte daqueles erros que ele cometeu.
Agradeço muito a Deus por minha boa educação - sem ela eu não teria me privado de mandar aquele filho da puta para casa do hum-hum! deixa para lá!
Sei lá se ele entrou para a Bola de Neve, para os Adventistas...até acho bom se Jesus tocou aquele coração, mas o que eu posso fazer se ele me deixou tocar todos os outros órgãos antes disso? vou me matar de culpa?
Só não acredito que isso esteja acontecendo de novo.
Agora virou moda os meus ex-namorados entrarem em paranóia religiosa ou em paranóia moral - ou nas duas, tudo de vez.
Ah, estou com uma bruta raiva.
Poxa, quando ele estava lá comigo, no usufruto da carne e suas propriedades, não havia reclamação. Agora eu sou um erro. Poxa, errei de cara, de namorado, isso sim.
Odiei saber que ele se arrepende de ter estado comigo. Chorando os líquidos derramados, cara?
Achar que eu iria entender essa nova fase, tudo bem. Todos nós mudamos, mas mudar assim é demais. E também é uma violência contra mim.
Ao contrário do que parece, eu sei que sou careta e tímida, mas quero deixar de ser.
Fico feliz se algum homem toma a iniciativa comigo, porque se depender de mim, sou toda medrosa, sem jeito, um Guilherme Arantes!
Como é que eu escondo minha perplexidade frente a isso tudo? fala sério, até poucos dias atrás o cara fazia Sodoma e Gomorra parecer baile de debutantes. Agora é o pai da moral e dos bons costumes?
Figurinha cretina, descarada, hipócrita, personal sex instructor de todas as prostitutas e gogoboys do mundo, agora em versão light, totalmente re-paginada.
Vá se arrepender bem longe de mim, certo, moço? fique aí mesmo e congele em Floripa...
Se arrependimento matasse, seria ótimo ter uma chance de usar meu vestido preto, lindíssimo, no seu enterro! pense a respeito e faça um seguro de vida no meu nome.

Nenhuma Pátria me pariu!


Já passava das 22 horas quando minha orientadora me ligou para avisar que o nosso encontro previsto para hoje seria adiado, em razão de uma Portaria que regula os horários de funcionamento das repartições públicas durante os dias de jogos da seleção brasileira na Copa.
Ela previu as agruras de se deslocar por Salvador em infinitos prováveis congestionamentos e eu previ os meus desgastes de encarar a BR 324 dentre outras coisas em meio a um mesmo cenário...nem sei em que pé ficou a aula da tarde, mas com a determinação de que a UFBA só funcionaria até às 14 horas, achei melhor não arriscar. Então, acordei cedo e fui cuidar da vida porque amanhã tem aniversário de gente suicida e eu tinha mesmo muita coisa a fazer.
Para ser franca, preferi não ir a Salvador e evitar minha primeira briga com Bruno.
Nunca, nesta vida, eu ganharia a parada se eu disputasse com o futebol.
Imagino que ele fosse sair correndo do nosso encontro, para chegar logo e assistir ao jogo; do contrário, se ele me convidasse a acompanhar a partida,brigaríamos ainda mais quando ele visse que eu não torço, que eu não estou nem aí.
Ia ficar todo mundo gritando e vuvuzelando, numa vibração a que eu não corresponderia. Vendo isso, ele me mandaria pastar.
Sou chata e taciturna para estas coisas: não sou daquelas pessoas que ficam felizes entornando um copo de cerveja; não gosto de churrascos; sou intolerante com um bocado de coisas; tenho o pavio curto; sou impaciente; enjôo das coisas com relativa rapidez, me magôo com extrema facilidade; às vezes radicalizo embora eu seja lenta para tomar decisões mas, enfim, sou um pé no saco!
Por outro lado eu penso: se além de ser assim, eu não gostasse de carnaval, eu não gostasse de festas, eu não fosse de dançar, eu não amasse o sol e a praia, ah, eu estaria morta em plena vida.
Imagine o que seria explicar para o menino super-bem-mais-novo-que-eu o que eu realmente penso sobre estes desvarios de nacionalidade? só para começar, eu teria que explicar minha pesquisa e, assim, revelar que eu não estou na graduação.
Depois, sou professora: iria esmiuçar as coisas e pegaria bem aquele prefácio que Lilia Moritz Schwarcz faz para o livro Comunidades Imaginadas, de Benedict Anderson:
"(...) Por fim, nações são imaginada como comunidades na medida em que, independentemente das hierarquias e desigualdades efetivamente existentes, elas sempre se concebem como estruturas de camaradagem horizontal. Estabelece-se a idéia de um 'nós' coletivo, irmanando relações em tudo distintas."
E então eu passaria a discutir o capítulo 10, sobre "memória e esquecimento". E gente ruim que eu sou, iria descer a madeira naquele hinozinho safado dos "70 milhões em ação/pra frente, Brasil", cuja letra letra esteve a serviço da Ditadura, procurando botar pilha na identidade coletiva, na identidade nacional - camuflando as atrocidades da Ditadura e os efeitos do suposto Milagre econômico pelo qual, 15 anos depois, minha geração ainda estaria pagando caro.
Mas se tem algo que eu odeio é, também, esse amargor de quem gosta de apagar as ilusões dos outros, de jogar areia nos sonhos e nas crenças das pessoas.
Quando eu tinha 11 anos eu peguei uma briga feia porque as meninas ficaram contando a Margareth, que tinha 6 anos, que Papai Noel não existe.
Excepcionalmente os adultos tinham deixado a gente ficar acordadas após a meia-noite, pouco depois Margareth apareceu com uma boneca, se lamentando porque não conseguiu ver Papai Noel. Aí a cretina da Kelly foi encher o saco da menina. Baixo astral!
Eu falo isso tudo de sacanagem, mas eu nunca discutiria nada com Bruno. No mínimo seria uma postura arrogante. Imagine, você conversar com alguém e esta pessoa arrotar citações e argumentos. Ora, tenha dó!
Mas fiz uma coisa que eu nem acredito que fiz: emprestei minha televisão.
Uns Zé Roelas me imploraram a televisão. Para ser exata, um só Zé Roela me pediu, em nome de vários outros Zé Roelas. Não sei o que eles viram na droga da televisão de minha casa e sei que eu deveria cobrar aluguel, mas entendi que para a massa dos Zé Roela seria um grande feito.
É: eu tenho amigo Zé Roela, Zé Fubuia, Sequelados, Piaus, Browns e afins - heranças do tempo em que eu trabalhei no Corpo de Bombeiro e outros tantos que foram aparecendo na vida, na universidade e etc.
Engraçado, né, gente: eu tenho uma amiga formada em Engenharia Civil.
Antes de a gente ser amiga, eu só vivia reparando como ela era casca-grossa e queria manter distância, antevendo as patadas.
Com o convívio forçado por um dado ambiente de trabalho vi que ela era gente boa e que ela era casca-grossa por natureza, não era por mal.
Tem gente que é baixo-astral/baixo-nível por natureza: é a pessoa que é assim; não tem jeito que dê jeito.
Já tem outros seres humanos que parece que nascem ladies/gentlemen - tem uns que de tão elegantes, eu digo: vestem chita e vira seda. Gente com porte, com estilo, que não se sabe de onde vem. Outros, podem nadar no dihneiro, usar pérolas e são uma bregaria só. Creio em Deus Pai!
Mas não devo esconder que estou é com dor-de-cotovelo, que a seleção atrapalhou meu encontrou marcado para hoje e que eu me aproveitei dos prognósticos de que ninguém trocaria a seleção brasileira em campo por mim, e me recolhi à minha insignificância, ficando aqui, quietinha em casa. Com a quantidade de textos para ler e trabalhos para fazer, pretextos não em faltam.
Esse negócio de emprestar a televisão é verdade verdadeira mesmo!até eu estou perplexa - aquela porcaria foi paga em 10 vezes, gente!
Fiquei com pena do pobrezinho do Zé Roela me perguntando/afirmando: "Rapaz, tu não liga mesmo para o jogo? tu não sente nada?" ah, bobo, sinto. Sinto um incômodo do cacete com o barulho das bombas e com tanto grito de gente besta aqui na minha rua. Parece um estupro anal coletivo. Eu, hein!
Sou impaciente com os excessos de nacionalismo e de religiosidade. Estão aí dois pontos que mexem comigo (sem citar os deslumbramentos partidários, mas disso eu não posso falar porque senão um grande amigo meu se magoa).
Apesar de pisar na jaca e escorregar na maçaneta com aquelas idiotices de "está na hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor", não tem como falar da beleza crítica dessa outra música cantada por Moraes Moreira, Chão da Praça:

Meu amor quem ficou nessa dança, meu amor, tem pé na dança
Nossa dor meu amor é que balança nossa dor, o chão da praça
Vê que já detonou o som na praça,porque já todo pranto rolou
Olhos negros, cruéis, tentadores, das multidões sem cantor
Olhos negros, cruéis, tentadores, das multidões sem cantor
Eu era menino, menino, um beduíno com ouvido de mercador
Lá no oriente, tem gente com olhar de lança na dança do meu amor
Tem que dançar a dança
Que a nossa dor balança o chão da praça.

Deve ser a Praça Castro Alves, mas é aplicável a qualquer Praça da República, a qualquer carnaval, a qualquer aglomeração patriótica, a qualquer brasileiro que conheça a história de seu país o suficiente para ler as páginas ocultas dos heróis anônimos, toda dor que rolou, todo pranto que os nossos hinos ignoram. Mas,não levem isso aqui a sério: são só histórias de uma professora de História muito cheia de histórias.
Boa Filha da Pátria eu sou!

sábado, 12 de junho de 2010

Juntou os caminhos, mas separou as estradas


A gente só sabe realmente o valor da felicidade quando está feliz. Na ausência da sensação de felicidade ou na explícita tristeza e infelicidade, acho que nosso pensamento busca momentos ainda mais tristes e sofríveis.
Estar feliz parece um pecado, porque é algo tão raro, que muitas vezes a felicidade vem junto com a culpa.
Além disso, temos medo de atrair a inveja para nossa felicidade.
Ah, sabemos que não vai durar muito.
Quando se trata de tristeza, não: "Tristeza não tem fim, felicidade sim", não é?
Então ele finalmente repetiu após tantos meses que queria me matar.
Isso sempre aconteceu: nos exemplos de ódio ele dizia que por conta do que viveu, entendia todos os assassinos passionais - e dizia nomes e casos.
Ele me disse que por conta do ocorrido há homens que matariam a mim e àquele por quem eu me apaixonei. O exemplo que ele dá, aludindo a um sujeito qualquer, sempre foi muito pessoal. Faltou-lhe a coragem!
Ele disse que tinha muito ódio de mim, que às vezes não conseguia disfarçar, esconder...e depois disso fez o seu espetáculo de auto-comiseração, mostrando a sua magreza, o seu desequilíbrio, a vida toda fora dos trilhos...
Não entendo como ele pôde achar que a relação da gente não deu certo. Como uma relação de 10 anos não dá certo? deu certo, sim, por dez anos. Aí acabou.
Claro que meu coração ficou em frangalhos - eu tenho compaixão e, na verdade eu gosto dele, considero a amizade como uma forma de amor. Vejam, eu amo os meus amigos!
De novo ele deu um jeito para que eu notasse os tarja-preta na carteira dele, obtidos de maneira ilícita e sem prescrição alguma - grande exercício de tortura para me responsabilizar por tudo.
Mas ele também disse que estava assim porque se acostumou a ser amado por mim, porque eu era intensa em amor por ele, em atitudes e em cuidados. Pelo menos ele não negou que contribuiu para que eu deixasse de amá-lo - ah, as incontáveis traições que ele cometia, as exigências que ele fazia para vir até à minha casa (tal um popstar, determinava o cardápio do jantar...caso não houvesse como, ele não viria), os meus aniversários que ele negligenciou sob a alegação de que "era uma data como outra qualquer" (pretexto para não ficar comigo no natal e no Ano Novo - claro, havia outras preferências), a falta de solidariedade nos momentos difíceis, as explorações materiais, os meus livros que ele arremassava no chão, caso estivessem sobre a cama (cujos atos tinham o valor simbólico da mais torpe violência), enfim, uma lista infinita de motivos para não amar aquele sujeito...
E quando eu me apaixonei por outro, nos últimos dias de 2006, eu não percebi que estava apaixonada. Eu também não sabia que aquilo lá ainda era um relacionamento... e esperei uns dias para formalizar o término. Para ele, pratiquei uma alta traição.
Vivo com este fantasma chato no meu encalço.
O cara por quem eu me apaixonei já foi esquecido por mim, já é finado. E o finado assombra a vida do meu ex que, por sua vez, fantasmagoriza a minha vida.
Fico feliz pela assunção do ódio dele por mim.
Neste momentos, sigo sem salário e sem emprego, tenho um artigo para terminar, tenho um longo relatório para começar e me falta muita coisa. Mas eu estou feliz! Faz tempo que eu não digo isso, nem localizo isso.
Eu já estava feliz antes de conhecer Bruno. Ter ficado com ele só coroou a situação.
Mais motivo para estar feliz: Quando Tati soube da História (ela que é quieta, evangélica-padrão, toda certinha) se solidarizou e sugeriu uma outra trilha na UFBA onde é possível ter privacidade (ah, ela disse que os guardas têm tolerância total com maconha, mas com sexo, nada feito!kkk!)e minha amiga ainda foi capaz de achar a história bonita; Jaulla Rodrigues, por sua vez, vibrou e ficou felicíssima, sendo minha comparsa real e propondo um apoio para situação futuras. Bons motivos para eu estar bem, estar feliz.
Objetivamente estou lascada: atolada em leituras, com mil coisas para escrever até esta terça-feira, no limite da grana curta, com o computador sem memória e com problemas no modem que fazem minha conexão cair a cada minuto (não é hipérbole, viu?cai mesmo em 60 segundos), mas estou feliz.
Desesperada por emprego? estou, sim, mas ainda assim tive umas propostas na rede particular, que eu nem esperava, e conscientemente declinei delas - ou seja, terei alternativas quando me aprouver e também, minha contagem regressiva para as federais está correndo: daqui a um mês estarei desimpedida legalmente de voltar a concorrer nas federais (o prazo legal obrigatório de 24 meses expira em julho - sabem, não é? não se pode voltar a ser substituta nas federais antes de transcorridos 24 meses desde o último contrato)...
Gosto muito da pessoa com quem eu convivi por 10 anos, apesar de tantos motivos para não gostar. Gosto e me importo - apenas torço para que ele também possa ser feliz e me permitir ser feliz estando em paz com ele.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Estava à toa na vida...


Nesta quarta-feira de manhã fui devolver os livros que um amigo havia me emprestado e outros livros da Biblioteca Central, sob uma chuvinha bem desagradável.
Como eu estava cheia de peso de livros e sacolas, ao sair da biblioteca desci do salto, literalmente, e usei minhas lindíssimas sandálias da humildade, antevendo o inferno de atravessar o pavilhão de Biologia e todo o PAF I.
Mas até que eu não estava exatamente mal humorada: fique pensando que logo eu estaria em Feira, que eu não tinha nada para fazer, nenhuma obrigação imediata naquela manhã e que cabia apenas o cuidado para não molhar meus cabelos e ver meus 20 reais em escova irem por água abaixo.
Gostei de ter ficado lá no Andarilho Hostel. Percebi que sou apaixonada pela Barra e mais ainda pelo Jardim Brasil: badalado para caramba! e em frente ao Andarilho havia uma Viva Gula. Poxa, como eu gosto dos lanches de lá! são gostosos, não são como os da Perini, que só têm beleza mas não não tem sabor (com exceção da coxinha, cuja melhor do Brasil é feita pela Perini).
Também vi que eu tenho pouquíssima paciência para estadas de favor. Na boa, pagar por sua hospedagem, no sentido de não ficar na casa de ninguém, te desobriga de uma porção de coisas. Poxa, me senti super à vontade, não fiquei pisando em ovos como eu fico quando estou na casa dos outros. Até pensei que não seria assim e relutei, mas vi que vale o preço pago - e que não é muito, ainda mais quando você tem a opção por quarto individual ou quarto coletivo. Como eu era a única hóspede numa segunda-feira de baixa estação, optei pelo coletivo (já que quem formava o coletivo era eu mesma), obtendo 50% de desconto.
Eu estava pensando nessas coisas e rindo por dentro, por ter, excepcionalmente, ficado de bobeira nos banquinhos da sacada da FACOM, na tarde de terça, antes da aula da tarde: é que os caras da Rádio FACOM estavam executando uns funks e comentando as preocupações ecológicas da letra da Eguinha Pocotó e, também, tocaram o Rebolation e ficaram de escracho, puxando minhas gargalhadas - reforçadas pelo fato de eu estar olhando, de longe, minha amiga se batendo para estacionar o carro lá em Letras e porque eu havia lembrado de ter lido na página inicial da internet, sei lá de que portal, gente, que o cantor Latino estava sendo despejado. Ora, onde é que ele vai fazer "festa no apê" agora? kkk!!! olha como o ser humano pode ser cruel! eu ri de um bando de besteiras que minha cabeça besta estava lembrando.
Essa narrativa toda aí é do meu fluxo de consciência sobre as coisas recém passadas e lá vou eu sob a chuvinha...
Para ser exata, sempre olho se tem maconheiro na toquinha de Biologia (ah, o forninho, não!). E não é que àquela hora da manhã tinha um maconheiro estereotipado, cara, de touca rastafári, puxando um cigarrinho de artista em homenagem a Jah?
Acho que eu estava assim, cheia de pensamentos engraçados porque acreditei nas palavras do rapaz da banca de revista lá da Barra, quando eu estava atrás de táxi e perguntei: "Há outro ponto de táxi por aqui ou o negócio é na sorte?" ele me disse: "Então você está com sorte hoje!" - e o táxi surgiu magicamente atrás de mim. Motorista gente fina, por sinal, educadíssimo, culto.
Eu acredito em sorte. Eu acredito em acaso. Acreditei no prognóstico do cara da banca.
Bem, mas aí eu entrei por Biologia e peguei minhas escadarias laterais.
Um cara falou comigo e eu respondi - não sem me perguntar de onde eu o conhecia. Fique pensando nisso, achando que ele foi tão enfático no seu "oi" que, certamente, eu o conhecia de alguma situação prévia entre minhas amigas.
Ele seguiu na minha frente - e eu, ensacolada, sem o glamour dos saltos altos, peguei outro lance de escadas.
Ele me olhou de novo e, desta vez, me pareceu tarado.
Esta minha mente que não vale nada, logo pensou no comentário de Ana Leal, lá no departamento, quando alguém estava falando que em Recife rolava um estupro a cada 5 minutos e Ana gritou: "Onde? Onde é isso? Onde é isso, gente?"- poxa, eu também quero ir para lá.
Acho que eu estava pensando naquele olhar de tarado e chegado à conclusão que poderia haver uma convergência de intenções entre nós. Ora, entreguei a Deus! e lá vou eu quase perto da saída do PAF, mas a chuva aumentou.
O menino, sei lá onde estava, mas de repente ele apareceu de novo, ao meu lado. Juro que eu não entendi nada do que ele disse. Àquela altura, eu já havia pensado tantas misérias e bobagens que eu já havia me teletransportado para bem longe. Então eu falei: "Desculpe? eu não entendi o que você disse!" aí ele me disse que estava me oferecendo uma carona para atravessar o pátio.
Argumentei que aquela chuva era forte demais para ser enfrentada de guarda-chuva e que, por conseguinte, eu iria esperar diminuir. Agradeci e pronto.
Ele disse que já estava indo, então, pois teria aula.
- "Ok, bom dia!".
Mas ele voltou e sentou ao meu lado, se apresentou e me disse uma dúzia de coisas que eu não lembro mais, porque eram coisas vagas, pretextos para qualquer conversinha.
A porcaria de um dos guardas do campus resolveu ir sentar no mesmo banco que a gente - mas o pilantra do guarda vinha acompanhando o contato desde que a chuva me pegou por ali. Ah, odeio testemunhas (Ainda mais naquela hora da manhã, quando a UFBA está semi-deserta)! eu queria ficar à vontade para aproveitar o pretexto de Bruno (era o nome dele), mas sei lá porque ele inventou de me dar um beijo. Lógico, não sou de rejeitar presentes, não sou hostil: aceitei e dei outro.
Brinquei com os feitos do meu batom nele e disse que se ele fosse para a aula daquele jeito iriam pensar que ele era Drag Queen nas horas vagas. (A peste do guarda olhando e ouvindo tudo. Filho da puta!).
Ficamos ambos constrangidos, mas fui perguntando coisas vagas, tipo, qual era o curso dele - Engenharia Mecânica, 5 semestre.
Oh, benditos sejam os cursos de heterossexuais.
Benditos todos os cursos de Ciências Exatas que têm homens do sexo masculino.
Benditas sejam todas as Engenharias, das quais eu só experimentei exemplares da Engenharia de Minas, da Civil e, agora, da Mecânica, mas rezo para ter contato com os caras de Engenharia sanitária e de Engenharia da Computação ( e as demais, claro) a fim de refinar esta minha pesquisa e apresentar resultados mais conclusivos e confiáveis.
Aleluia!
Ele retribuiu a pergunta e eu lembrei que eu estava entrando numa fria, então me limitei a dizer que era de Letras. Se eu digo que eu era do doutorado, ele pensaria que eu tenho uns 60 anos.
Ah, sim, eu estava de sandália por isso ele me viu como a qualquer outra estudante. Nada de pose!
Lembrei de Jaulla Rodrigues, minha amiga e guru-espiritual, e achei melhor não perguntar mais nada: eu não estava preenchendo formulários nem fazendo levantamento de crédito ou cadastro. Logo, se eu descobrisse a idade dele ou pensasse em outros fatores, aquilo morreria ali, não haveria emoções nem "pós-fácio", porque eu sou cheia de protocolo. O cara já correspondia a 75% dos meus pré-requisitos e exigências, melhor não procurar desculpas para fugir da situação. Por isso, pedi a carona dele até o estacionamento I, porque a chuva estava pouquinha.
Lá chegando, as entradas alternativas estavam fechadas. A única saída paralela era por uma porção de lixo. Fiz carinha de desespero, porque eu precisava chegar até à Garibaldi.
Ele me consolou com um abraço bom, naquele friozinho!
Sei lá onde arremessei as minhas coisas, mas fiquei no amasso ao invés de me preocupar em cair fora.
E lá vem o guarda!
Na minha cabeça, a música de Luiz Caldas: "Lá vem o guarda (guarda!)/Lá vem o tira (tira, meu bem!). Que guarda filho da puta! não sei se era o mesmo, mas estavámos na mira de três, que circulavam, só para atrapalhar o namoro. Certamente pensaram que aquilo ali não era carnaval nem Bonfim Light ou Lavagem do Rio Vermelho e que aquilo não era hora de amasso.
O tempo passou e se multiplicaram os voyeurs passageiros, porque todo mundo gosta de identificar quem está de amasso, né? povo mal amado e alcoviteiro!e à medida que vão chegando as nove da manhã chegam mais alunos para a segunda aula (terceiro horário)
Eu estava preocupada em Hugo não me ver, nem os meus colegas de curso, nem os meus professores. Mas já basta que o povo do táxi e os guardas deveriam estar pensando que há um ano e meio eu ando por ali, sempre tão comportada, quieta, de conduta ilibada, e agora eu estava com alguém super-bem-mais-novo que eu, tão instantaneamente.
Nos últimos dias eu estava indo de táxi para o Andarilho - provavelmente aquele povo me conhecia - mas, quem sabe por eu estar de sandálias ninguém me reconheceria...
Lamentei seriamente o fato de eu não estar de carro e de não ter um canto próprio em Salvador - eu sequestraria ele para lá.
Abraços bons, beijos excelentes, cabelos muito macios e, claro fiz a leitura em braille do tórax, das costas dele (poxa, eu tenho muito mais espinhas - ele era todo macio!)- nessas horas adoro ser mulher porque posso deixar minha mão solta pela camisa de um homem sem que isso seja atentado ao pudor.
E minha cabeça na mesma sintonia que a dele.
Quantas vezes ele me dise que precisava ir, mas foi ficando e não desgrudando? ah, grudei também.
Meu telefone ficou rouco de tanto tocar - e eu disse a ele que não iria atender, eu estava ocupada, o resto que esperasse.
Muito carinhoso ele. E tarado, ainda bem!
Eu nunca havia ficado com ninguém na UFBA - faço curso de viado, na ginecocracia. Bem que Priscila me dizia para a gente ir lá em Física, e que os meninos de Veterinária eram "animais"! e olha que ela é casada e sempre aceitava nossas propostas de fazer a despedida de solteira para ela, agora, após o segundo ano de casamento - perigosa!!! não vou fazer trocadilho com os caras de Mecânica, mas já dá para adivinhar...
Bruno perdeu a aula. Eu perdi a noção e aproveitei o momento! lembrei de Santo Ernulfo, o santo imaginário de Terra Papagalli, que sempre é evocado com um pensamento aquiescente ao pecador.
Nessas horas, obrigada, Senhor, por eu ser solteira!
E aí está o acaso, que quando quer, é gente fina comigo.
Renovo minhas dívidas com Santo Antônio, que fez essa minha fila andar - e não mais em círculos.
"Diga sempre tudo que precisa dizer,/ arrisque mais para não se arrepender"

domingo, 6 de junho de 2010

Toda mãe sempre sabe


Dizem que toda "Mãe sempre sabe", mas acho incrível não apenas a existência deste livro de autoria de Edith Modesto, mas a criação do GPH (Grupo de Pais de Homossexuais), ONG muito bem vinda em tempos de intolerância e em tempos de mudança na família. Sim, a orientação sexual também é um assunto de família.
Às vezes cito os desesperos dos meus amigos mais chegados, buscando esconder dos pais a homoafetividade, a realidade...e há alguns com maior humor que, assistindo aos escrachos como o Big Biba Brasil, cantam junto aquela paródia da abertura: "se seu pai soubesse quem você é...".
Há armários blindados e há outros entreabertos, entre os meus amigos. Mas, sai do armário quem aguenta. E se o armário é confortável e aconchegante, boa sorte! o que eu acho desagradável é a vida dupla: ser um gay casado com mulher. Sempre acaba mal e é uma agressão incomensurável para ambas as partes - aliás, gays casados são numerosos.
É preciso gastar as pestanas nos livros Foucault para entender as sexualidades vigiadas e os controles exercidos sobre as pulsões eróticas mas, para entender de si, talvez bastasse justamente a coragem de se olhar no espelho.
A televisão abusa dos estereótipos mas, descartados os esterótipos dos afetados e dos caricatos, como negar determinadas ligações como o fato da repetição da iniciação sexual do homossexual masculino com um primo? - dos meus amigos, afirmo que ouvi isso tantas vezes que nem saberia enumerar - como negar que alguns se escondem nas religiões, julgando existir perturbações espirituais que os inclinam para o amor e para o desejo sexual pelas pessoas de seu próprio sexo? ou se enfurnam nas igrejas para descartar suspeitas. E quantos dos meus amigos tiveram sua primeira relação homossexual após os 27 anos? quantos outros viveram relações de exploração com parceiros "bofes"? ah, gente, bofe é o cara que tem casos com homossexuais, mas adota uma postura heterossexual e justifica o caso a partir das necessidades financeiras. Dos que já morreram, a clássica morte violenta (por parceiros recém conhecidos ou de velhos relacionamentos).
Então, em atenção à dimensão plural que as paradas do orgulho gay assumem, julgo que seria bom se boa parte dos homossexuais pudessem mesmo suplantar os anos de introjeção machista que a vivência cultural lhes impele.
Já me perguntaram e por isso vou responder: homossexuais do sexo feminino eu conheço poucas. Posso falar de Bruna, que demorou, mas assumiu a homossexualidade e hoje namora uma pessoa muito legal. E isso também revela as minorias entre as minorias, na velha noção de microfísica: uma coisa é ser homossexual masculino, outra coisa é flexionar no feminino.
Volto a falar das famílias, porque, de fato, não é fácil para uma mãe mentir para si mesma. Eu acho que mãe sempre sabe. E pai também, de algum modo, tem o radar ligado...sabe e sofre, entra no armário com o filho, se pergunta onde errou, não entende, teme as humilhações, as execrações sociais, lamenta que não terá netos, tem vergonha de outros membros da família...não é sofrimento pouco, não. Entre a idéia de pecado, de castigo, de pouca vergonha e termos depreciativos correlatos, a fila vai longe.
Como assunto de família, levando-se em conta que poucas são as famílias que têm compreensão suficiente e adotam posturas inclusivas, as coisas precisam ser discutidas e isso não é quebra da privacidade. É só a verdade, mas cada um sabe sua hora de expor a verdade...e se há a vergonha de ser homossexual, ponto que é visível (e que nos deixa estarrecidos, não é? como pode a pessoa ter vergonha de ser homossexual?) então é hora de ir conversar consigo mesmo e reverter essa questão.
A sociedade não é receptiva às diferenças. Ao longo da história, a diferença quando tomada a partir da perspectiva dos grupos hegemônicos foi convertida em suposta inferioridade e usada como pretexto para discriminar, escravizar, explorar.
Aos meus amigos homossexuais, digo que brinco, faço brincadeiras machistas e correspondo em certos pontos àquilo que foi também introjetado culturalmente em mim, mas nada disso diminui meu afeto e respeito por eles.
Há clichês que a gente repete para desconstruir - um homossexual chamando ao outro de biba, por exemplo, é permitido e inteligível na lógica daquele contexto e daqueles atores sociais.
Sou a favor da concessão de todos os direitos possíveis aos homossexuais.
Muitas vezes aquela família que discriminou, que puniu, que atingiu moralmente o homossexual que a ela pertencia, após a morte do parente homossexual se apropria de todos os bens por ele adquirido, em detrimento dos seus reais companheiros e daquelas pessoas que compuseram a sua vida.
Um casal homossexual pode, sim, criar dignamente seus filhos adotivos, bem como não deveriam ser privados de servir nas forças armadas, se lhes aprouvesse.
A este propósito, eu ainda tenho uns amigos bobinhos que nem desconfiam por que foram dispensados do serviço militar obrigatório - acorda, menino! é o radar! você é que não se deu conta de que deu pinta...aliás poucos percebem que dão pinta. Há razõe contingenciais, também, para estas dispensas, mas não se aplicam aos casos aqui citados. Mas não é engraçado? alguns homossexuais pensam que ninguém desconfia? ora, menino, toda mãe sempre sabe - imagine o resto do mundo?
"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é", my friends!

sábado, 5 de junho de 2010

Uma dor que não está no mapa


Recebi, nestes dias, o convite de formatura da minha última turma da FJAV e fiquei constrangida por não saber responder que gosto deles mas não desejo ir a Lagarto. Não é um problema com Lagarto, mas com Sergipe.
Você deve achar estranho, mas é isso: eu não gostaria de lembrar o quanto sofri por ali.
Sei que é difícil entender, porque afinal vivi um sentimento ímpar por você e admito que aprendi muito, ganhei muitas coisas. Contudo, se desejar e ter é surpreendente e ao mesmo tempo assustador, ter e deixar de ter quem a gente deseja é uma dor incomensurável.
Então, todos os anos em que vivi em Sergipe foram de uma dor profunda, de um luto sem precedentes. E a marca da dor foi bem maior do que a marca dos ganhos, porque afinal, a dor durou muito mais que os prazeres de estar com quem eu amava. E te digo: nem sabia que poderia amar tanto uma pessoa.
E amei você por dois anos e sete meses, independentemente de estar com você, independentemente do seu silêncio, da sua distância, de suas convicções indissolúveis, das suas resistências...o coração não escuta o óbvio, não é?
E depois que deixei de amar você nunca mais amei ninguém, nem tive interesse real por alguém - tive interesses sexuais, tive apego estético por quem eu acho lindo, tive vontade de experimentar coisas diferentes, mas amor foi só aquele que vivi por você - admitindo todos os amores anteriores, claro, pois não subestimo meu passado afetivo. Mas, posterior a você, ninguém.
Então me dói pensar em ir a Sergipe.
Eu não consigo, nem para ganhar qualquer coisa - dinheiro ou homenagens, nada consegue demover esta minha recusa.
Mas adoro aquela turma. Há pessoas da turma que eu tenho como se fossem amigas mesmo, apesar de não partilharmos segredos nem, vivermos próximas. Bem, tenho até setembro para algo mudar dentro de mim - queria ver o pessoal e me senti honrada pela lembrança e pela maneira respeitosa como a comissão de formatura me convidou.
Não sei o que você fez com o seu passado, mas acho que eu não sei direito o que fazer do meu.
Não sou de enfeitar a realidade, nem de colocar flores nas realidades passadas: se doeu, doeu; se eu sofri, sofri mesmo! e aquela frieza que experimentei ao morar na pior capital do mundo, não tem remédio. Aracaju é a capital da frieza - nunca convivi com tanta gente automática, Marcelo. Olha que eu percorro Salvador, Rio e São Paulo, mas nunca vi uma capital como aquela - um povo alienado que pensa que vive na capital de qualidade de vida do Brasil, que não tem solidariedade, que vive de sobrenomes e aparências, que não dá um abraço ou esboça carinho por ninguém, que não reconhece os próprios problemas...que lugar!!!
Fui muito infeliz por lá.
Vivi um luto horrível, carregando o corpo do morto a todos os lugares, me sentindo deslocada e sozinha - ah, que solidão aquela de 2007 e de 2008. Não tem nome!
Depois que o amor acaba, fica o vazio: é um clichê muito acertado!o problema não é o clichê, o problema é que é o amor um grande clichê, todo previsível - é duro admitir os entornos culturais que fazem o amor ser como é; não é tão natural quanto a gente pensa, não é?
Mas então, hoje que me reintegrei a mim mesma, não gostaria de visitar aqueles cenários, nem de lembrar na carne da memória as dores, as faltas, os desesperos, o sentimento de quase-morte quando você me faltou e quando ficou clara a separação.
Não peça a um condenado para visitar a sala em que ele foi torturado, nem para cumprimentar seu carrasco ou olhar com saudades a cela em que ele viveu; não peça a um passarinho para ter saudades da opressão da gaiola.

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se as espumas
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

E é por isso que resisto a ir àquelas terras, apesar da estima e da consideração pelos meus alunos - não posso visitar meu campo de concentração, meu Auschwitz.
Não quero desafiar a paz de me desfazer de um sentimento opressivo...Como disse Djavan, "Ninguém sabe o que eu sofri".
Leia de novo este Soneto de Vinícius de Morais. Pense e procure entender - de algum modo, ainda espero contar com a sua cumplicidade.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Quando Agosto Cai em Junho


Eu encontrei quem eu desejo, finalmente, nesta terça-feira.
Desde um longínquo 29 de janeiro de 2010 eu não tinha aquele abraço, aquele contato, aquele sexo (pior: nem aquele nem qualquer outro!). Mas o importante é que aquele é o melhor de todos.
Percebi esta vaidade em mim: quero ter o que desejo. Só me serve o que desejo, não o que me é possível. Talvez por isso não tenho ninguém: vivo, nas festas, avaliando meus pretendentes - observo contornos do corpo, a forma como falam, o riso, o jeito, o que inspiram...e sou uma criteriosa avaliadora que quase sempre reprova aos candidatos.
Construo sempre um pretexto para que minhas exigências e pré-requisitos sejam contemplados. Como não vou achar tudo que quero num só ser humano, fico só, fico sem ninguém. E espero, como esperei, quatro meses para estar com quem, de fato, eu desejo.
Há os que eu desejo, mas que são antipáticos, execráveis,vaidosos, pedantes...mas vou considerar a hipótese de chegarmos a um acordo. Eu estou me referindo a um raro exemplar, um remanescente heterossexual - uma gracinha ele, fofinho...mas antipático ao extremo.
Se ele vai à minha sala de aula, com sua cauda de pavão, omito que fiz graduação em História, e rebato o que ele diz. Ou complemento seus "argumentos brilhantes", já que ele faz isso porque subestima o patrimônio intelectual da turma e lê nas entrelinhas que muitos estão ali menos por capacidade do que por contar com favores de seus padrinhos.
Ah, ele não sabe! e da única vez em que eu estava fazendo uma apresentação e ele discordou de um argumento meu, humildemente concordei com ele. Em seguida, mostrei que ele caiu na armadilha que eu construí, que eu já antevia o rebate. E estrategicamente o conservei no lugarzinho dele: neutro, em explícita submissão a um argumento meu.
Ele olha sempre para mim como quem procura mensagens. Não apenas aquela mensagem que ele pegou numa linha cruzada quando eu, conversando com meu amigo, falei nas tais "aglomerações sexuais", mas aquela outra, do interessado que fica esperando uma "deixa"...ah, L., quem sabe eu deixo, não é?
Mas não é ridículo isso? ele é detestável, chato, impositivo...e eu, Évila e Cláudio nos juntamos para jogar cascas de banana na frente do ego dele...a gente não faz por mal, mas para ele ver, para ficar como Medusa na frente do espelho - ele não vê que petrifica.
Mas, se estou levando em consideração a hipótese de responder ao cortejo de um quase inimigo, deve ser porque eu sou convencida de que não se pode transar com os amigos. Escutem o que eu digo: dá uma ressaca moral terrível, um mal-estar, uma coisa do outro mundo. Isso se o amigo é amigo. Se o amigo é um coleguinha sem a menor importância ou se é uma amizade superficial, pode ser que dê certo. Melhor transar com um inimigo a transar com o amigo, se a questão for parar nos extremos.
Tive alguns inimigos gostosos, como César e Kaká, por exemplo. Mandei o primeiro às turras (na verdade, gente, eu o mandei para a puta que o pariu!) e beijei o segundo, numa festa: nada mal. E a inimizade continua. Raramente desfaço minhas inimizades de infância ou de adolescência - não esqueço não, viu? minha memória afetiva é forte.
Então a minha terça-feira foi isso de, novamente, espremer meu desejado inimigo, só um pouquinho, obrigando o ego dele a ir dar umas voltas. Adoro isso!!!
Vi minha amiga Tati, a quem eu devo muito no sentido subjetivo: poxa, agradeço a Deus por uma amiga assim! ela foi comigo, ela me acompanhou, ela largou seus afazeres para me dar um apoio moral na UFBA. Ela esperou pacientemente por duas horas e ainda foi compreensiva quando eu mal me despedi dela para encontrar Dexter, que também estava na UFBA a tarde quase toda, e já estava para pirar com a minha demora.
E eu fui.
E fui muito feliz por estar com ele.
Geralmente fico feliz pelo cerimonial de a gente se encontrar, dele presumir que eu estou com fome ou que eu preciso comer, de não precisar dizer a ele, porque ele já sabe que eu odeio jantar...ele me leva para tomar cappuccinho (quente ou gelado)e sabe de tudo que eu gosto. É o lado bom da intimidade. E eu gosto dele. Ele gosta de mim. Contudo, nem sempre o gostar recíproco é suficiente para uma relação sobreviver.
A nossa relação tem uma vida descontínua (ou sobrevida, sei lá!)- de vez em quando a gente se separa em silêncio e fica meses, cada um na sua...eu fiquei anos sem ele...depois a gente volta, porque talvez fique tentando ver se é isso mesmo que a gente sente, se vale a pena...
Não queria que ele seguisse concorrendo comigo: esta é uma sombra ruim na relação, sempre foi! não sou doutora, não tenho grana, não tenho emprego...sou só uma estudante...ele não vê isso, não pensa assim. Ele vê apenas que precisa me superar - como se eu estivesse apostando corrida...que bobo!
Mas, então, lá vai num pacote só: fui muito feliz na terça-feira. Eu estava em Salvador.
Enquanto eu estava feliz, um ônibus coletivo adentrou minha casa, derrubou o muro de minha casa, lá pelas 23 horas.
Como eu estava feliz, desliguei o telefone e fui dormir.
Soube na quarta-feira, 11 da manhã, do ocorrido - ok, nenhum bicho meu foi ferido, nenhuma perda salvo a de cerca de 14 metros de muro (não tenho latifúndio, mas herdei uma minúscula casa num terreno que não acaba mais! aleluia!).
Fiquei triste e desesperada, pensando nos prejuízos, nas dores-de-cabeça para obter o ressarcimento, na insegurança em que vou passar nestes dias.
E ainda por cima, a UNEB me pagou dez por cento do que me deve. Sim, 10%, o dízimo! e, como minha amiga teve um imprevisto do outro mundo, uma urgência, eu dei todo o dinheiro que eu tinha. E agora? como é que eu posso pedir de volta? estou frita!
Este é o quarto veículo que entra em minha propriedade - é, já era tempo: o último foi há dois anos! eu falei num outro texto sobre isso dos acidentes ocorrerem sempre nos mesmos lugares - está na cara, não é? eu é que vou mudar os métodos de segurança, certamente.
Pense aí no que é estar em casa e, de repente, ter um ônibus no seu jardim? ou no quintal...ou na sala, porque um veículo de passeio já entrou na sala de minha casa...por sorte, eu não estava morando aqui nesta época.
Não moro em via perigosa, mas moro no topo (não esquina) de uma rua do centro da cidade, mas que não tem cara de centro na extremidade em que moro.
Estou em casa, sem muro - o que é análogo a estar no mato sem cachorro, mas reforço aquela frase já citada; "Se não podes ter um palácio, enfeitas a tua tenda"! eu amo minha casa, seja como for.
O que acho interessante é que fiquei com a impressão de que agosto é agora em junho. Não é paradoxo, não: não dizem que agosto é mês ruim, o mês do desgosto? em dois agostos seguidos fui assaltada a caminho das cidades em que eu trabalhava, só para citar o exemplo. Agora, no dia 02 de junho, Állison Esdras teve o celular furtado no Shopping Salvador, Ângela estava indo ao funeral de uma amiga no mesmo dia, o pai de uma inimiga também estava sendo enterrado naquele dia e um terceiro amigo de amigo também iria ser sepultado nesta mesma quarta-feira. Não é sério? inferno astral coletivo, é? não, certamente, agosto se antecipou.