Louquética

Incontinência verbal

domingo, 29 de agosto de 2010

Saia do armário e entre na Avenida


Acontece hoje, domingo, às 14 horas, na Avenida Getúlio Vargas, a 9ª Parada Gay de Feira de Santana.
Tem gente que vai para paquerar, tem gente que vai para se mostrar, tem gente que vai para conhecer, mas o fundamental é que "qualquer maneira de amor vale a pena" e toda manifestação da sexualidade deve ser respeitada em seus direitos civis.
Então, a parada é essa: saia do armário e vá para a Avenida.
Se o armário não for o seu, compareça em solidariedade aos que lá ficaram e junte-se aos que de lá saíram.
Seja como for, aproveite que a festa e o protesto; a consciência e a reivindicação estarão de mãos dadas nesta tarde e dê as mãos àqueles que lutam contra o preconceito, contra a violência e contra a segregação das sexualidades e dos gêneros emergentes.
(Em homenagem aos meus queridos amigos assassinados: Shanna e Kléber Gouveia e aos vivíssimos a atuantes Marcelo, Pablo e Jones)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ah, bruta flor do querer!


Eu critico os amigos que têm algum mal entendido com outro amigo, ou uma desconfiança, ou uma mágoa, enfim, mas que camuflam o que sentem, ocupando-se de dar indiretas, de injetar veneninhos, de fazer birrinhas idiotas...tudo, menos a conversa franca e a admissão de que se sente ofendido por isso ou por aquilo.
Olhando na minha própria pele, eu sei o quanto é difícil transpor esta barreira, dizer claramente tudo!
Estou mesmo desconsertada por ter que dizer a ele, àquele que eu julgo um amigo, com todas as palavras: eu gosto de você como amigo.
Aprende, menino: "Amor sem sexo é amizade!".
Tive que dizer: desculpa, não tenho interesses sexuais por você.
Tive que dizer as coisas que ferem ao ego masculino, repetir as palavras anteriormente ignoradas e dizer que tanto faz o nome do meu namorado, ficante, HDM ou seja lá o que for: estar só nunca abrirá uma vaga para ele na minha cama.
Penso no outro monstro que crio, porque dei meu número a quem não me interessa.
E se ele for um desses? desses, que não entendem que a gente tem escolhas e que essas escolhas nem sempre vão coincidir com as vontades do outro?
Putz, eu deveria ter mentido o número...que saco!
Tem alguma coisa muito impulsiva e irresponsável nisso de ceder o número do telefone para quem eu não quero manter contato.
Ou, talvez, eu tenha introjetado que sou uma baita de uma mal agradecida.
Eu não sou, não.
Eu sou insatisfeita mesmo, isso sim.
Não gosto das coisas eternas, de nada eterno, de nada que se prolongue demais. Acho que tudo tem um certo prazo de validade e que raras são as coisas que podem ser revalidadas, a amizade, por exemplo, é uma dessas exceções.
Não quero ficar 30 anos num emprego.
Não quero um casamento de 25 anos.
Não quero uma vida longa...
Não sou megalomaníaca a este ponto, não.
Deixa tudo ser perecível, é normal.
Mas eu sei lá por que é que eu não gosto de ninguém.
Agora, sim, como estou sendo conquistada, como a situação tem sido diferente do habitual, talvez algo mude.
Uma coisa é querer um namorado, uma companhia, outra coisa é gostar realmente das pessoas a ponto de fazê-las ocupar esta posição.
Agora, pode ter certeza, meu coração está bem ferido porque eu tive que ferir ao meu amigo - que, pelo jeito, só aprende na base da pancada.
Para as mulheres, Lei Maria da Penha; Para homens emburrecidos, Lei Maria da Peia. É, só na peia e na porrada, porque as palavras leves não surtem efeito.
Eu é que cansei da agressão cotidiana de ter que fabricar os namorados imaginários para afugentar a ele e às investidas dele. Isso gera um cansaço!
Quem foi que inventou que quando as mulheres dizem não, estão querendo dizer o oposto? será que alguns homens não têm noção do que é ser desejado e do que é ser INdesejado? eu é que não queria ter que estar falando disso, escrevendo isso, pensando na dureza do que eu escrevi...ainda mais para ele, com aquele ego maior que um prédio de 15 andares. Ih, quando desmorona, é um problema, é muito escombro.
"Oh, meu amigo, meu herói/Oh, como dói!"

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Quando Caio em Mim!



Menino Deus, um corpo azul-dourado
Um porto alegre é bem mais que um seguro
Na rota das nossas viagens no escuro
Menino Deus, quando tua luz se acenda
A minha voz comporá tua lenda
E por um momento haverá mais futuro do que jamais houve
Mas ouve a nossa harmonia
A eletricidade ligada no dia
Em que brilharias por sobre a cidade

Menino Deus, quando a flor do teu sexo
Abrir as pétalas para o universo
E então, por um lapso, se encontrar no anexo
Ligando os breus, dando sentido aos mundos
E aos corações sentimentos profundos de terna alegria no dia
Do menino Deus
No dia do menino Deus.
(Caetano veloso, Menino Deus)

P.S.: E quando você me disse seu nome eu deveria ter dito: encantada!

Amigos, amigos, geladeiras à parte!


Este texto abaixo não é meu, ele faz parte de um e-mail engraçadinho, de autoria desconhecida, que alguém muy amigo me enviou...deve ter sido Leila.
Reproduzo em homenagem a Tella e a vocês, seus filhos da mãe, que acharam engraçado passar aqui em casa agora à noite, me fazer propostas indecentes, tirar onda da minha cara e, de novo, tirar conclusões a partir da minha geladeira.
Esclareço: viram um bolo de chocolate aqui em casa. Bolo caseiro, feito por mim mesma.
Em seguida vem a conclusão: você não vai viajar nesta semana, não, não é?
Vejam, se faço comida, permaneço mais tempo em casa, concluem os pilantrinhas.
Escrutinando minha geladeira, vêem penni e molho vermelho. Eis a pergunta: Chuck almoçou aqui hoje, foi?
Conclusão: eu não cozinho nunca, sempre almoço fora. Se há vestígios de almoço na geladeira, recebi visitas, com certeza.
Próxima: Cadê aquele vinho? Cadê aquele licor de kiwi?
Conclusão: O Outro passou aqui em casa.
Conclusão pessimista: O Outro passou aqui e ainda dormiu comigo.
Conclusão desesperadora: "Tu tá falando com o Outro! Tu tá pensando em voltar para o Outro!"
Conclusão plausível: "Vishhh!!!tu tá na TPM. Tá sem conseguir dormir. Nooooossa, tu bebeu tudo? tu não pode ter bebido tudo!"
Minhas conclusões: É melhor eu começar a acreditar em vidas passadas, em reencarnação, em vidas mal passadas ao molho madeira, em karma e afins, porque uns amigos desses, ninguém merece! ou será que cada um tem o amigo que merece?
Minhas constatações: Puta que o pariu, o Outro passou aqui em casa e levou o licor de chocolate, o licor de maracujá, esvaziou o licor de kiwi...ah, caramba, que ladrão!
Então, minha amiga e meu amigo:

Quando você estiver triste...
Eu vou te ajudar a planejar uma vingança contra o filho da puta que te deixou assim.

Quando você me olhar com desespero...
Eu vou enfiar o dedo na sua goela e te fazer pôr pra fora o que estiver te engasgando.

Quando você sorrir...
Eu vou saber que você deu uns pega em alguém ou fez alguma coisa bem safada.

Quando você estiver confuso....
Eu vou explicar pra você com palavras bem simples porque eu sei o quanto você é devagar.

Quando você estiver doente...
Fique bem longe de mim até se curar. Eu não quero pegar o que quer que você tenha.

Quando você cair...
Eu vou apontar para você e me acabar de rir.

Um amigo de verdade não é aquele que separa uma briga sua e sim aquele que chega dando voadora, te ajudando a bater no inimigo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Se voltar desejos, ou se eles foram mesmo...


Comecemos pelo paradoxo: Quando eu amava o ex-Grande Amor da Minha Vida, a gente conversava sobre música e filmes e ouvia muita música juntos.
Quando tudo acabou, eu andava grudada no MP3, ouvindo nossa trilha sonora.
Ai, eu seguia com uma dor ao longo caminho até Xique-Xique, quase sempre optando por viajar de dia, descendo em Irecê, pegando um desconfortável Entram até lá, sob uma lua volumosa e uma paisagem ressequida, tanto quanto eu.
Da primeira vez em que a gente ficou perto um do outro - sem maiores contatos - ele me deu um Cd maravilhoso e mil MP3 com tudo que tínhamos em comum e que fora descoberto ali, na conversa.
Depois ele me deu todos os álbuns do U2, do Radio Head, de Vanessa da Mata e uma infinidade de títulos.
Recentemente ele me perguntou: "Você gosta do Muse?" e aí me dedicou a música abaixo.
Sim, eu gosto do Muse e sei que tenho tudo a ver com a música que você mandou para mim.
Pois é, acabaram os sentimentos, não as paridades.

Muse - Undisclosed Desires

I know you suffered
But I don't want you to hide
It's cold and loveless
I won't let you be denied

Soothe me
I'll make you feel pure
Trust me
You can be sure

I want to reconcile the violence in your heart
I want to recognize your beauty's not just a mask
I want to exorcize the demons from your past
I want to satisfy the undisclosed desires in your heart

You trick your lovers that you're wicked and devine
You may be a sinner
But your innocence is mine

Please me
Show me how it's done
Tease me
You are the one

I want to reconcile the violence in your heart
I want to recognize your beauty's not just a mask
I want to exorcize the demons from your past
I want to satisfy the undisclosed desires in your heart

Please me
Show me how it's done
Trust me
You are the one

I want to reconcile the violence in your heart
I want to recognize your beauty's not just a mask
I want to exorcize the demons from your past
I want to satisfy the undisclosed desires in your heart.

O título que eu escolhi para este post é uma referência à música que eu mais ouvia e que mais me feria (é, o amor é masoquista) pensando nele, no caminho de ida para o trabalho; e que se chama Música, de vanessa da Mata:
Nosso sonho
Se perdeu no fio da vida
E eu vou embora
Sem mais feridas
Sem despedidas
Eu quero ver o mar

Se voltar desejos
Ou se eles foram mesmo
Lembre da nossa música
Se lembrar dos tempos
Dos nossos momentos
Lembre da nossa música
Música
Nossas juras de amor
Já desbotadas
Nossos beijos de outrora
Foram guardados
Nosso mais belo plano
Desperdiçado
Nossa graça e vontade
Derretem na chuva

Se voltar desejos
Ou se eles foram mesmo
Lembre da nossa música
Se lembrar dos tempos
Dos nossos momentos
Lembre da nossa música
Música

Um costume de nós
Fica agarrado
As lembranças, os cheiros,
Dilacerados
Nossa bela história
Tá no passado
O amor que me tinhas
Era pouco e se acabou

Se voltar desejos
Ou se eles foram mesmo
Lembre da nossa música
Música
Se lembrar dos tempos
Dos nossos momentos
Lembre da nossa música
Música!

Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa!


Nessa minha previsível vida tem coisas que se repetem e eu me repito para contá-las num dejavù inacreditável.
Bom, eu vou contar, mas vocês já viram pelo menos duas histórias semelhantes a essa serem contadas aqui. Lá vai:
Tive um dia de cão em Salvador, ontem.
Aprendi a não me desesperar com os congestionamentos no trânsito.
Tacitamente aceito o caos e digo a quem me pergunta a que horas volto: cerca de 21h30min, contando o congestionamento de volta.
Na ida, para meu desespero, fiz um lanche legítimo fast-food, peguei um ônibus e um miserável e fedido ser humano, com todas as cadeiras diponíveis à sua frente, resolveu sentar ao meu lado.
Se ele sentasse e não exalasse nenhum odor horroroso, eu pouco me importaria. Mas eu me importei. E muito! pulei para uma poltrona ocupada, de modo a que o filho da Pátria não viesse atrás de mim.
A Senhora Marilyn Monroe certa vez disse que, para dormir, usava gotas de Chanel nº 5.
Pessoalemente, acho que o cheiro veste a gente.
Antes de viajar, de tirar meu pé de casa, seja para perto ou para longe, eu tomo banho e uso perfume: acho que é uma questão de respeito com quem sentará ao meu lado.
Não, honey, sujeira não me cheira bem.
Tenho um amplo, geral e irrestrito preconceito contra os que descuidam da higiene.
Putz, um cabelo sujo, cheirado a caspas; unhas masculinas grandes e sujas;pele brilhando de suór; rodelas de suór na blusa; chulé; ouvidos sujos ou, simplesmente, gente que não usa perfume e odeia banho, sinto muito, eu odeio!
Bom, mas por conta disso eu fiquei assustada e acabei descendo num outro ponto para pegar outro ônibus que me deixasse em frente à UFBA.
A aula da tarde, sem intervalo a pretexto de terminar mais cedo, vive acabando depois.
A aula das 14h às 18h, que deveria terminar às 17h30min para compensar o intervalo não desfrutado, acaba às 18h10min.
Saio da aula direto para o engarrafamento.
Faz tempo que eu deixei de me arvorar a ir de carro para a UFBA - tanto faz o meio de transporte: o destino será sempre o engarrafamento.
Aí, eu morrendo de fome, em vésperas de TPM, resolvi ir ao Iguatemi lanchar, comprar pão na Perini e levar chocolate meio amargo para casa, lá da Cacau Show.
Aí lá vou eu, desesperada para não perder o executivo das 20 horas (gente, executivo é o ônibus, não um cara), correndo mais que andando.
Quando eu estava no meio da passarela um sujeito se jogou na minha frente, comentando minha pressa, a pretexto de me conhecer.
Ele falou dos meus sapatos de salto e da minha habilidade em andar com eles naquela pressa toda.
Respondi educadamente a tudo que ele perguntava, falava, sei lá...
Por dentro eu pensava, sem censuras: "puta que o pariu!".
Já disse tudo, né? "Puta que o pariu" significa: "De novo, mais um louco por salto; gente normal não me procura".
Sei que ele aproveitou muito bem aqueles 10 minutos incompletos e, de quebra, falou de si, examinou minha vida amorosa, olhou bem para o meu dedo anular em busca de resíduos indicativos de aliança, ele disse que tinha filhos mas que não tinha namorada, esposa ou afins...
Bonitinho ele, mas não era o meu tipo.
Entrando na TPM fico meio melancólica.
Ele pediu meu número e eu torci para que ele anotasse errado (eu estava andando mesmo: fui ao guichê, atravessei a área de embarque em seguida...).
Pensei de novo que ou Deus me acha mal agradecida ou ele tira muita onda com a minha cara.
Veja, o lindo com quem eu estou de flerte, aquele lá, o apressadinho, é fofo, mas é baixinho.
Aí me vem esse: fofinho, gente fina. Mas, baixinho - fora o fato de não ser exatamente meu tipo ( isso não é eliminatório, mas é classificatório).
Tem o fofo da academia, mas é galinha e cafajeste;
Tem o fofo da minha sala que...prefiro nem comentar, porque esse me interessa. Ah, ele é heterossexual, garanto! sem conhecimento prático de causa, mas garanto.
Por sinal, será que a aproximação dele comigo é só por causa do canibal? (Pô, o livro, gente, Meu querido canibal, que eu deixei mas comento sempre na sala sobre ele); muuuuuuuuuuuuuuito interessante ele.
Esclarecendo: ele é heterossexual e não vem de Letras, se alguém aí for questionar minha convicção (kkk!!!). Vai que o contato com o curso faz o rapaz ficar aberto (hum-hum!) a novas experiências, hein? celebridade ele, só não sei de que canal, porque raramente assisto TV aberta local. Mas, vou dizer: sujeito mais charmoso! Putz, tem uma postura, uma voz, uma delicadeza (Ih, delicadeza, não frescura, viu? a Parada Gay de Feira de Santana ocorre neste domingo. Se ele estiver no evento eu não vou saber se é reportagem ou se ele é do babado! kkk!!!!)
Como é que eu vou dizer, agora, que não rola ninguém, nenhuma alternativa masculina para mim?
Agora olha objetivamente: os meus candidatos são desajustados sexualmente, pilantras, cafajestes, galinhas, abestalhados, sádicos ou, pior que tudo, baixinhos!
Resumo: é como se não houvesse alternativa alguma.
Já prestaram atenção aos personagens criados por Mayrant Gallo? todos desajustados! apaixonantemente desajustados! esses caras, meus candidatos, parecem que saem daqueles contosm com a diferença de que, diferentemente da literatura, não me encantam tanto.
E por falar em candidatos, eu encontrei na portaria 02 da UFBA, logo que eu estava saindo, na noite de ontem, Hilton, o candidato do PSOL a Deputado Estadual.
Eu acredito nele, acho que aquele é um cara idôneo e não perdi a chance de dizer a ele: "Boa sorte!".
Fiz questão de memorizar o 50.150 e mesmo achando desgastado o discurso e o slogan da tal da "Resistência", é nele que eu vou votar. E acredito que de desajustado ele não tenha nada!
Se tem algo que eu prezo é a idoneidade.
Odeio aluno que faz plágio, gente que perjura, gente desonesta de todas as formas, gente que mente para salvar a pele de quem ama, gente que prejudica ao inocente para defender interesses próprios, sabe? odeio mesmo!
Minha família sempre me deu um salvo-conduto nas travessuras que eu fazia, desde que eu falasse a verdade. Certamente por isso eu deteste os levianos, apesar de meus familiares em geral e meu pai em especial nem saberem o que é honestidade. Pelo menos internamente, dentro da família, fizeram questão de me criarem sob estes princípios da verdade.
(Pausa dramática. Pt saudações. Psol também. Câmbio. Desligo)

domingo, 22 de agosto de 2010

Mensagem


" Vc tá gostando das aulas de Igor? esqueci de dizer que ele é hetero e que as análises literárias dele sempre percebem intenções sexuais, com vulva e falo em tudo. acho que vcs vão se dar bem.
bjos,
Tati."

Dos amores apressados


Tenho medo dos afetos apressados, dos amores desesperados, dessa sensação de que é mesmo necessário viver as coisas intensamente, como se não houvesse amanhã.
O problema não é exatamente não haver amanhã, mas querer compensar todos os "ontem" perdidos.
O ex-Grande Amor da Minha Vida dizia a toda hora: "A gente perdeu tempo demais!" e eu olhava o passado como uma grande perda de tempo porque eu havia demorado demais para encontrar este ser humano tão importante para mim.
Em várias ocasiões eu declarei que renunciaria a todo o meu passado porque aquele era o momento em que tudo se ressignificava e ressemantizava as coisas que eu via com um certo significado fixo. Mas meu passado é meu passado, aceito ele, gosto dele apesar dos percalços e o que eu queria dizer é que aquela era uma experiência muito forte e significativa.
Após viver este tipo de experiência não é qualquer emoção barata que mobiliza nossos sentimentos e, aliás, todas as emoções são vistas meio que minimizadas...ou dá um medo de deixar que as coisas ganhem grandes proporções.
Também tem o fato de eu estar na gaiola por tanto tempo e querer experimentar coisas novas, desde que não me prendam.
Eu tenho a maior dor porque a trilha sonora interior fica tocando: "Até parece loucura/não sei explicar/é a verdade mais pura: eu não consigo amar".
Apesar da distância, eu vi no rosto dele a grande satisfação por ter visto que eu estava em casa numa noite de sábado - ah, pobrezinho, mero acaso, porque meus amigos ligaram após a meia-noite e tantas vezes eu levantei uma da manhã porque Tella ou Paulo estavam atrás de mim para irmos a alguma festa.
Ontem eu deixei o celular no silencioso e não vi mesmo as ligações. Caso contrário, pobrezinho do ciumento.
Outro problema do ciumento é que, se o ciúme é grande, isso indica que ele tem medo de que façam com ele o que ele faz aos outros. Para mim, os ciumentos são grandes traidores, sabem muito bem do que os seres humanos são capazes.
Eu só sou quieta porque sou complicada, comedida, destoando de minha aparência.
E por minha aparência eu deveria beber, fazer sexo a toda hora, com gente desconhecida, tomar iniciativas, encarnar a periguete. Ah, eu bem gostaria.
Mas aí vem o apressadinho,com jeitinho, é claro, medindo meus passos, querendo tornar sério algo que nem se definiu - e conta contra ele o requisito número 02, muito mal preenchido.
Os amigos mais chegados vivem fazendo leituras da gente, dos hábitos, das pequenas coisas.
Então minha amiga viu suco de cenoura na minha geladeira, agora de manhã e interpretou que eu deveria estar com sérios motivos para ressaca e arrependimentos.
Suco de cenoura na minha geladeira é o suco do arrependimento nuns casos e suco da reabilitação num outro.
Daí vem a pergunta:
-Você estava com quem ontem à noite?Você foi ao Kabanas ou ao The Kings? e aí, pegou quem? os de sempre ou coisa nova? voltou que horas? acordou agora, foi?
Aí junta o celular não atendido (e todo mundo sabe que eu não levo telefone para festas) e eu estou perdida, com todo mundo achando que eu aprontei alguma coisa.
Para Manoela e Marla, que me perguntaram a receita do suco do arrependimento, ei-la:
2 cenouras médias;
2 laranjas ou dois limões
Água mineral gelada;
Açúcar a gosto.
Bata no liquidificador apenas a cenoura com a água e o açúcar.
Após coar, esprema manualmente, claro, sobre a peneira, as laranjas ou os limões.
Tome um copo a cada vez que bater a ressaca pelo sono perdido ou quando rolar um arrependimento básico pelas chances desperdiçadas ou pelas ressacas morais contraídas na noite anterior.
Descanse, veja televisão, tome banho, saia para almoçar e reze para os seus amigos não abrirem sua geladeira.
Se a bagaceira foi grande, acredite: não saia para almoçar e passe o dia tomando suco - a pele melhora, o organismo se reorganiza e você pode ficar quietinha sem pensar bobagens ou ouvir indiretas dos amigos.
E para meu apressadinho:
Chico Buarque - Futuros Amantes


Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ao homem que veio de longe


Fazemos vários processos de edição em nossa vida, elegendo umas partes,destacando outras, arrancando páginas, pulando capítulos e fazendo de conta que nossa vida é um livro aberto.
Ao mesmo tempo é encantador o certo mistério que todo mundo guarda( e todo mundo tem segredos, coisas que não são ditas nem aos melhores amigos, nem aos maiores anônimos)e como repito muito o que amo, "No misterioso livro do teu ser, a mesma história tantas vezes lidas", que é sempre tão outra história.
Penso no homem que veio de longe, naquele que pegou três escalas até me ver em Salvador neste domingo...ele, tão parecido fisicamente com este que ilustra o texto...
Como todas as coisas boas, nem parece verdade.
Quero ter motivos para ficcionalizar muitas coisas, quero poder me embevecer pela realidade, sem medo dela.
"Mistério sempre há de pintar por aí" e eu não quero abrir os meus mistérios nem me precipitar sobre o mistério dos outros - exercício de calma e da parcimônia que sonho em ter para mim, já que a bênção do perdão, a capacidade de perdoar é em mim um elemento em falta. Tento, então, ser paciente.
Mas eu penso: por que eu nunca falo dele? Por que eu nunca falei dele nem com a analista? e por que esta decisão tão firme e tão imediata de ficar com ele no domingo passado? que apostas são essas? ou não serão apostas e só o usufruto da vida?
Depois de tanto tempo de solidão ainda hesito se me deixo devorar por ela, se me desespero, se erro ou se é preciso experimentar das coisas e parar de ficar catando problemas.
Eu deveria notar que ao contrário do que minhas predisposições neuróticas me inclinam a achar, as coisas mudam, tudo passa, se renova...se bem que tem lá as coisas que envelhecem e morrem, o que é normal e esperado.
Quanto à minha auto-vigilância moral, ela anda alerta,neuroticamente ativa, mas tenho parcial controle sobre isso, às vezes desligo tudo, às vezes puxo minha própria orelha, mas relaxo: é só a vida.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O doce veneno da vingança


Um dos melhores sabores que já experimentei na minha vida foi o da vingança.
Ah, que condimento! que delícia!como é bom sentir este gosto, tanto do prazer em si do ato de se vingar quanto dos efeitos da revanche.
E eu pude, malévola e estrategicamente dar o troco e ainda ficar com uns bons lucros , porque além de devolver aquilo que recebi, esfreguei todos os resultados contra a pessoa - então, no sentido pedagógico, cumpri minha parte.
Não vamos reduzir tudo isso a um reles "tá vendo aí" nem a um "olha como eu me senti". Não, passou muito disso.
O que temo é ser injusta ao devolver o troco.
O normal é que gente como eu, que guarda as mágoas da ferida e todo dia olha para as cicatrizes, exagere na devolutiva. Sim, eu já devolvi tapas bem mais fortes do que o que eu recebi, mas este não, foi na medida certa.
Falei disso com a analista, consciente dos cerceamentos morais e cristãos pelos quais eu passaria, mas não me contive: ri de prazer, admiti o prazer que eu sentia pela minha vingança, o bem-estar que eu estava experimentando, tudo eu admiti.
Ela leu no contexto e considerou que tudo me fez muito bem!
Hum, os jacarés choram pelo prazer de devorar a vítima e todo oprimido sonha em dar o troco, sonha com a dança das cadeiras, com a mudança das posições...ah, que bom ter te puxado para o lado que eu queria, conduzir e te dar a impressão de que você conduzia, jogar com os seus lados mais suscetíveis e te dar de presente o que você tanto quis...presente de grego, seu bobo!
Como deve ser, cubra-se com o anonimato.
Agora que estamos quites, que ninguém deve nada a ninguém, agora que os exercícios de ódio estão suspensos e extintos, enfim, a paz!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sopa de Letras


Quem quiser que duvide que a vida imita a Arte!
No momento, lembro de Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, pois que ao dizer que "João amava Tereza que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém (...)", vejo tão espantosa semelhança, pois que parece que a parte feminina do planeta resolveu amar (ou algo parecido) um dado personagem, homônimo, por sinal, do livro de Lima Barreto (Triste Fim de Policarpo Quaresma)e daí muitas amizades estão se desfazendo.
Então, muitas são as que disputam uma oportunidade por ali, com ele - e elas se engalfinham, ou destilam cinismos e exageradas atenções entre si. Até aí, tudo bem.
Meu problema particular é com a companheira do Açucarado rapaz: a julgar pela hostilidade com que me trata, se esquivando de responder aos meus cumprimentos, certamente vê em mim uma ameaça.
Este texto começou há uns dois dias e termina hoje, quando perguntei diretamente a ele por que ela me hostilizava, frente ao tira-teima desta última noite de viagem, quando mais uma vez ela não respondeu às minhas saudações.
Não faço a menor questão do contato, nem da amizade da referida senhora, mas não sou de engolir qualquer acusação indevida e ficar quietinha.
Perguntei diretamente a ele se por acaso aquilo se dava por ela julgar que eu flertava com ele.
Ele apenas me disse: "Sei lá, coisas de mulher!".
Seja coisa do que for, esclareci a ele e faria o mesmo com ela, que o tenho na mais alta estima e consideração e jamais fui licenciosa ou abri precedentes capazes de me incluir no rol das disputas.
Na sopinha de Letras, me sinto como X, profundamente ofendida, pois que o restante do alfabeto pode estar todo sob suspeitas e apresentar segundas intenções, mas podem excluir M deste páreo, desde já e para todo o sempre, sem riscos e sem equívocos!
Faço brincadeiras genéricas, mas meus colegas são apenas colegas assim como meus alunos são apenas alunos.
Eu é que se fosse jogar no ventilador comprometeria quem andou dando voltas em minha bicicleta, a olhos vistos, mas em cidade pequena, nada cabe e tudo se sabe, portanto, abafai em nome do Senhor!
Não fui acometida pelo menor interesse, por sentimentos outros que não os comuns ao convívio coletivo em relação ao personagem de Triste Fim de Policarpo Quaresma. E vocês aí que vão investigar para saber o sujeito oculto de todas estas orações intercaladas, lembrem bem que o que acompanha o nome dele é Coração dos Outros. E não meu! aliás, não vou fazer transplante e não me interesso nem pelo coração dele nem por nenhum outro.
Estou indignada, irada,ofendida, virada na..., como se diz por aí.
Lembrai-vos: esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, datas, lugares, pessoas e circunstâncias terá sido mera coincidência.
E para os desavisados segue a advertência de que aqui você encontra Verdades inventadas e Mentiras verdadeiras aos montes.

Com todas as letras!


Eu já ouvi foi coisa nesta vida!
E as que eu não ouvi nem vi, pelo menos ouvi falar.
Destas coisas, eu cito:
Cristo arrebentou (é o Cristo Redentor, certo?);
Funileiro nasal (ou seja, fuzileiro naval, que não tem nada a ver com fazer funis para narizes!);
Matar dois coelhos com uma caixa d'água só;
Dagnas (são nádegas, gente, pronunciado em idioma desconhecido);
Antenas paranóicas;
Bacias esferográficas;
Forno de microônibus;
Árvore ginecológica ( antes que alguém hesite, é árvore genealógica.)
E uma infinidade de termos similares.
Atendendo aos apelos contidos em e-mails sobre exames e vestibulares nem sempre confiáveis, mas muito prováveis (palavra de professora!), eis o que se diz sobre o ENEM de 2009. A veracidade ou não, pouco importa - torço para que seja um equívoco, eu juro que torço!
Como professora, eu temo que seja verdade!
Constam, então, os fragmentos de redação a seguir, cujo tema foi Aquecimento Global:
01) "o problema da Amazônia tem uma percussão mundial. Várias Ongs já se
estalaram na floresta."
02) "A Amazônia é explorada de forma piedosa."
03) "Vamos nos unir juntos de mãos dadas para salvar planeta."
04) "A floresta tá ali paradinha no lugar dela e vem o homem e créu."
05) "Tem que destruir os destruidores por que o destruimento salva a
floresta."
06) "O grande excesso de desmatamento exagerado é a causa da
devastação."
07) "Espero que o desmatamento seja instinto."
08) "A floresta está cheia de animais já extintos. Tem que parar de
desmatar para que os animais que estão extintos possam se reproduzirem e
aumentarem seu número respirando um ar mais limpo."
09) "A emoção de poluentes atmosféricos aquece a floresta."
10) "Tem empresas que contribui para a realização de árvores
renováveis."
11) "Animais ficam sem comida e sem dormida por causa das
queimadas."
12) "Precisamos de oxigênio para nossa vida eterna."
13) "Os desmatadores cortam árvores naturais da natureza."
14) "A principal vítima do desmatamento é a vida ecológica."
15) "A amazônia tem valor ambiental ilastimável."
16) "Explorar sem atingir árvores sedentárias."
17) "Os estrangeiros já demonstraram diversas fezes enteresse pela
amazônia."
18) "Paremos e reflitemos."
19) "A floresta amazônica não pode ser destruída por pessoas não
autorizadas."
20) "Retirada claudestina de árvores."
21) "Temos que criar leis legais contra isso."
22) "A camada de ozonel."
23) "a amazônia está sendo devastada por pessoas que não tem senso de
humor."
24) "A cada hora, muitas árvores são derrubadas por mãos poluídas sem
coração."
25) "A amazônia está sofrendo um grande, enorme e profundíssimo
desmatamento devastador, intenso e imperdoável."
26) "Vamos gritar não à devastação e sim à reflorestação."
27) "Uma vez que se paga uma punição xis, se ganha depois vários
xises."
28) "A natureza está cobrando uma atitude mais energética dos
governantes."
29) "O povo amazônico está sendo usado como bote expiatório"
30) "O aumento da temperatura na terra está cada vez mais
aumentando."
31) "Na floresta amazônica tem muitos animais: passarinhos, leões,
ursos, etc."
32) "Convivemos com a merchendagem e a politicagem."
33) "Na cama dos deputados foram votadas muitas leis."
34) "Os dismatamentos é a fonte de inlegalidade e distruição da froresta
amazonia."
35) "O que vamos deixar para nossos antecedentes?"
É por isso que eu não escondo: preconceito linguístico, eu tenho! Afinal, quem tem probrema, tem dois problemas...e vai que uma figura dessas passa no vestibular para Letras?

sábado, 14 de agosto de 2010

Era uma vez... ( versão II)


O que seria de nós sem um pouco de fantasia e de imaginação!
Fiquei pensando na construção do imaginário feminino. Será que dá para fugir dele?
Nos contos de fadas, as moças esperam um salvador, um esteio, um apoio, um final feliz e, melhor dizendo, um "felizes para sempre."
Sempre que eu falo em sempre me dá um medo: é muito tempo! talvez por isso, só poderia habitar o reino das fantasias.
Na estrutura psíquica comum das mulheres prevalece a neurose histérica.
Este termo foi muito deturpado com o passar dos anos, mas hoje em dia já é possível vislumbrar o que ele guarda de verdadeiro sobre nós, mulheres.
Algumas vezes pagamos preços altos para sanar as necessidades impostas por esta estrutura - e aí é que você entende porque tem tanta mulher que se prende a relacionamentos fracassados, por que se deixam ficar à espera de mudanças e melhoras improváveis, porque permanecem em relacionamentos mornos e instisfatórios, porque fingem não ver defeitos nem ver seus próprio sofrimento. Cada um rompe o vínculo quando se acha capaz, mas a maioria mantém o laço (e cá entre nós, é com ele que se enforcam!).
Há uma piadinha corrente entre as minhas amigas casadas: elas contam que o filho pequenininho perguntou: "Mãe, o que é um orgasmo?" e a mãe respondeu: "Não sei, pergunte ao seu pai!".
Está dito nas entrelinhas.
Não é preciso listinhas com fatores que detonam relacionamentos em geral e casamentos em especial, mas eu arrisco a apontar os que são mais recorrentes, claro, medindo a vida a partir do meu umbigo - que , por sinal, é igual ao umbigo de muita gente (exceto pelo fato de que eu nunca fui casada, o que pode me conferir apenas um umbigo menos fundo, tá?):
1) Incompatibilidade sexual (base número Um de minhas separações)
2) Relacionamentos competitivos, em que uma das partes (leia-se, eles)fica igual a criança, concorrendo, vendo quem tem mais, quem faz mais, quem é o melhor, quem tem o maior (Ôpa!!!), etc;
3)Modelos culturais em conflito (gente preconceituosa que se relaciona com gente liberal e outras situações semelhantes, que levam a um choque absurdo, que põe em xeque a noção de que os oposto se atraem - se se atraem é em rota de colisão!bateu, quebrou, estourou e pronto!)
4) Indiferença e "panos quentes" diante dos problemas: se tem que brigar, briguem; se têm que discutir a relação, qual é o problema? embaixo do tapete já tem muita coisa, povo!eu não aguento isso de fingir que está tudo bem ou o esvaziamento do discurso da parte reclamante.
5) Grana: dinheiro é bom e cada um que cuide do seu, sem atravessar a linha imaginária que divide os patrimônios financeiros.
6)Ciúmes tóxicos: desde quando alguém pertence a a outro alguém? isso é metáfora, gente. Os desejos não cabem num relacionamento e nem acabam nele ou com ele. Salvo se você namorar ou casar com uma múmia.
7)Imperatividade: Ôpa, manifesta-se agora o meu maior problema - além de hiperativa sou imperativa. Caso também de Jota Neto,"meu querido" Rei Julien de Madagascar.
Sejamos francos: não é todo mundo que aguenta imposições e controles.
8)Imobilidade: casou, morreu. Matrimônio e infortúnio, palavras que rimam tristemente.
A vida não deve parar por que encontramos alguém que é tudo que queríamos.
Podem acreditar no ditado popularíssimo que diz que o amor é uma flor para ser cuidada todos os dias.
Se você relaxar, se ficar desleixado (a), já era! tem que cuidar de si e cuidar do outro porque sem reciprocidade e sem a boa vaidade, já era.
9) Descuido com a etiqueta: não me refiro à etiqueta de grife, baby, mas intimidade é uma coisa e grosseria é outra.
Que coisa feia é expor as excrescências humanas ao parceiro! ele (a) sabe que você é humano, que vai ao banheiro, que tem cera nos ouvidos e secreções e glândulas sebáceas. Logo, é desnecessário e de péssimo gosto fazer necessidades fisiológicas em frente ao parceiro (a).
E não é porque conquistou a pessoa, que vai se descuidar da higiene. Banho já!
10)Família: êta troço que complica os relacionamentos! Noooooooooooossa!
11)Diferenças religiosas: Repito: Fé demais, não cheira bem.
Oxalá, Krishna, Buda, Javeh, Tupã, Cristo ou seja lá quem for que oriente a sua fé, tenha paciência com quem pensa diferente. Quem garante que você está certo (a)? só você está certo (a)? já viu que aí está um prato cheio para brigas e violências simbólicas. Vá converter outro, mano! estou fora!
12)Anseios profissionais e acadêmicos: é, nunca é tarde para dar vazão aos estudos e à carreira. Quem não se relacionam bem com isso, está fadado a criar caso e fazer ruir relacionamentos.
13)Maternidade: quem quer vai, quem não quer deve ser respeitada - é o meu caso. Aviso logo de cara: não quero filhos. Boa sorte para quem quer! e se isso for intolerável para alguns, fiquem aí com suas convicções e me deixe pagar minhas contas em paz.
14)Falta de bom humor: quem aguenta essas pessoas com eternas caras de dor-de-barriga?sem bom humor, sem sagacidade sadia, os relacionamentos literalmente perdem a graça.
15) Lazer: pobre que se preza, na hora da crise elege o lazer como o primeiro item a ser cortado da lista das prioridades. Aí lascou a Bahia (e um pedaço de Sergipe!).
Como podemos viver sem lazer, sem cultura, sem uma saidinha esporádica para jantar, para ver filmes, ir à praia? não tem amor que resista ao confinamento no lar.
Essas são as minhas teses.
Depois de limpar as gavetas da minha memória e os armários dos meus relacionamentos repetitivos estou me sentindo super bem, em paz.
Acho que, de novo, me favorece o bem-estar por estar em minha casa, por poder optar em descansar e sair perto da meia-noite para dançar e para ver gente, ou me trancanfiar gostosamente em meu quarto. Isso denota o item que mais prezo: a independência.

Cada palavra


Fala

Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.

Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.

Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.

Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.

(Toda palavra é crueldade.)

Orides Fontela

Por obra e graça de Tatiana, que me apresentou a tão grandiosa poetisa.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Não serve para mim!


Nesses momentos de intensa crise interior, jogo fora o que não me serve, mas não sem um certo lamento diante daquilo que me parece uma perda.
Verdade é que não podemos perder aquilo que não temos, logo, eu deveria saber que não perco nada, mas me apego ao que não me pertence, penso, pretensiosa, que de alguma forma aquilo/aquele era meu, contrariando os sinais que a reailidade me dava.
Então jogo tudo fora.
Das coisas que não quero, algumas têm serventia para outras. Passo adiante.
Vejo em meu guarda-roupa umas peças que não uso, mas de que não me desapego. Não sei por que, se ficariam tão bem em outras pessoas, se fariam tão bem a quem delas necessita...assim se contrói a minha possessividade, eu acho.
Por outro lado, "migalhas dormidas do teu pão" já não me alimentam e eu aceito a sinceridade da fome, das necessidades...é que cansei da luta.
Passei adiante aquilo/aquele que não quero mais, mas ficou um pouco de dor, talvez porque o possuído não tenha manifestado a sua parte de apego pelo dono.
Dizem isso dos cachorros, que eles escolhem seus donos...(inconscientemente devo te considerar análogo).
Há um tempo, quando eu sofri por amor a um homem, eu disse com todas as letras que não aceitaria nada menos do que aquilo que eu merecia. E fiquei sem nada. Exceto, o meu orgulho.

Terra estrangeira


Iniciação

Se vens a uma terra estranha
curva-te

se este lugar é esquisito
curva-te

se o dia é todo estranheza
submete-te

- és infinitamente mais estranho.

Orides Fontela.


Das coisas mais sublimes que aprendo com minha amiga Tatiana!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Crônicas cariocas, parte IV (Epílogo)


Mas, então, a minha apresentação no JALLA não teve nada de excepcional.
Cumpro os rituais, abro citações, fecho citações, mas penso que me repito, que tudo está dito, sei lá o que eu tenho para acrescentar - e quando digo isso penso naquele cujo nome eu nunca escrevo, mas enfim, muita psicanálise depois já posso dizer: Valério. Valério nunca me perturbou por eu não querer ter filhos. Ao contrário de todos os outros ele me dizia: "Você pode ser útil à humanidade de várias outras maneiras"...Valério também foi o único dos meus namorados (?) que não cantou minha melhor amiga. Mas, penso nele e nesse negócio de ser útil à humanidade - porque, afinal, dá uma idéia de que vou encontrar uma razão para ter existido um dia ou uma resposta para o que é que eu estou fazendo aqui.
Na tarde desta quinta-feira, em Niterói,da minha mesa só compareceram duas pessoas, ambas de universidades baianas.
Acho que me faltou paciência para ouvir minha companheira de mesa.
Uma mesa para duas, ora, pois!
Marla, Manoela e Tati riram, dizendo que eu construo a quarta parede.
O caminho inteiro, o resto do tempo inteiro ficaram nesta da minha construção da quarta parede.
Que engraçado, eu sei erguer paredes mesmo.
Ergo as paredes que evitam que eu fique catando caras conhecidas nas platéias, que o meu olhar se apegue a um álibi destes da familiaridade; ergo paredes nas relações em geral; ergo, com o orgulho da auto-proteção a quarta parede.
Na volta, enquanto Manoela nos persuadia a comprar churros, alguém abriu a bolsa que ela levava na frente.
A esta altura já pudemos confirmar os estereótipos e exclamar, sem perigo de faltar com a verdade, que a televisão não mente sobre o Rio de Janeiro - lugar mais perigoso, cheio de malandros, de ladrões...
Não são apenas os ladrões institucionalizados, mas o cidadão comum que se lança às espertezas em prejuízo de quem é desatento.
Na night, nada nos seduz e está todo mundo preocupado em acordar cedo para os compromissos da sexta.
Passemos à sexta-feira, apresentação de Tati: bom público, uns adolescentes chatos e hormonais de um lado e um venezuelano ruivinho, fofinho, delicado, inteligente, solteiro e heterossexual de outro.
Tati é o tipo de pessoa que conhece gente no planeta inteiro. Estando no Rio já há 10 dias antes de nossas chegadas, então, nem se fale: conhecidos na platéia.
Eu, que não tenho iniciativa para mim mesma, que sou incapaz de tomar as rédeas e saltar no pescoço de um homem, de me insinuar, de ir lá e fazer as coisas acontecerem, adoto uma postura ativa para favorecer minhas amigas, porque é isso que eu espero que elas façam por mim.
Assim sendo, desfeita a mesa, saimos - e o adolescente chatão e inteligente colando na gente, argumentando com Tati, entrecortando as investidas do ruivinho que , vejam só, se chamava Dionísio.
Enquanto o chato atravessava tudo, aproveitei para pegar a câmera e assim pude pedir delicadamente que eles se aproximassem. Tirei a primeira foto.
Argumentei que eles poderia ficar mais próximos e tirei a segunda foto, quase gritando: aproveita, Tati, fica com ele, foge daqui...e o adolescente, junto.
Fiz cara de ódio e tirei tati do meio dos dois, na esperança de que o adolescente caísse fora. Que nada! ao contrário, ele chamou o ruivinho embora, tipo: "Vamos nessa, cara!".
Ah, que ódio!
Ainda bem que os dois trocaram e-mails e que ele me pediu para enviar a foto - pretexto bom.
Ao sairmos, estamos lá no Shopping, tomando um café e Tati vê a peste do adolescente por perto. E eu penso: Meu Deus, que vontade de cometer um homicídio! eu só queria saber se ele não se tocou de que estava sobrando ou aquele incipiente eguinho inflado estava querendo exibir leituras. Ah, que saco!
De volta ao Rio, fomos procurar presentes para nossos afetos. Acabamos indo à Colombo.
Nesta minha estada eu tive uns dejavù que me assustaram! sério: eu sabia andar por onde eu nunca tinha ido, sabia onde estavam coisas numa dada loja e sabia o que iriam dizer. Isso me tirou do sério,sabe? odeio dejavù, porque ele desafia as leis da normalidade.
Eu devo é ter ouvido muitas histórias de minha família e memorizado, isso sim.Eles moraram décadas no Rio.
Deve ter uma explicação que não sejam as paranóias espirituais, as neuroses coletivas que as pessoas chamam por nomes delicados e espiritualizados.
Enfim, a Colombo tem o melhor bolinho de bacalhau do Universo: palavra de quem não come peixe! podem acreditar!tudo é muito gostoso, mas o café é frio, o piano é anacrônico...aliás, toda a confeitaria é anacrônica, supondo conservar tradições e blablablá, mas mesclando louças clássicas, ambiente antigo e latas de coca-cola, com um público misto, de suburbanos com bons tickets-refeição e senhoras metidas, de cabelo grisalho-azulado.
Bem, tive uma queda de pressão e me senti tonta, já no meio do meu café, o que tirou Tati do sério porque ela é preocupada - nada demais, na verdade: TPM mesmo, mas acompanhada de uma febrezinha chata, porque pegamos muitas alternâncias de frio e calor em Niterói.
Estava todo mundo morto na sexta à noite e por isso não fomos à Estudantina e eu não fui ver o show dos Móveis Coloniais de Acaju (banda com nome esquisito, eu sei. Ouçam e tirem suas conclusões).
De manhã Marla foi estar com os parentes dela, Tati foi para Petrópolis e eu e Manoela fomos comprar o presente do Dia dos Pais e passear na Tijuca - legal a saideira.
No aeroporto um senhor com cara de maníaco austríaco foi deveras cortês comigo, enquanto eu tomava um capuccino antes do meu vôo.
Manoela ficou no aeroporto, Tati iria no dia seguinte e na fila de embarque eu encontrei Marla.
Já nos nossos assentos, entraram no avião o Bruno Gagliasso, Gabriela Duarte e Taumaturgo Ferreira.
O primeiro, muito simpático com todos do avião. Olha, o sujeito é lindo mesmo: aqueles olhos azuis, aquela pele vermelhinha, aquela barba suave, levemente aloirada, tudo aquilo é real, sem truques nem maquiagem.
Contudo, ele é baixinho , deve ter um metro e sessenta e poucos, sabe?
A Gabriela é aquilo ali também, clarinha, com estilo Patricinha. E o Taumaturgo é taciturno, todo chato, com jeito de que tem medo de público.
Não tietamos ninguém e eu estranhei muito que uns passageiros atrás de nós se jogaram na frente da Gabriela, para um abraço.
Putz, são pessoas como quaisquer outras, merecem a paz do seu vôo, de seus direitos de cidadãos comuns.
Aí , depois de um tempo descemos em Congonhas, num frio desagradável, num pouso assustador porque o avião parece que comeu todo o groove da pista - Marla gritou assustada, até.
Finalmente, trocamos de avião, mas devido ao fato de terem vendido a mesma poltrona para mim e para um sujeito lá, fui parar noutra e, besta que sou, escolhi a asa.
Na decolagem, era cada pipoco digno de tiroteio em favela carioca. Marla, claro, rezava e gritava...eu, que não sou um exemplo de coragem, entregava a Deus, achando que iria ter com ele pessoalmente dali a pouco.
Ai, que vôo demorado!
Nunca chegava a lugar nenhum.
Turbulências infinitas.
Mais pipocos.
Mais chateações.
Finalmente sobrevoamos Salvador e, neste momento, achei que a asa havia se partido porque rolou um estrondoso ruído, mas depois de muitas Ave-Marias e Deus-é-mais!pousamos.
Até o saguão das esteiras é uma longa andada e eu resolvi ir ao banheiro.
Ao voltar , minhas malas estavam sendo recolhidas e eu saí correndo feito uma louca desvairada, tipo aqueles finais de novela em que os casais, cada um de um lado oposto, corre para o abraço. Venci no grito: "Mooooooooça, minha bagagem!" ufa, impedi a tragédia e, de quebra, salvei as malas de Marla, que estava ao telefone e ignora metade dessa história.
Agora, sim, começava para mim o melhor desta viagem: a volta para a minha casa.

Crônicas cariocas, parte III


Nesta quarta-feira, dia 04 de agosto, fomos explorar o Rio, ver escolas de samba e sambródromo e, claro, visitar Petrópolis.
Antes, é claro, jogamos a toalha e caimos fora do Hotel Carioca, apesar dos prejuizos.
Registro que acordamos assustadas - eu muito irada! - porque havia uma tropa fazendo sua corrrida de alvorada e cantarolando em grupo aqueles refrões assustadores da "faca na caveira" e isso espantou meu sono!
Uns têm café filosóficos, outros têm cafés literários e nós tivemos Café Tina, vulgo, Café com putas!
Mudamos para o Monte Castelo, que fica na Glória. Glória a Deus e aleluia!mais barato, mais confortável e sem putas, travestis e ladrões pela porta.
Ainda não sei o que há de maravilhoso na Cidade Maravilhosa! a pobreza S.A. é a mesma da Bahia, com seus barrancos, suas casinholas, seus morros...talvez as maravilhas dos Rio sejam uma construção dos Nordestinos maravilhados com a vida urbana ou daqueles outros nossos amigos exibicionistas que querem dar a entender que só viajam para lugares maravilhosos, têm férias maravilhosas, essas exibicionices de gente gabola e megalomaníaca - eu, não vi nada!
Escolas de samba, que grande coisa: quadras e barracões.
A apoteose parece um estádio de futebol pela metade ou, sei lá, mutilado.
Algumas favelinhas são organizadas, no sentido de terem suas casinhas padronizadas em formato e em cor.
Lembrei daquele meu poeta misantropo e pessimista sobre quem eu escrevi no mestrado. Dizia ele:
Em Moscou
Como em Nova York
Todos têm cu.
Oh, yeah, my brother, tudo a mesma mer..., está explícito!
Tem parte do Rio que você fica pasmo com a familiaridade da paisagem urbana, tudo igual e tudo sempre, entendem?
Mas Petrópolis, não!
Petrópolis é uma coisa! ah, deslumbrante! ah, me derreto em elogios: cidade linda, cheia de homens lindos, de gente educada, putz, qualquer palavra será pouco!
Faz um frio de tremer os ossos em Petrópolis.
Ok, o povo vive da memória colonial e do louvor aos testículos do Imperador - oh, sim, Petrópolis= cidade de Pedro.
A gente sobe uma serra "zangada", beira de precipício ao estilo Vale do Jequiriçá (ou é Jiquiriçá, povo? esqueci!), é neblina para todo lado, neblina espessa que parece neve, temperatura de 12,13,14 graus em que não se vê nada!
Mas a cidade é ótima!
Não se iludam: os tais preços fantásticos da Rua Tereza são uma ilusão, viu? você encontra uma ou outra peça a preço bom, mas se comparado a certas peças vendidas por aí, você lucra uns 50%, mas é que as peças boas não custarão menos que 50 ou 80 reais. Não se vendem peças de linha a preços módicos - isso é folclore, coisa de muito tempo atrás, que já não se aplica à atualidade.
O Museu Imperial é mesmo lindo, mas eu não vou ficar falando de museu para quem lê Canclini, não é? visitei tudo que pude!
Caimos no comércio local, compramos várias coisas, pensamos, com temor, na volta: se escurecesse, o bicho ia pegar, haja vista aquelas condições climáticas.
Um dos raros momentos em que fiquei basbaque com os homens: ah, quantos gatos!nem parecia o Rio de Janeiro!
Vi uns cinco homens bonitos no Rio, em toda a minha temporada - excetuando as celebridades, porque o Bruno Gagliasso é lindo mesmo conforme a televisão mostra e até o antipático do Taumaturgo Ferreira é menos feio do que a TV revela, mas esta é uma outra história, um outro capítulo.
Voltamos tarde para o Rio, saimos para comer e não localizamos nada de bom na programação noturna da quarta-feira que nos fizesse declinar do sono para sair.
Eu é que me decepcionei com o decadente Circo Voador - é, ilusão!
Lembrei que na tarde da quinta-feira seria minha apresentação no JALLA e resolvi ficar quietinha por ali mesmo.
A Rua do hotel é a rua do Club 117, uma famosa sauna gay: poxa,as Barbies que trabalham lá são musculosos, altos, limpinhos...aí as bibas da clientela, bibinhas idosas e endinheiradas, perdem a cabeça...se fosse para mulheres, eu perderia a cabeça e a vergonha também.
(Be continued)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Crônicas cariocas, parte II


Nesta segunda-feira, dia 02 de agosto, segundo dia da nossa estada no Rio, fomos tomar café no bendito hotel e demos de cara com uns desavisados iguais a nós que estavam perplexos com a nata da maladragem que também estava circulando por ali.
Diz o ditado que "Em Roma, como os romanos" e, por isso, a gente tenta se adaptar e vencer a tendência a acreditar nos estereótipos.
Pulando as teorias sócio-antropológicas, saimos todas para comprar cadeados para nossas malas - eu tinha levado, porque sou pessimista mesmo, sabe? e lá fomos nós ao conhecidíssimo Saara.
Esse famoso Saara nada mais é que um Feiraguai, com os mesmos preços, os mesmos produtos, os mesmos camelôs, mas com sotaques diferentes.
Bem, nordestino se deslumbra com isso e eu não entendo por que. Talvez porque eu tenha um Feiraguai por aqui isso não me impressiona. Ah, e o que é pior, minhas amadas bolsas falsificadas são vendidas a preços de gente grande, na base dos 100 reais acima!
Fomos à Rua do Ouvidor e, decepcionando Machado de Assis, nos metemos nas lojas e esquecemos a Literatura.
Compramos até algumas coisas, mas não há nada barato no Rio.
Na volta fomos seguidas por um ladrão. Dado o alerta de uma para outra, deixamos o sujeito desconsertado e ele foi se ocupar com a bolsa de uma loira que passava por ali.
Ficamos olhando a malandragem institucionalizada; desde o malandrão que finge que está te dando uma imagem de santo, na porta da Igreja católica, te pede colaboração e leva até seu último centavo, até àqueles galanteadores de calçada, conforme falava Luís Fernando Veríssimo, no seu Analista de Bagé. Não só os galanteadores de calçada, mas o ladrões da calçada, em seus postos.
Ficamos perambulando e deambulando pelo Centro do Rio e perdemos a hora do almoço e a hora do credenciamento lá em Niterói.
Atrasadas, voltamos ao hotel para deixar as compras, tomar banho e etc e seguimos rumo à balsa.
Finalmente pegamos um táxi dirigido por mulher: excelente e honesta motorista, devo frisar.
Ela riu de estar no carro com quatro mulheres.
Brincando, ofereceu, já no trânsito, metade nós ao colega motorista de táxi. Ele, biba assumida, falou: "Nooooooooooossa, mona, deu me livre!". E todas nós rimos!
Táxi no Rio de Janeiro é barato mesmo!
Barato de verdade, mais barato que Feira, Salvador, Xique-Xique, Aracaju ou São Paulo. Se vai a muitos lugares no Rio por menos de dez reais! aleluia!
Bem, eis a barca para Niterói.
Quem não sabe que eu morro de medo do mar, das águas profundas?
A rampa de acesso oscila, sobe e desce e isso me deixou super tonta.
Admiti que para quem não toma licor, aquela era uma simulação muito desagradável da bebedeira.
A vista é linda, principalmente a Ilha das Cobras - ah, sim, custam R$ 2,80 para a travessia. De todo o canto se vê o Cristo Redentor e as várias montanhas que se formam em torno do Rio de Janeiro.
Não sou de ter medos apavorantes. Meus medos são dentro de uma normalidade do medo, não vou gritar, suar frio, dar chiliques, mas é certo que se fico tonta preciso deum ombro amigo, de uma mão amiga e de qualquer apoio amigo que evite que eu me esborrache no chão, principalmente nos lugares em que não há chão.
Oh, meu São Caetano Veloso, "Terra para o pé, fimeza; terra para a mão, carícia!", por que sempre me lembro de ti?
Então, atravessei. Atravessamos.
Marluce tem mania de fotos: haja fotos, até dos mosquitos da orla.
Seguimos para a UFF e o credenciamento já era. Oh, que frustração: só na manhã seguinte se faria isso de novo.
Então partimos no ônibus cedido pela UFF para o Auditória do Museu Niemeyer, ver a abertura do evento com meu admirável Hugo Achúgar e o chetésimo Silviano Santiago.
Um bambambam sentou ao meu lado, no ônibus e confirmou suas péssimas impressões sobre o desonesto ( e feio) povo carioca. Ele é bambambam da UFMG, mas eu só soube com quem eu estava falando um tempo depois.
Na conferência, Hugo Achugar brilhou. E como mais poderia ser?
Silviano Santiago foi repetitivo.
Por causa de Marla, depois da conferência, fomos tietar quem merece e eu pude tirar minha foto com Achugar e dizer algumas gracinhas àquele fofo vovô, tão inteligente, gentil,seguro.
O antipático Silviano Santiago, mal humorado e metido a celebridade, quase não tira a foto com Marla e ainda esnobou: "aproveita que eu estou sorrindo!"- enfim, de perto bem pior do que a fama dele credita na conta dos seus inóspitos comportamentos.
Na noite de segunda-feira, nada nos seduziu: ficamos pela Lapa para jantar, driblamos os travestis, ignoramos as putas e fomos para o hotel onde os malandros novamente se multiplicavam na porta.
Cogitamos cair fora daquela porcaria o quanto antes.
Esta foto é do Museu Niemayer, onde assistimos às conferências de abertura - o mais bonito dali, na verdade, é a natureza, é o pôr-do-sol: espetacular!
(Be continued)

domingo, 8 de agosto de 2010

Crônicas cariocas, parte I


No meu primeiro dia desta temporada no Rio de Janeiro, me deixei enganar pelas ilusões e "photoshopadas" que a internet proporciona aos otários e pelo benevolentes comentários de meu amigo Jota Neto, que me recomendou o Hotel Carioca como lugar legal.
De cara, minhas amigas e eu estranhamos os vários marginais agrupados na frente do hotel.
Olha, gente, frente é frente mesmo, tipo assim: porta, escadaria, portaria, se alguém tiver dúvidas!
Fora isso, as categorias descritas como Luxo e Superior eram risíveis quartinhos com um banheiro minúsculo, com vazamentos na descarga e no chuveiro, com ventiladores de 06 décadas atrás e com ar-condicionado incapaz de caber em qualquer descrição.
Ainda nesta noite do domingo, dia 01 de agosto, saimos, crédulas, pela vizinhança, pela Lapa, com a constante trilha sonora de sambas.
No caminho, na ida e na volta, desafiando as noções comuns da geografia, muitas eram as pessoas com o Peru abaixo da Linha do Equador: sim, travesti aos montes, trocando de roupa no meio da rua. E dos agressivos.
Havia por ali mais putas do que estrelas no céu - independentemente do horário e do dia...e assim, saimos, comemos, estranhamos tudo e tentamos confrontar a Cidade Maravilhosa cuja beleza é geofísica e que, pelo jeito, daí não passa, com aquele Rio de Janeiro que a realidade expunha. Mas, bola para frente, porque todo conceito antecipado pode ser só preconceito.
Na volta deste passeio, putas e travesti disseram gracinhas à gente, coisas que não dava para entender com clareza de palavras, mas com certeza não eram elogios.
No frente do hotel, nada de marginais: eles já estavam dentro, com umas loiras suspeitas e tudo mais...
Elevador quebrado e desativado aqui se chama "elevador em modernização".
Oito lances de escadas.
Puseram a gente no oitavo andar de propósito, para demorarmos a perceber onde estávamos de fato.
O vôo de ida, pelo menos de Brasília para o Rio, foi uma polvorosa porque o idiota do Luan Santana e o staff dele estavam no meio de nós.
Antipática, nem quis saber da celebridade:pedi que se retirasse do meu lugar, da minha janela.
Ora, muitas alunas minhas dariam os ossos da alma para estar ali perto daqueles entidades do pop brega, se é que é isso que eles tocam.
Detalhe: Brasília é igual a Xique-Xique, só muda a assinatura de Niemayer e Lúcio Costa, isto é, uns prédios e uns monumentos.
Para voltar do banheiro do avião, o staff foi todo em cima de mim, sem adivinhar que eu queria voltar para minha cadeira e não voar no pescoço do sem-graça do moleque celebridade.
Depois destas e outras, lá na pocilga, fomos dormir e nem cogitamos badalações. Ah, antes eu penei com Manoela porque estávamos com abstinência de cafeína. E quem disse que o povo lá bebe café?
Saimos de noite, passando por cima dos perigos, das ameaças, dos travestis, das putas e etc., mas nada de café. A Lapa é da cachaça, da cerveja, do álcool.
Dormimos. Putas ficamos nós:putas da vida com aquele hotel de quinta que tinha nos levado metade das diárias depositadas antecipadamente.
Repetimos sobre o hotel, num terço idiotizado: "Por fora, bela viola. Por dentro, pão bolorento".
(Be continued)