Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

"Proibido pela censura, o decoro e a moral"


Adoro moda.
vejam este modelo de Yves Saint Laurent: maravilhoso!
Não reclamem do tamanho, é que o modelo está em repouso - agitem antes de usar, certo?
Ah, vou ficar bem apelativa agora: olha só, gente, homem nu!
É, tem homem peladão na área, mulherada...e como eu gosto disso!
Como aprendiz de cafajeste e treinee de periguete, eu diria agora, parafraseando sei lá quem: Não julgue um homem pelas roupas que ele veste, mas pela agilidade como ele as tira.
E a Liga das Senhoras Católicas que fique de cabelo em pé!que tal uma Cinta-Liga de Senhoras Católicas?
Bem, mas para aquelas que já esqueceram a anatomia masculina, olha aí um exemplar.
Vamos, então,entoar um mantra? este é o mantra do Ultraje a Rigor, Sexo!
Para quem diz que palavra é força, vamos tentar atrair,não é gente?

Sexo!
Sexo!
Como é que eu fico sem Sexo?
Eu quero Sexo! Me dá Sexo!

Hoje vai passar um filme na TV
Que eu já vi no cinema
Êpa! Mutilaram o filme
Cortaram uma cena...

E só porque
Aparecia uma coisa
Que todo mundo conhece
Se não conhece
Ainda vai conhecer
E não tem nada de mais
Se a gente nasceu
Com uma vontade
Que nunca se satisfaz
Verdadeiro perigo
Na mente dos boçais...

Corri pr'o quarto
Acendi a luz
Olhei no espelho
O meu tava lá
Ainda bem
Que eu não tô na TV
Senão ia ter que cortar...

Ui!
Sexo!
Como é que eu fico sem Sexo?
Eu quero Sexo! Me dá Sexo!
Sexo!
Como é que eu fico sem Sexo?
Eu quero Sexo! Vem cá Sexo!

Bom! Vá lá, vai ver
Que é pelas crianças
Mas quem essa besta pensa
Que é prá decidir?
Depois aprende por aí
Que nem eu aprendi...

Tão distorcido
Que é uma sorte eu não
Ser pervertido
Voltei prá sala
Vou ver o jornal
Quem sabe me deixam
Ver a situação geral
E é eleição, é inflação
Corrupção e como tem ladrão
E assassino e terrorista
E a guerra espacial
Socorro!...

Eu quero Sexo! Me dá Sexo!
Como é que eu fico sem Sexo?
Sexo!
Me dá Sexo! Me dá Sexo!
Eu quero Sexo!

Sexo! Eu quero Sexo!
Como é que eu fico sem Sexo?
Me dá Sexo! Me dá Sexo!
Eu quero Sexo!
Como é que eu fico sem Sexo?
Sexo!

Sexo! Eu quero Sexo!
Como é que eu fico sem Sexo?
Vem cá, Sexo! Senta Sexo!
Vem cá, Sexo! Me dá Sexo!
Solta, Sexo!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Gente falsa e outros assuntos...


Lá vou eu fazer merchadising de mim mesma. Neste caso será um recall: para os meus queridos amigos que pretendem assistir a esta quadrúpede falando sobre a palavra lírica de Iderval Miranda, aviso que vai ser no módulo II da UEFS, neste sábado, dia 02 de outubro, 09 da manhã. Mudaram o local, certo? aviso a I. e M.: vocês que se encachaçam na sexta à noite, não precisam ir bocejar na minha palestra, tá? Pé-de-cana pede cama. Gostaram do slogan?
Voltemos à programação normal!
Uma pessoa próxima até me perguntou se meus amigos lêem estas besteiras que eu escrevo. Ah, se lêem!
Os exibicionistas, para ver se são citados.
Os tímidos e discretos, com medo de serem citados.
Talvez até os inimigos também leiam, não é?
Mas é que tem muita ficção por aqui: minha vida é sem-graça e eu invento muitas coisas para dar um up-grade nessa sem-gracice. É tudo ficção!
Mas se fosse para falar a verdade, eu viraria a mesa e entregaria legal uma pessoa mega-falsa e grossa que se faz de confidente de meus amigos.
Aliás, a pessoa quebra a cadeira, chuta o pau da barraca e ninguém faz nada porque todo mundo tem o rabinho preso pelos segredos compartilhados. Aí dão o "abafa" que o tempo passa.
O caso é que os abestalhados não percebem sequer que da mesma forma que ela compartilha os segredos dos outros com eles, também realiza o movimento contrário. E ainda pormenoriza tudo, sem o menor escrúpulo.
Se fosse para fugir da ficção, eu detonaria geral um certo crocodilo, o homem mais ardiloso, falso e louco pelo poder que eu já conheci nesta vida. Mas aí, coitada da pessoa lá que também deposita confiança: ah, se ela soubesse o que ele diz pelas costas dela! E logo ela, que ajudou para caramba a colocar um certo projeto de pé.
Fala sério, gente falsa dá sorte: as máscaras não caem porque os que sabem da verdadeira identidade dos falsos não revelam os segredos.
Posso afirmar categoricamente: que estelionatários de amizades, viu?
Mas é assim: todo dia acorda um esperto e um honesto. Quando eles se encontram, apostem que vai dar negócio - e negócio favorável aos espertinhos e falsos.
Deixa para lá esses Jano de terceira categoria.
Escrevo demais para cansar quem tenta ler esse negócio besta deste blog.E tem gente com suficiente vocação para platéia circense, porque ficam vendo minhas palhaçadas.
Cara,se eu fosse falar aqui da vida real, eu diria: eu não bebo cerveja, eu não danço pagode e não gosto de comida de jagunço, do tipo maniçoba, sarapatel ou mocofato. Também não sou gueixa e não vou encanar de aprender dança do ventre para seduzir ninguém.
Não gosto de me fantasiar de boazinha, assumo meus ódios e tenho uma TPM do demo.
Diria ainda, aos coitados possíveis candidatos: favor não aparecer na minha casa todo dia, nem colar na minha morada - gosto de ficar sozinha, gosto da minha privacidade e não sou de ficar ligando 10 vezes ao dia.
Para sua sorte, meu querido C., sim, eu gosto de filme de ação, filmes idiotas com zoada de bombardeio e explosões, especialmente Duro de matar 4.0 , mas não exagere. E odeio comédias românticas, exceto as que têm Hugh Grant no elenco, tipo O diário de Bridget Jones. Conte comigo para assistir as bagaceiras hollywoodianas sem reclamar.
Odeio Copa do Mundo, mas adoro o campeonato brasileiro.
Há uma certa calúnia circulando a meu respeito, segundo a qual eu sou vira-folha, torcendo ora para o Santos, ora para o São Paulo, conforme quem seja meu namorado.
A esse respeito esclareço que sou paulistana, já disse isso mil vezes, e por mera coincidência, meus namorados todos eram paulistas. Logo, é natural que eu torça por um time paulista e eu torço pelo São Paulo, que anda mal no campeonato.
Odeio que me acordem e gosto de dormir na beira da cama.
Nunca me pergunte para onde vai o meu dinheiro nem censure os meus pares de sapatos.
Família? aprecio com moderação.
Bem, que quadro desanimador!
Em contrapartida, se ele fosse como Zéu Britto, cantaria para mim Alan e Aline:

Nossa pele é massa,
É massa, pode crer.
Nosso mundo é massa, vem ver.
Corpos sapecados, por incenso e vela,
Dois corpos mutilados, o meu e o dela.

Alan dominador e Aline submissa,
Juntos praticando fantasias.
Alan é a comida, e Aline o apetite
Pra quem é livre e se permite.

Nossa forma é bruta,
Sarrasqueira e diluente,
Com a bituca debiata onde fica a tua mente.
E quando amanhecer,
Quero te deixar contente,
Um sorriso a mais na boca,
Uma saliva diferente.

Alan dominador e Aline submissa,
Juntos praticando fantasias.
Alan é a comida, e Aline o apetite
Pra quem é livre e se permite.

Longe do limite,
Longe da Moral,
Longe das estéticas,
Longe do normal,
É lindo esse casal.
É lindo esse casal.

É Alan dominador e Aline submissa,
Juntos praticando as fantasias.
Alan é a comida, e Aline o apetite
Pra quem é livre e se permite.

E eu, que não sou Aline e muito menos submissa, diria que entrei pelo cano.
Mas fiz essa brincadeira porque hoje o Zéu de estrelas estava ótimo, gente! o entrevistado foi o Luís Miranda: brilhante!adorei!ele é quele que atua em Meu nome não é Johnny, o que chega na prisão é quer brigar com os africanos e que se sai com esta de: "Fuck you, fuck tu, fuck todo mundo!"; ele está em Jean Charles e em Quincas Berro D"água também e já trabalhou em mil e uma séries da Globo.
Ah, nunca mais fui ao cinema, por falar nessas coisas.
E eu nunca consigo pegar um show do Zéu Britto, gente, o que é isso? o cara já se apresentou duas vezes, neste ano, aqui em Feira, e eu não vi.
Deixa eu voltar à minha ordinary life.
Dizem que aqueles a quem os deuses odeiam, tornam-no professor e, para reforçar isso, Cléo me mandou um e-mail dizendo que todo professor recebeu uma praga dos deuses, de modo que no mundo só pudessem haver dois tipos de pessoas: As que ensinam e as que não entendem. É mole? depois ainda tem quem pergunte,a esta altura da minha vida, porque eu me tornei uma louquética.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A porta aberta dos perigos


Não obstante a gente ouvir por aí aquele silogismo: "Você quer ter razão ou quer ser feliz?", estar em qualquer tipo de relação é reconhecer a necessidade de ser concessivo, de declinar da própria razão, em favor da paz e da sustentação do relacionamento (amizade, rolo, trabalho, vizinhança, todo tipo de situação com relacionamento pelo meio)
Esse não é um ato fácil de realizar, nem nada que podemos fazer todo dia e sempre.
Então vi, na sessão de análise, minha pouca predisposição a um relacionamento.
Não é que eu não queira, não é que eu não deseje o relacionamento: é que eu não tenho paciência, nem parcimônia, nem coragem.
Falo do ex-Grande Amor da Minha Vida como uma verdadeira ferida aberta.
É um paradoxo: de fato, não amo mais aquela pessoa - fato claro,indiscutível, indisfarçável. Mas eu vivo falando disso - e falo como quem exibe as feridas de guerra ( e diz: não quero mais batalhas. Não me sinto vitoriosa ao sair dessa guerra, eu me sinto sobrevivente).
Amar é uma guerra. Olha, "Amar é um deserto e seus temores".
É, sim, "Um deserto e seus temores": você morre de sede, você morre de medo, você se vê sozinho, você se percebe sozinho, você se vê imerso em muita areias, sempre sob o risco de levar picadas de escorpiões, vivendo dias quentes e tórridos e noite de frio intenso, você perde a bússola, você se deixa guiar pelas estrelas, mas quem aí entende de estrelas?
Mesmo se o outro está ali, você está sozinho.
Mesmo que você aprisione o outro a fim de protegê-lo, você está sozinho.
A analista me disse que não há homem sozinho - coisa que eu já sabia, que já havíamos discutido. Mas doeu saber que não há homem fiel.
Ora, pois, que coisa pareceria mais óbvia?
Por que a dor, então?
Por que ela mostra que as raras exceções, os homens fiéis,para contrapor o imperativo estrutural-psíquico e cultural, apresentam neuroses absurdas, coisas que a gente nem acredita que existe. E ela mostrou o alto preço da fidelidade masculina.
Até chegar nesse ponto eu tinha falado sobre os meus amores contrariados, sobre o fracasso dos meus amores, sobre os inúmeros chifres que levei.
Ela me mostrava que uma mulher não pode medir o sucesso ou fracasso dos relacionamentos por estes parâmetros: a mulher mais linda do mundo, a mais inteligente, a mais perfeita que houvesse, seria insuficiente para um homem. O homem sempre irá trair quem quer que seja a mulher com quem ele estiver porque ele vive a plenitude dos desejos, eles (homens) se lançam, eles não renunciam.
O superego vigilante dos religiosos, dos moralistas e de quem for, cobra preços absurdos.
Se o homem está só, não se aproxime: ou é gay ou é problemático.
A pergunta então, volta-se para mim: quero viver sem chifres ou quero namorar C.? não há meio-termo.
Solteira, sim. Sozinha, sempre!
Ouvindo isso relembrei minha conversa recente com uma grande amiga que me dizia que os desejos dela também não cabiam no casamento. Contudo, ele, o marido, era fiel, amigo,cúmplice e etc e por isso ela não ficava lá com o objeto dos desejos dela, porque ela não tinha essa desculpa de se dizer em vingança, de se dizer maltratada ou depreciada por ele.
Então ela renuncia ao desejo, até porque se tornaria ilícito e imperdoável.
Eu bem queria exercitar isso de "não importa com quem você se deite,/que você se deleite seja com quem for".
Bem, até que não sou ciumenta.
Fico olhando as meninas se jogando para ele. Ora, mas se ele não fosse desejável, eu não estaria com as minhas mãos nele.
Que bom que muita gente concorda comigo, então, que ele é desejável...
Vem o outro lado da guerra: sempre haverá outra mulher.
Sempre haverá uma luta, uma guerra.
Vejam como Carla perturba a minha vida: eu, a trezentos e tanto quilômetros de distância Daquele e ela me enchendo de mensagens, para mostrar que está lá com Aquele, se mordendo de ciúmes não da amizade que temos, mas por ele falar abertamente o quanto me amou e o quanto acredita que ninguém o amaria mais que eu.
Carla não vê isso como passado - ela fica lá, se comparando...e enchendo o meu saco, porque não fosse pela interpretação que isso pode ter, eu pegaria um vôo agora e iria quebrar a cara dela ao vivo, como bem me aprouvesse.
Eu não queria ser aquela outra, a suposta dona/esposa do rapaz homônimo do livro de Lima Barreto: Olhos atentos, olhos abertos - claro, olhando na direção errada, né? - com medo de todas as ameaças de saias que rondam aquele seu Coração dos Outros.
Ah, meu Deus, eu não quero estar em eternas disputas com outras mulheres.
A gente sabe que os homens não valem tais penas, mas estar com um é estar em constante ameaça de perda, é olhar a outra e entrar em conflitos silenciosos com ela.
Não tenho energia para isso.
Nem lembro quantas vezes dei o W.O., larguei a batalha e disse: "fica para você!", por orgulho, por amor próprio e por cansaço. Quantos Caso do vestido, de Drummond, eu vivi? e dá para contar?Todas as guerras cansam.
Coitado de C., acho que nem desconfia que eu sou assim, que eu sou toda marcada e escoriada pelas guerras que travei na vida amorosa.
Eu, que um dia citei o Consolo na praia, de Drummond, agarrando-me à segunda estrofe como uma verdade inquestionável:
"O primeiro amor passou
O segundo amor passou
O terceiro amor passou
Mas o coração continua".

Esqueçam isso. Tive uma interpretação errada.
Ora, o coração continua sim: continua estilhaçado das experiências anteriores,aglutinou feridas e fraturas dos amores anteriores. Até chegar ao terceiro amor, já era, adeus integridade, já acumulou feridas, já se diz experiente porque sofrido...e a cada sofrimento, um medo maior da dor.
Quem aguenta isso repetidas vezes?
Poxa, Clarice Lispector escreve como uma das epígrafes de A Via crucis do corpo: "Quem viu jamais vida amorosa que não a visse afogada nas lágrimas do desastre ou do arrependimento?"
Se ela que é ela traz isso como epígrafe, oxalá eu, que nem sei sei se fui elevada à categoria de gente?
Mas saber que o gosto bom do começo vai ser todo tomado por uma outra novidade - agora eu sou a novidade... -, saber que o tempo vai jogar verdades na cara da gente e saber que eu tenho medo de tudo o que eu ainda não conheço nele, ah, isso me arrasa.
Todos os dias olho as feridas da guerra passada. Pensando bem, muitas delas viraram tumores: estão aqui. E como estão presentes nas respostas que eu nunca tive, nas perguntas que ficaram, no que nunca será compreendido, nos desesperos e nas decepções cristalizados.
Quando eu estava lá, toda esbandalhada, sangrando, com a vida por um fio, com as febres e com os delírios da perda, rogando um remédio, uma anestesia, um analgésico ou uma saída, minha analista me disse: "Você aguenta, você tem estrutura."
Não há receita: se você se der mal no amor, só o tempo cicatriza - sem band-aid, sem anestesia, sem curativo...oh, como demora!
Agora ela me faz deduzir que acha que eu aguento o preço.
Muito bem, é o equivalente a dizer: quer pular de bodyjump? vai, menina, é gostoso, é uma emoção incrível, você vai ver que vale o preço alto.
Vai te dar a sensação de quase-morte, é um perigo, aquela altura e apenas uma cordinha elástica a te sustentar...mas é emocionante e gostoso. Vai lá! você vai se machucar, mas depois passa, você aguenta.
Já disse e vou repetir: eu encarno, às vezes, aquele personagem lá da A Igualdade é branca, o que quer morrer, Mikolaj.
Quando Karol resolve matá-lo (a seu próprio pedido), usa uma bala de festim, para assustar Mikolaj e fazê-lo ver o absurdo do suicídio, dizendo: "Mas todo mundo sofre, Mikolaj!". E este , por sua vez, diz: "Eu queria sofrer menos".
É um pouco meu caso: eu queria sofrer menos, bem menos que o resto da humanidade.
Não é por me sentir melhor que a humanidade, pense bem: é ao contrário mesmo. A humanidade aguenta, eu não.
Ele não sabe de nada disso.
Eu sei que não sei um monte de coisas.
Meu estoque de coragem está em baixa.
Eu, que nunca tive medo de altura, que tenho no currículo várias descidas de rapel daquela caixa d'água ali da CEASA de Simões Filho, no caminho que a gente faz quando vai ao aeroporto, lembram? que tem aquele rio ou é lago, em volta? dá uns 35 a 50 metros, não é? eu já desci tanto aquilo lá nos meus tempos de recrutamento...e não tive medo senão o de que a pessoa que controlava minha corda lá embaixo se distraísse.
Desci tanto aquilo lá, numa emoção gostosa de guria, de criança...e talvez a coragem tenha existido só para contrariar o sargento, que duvidava das mulheres e achava que estava me castigando por me fazer descer aquilo lá. Ah, bobo, medo eu tinha era das águas profundas - depois falo disso.
"Não quero medir a altura do tombo", diz Zeca Baleiro - tenho medo de tombo não, porque se perco o equilíbrio, não me permito cair, me apóio. Tenho medo das sequelas de um queda plena, de uma queda livre.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Quando ela se foi


Hoje ela morreu.
Eu estava aqui, em Xique-Xique, no meio da Semana de Letras, cuidando das coisas inerentes ao evento, me ocupando com assinaturas, com apresentações, com a alegria de reencontrar uma grande amiga, Meire, nossa convidada, e então meu tio disse que nossa mais antiga vizinha morreu.
Doeu em mim não ter tido a pressa em ir saber do estado em que ela se encontrava logo que eu soube que ela foi internada - é que era véspera de viajar para tão longe e eu , na verdade, nunca levei a sério a idéia de que ela pudesse morrer.
Há dessas pessoas que mesmo não estabelecendo carinhos explícitos conosco, sabemos que temos amor por elas.
Dona Nicinha sabia de toda a vida da minha família.
A seu modo, era nossa confidente e mediadora.
Crente ferrenha, às vezes de cara dura, mas sempre nossa amiga, sempre diminuindo a extensão da ponte entre os membros da minha família, fosse ela uma ponte geográfica ou uma ponte que separasse as imensas distâncias emocionais.
Ela era parte da paisagem da minha casa - se eu saía para correr no fim da tarde, tinha certeza de dar boa-tarde ou boa-noite à Dona Nicinha: ela estaria lá, levando o cachorro para andar na frente de casa.
Também tinha isso: nossa paixão pelos bichos e nossa solidariedade com todos eles, especialmente os gatos e os cachorros - coisa sabida pela rua toda, sempre a discretamente colocar uns bichinhos desamparados ou doentes na nossa porta, na certeza de que estariam em boas mãos.
Eu gosto tanto da minha casa e esse amor não é segredo, é coisa explícita, mas a minha casa não existe no ar, ela estabelece essas relações do seu contexto: ela é a casa naquela rua, com aquele quintal, com aquela frente, com aqueles vizinhos, com aquele tipo de calçamento, com aquela ladeira, com os hábitos que a gente acompanha, como a luz do poste que acende às 16 horas no inverno ou os barulhos e rotinas imperativos de segunda sexta, como os domingo nada silenciosos em meio àquelas três igrejas, das quais uma é a mais ruidosa.
Agora, a rua sem Dona Nicinha. E a casa?
Estou realmente guardando as lágrimas,se é que consigo fazer isso, mas sou teimosa,vou tentando.
Sinto saudades dela - e estou sem poder estar com Raquel, com Susana, com Abraham,neste momento difícil e de dor - a minha dor está bem longe deles, talvez perto pela intersecção do sentimento de perda.
Mas, que impotência absurda que temos diante da morte - essa certeza definitiva de que não há nada a fazer.
Dizemos que para tudo tem um jeito, menos para a Morte.Isso é só um entre tantos ditados, usados para nos dar força para reagir e procurar soluções para nossos impasses. Transposto para a realidade, para o sentido literal, o atestado de nossa finitude é também a confirmação de nossa plena impossibilidade de reagir à Morte.
Não tem jeito.
Pior: não sei como será voltar para casa e ela não estar lá - eu, que sou tão inabilidosa com faltas, impaciente com as ausências todas.
A saudade que em mim se desenha é essa saudade que sabe que nunca será contemplada. Dona Nicinha que eu conhecia desde que eu era criança, que falta!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Coisas de gente boba!


Das Vantagens de ser Bobo - Clarice Lispector

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver.
O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona.
Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo,enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.
O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos.
Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

Ah, ainda bem que Clarice Lispector fala por mim, simples mortal (bem boba!)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Últimas tendências


Se há uma coisa que todo mundo almeja numa elaboração teórica é a isenção.
Dizem que as Ciências Exatas são assim chamadas porque primam pela exatidão.
O jornalismo cotidiano, aquele que nos derramam as notícias como se fosse isento, preciso e sem tendências, também se quer imparcial.
Das Ciências em geral, o sentido da prova, isto é, sua passibilidade de se fazer crer por meio de experimentos e outros ajustes que lhes garanta comprovação, também quer ganhar o rotulinho de isento. Não é difícil: a gente só confia no que é cientificamente comprovado, no que é dermatologicamente testado e até o amor requer suas provas.
Cá estou eu ralando em minha tese e me emaranhando nesse negócio da isenção.
Veja: eu nunca mais quero falar em poesia porque me envolvi demais com minha dissertação e depois de um tempo, de tantas identidades, conheci outros poetas, em obra e em pessoa, que distorceram totalmente minha visão sobre o poeta e sobre a poesia - sei, andei em companhia de gente egoísta que celebra apenas sua dorzinha pessoal, é gente dissimulada disfarçada de sensível e cuja sensibilidade não ultrapassa a circunferência do próprio umbigo e nisso vai aí a experiência pessoal, essa loba que nos inclina às parcialdades do nosso juízo de valor. Esqueçamos, pois, estes meus poetas.
Eu, contudo, não consegui admitir que poetas eram pessoas como quaisquer outras e não os escolhidos, os profetas, os seres super e acima dos mortais que as concepções clássicas acabam imprimindo na gente - como pessoas iguais às outras, são falsa, são traiçoeiras, egoístas,boas, generosas, vaidosas, soberbas, amorosas, tendenciosas, gananciosas, deslumbradas, amigas,solidárias, enfim, tudo de bom e de ruim, como convém às pessoas em geral.
Agora, indo passear nas figurações da nacionalidade (tanto a portuguesa quanto a brasileira), privilegiei a portuguesa por ser esta a que eu menos conheço, a que demanda mais estudo.
Sou brasileira: por minha vivência e por minha formação, independente da leitura de Raízes do Brasil e dos livros de Roberto DaMatta, sei razoavelmente sobre a nacionalidade brasileira, cabendo o aprofundamento em seu momento certo.
Então, nem vou falar de Boaventura de Sousa Santos em sua Gramática do tempo, deixo esse para depois porque preciso revisar e ter certeza de que li corretamente e interpretei direito tudo o que li, mas indo a Eduardo Lourenço, esse famoso ensaísta e crítico português,em A nau de Ícaro, tanto mais me assusto com a parcialidade e com a repetição de um pensamento comum aos portugueses, no tocante ao orgulho de ter colonizado outros povos.
É lugar comum a defesa de que a colonização portuguesa em terras brasileiras foi "branda". Lógico, isso está lá em Sérgio Buarque de Hollanda,um brasileiro, ao defender caracteres do portugueses (aventureiro, semeador, etc., que a minha memória não é lá grande coisa) e isso será comum aos teóricos portugueses.
Então me vem o Eduardo Lourenço e ao tratar da Cultura portuguesa hoje, chora o fato de que os artistas portugueses não foram/são adequadamente reconhecidos pelo mundo, em seus papéis nos principais movimentos artístico-literários da história:
"Sem escapar a esse contexto ocidental que condiciona, de maneira direta ou ínvia, toda prática cultural, a situação da cultura portuguesa atual - tanto quanto é acessível a alguém já fora da pulsão inovante ou específica - apresenta uma textura singular. Ela é visível de fora para quem conhecia um pouco a nossa paisagem cultural antes de sua metamorfose nos últimos quinze anos. Mas também é sensível a quem a conhecia de dentro, não apenas a título histórico ou em função de uma mitologia reiterativa, que não faziam dela propriamente um deserto (coisa que nunca foi), mas um tempo cultural delicioso e monotonamente provinciano, de intermitentes sucessos ou clamores - quase só na área literária - logo sepultados numa espécie de frustração feliz. De resto, a glosa dessa frustração, atribuída à nossa marginalidade européia, agravada pelo pouco culturalista entusiasmo dos anos de paz doméstica salazarista - e até por Salazar lamentado, não sei se com refinada ironia -, foi um pouco o melancólico alimento da nossa cultura nessa época, já de si predisposta a melancolias. (p.13)
A ideía da localização periférica de Portugal na Europa, na Comunidade dos Estados Europeus é o que é usado como justificativa para que todas as colonizações empreendidas por Portugal tenham sido brandas, humanizadas, já que ele próprio era sub-colonizado pelas grandes potências, sobretudo a Inglaterra.
Note-se que o aspecto periférico alegado reflete na periferização da cultura portuguesa, não sendo ela, em si, inferior, mas subestimada pelos demais países.
Na parte seguinte, Portugal como cultura, Lourenço faz dos portugueses uns verdadeiros emigrantes planetários e aqui já nem sei se caberia afirmar Imigrante, Emigrante ou Migrante uma vez que o nomadismo português é evocado como a confirmar o empreendedorismo, a luta, a garra portuguesa em se arriscar em outras terras. Tudo isso rotulado como sendo parte da vocação lírica de Portugal.
Além da mitologia da saudade e da melancolia por seus tempos de glórias e conquistas, Eduardo Lourenço diz que Portugal sustenta uma dor mansa.
Não nego: aqui achei lindo o qualificativo.
Ter uma dor mansa é ter uma dor que é dor de vida: da existência difícil, das incompletudes, das faltas, dos desejos não concretizados, das frustrações - é uma dor de vida: aquela que faz parte, aquela que todo mundo tem, dor que redundantemente dói, dor que vai doer até à morte, mas nunca será causa mortis. Achei lindo ele dizer isso!
Talvez por ver em mim essa dor também - aquela que não me impede de ser feliz, de tocar a vida, mas que me dá o sentido de que eu não tenho como viver sem passar pela dor: dor mansa.
Eduardo Lourenço não nega ser Portugal "o país das lágrimas", de Camões a Pessoa, de Garret a Camilo Castelo Branco...
No capítulo A nau de Ícaro ou o fim da emigração, Eduardo Lourenço aperta minhas feridas de pessoa colonizada, trazendo um grande paradoxo da cultura portuguesa - em que faço uma pausa para explicar que esse Ícaro, aliás, essa nau de Ícaro é a retomada do mito clássico para dizer que assim como Ícaro paga caro pelo seu destempero e ousadia de voar na direção do sol e ter a cera que sustentava suas asas derretidas pelo calor, ocasionando sua queda, também Portugal paga caro por ter ousado lançar suas naus nos "mares nunca d'antes navegados", também chorados por Pessoa, quando diz "Ó, mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal" e tudo aquilo que está contido lá em Mensagem. Então: "Para acabar como Ícaro no meio da indiferença dos deuses e dos homens, punido por ter cumprido, em seu nome e em nome dos outros, um sonho para além de suas possibilidades?" (p.45)
Isso de se dizer um povo expatriado e sofrido, desconsiderando os sofrimentos causados a nós, o povo brasileiro, ao povo da Goa de outrora e do Continente Africano infinitamente explorado, dentre os incontáveis número de etnias destruídas por Portugal em sua sede de poder, em sua gana imperialista, me causa perplexidade e desconforto.
Vou mesmo dizer à minha orientadora, mais uma vez, que não consigo ser imparcial: é muito difícil de engolir. Ainda mais quando os teóricos são explicitamente tendenciosos.
"Desde há séculos, entre as duas margens do Atlântico, as saudades portuguesa e brasileira ligam, em tons diferentes, um laço distendido, mas jamais verdadeiramente quebrado. Como a nossa emigração foi sobretudo brasileira, isso importa mais do que tudo para a imagem que os portugueses têm de si próprios." (.p.48)
Afirmação do teórico português que adiante vai ser reforçada pelo louvor à imposição da língua portuguesa ao nosso país.
Portugal esboça um Orgulho de ter colonizado outras terra e um ideal de posse de que Angola e Moçambique, assim como o Brasil, são exemplos naquilo que herdaram de destruição e desorganização política, graças, mais uma vez aos empreendimentos portugueses nestas terras, ao seu poder bélico, à sua desumanidade que uns louvam como se fosse ousadia ou um festejado e justificável mal necessário.
Definitivamente, preciso me entender com os parâmetros científicos da minha tese.
Preciso rever a imparcialidade, porque está muito difícil de engolir tudo isso, de processar e, pior, de dar outras interpretações senão estas que aqui apresento.
Essas argumentações de Eduardo Lourenço vão se reforçando mais ainda ao longo do livro - e eu reforçando minhas tendências a contestar o ponto de vista dos herdeiros culturais dos colonizadores.
Dizem que uma tese é um parto. Mas, meu Deus, quantas contrações eu irei suportar mais?

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Troca de segredos



Eu e você
No mundo da lua de mel
Você e eu
Voando no sétimo céu
Dê no que dê
A gente não quer mais parar
Aconteceu
E eu quero de novo
Quero você
Ainda que faça chorar
Quero você
Sorrindo querendo ficar
Dá pra sentir
O teu coração bater no meu
Dá pra saber
Aonde esse amor vai desagüar
Pois quem tem amor
Pode rir ou chorar
(geraldo Azevedo, Sétimo Céu).
Não faço contrabando de afetos, não estou na ilegalidade nem na clandestinidade, meus amigos! podem relaxar!

A sete chaves


A ilegalidade é perigosa e complicada. Requer paciência, sagacidade, viveza e um espírito sempre alerta. Não é fácil manter íntegros os cuidados que ela exige. Difícil é preservá-la do desleixo, natural com o correr do tempo e o aumento insensível da sensação de segurança. De começo exageram-se as precauções mas, pouco a pouco, vão elas sendo abandonadas, uma a uma. A ilegalidade vai perdendo seu caráter, despe-se de seu manto de mistério e, de repente, o segredo de todos ignorado é notícia na boca do mundo. (...)
É possível manter tão estrita ilegalidade uma semana, quinze dias. Depois começam os descuidos, a falta de vigilância, de atenção. (...)
E não fora só ele o indiscreto - como guardar no coração esse amor a explodir de seu peito? - o único imprudente - como esperar o meio da noite para penetrar no paraíso proibido?

(Fragmentos da obra de Jorge Amado, Gabriela cravo e canela: crônica de uma cidade do interior, páginas 329 e 330)

Para quem já leu, sabe que o narrador está falando do amor de Glória e Josué. Quem já leu bem mais sabe que o narrador está fazendo uma advertência e uma constatação. Toda obra é aberta a interpretação: faça a sua!

Vivendo, aprendendo e ensinando a aprender


Andei repassando um e-mail engraçadinho sobre as "fases das professoras", porque gosto mesmo da brincadeira e acho que é professor quem pode.
As agruras da profissão - salários baixos, cargas horárias absurdas, violências físicas e simbólicas por que se passa cotidianamente, diretores que se comportam como se fossem feitores de escravo ou "altas autoridades", horários incongruentes, condições de trabalho precárias, estabelecimentos de ensino que se comportam como empresas, dando sempre razão ao cliente-aluno, independentemente da coerência e da justiça ali arroladas,formulações teóricas distantes da realidade, daquelas que falam da tal realidade do aluno sem levar em conta as partes envolvidas no processo ensino-aprendizagem, feiras de ciência sem Ciências, feiras de cultura sem Cultura e todo um calendário artificioso a cumprir, coação para aprovar quem não tem condições de ser aprovado...enfim, a lista é longa - todo mundo conhece, todo mundo sabe disso, mas se metem nas Licenciaturas.
Não concordo que devido ao fato de cursar uma Licenciatura a pessoa esteja predestinada e obrigada a ser professor.
Nem me venha com esta história de dividir Licenciatura e Bacharelado: este último não é o único voltado para a pesquisa. Todo aluno de licenciatura faz pesquisa sim!mas é preciso ver que muitos não têm vontade de estar em sala-de-aula. E daí? podem ser felizes e úteis em outras funções dentro das disciplinas-alvo de seus cursos.
Não concordo com estágios - e quem diz sou eu, que fui professora de Prática de Ensino de Português I e II na UFS: é um negócio artificial, doloroso, superficial,inconsistente.
Profundo exercício de desgaste porque se "amar se aprende amando", você só sabe o que é dar aula na vida prática real, não num pedacinho de semestre, com um bando de gente te olhando e te avaliando, com um regente e um professor de disciplina no seu pé, com a turma notando aquela presença e adotando outros comportamentos, tudo fingido, porque há visitas na classe.
Como eu sei que os hipócritas também lêem o que eu escrevo, eu já espero a reação: se você reclama de algo, então que apresente uma solução. Adoro os hipócritas: eles conseguem calar as pessoas através desse sofisma, de que não se deve criticar nada a menos que tenhamos solução melhor. Calemo-nos! deixa tudo estar como está.
Mas, todo mundo sabe o que cerca a profissão de professor.
Claro que eu gosto de ser professora, porque eu descobri qual é o meu público, em que grau eu me sinto bem atuando e, enfim, sou feliz na profissão e ser feliz na profissão não quer dizer estar satisfeita com o quadro geral que cerca meu cotidiano profissional.
Digo que duvido da vocação para qualquer profissão e acredito mais na INVOCAÇÃO, ou seja, o sujeito invoca que quer ser professor, médico, advogado... e aí está: uns são aptos para as séries inciais, outros para o Fundamental, outros para o Ensino Superior...e outros invocam que querem ser professor e, de repente, alguém patrocina esse sonho favorecendo o dito cujo. Está feito: um amigo na praça e uma idéia na cabeça e tudo se realiza.
Se alguém ainda tiver dúvida, eu me importo com nota: me importo com a minha nota, quando sou aluna e me importo com a nota que os meus alunos obtém.
Já fiz experimentos perversos: dei uma nota altíssima a uma apresentação bem abaixo da média - isso foi lá na UFS. Juro: ninguém reclamou de ter tirado uma nota acima de seu merecimento.
Recentemente, numa defesa de mestrado, Joaquim calou a minha boca: a candidata ao título de mestre escorregou totalmente nas assertivas.
Como a banca a apertasse, ela jogou sobre o orientador todas as culpas e ainda alegou ter sido assediada por ele, o que desarticulou seu bem-estar familiar e determinou as insuficiências de sua dissertação.
Joaquim então me disse: "Mara, se ela tivesse sido aprovada,reclamaria dos assédios?expunha isso publicamente?"
Que é que eu poderia dizer? eu me calei.
Nunca vi, nesses meus anos de profissão, um só aluno reclamar e fincar pé porque tirou uma nota acima de seu merecimento. A lógica do lucro, hein, gente?
Pelo contrário, tem os que se acham o supra-sumo do saber, aqueles que se julgam perseguidos, aqueles que acham que o professor lhes atribuiu uma nota baixa por mera injustiça.
Estes gênios nunca percebem que os que se tornam queridos e louvados tiram notas altas por seus méritos.
Também tem os esforçados, os atentos e participantes, mas que não decolam na hora de expor idéias de forma escrita. Tem de tudo!
Eu tenho sérias dificuldades em reprovar por faltas.
Para a minha sorte, isso é prescrito nas leis da universidade: na graduação exige-se 75% de frequência às aulas.
Vejam: muitos estão na sala só por isso,para obter presença.
Mas é um tocar infinito de celulares, é o papelzinho correndo na sala, é a formiga no assento, fazendo com que a toda hora saiam, é uma agonia e uma angústia compartilhadas porque eles refletem o quanto não querem estar ali, nós percebemos. Eu interiormente digo: também não quero que você esteja aí. Vá cuidar de sua vida. Vá ser feliz lá fora.
São o cúmulo da falta de educação, em classe, para mim: colocar os pés sobre a cadeira e atender o celular. Mesmo que não atendam, só em tocar o celular já é horrível - putz, aquele é o horário da aula. Restam tantas outras horas do dia para atender o telefone...
Tenho auto-vigilância para não reproduzir as coisas de que fui vítima e as coisas que eu abomino, por isso procuro ser boa aluna e ter educação e respeito pelos meus professores.
Escolhi esta imagem para o post porque os homens são minorias entre os professores - aí entram os fatores relativos às questões de gênero e a clássica condição da professora, especialmente a do Ensino Superior,fadada a sustentar um marido ou um namorado explorador, aquele que nunca tem dinheiro para nada; que confirma a condição de exploração da docente, tão típica, supostamente estereotipada, mas que o exame acurado dos exemplos próximos vão confirmar como verdade - e aí a realidade da vida no magistério também varia conforme o gênero.
Sendo homem, e ainda por cima, heterossexual, no ramo do Ensino (ah, não sejam hipócritas: as disciplinas da área de Exatas são todas dominadas pelos homens!), o sujeito está feito: é assédio de colega, de alunas; é carinha sorridente para lá e para cá, é disputa por ele o tempo inteiro...eu, se tivesse um coleguinha como este aí do post iria trabalhar bem mais feliz! eis um bom incentivo profissional. E para terminar, lembremos Gal Costa: "Quanto mais a gente ensina, mais aprende o que ensinou."

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Palavras líquidas


Ultimamente fui compelida a voltar à minha dissertação de mestrado: mero acaso porque vou falar sobre ela na UEFS, no módulo VII, no próximo dia 02 de outubro e fora isso, meu ex-orientador e eterno amigo me cobrou as revisões e formatações para a edição do livro daquilo lá que eu escrevi.
Fui aprovada com nota máxima, mas isso não impediu que eu tivesse um bloqueio posterior com a dissertação - aleluia, senhor, por ter sido posterior! Vai que eu travasse e não conseguisse concluir?
E foi por causa de aspectos da dissertação que se reforçaram por questões pessoais que eu acabei com o Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos (Zahar, 2004), nas mãos.
Zygmunt Bauman tem vários títulos que trazem o caráter líquido como adjetivo principal - Tempos líquidos; Modernidade líquida... mas, bem, eu falei da solidão durante o mestrado. O título de Bauman veio mesmo a calhar:
"A misteriosa fragilidade dos vínculos humanos, o sentimento de insegurança que ela inspira e os desejos conflitantes (estimulados por tal sentimento) de apertar os laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos, é o que este livro busca esclarecer, registrar, apreender" (p.08)
Serve tanto para as teorizaçõe acadêmicas quanto para nossa vida prática, vivida e dolorida de todo dia.
O livro não se volta apenas para o amor entre os casais, mas sobre a totalidade das relações humanas.
O autor de que tratei, Iderval Miranda, traz sujeitos poéticos totalmente misantropos. Por várias vezes eu tenho atos de misantropia, acho tudo um saco, acho ridículo ganhar beijos no rosto de gente que eu sei que me odeia e, a esse propósito, até o dia de hoje eu nunca errei sobre as pessoas que me odeiam. Percebo facilmente - algumas, coitadas, não sabem porque não gostam de mim, apenas não gostam, mas ficam se culpando, tentando engatar uma empatia que não há, lutando contra o óbvio e contra o inevitável. Esses aí, tipo JB, por exemplo, talvez não saibam que não gostar de uma pessoa não implicar fazer coisas contra ela. Os que eu odeio, odeio com justa causa. Se as causas não existissem, eu não faria mal algum a eles - como aliás, não costumo fazer.
Quando a vida da gente está boa ou quando a gente tem coisa mais importante para fazer ou para viver, para quê que vamos nos ocupar com quem a gente odeia, mas mantém a devida distância? muitos desses a distância afetiva é tão grande quanto a geográfica. Um dia tudo passa, o contrato acaba e aí você nem vai se lembrar da "pessoinha" desagradável.
Diz Bauman:
"O principal herói deste livro é o relacionamento humano. Seus personagens centrais são homens e mulheres, nossos contemporâneos, desesperados por terem sido abandonados aos seus próprios sentidos e sentimentos facilmente descartáveis, ansiando pela segurança do convívio e pela mão amiga com que possam contar num momento de aflição, desesperados por "relacionar-se". E no entanto desconfiados da condição de estar ligado "permanentemente", para não dizer eternamente, pois temem que tal condição possa trazer encargos e tensões que eles não se consideram aptos nem dispostos a suportar, e que podem limitar severamente a liberdade de que necessitam para - sim, seu palpite está certo - relacionar-se...
Em nosso mundo de furiosa "individualização", os relacionamentos são bênçãos ambíguas. Oscilam entre o sonho e o pesadelo, e não há como determinar quando um se transforma no outro." (p.15)
Como pessoa de minha época, vivo as coisas de minha época, não consigo passar incólume a muitas coisas dentre estas elencadas por Bauman.
Ele consegue reparar, por exemplo, no profundo egoísmo subjacente à decisão de ter um filho: "Esta é uma época em que um filho é, acima de tudo, um objeto de consumo emocional" (p.59).
Poxa, é exatamente o que eu penso.
Sob minha decisão de não ter filhos está a minha clara certeza de que não quero e pronto! mas para muitas pessoas o filho é mesmo um objeto de consumo emocional: é ter para quem deixar algo; é ter quem possivelmente cuide de você na doença e na velhice; é investir para um retorno futuro...isso, para mim, não é amor. É uma relação capitalista e viciante, calcada na cultura, em introjeções do que a gente vai aprendendo em sociedade. Olha o transcurso histórico que Bauman faz:
"Houve uma época (das fortunas de família passadas de geração para geração, segundo a árvore genealógica, e da posição social hereditária) em que os filhos eram pontes entre a mortalidade e a imortalidade, entre uma vida individual abominavelmente curta e a infinita (esperava-se)duração da família. Morrer sem filhos significava nunca ter construído uma ponte como essa (...)" (p.58)
E a seguir trata do nossos tempo:
"Objetos de consumo servem a necessidades, desejos ou impulsos do consumidor. Assim também os filhos. Eles não são desejados pelas alegrias do prazer paternal ou maternal que se espera que proporcionem - alegrias de uma espécie que nenhum objeto de consumo, por mais engenhoso e sofisticado que seja, pode proporcionar." (p.59)
Mas, em resumo, esta nossa maneira descartável de tratar os relacionamentos, de tratar as pessoas, de constituir laços frouxos que garanta um descartar rápido, tudo isso é tratado no livro.
É um percurso longo!
Tem coisas que para mim são isuportáveis, impraticáveis no convívio social - é preciso ter muito estômago para se derreter em risos, em intimidades, em beijinhos e saudações com quem a gente não gosta.
Mas, no que se refere a amor, lá vou eu: morrendo de medo.
Medo do apego, medo de ser traída, medo de que não dure, medo de que eu me tranque numa gaiola, medo do ciúme dele que desde já acena para mim, medo do ciúme futuro que eu possa ter, medo de me sentir insegura (mais insegura), medo de imaginar coisas, medo de que a vida confirme meus medos imaginários...
Quando eu falo que tenho os pés no chão (os quatro pés), é verdade. O que mais pode acontecer é que eu duvide que alguém corresponda àquilo que que sinto, ma so contrário, nunc ame ocorreu também.
A vida tem umas pistas certas e eu até ouvi isso daquela que eu descartei: "Quem quer, vai atrás".
Pois é: se a pessoa está a fim de você, pode acreditar que vai haver sinal, vai haver algum movimento para atingir, para chegar a você. Sua avó não estava errada quando dizia que "quem tem sede vai ao pote".
Outras vezes, as escolhas estão feitas antes de você aparecer na história. Se você apareceu e nada mudou, mude você. Mude-se para bem longe da pessoa.
As pessoas que têm relacionamentos e se envolvem com outras podem optar por estar com quem apareceu depois. Mas olhe bem quantas amigas nossas desempenham a função de amantes há incríveis 5 ou 10 anos (fora nossa grande amiga G., que ficou 15 anos nessa função)?
Se a pessoa quer, ela desafia o superego, joga tudo para cima, como fizeram Alex e depois, Adriano, e vai viver o novo. O resto é puro comodismo.
Façamos assim, para que cada um possa ficar com suas próprias impressões sobre esses processos neuróticos dos relacionamentos e das compulsões: dêem uma olhada em Trapo, de Álvaro de Campos, cujo fragmento "Até amaria o lar, desde que o não tivesse." é tudo! e a gente vive repetindo - ai, meus amigos neuróticos queridos, como somos parecidos!

O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.

Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.

Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.

Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efectivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.

Carinhos? Afectos? São memórias...
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.

Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...

O dia deu em chuvoso.

Álvaro de Campos

Agora que "tenho o lar" morro de medo de amar ao lar ou de deixar de amar porque passei a tê-lo. Eu entendo vocês, Léo e Stella. Entendo mesmo!e desculpem-me se isso parecer um conselho: já bebi desses venenos, vocês sabem.
E, sim: estou com Ele. Estamos...ficamos e estamos!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Rio sem margens


Pois é, fiquei um pouco em silêncio porque aconteceram coisas que vão para o baú dos segredos. Eu gostaria muito de contar, mas não seria conveniente - é o lado de A da vida real e o processo de edição que a gente faz para sobreviver.
Instaurei um pouco de censura porque acho que a celebridade realmente leu alguma coisa por aqui. Se não leu, está muito próximo disso: estou perdida!
Esse negócio de segredo é uma faca de dois gumes: às vezes a gente pensa que está escondendo tudo de todo mundo, mas fica deixando pistas que os mais sagazes juntam e formam o quebra-cabeças.
Conforme eu já falei, já peguei os segredos dos outros por meros acasos:abrir a porta bem na hora do beijo; estar próxima sempre que o telefonema secreto acontecia; pegar fragmentos de discursos e atitudes repetidamente suspeitas, esse tipo de coisa.
Ando com o coração meio em suspense: acho que nem tem como esconder certas coisas. Ter, tem, mas quando a gente está envolvido com outra pessoa, dá cada escorrego, essa coisa de estar embevecido, enebriado ou simplesmente besta é a maior bandeira do mundo.
No tempo em que eu namorava o Grande Amor da Minha Vida, ele cometia uns lapsos terríveis porque estava claro que ele queria ser descoberto - a gente começou o namoro quando eu estava indo embora do nosso ambiente comum de trabalho, mas eu não queria que ninguém pensasse que era caso velho, que ele me beneficiava, essas coisas.
Poxa, como eu fui cuidadosa!
Cuidadosa como a mais ardilosa vilã de filme norte-americano: comedida, calculista, observadora, dissimulada, cheia de "senhor" para lá e para cá, num respeito que já é comum com aqueles por quem não nutro o mínimo interesse e que, por isso mesmo, foi muito convincente.
Lá na outra Casa, a mesma coisa: eu nunca estava no mesmo ambiente que ele, nada de aproximações e intimidades. Nunca eu ficaria com ele por ali - menos por falta de desejo do que por excesso de precaução. Se é para esconder, que seja bem escondido.
Acontece que agora parece que está estampado em nossas caras o nosso envolvimento.
Eu não achava que ele quisesse nada comigo - era para mim um flerte imaginário e tolo, coisa para passar o tempo e ter assunto com as amigas. Acho que a recíproca era verdadeira também.
Mas nosso cuidado recíproco, uma saudade disfarsada e incontida que o diálogo revelava, o fato de estarmos juntos, sentando juntos, lendo juntos, discutindo juntos, devaneando juntos, um respondendo pelo outro,trocando atos de carinho e de cuidado, uma série de correspondências, enfim, não passou despercebido pelos olhos atentos do sósia de Otto, nem pelos demais, que certamente viam o estado de tensão da gente, quase a ignorar tudo ao nosso redor.
E que esforço para prestar atenção a alguma coisa e dizer algo que provasse aos demais que, ao contrário do que parece, nós estamos ali, nós estamos atentos... mas eu, Capitu,consegui fazer isso melhor do que ele. Ora, bem melhor.
Juro que eu estava falando sobre Literatura, mas ele viajou no meu comentário, juntou a descrição que eu fazia da personagem à minha própria pessoa e cometeu um ato falho de esbagaçar qualquer dúvida. Ai, caramba!
Eu, Capitu, novamente fiz minha cara de paisagem - e diga-se de passagem: eu sou mesmo desligada de muitas coisas, eu não entendo mesmo, eu não pego, eu não capto no ar certas coisas, mas se é para fazer cara de paisagem, tive Thales como mestre e orientador.
Depois eu lá, com cara falsamente perplexa e ele se desmachando em desculpas, em nossos cochichos e cumplicidades.
O que me tirou o sono foi pensar o que foi que eu vi nele e quando tudo isso começou, sem que eu percebesse que estava dando atenção demais - e agora tenho que ter cuidado para escrever...agora,se ele ler, vai saber que eu estava sustentando flertes paralelos, que descartei um, aquele que eu sepultei ( e nisso sou radical: deleto número de telefone, corto todos os contatos.).
Tem gente que não entende isso: sou uma mulher sozinha.
Se há uma possibilidade de relacionamento, se alguém aparece, se alguém me assedia, se alguém me interessa, levo em consideração e passo a estudar a conveniência e os desdobramentos do contato.
Isso significa um bom tempo de flerte,conversas infinitas, beijos ou amassinhos sem maiores consequências, levantamentos e escrutínios sobre o rapaz em questão. Menos por moralismo do que por precaução, nada disso envolve sexo - esta é uma outra etapa, porque não me sinto bem largando o meu corpo nas mãos de quem eu não tenho intimidade, nem segurança.
A tensão erótica, aliás, é preferível para mim: gosto da neurose da espera e gosto de imaginar...se o passo entre a imaginaçao e a concretização não for satisfatório, não sou mentirosa: tchau! sem sexo bom não há relacionamento bom - salvo, é claro, se o cara trouxer um amigo ou parente que possa compensar esta falta (kkk!!!).
Para não ser dúbia, vou dizer: eu sei o que vi nele, no sentido objetivo: nada de mais. Mas, subjetivamente não sei.
Não sei porque ele.
"Rodei de roda, andei
Dança da moda, eu sei
Cansei de ser sozinha
Verso encantado, usei
Meu namorado é rei***
Nas lendas do caminho
Onde andei.
(***eu sei que vocês vão dizer gay, ao invés de rei, seus pestes! ai, que amigos!)

Mas é assim: vou omitir capítulos lindos e interessantes de um história que me conquistou. Tem que ser assim...ui, que vontade de contar! de contar tudinho! pontos, vírgulas, interrogações...ah, gente, foi tão lindo tudo isso!está sendo lindo!
Se ele ler isso, entro pelo cano, mas lá vai um segredinho revelador: nosso cúmplice foi Zygmunt Bauman, com Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos - meu livro!
Excelente livro, viu, gente? cito apenas o sumário: Apaixonar-se e desapaixonar-se; Dentro e fora da caixa de ferramentas da sociabilidade; Sobre a dificuldade de amar o próximo e Convívio destruído. Estes são os capítulos do livro e eu estou terminando agora o segundo capítulo e sinceramente, tenho tanto a falar sobre tudo isso. Coming soon!
Estou para lá de insegura, confusa e desestabilizada: acho que ele está roubando o meu chão. Como disse meu objeto de dissertação (Iderval Miranda): "paixão: súbito rio sem margens"...ah, se eu não me afogo, me sufoco!

domingo, 12 de setembro de 2010

Coincidência e rock


Minha vida se faz por coincidências e acasos.
Como eu digo sempre, não há Destino, não há nada escrito: ainda acredito que o tal do "está escrito" é um preconceito ocidental contra as sociedades ágrafas, de modo a firmar a permanência da escrita, a inevitabilidade das atrocidades que os homens cometem uns contra os outros e uma série de linhas tortas que se instituiram historicamente na fantástica guerra destes mesmos seres humanos por poder e por poder dominar o outro.
As sagradas Escrituras, por serem, como tais, escritas, reclama seu valor.
O outro lado diz: "palavra é força!", puxando a brasa para a oralidade, para a força da honra da palavra, para os sustos que nos acometem ante as pragas e com todo o universo simbólico que envolve os nomes, as palavras e sua carga imaginária e simbólica.
E eu, ontem, reproduzi um fragmento de Clarice Lispector, enfocando Lóri, a personagem principal do Livro dos Prazeres.
Saí - fui a um show dos meus amigos, contemporâneos de universidade, colegas do meu curso de História - desafiando uma certa indisposição de corpo e de espírito a que a crise de rinite me inclinava.
Cheguei lá e supreendentemente encontrei vários amigos meus.
Show marcado para as 20h30min, numa cidade cuja vida noturna dançante começa à meia-noite, é um desafio ao hábito. Cheguei lá perto das 22h e não havia começado ainda a festa, o que favoreceu estar com os meus vários nichos.
Quando eu estava me ambientando com o show do DJ, veio uma moça me perguntar se poderia falar comigo um instante. Eu disse que sim, mas foi engraçado ela dizendo:
- Oi, tudo bem? você não se lembra mais de mim...eu era vizinha do seu namorado!
Claro, pausa dramática: Qual? mas, como eu tive poucos namoros porque foram sempre looooonguíssimos, de cara acertei qual seria: o que durou 06 anos!dito e feito!
Então eu olhei muito para ela e falei: "-Ah, Lóri!".
E daí foi uma festa, comemoramos muito este reencontro e a permanência do carinho apesar da distância.
Ela me dizia:" eu era muito pequenininha quando você namorava ele, você lembra?"
Lóri tinha 10 anos quando eu namorava Ele - eu tinha acabado de entrar na universidade.
Achei uma linda coincidência.
E ficamos comemorando e atualizando vários anos de ausências - ela agora aos 23 anos, se formando em Farmácia.
Lóri: a mesma carinha da criança sobrevive na moça adulta, plenamente reconhecível e adorável.
A festa foi boa.
Tem um lado muito engraçado em estar com os amigos dos tempos de universidade - e isso se agrava no caso daqui da UEFS porque ela comporta vários cursos num mesmo campus - que é o contato das graduações.
Era uma festa majoritariamente dos egressos de História e das novas gerações do curso, mas aquelas caras e aqueles caras de Administração, de Geografia e de Economia estavam lá.
Quando eu excomunguei, reclamando do cheiro ruim da maconha, os meninos de minha turma ficaram lá, dizendo se eu nunca iria mudar isso e os velhos blablablás sobre a minha caretice, que por sinal eles adoram, mas eu olhava para A., hoje agente da Polícia Civil, e não precisava dizer nada: "Eu sei o que você fez durante a graduação" ou "Eu sei o que vocês fizeram nos saraus do Feira VI"...
Quando eu entrei numa Corporação militar, nos idos de 1997, não faltaram colegas de graduação para me chamar de "representante armada do sistema".
Eu fui a primeira.
Eles vieram depois.
Disciplina e hierarquia.
Policiais, enfim.
Viram que quando se presta um concurso para a Secretaria de Educação do Estado,a expectativa de convocação é uma ilusão que se desfaz rapidinho.
Todo mundo dá aulas de História.
Todo mundo, seja de que área for, completa sua carga horária com as aulas de História.
Todo mundo dá aulas de História, menos o profissional formado em História: lição difícil que a história não conta...mas esta é outra história.
Hoje eles se remexem, querem sair das instituições policiais em que estão, sabem que eu fui subornada, naquela época, pelo emprego público estável, por um PLANSERV e por um décimo terceiro salário.
Neste contexto aí encontrei Miro. Ele acabou de pedir exoneração de sua instituição da Secretaria de Segurança Pública (kkkk!!!ele é o homem que abre todas as portas!) e em menos de um mês deverá se apresentar à FUNAI, no meio da Amazônia.
Era a despedida dele, embora ele diga que volta em alguns meses. Brinquei, com a turma toda, confessando que eu achava Miro um cara super chato.
Porém, num dia, ao entrar na academia que eu frequentava, Miro estava com o quimono aberto. Vi o tórax dele e mudei de opinião. Até hoje eu rio disso.
Miro estava muy borracho no final da festa, mas consciente, alegre, querendo viver a plenitude do momento.
Segundo ele, tínhamos uma história para acabar.
Ai, como eu enrolei este menino! não é enrolação moral ou mentira, é adiar as coisas.
Que fofo!ok, ganhou o beijo!
Dizia a sábia avó de Leila que "cocada que não sai, não vende". Não saí para vender nada...eu quase nem saía, mas adorei a noite, adorei ver Lóri, adorei ainda mais ver, finalmente, os homens bonitos de Feira de Santana - obrigada, Senhor, porque puseste um grande número deles ali, naquela festa.
A festa era o "Atentado ao Tédio", com o Clube de Patifes e os Ramones Cover, lá no Botekim.
Poxa, tinha gente louca, muitos sequelados, galera camisa preta, galera tarja-preta-profissional, mas lindos mauricinhos e boas réplicas dos vocalistas do The Strokes e do Kings of Leon (réplicas mesmo, Tatiana:os mesmos cabelinhos, os olhos, a boca...ai, Jesus!).
Dormi pouco. Cortei os meus cabelos hoje de manhã - eu, que já tive mega-hair, cortei os meus cabelos hoje, num mal humor desgraçado - lembrei de Lília Cabral no filme Divã: "repica!repica!repica!repica!" - eu odeio cabelo repicado, mas não teve jeito, tive que repicar para ir recuperando o corte em fio reto (calma, amigas, está do tamanho do meu cabelo nesta foto aqui do perfil do blog, ok?). Melhor perder os cabelos do que perder a cabeça, não é?
Estou com o coração disparado de apreensão com esta possibilidade de que a celebridade tenha lido meu blog. Putz, onde é que eu vou enfiar a cara amanhã? ilações de minhas amigas terroristas!

sábado, 11 de setembro de 2010

Requiescat in Pace! (descanse em paz!)


"Agora lúcida e calma, Lóri lembrou-se de que lera que os movimentos histéricos de um animal preso tinham como intenção libertar, por meio desses movimentos, a coisa ignorada que o estava prendendo - a ignorância do movimento único, exato e libertador era o que tornava um animal histérico: ele apelava para o descontrole - durante o sábio descontrole de Lóri ela tivera para si mesma agora as vantagens libertadoras vindas de sua vida mais primitiva e animal: apelara histericamente para tantos sentimentos contraditórios e violentos que o sentimento libertador terminara desprendendo-a da rede, na sua ignorância animal ela não sabia sequer como,
estava cansada do esforço de animal libertado"

(Fragmento de Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, de Clarice Lispector, página 15 na edição da Rocco).

Não sei. Não sei porque é assim. É assim.Há coisas que são. E pronto!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Antônio, meu canibal!


Antônio Torres é um escritor que eu admiro, gosto e me deslumbro, especialmente pelas obras Essa terra e Meu querido canibal - ambas extremamente diferentes uma da outra.
Meu querido canibal era meu objeto de pesquisa no doutorado.
Devido às demandas políticas internas do Programa de Pós-Graduação,em suas linhas de pesquisa, troquei de Antônio: Deixei meu querido Antônio Torres e contraí o matrimônio acadêmico com António Lobo Antunes - uma separação traumática, apesar de amar meus dois antônios.
Como é engraçado: a auto-referencialidade lá do Essa Terra traz o Totoin, que nordestinamente seria mais que um Totonho ou que um mal pronunciado Totoín - e eu pensei nos antônios todos: os mais esnobes: Tony; os cult: Tom; os simplórios: Tonho; os íntimos: Toinho.
Ontem foi o aniversário de Antônio Torres e houve um seminário comemorativo ao conjunto de sua obra.
Olhei para ele: 70 anos.
Olhei bem para mim mesma: eu, que não quero viver muito - eu, que temo tanto a existência e seus desdobramentos que canto o meu pavor pela possiblidade de vida eterna, mais eterna é a tortura imaginária por uma vida que nunca se acabe.
Olhei bem para ele e vi que ele deve achar que viver vale a pena, que valeu muito a pena até aqui.
Ele recebeu uma camisa do evento e disse: "Para mim, que disse que Literatura não dá camisa a ninguém, que bom exemplo em contrário" - e riu, e rimos todos nós.
O mestre de cerimônias, Professor Aleilton, frisou os prêmios e o status acadêmico de Antônio Torres, já membro da Academia de Letras e louvou a sua simplicidade.
Vi um homem feliz. Vi Antônio Torres como um homem realmente feliz - que, na verdade, é aquele que teve suas dores, suas angústias, conviveu com elas e hoje as coloca em seus devidos lugares - traduzindo: alcançou uma sabedoria no existir.
Meu querido canibal me encanta pelo rigor da pesquisa, pela construção de um narrador convincente mesmo quando opta por dizer que tudo o quanto ele afirma é presumível. A conquista do leitor já é notável nas primeiras palavras:
Era um índio. E era nos anos 500, do século das grandes navegações - e dos grandes índios.
Quando os brancos, os intrusos no paraíso, deram com os seus costados nestas paragens ignotas, não sabiam que eles existiam há 15 ou 20 mil anos e que eram mais de 5 milhões, dos quais pouco ou nada restaria para contar a história.
Como os índios não dominavam a escrita, deu destino sobre a terra esfumaçou-se em lendas. Se sabemos alguma coisa a respeito deles, é graças aos relatos daqueles mesmos brancos, quase sempre delirantes, pautados pelo exagero e eivados de suspeição, num desvario tresloucado de que não está imune o narrador que voc fala (herdeiro do sangue e fábulas de uns e de outros), ao recorrer às fontes d'antanho, os alfarrábios de um romantismo tardio, para postar-se, de peito aberto, como um extemporâneo neo-romântico exposto às flechadas da história oficial, essa velha dama mui digna, aqui sujeita aos retoques da nossa indignação." (TORRES, 2000, p.09).

Foi paixão à primeira leitura, em meu caso. E fui me afundando na tessitura desse passeio histórico-literário, em que o autor passa sem dever a nenhuma das partes (nem à Literatura, nem à História), mostrando outras faces do que repetimos e aprendemos pela repetição incauta da lição. Com Antônio Torres, é outra história:

"O índio se chamava Cunhambebe.
Comecemos pelo seu nome, que quer dizer “língua que corre rasteira”, em alusão ao seu jeito arrastado de falar, quase gaguejante. Simplificando isto: homem de fala mansa.
Não o imagine apenas um edênico bom selvagem – e nu, ainda por cima, sem nada a lhe cobrir as vergonhas etc. – senhor das selvas e das águas, da caça e da pesca, a viver na era da pedra lascada, em paz com os homens e com a natureza, um ser contemplativo debaixo de milhões de estrelas, e a mirar o céu para adivinhar sinais de tempestade.
Era um guerreiro. (TORRES, 2000, p. 11)

Antônio Torres destoa das versões oficiais, dos estereótipos, da deturpação dos lugares de memória do vencidos e oferece uma outra possibilidade de interpretar povos, épocas, etnias, relatos...
Estive em Niterói e olhei bem para cara da estátua de Araribóia, pensando, lógico na obra de Torres que já estava impregnada em mim.
Araribóia, grande traidor:
"Na Guerra do Cabo frio, os portugueses voltaram a contar com a ajuda de Araribóia - o da estátua em Niterói - , aliado de todas as batalhas" (p.60)
Fico para mim um grande débito moral do índio traidor, o senhor Araribóia,mas, enfim, louvados sejam os quase 12 anos de duração da firmeza da Confederação dos Tamoios, poeque é preciso mostrar que os índios reagiram à violência da Colonização portuguesa.
O que conta é ver o quão festejado foi o fato de que podíamos, ali, discutir a obra na frente do seu autor - fato tão frisado como recente, porque há bem pouco tempo só seria recomendável discutir os autores postumamente. E quem quer morrer para virar teoria?
Antônio Torres, sim, é um grande canibal, devorador de literaturas, de teorias, mandante antropofágico das "contra-versões" hegemônicas e, por isso mesmo ele é o meu querido canibal.
Ganhei um beijo no rosto, que este iluminado senhor me deu, em meio às comemorações do seu aniversário e me senti lisonjeada, flutuante, feliz em vê-lo feliz - e talvez seja que ele nem sonhasse em um dia ser recebido como é pelo mundo a fora, principalmente quando lemos o capítulo: Essa terra me enxota, a prenunciar seu deslocamento nas terras do Junco (Sátiro Dias) e sua errância diaspórica em outras terras, como o Rio de Janeiro, sua terra de morada.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Simplificando


"Você é a pessoa na seca que mais diz "dessa água não beberei" que eu conheço! reclama da seca com água na bica (eu disse Bica!)... arf! enquanto vc não acha os paulistas certos, se diverte com alguns errados, boba.
Só vc pra assisti aula no dia 06.08. eu não iria. Se vc foi, deve ter tido motivos."

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A lição dos cafajestes


Depois digam que um raio não cai duas vezes num mesmo lugar! E quem assistiu ao Curioso caso de Benjamin Button deve ter rido tanto quanto eu com um certo personagem, já velhinho, que a toda hora tinha uma história para contar sobre um raio que o atingiu, em situações diferentes, em datas diferentes, mas ele sobrevivia.
Então, alguns raios costumam cair na minha cabeça. Não estou nem aí: vai que eu seja filha de Yansã?
Mas, sendo ou não sendo, ontem eu perguntei a ele:
- Quando foi mesmo que você me viu no meio daquela multidão?
Ele reticente...
Eu, perseguindo a resposta:
- O que te fez sair correndo atrás de mim?
Ele ainda mais reticente.
Eu, insistente:
- Por que você correu atrás de mim? Por que?
Ele, desviando:
- Ah, eu achei interessante, super interessante...é...sei lá...
Eu, apertando:
- Sério, por que você correu atrás de mim?
Ele, finalmente:
- Poxa,isso me deixa desconfortável, sei lá, vai te desencantar, não sei...
Eu, já antevendo a decepção:
- Pode falar! O que é que tem? o que poderia ser tão terrível? você me seguiu?
Ele, com o coração na mão:
- Ah, droga! não quero responder! não posso responder!
Eu, desesperada de curiosidade:
- Poxa, pode falar! me diz! por favor, me diz!
- Ah, foram sua panturrilhas, suas pernas...e eu não esqueço, seu vestido de bolinhas, suan postura, sua pressa...mas, eu sou de carne e osso: olhei a sua carne!
Eu, contrangida e sem jeito: silêncio!
Ele, se arranjando:
- Eu pensei: "Que outra oportunidade eu teria de encontrar você? Não tinha jeito, eu tinha que correr atrás de você arriscar, não tinha outro jeito...arrisquei, apostei tudo!"
Mas, vejam que eu fico infinitamente lamentando essas coisas com a analista e ela se esforçando para me mostrar que a estrutura psíquica dos homens é outra: qual é esta história de beleza interior! Só se for assim: passa-se a mão na capital, imagina-se o interior; ou, uma vez no interior de uma mulher, beleza!
De cafajeste eu conheço todo tipo.
Tenho um primo cafajeste, super cafajeste. Ele usa aquela música de Léo Jayme como se fosse um hino pessoal:
"Eu sempre estive a fim
E você sabe disso
Eu só quero te comer,
Não quero compromisso".
E todo o impublicável resto da música, com ênfase para: "Sônia, eu já deixei de ser aquele bom rapaz/ Oh, SÔnia, você não imagina do que eu sou capaz..."
Mulher que tem um pingo de juízo aprende sobre os homens com os homens de sua casa: se você vê seu pai trair sua mãe, seu irmão ser cheio de namoradas, seu primo colecionando mulheres e inventando desculpas esfarrapadas para aquelas bobinhas que nem percebem que ele as chamam de "bem", "querida", "amor" e "gatinha" para evitar confundir os nomes, bem, minha amiga, porque você acha que os demais homens serão diferentes desses aí? vai, boba, se achando super especial - pense aí em quantos desses seus parentes do sexo masculino têm duas namoradas, deixando uma em casa perto das dez da noite e partindo para a casa da outra em seguida, justificando seus maus horários a partir dos trabalhos, dos afazeres e outras balelas?
Pois é, mulheres, aprendam!
Mas, voltando ao rapaz de quem falo, olha só, todo o esforço para forjar situações românticas, mil torpedos, telefonemas, palavras, carinhos e demonstrações explícitas de interesse quando, na verdade, o cretino olhou foi para as batatas das minhas pernas.
Eu estudo, eu trabalho, eu me esforço e, na verdade, o que interessa são as batatas das minhas pernas - isso significa que a partir da panturrilha ele fez outras conjecturas.
Então, eu que também sou humana, é claro que me entusiasmo pelo exterior. Eu já admiti: a beleza me hipnotiza, me domina - o meu inconsciente sempre vai para Thales quando eu falo em beleza, porque, não tem jeito, ele me domina por aquela beleza, por aqueles olhos cor de violeta, pela altura, pelos cabelos tão gostosos de tocar, pelas mãos macias... - mas nada funcionaria se ele não fosse tão cavalheiro.
Seguindo a teoria do Carcará, que por sinal, passou ontem no GNT no documentário sobre Maria Bethânia, numa interpretação tão forte(Maria Bethânia cantando o Carcará me deixa menos impactada por minhas decisões de tentar vencer os laços morais em que me envolvo para me proteger), lá vou eu em minhas tentativas.
Não acho que esse rapaz vá para o segundo turno, não. Para ser exata e bem franca: ele realmente não vai para os segundo turno!
Estou muito tendente à celebridade. Para ser sincera os dois outros candidatos têm e sempre tiveram chances bem maiores que este aí da pauta (que é gato, mas é baixinho). Meu caso é insegurança: tanto o Menino-Deus quanto a Celebridade são super assediados.
A Celebridade não é um homem bonito: ele é poderoso e charmoso, de uma beleza discreta que se completa no cavalheirismo, na delicadeza com que ele fala com a gente, na personalidade com que ele se veste e escolhe o perfume...poxa, um homem completo, nos seus 35 anos! mas deve ter os defeitos e os problemas de todas as pessoas que têm fama e poder, tanto assim que ele nunca diz o nome dele quando indagado, ele diz o nome artístico.
O nome real dele está na formalidade das listas e dos documentos - ah, que engraçado, encontrei o nome dele antecedendo o meu numa certa publicação acadêmica. Brinquei,por dentro, ao pensar coisas e fazer trocadilhos previsíveis e erotizados...
Temo descobrir que ele é nojento e esnobe. Será? sei que adoro quando ele senta ao meu lado e fico escrutinando o estado civil dele, exatamente como ele faz comigo - aleluia, somos solteiros!
O Menino-Deus é um problema: lindo! eu não sei dizer mais nada além disso: lindo! e sabe cuidar de mim!
O Menino-Deus tem 27 anos, graças a Deus!e tem uma força muito além do que qualquer força física, mas ao mesmo tempo é dócil e doce, sedutor, alto, atlético, de cabelos pretos e macios, uns olhos lindos, uma boca linda, simétrica, convidativa , enfim, uma boca linda como todo o resto.
Essa, entretanto, não é uma opinião isolada.
Brinco de eleger alguém, mas o caso é todo contrário...com tanta gente atrás deles, posso ser apenas um apêndice do narcisismo dos dois - dos três, mas é que no primeiro caso eu sei que só dependia de mim dar a palavra final e declarar.
Não sei quanto eu aguentaria ver o assédio de todas elas sobre eles.
Vejo a situação das minhas amigas, desesperadas de ciúmes e inseguranças...e vejo os meus amigos mais confiáveis, aqueles mais acima de qualquer suspeita escorregando sorrateiramente em camas e lábios de outras mulheres.
Sou covarde para estas coisas.
Vejo que gosto de curtir a espera, que um relacionamento é sempre um grande investimento emocional que eu suponho não estar preparada - ah, mentira! mentira deslavada! o caso é que eu gostaria de ficar Carcará um pouquinho, de curtir a diversidade e ficar avulsa por um tempo...é tão gostosa essa fase da conquista, do flerte - se bem que eu ficaria, sim, um bom tempo com o Menino-Deus ou com a Celebridade.
Por mais que pareça cinismo, não tenho ninguém: nenhum deles é meu namorado, meu marido, ficante, HDM ou P.A., nada mesmo! uma situação dessas, se for dentro de um programa televisivo, não tem nada demais. Já na vida real,corre-se o risco de ser taxado de degeneração moral, galinhagem, periguetagem ou afins.
Mas, voltemos aos raios: o raio caiu de novo sobre a minha cabeça. E eu fiquei elétrica!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Os inimigos dos meus amigos


Não é todo dia que você está a fim de discutir os grandes temas da humanidade, ou a fim de destilar seus deslumbramentos teóricos, arrotar seus títulos e trocar idéias sobre A crítica da razão pura. Em meu caso, então, que nunca li este livro...
Já li outros, claro, e estou é ironizando porque assisto bastante bestificada à construção das personas intelectualis, aqueles que nunca se permitem brincar, que têm que estar vigilantes para serem levados a sério, para provar que sabem, para não serem tratados de qualquer forma, para parecerem acima do bem e do mal e, claro, super-mega-maxi-plus inteligentes.
Sigo dizendo que competência e inteligência, sem a devida oportunidade, não prestam para nada.
Quem de nós não conhece os medíocres que têm o sobrenome certo, puxam o saco da pessoa certa, negociam favores sexuais ou fazem trocas de favores em geral e se dão bem? em alguns casos a gente também assiste ao grande monstro a se criar, aqueles que desde cedo cavam suas oportunidades - vá, agora, aonde sua sagacidade lhe levar. Eu fico por aqui!
Também outro ponto que não tem nada a ver com o anterior, mas que chama minha atenção é que noto uma certa impaciência nos homens quando as mulheres estão em reunião, conversando, e eles se comportam com ciúmes ou coisa parecida.
Nosso cotidiando é tão bestinha, tão comum, com dores comuns, com coisas comuns...então o que nos tornam sobre-comuns, o que particulariza a gente é o nosso modo próprio de ver e de viver as nossas banalidades.
Das minhas últimas conversas com as meninas, no maior papo-calcinha, a gente estava vendo o quanto certos grupos de amigos se tornam verdadeiras corporações, confrarias e ordenamentos. Também neste rol estão as atitudes de condenar ao ostracismo os desafetos.
Vamos lá: inimigo é inimigo. Eu me aliaria a um inimigo por uma causa comum, tipo: se trabalhando no mesmo lugar, tivermos que cumprir certa tarefa, farei tudo numa boa.
Ah, não gosto de ser injusta com os meus inimigos e isso é, para mim, uma questão de respeito. Se a pessoa é competente, deve ser reconhecida como tal, ainda que eu deteste meu inimgo, não posso distorcer a figura dele - aí já seria mau caratismo meu.
Mas nos deixou intrigadas o fato de que se X fica de mal de Z, a parte do alfabeto que é amiga de X é convocada a hostilizar Z, independentemente disso fazer sentido.
Somos tendentes a tomar o partido dos nossos amigos. Isso é mais que óbvio. Mas, se a experiência de X com Z é uma, totalmente diferente da minha, se não tenho motivos para ficar de mal com o Inimigo do meu Amigo, como posso agir em favor dos interesses alheios a mim? e das brigas alheias a mim?
Situações há em que a gravidade dos motivos da ruptura nas relações é algo mais universal e, assim, tudo bem, há pelo menos um pretexto, um argumento racional para ficar de mal das pessoas.
Usei esse "ficar de mal", tão infantil, porque acho que é uma maneira infantil você cortar relações sem oferecer chances de defesa, de diálogo ou de esclarecimentos sobre o fim da amizade.
A outra parte fica fazendo conjecturas e a pessoa que cortou os laços às vezes nem tem certeza, nem indícios da veracidade de suas impressões ou das versões que a ela chegaram. Eu, pelo menos, não costumo confundir e acho ridículo hostilizar os inimigos dos amigos, principalmente quando o motivo real das hostilidades são disputas amorosas, rivalidades políticas ou antipatias recíprocas.
Tem gente de que a gente pega mesmo uma aversão, uma antipatia, mas daí a construir narrativas e comentários que não têm nada a ver a não ser meus maus sentimentos em relação à outra pessoa, Deus me livre! Acho um golpe baixo.
Homens, sim, são confrarias: nem mesmo cortando os laços de amizade eles derramam o segredos uns dos outros.
Mulher, se de sua confidente passou a ser sua inimiga, se prepara porque seus segredos estarão nas manchetes de jornal no dia seguinte, você será execrado (a) e hostilizado (a) imediatamente. Prepare-se para o pior: a cerimônia da vingança, as ameaças de que se H convidar Z para quela festa, X, não vai comparecer.
Não divido mesas com meus inimigos, exceto, claro, se num contexto todo forçado e artificializado por coisas de grupo, trabalho, tarefas e afins; e pouco me interessa a vida particular de meu inimigo - que se dane! ou que se glorifique, sei lá, tanto faz, não vivo em função deles.
Indo a Gilberto Gil e ao slogan da ONG SOS Racism, remonto a Touche pas à mon pote, não para dizer apenas que deixem meu amigo em paz, mas principalmente, minha querida gente ignorante, respeite o seu inimigo!
E olhem bem até onde o comportamento desleal para com o seu inimigo, ou aqueles que julgamos inimigos, em geral, levou a humanidade (no caso, os fundadores desta ONG que inspira Gilberto Gil, são os imigrantes que sofrem discriminação no territótio francês).
Pense as coisas em proporções maiores - e olha que sou eu, uma pessoa vingativa e de ódios assumidos quem está afirmando o dever de respeito com os inimigos.
Gilberto Gil - Touche pas à mon pote

Touche pas à mon pote
Ça veut dire quoi?
Ça veut dire peut être
Que l’Être qui habite chez lui
C’est le même qui habite chez toi

Touche pas à mon pote
Ça veut dire quoi?
Ça veut dire que l’Être
Qui a fait Jean-Paul Sartre penser
Fait jouer Yannik Noah

Touche pas à mon pote

Il faut pas oublier que la France
A déjà eu la chance
De s’imposer sur la terre
Par la guerre
Les temps passés ont passé
Maintenant nous venons ici
Chercher les bras d’une mère
Bonne mère

Touche pas à mon pote

Touche pas à mon pote
Ça veut dire quoi?
Ça veut dire peut être
Que l’Être qui habite chez lui
C’est le même qui habite chez toi

Touche pas à mon pote
Ça veut dire quoi?
Ça veut dire que l’être
Qui a fait Jean-Paul Sartre penser
Fait jouer Yannik Noah

Il fait chanter Charles Aznavour
Il fait filmer Jean-Luc Goddard
Il fait jolie Brigitte Bardot
Il fait petit le plus grand Français
Et fait plus grand le petit Chinois

Numa tradução aproximada:
Deixe meu amigo em paz (ou, "não toque no meu companheiro")
Você sabe o que isso quer dizer?
Quer dizer que talvez
O Ser que existe dentro dele
Seja o mesmo Ser que existe dentro de você

E estes primeiros versos da música são o bastante para que a gente note que por mais que a gente odeie ao nosso inimgo, ele é tão humano quanto nós e nós somos matérias de um mesmo barro, odiando, muitas vezes, aqueles nos quais se escondem defeitos semelhantes aos nossos.
Nada muda para mim: "Aos amigos, tudo. Aos inimigos, a Justiça". E se a justiça não vier, estaremos envidando esforços em construir nossa vingança, nossa justa e limpa vingança.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Tem remédio? Parte II: Fitoterapia


Sim, com crise de rinite e tudo fui assistir à aula, numa UFBA semi-deserta, com cheiro de tinta exalando em todos os corredores,com uma bruta inveja de quem está em casa descansando, com uma baita de uma indignação porque só chove, em Salvador e em Feira, só chove!
O sósia de Otto apareceu para a aula hoje, mas minha celebridade favorita não compareceu. Ah, que pena!
Não, gente, o sósia de Otto é um doido, tarado, descontrolado - estava olhando tanto para mim que o professor teve que perguntar afirmando se ele estava vendendo a alma ao diabo - e esse é um código da nossa turma para indicar os deslizes e afins.
Por mais que eu me transforme em carcará, daquela "águia" não beberei.
Estou atenuando esta narrativa porque na aula de hoje aconteceram tantas coisas que meu superego não me deixaria contar...
Mas, aí vem a pior, a que me faz rogar aos deuses da Farmacopéia: por favor, inventem um remédio desses para mim, é fitoterápico: um Chá de sumiço!
Veja: minha coleguinha de classe estava estranhamente amistosa, com familiaridades, com certa intimidade, trocando e complementando opiniões comigo...lá para o meio da tarde vem a pergunta-afirmativa: "Você estava na Groove sábado, não estava?". E eu, desesperadamente disse: "Sim, estava. Por que? o que foi exatamente que você viu?" e ri meu riso constrangido.
Ah, caramba! uma testemunha.
Eu, que cometo crimes perfeitos no anonimato da vida urbana da Cidade Grande, caindo nas ciladas que eu já vi muita gente cair...
Bom, eu disse não tê-la visto e se vi, não reconheci...
E ela me olhando como que houvesse me dessacralizado. Eu e meu comportamento de boa moça, quieta, compenetrada - não, na sala eu sou quietinha e aplicada, umm poço de normalidade...não é como aqui, que encarno a louquética...
O que será que ela viu?
O problema não é o que eu tinha a esconder - afinal, fiquei com um idiota, mas não dava para saber que ele era um idiota. Não tenho namorado e não sou casada com ninguém, o que já livra a minha barra.
Mas vai que ela deduziu que eu fiquei com aquele povo todo (Com o Harry Potter, com o lindo bêbado - ah, gente, lindo atrás de mim só se for bêbado - com o babaca e etc)?
Vai que ela construa outras narrativas porque viu ( e isso ela deve ter visto) que eu dancei a festa inteira e, então, pense que de perto ninguém é normal e que minha anormalidade é álcool?
Quero um chá de sumiço!
Indicações: Diante de situações embaraçosas,desejo e necessidade de desaparecer, vontade de estar transparente, ressacas morais, constrangimentos, dissimulações em geral.
Modo de preparo: infusão
Posologia: um copo duplo,a cada 03 horas, por três dias seguidos.
Alguém prepara um para mim?

Por um instante


E você me pergunta como eu estou.
Está pensando que eu vou revidar à formalidade e dizer: "Tudo bem!"?
Ah, não!
Estou em crise de rinite, estou tentando implementar essa tão necessária fase carcará para viver todo o potencial de auto-afirmação que as circunstâncias puderem me dar, estou protelando não sei por que aquelas duas coisas que são urgentes e necessárias, estou indecisa no plano afetivo, estou tentando vencer meus preconceitos interiores, estou tentanto experimentar coisas diferentes, estou tentando ouvir minha analista, estou tentando ouvir Tatiana, estou meio surpresa com algumas coisas, estou tentando vencer a quarta parede que pus no meu interior, estou tentando aceitar as coisas que eu nego, mas, ao fim, estou bem melhor assim, não estou de mal de mim mesma, acho que está tudo bem...
Como dizem que uma imagem vale mais que mil palavras, olha a foto!(kkk!!!comendo o pão que...amassou!)
Que foto, que nada: "Páginas de um livro bom!".

domingo, 5 de setembro de 2010

Tem remédio?


Tenho uma paixão louca pelos Beatles.
Quando vi no anúncio da Groove que neste sábado, dia 04, ia ter uma noite de Beatlemania, a compulsão veio logo, bateu forte, bateu precisa e com voz decisiva: eu vou!
Não racionalizo essa paixão - sim, isso desconstruiria tudo porque eu iria ver que as letras são bobinhas, que os acordes são repetitivos e que essa música nem é da minha geração (ah, atravessa gerações, my friend!)- diga a um apaixonado que as coisas não são como ele construiu!
Diga a um apaixonado todos os defeitos, as falhas, as insuficiências do seu objeto amoroso! Não dá em nada: a paixão cega - e olha que às vezes cega tanto que a gente chega a achar que é plena ou proporcionalmente correspondido.
Fiquei surpresa por gente super-bem-mais-nova que eu saber todas as letras, se deslumbrar, participar...poxa, foi uma delícia mesmo!uma coisa é ouvir o CD em casa, trancar tudo, dançar, relembrar coisas...mas a força da música ao vivo, quando o cover é bem feito, putz, é incomparável!
Rodrigo Jatobá: Nunca mais vou esquecer esse nome. Bem, nem o nome nem a cara dele, nem ele todinho, porque vai ser lindo assim na casa do careca!vocalista gato e competente. Mas, como nem tudo é como os sonhos ditam, a aliança de sei lá o que (não, gente, eu não sei quando é noivo, quando é casado...eu só sei que alianças me afugentam)reluzia, gigantesca, grossa, brilhante no dedo anular.
Mas, enfim, eu nunca tinha ido à Groove - ensaiava de ir, mas o povo com quem fico em Salvador é sempre o mesmo povo mumificado, que come gordura e se acaba de álcool, não tem fogo no espírito para ir dançar, para se mexer.
Tenho medo de ficar de bobeira na Barra, embora tenha a familiaridade do tempo em que morei por lá - por isso mesmo, sei o que aguarda os incautos nos becos (gente querendo te empurrar todo tipo de droga e drogados armando extorsões). Então, fui direto de táxi para a festa. Ando só e ando muito segura porque se perguntam se eu estou sozinha, geralmente respondo que não, porque estou com todo mundo ali na festa. Se, entretanto, me perguntam com quem eu estou, a depender do interlocutor, dou outras respostas ou admito que não estou em companhia de ninguém em especial.
Sempre que saio para festas assim, ao longe (ultimamente tem sido para qualquer tipo de festa)me dá a maior culpa porque penso nos textos inacabados e no que ficou à espera da leitura. Mas, os Beatles são os Beatles e tem gente que faz pior só para ouvir um Balaquebaque de Ivete Sangalo, se é que esta riquíssima música se escreve desse jeito.
Quase fico com Harry Potter.
De novo, todo mundo lá era baixinho, igual ao resto do mundo, cujo contingente masculino resolveu encolher, pelo que vejo. Parecia que todos tinham até um metro e sessenta. Não mais, independente de idade.
Depois de Harry, que eu não fiquei por pura vergonha (tá bom, ele devia ter 1,70, mas era a cara de Harry Potter, se chamava Maurício e era mauricinho e criança), conheci um babaca. Uau, babaca padrão. E babaca que é babaca demora uns 05 minutos para revelar a sua identidade secreta (de Super Babaca).
Eu estava indo ao bar, pegar uma água. Ele me interceptou, pegou em minha mão - eu fui cordial e evasiva, saindo, seguindo meu caminho, atravessando para a parte vazia do bar.
Ele gritou a minha água por mim. Ele lançou o cartão de consumo dele sobre o meu, para que a despesa ficasse por conta dele - e eu, constrangida, agradeci, disse não ser necessário, mas a miserável da garçonete pôs no cartão dele.
Bom,lá vem ele: "Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha...", como disse a Teresinha do Chico Buarque.
Como eu não estava à venda e após uns minutos de exposição à babaquice do sujeito eu realmente me impacientei (foram 05 minutos em que ele disse que morava em Feira, se arrependeu, disse que morava em Salvador, disse ter estado em São Paulo ainda naquele dia, blablablá e, por seu turno, ter também se tocado de que, de fato, ele não me impressionaria...ah, infinitos minutos), educadamente eu disse tchau. E voltei para a pista, fui dançar.
Aí é que vem o poder da ciência: porque inventam tantas drogas, tantas cirurgias, tantas intervenções,tantos procedimentos, mas ninguém inventa uma porcaria de um remédio para que as pessoas esqueçam as mancadas da noite anterior?
Tinha um fofo, lindo, maravilhoso, me dando a maior bola, dançando comigo, mas aí "muy boracho!" e eu odeio bêbado. Só penso nas consequências. Dispensei o gato - e era gato, não era qualquer coisa, não, mas ele já estava perdendo o senso, na fase 03 da bebedeira (tem escala aí? depois eu posto aqui, tá? acho que amanhã eu posto aqui, caso alguém não saiba as escalas da bebedeira). Para todo efeito, se o cara está no estágio 03, ou vai acabar no choro, no riso ou no chão. Estou fora.
Só para não perder a oportunidade: "O segundo me chegou como quem chega do bar/Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar/Indagou o meu passado e cheirou minha comida/Vasculhou minha gaveta, me chamava de perdida" - só para esclarecer, ele não me chamou de perdida (putz, nem sei se ele conseguia falar, balbuciar qualquer coisa) e foi o terceiro, não o segundo, tá? é que para tudo eu meto uma trilha sonora. Neste caso, é que a letra tem tudo a ver.
Comecinho da madrugada, a hora da besta chegando, fui dançar num escondidinho no fundo da boate, porque tinha mais espaço. Pronto! vem tudo que eu queria esquecer: é, eu peguei um idiota! Ah, Lascaux! Lascaux geral, mademoiselle!
Menino chato, da boca gostosa: Léo. Às duas da manhã como é que eu resolvo esse paradoxo?
Mãos perigosas, comportamento exibicionista, mas enfim, se alguma coisa me interessa eu fico. Fiquei. Só que me enchi e daí a desgrudar estava um trabalho só.
Para a minha sorte, uma horda de Babacantropus Erectus de Neanderthal começou a brigar.
Briga em lugar chique é abafadinha rapidinho - eu só vi a coisa ficar feia e os seguranças se multiplicando...os primitivos trogloditas cairam na porrada.
Aproveitei a deixa, mas o peste do menino não me deixou.
Enfim, na minha terceira fuga o menino se tocou de que eu cansei - que porre!
Mas, então, quero que alguém trate de lançar este remédio para o esquecimento.
INDICAÇÕES: ressaca moral, micos, saias-justas, embaraços, gafes, crises amorosas, relações conturbadas, paixões por pessoas erradas, faltas morais graves, deslizes sexuais e situaçõe similares.
POSOLOGIA: 2 drágeas, a cada hora, por 48 horas seguidas, no mínimo.
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: Bom, pode ser consumido com álcool, para potencialiar o efeito do esquecimento.
REAÇÕES ADVERSAS: Você vai esquecer as reações adversas mesmo, nem vale dizer quais seriam elas.
Bem, eu precisaria de pelo menos uma caixa com cem comprimidos de 300mg.
Eu estou é com dor de cabeça, parecendo um gato de pensão, jogada no sofá e sonolenta, com um sono que nunca avança para o dormir mesmo, nem após a festa eu dormi direito, não mais que 04 horas de sono... amanhã eu tenho aula, em pleno feriadão eu tenho aula! eu fico passada com isso! eu tenho aula num dia em que há outra festa boa na Groove, nesta segunda-feira pré-feriado de Independência.
Aula mesmo: até às 18 horas e 10 minutos, com engarrafamento posterior e rodoviária lotada, caso eu queria voltar para Feira. Está aí mais uma coisa que não tem remédio.