Louquética

Incontinência verbal

sábado, 30 de outubro de 2010

Relatório diário


Vou fazer a coisa mais chatas de todas as coisas.
Na verdade, se um namorado meu quiser me irritar de verdade, me pergunte como foi o meu dia!
Tenho que responder sempre a eles como foi o meu dia ou o que foi que eu fiz durante o dia, o que dá na mesma!
Que tal se eu dissesse como eu gostaria que tivesse sido o meu dia? nem preciso dizer: a imagem do post diz por mim - eis o que eu queria ter feito o dia inteiro!
Poxa! quer dizer, porra,eu odeio responder isso! que negócio mais chato, mais vago, mais invasivo, sei lá...
Bem, então, vamos cumprir o ritual e responder como foi o meu dia!
Hoje foi um dia bem atípico: depois de um longo período dormindo mal, finalmente notei que não estou acordando porque "uma mosca caiu no chão", como sempre me acontece. Qualquer sussurro me acorda!
O menor barulho me assanha o espírito e eu acordo - acordo excomungando a humanidade, degradando moralmente os vizinhos barulhentos, questionando a conduta da mãe de quem fez barulho e querendo enforcar os cachorros estereofônicos, sejam eles os meus ou os dos outros.
Estava eu quase dormindo, perto da meia-noite de ontem para hoje, quando meu ex me ligou porque chegou à conclusão de que eu sou a mulher ideal para ele. Eu bem poderia dormir sem essa!
Quando eu estava no auge do meu sono, sonhando com quem realmente me interessa (C., naturalmente), pontualmente à 1:49 o filho da puta do meu ex me ligou para me pedir em casamento. E eu fiquei a questionar porque, Senhor, vendem tanta bebida alcoólica a um só ser humano? e por que, finalmente, a bebedeira não poderia ser durante o dia? ainda assim, engatei um sono bom, abençoadíssimo por Morfeu e eu nem dei bola para barulho algum, nem para o burburinho matinal de minha rua em dia de feira.
Preguiçosamente me levantei, apareci na academia às 10 da manhã. Eu, que odeio acordar cedo, que odeio qualquer atividade de manhã, fui lá. E que bom que eu fui! me fez bem!
Mas aí, quando eu estava saindo está lá o Menino-Deus, me chamando para Itacaré, ele, todo lindo; ele, obra máxima de Deus - eu só não entendo porque as tentações vagam em meu caminho...deve ser para eu ceder logo e acabar com a tensão.
Meu coração está amarrado, estacionado, trancanfiado...mas eu sei que as correntes se esticaram um pouquinho na direção do Menino-Deus - um dia eu perco a cabeça...e a vergonha na cara!
Almocei maravilhosamente bem, enfim!
Quando eu estava no descanso do meu lar, assistindo ao último filme da trilogia das cores, A fraternidade é vermelha, eis que rolam Perturbações, parte II: um outro ex (neste caso, um Ex-comungado mesmo!) chegou à conclusão de que deveria me convidar para sair. Dentro de mim eu pensei que Deus deveria fazer um recall para os anjos da guarda que Ele designa para a gente. Não é possível!
Na primeira ligação eu havia dormido no sofá, de tarde, com filme e com tudo, superando o barulho de novo!
E lá vem o cara me contando que está de mudança! papo mais esquisito, porque eu contabilizei umas 03 ou 04 mudanças dele neste ano.
Ele diz que se muda por causa da vizinhança - que a violência em Lauro de Freitas bate à porta, e que num dia são uns ciganos e num outro é o povo brigando para comandar bocas de fumo...e dentro de mim eu penso, ironicamente, sobre que tipo de dentista deve tratar as bocas de fumo e o que não estaria verdadeiramente motivando as eternas mudanças daquele sujeito.
Penso que, com estes trastezinhos, eu namorei 03 e 09 anos, respectivamente e que não aturo perder nem mais um minuto com eles. Que despropósito!
Depois de uma dessas, finalmente meu primo preferido e resfriado me liga para me dizer porcarias e encher o meu saco; e em seguida vêm minhas amigas sonhando com piscina amanhã, nesta nossa chuvosa cidade. Digo que sim, mas aposto que a chuva vai descer e o sol só voltará perto das 14 horas.
Ao desligar o telefone penso em xingar todas elas, especialmente Léa, por não me acompanhar à festa de daqui a pouco no Kabanas...elas ligam de novo, reclamando por que eu não chamo mais para festa alguma.
Passo então a duvidar da inteligência das minhas amigas: Ora, não chamo porque a resposta é sempre a mesma. E se a resposta for diferente, o resultado será igual e na hora H vão desistir de sair.
Há quem veja necessidade de um relatório desses.
Se fosse o ex-grande Amor da Minha Vida, iria perguntar o que eu estava fazendo às X horas, o que foi que eu comi, o que foi que eu omiti, que meios de transporte eu usei e uma lista de detalhes irritantes.
Esse negócio de namorar gente de outra cidade é coisa de louco, gera uma vigilância besta, uns telefonemas desnecessários, um desgaste imbecil, umas perguntas disparatadas, umas exigências de relatórios...
Fidelidade é pacto difícil, eu sei. Não confiamos em homens, não é, garotas? mas pelo jeito a recíproca é verdadeira.
Sorte a minha que C. não grila com ex-namorados: ele mesmo diz, "Eu sei que se você quisesse algum deles, eles não seriam seus ex. Não permito que essas coisas transtornem nossa relação" - e eu fico toda Florbela Espanca, pensando "E olhos postos em ti, digo de rastros/podem voar mundos, correr astros,/que tu és como um deus,/princípio e fim!"...como é que eu não me apaixono por este deus?

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Meu reino


Minha alegria é velha, é boba e é repetitiva: a alegria de chegar em casa!
Nestes meus três anos e alguns meses indo para Xique-Xique, graças a Deus, nunca houve nenhum momento em que eu precisasse dizer que era bom estar ali, que era melhor estar ali a estar em minha casa.
Há os que têm infernos domésticos, problemas variados e que só saem quando estão lá em Xique-Xique, só conversam e convivem com outras pessoas quando estão lá e, vez por outra, preferem estar lá a estarem em suas próprias casas, em suas cidades de residência. Eu, ainda bem, comemoro minha chegada como uma criança boba pode comemorar o brinquedo recebido. A isto, sim, dou muitas graças a Deus: Obrigada, Senhor, por eu estar em minha casa!
Obrigada, meu Deus, por cada feriado que me permitiu estar em casa!
Estou aqui, atolada em trabalhos e eles se multiplicam como coelhos: tenho uma disciplina no doutorado, mas dois professores dividem esta disciplina e para cada um, um trabalho diferente a fazer.
Aí tem os Congressos e eventos em que me inscrevo e para os quais tem que ter um resumo aqui, uma comunicação acolá...tem as leituras da própria pesquisa, tem as leituras que tenho que fazer para me atualizar na profissão...nem sei como eu vou conseguir sair amanhã à noite para dançar, mas vou sair, sim!
Minha alegria é boba no amor, também: é a felicidade que ele me dá em tão poucas palavras, na ansiedade da espera, na saudade gostosa e contida daquela criaturinha tão especial para mim, na forma reticente e meticulosa como ele fala, com medo de ser mal interpretado...
Andei pensando neste ano em que estamos: aprendi com Cléo que é bom fazer planos, é bom escrever uma lista com o que você pretende fazer num ano. Então vi que entrei na academia e continuei nela, vi o que pretendia e realizei e vi o que ainda me devo.
Vi, com um tremendo espanto, outra coisa: todas as vezes em que terminei um relacionamento de quaquer ordem, radicalizei, cortei o contato, não permiti retrocessos.
Vi que também amizades sadomasoquistas não me servem - melhor manter o contato zero, nem sempre é necessário verbalizar o fim da amizade, afinal meus amigos e ex-amigos não são burros...
Vi que valeu a pena falar da tristeza dele diante do desleixo "dela": ela está arrumada, preocupada com o peso,usando batom, usando roupas adequadas e não pijamas ridículos e camisas-de-força compradas na feira.
De algumas relações rompidas eu tenho saudade, mas não valeriam o retrocesso.
De outras coisas, novas surpresas: consegui falar sobre um segredão cabeludíssimo meu com 03 amigos diferentes - isso é sinal de que eu estou quebrando as barreiras morais que eu interiorizei, que eu estou me relacionando bem comigo mesma, que eu aceito os meus atos e as minhas escolhas...nem imaginem o que foi o segredão: é coisa cabeludíssima que polui o pensamento de qualquer um, proibido para menores de 76 anos, nada fora de lei...bem pior que isso (rss!!!).
Minha alegria é boba como a parte final de O apanhador nos campos de centeio, de Salinger, que li por causa do meu amigo Joaquim há mais de dez anos!
Mas o estar em casa me lembra um ditado conhecido e também repetitivo que bem define o que penso do meu lar: "Se não podes ter um castelo, enfeita a tua tenda"! adoro minha tenda, gente! não tem aconchego melhor!
Eu morava em outra casa, na minha infância, quando ouvia esta música abaixo transcrita, um samba, por sinal, mas sabe que eu entendo intimamente esta letra?

Moro onde não mora ninguém
Onde não passa ninguém
Onde não vive ninguém
É lá onde moro
E eu me sinto bem
Moro onde moro ....

Não tem bloco na rua
Não tem carnaval
Mas não saio de lá
Meu passarinho me canta a mais linda
Cantiga que há
Coisa linda vem do lado de lá
Coisa linda vem do lado de lá
Moro onde moro ... (eu também moro...)

Uma casinha branca
No alto da serra
Um coqueiro do lado
Um cachorro magro amarrado
Um fogão de lenha, todo enfumaçado
É lá onde moro
Aonde não passa ninguém
É lá que eu vivo sem guerra
É lá que eu me sinto bem

(Agepê - Moro Onde Não Mora Ninguem)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Amor em estado crítico


Eu olho para o tempo e penso mesmo que ele não é nada em relação ao que sobrou de mim após aquele Grande Amor.
E tudo pode ser bonito,como dizem; e dizem que valeu a pena, e eu digo que não consigo, até hoje, avaliar nada, pensar direito em nada porque de tudo o que eu era não sobrou nem pó.
Eu acordava porque tinha que acordar e vivia cada dia porque assim é que tem que ser e reagia porque senão um surto depressivo poderia me dominar...mas eu vi que não percebi os anos de 2007, nem 2008 e quase nada de 2009. E quem sabe o que é stress pós-traumático sabe muito bem porque estou tão tendente a terminar minha relação incipiente.
O risco da dor é que domina meu superego, ele aprendeu.
Quando eu vi, C já tinha mais importância do que devia, já era como o post transcrito abaixo, um caso infantilizado de amor incauto...e agora meu ciúme acordou e rumina ao lado do dele. Agora eu entendo todas as mulheres verdadeiramentes ciumentas, papel que raramente experimentei.
Até a minha colega se transvestiu de mim, em assombrosa semelhança, e foi lá, tentar um pouco da atenção dele. E o dia inteiro, todos os dias, será isso, serão estas perturbações, serei eu com medo de que , de novo, tudo passe, a relação acabe, e os sentimentos continuem.
Boba, traço planos, pensando em Magna, quando ela colocou um Oceano de distância em relação àquele a quem ela amava , só para não desintegrar...e contabilizo as viagens dele e as minhas, e nossos horários, e minhas negligências, porque ele não sabe porque eu nunca estou na platéia, porque não fui ao evento...Ora, C., porque não aguento tantas mulheres à sua volta, porque tenho ódios constantes contra esse assédio todo e como elas avançam em você, porque uma hora você cede e eu vou experimentar uma tortura absurda.
Fico pensando que eu não quero me desintegrar, também...eu nunca fui feliz no amor, a história sempre acaba mal para mim, o preço é sempre alto...e eu acabei de me levantar de uma relação, nem respirei ainda, nem experimentei a recuperação, o repouso, a convalescença.
E hoje eu gosto dele, amanhã eu amo. E aí? Todos os dias nós construimos histórias, nós trocamos intimidades, nós trilhamos caminhos iguais, juntos ou paralelos, mas de um certo modo, um visualiza o o outro...se caio das nuvens, não há UTI que me acuda!
Não quero ter coragem, quero me manter íntegra, sem arranhões, sem dores...já não pe covardia somente, é medo da dor, é saber que não há anestesia, é saber que dependerei do tempo, se tudo der errado entre nós...tenho vontade de sair, de tomar outra estrada menos arriscada, pelo menos por agora.
Mas, pense em mim como a pessoa que eu sou: em meus ombros ainda há poeira dos restos e dos escombros do edifício da paixão, ainda arrebetam em minha testa as escoriações, eu ainda olho para os hematomas, para cada ferida, eu nem sei andar erguida, direito, depois que a paixão me atropelou - e a dor vem numa música, vem numa coisa qualquer de lembrança, na ameaça da repetição e em tristes dejavù...
Mas é muito difícil renunciar aos desejos, ao que faz tão bem, ao que nos deixa felizes...que preço tem tudo isso!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Fragmentos de um discurso (bobo) amoroso


- Vai mesmo ficar em casa hoje?
- Vou!
- Sabe quanto eu gosto de você?
- ...
- Daqui até à lua!
- Ida e volta?

Moral das histórias...


Ir contra a corrente, registrar uma opinião fora dos modelos padronizados ou simplesmente discordar das unanimidades suspeitas é sempre se pôr em frente a um pelotão de fuzilamento. Por isso é comum a gente sair pela tangente, a fim de não deixar clara nossa opinião verdadeira e passar por isso mas, ao mesmo tempo, evitando o desconforto da mentira.
Assim agem aqueles que nunca declaram nada, os que não expressam sim ou não diante da arguição ou os que traçam um emaranhado discursivo de modo a que a resposta não expressada passe despercebida.
Já andei por estes caminhos, também. Afinal, quem quer ser odiado?
Mas há coisas que o tempo me fez admitir e me fez lutar para que quem perguntou suporte a resposta que, certamente, será contrária às suas aspirações.
Foi assim que eu assumi a minha vontade de não ser mãe.
Foi assim que eu assumi que sou a favor de todos os direitos da mulher, principalmente os que resvalam na sua decisão e na sua liberdade: sou a favor da legalização do aborto, que para mim é questão de saúde pública antes de ser questão moral e, claro, existe, é praticado e todos sabem que sim e nem mesmo as estatísticas conseguem camuflar uma realidade que dizima a saúde e a vida dessas mesmas mulheres.
Isso ainda não é o pior: eu compreendo a mente dos suicidas.
Toco em assuntos que nenhuma religião admite: aborto e suicídio.
Não quero que ninguém morra nem tenho poderes para induzir ou para evitar nada. Reservo-me o direito de ter opinião. Cada um que fique com a sua!
Acredito que a vida exige muito e que muitas são as pessoas que acham que ela não vale a pena.
Tem uns idiotas que dizem que o suicida não ama nem a si mesmo, quanto mais aos outros...mas é o contrário: um suicida se ama tanto que prefere morrer a ter uma vida que não lhe traga satisfação.
Se isso não for pior, talvez se eu disser que julgo que quem rouba para poder comer não merece punição, uma vez que a vida está acima da lei (vide os códigos penais que versam sobre legítima defesa e temas afins)esse caldo engrosse mais. Neste caso, Lei é um negócio tão difícil que não passa à margem da cultura. É por isso que há coisas que são passíveis de punição num país e em outros não.
Tem gente de coração muito bom e humano que é contra a legalização do aborto, mas a favor da pena de morte. Olha, tem gente de todo tipo, né, gente?
Falei dessas coisas porque ainda vejo uma imensa reprodução de valores conservadores, pratriarcais, atuando na vida da gente.
As mães ainda dão uma educação diferente para o filho, libertária;para as meninas, a vigilância sexual e o recato.
Os pais ainda têm muitas amantes e recomendam: "Ter respeito é trair direito"!
Os filhos têm vida dupla, pondo um pé na moral e outro no exercício dos seus verdadeiros desejos, alimentando a hipocrisia social...e assim seguimos.
Eu também sou hipócrita, especialmente com a minha família, mas é por cansaço: é um desgaste arrolar argumentos para expressar uma opinião. Prefiro fingir, aplico a teoria da lagartixa e balanço a cabeça para tudo, aquiescente.
Faço isso com os meus alunos, também , mas não é por mal: levaria uma vida explicar a minha opinião geral ou a minha opinião poderia sugerir uma discordância inconciliável com um colega de trabalho. Faço silêncio.
Aprendi com alguns professores meus que há momentos em que não vale a pena explicar nada: se o cara está achando uma determinada coisa e você já verificou o grau de ignorância da pessoa, deixe para lá.
Se esta pessoa não altera em nada a sua vida e você não depende dela nem da opinião, dela, caia fora, não responda, não explique. A fibra na defesa de um argumento só deve ser mantida se de fato a questão for importante demais para você e a outra parte também for importante.
Aprende-se muito com os populistas. E não há populista que não seja carismático. Mesmo que tenha cara de poucos amigos, todo populista é sensível aos problemas gerais, morde e assopra, administra sua imagem e mesmo sendo um ditador, "sai da vida para entrar na História" como se fosse o Pai dos Pobres, como se representasse Ação, Competência, Moralidade. É a vida! Não suportamos muitas opiniões realistas, nem gente que gosta das coisas às claras: isso faz parte do convívio coletivo.
Patriotismos piratas, amores clandestinos, contrabandos de afetos, opiniões falsificadas, religiosidades artificiais, moralidades questionáveis...ah, vocês sabem que existe.
Quem pode,pode. Quem não pode, relativiza!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Receitas de família


Lembrei de minha tia Creusa, aquela que é astróloga profissional e que me deu a casa em que moro: em primeiro lugar, ela sempre se ocupou dos mapas astrais da família. Era a gente nascendo e entrando na cartografia simbólica dos astros!
Em meu caso, desde criançola eu sei que a Lua é mais determinante que o ascendente: tenho lua em Escorpião - venenoso e lascivo.
Pense numa ariana com ascendente em escorpião? aparentemente é a contradição do doce carneirinho com a víbora peçonhenta mas, é o contrário: um reforça o outro. Meu ascendente é áries mesmo.
Marte, deus da Guerra, reforça o veneno de Escopião, por isso sou plena em meus ódios, entro na guerra para bater, mesmo que o preço seja a minha destruição.
E áries é cabeça: é dominado pela cabeça, gosta de encabeçar as coisas, de mandar, e dá cada cabeçada na vida! olha aí outro extremo: Escorpião é cauda; áries é cabeça: dificilmente áries combinaria com escorpião na vida real, eu suponho.
Mas isso aí é interpretação da minha tia - e posso apostar que quando a gente se encontrar, agora em novembro, lá no Arujá, em São Paulo, aquela bruxinha, já velha, vai me dizer poucas e boas sobre o que ela acredita que ocorreu comigo ou pelos fatos que eu negligenciei.
Ela sabe tudo de Anjos e Arcanjos, sabe a hora de cada um e a oração devida.
É íntima de São Gabriel, afilhada de Santa Teresinha, sabe orações e liturgias católicas aprendidas do convívio com o meu nono, meu bisavô italiano catolicíssimo, Vovô Miguel, tão amado por ela...mas o lado espírita é culpa de outro tio-avô que passou o legado para ela.
E ai de quem duvide! sobraram testemunhas do dia em que o espírito do tio morto, por três vezes apagou e acendeu a luz do quarto do meu primo (no nascimento de meu primo) porque ela dizia que o tio estava ali e todos achavam que era delírio. Então ele riu para todo mundo ouvir, acendeu e apagou a luz e confirmou o delírio coletivo de então!
Entendam: ele não piscou a luz, ele apagou e acendeu com cliques e tudo na tomada. Caso para hospício ou exorcista, sei lá!
Bom, mas eu falei dela porque ela é quente mesmo: já narrei que numa manhã, nessa casa em que moro agora, ela me chamou para a siesta excepcionalmente 11 da manhã - e neste tempo eu tinha 09 ou dez anos.
Passados uns 30 ou 40 minutos ela me acordou, me chamou por meu primeiro nome e disse: "Vamos aqui do lado desenterrar uma coisa!".
Convocou e eu fui. Lá estavam, ainda quente, enterrada sob a goiabeira, uma galinha depenada e umas ervas.
Não sabíamos para quem era nem a que se devia: apenas ela desenterrou e desfez o "pacote".
Minha tia é quente.
A família toda tem histórias dela mexendo com coisas que desafiam o juízo da gente.
Ela me ensinou a não ter medo de fantasmas, mas apenas dos fantasmas de nossa família que, ainda bem, eu nunca vi nenhum. De todos os outros eu tenho medo e quero distância.
Neste dia eu vi que havia ali um pé de majericão.
Minha tia é, até hoje, louca por arte culinária. Olha, é Arte mesmo, não duvidem.
Isso quer dizer de um labor, de uma criatividade, da justaposição e combinação de elementos e condições determinadas.
Ela mexe em doces e em essências e odores, ela articula, ela faz arte na cozinha: é só experimentando para acreditar.
Tem gente que mexe com ervas para coisas de banhos e descarregos. A minha tia, porém, mexia na composição da comida, operando dentro da pessoa uma farmacopéia gastronômica.
Sou como minha tia: sei combinar os negócios e muito disso foi voluntário.
Os temperos agridoces, por exemplo, seguem uma ritualística das proporções e quando se trata de canela e cravo para comidas salgadas, você desperta em quem come o aguçar do olfato, a calma e a atenção.
Açúcar é muito mais eficaz que mel para conferir sabor e para trazer carinho às relações, quando acrescidos nas receitas salgadas.
Mel cozido não serve para nada, praticamente. Mel só cru, in natura, misturado discretamente, para trazer união.
Folha-de-louro não pode ser comida por qualquer um: é folha de implicações, é soberba, é ela quem escolhe quem vai lhe degustar - nem se empolgue pela forma como ela é popular nas feijoadas. A dita "quizila" existe também no consumo das ervas e folhas.
Folha-de-louro queimada é um dos mais poderosos incensos. Mas, cuidado!pode descarregar a casa toda, além do que precisa sair de fato.
Orégano é inofensivo e bom: acalma as funções uterinas e acalma os nervos das mulheres, mas não pode ser queimado, tem a ciência da temperatura.Isso vale para as pizzas, gente - orégano não pode exceder em temperatura.
O mais básico dos temperos, o sal, vai bem em tudo porque com ele se deve lavar as mãos antes de pegar no primeiro tempero ou se você alterna o cozinhar com outra atividade. Cozinhar é exclusividade, é atividade exclusiva.
Então tem um tempero que eu tennho o maior receio de usar e, podem acreditar, é um tempero cheio de poderes: alecrim.
Alecrim não é para qualquer um: seja natural ou desidratado, cuidado! ele é digestivo e delicioso, só que convoca a Verdade.
Prepare-se: pode ser você quem seja induzido a contar a Verdade oculta ou, muito pior, a Verdade pode pular em cima de você e daí você descobre coisas que talvez fossem melhor ser ocultadas.
Coincidentemente, mexi em alecrim e aí a Verdade começou a pipocar. Há uns dias vieram à luz todos os porquês das amizades desfeitas sem explicação aparente, abriram os armários em que se escondiam as pessoas falso-sensíveis que pedem "não diga que fui eu quem contei" e que semeiam a discórdia; as pessoas acima de qualquer suspeita foram sendo desmacaradas uma a uma; os espetáculos de horror dos mais próximos que trocam beijos de Judas e "vésperas de escarro" se evidenciaram numa ciranda perigosa e anti-ética; notamos o sujeito que se desgarrou devido a tais companhias e que se transformou em mais um a troçar dos supostos defeitos da aparência dos outros, percebemos as traições, as pessoas interesseiras de que eu, infelizmente, gosto e por isso me decepciono, e vimos um homem que entrou em disputa por outro homem disputado, enfim, alecrim é erva perigosa. Ou perigosas serão as pessoas? vou perguntar isso à minha tia.

Um lugar para ele


A gente acabou se falando hoje: eu e o ex-Grande Amor da Minha Vida.
De alguma forma, ele ainda espera que eu o ame.
De alguma maneira, ao tempo em que eu fui um adereço para a vaidade dele, ser amado vicia, dá uma idéia de controle, de poder, de superioridade.
Por mais que eu tenha dito e demonstrado ao longo do tempo que o amor se foi, ele espera ainda ter importância para mim.
Então ele me disse que eu estava fria, mais fria do que a manhã chuvosa de hoje. E eu sei lá se desde setembro do ano passado por acaso eu fui calorosa, mas me deu uma vontade de dizer e de admitir que eu estou completamente absorvida por uma outra história, que em mim só há lugar para um Outro Nome, que eu estou muito envolvida, que finalmente eu gosto de outra pessoa...
Então eu desconversei, joguei a conversa em outra direção, não quis admitir nem para mim mesma que eu estou...ah, nem quero usar a palavra, não quis admitir que eu dormi pouco e acordei chamando o Outro Nome, não quis dar a entender que eu estou tão perturbada quanto ele porque somos ocupados e de vez em quando a gente não consegue se falar e que hoje foi um desses dias...
Quis dizer ao ex-Grande Amor da Minha Vida que o único homem que me interessa no momento talvez não perdoe os lapsos da minha ocupação e que interprete como negligência o fato de que eu não compareci ao que ele havia marcado comigo.
Pois é, eu também não havia visto quando o tal Grande Amor passou, demorou para perceber.
Para alguém que ocupou um lugar tão sublime no rol dos meus sentimentos e para alguém que foi plenamente ciente disso, recebendo de mim o tratamento correspondente ao lugar ocupado por ele em minha vida, realmente, dá um imensa diferença se comparado aos dias de hoje.
Se eu dissesse do Outro Nome, C., para quem quer especificidade, ele iria desmoronar, ficar triste, esquisito...e eu talvez nem me importe tanto com isso quanto me importo em não comunicar de minha vida a ele, por agora. Ainda não é natural para mim o que está contecendo.
São abalos sísmicos mesmo que me tiram o chão: assim defino o momento sentimental.
Olho com inveja os amores dos outros: poxa, amores tranquilos! Só eu não tenho, nunca tive um amor tranquilo - e eu aqui com medo de ser feliz e depois me machucar, com medo de pegar mais hematomas narcísicos e, ao mesmo tempo, sendo seduzida por aquelas mãos gostosas que tão suavemente tocam as minhas costas, pelo carinho e pelo cuidado dele por mim, pela voz dele, pelo calor aconchegante do corpo dele...eu não quero que os sentimentos cresçam, não quero perder o controle de mim.
Quando eu o chamava de Celebridade é porque ele é, de fato. E eu sofro muito com isso porque só agora eu entendo mais claramente o que é ser "uma pessoa importante". Não estou falando de dinheiro, não, nem das hierarquias sociais: estou falando do sentido amplo de ser uma pessoa importante, de ter o tempo sempre tomado pelas cobranças da fama e do lugar ocupados, por eu ter que ficar no cantinho esperando o telefonema acabar e vendo a cara dele e os gestos implorando para eu desculpar, para eu esperar, para eu não sair correndo do carro, para eu entender, para eu perdoar, ouvir depois ele dizendo e se explicando porque era impossível não atender .
Outro workaholic.
Eu, embora menos ciumenta, estourando com o assédio não só das outras, como das pessoas em geral...como se nunca pudéssemos estar a sós - e isso piorou nas três últimas semanas.
Ficamos à espera de um tempo que permita que a gente se encontre, de fato, como duas pessoas e só!
Como é que eu poderia falar disso com o ex-Grande Amor da Minha Vida, se ele se pensa Eterno? uma dama nunca deve pisar nos brios de um homem num momento desses - e olha que eu já fiz tantas vezes aquilo que não deve fazer a um homem!
Deixa eu sonhar e dizer de novo: "Eu quero a sorte de um amor tranquilo/com sabor de fruta mordida/nós na batida, no embalo da rede..."
Mas como ter tranquilidade se o meu coração se comporta como se houvesse levado um susto?

terça-feira, 19 de outubro de 2010

From me to you!


Tu, pessoa nefasta
Vê se afasta teu mal
Teu astral que se arrasta tão baixo no chão
Tu, pessoa nefasta
Tens a aura da besta
Essa alma bissexta, essa cara de cão

Reza
Chama pelo teu guia
Ganha fé, sai a pé, vai até a Bahia
Cai aos pés do Senhor do Bonfim
Dobra
Teus joelhos cem vezes
Faz as pazes com os deuses
Carrega contigo uma figa de puro marfim
Pede
Que te façam propícia
Que retirem a cobiça, a preguiça, a malícia
A polícia de cima de ti
Basta
Ver-te em teu mundo interno
Pra sacar teu inferno
Teu inferno é aqui

Pessoa nefasta

Tu, pessoa nefasta
Gasta um dia da vida
Tratando a ferida do teu coração
Tu, pessoa nefasta
Faz o espírito obeso
Correr, perder peso, curar, ficar são

Solta
Com a alma no espaço
Vagarás, vagarás, te tornarás bagaço
Pedaço de tábua no mar
Dia
Após dia boiando
Acabarás perdendo a ansiedade, a saudade
A vontade de ser e de estar
Livre
Das dentadas do mundo
Já não terás, no fundo, desejo profundo
Por nada que não seja bom
Não mais
Que um pedaço de tábua
A boiar sobre as águas
Sem destino nenhum

Pessoa nefasta


Que São Jorge guerreiro te mantenha longe de mim e da minha vida, sempre! e que você saiba que é para você mesma esta mensagem. Não hesite, eu sei o que você disse/fez "no verão passado"...

domingo, 17 de outubro de 2010

Carta para C.


Desculpe-me por te submeter ao meu tempo e ao meu ritmo: é que tem que ser assim, bem lentamente.
Do outro amor, aquele que acabou e ao qual eu designo por Grande Amor da Minha Vida ficou em mim o medo,a parcimônia, um pouco de temor diante de qualquer possibilidade de felicidade.
Tenho os meus vícios e talvez a solidão seja um deles.
Talvez esse desprendimento com a vida, com este nada a me amarrar a lugar nenhum seja o meu maior bem e agora eu pense muito antes de me desfazer dele.
Eu pertenço a mim mesma - não sou de ninguém, sou responsável por mim, respondo por mim e o que isso traz de preocupações e trabalhos não subtrai a minha satisfação em ser livre.
Não concorra com o passado: eu tenho um passado e o passado passou, mas me fez ser como sou, quem eu sou.
Tenha calma!eu nunca tive boas experiências nesse ramo, foram sempre felicidades instantâneas de curtíssima duração, nunca experimentei a "sorte de um amor tranquilo", foram sempre turbulências, foram sempre poderes assimétricos na relação, sempre, sempre...
Eu me vejo em seus defeitos, mas não quero que sejamos iguais, aquieta-te com nossas diferenças, aceita a imprecisão das coisas e elas vão tomando forma por si mesmas. Não bastaria saber que eu penso em você todo tempo? não bastaria notar que sofremos dos mesmos males e das mesmas paixões? não te bastaria saber que entre nossas semelhanças e nossos contrastes, seguimos?
E pode ser que amanhã nem seja isso, nem nada disso. Mas, pelo menos até lá, sossega o teu ciúme.

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate! oh, não se mate,
reserve-se - e todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical,
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.

O amor no escuro, não, no claro
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém
ninguém sabe e ninguém saberá.
(Carlos Drummond Andrade:Não se mate)

Máscaras que o Tempo leva


Eu sempre duvido das minhas dúvidas, dos meus olhos, das minhas desconfianças e das minhas conclusões. Acho que isso é um pouco por ter como amigos algumas pessoas que põem panos quentes em tudo: nada é como eu vejo, é sempre de uma outra forma. Geralmente eu acato, acredito e duvido de mim. Ponto final!
Mas o Tempo, ah, bichinho cruel é o Tempo: passa-se um dia, passa outro e as coisas ora se confirmam, ora se revelam. Nestes casos, melhor ver a máscara do outro cair a ver minha cara quebrar.
E foi assim, sem surpresas e sem espantos, sem a menor reação que eu presenciei as cartas na mesa: todas elas postas por "cartomante" credenciada, poderosa. E sem escamotear: cara a cara, às limpas, todo mundo junto, na crueza das revelações.
O que eu poderia fazer? dizer o que? eu sempre soube. O caso das coisas que todo mundo sabe é que alguém acredita mesmo que até haver testemunhas presenciais não há fatos concretos nem confirmação. De minha parte eu sinto é alívio. Acho que me sinto como aquelas pessoas que dizem que acreditam em discos voadores ou em duendes e, uma vez descredenciadas por afirmar absurdos, eis que de repente, olha aí um disco voador sobrevoando a sua cabeça?olha o duende na sua cozinha ou no seu jardim! Pois é, gente acima de qualquer suspeita quando é surpreendida é um terremoto de decepções.
Interessante que eu me assumo vingativa. Minha vingança não é gratuita: se você acha que há impunidade no mundo eu interpreto isso do modo como interpreto minha necessidade de vingança: não posso deixar impune quem me fere ou me atinge gratuitamente. Quando eu faço por onde, baixo minha cabeça e reconheço, me submeto à vingança ao outro. Mas os santos nossos de cada dia não assumem suas vinganças e são altamente vingativos: a conta-gotas vão destruindo o inimigo, independentemente da justiça de sua vingança. Estes jogam baixo, odeiam os outros gratuitamente, são sempre vítimas inocentes e sensíveis,envenenam em pequenas doses.
Com este contexto lembrei daquela pessoa a que, sendo minha inimiga declarada, por injustiça e escolha dela própria, não me furtei a ajudar num momento crítico.
Na pior das guerras há um cessar-fogo.
No mais baixo dos embates há códigos de guerra e para matar o inimigo você não pode recorrer a certas práticas, há instâncias judiciais específicas para julgar crimes de guerra.
Considerando que inimigo é inimigo, ativei o cessar fogo porque, fora das mediocridades que minam minha porção humana, também é um sentimento humano não se deixar corroer pelas baixezas em certas circunstâncias(neste sentido, eu nunca transferiria uma inimizada por alguém para os parentes dessa pessoa, nunca faria coisas para prejudicar a pessoa, mas concorreria apenas para que a ela fosse devolvido o mal que fora feito a mim).
Ajudei um inimigo, ajuda considerável, custosa para mim. A miserável da pessoa nunca agradeceu.
Certamente, nunca reconheceu que foi agraciada, beneficiada por mim - pelo peso do que fiz, declinando das mágoas para agir em favor dela, no mínimo seria caso de um agradecimento, até porque partiu de um inimigo (eu) a ajuda.
Suponho que se o oposto ocorresse, a pessoa lá me deixaria à mercê dos acontecimentos.
Daquelas coisas que a gente faz em favor dos outros ocultamente, tudo bem: a boa ação para ser boa ação precisa não ser ostensiva.
Fazer caridade, fazer o bem para aparecer bem na fita, para dar publicidade e mostrar aos outros aquela suposta superioridade de espírito é uma coisa bem deplorável, mas é bem fácil de se fazer.
Desses amigos e inimigos a quem ajudei por vários meios, não precisa reconhecimento. Da outra pessoa de quem falo, espero sim.
Como eu falava do Tempo, já parei de odiar os cabelos brancos que ele me traz, os neurônios que ele me leva, a degradação física que ele alimenta em nós, nos envelhecendo: fiz as pazes com o tempo. Não mais por todo dia dizer que quem anda me comendo é o tempo, não mais por esta intimidade que tenho com ele, mas porque realmente o Tempo é o senhor da Verdade. Agora que com o tempo a Verdade apareceu, obrigada, Tempo!
Tempo rei, oh, Tempo rei,
Transformai as velhas formas do viver
Ensinai, pai, o que eu ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo, Socorrei!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Espelho, espelho meu...


Ele me falou meio entristecido: "Ainda mais agora, que ela está largada, desleixada, engordando". E eu tive pena foi dele!
Vi minha amiga, também, uns dias antes, comparecer àquele compromisso vestida com uma roupa que parecia um pijama - e dos de péssimo gosto. Tem sido assim há muito tempo!
Quando uma outra amiga minha teve um surto psicótico, a psiquiatra me deu as dicas de que ela se deixaria desprezar, que descuidaria do banho, que ficaria, enfim, com a possibilidade de não ver razão em cumprir os rituais da higiene e da apresentação pessoal. Dito e feito! mas, depois passou. Que bom que passou!
Futilidade e vaidade excessivas são coisas criticáveis - certamente há bases para os preconceitos, principalmente se pensarmos o fútil literalmente (frívolo, superficial, vazio, leviano), mas numa situação extrema, melhor ser fútil a ser largada.
Houve um tempo em que para ser intelectual ou para provar que alguém tinha alguma idéia política, algum senso crítico e coisas do gênero, era necessário ser desleixado.
No meu curso de História, isso era representado pela imposição da indumentária do Mercado de Artes, da sandália de couro artesanal, da saia indiana, das camisetas de Guevara e da Juventude Socialista, tudo mesclado a jeans. Dizem que Heloísa Helena aderiu a essa moda e até hoje permanece nela.
Ser básico já é ser fashion.
Sob tudo isso, a idéia de que intelectual não pode perder tempo com superficialidades - logo, a roupa aí no seu lugar semiótico. Pelo ocorrido com Geyse Arruda, quem duvidará que a roupa comunica? eu é que não quero mandar mensagens de desleixo.
Um mulher pobre pode ser deveras elegante, ou bem vestida ou simplesmente apresentável - para isso, camisetas básicas de fios bons, como as da Hering, acessórios, como lenços e colares, coisas que não excedem 03 a 15 reais - sem violentar o que ela realmente quer para si, e jeans.
Somos julgados por nossas imagens, sempre. Se houver tempo, exibimos nosso interior.
Eu até gostaria de nem dizer isso mas acho horrível mulher sem batom: abominável.
Unhas francesinhas e unhas quadradas: o cúmulo da feiúra.
Calça sarouel: troféu breguice e feiúra permanente, parece calça geriátrica, fralda, sei lá.
Luzes no cabelo: pensem, luzes prateadas num cabelo escuro conferem um visual de velhice que é de cair o queixo! de onde tiraram que isso é bonito?
Mas aqui foi só um desabafo de ordem estético-fútil, porque eu realmente acho que estarmos bem com nossa imagem é algo com outros significados para além deste "bonito e feio" de todo dia.
Eu estou com pena da minha amiga. É que ela não era assim: o cabelo desgrenhado, ela que tem fios louros que já foram bonitos e hoje destilam opacidade, desleixo absurdo e inclassificável.
Ela, que arrasava nas festas a que íamos, agora está completamente largada, gorda, com cara de uns 20 anos a mais...e dela não exala nada, como se não usasse perfume (que pecado!gente sem perfume é triste!).
Não é depressão, ela continua na ativa, tudo bem: acho que é estabilidade emocional mesmo, porque o casamento está mais do que consolidado, ela não faz questão de estar bonita de estar bem e isso revela que talvez todo o cuidado que ela manteve anteriormente foi para os outros, não para si.
Estar arrumada deve ser um prazer, não uma imposição ou um artifício da futilidade. Por isso mesmo, quem gosta de ver a si mesmo feio e desperezível, largado, desleixado? certamente aqueles que estão se amando pouco, que não vêem razão em se arrumar ou aqueles que são interiormente vaidosos a ponto de não quererem manter a aparência para agradar a outrem, é uma forma de egoísmo bem discreta.
Mas eu tive pena dele. para quê esconder? ele não reconhece mais a pessoa com quem casou.
o tempo passa, nossa fisionomia muda, mas ninguém nunca espera que o tempo transfigure ou desfigure quem nos seduziu. E assim está sendo: ele não entende mais quem é aquela pessoa, ele me pede ajuda, mas não há como dizer o que ela já sabe. Num ocasião me limitei a dizer a ela: "ele gosta de mulher glamourosa!". Ela entendeu e relembrou o aspecto que ela exibia quando eles se conheceram.
Eu não suporto hipocrisia estética: ora, gostamos do que é bonito.
Se os padrões foram impostos e sob eles educamos nossa opinião estética, sinto muito: isso não quer dizer o louvor extremo a um padrão branco-europeu topmodel, impossível para os mortais, mas quer dizer que unhas pintadas, higiene e cabelos bem tratados são questões inerentes oa bem-estar e a saúde. Você se transformar em perua, em fashion ou em glam é outra coisa - coisa que eu apóio também, e muito! não estamos nos anos 60, honey, a era hippie já passou.
E afinal, você trabalha para quê? para ter bens? para realizar sonhos? ah, ótimo: dinheiro é para tornar a gente feliz, seja como for. Porém, se você tem pena de dar uns tostões a mais para ter aquela peça de roupa ou o acessório que você tanto desejou, com certeza tem alguma coisa errada aí.
Se você, por outro lado, só vive para isso, para supremo mundo da imagem, cuidado: pode estar desviando do que realmente lhe incomoda.
Essas querelas entre aparência e essência são velhas conhecidas, trazidas pela Filosofia de Platão, retomadas por Aristóteles, opondo o peso da essência como Verdade ao status ilusório da aparência e aos simulacros.E que eu, com a licença-loucura a mim conferida e no uso de minhas atribuições, posso dizer que a aparência é importante, sim. E que essência, mais ainda: as que eu mais gosto e uso são Eden, da Cacharel (eau de parfum) e Atractive, da Água de Cheiro, embora para dormir eu use Lavanda Pop de O Boticário em dias mais quentes, Kenzo 5:40 PM in Madagascar.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Viagem ao centro da Terra, II: o retorno.


Eu acompanhei os primeiros momentos da transmissão do resgate dos 33 mineiros presos numa mina no Chile.
Fiquei apreensiva e, junto com o meu amigo, aqui no sofá da minha sala, chorei de emoção ao ver o primeiro deles,Florêncio Avalos, meia-noite e cinco, aproximadamente.
Não vi sensacionalismo, mas vi populismo saltando nas telas de TV.
Somente agora, quando portais e canais de TV focalizam a bigamia de Johnny Barrios, o décimo oitavo deles a ser resgatado, num típica situação à la Nelson Rodrigues,é que começam a se esboçar as mediocridades midiáticas.
Não deve ser fácil encarar mulher e amante após um trauma dessa natureza, mas certamentea imprensa não mentiu ao dizer que o referido mineiro declarou estar apreensivo em sair da mina. Nem imagino: "Saio da mina para entrar na porrada!", deve ter pensado ele.
Se eu fosse a esposa traída, descia-lhe uma boa dose de Madeirol, 500mg: rolo de macarrão na nuca ou equivalente. Coitada dela: duas dores concomitantes.
O outro lado do espetáculo é a busca de Sebástian Piñera pela popularidade, forçando a maturidade política do país, após vários eventos que revolveram literalmente o Chile - o relativamente recente terremoto e a organização da economia do país, que dividiu opiniões e inclinações políticas.
Não sou maniqueísta: nem todo rico é mau.
Sebástian é estupendamente rico, bilionário, para ser exata: acionista que detém parte da TAM, já que tem sua própria companhia aérea (LAN, se não me engano)e aderiu à fusão com a companhia brasileira; levou as bandeiras dos cartões Visa e Mastercard para o Chile, no final da década de 1970, criando o Bancard; tem um canal de televisão; tem um time de futebol popularíssimo no Chile (o Colo-Colo) e tem uma carreira empresarial sólida.
Tendo entrado na política já rico, por várias vezes foi acusado de se valer dos cargos políticos (foi senador também) para beneficiar uns e prejudicar outros, o que o fez ser derrotado na eleição anterior para presidente
Ele se fez presente ao longo do resgate, com sua primeira-dama, e passou bastante sensibilidade, otimismo e solidariedade frente ao caso. Se uma coisa está sendo usada com vistas a outros interesses...
A Globo News, no Em cima da Hora, noticiou que os mineiros ficarão sem salário, mas divulgou, também, que um empresário da mineração, que vive nos Estados Unidos doou 10 mil dólares para cada um dos mineiros e que eles também ganharam uma viagem a Barcelona ou outra cidade espanhola, além de haver uma disputa prévia dos canais de TV e de roteirissta e diretores de cinema, a fim de "comprar" a história.
Para quem estava no buraco, é uma mudança e tanto.
Por mais que eles esbocem sorrisos, sabemos que um stress pós-traumático pode estar em curso - seria esperado, porque eles são humanos.
A gente é que por meia dúzia de angústias diz que esteve no fundo do poço - não esteve não, gente fina, trauma é isso; fundo do poço é isso, é estar há 70 dias embaixo da terra - com a morte, a doença, o desespero, a tristeza, deixando seu bafo quente nas costas dos desesperados.
São Lourenço, padroeiro dos mineiros, deve ter ralado o seu bocado para permitir esse resgate - raramente um fato causa tão sincera comoção e mobiliza nossa atenção nesse nível.
Eu imagino a primeira noite deles, fora do túnel, acordando assustados sem saberem onde estão; os pesadelos que devem durar infinitos tempos e os bons sonhos certamente conterão o "Chi-Chi-Chi-Le-Le-Le!", grito de guerra da equipe de resgate.
Depois da euforia do salvamento, os sintomas aparecem - na verdade, o resgate psicológico será mesmo necessário.
E que ninguém se engane: As perguntas óbvias virão:
- Qual foi a coisa que você mais sentiu falta lá em baixo?
- Houve um momento em que você pensou que tudo estava perdido?
- O que muda na sua vida daqui para diante?
- Que lição você tirou dessa experiência?
- Qual foi a sua maior preocupação?
- Qual a primeira coisa que você pensou em fazer ao sair?
Olha, nem é necessário seguir a lista das perguntas óbvias, mas pelo menos o extraordinário foi que eles sobreviveram.
Mais uma vez, a vida excede a ficção!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Quem não gosta de samba?


O dia estava nublado e eu não fui à praia.
Também não fui à Groove, ver o cover da Amy Winehouse, ontem à noite, conforme planejei, conforme disse a Ele que iria.
Entrei em paranóia com as leituras atrasadas, com os tantos ensaios para entregar, com os rumos de minha pesquisa, com os eventos a que preciso ir...e com Ele, toda hora incomodando meus pensamentos...dormi pouco.
Não por mal esse incômodo: é sentimento se assentando e um pouco de deslumbramento por tudo que ocorreu ontem, pelo medo pelo que há de vir, pelas incertezas, pelo cuidado-ciúme que ele tem de mim, quase me fazendo me sentir como Chapeuzinho Vermelho, menina desavisada a brincar com os lobos.
É uma tônica essa infantilização: a primeira coisa que eu dei a Ele foi um doce. E ele foi retribuindo...depois, um namorinho de escola, primário em todos os sentidos, exceto quando os desejos fizeram a malícia brotar nas interpretações, como quando ele me confundiu com o meu argumento sobre a personagem do conto, misturando, fundindo Dona Conceição e eu na mesma pessoa, na Missa do galo.
Agora ele é todo cuidados, com medo de interpretar errado, de me deixar escapar ou de me assustar e me fazer correr para cima do lobo que me aguarda e que ele afugenta - é, o sósia de Otto nunca mais vai pisar em rabo de onça após ter levado aquela mordida no calcanhar.
Minha amiga falava sobre o fato de eu gostar tanto de rock e me perguntou se eu eu não gostava de samba. Gosto de vários. Esse aqui é em homenagem a você, fofa! Tati, minha confidente.

Zeca Pagodinho - Se Eu Quiser Beber

Se eu quiser fumar eu fumo
Se eu quiser beber eu bebo
Pago tudo que consumo com o suor do meu emprego
Confusão eu não arrumo
Mas também não peço arrego
Eu um dia me aprumo
Tenho fé no meu apego
Eu só posso ter chamego
Por quem me faz cafuné
Como o vampiro e o morcego
É o homem e a mulher
O meu linguajar é nato
Eu não estou falando grego
Tenho amores e amigos de fato
Nos lugares onde chego
Eu estou descontraído
Não que eu tivesse bebido
Nem que eu tivesse fumado pra falar da vida alheia
Mas digo sinceramente
Na vida a coisa mais feia
É gente que vive chorando de barriga cheia
É gente que vive chorando de barriga!

Atrás do muro


Seria preciso derrubar a parede.
Todo dia eu penso nisso e penso no meu compromisso em derrubar a parede.
Uns preferem implodir, outros, os fracos como eu, tiram um tijolo por vez e, como um pedreiro negligente, abandonam a obra pela metade. Eu já abandonei 03 vezes.
Aí páro, retorno à minha zona de conforto, mas a parede volta a incomodar e ela tem que ser retirada, destruída.
Isso não é fácil para mim, que tão bem contruo a quarta parede - esta eu vou construir sempre, é meu muro, minha fortaleza, minha proteção.
Àquela primeira parede, eu já fiz planos, eu já dei passos, mas não consigo tirar a bendita da arquitetura interior - parede mais besta! até uma criança retiraria essa parede de lá.
Quem não bebe dos venenos da vida que me atire o primeiro tijolo!
Outros alicerces se abalaram: a gente parou de se falar - eu e aquela pessoa que eu tanto amo, pessoa amiga - ela também tem uma parede e não aguenta saber que eu sei que ela está sofrendo.
Ela não quer parecer negligente, burra...ela sabe que repete erros e os erros geram resultados repetidos, viciosamente.
Então calamos.
Ela não pode dizer nada porque sabe que eu não mereço ouvir.
Eu não posso dizer nada porque meu amor por ela é declarado, é claro, é conhecido e justo e para nós não há resposta nem pode haver diálogo.
Mas ela vai ler isso, provavelmente e saber que eu entendo e que não quero falar com ela.
Com relação às máscaras que caem, eu não me regozijo pelas dores que isso atrai, mas pelo quanto isso prova que esta preocupação em esconder as coisas de mim era descabida. Vocês conhecem os segredos das pessoas de bem?
As pessoas de bem fazem misérias quando ninguém está olhando - pense nos seus segredos, nos mais terríveis - você tem segredos.
Não necessariamente matamos ou roubamos, mas meus segredos, por exemplo, se relacionam à omissão.
E se você se queixar ou associar esta omissão ao fato de ter sido a última a saber, indiretamente também está certa: eu nunca contaria. Eu jamais contaria nada de ninguém para ninguém!Isso é um mito contra nós, os falastrões. Nenhuma pessoa de bem que você conhece terá seus segredos revelados por mim, eu não conto.
Ser amigo não é atirar verdades e revelações na cara de ninguém, honey: daquela vez eu fui embora quando as pistas começaram a aparecer, eu não quis participar, não quis ser comparsa. A gente oculta porque não é de nossa conta ou porque as coisas são tão sérias que podem resultar em crimes materialmente dados.
Um dia a gente resolve isso, mas advirto que a obra vai passar por muitas, muitas reformas.
"Há um muro de concreto
entre os nossos lábios.
Há um muro de Berlim
Dentro de mim."

domingo, 10 de outubro de 2010

Uma mensagem de amor


Mesmo que eu dissesse que não, você sabe: eu estou te esperando - e espero com a adrenalina da ansiedade, com os medos e com todos os desejos.
O que será que você pensou da página 07?
E este estado de tensão não te arrebenta por dentro? Você não fica pensando se estaremos em paz? se conseguiremos colocar a saudade em dia?
Você percebe que age como se fosse tímido quando está comigo?
Eu não sei o que vou usar para sair com você, eu nem sei se vou conseguir mexer nos talheres durante o jantar, eu nem sei se estarei viva até lá, porque ao contrário dos outros, as situações amorosas me fazem perder o apetite, me deixam em descompasso, em crise de insegurança total...e pior é estar ao seu lado fingindo que estou ao seu lado e não no Mundo-da-lua, com esta sensação terrível de que nossos colegas estão lendo a minha mente, que eles são onipresentes e oniscientes, vêem e sabe tudo! poxa, a privacidade cobra um preço alto, hein?
Para você, uma mensagem de amor:

Os livros na estante
Já não tem mais
Tanta importância
Do muito que eu li
Do pouco que eu sei
Nada me resta
A não ser
A vontade de te encontrar
E o motivo eu ja nem sei
Nem que seja só para estar
Ao teu lado só pra ler
No teu rosto
Uma mensagem de amor
A noite eu me deito
Então escuto
A mensagem no ar
Tambores runfando
Eu ja não tenho
Nada pra te dar
A não ser
A vontade de te encontrar
E o motivo eu ja nem sei
Nem que seja só para estar
Ao teu lado só pra ler
No teu rosto
Uma mensagem de amor
No céu estrelado
Eu me perco
Com os pés na terra
Vagando entre os astros
Nada me move
Nem me faz parar
A não ser
A vontade de te encontrar
E o motivo eu ja nem sei
Nem que seja só para estar
Ao teu lado só pra ler
No teu rosto
Uma mensagem de amor

(Caetano Veloso)

"E quem há de negar que esta lhe é superior?"


Há amizades que mesmo sendo boas têm um tom ácido, tem uma veia de dor e de angústia - e não reclamo delas, não. Muitas vezes esses qualificativos são a outra face de uma mesma amizade. Entretanto, como me é caro, deleitável, gostoso, prezeroso e degustável a amizade cúmplice.
Minha amiga Conceição, eu bem disse, quando me via com a cara quebrada pelas decepções, com o coração estraçalhado pelos amores contrariados ou quando me via toda arrebantada por causa de minha burrice e teimosia, não dizia nada, apenas me acolhia.
Ela me conhecia o suficiente para saber que eu já me sabia errada.
Em muitas situações ela me advertia, me precavia. E se eu, teimosa mais do que obstinada, apostava no erro e saía vencida e no prejuízo, eu não ouvia um "eu te disse", mas um "vem cá!".
Outras vezes, ela olhava para mim e dizia: "E aí, o que é que a gente vai fazer?" ou seja, ela era partícipe da busca pela solução dos meus problemas.
Grande amiga, seja no jornalzinho do Segundo Grau, seja nas porradas em que a gente já se meteu em época de eleição da Casa dos Estudantes, seja nos temores após a primeira vez de cada uma de nós, seja nos shows, nas viagens, nos estágios, nas bagaceiras da vida universitária e nas batalhas pela vida profissional,eis Conceição, eterna cúmplice.
Fiz uma viagem cansativa, como sempre, para casa ontem. Nem por isso cheguei mal humorada - eu sabia que teria muito o que fazer, que ultimamente nem daria para ficar nervosa ou triste porque me falta tempo para isso - ou, para sabotar aos possíveis invejosos,estou excitadíssima com a vida, com os novos capítulos da minha existenciazinha, encantada com o romancezinho, com as escolhas, com algumas coisas boas, com algumas oportunidades - então, não pensei em badalações para a noite de sábado.
Na verdade, penso muito em minha tese. Juro! ando em círculos, vejo que ando lendo pouco, que estou muito no objetivo geral e com receio e incompetência asssumidos para definir os específicos, toda torta, toda confusa, toda insegura, mas, enfim, se há duas coisas que levo a sério na vida estas coisas são os meus estudos e o meu trabalho.
Não quero dizer que sou a palmatória do mundo, que quero me envolver em projetos, que quero afazeres extras, que viajo nos planos dos grupos de pesquisa ou coisas do gênero. Neste sentido, busco cumprir o que me cabe e pronto! salvo quando há projetos coletivamente pensados ou quando é coisa de um colega de trabalho mais chegado que, aí, sim, eu me irmano. Salvo, isso, quero dizer que levo a sério no sentido de priorizar, de desligar o telefone enquanto dou aula, de estar no trabalho quando estou no trabalho e de estar estudando quando estou em meus horários de estudos.
Na hierarquia interna, o estudo, claro, está acima do trabalho, mas se volta a favor dele.
Eu sabia que teria o que fazer, então exclui a possibilidade de sair e tudo bem!
Mas aquela voz ao telefone me diz: "Mara Vieira?" e eu lhe respondo: "Sim, pois não?", sem reconhecer a minha amiga que desdenha, gracejando, de eu estar em casa sábado à noite.
Poxa, eu gosto de Tati para caramba! eu gosto mesmo de minha amiga. E adorei receber aquele acolhimento dela, aquele gesto de telefonar para mim para saber de mim, para dar risada de si, para falarmos futilidades e fazer planos...Dom Quixote é incompleto sem Sancho Pança, gente, não tem jeito!
E ela então,a par de minha vida, incitou leituras sobre mim mesma que eu desconhecia. Excelente analista!
Mas tem aquele outro lado em que o superego dela se projeta em mim - ela, uma menina séria, inteligente, estudiosa, independente, trabalhadora, brilhante, monogâmica e moralmente correta - e fica me dizendo que a minha aparência não tem nada a ver com as minhas atitudes e que isso induz leituras erradas (ela se referia a um dos meus colegas de classe que se excedeu em demonstrar...digamos, interesse.Eu já interessada inteiramente em C.)
Ela não me diz isso me desculpando, não: ela põe em frente a mim um outro reflexo no espelho e me mostra como responsável por aquilo que eu desperto (saja o que for, de bom e de mal), de modo contextualizado, claro, porque há ódio, amor e desejo gratuitamente dados.
É uma prazer falar com Tati.
Mas como projeção do superego dela, ela espera que eu tome a iniciativa na conquista, que eu não me lastime dizendo que "quem anda me comendo é o tempo" e siga esfregando o calendário dos encontros íntimos que, por sinal, nem dá meia dúzia de dias para todo este ano. Ah, ela odeia isso!
"(...)Assim como amor está para a amizade e que há de negar que esta lhe é superior?", hein, Caetano? eu bem sei. Mas é que a amizade realmente é um grande amor e todo grande amor não é suficientemente grande se não contiver uma forte amizade.
Então, Tati, minha amiga, você é um amor de pessoa e é um amor e tanto!
Ela lamenta nosso pouco turismo acadêmico deste ano, porque os eventos acabaram se chocando e agora ela vai para Minas e eu para Campinas, o que diminui o prazer da viagem, porque somos cúmplices, dividimos opiniões, lamúrias e nosso juízo sobre os gatos que passam pelas ruas de São Paulo. E o que é São Paulo sem Tati e sem sua habilidade e senso de orientação pelos metrôs? e sem a paixão dela por comer sanduíche da Subway, coincidentemente (subway é metrô, em inglês, lembram?).
E o que seria dela sem os meus pitacos na hora de comprar presentes para a família, na hora de planejar e comprar as peças do guarda-roupa profissional dela? fora os sapatos e os passeios pelas outlets e as inevitáveis contas para fazer o balanço do impacto financeiro das inconsequências shoppaholics!
E na hora das referências bibliográficas, somos cúmplices.
Quando a escrita dá aquela estagnada e a gente entra em crise, juntas gememos e choramos, desejando um café gelado que nos console. E este trajeto todo é para dizer que eu estou super feliz por saber que a minha felicidade é importante para ela.
Eis uma pessoa que verdadeiramente gosta de me ver bem.
A felicidade de que tratamos é aquela, a do possível, a que não exclui angústias e problemas ou ansiedade. Felicidade de gente de carne e osso, sabe?
Estou mesmo feliz e tocada pelo carinho e pela atenção de Tati comigo.
Recentemente, pegaram o namorinho escondido de uma aluna minha.
Diga-se de passagem, minha aluna fofa, maravilhosa, que está de nomoro com um aluno igualmente querido.
Por divergências religiosas, a moça foi induzida a contar aos pais o namoro e, consequentemente, a terminar com quem ela gosta. Como pode ter gente assim no mundo, com o prazer de ditar o que é certo e jogar areia na felicidade dos outros? eles lá, sem fazerem mal a ninguém, duas pessoas de bem que tiveram a chance de se perceber e de se gostar, agora ameaçadas pelo valor crítico dos estranhos.
Por isso algumas relações devem e precisam ser sigilosas, escondidas: há sempre quem se incomoda, quem acha que o outro não merece a plenitude daquilo que vive, enfim.
Em um outro caso, estou também em paz por ter sabido que as máscaras de duas pessoas deste quilate caíram: por um lado é um alívio por me sentir vingada pelo tempo ter mostrado quem é quem; por outro, é aquela satisfação da justiça dos acontecimentos porque confiaram na dada pessoa e me puseram em suspeita. Agora, toma! sinto, óbvio, porque eu não queria que Ella se magoasse, que descobrisse desta forma que a amiga não era amiga, que disputava o território amoroso com ela e que, sobretudo, era uma disputa de vaidades. Neste efeito dominó, caíram 03 máscaras, mas só duas foram percebidas. É o que dá a falsidade. Quero é estar longe disso sempre!
Mas dos meus amigos é quero estar perto em sentimentos, em pensamentos, em planos e poder agradecer por este esteio, este porto em que ancoro mágoas e felicidades.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Tiririca é o cara!


Não entendi a injusta polêmica com a eleição de Tiririca:antes de um palhaço tentar entrar para a política, os políticos faziam palhaçadas. Logo, eles que começaram!
O quadro político de nosso país há muito tempo não tem a menor graça. Contudo,eles, os políticos, já deram tanta risada de nós, já fizeram o nosso povo de palhaço várias vezes e, mesmo sem formação circense, quem é o brasileiro que não faz malabarismo para viver? quem já não esteve na corda bamba financeira? diga aí, respeitável público!
Há votos que representam protestos e outros que representam respostas por identificação: se o discurso de Tiririca tocou o centro da ferida da indignação de cada um cidadão que não faz a menor idéia sobre o que os políticos fazem, mas sabem muito bem que eles deixam de fazer o que seria de sua responsabilidade, o que é que tem eleger um homem simples, de escolaridade questionável e que assume, sem hipocrisia, o que quer na vida política?
Pior do que está, com certeza não vai ficar: acredito mesmo! mas o ato simbólico de eleger alguém fora dos padrões é bastante significativo em termos de escolha - é, não duvidem: há os que votaram em Tiririca porque acreditaram nas propostas dele -, em termos de confronto com a outra parte dos eleitores, aquela parte composta pelos que votam a partir dos sobrenomes.
Colégios eleitorais conservadores perpetuam no poder as famílias, as raposas velhas, as castas, o status quo do staff político...e aí, não seria análogo? para mim, é sim!
Certamente os grande homens da política brasileira leram muito sobre a Ciência Política - há uns que a gente constata que encarnam O príncipe, de Maquiavel e outros cujas ações e estratégias indicam a leitura de AArte da Guerra.
O saber quando em par com o poder sempre foi usado como instrumento de dominação.
Há várias formas de saber, mas o saber formal nunca esteve a favor dos pobres, das minorias: ao contrário, endossaram preconceitos difíceis de demolir.
Quem votou no Tiririca não é um "abestado", mas quem está mandando recados claros - e essa história de que "o povo tem o governo que merece" está longe de ser verdade, é puro preconceito cristalizado de quem descarta os vários recursos de convencimento, os aparatos de propaganda e as elaborações retóricas que são empregados no convencimento e na sedução das massas.
E,em homenagem a Tiririca, segue a sua poética composição em homenagem à fraternidade, à amizade e à convivência de todo tipo de diversidade, expressas na música Ele é corno, mas é meu amigo:
Amizade é a melhor coisa do mundo
Num amigo de verdade não se vê defeito
Como disse o poeta:
O amigo é pra se guardar no lado esquerdo do peito
Ele é corno, mas é meu amigo
Ele é viado, mas é meu amigo
Ele é baitola, mas é meu amigo
Ele pode ter defeitos, mas é meu amigo
Ele é corno, mas é meu amigo
Ele é viado, mas é meu amigo
Queima a arruela, mas é meu amigo
Ele pode ter defeitos, mas é meu amigo
Ele é corno, mas é meu amigo
Ele é viado, mas é meu amigo
Ele é briguento, mas é meu amigo
Pode ser fofoqueiro, mas é meu amigo
Ele é corno, mas é meu amigo
Ele é viado, mas é meu amigo
Queima a arruela, mas é meu amigo
Ele pode ser briguento, mas é meu amigo
Eu acho o seguinte,
Eu acho que tirando todos os defeitos
Ele é uma pessoa excelente!
Um amigo é pra acudir o outro
Eu to aqui pra acudir você
Um amigo com defeitos é pouco
Se o amigo é de verdade defeitos nele não vê
Um amigo é pra acudir o outro
Eu to aqui pra acudir você
Um amigo com defeitos é pouco
Se o amigo é de verdade defeitos nele não vê

Ele é corno, mas é meu amigo
Ele é viado, mas é meu amigo
Ele é ladrão, mas é meu amigo
Ele pode ter defeitos, mas é meu amigo
Ele é corno, mas é meu amigo
Ele é viado, mas é meu amigo
Queima a arruela, mas é meu amigo
Ele pode ser briguento, mas é meu amigo
Ele é corno, mas é meu amigo
Ele é viado, mas é meu amigo
Ele é briguento, mas é meu amigo
Pode ser fofoqueiro, mas é meu amigo

Ele é corno, mas é meu amigo
Ele é viado, mas é meu amigo
Queima a arruela, mas é meu amigo
Ele pode ser briguento, mas é meu amigo

ô compositor lindo!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Like a child


Mais um lindo lugar comum:diante dos amores qualquer ser humano fica abobalhado, regride à infância, infantiliza as atitudes,raciocina em tatibitate, se embevece, muda, faz jogos, põe e recebe apelidos ridículos, alimenta sonhos bobos,se torna ansioso e até perde a noção do ridículo.
Nos últimos dias aconteceram muitas coisas - quisera eu ter tempo para escrever sobre tudo, para dar risadas e parabéns, para dividir com as amigas as novidades mais quentes - que eu costumo anunciar ao telefone: "apareça aqui, porque eu tenho mais novidades do que sacoleira do Paraguai".
Sábado eu saí para dançar, enquanto eu posso, claro!e vi meu lindíssimo Rodrigo Jatobá anunciando que aquela era a última festa dele enquanto solteiro.
Poxa, eu sou mesmo ruim de leitura de mãos - nunca sei o que a aliança indica. Acho que porque, para mim, tanto faz se a aliança está na mão direita ou na esquerda, o fato é que a pessoa já elegeu alguém e resolveu carregar o símbolo indicativo dessa escolha.
Bem, não foi lá a grande festa que costuma ser, porque estava o ambiente estava cheio de mulheres e o repertório não foi tão bom quanto da outra vez. Quem brilhou foi o DJ: arrasou na playlist!
Fui ao encontro das outras colegas que inacreditavelmente resolveram ir, especialmente Meggy, que é chegada na birita e não dá a mínima para dançar. Só sei que elas se juntaram em 05 para poder ganhar roskas, smirnoff ices e outros paparicos que a Groove dá aos grupos de cada 05 mulheres.
Eu encaro a vida sem álcool, sem barbitúricos, sem tarja-preta e sem apoios de gurus - poxa, tudo é tão difícil assim, de cara limpa!
A vida sem cerveja limita muito minha rede de relacionamentos sociais. E eu costumo dar risada disso, ao invés de lastimar.
Curti, dancei, não reclamo.
Agora que não me sinto exatamente solteira,procurei ficar quietinha e, também, evitei precisar de remédios que não existem, como o Semancol e o Chá de Sumiço de que precisei da outra vez - assim, na hora da besta, acatei a companhia do rapaz apenas na pista de dança e dei-lhe um "olé" na hora do beijo. Ia dar em ressaca moral!
Aí é que está: a festa é legal, se C. estivesse comigo eu nem curtiria tanto, mas eu preferia estar com ele. Ainda mais ali, eu cheia de saudades dele( há vários dias que ele estava em Brasília).
Voltando à questão da infantilidade que o amor traz, embora eu não o ame (tenho que ser sincera), gosto dele o suficiente para não reclamar de me sentir, de novo, na quinta série: ele leva bombons para mim, eu dou a ele um livro de poesia.
Ele cuida de mim, eu o defendo.
Formamos grupos compostos apenas por nós dois.
Somos discretos e trocamos códigos e mensagens bobas, fazemos brincadeiras bobas, temos comportamentos bobos e parece que não há a menor pressa em crescer.
Por ele ser uma pessoa conhecida, fico na retaguarda, cuidando do anonimato, porque não quero ninguém se metendo.
Estou adorando estar com ele - não quero descobrir o lado ruim que ele possa ter, não quero gente invejosa se ocupando em jogar areia nos meus sonhos, especialmente aquelas pessoas que adoram tudo que é dos outros.
Falando nisso, quem de nós não conhece os seres humanos do mal, aqueles que fazem campanha contra os outros, que não têm escrúpulos nas armas que usam para destruir seus desafetos, aqueles que ridicularizam os aspectos físico de alguém, que jogam baixo,que humilham e passam por cima de qualquer um para ter o que querem, para parecer melhor que os outros?
Desses, eu quero distância!
Pessoas deste tipo não precisam de convite para ingressar em nossas vidas: elas especulam, elas lateralizam as perguntas e as mensagens acerca de nossas vidas, de modo a atravessar as barreiras da intimidade e da privacidade.
Este tipo de gente cristaliza uma imagem de quem eles elegem para atingir. E como os relacionamentos acontecem em rede ( meu inimigo conhece um amigo meu que, por sua vez, conhece outro amigo...), a tendência é que o grande público acredite na imagem traçada, porque "fontes seguras" chamaram a esta de maluca, àquela de desequilibrada, ao outro, de burro, a um terceiro, de interesseiro e é assim que as coisas se encadeiam. Duvido que alguém queira tirar a limpo, dar uma chance de contradizer à fama adquirida através desse tipo de propaganda do mal.
Esse povo tem um excelente marketing pessoal, porque são muiiiiiiiiiito confiáveis, prudentes, conciliadores, acima de qualquer suspeita.
Ah, Deus me livre desse povo!
E acho que não é só isso: é uma vontade de estar a sós, de viver uma relação a dois.
E já que tem que ter trilha sonora, vai um Chico César (ui, que ironia!que coincidência!bem, esta deixa é só para os iniciados, os da confraria...):

Como esta noite findará?
E o sol então rebrilhará?
Estou pensando em você...
Onde estará o meu amor?
Será que vela como eu?
Será que chama como eu?
Será que pergunta por mim?
Onde estará o meu amor?

Se a voz da noite responder
Onde estou eu, onde está você
Estamos cá dentro de nós
Sós...
Onde estará o meu amor?

Se a voz da noite silenciar
Raio de sol vai me levar
Raio de sol vai lhe trazer
Onde estará o meu amor?

P.S.: Esta é uma obra de ficção e nada disso existe na vida real - lorotas, crianças, apenas lorotas ficcionalizadas.

sábado, 2 de outubro de 2010

Beba da poesia


Hoje, enquanto eu falava sobre a lírica moderna, percebi o quanto se cristalizou a idéia de que o lírico é sempre significado da palavra doce, da imagem suave, das coisas sublimes.
Mas, então, o que dizer dos meus preferidos, os ácidos, os que definitivamente não correspondem aos ideais de delicadeza? mas sensibilidade só é sensibilidade se se voltar para as coisinhas suaves, leves, doces, amorosas, melosas?
Na vida, como na poesia, tem dessas coisas.
Tem gente que não é exatamente de te cobrir de abraços, de palavras doces, de afagos, mas que é, ao seu modo sensível: vai te dar a justa medida da disciplina imprescindível para alcançar um objetivo; vai te dar a palavra dura que te ajuda a ver a realidade; não vai levantar uma bandeira, mas vai defender uma idéia e, com certeza, vai te ajudar de outra forma que não seja o consolo com palavras que amortizem o seu sofrimento e que, entretanto,reconhecem esse sofrimento e se manifestam como apoio à busca de uma solução.
A diferença entre a perseverança e a teimosia é muito discreta: hoje eu estava com um amigo bêbado - este, por sinal, bêbado praticante e não bêbado profissional. Explico: o praticante, pratica para ser igual aos outros.
Ele bebe para se socializar, para mostrar que é simples e que está inserido numa comunidade qualquer. E bebe até ficar mal.
Bêbado profissional é o vulgo pé-de-cana: bebe rios de álcool, mas é difícil de tombar. E bebe todo dia.
Finalmente, quando está possuído pelo álcool, ele, por ser profissional, reconhece o seu estado de bebedeira (pode ser um reconhecimento interiorizado, intimista, só dele consigo mesmo), pára, senta (geralmente no meio-fio) e espera o chão parar de rodar. Alimenta, porém, a esperança de chegar em casa e curtir os efeitos.
Mas, então, o bêbado praticante com quem eu estava sai bebendo aqui e ali.
Se ele está conosco e vamos à casa de algum amigo, ele vai fazer uma visita pormenorizada aos bares do caminho.
Se for do tipo Duda, ele pára, senta e bebe no boteco.
Se for do tipo mais comum, ele faz visitas rápidas e a trajetória continua - a pé ou de carro, tanto faz.
O caso é que o bêbado praticante que me fazia companhia encheu o...organismo de álcool até ficar idiota, totalmente idiota, sem a mínima condição de dirigir. E aí, adeus bom senso! mesmo eu pedindo para que ele descansasse um pouco (que dá para traduzir por: "Meu irmão, arreia teu corpo aí na sala do nosso amigo e relaxa, espera passar"),o tapado foi insistente, persistente, obstinado e teimoso em dirigir.
Dizem que "annus beborum non dominum habet", ou seja, "...de bêbado não tem dono". Mas não tem dono o corpo todo, não tem autonomia!e o orgulho de bêbado, sim, esse cresce a cada dose: bêbado é valentão, quer brigar com todo mundo; bêbado é megalomaníaco: quando invoca, quer pagar bebida para o bar inteiro; bêbado tudo pode na cana que o fortalece e que ninguém conteste a palavra de um bêbado!
Meu amigo repetiu 06 vezes uma pergunta e 06 vezes esqueceu a resposta obtida.
Esquece-se tudo.
É provável que bebam muito porque enquaanto bebem vão esquecendo que já beberam e ái repetem a dose.
Numa certa vez, inclusive ( e isso não é ficção), estando ele e o irmão bêbados, resolveram jogar sinuca.
Num lance, um deles gritou: "não roube, seu filho da puta! filho da puta ladrão!"
O outro, ofendido, falou:"não xingue minha mãe! filho da puta é você!".
E a briga deu em um fenomenal troca-tapas, sendo que eles eram filhos da mesma mãe. E isso é sério: desconheceram o parentesco.
Não, honey, não se trata de uma embriaguês lírica.
Voltando ao bêbado praticante: ele quis dirigir, insistiu, não quis ajuda, descreveu um caminho em zigue-zague (sóbrio ele já reclama dos postes, que estão sempre no lugar errado)e chegou em casa são e salvo, conforme eu soube pelo telefone - algo que não se pode dizer da lateral do carro nem da árvore de médio porte que fica em frente à casa dele.