Louquética

Incontinência verbal

domingo, 28 de novembro de 2010

Acima da lógica


Na minha lógica, os fracos precisam de camisas de força: bom fortificante. Não entendo é porque camisa-de-força é algo para loucos (estes já são fortes).
Também pela minha lógica, pernóstica é uma pessoa que tem as pernas compridas; meretriz é uma mulher que tem muitos méritos, ombridade é adjetivo relativo a quem tem ombros largos e catacrese, longe de ser uma figura de linguagem, seria ou uma catástrofe, cataclisma, terremoto ou doença grave. Por essas e outras é que não se deve acreditar muito em minha capacidade lógica.
E rompendo todo o encadeamento lógico, vou editar aqui o processo da história e ir ao ponto-chave:Allan poderia dizer hoje sobre si mesmo, "rompi tratados, traí os ritos".
Que bom para mim!depois que a gente se falou ontem à noite, eu não sei explicar, mas o tempo parou.
O tempo parou até depois daquele tempo todo de conversa, até meus protesto lógicos contra os amores apressados e as decisões precipitadas pararem diante da lógica dele e isso foi como encarar um terremoto sem a menor condição de me segurar em qualquer lugar. É, me desestabilizou.
Agora eu preciso ter uma longa e pausada conversa comigo mesma e isso não vai ser fácil.
Percebi que se hoje tenho maior clareza para definir o que não quero, para dizer não, para excluir, por outro lado não tenho lá muita noção do que quero.
Estar racionalizando demais e quebrando a espontaneidade que me era própria e erguendo muros de comedimento é, na verdade, não prova de maturidade, mas atestado de insegurança. Já não digo que é "melhor cair das nuvens do que do quarto andar", tenho medo de flutuar - velho paradoxo de A insustentável leveza do ser.
Aprendi a ser Tereza, a personagem do livro. Mas não a Tereza que sonha c
om os alfinetes sob as unhas, ou a que adoece de ciúmes contidos, como acontece com ela. Refiro-me à Tereza que antes de ir ao encontro de Tomas, guarda seus pertences num guarda-volume, não oferece toda a sua vida a ele:
"Conhecera Tereza três semanas antes, numa pequena cidade da Boêmia. Mal tinham passado uma hora juntos. Ela o acompanhara à estação e esperara até o momento em que ele subiu no trem. Uns dez dias depois veio vê-lo em Praga. Nesse dia logo fizeram amor. De noite ela teve um acesso de febre e passou uma semana inteira com gripe na casa dele.
Ele sentiu então um inexplicável amor por essa moça que mal conhecia. Tinha a impressão de que se tratava de uma criança que fora deixada numa cesta, untada com resina e abandonada sobre as águas de um rio para que ele a recolhesse no regaço de seu leito.
(...)
Seria melhor ficar com Tereza ou continuar sozinho?
Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação.Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que faz com que a vida pareça sempre um esboço.
(...)
Mas um dia, numa pausa entre duas operações, uma enfermeira vem avisá-lo de que está sendo chamado ao telefone. Escutou a voz de Tereza no aparelho. Estava telefonando da estação. Ele se alegrou com isso (...)
Ela chegou na noite do dia seguinte. Usava uma bolsa tiracolo com uma longa alça, ele achou-a mais elegante do que da última vez. Trazia na mão um livro: Ana Karenina de Tolstói. Tinha maneiras joviais, até mesmo um pouco ruidosas, e esforçava-se para demonstrar que estava passando inteiramente por acaso, graças a uma circunstância especial: estava em Praga por motivos profissionais, talvez (suas propostas eram muito vagas) à procura de um novo emprego.
Em seguida viram-se deitados nus e cansados no divã. Já era noite. Ele perguntou onde ela morava, ofereceu-se para levá-la de carro. Ela respondeu, embaraçada, que iria procurar um hotel e que tinha deixado a mala no depósito.
Na véspera ele temera que ela viesse oferecer-lhe toda a sua vida se a convidasse para vir para sua casa em Praga. Agora, ao ouvi-la dizer que sua mala estava no depósito da estação, pensou que ela havia depositado sua vida na estação antes de oferecê-la"
(KUNDERA, Millan. A insustentável leveza do ser, pp.12-15. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983)

Acho super instigante este ponto da narrativa, mostrando as grandes metáforas dos relacionamentos, especificamente dos relacionamentos que se constituem em meio às indecibilidades, dos medos de não acertar. E o narrador de A insustentável leveza do ser completa esta parte do capítulo dizendo que "Tomas compreendeu então que as metáforas são perigosas. Não se brinca com as metáforas. O amor pode nascer de uma simples metáfora" (P.16)
Comparativamente, eis que o ex-Grande Amor da Minha Vida acabou de me dizer, há poucos minutos atrás, o quanto se arrepende de ter sido racional nas decisões que tomou.
Ele viu que não foi racional nos termos de medir consequências, mas que foi frio e prático.
Quando uma mulher busca ser racional,em termos afetivos, ela está saindo da zona do imperativo do gênero. Isso não quer dizer que mulher é burra e irracional, mas que ela arrisca mais, que se joga nos relacionamentos, que paga os preços dos riscos, que se esbandalha, se estilhaça, vai para a U.T.I. emocional, mas tem uma sobrevida muito melhor do que os homens, esses seres medrosos por excelência.
Pensei agora no fato de que eu gosto de dormir na beira da cama. Eis uma metáfora complexa: o homem dorme na beira da cama e do seu equivalente desde os tempos das cavernas, porque ele é o defensor, ele é a tropa de frente, a avant guard, ele protege quem está no canto, se põe neste lugar vulnerável aos ataques.
Ao mesmo tempo, estar na beira da cama lhe permite maior mobilidade - entrar, sair, levantar, etc. Teoricamente, uma mulher não pode "passar por cima" de um homem, não sem que ele perceba, não sem que ele proteste.
Eu gosto da beira cama.
A beira da cama sempre foi motivo de disputa em minha casa, quando algum namorado dormiu aqui ou dormiu comigo em outro lugar.
Já acordei asfixiada porque me topei com a parede e me deu uma claustrofobia dos demônios.
Com o Outro, o miserável saía me perseguindo na cama e me espremia contra a parede. Incomodada eu acordava, porque tudo me acorda mesmo,mas tomava o lugar dele na beira da cama.
Mas, saltando as lógicas interiores, as lógicas que desafiam a razão e qualquer outro aparato lógico,todo mundo tem bagagem e tem medo de carregar a bagagem do outro, de experimentar o peso.
Esse meu percurso imaginativo e deambulatório entre as experiências passadas e aquela experiência recente mostra o peso de minha bagagem, das minhas malas.
Há bagagens que são compostas pelo passado de cada um; há aquelas malinhas e valises das vivências, dos medos, das expectativas, de todos os riscos e de todas as incertezas.
Tentemos entender Tereza.

sábado, 27 de novembro de 2010

Para meu grande amigo


E quando ele posta no MSN "Existirmos, aque será que se destina?", eu me reviro em preocupações, até porque, tudo que eu queria é ter anestésico para os momentos da dor existencial dele.
Também não me reconheci recentemente e isso é doloroso: quando será que passamos a ser tão racionais, tão práticos, tão comedidos a ponto de nunca saltar bem alto sem a segurança do pára-quedas? ora, há um tempo atrás eu me jogava, sabendo que só me restariam destroços, mas, e daí, se o salto valia o hematoma da queda?
E nós nos amarramos, não foi, meu amigo? você no seu relacionamento e eu no meu. Eu presa a ele, você preso a ela, nós em nossas eternas dependências emocionais,aceitando bem menos do que merecíamos, por acharmos que nunca teríamos,então, nada mais do que aquelas migalhas. E eram migalhas economicamente dadas, numa avareza imperdoável dos nossos respectivos pares.
Não vale citar emaranhados da filosofia existencial para tentar responder se, afinal, somos o que fizeram de nós - acho que não, viu? por pior que um dia estivemos, nunca fomos passivos - e qual seria nossa situação-limite...é que tudo se transforma mesmo. Acho que sentimentalmente eu me desfigurei: o senso prático que eu vi em mim, esse aprendizado de dizer não, de saber terminar, de saber recharçar o outro sem apelações e sem segunda-chances, poxa, isso é um tanto monstruoso. E se não for monstruoso é reificante.
É que eu nunca fui essa, sabe? nunca fui de dizer o não redondo nem a amigos, nem a amantes e a amados. Hoje isso me sai com uma praticidade assustadora.
Pior que isso é ver que tenho uns amores levianos convivendo com uns amores íntegros, que aprendo a falar outra língua, a me movimentar em outras camadas da subjetividade...
Penso nele sempre, gosto dele, é inegável, mas já não me apego ao que sinto.
Doeu ver em mim um germe dessa frieza quando eu poderia ter dito sim e aproveitado tudo sem medir consequências, sem contar o tempo, sem me importar tanto em ter ganhos ou em evitar perdas. Perdi do mesmo jeito, já que lastimo a oportunidade de que declinei porque afinal eu não poderia jogar tudo para cima e viver com ele, não daquele jeito,sem o tempo necessário para embasar a certeza da decisão. Mas não havia tempo para isso e eu, também, disse não e cortei os laços.
Assim como você, vivi relacionamentos remendados - e "se o passado é uma roupa que já não nos serve mais", demorei a ver que a roupa já estava desgastada e rota, corroída e desbotada. Se insisti foi pelo medíocre medo de ficar nua. Fizemos isso, não acha? a gente não é amigo à toa, me vejo em você demais.
Eu só queria que os teus olhos refletissem outras coisas, talvez mais alegres, talvez mais amáveis, talvez mais pueris, infantis, inocentes, incautas - ora, se me vejo em você, isso significa que era o que eu mesma gostaria de refletir.
E por que sou burra, não vi o que ele estava me dizendo.
Não percebi, senão agora, quando já é tarde, quando não há jeito e quando eu acabo de
fazer apostas no mercado instável dos amores levianos - se é que eu vou levar isso até o fim.
Não gostaria nunca de ter que encontrar C. na minha vida, não quero nada com ele, nem contato sequer, mas sei que a receita é válida, que basta fazer cara de paisagem e tudo vai estar bem.
Aprendi, my friend, que a vida cobra cinismo da gente - é a moeda corrente das relações.
Não estou triste, sabe? estou ficando cínica.
Sarcástica eu sempre fui. Louca e burra, nem se fala! mas é a primeira vez em que me vejo cínica. Pior: me vejo prática, desse tipinho de gente que mede tudo antes de expressar uma opinião ou dar uma resposta, deixando minha espontaneidade característica escondida atrás da cortina da porta principal.
Quanto isso vai durar?
Quanto vai durar o meu espanto?
Quando aprenderemos a nos proteger sem machucar os outros? e o que fazer para amenizar a dor e disfarçar as cicatrizes deixadas?
Mas eu penso é nas suas dores, nas suas cicatrizes e nessa minha impotência em te dar um alívio. Nem por isso te amo menos, meu amigo.
Não tenho band-aid, nem analgésico, nem esparadrapo, não tenho nada além do meu ombro para te oferecer. Está aqui.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O amor e a fila


Eu amo muito o meu amigo Leonardo. Amo e admiro.
De vez em quando eu fico atônita com a propensão que ele tem para encarnar angústias.
E angústias quem não as tem? mas ele me preocupa, ele me abala e me abalou apenas por colocar em epígrafe os dois primeiros versos deste poema de Vinícius que eu, mais neurótica que meu amigo, transcrevo na íntegra - e já não sei a que a integralidade se deve.

Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: — Nunca fez mal...
Quem, bêbado, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: — Rei morto, rei posto...
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: — Foi um doido amigo...
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançara um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: — Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: — Não há de ser nada...
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?


(Vinicius de Moraes - Poesia Completa e Prosa, Editora Nova Aguilar - Rio, 1998, pág. 455)

Acho que minha amizade por Léo se faz por paridades, por identidades ( os contrastes existem, claro) e acho que falo dele falando de mim, porque também suponho que posso morrer de amores e de tantas outras coisas.
Transgredi uma parte dos meus tabus, esfacelando os cacos que restaram deles, mas não deixo de, contraditoriamente, olhar com espanto as exigências dos nossos tempos.
Não obstante eu ser resistente moralmente a algumas coisas, há outras que eu sempre tive vontade de experimentar, de praticar, de dizer, de desprezar, de me desfazer e de ignorar.
Por outro lado, eu que observo o desespero das filas que andam, também pergunto até onde elas chegarão.
Ontem eu tive que confrontar com a verdade de alguns comportamentos de minhas amigas que podem ser traduzidos por desesperos biológicos: se sentem velhas e na idade limite de ter filhos... mais um pouco de tempo e elas perdem a validade, seus sonhos perdem a validade - então, estão na corrida, me dizendo que a fila anda.
Eu reclamava que minha fila andava em círculos, voltando para os mesmos elementos, os senhores meus ex-namorados.
Depois eu vi nisso um comportamento viciado/vicioso e radicalizei: terminou, terminou. Faço do cara um excluído: excluo das redes sociais, do e-mail, de tudo, principalmente da agenda. Poxa, isso é que se chama de "para sempre".
Nada disso se faz sem um pouco de angústia, apesar da paz precedente.
Mas, para quê essa droga de fila anda, corre, gira, se não chega a lugar algum?
Quebra-se o tédio de estar parado, porque estar parado dá uma mostra significativa da perda de tempo...mas aí parece que ninguém vale a pena. Que engraçado!
E se a fila se multiplicar em multidões, em aglomerações, em congestionamentos? não virão os protestos?não virão atos de vandalismo?
Meu amigo está voltando e não sei se ele vai se adaptar ao tédio daqui, se fará a escolha certa na fila dele ou se, copiando meu comportamento de outrora, vai deixar que a fila descreva uma circunferência, voltando ao mesmo ponto experimentado e fracassado.
Quem de nós pagará o enterro e as flores, se pelo jeito estamos todos num mesmo buraco, independentemente da profundidade dos sete palmos?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A graça da vida


Segundo Millôr Fernandes, "o homem é o único animal que ri. E rindo, ele mostra o animal que é".
Por trás desta frase fenomenal, com a qual concordo e rio animalescamente, um pouco de Aristóteles e uma boa porção de criatividade. Isso é o que diferencia a criação do plágio vazio: não se trata de uma repetição, um mero CTRL/C + CTRL/V, entendem?
Mas não é de se ignorar que seguimos uns modelos clássicos que exaltam as lágrimas e condenam o riso, conforme aqueles também clássicos postulados de Platão que hierarquizam a tragédia e a comédia, colocando esta última como expressão dos baixos sentimentos. E tem gente que pensa isso mesmo.
Dos vários livros sobre riso e humor que tenho aqui, todos eles passam pela análise do nosso Deus-Pai-Todo-Poderoso e Mal humorado, pois com Deus não se brinca. Poxa, eu sempre brinquei com o meu pai, mas dizem que Deus não gosta de brincadeiras.
Há um tempo duvidei disso, por isso aprendi a rir de minhas tragédias.
Não dá para rir de todas as coisas ruins, mas tem horas em que tudo de ruim vem em turma, agrupado, a galera de coisas que vão detonar qualquer ser humano e aí você pensa que Deus só pode estar de brincadeira com você. Eu, pelo menos, penso que Ele ri das besteiras que a gente faz, das idiotices que a gente comete e depois vai lá, rezar, pedir a Intervenção divina...Ele não resistiria a tantas burrices que a humanidade comete, caso não tivesse senso de humor.
Mas, digo a mim mesma em reconhecimento ao efeito alquímico do riso, ainda bem que eu sei rir de mim mesma, sei duvidar do império da racionalidade, até porque eu faço cada burrada que seria burrice maior tentar disfarçar.
O que eu acho terrível é aquele riso depreciativo que as pessoas cometem para desfazer das outras, o riso que humilha, que está a serviço não do gracejo e da presença de Espírito, mas ao rebaixamento.
Não posso ver graça no nariz de um, no cabelo do outro,nas coisas físicas, no tom de voz...observar isso em si seria ridículo e não risível.
Trabalho com livros em que o riso está presente como elemento desencadeador de raciocínios e percepções, andando em par com a ironia, com o grotesco,com aspectos políticos...
Quando choro, choro de me descabelar, choro como mulher em tango argentino, choro com desespero, choro o choro dos suicidas, até doer os olhos e ficar com dor de cabeça, até ter sono após tanta energia despendida...Mas quando rio, rio com todos os poros, me revitalizo, me auto-critico, penso:"olha, que pessoa louca!como pude fazer isso ou permitir aquilo?" e me recauchuto porque finalmente pude rir.
Para mim o riso comungado é o sinal maior da cumplicidade, como se eu e ele de fato estivéssemos nos entendendo, como se aquela fosse uma linguagem única para nós, marca mesmo de que pensamos de forma semelhante.
Acho que a vida é um fardo, que a existência cobra muito de nós - e até pergunto, como não ser louquética com tantas cobranças que a vida faz? como manter o equilíbrio? e para quê equilíbrio quando a balança da vida inclina mais para lá do que para cá, ora nos jogando em tristezas, ora nos dando alegrias, ainda que em proporções questionáveis?equilíbrio é ilusão, mas a gente luta por ele, ele é um poder simbólico para que a gente cuide melhor de nós mesmos.
Somos tendentes a considerar o choro mais valioso que o riso e prova disso é que a primeira coisa que um bebê aprende ao vir ao mundo é a chorar. Se e isso aqui, isto é, o Mundo fosse boa coisa, ninguém iria nascer chorando, né? e se os pais foram espertos, logo ensinarão que na evolução da espécie, os bem humorados sobrevivem melhor às intempéries da vida ( não me falem deste assunto na TPM, ok?).
P.S.: Já que eu falei de evolução da espécie, eu acredito que tenha havido o seguinte:
Homo loucus-loucus, o primeiro de nossos ancestrais, meio pirado de tanto ver pedras, na verdade, o primeiro louco de pedra que a Hsitória registra;
Homo riddens, que riu das misérias daquela falta de tecnologia e inventou piada até sobre si mesmo.
Homo erectus, que descobriu que se ficasse de 04 por muito tempo alguém poderia se aproveitar da posição;
Homo falatorius, que descobriu a tênue diferença entre a fofoca e a propaganda;
Homo luddens que inventou o playstattion da Idade da pedra Lascada e um complexo sistema de diversões.
Homo sexualis, que percebeu que a diversidade sexual poderia ser interessante e lançou glamour na sua Era;
Picantropus Erectus de Neanderthal, esse ancestral eu não inventei, foi meu professsor de Arqueologia que me disse que existia (juro!) e me convidou a verificar os vestígios que comprovam sua existência. Tenho pro este nosso ancestral uma simpatia imensa.
Homo Sapiens Sapiens, que somos nós, que achamos que sabemos. Em minhas aulas, porém, esclareço que o Sapiens dá origem à percepção da importância da sapiência. A sapiência , é claro, é a capacidade de engolir sapos - ai, como eu sou sábia.
Dizem que evoluiremos para o Homo Shoppings. Eu tenho um amigo que parece já ter evoluído para esse estágio, mas prefiro nem comentar.

Até debaixo d'água


Deixa eu contar um absurdo: Ilmara deu a louca que queria ir tomar um banho de mar neste domingo.
Eu tinha um encontro perto das nove da manhã, era questão de eu ligar e avisar à criatura de que ele poderia ir lá me buscar. Hesitei, mas decidi ir à praia porque eu também estava precisando. Em minha TPM, eu não estava a fim de ver o sujeito mesmo, era questão somente de ter marcado há uns dias, enfim.
O absurdo não é a loira querer ir à praia, nem que eu tenha ido com ela. O absurdo é que na segunda vez em que eu fui dar um mergulho, não entendi a aglomeraçãozinha na beira-mar, mas fiquei na minha, me refrescando. Até que me virei me dei de cara com um sujeito se masturbando na água.
Que o povo transa na água, tudo bem, normal, mas não é na onda exibicionista.
Nem acreditei, porque desse tipo de tarado eu nunca vi.
Pela primeira vez na minha vida tive medo de engravidar porque fui tomar um banho de mar. Juro! não acreditei!
Em tempos de Micareta, que a gente faz xixi em qualquer canto - e nem queiram fazer idéia de onde eu já fiz xixi (minhas alunas são testemunhas dos vexames neste sentido, porque se a vontade aperta firme, ah, não há quem segure!)- bem, nesses tempos assim, a gente saca um sujeitinho aqui , outro ali, rendendo sua oferenda para Onan (Vish, Onanistas graças a Deus seria um sacrilégio), mas daí a ir tomar banho na praia, lugar cheio de gente, de famílias e de prostituição também, óbvio, e dar de cara com um sujeito nessas condições, é muito chocante.
Tive foi medo de que ele me pedisse para dar uma mãozinha.
Ilmara tirou mais onda do que o próprio mar, riu de mim, fez piadinha e trocadilho, mas não voltou para a água até que o tarado saísse de lá, digamos assim, com as mãos abanando.
Ilmara se divertiu à beça, mostrando os que se fingem de heterossexuais, mas depilam o traseiro, fazem pose, dão pinta (e pinto, sei lá!)e estão "na pista para negócio".
Eu ligava o radar para o olhar os prováveis heterossexuais, aqueles bem seguros de si, do tipo que usam sunga branca porque literalmente confiam em seus tacos (kkk!!!) e até que vi bons exemplares. Mas ver o cara lá na beira-mar, colocando a mão na massa foi assustador.
E dizem, que na hora do calor das vontades sexuais vale um banho frio, hein? não, nesses casos parece que não funciona não.
Lembrei de uma das divisões do Corpo de Bombeiros, chamada N.O.S (lê-se "nós), que é o Núcleo de Operações Sub-aquáticas e que a gente sacaneava e dizia que era Núcleo de Orgias Submarinas ou Sub-aquáticas. Bem, a piada se transformou em pesadelo porque agora eu sei o que seria isso.
É, tarado convicto, é tarado até debaixo d'água.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Pedras que rolam não criam limo (ou Simplesmente mudanças)


Por pequenos eventos, às vezes nossa vida muda de uma forma absurda. Quando não, algo em nós muda demais: estou surpresa pela minha vontade ou pela minha constatação de que posso (ou devo?) mudar de cidade.
Tem esse meu amor incomensurável pela minha casa. Ah, esse é sentimento verdadeiro, imutável: minha casa é parte da minha história, é uma tapera, uma caverna. E é uma caverna high-tech, justamente porque não quero mexer nos vestígios da minha história.
Minha casa é minha infância e é o resumo de minhas conquistas. É o tamarindeiro que vi crescer e são as palmeiras imperiais que existiam há quase um século quando eu cheguei aqui, e que vejo imponentes; são os besouros que eu conheço pelo nome, são as plantinhas, são meu bichos e os barulhos irritantes dos passarinhos estereofônicos que me acordam. Minha casa é mais que uma herança material: são páginas reais de minha memória que eu, sinceramente, temo que a especulação imobiliária um dia tome para transformar em condomínio ou casa comercial, como já recebi propostas.
Essa é minha relação com a minha casa.
Mas vem a minha relação com a cidade, que não é nada do que eu pensava.
Imagine que essa descoberta é algo como você ter um casamento, perceber as faltas e as carências, mas ir se acomodando ou se conformando. Pois é!
Não tenho amigos aqui, não tenho namorado, não tenho vínculo, não tenho emprego aqui. O que tenho em Feira é o meu passado.
Esta é uma cidade sem concursos, uma cidade com universidades grandes e sem a criação de meios de absorção da mão de obra gerada, é uma cidade com uma prefeitura cara de pau que, quando fez um único concurso para professor, o fez em nível de Séries Iniciais, sem sequer ter a desfarçatez de pôr 01 vaga para Biologia, 02 para Letras, 01 para História, essas coisas que as prefeituras fazem para, pelo menos, disfarçar o engodo.
Não,aqui, não interessa seu nível, a cada década se faz concurso para Séries inicias, te põem a trabalhar no Ensino Fundamental e receber como se fosse Séries Inciais. O jogo é muito sujo. Mudança de nível e plano de carreira, só para 03 ou 05 anos, se ainda existir plano de carreira.
Não é ruim viver aqui, mas para mim é insuficiente.
Já viajei demais, já fiquei longe demais de casa e da cidade, neste cansativo ir e vir.
Já sonhei muito em ganhar meu pão no lugar em que vivo, mas é impossível mesmo. E se fosse possível, agora seria também insuficiente.
Talvez por isso pareça que sou mal agradecida com tudo que conquisto: tenho essa necessidade de renovação, sou hiperativa, sou a favor de qualquer "veneno anti-monotonia". Podem me chamar de tudo, menos de uma pessoa morta e parada. Eu não, eu reajo!
Se tenho momentos de letargia, movimento forças para passar, para mudar.
Aprendi a enfrentar os meus medos mesmo nas situações em que a luta está previamente perdida: quanto a isso, por mais que a gente seja otimista, convém ser realista e reconhecer o poder do mais forte. Foi assim que passou o medo de viajar de avião, o medo de me lançar aos meus desejos e ousar tocar nos lugares em que o braço parecia não alcançar.
Vou pensar mais sobre aquela viagem distante, porque aí, sim, é distante demais. Contudo, penso conforme Tati: oportunidade única. E tenho de 08 a 10 meses para pensar nisso.
Não fui à aula hoje e isso também é excepcional.
Fiquei em casa e graças a Deus, Joaquim veio almoçar comigo, veio conversar comigo e sujar todos os pratos, copos e talheres desta casa. Que bom! como a gente se entende!e aproveito para me corrigir: eu tenho, sim, amigos aqui. Tenho amigos do c#ralho, sabe? gente fina mesmo!gente solidária, presente mesmo quando longe, nem sei como dizer o quanto eles são importantes, leais e legais. Eu é que reconhecidamente sou a chata.
E comer macarrão ao molho de pimenta calabresa à moda do chef Joaquim não tem preço!
Retribuí: fiz mousse de morangos verdadeiros. Depois de comer toda a mousse, ele disse: "Odeio morangos!quase que nem aceito, mas aceitei por vergonha e agora me deliciei e adoro morangos nas receitas que você faz!". Ah, gente, me senti o último morango do cesto.
Induzi João Neto a comer morango com mel, certa vez, e ele se empanturrou. Acreditem, eu dou bons conselhos gastronômicos (vou trocar o meu livro de contos,que lançarei em breve, Todas as mulheres se chamam Maria, por um livro de culinária - garanto que será uma leitura gostosa - kkk!)
Como eu disse, não fui à aula, pela primeira vez. Então decidi que não iria ver C. porque eu estava de saco cheio dele, porque eu precisava quebrar o vínculo, porque eu sei que ele tinha certeza que me veria e preferi boicotar os desejos dele e porque acabou. Cansei de ter que conversar com os amigos tendo que dizer o sobrenome dele, para não confundirem com o homônimo, porque toda hora isso acontece e as pessoas ficam chocadas!
Então muitas coisas aconteceram neste final de semana, até em relação a administrar a saudade de Allan e a noção de que foi um evento e acabou. Ficou em mim o fruto da experiência, da mudança.
Até Ilmara me perguntou o que foi que a psicanalista fez ou me disse para que eu mudasse tanto - eu nem tenho resposta objetiva sobre isso, mas sei que encontrar Allan foi como receber aquele beijo que o Príncipe deu na Bela Adormecida, sabe? me acordou para muitas coisas, muito além do que as coisas relacionadas aos meus tabus - estes, então, foram despedaçados em partículas minúsculas.
Nunca um encontro resultou em tamanha ruptura interna.
Sinceramente, desestabilizou até mesmo a minha relação com a história de minha iniciação sexual - ora, quanto tempo perdido com uma construção cultural enlatadinha que me caiu em cheio como uma verdade inquestionável. Verdade agora reduzida a cacos.
Daí que a gente questiona mesmo o valor do tempo - o tempo cronológico, de fato, não é nada em relação ao tempo subjetivo.
Passei quase dez anos completos com uma pessoa que não causou o que 04 dias com Allan causaram.
O mesmo posso dizer dos meses em que namorei Marcelo: 03 meses que superaram essa quase década de relacionamento vicioso, cheio de tracejos edipianos, de que eu não me desvencilhava e só me fazia mal.
Talvez eu tenha dormido por cem anos, nestes dez.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Diários de Campinas, episódio V (epílogo)


Sempre me intrigou o final de As pontes de Madison: Ora, por que a Maryl Streep não mudou, ali, o seu destino? por que ela não largou tudo, àquela altura da vida, e se permitiu os riscos de uma nova relação, já que a intensidade daqueles três dias ao lado Clint Eastwood abalaram suas certezas?
Então vi que não funciona assim para os que têm muito medo dos riscos, para os que, conforme eu falo, têm o superego vigilante e, por isso mesmo, vivem fiscalizando a própria racionalidade.
Nem mesmo quando allan me pediu para ficar mais um dia eu cedi. Ao contrário, eu disse: "É que eu tenho medo. Imagino ficar aqui por causa de um homem."
Até uns dias atrás eu falava de como é que a gente demora para se tocar que o outro não quer a gente.
Agora eu apenas reforço que quem nos quer faz misérias para ficar conosco - não é só porque quem quer vai atrás, mas porque há, na força do desejo, muitos ímpetos de iniciativa, há o desejo levado a sério e não adianta chamar a quem não age assim de covarde - não é covardia. E pode ser covardia também, mas ela não explica tudo e não se sustentaria sozinha.
Pode ser que a pessoa queira a segurança do seu mundo exatamente como ele é.
Pode ser que a pessoa goste da sua zona de conforto.
Pode ser que a pessoa veja os tédios da rotina como verdadeiros esteios que só a segurança da previsibilidade pode dar.
E pode ser preguiça e descrença, também, porque não é fácil apostar no novo.
No mais, há aqueles para quem somos adereços da vaidade: então convém manter aceso o interesse do outro ainda que esteja clara a ausência de possibilidades de tornar real e concreto aquilo que é insinuado. Estes casos são incontáveis, recorrentes, eternos banho-maria de amores que, por fim, não chegarão a nada e só existem por dispositivos de egoísmo ou de masoquismo de alguma das partes.
Não falo aqui de coisas que eu não conheça - pode ver a marca d'água das minhas vivências, admito!
Allan falou comigo sobre coisas que nenhum outro homem jamais falou, manifestou a vontade de continuar junto a mim, cogitou, mediu, argumentou...e eu quase nem escrevo esta página, porque a separação foi dolorosa, porque de madrugada, 04 horas antes do meu vôo de volta, a gente tinha decidido nunca mais se ver, para evitar essa perdição conjunta: não vou para lá, largar tudo e ficar lá; ele não virá para cá também.
Sofremos desde a primeira empatia, porque ele bem percebeu que nossas paridades eram muitas e eram o suficiente para que a gente perdesse a conta de que aquele nosso contato tinha prazo de validade: expira em 04 dias.
Não deu. A intensidade, a overdose do contato, o valor da experiência de estar juntos e viver coisas que "Deus duvida" - que bom! mesmo que o preço seja esse, que bom!- converteram e modificaram nossas proteções recíprocas.
Não é mentira: o remédio de Um é Outro, desde que este outro esteja plenamente com você.
Às vezes as migalhas afetivas de que a gente se sustenta comuflam a inanição sentimental, a carência de afeto, as debilidades que a gente introjetou...então qualquer coisa serve e parece luxo.
Quando alguém dá plenamente de si, quando nos enriquece e nos fortalece de afetos, de carinho, de amor, de cumplicidade, de companheirismo, a gente finalmente percebe que vinha se sustentando de sobras, e da pior qualidade.
Não vai dar para contar nosso último dia juntos porque todas as despedidas foram extremamente dolorosas e eu cheguei doente e indisposta em casa, mesmo que conscientemente eu me dissesse que não poderia ser turista eternamente.
No momento me arrependo de não ter sido flexível, de ter me agarrado à racionalidade como se ela me desse proteção para todas as dores.
Faz um tempo que eu estou assim, racionalizando.
Minha analista me ligou enquanto eu ainda estava em Campinas e pelas palavras dela, presumi seu temor de que eu tivesse desistido não apenas de C., mas de todas as outras possibilidades, até porque eu faltei à última sessão que estava marcada.
Não vou me encontrar com C. nesta semana: ele sabe que acabou. Sabe, na verdade, que eu desisti mas talvez não saiba que eu preferiria nunca mais ter que me encontrar com ele. Tudo mudou. Tudo mudou dentro de mim.
Também de uns tempos para cá eu fiquei radical com os términos de todo tipo de relacionamento que possa haver: andei demais em círculos, sempre voltando para os mesmos namorados, sempre reclamando de certos tipos de amigos, sempre magoada por coisas advindas com o contato com a minha família. Então, quando as coisas acabam, acabam.
Não quero nomes, não quero contatos, não quero revivals: acabou.
Tenho preferido o ponto final à vírgula e às reticências, embora eu desejasse tanto repetir o que me fez bem, o que foi bom. Tudo tem seu tempo e o tempo passa. Tomara que a falta que eu sinto dele, de todas as nossas noites juntos e de todos os momentos compartilhados também passem, deixando saudades e não dores por essa ausência tão vívida - na minha cabeça fica um outro filme:Os melhores anos do resto de nossas vidas, pelo título, não pela história.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Pausa: Empreendimentos Comerciais, parte II


As disputas comerciais dão a tônica neste final de ano.
No começo era o Shopping Pintos. O Rolas veio a seguir.
No começo era o Gianecchini. O Cortez veio a seguir.
Resumindo: você pode optar agora por conhecer o Pintos por dentro, sentir seu aconchego, suas opções e finalmente ter, conforme o slogan do empreendimento, "Tudo que você mais gosta no lugar que você sempre quis". E como consumidora eu digo: "Que convite tentador"!
Dizem que o staff do shopping cogitou lançar o slogan: "Tudo que você queria no tamanho que você sonhava", mas desistiram desta opção para não gerar constrangimentos nem comparações desnecessárias. Ainda como consumidora...bem, vocês sabem a minha opinião.
O receptivo povo de Teresina, onde ficam os dois shoppings ( O Rolas e o Pintos...vish, tem espaço para todos, né?) apelidou carinhosamente o Pintos de Pintão. E para explicar as origens do Pintos, há uma placa:
"Agostinho Ignácio Pinto nasceu em 24/06/1924. Cidadão português e piauiense. Fundou a empresa em 1956. Trabalhou desde os 12 anos, até último dia, em 2007, aos 83 anos". Este, sim, um Pinto esforçado, um Pinto grande nas questões de trabalho, não acham?
Bom para o consumidor, que finalmente poderá optar entre Rolas e Pintos ou, simplesmente, ficar com os dois.

Pausa: Empreendimentos comerciais


Olha só, gente, que cara de pau é essa deste Shopping? não é montagem, não é colagem, não é mentira: o Shopping Rolas existe e foi recentemente inaugurado.
Raul Cortez, aquele mesmo, do CQC, é o garoto propaganda.
Para mim, seria o must "entrar e ficar à vontade no Rolas", sem o menor preconceito. Mas com certeza alguns machões e machistas não vão a um shopping com um nome destes, nem aguentariam trabalhar aí e suportar os trocadilhos, como: "vai entrar no rolas hoje?"; "se divertindo no rolas?"; "pega no rolas a que horas?".
Dizem que o George Clooney foi convidado a estrelar a campanha do Rolas, não sei é a informação é verdadeira, mas sei que o Rolas apareceu no momento oportuno, do tamanho que o consumidor precisa. Quem tem dinheiro já pode entrar no Rolas e sair feliz!

Pausa para a Gramática


Já sabem, não é? este texto não é meu, circula em e-mails que a gente recebe, mas eu o acho deveras engenhoso.

*REDAÇÃO DE ALUNA DA UFPE
Redação feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE Universidade Federal de Pernambuco (Recife), que venceu um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.


Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.

Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.

O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.

Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois.

Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.

Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.

Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.

Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto.

Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Pausa para lamentações


Além de estar doente, não estou dormindo bem. Sinto falta disso, sabe? acabei me acostumando com teus abraços, com as tuas mãos em meus cabelos.

Diários de Campinas, episódio IV, parte V


A entrada do parque, portão II, onde Allan e eu consolidamos nossas conversas e pretextos e de onde eu o arrastei pela mão, para fugirmos da chuva...depois eu conto as cenas de nosso último capítulo!

Diários de Campinas, episódio IV, parteIV


Eu tinha acabado de tirar esta foto, quando conheci Allan.
Fica a imagem de onde a história começa...

Diários de Campinas, episódio IV, parte III


Ah, minha galera da padaria, gente: Beto, Priscila e Queiroz!
O melhor bauru que eu já comi na vida, o cappuccino mais especial que eu experimentei e os funcionários mais alegres e cooperativos que eu já conheci.

Diários de Campinas, episódio IV, parte II


Olha, foi amizade à primeira vista: a minha queridíssima monitora Helen é mais do que prestativa, simpática e humana!
Nesta foto estão Helen e Vinícius.
Dei sorte em conhecer tanta gente fofa, gente fina, gente que me deixou saudade mesmo.

Diários de Campinas, episódio IV


Esta foto eu tirei na UNICAMP, aliás, as Alines tiraram, após minha apresentação no SETA.
Super engraçado quando duas amigas têm o mesmo nome.
Quem me apresentou às meninas foi Helen, da foto acima.
Elas, as Alines, são bem novas, estão na graduação e assim como eu adoram os Beatles, importam vinis dos Beatles e, para minha inveja, irão ao show do Paul McCartney.
Gente finíssima e mais uma razão para eu voltar de Campinas com uma imensa saudade.
Elas me deram todas as dicas, todos os caminhos, todos os indicativos, todas as informações sobre como me movimentar em Campinas.
Queria comentar o preconceito do momento, em relação à minha pesquisa: de novo eu tive que ouvir o professor comentarista questionar porque, "ao lado do brilhante António Lobo Antunes eu trouxe uma obra brasileira do jornalista Torero" (aí descartado o Pimenta, né?).
Eu me assusto com isso.
Poxa, o povo é apegado ao cânone.
Por outro lado, que hierarquização mais desagradável!
Já não basta na vida que a gente fica classificando, hierarquizando, medindo, é dizendo quem é o melhor amigo (todos os amigos são os melhores, gente, eles apenas são diferentes e nós temos mais identificações com uns que com outros, só isso), toda hora é ranking, é lista, é o maior, é o melhor, é o mais...
E pela terceira vez, apesar de educadamente eu dar a resposta cabível, por dentro eu xingo: Queperguntafilhadaputaessesescrotoinventadefazer.preconceituosoridículodementecolonizada!"
Tudo em paz com o evento, exceto pela minha impaciência em lidar com essas perguntas, com observações desse tipo.
Ora, faço Literatura comparada. Nem sempre comparamos para equiparar, mas em meu caso, deixei claro os aspectos contrastivo e a exploração dos efeitos de sentido que a literatura brasileira pós-colonial enceta no contexto das comemorações dos 500 anos do maldito Descobrimento. A isso lancei a ponte argumentativa das figurações da nacionalidade, mas ainda assim, ai que vontade de xingar!

Pausa para os dramas do cotidiano


Como eu costumo dizer,a realidade superou a ficção faz é tempo...
Algumas coisas que eu conto são repetitivas, mesmo sendo novas, porque repetimos erros, porque as pessoas se repetem, porque talvez nada se crie e tudo se "TRANSTORNE" e eu tenho amigos padronizados ou é a vida que é previsível.
Mas as coisas que eu tenho para contar superam qualquer drama de novela das oito - que aliás, as novelas das oito são eternamente repetitivas, mudando apenas de vilões e a identidade do casal protagonista. Ainda assim, rende que é uma beleza!
Lá vai: Não é que a minha amiga, feliz e separada - outra, viu? não é Manu, nem Léa - resolveu escorregar nos braços do ex, de pura brincadeira, e agora está grávida e depressiva?
Meu Deus do céu! ela está arrasada!
Não é somente estar arrasada, é perceber que estragou tudo mesmo, que está fazendo um retrocesso, que terá que vivenciar outros pesadelos.
Esta, por sinal, é uma das minhas amigas que não queria ter filhos.
A mãe e o marido decidiram por ela.
Então ela teve uma primeira filha e ficou transtornada.
Todo dia procurava conversar comigo, explicando que amava a filha, mas que mentalmente estava desequilibrada, que estava confusa, com medo de si mesma, querendo morrer, que não via sentido em nada, que não conseguia comemorar a maternidade.
Como mãe, um desastre: entrava em polvorosa com fraldas, brotoejas e nojinhos do bebê...ah, ela envelheceu uns 05 anos em 03 meses.
Aguentou o que pôde e se separou.
Depois de sair da gaiola e cantarolar, tomar banho de sol e voar entre outros pássaros na direção que bem lhe parecia conveniente,eis o escorrego e a situação. No caso, eles voltaram a morar juntos há uma semana, o que justifica o esconde-esconde, de vergonha da gente, que é amiga.
Com os meus amigos adventista, então, eis o dramalhão: ele e ela são amigos desde a infância.
Ele casou, ela também.
Ele se separou, ela também.
A amizade, a cumplicidade, as trocas de segredos, so contatos foram os mesmos de sempre.
Agora ele se declara a ela.
O problema é que ela tem uma vida mundana paralela, com muito sexo e diversão com homens variados, da qual ele só conhece parcialmente e, ainda assim, acredita em algumas lorotas que ela foi obrigada a contar para se preservar na igreja.
Ele é um cara excelente, mas é vigilante e ciumento.
Ela sempre quis ser amada, mas não quer perder as aventuras sexuais que a vida dupla lhe proporciona.
Mais ainda: ela sabe que com o mundo estando como está, Jeová não vai deixar de cuidar das mediocridades dos seres humanos, das guerras, dos roubos, da violência, dos vícios e de outros males para ficar na vigilância da vida sexual dela. Então ela reza a cartilha na congregação, mas na vida própria é outra coisa.
Eis uma pessoa que vive o menos neuroticamente os seus desejos!
O caso dele pode ser só isso: ascensão dos hormônios e dos desejos sexuais, confundidos com a paridade existente entre eles.
Ela sofre por isso, embora se lisonjeie e tenha permitido o beijo.
Em outro drama bem dramático, o eu drama pessoal: Poxa,por que os homens reagem tão mal ao fato de que gostamos de alguns deles apenas como amigos? o que há de degradante nisso?
Eu, ao contrário, me sinto ofendida e aviltada se alguém com quem eu já tive rolo, namoro ou afins não deseja sequer minha amizade. Putz! não dá para dar nome aos bois, nem para recontar toda a missa, mas estou nessa e estou triste para cachorro!
Além disso, estou doente. Estar doente e triste é um coquetel devastador.
Minhas amigas são tão legais! se eu pudesse resolver por elas e retribuir à solidariedade que elas têm comigo, ah, eu colocaria band-aid em todas as feridas.
É, minhas amigas, companheiras de praia, de festas, de pegações, de reveillons...estão mais enroscadas do que cabelo rastafári!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Diários de Campinas, episódio III, parte VI


Pois é, nem só de tendências de centopéia vivo eu (para os não-iniciados, a tendência de centopéia faz você viver comprando sapatos, independentemente de poder ter cem pés para usar todos os sapatos que compra).
Queria mesmo estar de férias e não estar em Campinas por conta de afazeres acadêmicos.
Por isso procuro dar o meu jeito, sair um pouco, namorar, me divertir.
Mas, aí está: finalmente achei o Dicionário da Obra de António Lobo Antunes.
Tentei importar e me dei mal: os custos totais, em euros, ultrapassavam os 300 reais.
Pela estante virtual, ele custa de 250 a 300 e tantos reais.
Na Livraria Cultura, dei R$ 275,00 reais por ele (são dois volumes, mas ainda assim, é f*da!).
Gente, pense aí com o cérebro e com o coração: como é que um livro pode custar 275,00 reais? porque os tópicos de literatura portuguesa são caros e inacessíveis?
Pedi uns livros de Eduardo Lourenço e a expectativa de entrega é de 11 semanas. Paguei o pedido há 06 semanas e fico na contagem regressiva. Nem gravidez de gato dura tanto!
Aqui no Brasil, As naus custam 250 reais pela estante Virtual. Não há exemplares à venda nas livrarias. Importei o meu da Espanha e custou 68 reais. E daí, eu pergunto: E agora, Humberto Eco, como fazer uma tese?
Como é que a gente canta "Não me amarro a dinheiro não, mas à cultura?" - negócio caro a cultura letrada, impressa. Vish!
Mas eu vou dizer, viu, gente: os mais sábios e os nem tanto dizem que se um autor precisa de um dicionário específico para suas obras, quem o lê está f%*dido!pensa aí, o cara tem um léxico próprio, tem uma gramática individual - nem vem com essa de que ler Saramago e ler Lobo Antunes é se deparar com a ausência de pontuação e c'est fini! ai, ai! brother, o buraco é mais embaixo...me lasquei, né?
Mas devo dizer - e aqui a narrativa é posterior, porque eu já cheguei em casa e já li - o livro é f*%da mesmo!
Olhe, uma analfabeta em Literatura Portuguesa como eu, tem tudo o que precisa no bendito dicionário. Ele explica termos, recorrências, personagens, obras daquele autor e etc...são mais de 1200 páginas.
Adorei! só não gostei de ter que pagar 275 (sur) reais pelo livro.
Bem, nesta mesma quinta-feira eu experimentei um cheese-cake do outro mundo, lá no Café do Ponto. Poxa, depois parece exagero: o melhor que eu já comi nesta minha vidinha medíocre. E a calda de amoras? divina e sublime, incomparável.
O Iguatemi de Campinas é bem tranquilo de andar, de ficar, de perambular...e tem ótimos serviços.
Ah, e o café gelado é ímpar, maravilhosos também. De almoço é que o negócio é ruim, mas isso é generalizado pelo Estado de São Paulo inteiro.

Diários de Campinas, episódio III, parte V


A sociedade romana era formada principalmente por clientes, patrícios e plebeus.
A sociedade contemporânea é formada por Maurícios, Patrícias e plebeus. No caso, esta plebéia chamada eu, que compõe a paisagem, está na cidade dos gnomos com sua sacolinha shopaholic contendo sua primeira e única peça da coleção da Maria Bonita, comemorativa aos 30 anos da marca - tudo em cinco prestações, mas o scarpin mais desejado por mim neste ano valeu a pena!

Diários de Campinas, parte III, episódio IV


Olha que linda a cidade dos gnomos!

Diários de Campinas, episódio III, parte III


Ah, eu gosto de fantasia, mesmo sabendo que Papai Noel não existe e que essa coisa de neve é uma importação cultural de intenções duvidosas. Desliga o raciocínio e curte a fantasia: são bonecos lindos, são artísticos, são engenhosamente feitos para ter movimento, para fazer sonhar...é lindo esse trezinho da foto anterior em movimento.
Tudo lindo, lindo, lindo!

Diário de Campinas, episódio III, parte II


Para o deleite dos olhos, mais detalhes da decoração natalina do Shopping Iguatemi de Campinas.

Diários de Campinas, episódio III


Só me dei conta de que passei o meu telefone sem o devido DDD a Allan na quarta-feira à noite.
A esta altura ele supunha que eu estivesse com a minha família e eu nem desconfiava da peregrinação telefônica e muito menos das constantes tentativas de me achar no hotel.
Bem, fui ver o iguatemi de Campinas, porque em todas as outras vezes em que lá estive acabava indo ao Shopping do Passarinho Gordo, ou seja, o Dom Pedro. A ironia é porque eu não entendo aquele símbolo, que pássaro é aquele e por que escolheram um passarinho gordo para ser ícone do templo do consumo.
Bem, vejam a decoração do Natal

Diários de São Paulo


Passei a quarta-feira em São Paulo, ao lado desta "bela, linda, criatura" de quem todo dia eu me pergunto como foi possível ser amiga, já que ele é tão bonito, inteligente, compreensivo, fofo, fiel e heterossexual? aí deu que Léo e eu somos amigos há uma década, mais ou menos, e não tem jeito: é só amizade, embora eu inveje as sortudas que o tiveram por namorado. Meu amigo é um pão!
Ele cursa mestrado em Filosofia na UFBA, mas está em São Paulo fazendo uma disciplina na USP - disciplinado, todo dia ele vai até à USP e estuda horas a fio na Biblioteca. Não obstante ser inteligente, ele alimenta a inteligência constantemente.
Então fomos ao final da Aevenida Paulista, comer um bauru caríssimo, de um bar tradicionalíssimo, este aí da foto. Acho que ele sabe que eu detestei. Foi a primeira vez na vida, também, que eu vi dois sanduíches com sucos custarem R$ 56,00 - a peso de "euro", hein?
Ele me viu aflita, ao chegar na estação do metrô, com os telefonemas da minha família.
Explico: era para eu estar com a família, no Arujá.
Liguei para que minha tia viesse me encontrar em São Paulo para a gente comprar umas coisas. A resposta foi meu primo e todo mundo lá, ao telefone, me mandando a maior repressão por eu estar sozinha em São Paulo e uma série de terrorismos.
Eu já disse: amor tem dessas coisas de distância. Há pessoas a quem se deve amar à distância para que a gente não se magoe.
A Liga Católica da minha família - sim, eles encarnam a Liga Católica e fazem parte realmente da Liga Católica - é vigilante, moralista e sempre procura brechas para questionar minha vida sexual, minha conduta e minhas saídas.
Estando lá, só saio com os primos juntos, em bandos.
Parece família muçulmana: mulheres não saem sozinhas, nunca. E mesmo os meus primos só podem sair com rígidos esquemas de acompanhamento.
Ouvi lá uns termos repressivos pelo telefone, mas fiz de conta que a bateria descarregou. Naquele momento decidi: não vou lá!
Puxei meu amigo pelo braço e fui com ele onde ele nunca tinha ido.
Exercitamos nosso voyeurismo no MASP: ficamos cara a cara com uns quadros de Picasso, de Renoir, de Van Gogh, coisas que eu nunca achei que fosse ver na vida real de tanto pintor famoso, com algumas esculturas fantásticas e com exposições interessantes que de fato me tocaram, como a de Wim Wenders, chamada Lugares, estranhos e quietos, que tem uma fotografia tirada na Armênia, de uma roda gigante abandonada. Você olha a foto e aquilo chega dói.
Eu digo que cada um tem uma experiência com o lugar em que chega e minhas experiências foram todas outras desta vez.
Talvez um pouco de familiaridade com algumas paisagens porque a minha desenvoltura pela Sé, pela Rua São Bento e pela São João me surpreenderam, eu sabia muito bem onde ficava cada coisa, cada lugar e isso fez com que eu aproveitasse bem mais o meu tempo.
Também tem aquelas coisas idiotas que não me deslumbram e que eu nem faço questão, como ir à Estação da Luz e lugares afins como o Museu da Língua Portuguesa, com seus espetáculos técnicos e discursos previsíveis.
Quem disse que é fácil comprar guarda-chuva em São Paulo? essa incongruência mercadológica é inexplicável!
Haja vista que fazia 31 graus quando eu cheguei mas, uma hora depois já eram 18 graus e a garoa desceu e frente ao fato de que as chuvas-surpresas não são tão surpreendentes assim, nada mais natural do que haver fartura de ofertas de guardas-chuvas.
Nada feito!
Orei e roguei a Nossa Senhora Protetora do Cabelo Afro,para intervir a meu favor. Mesmo assim circulei pelas ruas arriscando a integridade do meu cabelo - como não cessou cedo a chuva, forjei uma burca com meu agasalho e segui em frente.
Gostei de estar com Léo e finalmente perdi o medo e o preoconceito e fui à 25 de março: não é o Feiraguai que eu esperava, não. Tem coisas boas, lojas estruturadas e preços incríveis, aleluia!
De resto, agradeço mais uma vez a Deus por me dar a possibilidade de contemplar tantos homens bonitos e ainda ter estado ao lado de um. Louvado seja Deus!

domingo, 14 de novembro de 2010

Diários de Campinas, episódio II: A Lagoa


Esta é a Lagoa do Taquaral e fica dentro do Parque.
Linda, só vendo de perto para acreditar!
E o parque tem gatos de todos os tipos, desde felinos gorduchinhos, com pêlo fofo e patas de pelúcia, até os gatos humanos, altos, de tórax invejáveis.
(To continued)
P.S.: Eu mesma tirei esta foto. Todas as fotos que compõem as postagens sobre Campinas são amadoramente tiradas por mim - imagine se fossem profissionais!

Diários de Campinas, episódio I


Não é Campos do Jordão: é a vizinhança!
Eu acho que o acaso sempre me favorece. Se não é assim sempre, é na maioria das vezes.
Assim foi que a reserva que eu fiz no Colonial Plaza não foi processada, estando eu lá, de mala (só nao estava de cuia porque prefiro pratos de porcelana, tá?).
Por acaso, o português dono do hotel entendeu o ocorrido e foi se virar para descolar uma acomodação para mim noutro hotel.
Hesitei, mas o português foi muito cortês comigo e me encaminhou ao Hotel Taquaral.
O taxista me disse que era no meio do nada e longe de tudo.
Eu achei que entrei pelo cano, mas que de manhã eu resolveria isso, já que eu estava ali apenas para dormir e seguir para São Paulo de manhã.
Mal passamos pelo Parque do Taquaral - e vocês aí pensando no tamanho da taquara, não é? - vi que o lugar era lindo, o caminho era totalmente diferente de minhas outras duas impressões sobre Campinas e, ainda que assim não fosse, os vários tórax dos prováveis heterossexuais que ali faziam cooper eram motivo de sobra para eu simpatizar com o lugar.
O dono do hotel me explicou: o Parque do Taquaral é análogo ao Ibirapuera.
Ele me deu todas as coordenadas para tudo e, surpreendentemente, me garantiu que eu poderia andar por todas aquelas ruas com segurança. Foi assim um meio de dizer: "nenhum mal te sucederá nem praga alguma chegará à tua tenda".
Acreditei e hoje dou meu testemunho, porque inumeráveis vezes eu andei pela rua deserta, pelas alamedas escuras e nada me ocorreu.
Demorei a perceber que eu estava numa área nobre, com segurança em todas as ruas, com os supostos pactos de paz que se processam entre os ricos e o poder, para que a marginália não se aproxime.
Comi o melhor americano ( o sanduíche, viu, gente? a minha praia é argentino e uruguaio, eu gosto dos latinos!) of all my life e um cappuccino singular na chiquérrima e barata padaria do bairro - ah, sim, diga-se de passagem que a diária neste hotel é uns 30% mais barata do que o outro lá do Centro.
Resolvi que iria dar uma volta pela pista de cooper do parque, que é externa à lagoa.
Era um festival de gatos correndo por ali: lindos, fofos, branquinhos, rosadinhos, com cachorrinhos, com cachorros grandões...até as bibas de altas classe são mais bonitas, saudáveis, chiquérrimas...exalam glamour!
Para quem vive em Feira de Santana, um só homem bonito já inebria o olhar, quanto mais assim, aos montes!
Foi a primeira vez em que vi homens bonitos em Campinas.
Minha antipatia pela cidade era declarada - claro, né? eu estava no lugar errado o tempo inteiro.
Foi tudo diferente: cheguei com a cidade a 30 graus, me hospedei em outro lugar, conheci outras paisagens, mantive contato com outras pessoas e fui sozinha, totalmente sozinha.
Em Feira costumo andar 4 a 6 km por dia, porque gosto de ir andando para a academia - vish, tem é tempo que eu não vou lá! - e nisso de acabar meu café e resolver andar, venci uns 03 quilômetros da pista.
O tempo ficou meio inconstante e eu resolvi voltar.
Bem, lá vem a história de sempre: um carro parou ao meu lado, o motorista queria me pedir uma informação.
Educadamente eu disse desconhecer aquela rua cujo nome eu nem ouvi.
Ele procurou alimentar a conversa e eu segui, caí fora - estando ele, pois, num sentido da pista e eu andando para o outro.
O retorno era para lá do infinito.
Uns 05 minutos depois ele resolveu ir atrás de mim: temendo que eu me assustasse e trocasse de novo de caminho, ele parou o carro na outra pista, largou o bendito carro lá e foi conversando comigo, que não parei para nada e ainda trocei: "Cuidado, seu carro pode ir embora sem você".
Ele pediu pelo amor de Deus para eu parar, para deixar que ele falasse comigo e blablablá...era óbvio que eu estava me divertindo com tudo aquilo - eu e minha vida sem graça e sem emoções.
Parei.
O carro dele lá, abandonado na outra pista.
Falei com ele sobre a Rua do Pretexto que ele estava procurando e gostei da conversa, era tudo que eu queria depois de umas tantas tormentas e tufões sentimentais nesses últimos dias.
Começaram a cair pingos de chuva.
Clamei por Nossa Senhora Protetora do Cabelo Afro e assumi: "Ai, meus cabelos!" - lógico, não são à prova d'água.
E Allan - agora eu já sabia o nome, o pedigree, o curso, o número da Habilitação dele e até o signo (kkkk!!!sagitário).
Pensei nessa minha vida chata, nessa pessoa comedida que eu sou, nessa droga desse meu superego vigilante, pensei em riscos e em violências, mas falou mais alta a filosofia do grande mestre e benemérito filósofo popular Tiririca: "Pior do que está não pode ficar!".
Conversei mais umas palavras com ele e desabou uma garoa ferrada que me fez agarrar na mão de Allan e entrar primeiro no carro dele e só então prestar atenção em tudo, inclusive na forma como eu me apoderei das chaves.
Rimos juntos - primeiro sinal de cumplicidade.
Ele parece Eminem - em tudo, mano, e fala com uma droga de um sotaque bem ABC paulista.
Astuto, me perguntou se eu vi o que fiz.
Eu disse que sim e que se ele fosse um psicopata eu só estava me prevenindo, ficando em via pública, guardando as chaves comigo e mantendo a cautela.
Ficam aqui suprimidas todas as palavras ditas naquela noite, menos por segredo do que por lembranças turvadas sobre o que eu disse ou sobre o que eu ouvi.
Lembro que ele me perguntou sobre meu relacionamento e eu disse que C talvez nem se importasse com meus sentimentos, que eu me sentia um adendo, que eu era só um enfeite narcísico - e se não o fosse de fato, os nossos desencontros desmentiam qualquer dúvida.
Ele me ouviu com uma certa tristeza, não era a falsidade canibal dos homens que se disfarçam de amigos compreensivos para meter a mão (e outras partes) na gente.
Ele me disse que não gostava de ninguém e outras coisas do tipo.
Depois comentou que agora ele é que estava sob risco, porque eu era mais perigosa para ele do que o oposto.
Tem isso o meu ego e não é por soberba: eu gosto de ser procurada.
Se a teoria sobre os tímidos está certa eu pouco sei, mas tem isso sim: ele correu atrás literalmente, me fez me sentir desejada, pagou o preço, largou tudo lá e foi atrás de mim.
Penso, em relação ao amor, como uma donzela medieval mesmo: defendo todos os direitos das mulheres, inclusive o direito de ser tratada como uma mulher, isto é, contar com a delicadeza, com o cavalheirismo e com a INICIATIVA do homem. Não sou de puxar ninguém pelo braço, de me jogar no pescoço do mais tesudo dos homens que seja. Estou fora! e se eu me sentir esnobada, está difícil de eu insistir. Orgulho é um problema e eu tenho esse problema.
Abraço bom silencia todas as palavras.
Fiquei em silêncio.
Campinas esteve linda naquela noite. E mesmo depois da meia-noite, quando ele foi embora, tudo continuou florido, lindo, lindo!

O amor e suas viagens


Tenho que admitir que minhas amigas sabem muito bem o que é padecer de paixão.
Há um tempo Tella me ligou, pedindo socorro, para se desviar dos laços implacáveis da paixão. Assim, referendei as atitudes dela, de se jogar em outras direções, de forma a minimizar a importância de Júnior.
Esta foi a minha vez: Tella mobilizou muitos contatos para que eu pudesse me desviar "das trevas fundas da paixão" e em poucos dias meu telefone se agitava na razão direta dos interesses.
Numa dessas ocasiões fiquei pensando em Átila: poxa, ele gasta uma grana infinita para falar comigo e isso ocorre pelo simples fetiche.
Não deve ser barato sustentar as várias horas de interurbano num celular mantidas apenas por um capricho dele, por esta forma de desejo fetichizado que ele tem por mim...
Estávamos conversando coisas um pouco mais íntimas, codificadas devido à falta de privacidade,no caminho para o aeroporto.
Quando eu estou lá, com os mais apimentados pensamentos, vem a mensagem do crente dizendo que "Deus punirá os imorais" - e eu pensando que se Deus for punir os imorais que comece, então, pela Política e deixe a "nosotros todos" por último. Mas, não há imoralidade nos desejos, nem nas carências, nem nos desesperos de causa. Imoral é a vida que a gente leva, tão cheia de dificuldades,de dores, de escandalosos sofrimentos, de feridas tão nuas...
Até ali eu estava era com receio de viajar pela Azul, isso sim.
Encontrei a minha tia no aeroporto e, como Deus me ama, o vôo dela não era na mesma companhia que o meu. Logo me desvencilhei.
É que o amor tem isso, especialmente para mim: há pessoa que são para amar à distância. Demore-se um pouco e vem um machucado ou a vontade de ferir. E olha que eu estou falando dos meus parentes!
Quanto ao amor entre homem e mulher, esse me deixa ainda mais impaciente.
Não sei vocês, mas eu não gosto de insistir nem de medingar um tempo, uma atenção.
Acredito que quando alguém quer a gente, prioriza a gente, prioriza o encontro, valoriza o momento de estar junto, essas coisas...
Escreveram até um livro besta - ou foi um filme besta? - sobre isso, "Ele não está tão a fim de você" e por pior que seja, tem gente que não se enxerga.
Se você quer e o outro quer, isso significa o encontro de duas vontades.
Se há empecilhos no caminho, eles devem ser retirados com vistas ao fim óbvio, não é?
Então, sou intolerante, sempre fui, com o compromisso de trabalho que vai cancelar o jantar que marcamos; com o imprevisto sei lá das quantas que o impediu de estar no horário combinado para ficarmos junto e, com muita dificuldade pedôo alguma doença.
Está mais fácil eu ser tolerante porque o cara me disse que sentiu necessidade de ir ver um strip-tease com os amigos a ser tolerante com as coisas do cotidiano.
Canso rapidinho dessas coisas.
Julgo que estou sendo negligenciada e meu "Semancol" é de 1500mg, meu irmão, eu rapidinho me emendo e conjecturo que eu sou o último item da lista das prioridades,se é que sou prioridade.
Deixo minha analista de cabelo em pé, porque ela vê que eu sou sem saco para os relacionamentos - ela já disse: "Poxa, você reclama que um é novo demais; que o outro é ocupado demais; que X é ciumento; que Z é negligente..." - ôpa! não fui eu quem estudei para dar resposta ao que Freud perguntou: "Afinal, o que querem as mulheres?"
Eu vou responder por mim: "Eu preciso, eu quero ter carinho, liberdade e respeito, chega de opressão! Quero viver a minha vida em paz". Para isso servem os defuntos ilustres: valeu, Renato Russo!
Depois acham que é tudo questão de vulnerabilidade, de volubilidade. Claro que não!
Há tantas questões perpassando as nossas decisões de cair fora das relações!
Segui para Campinas e essa história será bem contada, mais por fotografias do que por palavras - é, assim fica bem explicado.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Prisioneiros de outras grades


Tem dias em que eu não quero dizer nada a C.
Não sei se as palavras me parecem insuficientes; ou se eu desisto por reconhecer minha impotência diante de alguma coisa; ou se é mais uma arma discreta que eu uso porque sei o que significa o peso do silêncio.
Minha alma vingativa pede silêncio, aquele silêncio que parafraseio de Marcos, "o silêncio frio das coisas mortas". Para quem tagarela demais, para quem compulsivamente derrama palavras, estar em silêncio é greve e é menosprezo.
Sinto muito, C., mas hoje o meu amor se mistura com uma raiva imensa e por isso eu não vou dizer nada para você.
E vou aproveitar muito quando eu estiver longe de você, C., para exercitar o meu desprendimento. E vou delongar muito a minha ausência para que também você se ausente de mim - a sombra mórbida da paixão andou assolando os jardins da minha mente. Não quero isso para mim!
Mas eu reconheço que eu errei.
Reconheço que procurei os caminhos mais terríveis para me desviar de você, para me vingar porque estou me sentindo presa e eu não escolhi estas algemas que você me impôs.
Eu estava quieta, na minha, sem olhar para os lados e aí você "Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não/Se instalou feito posseiro, dentro do meu coração". Eu nunca vou achar isso certo!

domingo, 7 de novembro de 2010

Os Encontros de Sábado à Noite


Estou com um cansaço Kingsize, resultado de duas noites sem dormir: a primeira devido ao trabalho e a de ontem devido ao vício de ir à Groove em dia de Beatlemania.
Que noite boa! que festa boa!
Eu poderia dizer que a festa foi boa pelo repertório da banda, pelos numerosos gatos lindos e heterossexuais que estavam lá, pela paz de poder dançar sem aquelas superlotações que antecedem os feriados e por não ter que aguentar nenhum parabéns. Contudo, fiquei feliz e achei a festa excelente porque encontrei Manoela e Rosana por lá.
Isso é dizer pouco: encontrei Manoela recém separada, com todo aquele fogo no espírito que só as mulheres que saem da gaiola podem ter. Poxa, ela estava radiante!
Devo parecer um monstro que comemora as separações das amigas, oxalá querendo recobrar antigas companhias de festas, campings, viagens e pegações...Bom, aí é que está: solteiras nós temos festas, campings, viagens e pegações - e isso faz uma falta!
Quando estas meninas resolvem casar é pelo encanto da proposta recebida: ser pedida em casamento é ser a Escolhida.
Imagina-se que o cara quer algo sério, que ele será sério, protetor, provedor, companheiro e, além disso,a possibilidade de não passar privações sexuais é bem maior com o casamento. Assim pensamos, em maioria.
O tempo passa, poucos dos aspectos bons se confirmam.
Aí dá nisso: uma se separa e vem me convidar para ir a Morro de São Paulo,Porto Seguro e etc.
A outra, em pleno folguedo de separação me conta que saiu da tumba há quase dois meses, se acaba de whisky, toda feliz, observa os gatos, faz piadas e ainda me dá a dica: temos que ir juntas àquela boate lá da Graça! Menina, a pegação rola é lá.
E me conta que andou namorando rapazes mais novos e tem se arrependido de dar o número errado do telefone.
Curtimos a noite para caramba!
No final da festa, perto das duas e meia da madruga, Rosana descola um adolescente bêbado, bonitinho.
Os amigos dele se candidatam:Manoela pega um após rejeitar outro.
Por incrível que ME pareça, encontro um argentino desinteressante, mas educadíssimo. Ao mesmo tempo, não sei se ele era desinteressante ou se eu estava em crise de consciência porque gosto de C - para onde isso vai me levar, meu Deus? só penso nele, todo tempo o tempo todo...e tenho saudades das mãos dele, dos olhos, dos cabelos, da voz...melhor nem pensar de novo!
Começamos a noite falando dos Lobo Maus, de como gostamos deles - ora, quem diria: Manoela disse isso!disse repetindo uma conversa nossa lá no Rio de Janeiro.
Como mulheres juntas perdem a noção entre si, ficamos ao longo da noite dizendo pornografias que faríamos com o vocalista e com o baixista.
Ironicamente, o baixista é baixinho, mas é iguaria desejada pela minha colega de disciplina no doutorado que estava lá ontem e em outra oportunidade. As outras meninas que estão comigo vibram por ele.
Digo que prefiro o vocalista, Rodrigo, e fico mostrando que ele canta fazendo carinha de orgasmo. Rimos como boas cafajestes e ficamos dizendo que faríamos misérias com ele na horizontal.
Erotizamos o suór dele: ele todo lindo e quentinho, aparentemente limpinho e suado, temperando nossa imaginação sobre sussurros e posições ao som dos Beatles.
Rimos cúmplices, rimos de felicidade instantânea e etérea, rimos porque esta foi uma coincidência maravilhosa e uma resposta silenciosa que Manoela me deu, já que eu nunca mais chamei nenhuma das meninas, nem ela, claro, para sair devido ao fato de ter cansado da mesma resposta negativa.
Rimos porque digo que queria ir na Groove no dia do show de Davi Morais, mesmo só conhecendo uma música, porque eu só iria porque ele é gostoso, não estou nem aí para a música que ele canta, se é que canta! (tá bom, canta e canta bem porque eu já ouvi e vi)
Comentamos, porque fui a última a saber, que nossa amiga Léa resolveu voltar com o ex super gente ruim (é aquele que faz ela se sentir um lixo mesmo sendo ela linda e jovem), aquele que faz chatagem emocional e a escraviza psicologicamente, por questões fianceiras e administrativas.
Queríamos que ela estivesse conosco.
Entendemos que ela tem vergonha de nós por ter retrocedido, cedido, enfim.
Digo que vou embora e, enquanto espero meu táxi na frente da boate, vejo os caras que estavam com as meninas lá.
Enquanto esperam por elas tentam armar os que ficaram sem ninguém e fazem e falam cafajestices ridículas: anus beborum non dominus habet, diria em latim apócrifo, mas se **de bêbado não tem dono, lá estão os 04 patetas de graça, em promoção, tentando descolar mulheres de qualquer espécie, desde que respirem, né?
Penso em latim apócrifo: Mulieribus lascadus ests!(tradução apócrifa e sem noção: as mulheres estão lascadas!)
Volto esbagaçada para dormir, com os pés estourando de dodóis.
No banho me afogo, porque penso que dormi sob a água - ou puseram coisas naquele meu suco de laranja? descrevendo um zigue-zague capoto no colchão...
Acordo às seis.
Acordo às seis e meia.
Acordo às sete.
Acordo às sete e meia e excomungo a humanidade, o barulho, os burburinhos, cada carro que passa fazendo barulho. Desisto de dormir e com uma cara de Medusa vou tomar banho.
Volto para Feira e a vida continua !(rapaz, e continua com um zumbido desgraçado que parecem grilos cricrilando no meu juízo: hora do suco de cenoura, é o suco do arrependimento).

terça-feira, 2 de novembro de 2010

"Quem te viu, quem te vê"


"Bela, bela como Linda Evangelista/Linda, linda, como Isabelle Adjani", cantou meu grande amor chamado Zeca Baleiro.
A noção de beleza que tenho é mais ou menos a mesma dele: como é linda a Isabelle Adjani. Mas, mulheres lindas são um lugar comum.
Discordo muito do dito dos pára-choques de caminhão que afirmam que música e mulher só fazem sucesso quando são novas. Ah, que mentira! as músicas dos Beatles até hoje são sucesso, cantamos tantas coisas do passado, as rádios executam músicas de mais de 15, 25 anos...Duvida? lembre as músicas de Guilherme Arantes que tocam todo dia, as do Michael Jackson, as de Caetano Veloso, as músicas comerciais...estão todas aí.
E quanto às mulheres, tenha dó: seja Marina Lima, Paula Toller ou Christiane Torloni, ou qualquer outra mulher, deixando de lado a discussão sobre os recursos para se manterem belas e joviais, são bonitas e pronto!
Isso é o terror das desleixadas, das feias e enjeitadas de carteirinha, porque criticam o envelhecimento das outras que têm título de beldades. Para estas ignorantes despeitadas, resta dizer que o tempo passa, sim e todo mundo envelhece a menos que morra jovem. Por acaso isso invalida a beleza desfrutada por alguém? ou isso incomoda porque a despeitada nunca ocupou um lugarzinho no Olimpo estético, mesmo que de escanteio?
Eu costumo achar que mulher é muito condescendente com os defeitos masculinos e classifica aquelas coisas lá como um charme: uma barriga, uma careca, umas mechas grisalhas, uns pelinhos brancos, tudo isso num homem é encarado como se fosse um charme. Fosse numa mulher e seria defeito, aliás, seria indicativo de que o prazo de validade dela está se esgotando porque mulheres são as que mais observam o quanto as outras envelhecem e se tornam feias.
Fiquei então olhando um clipe de Chico Buarque, Para Todos.
No orkut faço parte de uma comunidade nada ortodoxa e nada politicamente correta chamada "Eu daria para o Chico Buarque".Ora, e como não...
Ele é um homem velho em que nem podemos observar a velhice, porque ele continua bonito, continua sedutor com o que ele tem.
De quantas mulheres costumamos dizer o mesmo? de memória, eu diria isso de Vera Fischer, mas são poucos os exemplos em nossa memória.
Homem bonito e inteligente, com sensibilidade artística, eis o Chico Buarque. Como não sonhar com ele?
Todos os defeitos dele estão à mostra, mas frente à beleza dele, quem vê ou quem leva em consideração os defeitos?
"Quem te viu, quem te vê", Chico Buarque, vê a beleza se modificando, se adaptando ao passar dos anos, à maturidade.
Somos maus: não achamos nenhum velho bonito e disso eu discordo. Cada idade tem a sua beleza desde que, claro, a pessoa tenha alguma beleza.
Gente que tem sex appeal é assim: a gente acha atraente mesmo que o nariz imenso contradiga sua beleza; a gente acha apetecível mesmo que a idade imponha mais respeito do que desejos; a gente olha e se deslumbra e no deslumbramento os defeitos são ofuscados. E que me perdoem os feios!
Tantas vezes me vi numa letra de Chico Buarque? quantas vezes ele traduziu as dores Femininas? olhe bem Atrás da porta(letra dele e de Francis Hime:

Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teu peito, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua.

A genialidade, neste caso, se torna um agravante da beleza. E que me perdoem os broncos!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A soma de todos os medos!


E não é que em minha insistência em dormir um pouco mais nesta manhã, eu acabei foi tendo um bruta pesadelo? Não é o beatiful nightmare que a Beyouncé canta, não, é um bruta pesadelo mesmo!quer dizer, bruta pesadelo na minha acepção: sonhei que eu voltava para o quartel.
Olha: não é voltar ao quartel, é voltar para o quartel, lugar de onde eu não quis levar nem lembranças, nem fotos e de onde me vieram alguns amigos os quais eu desvinculo de lá.
Era um pesadelo sombrio em que eu estava com a farda operacional, com coturno e tudo, toda deslocada, na sala em que funcionava a B/4, que hoje se chama UAFF Financeiro...ninguém faz idéia do pesadelo que é sonhar com isso, em meu caso.
Eu via todas as minhas amigas chegadas e ficava lá, aguardando para falar com o coronel - e enquanto eu esperava me dava um bruta mal-estar e eu via umas ervas baronesas, sabia que estavam cheias de rãs, imaginava a agonia da sirene de ocorrência, via a Central e o meu pavor de tirar ronda por ali.
As rãs (que não são As rãs de Aristófanes, quem me dera!)estavam em meu sonho porque numa dada noite eu acordei umas 03 da madruga para atender uma ocorrência (olhem aí seus pestes porque eu gosto tanto de dormir!meu sono foi interrompido por anos!). Ao colocar meu coturno, senti um bolinho molhadinho dentro e tentei forçar o pé...meio desconfiada, tirei o coturno e lá estava um rã, umidinha, melequenta, branquelinha, de olhinhos vivos e pretos!
Não mato bicho nenhum, muito menos os que têm ossos!
Engraçado este tipo de coisa: sendo militar, há medos que nunca me pegaram porque eu racionalizo. Daí porque quando Ilmara teve medo de uma pick up que parou perto da gente, em Xique-Xique, altas horas, eu nem me abalei.
Estávamos num grupo de 04 e eu não via como o suspeito poderia nos fazer entrar no carro, em via pública. Se um cara mal elemento abordar a gente num lugar movimentado, solicitando nosso silêncio, a última coisa que ele vai fazer é atirar.
Ele não quer ser visto, não quer ser descoberto e por isso ameaça, forçando o silêncio. Se você gritar estará livre, penso eu: quem vai querer sair atirando em shoppings, em ruas movimentadas?
Corre-se mais riscos na obediência.
Dona Marta Suplicy também ensinava, a seu tempo, a ridicularizar os tarados e até contou que certa vez, estando ela no Ibirapuera, correndo, o sujeito mostrou-lhe o pênis.
Para quebrar a tara ela disse: "Você quer me assustar com isso aí?" e literalmente desarmou o tarado.
Certamente não são todas as mulheres que têm essa frieza...eu grito e corro se isso rolar comigo, porque tenho medo de tarados.
Da vida militar ficaram algumas artimanhas, uma certa dureza com algumas situações,conhecimento sobre a vida do servidor público, boas noções dos direitos, licenças e concessões do setor público,astúcia sobre o que fazem os chefes,a certeza de que quem lê o Diário Oficial descobre é coisa e segredos, armações e beneficiamentos mil que rolam e etc.
É claro que eu não sou de isopor para conviver quase sete anos completos num lugar que não me alterasse quase nada ou que eu não pudesse alterar alguma coisa.
Não teve nenhum Capitão Nascimento, mas eu pedi para sair.
Há duas formas de humilhação muito constantes na vida militar: Uma é pedir pelo amor de Deus. Quem suplica está abaixo da linha da humilhação; outra é pedir para sair, porque denota que você não aguenta.
Não há nada melhor do que voltar a ser civil.
Eu era servil e voltei a ser civil: cidadã comum, sem ordem unida, sem Alvorada, sem escalas, sem paradas nem ordem de Serviço, sem compromisso com o Estado e pertencendo a mim mesma. Meu casamento com a vida militar acabou, embora um ou outro pesadelo me assuste.
Por fim, descubro que os INCOMODADOS SÃO OS QUE MUDAM alguma coisa em qualquer lugar. Mudei e me mudei e, como para tantos outros casos em minha vida, não há retrocesso, nem mesmo imaginariamente.