Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Despedida de Solteira


Ah, gente, quando curtimos esta festa, não sabíamos que ela seria a Despedida de Solteira de uma nós: a que está no meio.
Coincidentemente, minha amiga está cercada por duas Maras: eu (dá para identificar pela blusa vermelha e os olhos míopes, não é?) e Mara, aquela com cara de Pocahontas, de trancinhas e tudo.
Para mim, Despedida de Solteira era um negócio mais quente...mas, lá foi minha amiga "do meio", recepcionar seu grande amor agora de manhã, no aeroporto. E é assim: do aeroporto voltam direto para a União Estável.
Parabéns, casal!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O possível


Bem, embora esteja mais para o (SUR)real, eis o possível.
Oh, que vida dura, single ladies!!!

O ideal


Eis o ideal.

As causas, quarta parte: mera suposição


Bom, acho que a falta de coisas assim também prejudicou nosso relacionamento.
É, lá no Orkut eu pertenço à comunidade chamada: "É falta de...Ó...". As mulheres tendem a ficar muito nervosinhas na ausência de fatores estimulantes como este,a vitamina H H - de Homem, não é inocentes? e de Heterossexual, esta substância tão escassa no planeta terra.

As causas, terceira parte


Antes de minha terceira explicação, vamos lembrar uma coisa que eu sempre digo por aqui: uma coisa é o plano ideal; a outra é o plano do possível.
Eu acho o preto básico.
Eu acho o preto lindo!
Eu acho o preto elegante.
Acontece que como diriam os Engenheiros do Hawaií, na música Piano Bar, "No clipe Paul Simon tava de preto, mas, na verdade, não era não..."
Então, tem muita gente que se veste com o preto porque quer parecer elegante, linda, atual e fazer a média. Ah, meus fofinhos, não estou falando de roupas!!!
A atitude senhorial, aquela que mostra quem manda, por que manda e como manda, não se restringiu ao período escravocrata. E também não é exclusivo dos brancos, embora por cá pelas minhas terras são eles os mais astutos "preservadores" dos elos das cadeias de opressão das atitudes senhoriais.
Dizem que é preciso saber negociar e não entrar em conflito aberto, evitar bater de frente com o mais forte...palavra de "preto do norte, americano forte!", que eu ouvi e segui até onde foi possível.
Tem uma legião de iludidos, neste momento, em algum lugar do planeta, teorizando sobre a colonialidade do poder e essas coisas que,se mal discutidas, causam o efeito inverso ao pretendido. Estes, por sua vez, não conseguem perceber que as teorias não se descolaram da prática dos nossos mais próximos.
Assim, sendo, explico a terceira causa que motivou a mudança na minha orientação: a dificuldade de implementação da teoria na prática ou, de outro modo, tirei conclusões que não constavam de meus objetivos.

As causas, segunda parte


É preciso reconhecer que uma relação, qualquer que seja,envolve, no mínimo, duas pessoas. Assim, assumo aqui a minha parte no fracasso do relacionamento acadêmico.
Deixo esta imagem porque ela representa aquilo que eu deveria ter sido, mas me mostrei incapaz, infelizmente.
E aqui esclareço o segundo motivo dos acontecimentos: o 13 de maio de 1888, não se tratando de um gesto gentil de uma Princesa branca, precisa ser lembrado e reconhecido. Desta forma, a segunda causa deste babado todo são os problemas com os calendários históricos, profundamente ignorados pela parte de lá.

As causas, primeira parte


De fato, eu estou sem tempo, apesar de tanto assunto acumulado nestes últimos dias. Então, vou tentar resumir pelo menos uma pequena parte de minha história no tocante à mudança em minha orientação no doutorado através de imagens e de poucas palavras, porque, afinal, o texto suscitado pela imagem é facilmente compreensível.
Mas, trocando em miúdos: a causa número um de minha decisão foi o alto preço que os exorcistas estão cobrando pelos seus serviços.

Hoje tem jogo: Brasil X Argentina


Bom, como os jogos da seleção brasileira sempre prejudicaram meus relacionamentos amorosos, comprometeram minhas saídas e interferiram no funcionamento dos shoppings, ao longo da minha vida, compartilho, claro, de determinados pontos de vistas expressos por meus amigos argentinos.
Hoje tem jogo do Brasil contra a Argentina e a imagem acima, gentilmente cedida por un hermano, mostra muito bem o quanto eu festejo este momento solene.
Que vença o melhor!E cada um manifeste sua alegria por onde bem lhe aprouver...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Nada de novo embaixo da chuva


Tenho mais novidades do que sacoleira do Paraguai e duas vezes mais do que um vendedor de DVD piratas. Entretanto, essas histórias ficarão para depois, porque ando sem tempo.
Basta dizer que quando eu for escrever esse prometido post, ele vai se chamar Histórias de Quinta, porque se referem à quinta-feira da semana passada e, claro, faz um trocadilho com a nossa conhecida expressão "De quinta categoria". Adianto, porém, que o mais interessante vai ser narrar meu próprio nervosismo porque uma pessoa saía do armário bem na hora em que eu estava passando.E, claro, a pessoa esbarrou em mim. Com isso, saí da flagrante e inesperada assunção da situação sexual da tal pessoa e caí direto num aglomerado de gente num restaurante, estando eu mais nervosa do que eu poderia explicar se fosse comigo mesma. Mas fica para depois a missa e o nome do santo. Por agora vou confirmar o meu queixume: a primavera já chegou, mas em minha cidade só chove!
Hoje nem fui à academia: a chuva não permitiu.
Nem eu aguento mais choramingar pela falta de sol, pela tristeza que dá ter domingos frustrantes e chuvosos que nem me deixam sonhar em usar biquíne, nem flutuar em águas de piscina ou do mar.
Ontem vacinei os meus gatos e até fiquei com pena dos pobrezinhos, menos pela injeção do que pelo frio: ficam todo encolhidinhos e tristonhos. Acho que eu fiquei como eles.
Acordei cedo hoje. A madrugada foi de chuva esparsa. De manhã,ilusório sol radiante. Em poucos instantes, chuva. Saí com Cléo e antes de chegar ao destino, chuva. Voltei para casa e, chuva! Meu Deus, quando isso vai acabar?
O ano inteiro é só de chuva - Ano Novo, Carnaval, Micareta, São João, de janeiro a dezembro essa cidade é só chuva!
E seguindo as determinações da chuva, está aí abaixo uma boa música para se ouvir na chuva - em boa companhia ou para embalar dores-de-cotovelo. Ah, sim: homens espertos sabem que mulheres são atraída pelos que tocam violão e se eles aprenderem a tocar uma música assim, com certeza vão ganhar muitas fãs.

Bizarre Love Triangle

Every time I think of you
I feel shot right through with a bolt of blue
It's no problem of mine but it's a problem I find
Living a life that I can't leave behind
There's no sense in telling me
The wisdom of a fool won't set you free
But that's the way that it goes
And it's what nobody knows
While every day my confusion grows

Every time I see you falling
I get down on my knees and pray
I'm waiting for that final moment
You'll say the words that I can't say

I feel fine and I feel good
I'm feeling like I never should
Whenever I get this way, I just don't know what to say
Why can't we be ourselves like we were yesterday
I'm not sure what this could mean
I don't think you're what you seem
I do admit to myself
That if I hurt someone else
Then I'll never see just what we're meant to be

Every time I see you falling
I get down on my knees and pray
I'm waiting for that final moment
You'll say the words that I can't say.

domingo, 25 de setembro de 2011

É de morte!


Até o presente momento estou morrendo de sono, após ter ido a Xique participar de um congresso internacional, do qual voltei na madrugada do sábado. E madrugada é exatamente madrugada: quatro e meia da manhã. Sei é que desacostumei tanto da lida e da viagem que senti o impacto da viagem bem mais do que outrora, no sentido do sono.
A ida é que foi mórbida e engraçada: sabendo que sou como sou com o meu sono, optei por viajar durante o dia. Sentei na frente, estando, portanto, relativamente próxima ao motorista.
Devido à proximidade física e à ânsia biográfica daquele jovem condutor, a primeira coisa que eu soube foi que ele flagrou a mulher em adultério e, mui tranquilamente, arrastou seus pertences de casa, ficando puto da vida antes mesmo de se sentir corno e revoltado.
Queixou-se dos passageiros, que tanto reclamam do excesso de velocidade. Aí veio o mórbido: ele disse que era motorista da funerária e agente funerário antes de estar ali, dirigindo o ônibus. Ao falar dos “reclamões”, disse que bons passageiros eram os seus defuntos,sempre quietos, sem reclamar de velocidades ou argumentar que não eram animais nem batatas para serem transportados daquela forma.
Entendi que ele nos preferia mortos.
Aí vem o lado pitoresco: ele declarou com todas as letras que adorava tratar com cadáveres, sendo o último sua própria mãe, ainda jovem, de 43 anos - há uns três meses.
Contou a todos nós que dirigia a 160 km até São Paulo, para buscar corpos de lá, de gente cuja família morava aqui na Bahia. Para isso, levava 55 horas para ir e voltar, sem dormir, movido a Red Bull e Arrebite, em troca de uma boa grana.
E falando em grana, ele declarou que a morte dos outros é muito lucrativa: caixões de defunto estão pela hora da morte (ora, vejam só!), um bom caixão anda aí pelos dois mil e quinhentos reais e ele fez propaganda do plano funerário daquela sua ex-empregadora.
O rapaz explicou que literalmente não ter onde cair morto é deixar a família em situação delicada, a alternar a dor da morte com as dolorosas despesas dos funerais.
Disse ainda que tinha muita prática com cadáveres que tiveram aquele tipo de morte que por aqui chamamos de “morte feia” (vá entender se há morte bonita!), sendo ágil para juntar fragmentos de cérebro e demais miudarias resultantes de impactos sobre os corpos.
Interessante foi quando ele explicou para nós, passageiros ainda vivos naquele momento, embora já questionando até quando, como se aplicava formol: injetando no globo ocular e descendo a seringa pela parte superior do corpo, especialmente, face e membros superiores, o cadáver ficava “novinho” por até cinco dias. Bastante apresentável para as visitas.
Não sei de onde vem esse hábito esquisito, mas ele descreveu o velório à là A morte e a morte de Quincas Berro D’água, de Jorge Amado: cachaça, piadas, comidas e até paqueras (aqui já não critico porque Tella adora paquerar em velórios... vai que alguém enterra nela, não é? Cada um com suas esquisitices!).
Diria eu, parafraseando um ícone do forró malicioso nordestino, em se tratando de minha morte: “Quando eu morrer,/me enterre numa cova funda,/Se não, vem um urubu,/para comer a minha...”. Deus me livre que eu não quero estar morta, na minha, estiradinha, com um bando de gente em volta de mim fazendo chacotas entre si, rindo e se acabando de comida e de álcool: sou capaz de levantar do caixão e botar todo mundo para fora, para acabar a algazarra. Ora, uns morrendo e outros comemorando!
Incrível foi que eu cheguei morta de cansaço a Xique-Xique, após 10 horas nessa companhia fúnebre. Eu tive foi medo de dizer que eu estava morta de cansaço: vai que o motorista se empolga e entede literalmente essa minha hipérbole? Como não poderia deixar de ser, ele falou o nome dele, mas explicou: aqui em Irecê me conhecem por Zé do Caixão! Se precisarem de mim, é só chamar.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Das coisas mais banais


Ah, meu Deus, não vou perder meu tempo com teorias e vou deixar os medos guardados atrás da porta, embora o certo fosse jogá-los porta a fora! fazer o quê, se sou humana?
Num dia a gente se desespera, num outro também, até que consegue rir das coisas, dos desesperos e das próprias dores, porque finalmente deixam de doer.
E hoje quem teorizou foi ele. E muito. Chamou Freud para conversar conosco - eu faço isso sempre, mas deixo Freud escondido atrás das cortinas.
Está engraçado.
Teorizamos até quando fugimos das teorias - impregnou em nós essa busca de explicação e essa forma de discutir as coisas como quem faz um Seminário ou como quem constrói um ensaio ou um artigo.
Ele é engraçado.
O silêncio dele também é engraçado, os desvios é que são irritantes, são feitos para ludibriar, para construir fugas retóricas e sofismas... fosse outro o meu namorado e lhe bastaria uma pinga...ou sexo, porque certos homens resolvem os conflitos amorosos aplicando algumas doses de sedução e de prazer...ou enrolando a gente com flores e palavras bonitinhas, coisas que fazem os cafajestes serem encantadores e o poetas se pensarem irresistíveis (é, não me curei deles ainda! águas que nunca mais beberei...).
E por falar em cafajestes...

Deixa que minha mão errante adentre atrás, na frente
Em cima, em baixo, entre
Minha América, minha terra à vista
Reino de paz se um homem só a conquista
Minha mina preciosa, meu império
Feliz de quem penetre o teu mistério

Liberto-me ficando teu escravo
Onde cai minha mão, meu selo gravo
Nudez total: todo prazer provém do corpo
(Como a alma sem corpo) sem vestes
Como encadernação vistosa
Feita para iletrados, a mulher se enfeita
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns a que tal graça se consente
É dado lê-la.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Sonoridade


Eu estava ouvindo rádio e, de repente, tocou essa música de Chico César que, por sinal, faz parte do CD eu dei a ele. Será coincidência?

Eu sei como pisar
No coração de uma mulher
Já fui mulher eu sei
Já fui mulher eu sei

Para pisar no coração de uma mulher
Basta calçar um coturno
Com os pés de anjo noturno
Para pisar no coração de uma mulher
Sapatilhas de arame
O balé belo infame

Eu sei como pisar
No coração de uma mulher
Já fui mulher eu sei
Já fui mulher eu sei

Para pisar no coração de uma mulher
Alpercatas de aço
O amoroso cangaço
Para pisar no coração de uma mulher
Pés descalços sem pele
Um passo que a revele

Eu sei como pisar
No coração de uma mulher
Já fui mulher eu sei
Já fui mulher eu sei

Para pisar no coração de uma mulher
Basta calçar um coturno
Com os pés de anjo noturno
Para pisar no coração de uma mulher
Sapatilhas de arame
O balé belo infame

Eu sei como pisar
No coração de uma mulher
Já fui mulher eu sei
Já fui mulher eu sei

(Mulher, eu sei - Chico César)

Aquelas ondas


Depois que eu digo que de certas águas eu não beberei, não bebo mesmo. E nisso não vai o orgulho, mas a certeza da decisão.
Nas águas da incerteza do presente ele me diz o mais óbvio dos clichês: "O futuro a Deus pertence". E desde quando eu não sei disso? E desde quando saber disso me faz ficar paralisada, conforme eu já disse, "deixando tudo como está para ver como vai ficar?". Não tenho paciência, não sou passiva, não sei esperar!
Vem a outra armadilha: ele me diz, carinhosamente, que o conselho dele é uma ordem. Entendo, perfeitamente o entorno das coisas, mas nem de brincadeira eu gosto que mandem em mim. Tenho dificuldade com a pertença, penso, interiormente em Renato Russo cantando: "Tire suas mãos de mim,/que eu não pertenço a você..."
Penso com raiva sobre Lacan, para quem "O melhor destino de uma mulher é ser a mulher de um homem", que, claro, acerta em cheio minha neurose histérica.
Tive uma noite confusa. Confusa e boa, porque sonhei com quem eu não poderia sonhar, nem deveria, mas o superego relaxou e eu quase nem acordo para demorar mais ao lado dos meus desejos. E os meus desejos, admitidamente, vão longe.
O idiota de um dos meus ex, aquele que virou gay - Sempre foi, certamente... É que prendia os instintos na jaula das aparências - me mandou um torpedo na madrugada, veja, duas da manhã ( e graças a Deus que eu deixo o celular no modo silencioso), avisando que a namorada dele estava utilizando a conta de MSN dele, o que nas entrelinhas equivale a dizer: "Não fale nada que me comprometa, nem cite o nome do meu namorado, porque eu tenho outra namorada de fachada agora"... vida dupla é para quem pode, amigo!
Não sei como alguém pode declinar assim da privacidade: está difícil, beirando o impossível, que eu dê senhas e contas de qualquer coisa para que meu namorado deite e role.
A confiança opera por outros símbolos e não dá para vigiar ninguém por completo, é lógico. Amor de segurança máxima é uma ilusão insustentável na vida real.
Mas a minha conta dos afetos já foi por demais rastreada por outros meios: as redes sociais, os contatos, os amigos em comum, todos os rastros tomados por C. para construir sua base de confiança, sua segurança...como se não lhe bastasse que eu gosto dele. Gosto dele e acho que ele soube disso antes mesmo de que eu própria soubesse, já que fujo, não encaro, tenho medo da prisão, dos atames...
E não quero escravizar os olhos dele, impedindo que ele olhe a moça bonita ou que imagine o que quer que seja; assim como eu olho o homem bonito e tenho sonhos absurdamente prazerosos com quem eu conheço ou com quem nunca me deu bom dia. A lição que a Psicanálise nos dá, de cara, é que os desejos não cabem num relacionamento. Todo mundo sabe disso. O que a gente faz é ser consequente, é preservar quem a gente se importa, é ter cuidado para não ferir o outro e se ao efetuar o cálculo moral valer a pena renunciar ao desejo, prefiro à frustração... é, já tivemos esta conversa, eu e ele...
Bem, mas a minha vida anda em maremoto e me faz apostar nas mais diversas ondas, perdendo ou não atinando a direção do vento: é que preciso chegar à terra.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Tempo fechado


Não fosse por uma certa taquicardia nos meus sentimentos, eu diria que este final de semana foi neutro e chato. Não que não houvesse o que fazer, não que não houvesse aonde ir, mas porque realmente a chuva me desanima. E repetitivamente eu fico estarrecida diante do fato de que em Feira de Santana só chove. Mas, ok, em Salvador também chove e se não chove fica aquele clima horroroso, com um céu triste e cinzento que me arranca a ilusão de ir à praia, como aconteceu na última quinta-feira... o mar, com aquela cara triste, turva como olhos lacrimosos.
A Bahia é só chuva! pelo menos nesses cantos onde eu moro, fico e transito.
Lembro muito bem da última vez em que ignorei a chuva e fui a um show: foi numa apresentação do Skank, há uns dois anos. E quando eu estava lá, me desmanchando de dançar, desceu uma chuva torrencial que ensopou a minha roupa e a minha alegria... o que fazer? continuar dançando e aguardar a força da rinite dali a pouco.
Inventei mil pretextos para não tirar o pé de casa no sábado. Tudo pretexto, porque eu não saí porque estava chovendo, mas não é coisa que eu diga sem ouvir piadinhas e recriminações.
Ontem, ai apenas para o indispensável e até fez um sol meio anêmico, mas suficientemente ilusório para deixar os passarinhos cantando. Voltei correndo para casa e ele, C.,me pôs de novo frente a frente com os paradoxos da distância.
Eu, que já encarei 300km para ficar com quem eu amava e duas horas de vôo só para estar perto de quem eu desejava, fui incapaz de largar o aconchego do meu lar, o calor do meu edredon e ir ficar com ele. Acho que estou ficando uma pessoa complicada.
Distâncias geográficas e proximidades afetivas são pólos em conflito. Mas, quem anda em conflito sou eu, que não tenho mais coragem para desafiar distâncias e para fazer apostas nas relações - se privar do prazer para se privar do sofrimento ou da possibilidade dele, eis a minha escolha quase permanente.
Tem dias em que é preciso um enorme exercício para parar a briga que há dentro de mim.
Não gosto de laços apertados que me acorrentem - faço, desfaço, refaço os atames, mas algumas vezes, simplesmente sumo...
De tanto tentar falar sobre entropia no entorno da minha tese, acabei verificando a minha própria entropia, o caos, a desordem, as coisas fora de lugar, num temporal e numa ventania contra as quais eu nada posso fazer. Para a minha impaciência, nada poder fazer é o retrato da impotência. Nunca fui dessas pessoas que tranquilamente optam por "deixar como está para ver no que vai dar".
Mas dependo do tempo: tudo tem data.
Não posso sair atropelando relógios, nem os relógios da burocracia, nem cronogramas, nem nada...tenho que esperar. E a pressa é a inimiga da paciência.
Já foi longe o tempo em que era fácil esperar, se é que esse tempo já existiu para mim, alguma vez.
Parafraseando o Dr House, pior do que dar uma má notícia, é receber uma má notícia. E hoje elas vieram aos montes até mim. Eis uma segunda-feira de péssimas notícias. E eu nada posso fazer para melhorar as coisas, pois tudo cabe ao tempo. E para arrematar o quadro, chove para caramba lá fora.
Acho que a chuva é a cara da tristeza. Só não estou triste porque sou teimosa, mas estou bem preocupada. A verdadeira previsão do tempo é a seguinte: tempo instável com pancadas de chuvas ocasionais e tempestades de más notícias. A temperatura máxima de hoje é de 40 graus para as minhas preocupações e a mínima é de dois graus abaixo de zero para minhas friezas sentimentais em relação a certas pessoas, embora no amor as coisas estejam quentes. O tempo vai fechar!

Para C., (III)



Memória da pele

Eu já esqueci você
Tento crer
Nesses lábios que meus lábios sugam de prazer
Sugo sempre
Busco sempre
A sonhar em vão
Cor vermelha carne da sua boca, coração
Eu já esqueci você, tento crer
Seu nome, sua cara, seu jeito, seu odor
Sua casa, sua cama
Sua carne, seu suor
Eu pertenço à raça da pedra dura
Quando enfim juro que esqueci
Quem se lembra de você em mim
Em mim
Não sou eu, sofro e sei
Não sou eu, finjo que não sei, não sou eu
Sonho bocas que murmuram,
Tranço em pernas que procuram, enfim,
Não sou eu, sofro e sei
Quem se lembra de você em mim
Eu sei, eu sei
Bate é na memória da minha pele
Bate é no sangue que bombeia
Na minha veia
Bate é no champanhe que borbulhava
Na sua taça e que borbulha agora na taça da minha cabeça
Eu já esqueci você, tento crer
Nesses lábios que meus lábios sugam de prazer
Sugo sempre,
Busco sempre a sonhar em vão
Cor vermelha, carne da sua boca, coração
(Composição: João Bosco / Waly Salomão)

sábado, 17 de setembro de 2011

Paraísos farmacológicos


Eu sou muito desconfiada com relação à medicamentalização da vida.
Claro, se houvesse remédio para as dores existencias, anestésico para dores de amor, curativos para feridas narcísicas, com certeza eu pegaria a minha receita e iria consumir esses produtos aos rodos.
Também não nego que sofremos ações de hormônios, de processos químicos, de síntese de vitaminas, prostaglandinas e o que mais for que sensibilize nossa vida e nosso bem-estar e nos ponham propensos à cafeína, ao álcool e a qualquer outra coisa de efeito paliativo para suportar a vida e suas vicissitudes. Mas essa onda de Lexontans e Rivotrilização do ser humano, meus amigos, aí já está um pouquinho demais!
Dizem por aí que a felicidade tem seus componentes genéticos...pode ser, sei lá. Mas ainda continuo achando que nessa nossa era de medicamentalização da vida, em que pouca coisa tem cura, mas para tudo há um remédio, a depressão começa a ser artigo da moda.
Há um tempo atrás, Depressão era só um evento advindo da queda da Bolsa de New York, nos idos de 1929, cuja repercussão econômica foi mundial e balançou mercados e também existências. Agora, todo mundo tem depressão.
A tristeza, o sentimento de luto, a angústia, a melancolia e a dor sempre estiveram presentes na vida de qualquer ser humano. Não digo que as coisas já não existissem apenas porque não compussem o CID, numa classificação e definição. Mas está na moda ter depressão, todo mundo tem, todo mundo entende, todo mundo se lava no Rivotril e já não se respira sem Risperidona no paraíso dos psicofármacos.
Meu pai diz que toma "meio lexotanzinho" para dormir - agora, que ele tem que encarar os dramas da existência sempre deixados sob o tapete - vejam a intimidade, o carinho e a tentativa de minimalização do fármaco. Bem dizia meu primo que adorava as mulheres tarja preta, porque sexo com as desequilibradas é um estardalhaço fantástico. O problema é que depois elas começam a ligar às duas da manhã, mas tarja preta tem seus efeitos colaterais...kkk!!!
No meu cinismo, fui brincar, dizendo que eu ouvia vozes. Ah, meus amigos se empolgaram, felizes, perguntando que tipo de vozes eram, o que elas diziam, o que queriam, quando aconteciam...
E eu respondi: "Tem umas vozes que me perseguem, uma coisa muito desagradável mesmo. Às vezes elas vêem quando estou no supermercado e dizem coisas assim: ' Senhor Carlos Eduardo, favor comparecer à gerência. Carlos Eduardo, favor comparecer à gerência' e também nos aeroportos, eu escuto essas vozes, me dizendo, 'Passageiros do vôo JJ3425 da TAM, favor se dirigir ao portão 3 para embarque imediato'...
E feito esse festival de cinismo, não sei como eles não me mataram!
Faço brincadeira, mas não faço pouco da cara de quem sofre. Mas é que o negócio está banalizado.
Poxa, qualquer coisinha e o povo reclama depressão!
Qualquer angustia aciona o dispositivo de ingerir uma drágea...haja Deus!
Não vejo, dentre os amigos, nenhum sofrimento fora do normal ou nenhum sofrimento que eu também já não tenha experimentado. Muitas vezes tive até piores...
Minha amiga estava indo para Paris nesta quarta-feira. Antes, havia sido assaltada perto de casa e chegando ao aeroporto, sua passagem havia sido cancelada - não se sabe por quem, nem quando, nem onde.
Para os espiritualmente impressionados, isso seria lido como coisas e trabalhos do mal a persegui-la.
Mas, então, ela ficou nervosa, chorou, se desesperou, maldisse da sorte, pensou em desistir, perdeu as estribeiras e agiu como qualquer pessoa normal agiria: após constatada a catástrofe, levantou-se do chão e do estado de desespero e foi em busca de resolver o problema.
Com ódio, com dor, com desespero, mas a vida da gente é da gente: suporte moral, apoio, solidariedade de amigos, tudo é válido e bem vindo. Parar, pensar, não saber o que fazer e viver desesperos, também é tremendamente humano. Mas a solução, a responsabilidade por nós, é nossa.
Não posso transferir minha existência para outrem, nem casando.
Quando me vi, há dois dias, amarrada a C., o que eu mais quis foi cortar meus pulsos - porque o sentimento mais recorrente para sair de uma situação de difícil solução ou para as aporias da vida é pensar em deixar de viver - mas eu nunca cortaria os meus pulsos. Jamais! Amor para mim é problema...e não há remédio.
E então, olha aí a minha amiga: passa por seus atrozes problemas, mas resolve.
E se não resolve, também não joga nos outros as responsabilidades por eles.
De vez em quando a vida fica uma droga mesmo...já tem bastante droga, não é? não é preciso nenhum remédio para ajudar a resolver o que é próprio da vida.
Viver é dose!
Quer um conselho? reze para Nossa Senhora dos Remédios... depois é só encarar a vida.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Emancipação: está em nossas mãos!


Eu sei lá o que é que se entende por aí sobre emancipação das mulheres, mas eu sei que isso está bem longe de nós.
Quando eu tinha 18 anos tive uma oportunidade de ir ficar um tempo trabalhando em Pescara, na Itália. Na verdade, a oportunidade era toda pré-fabricada porque Lívia estava lá, trabalhando numa rádio e eu estava de saco cheio da vida, da presença de minha madrasta em minha vida, quando não mais em minha casa e, no mais minha vida tinha uns altos e baixos que eu não sabia administrar. Poxa, ser jovem é uma maravilha, mas não tenho a menor saudade de ter 18 anos. Fisicamente nem é tão legal assim, porque a gente distorce a própria imagem,s e acha sem graça; ou se acha o máximo em físico e o mínimo em sabedoria...
Bem, mas aí lá vou eu tirar o passaporte quando o povo da Polinter me diz que eu não posso ir a lugar algum sem autorização dos meus pais, salvo se eu fosse emancipada.
EU, maior de idade, não poderia dar um passo para fora do Brasil sem a assinatura do meu pai e de minha mãe...ora, quem pode com isso?
Aí fui entender, junto com Simone, que emancipada era a mulher que fosse casada ou que tivesse concluído o Ensino Superior - e quem conclui esse negócio antes dos 21 anos? a maioridade plena no Brasil é aos 21. Pronto! Lascou. Ou Lascaux, como diria Joaquim!
Se eu tivesse uma imagem dessa aí do post, na época, eu teria feito umas misérias na Polinter...
Hoje, especialmente, quebrei o pau em família por causa dessas questões: eu tenho dor-de-cotovelo, eu tenho o maior ressentimento pela falta de liberdade sexual das mulheres.
Ah, gente, não é que a gente não possa ter vida sexual, mas é o desequilíbrio na balança e nos cálculos morais que me incomodam.
Aí estavam os três babacas cafajestes, a saber,o meu primo,o meu ex (Ex-Terminador do Futuro!)e o primo dele com umas fotos do tempo em que o meu ex não era ex( sei lá, isso deve ter uns três anos),todos enroscados numa única prostituta, coisa de uma farra de sexta-feira de rapazes solteiros e outros nem tanto.
Aí os três pilantras tinham ido ali na Estrada do Aeroporto, num prostíbulo. Mas não era prostíbulo, era brega mesmo - o que equivale à mesma coisa sem o glamour da retórica - entraram, sentaram, pediram uma cerveja, e a moça veio oferecer seus préstimos.
A moça não era tão moça, o que em nada altera a história nem o apetite dos predadores sexuais, só sei que hoje eles ainda exaltam a disponibilidade dela, que topou tudo e ainda fez promoção. Olha só, a moça fez o combo: Sexo para três, individual (cada na sua vez)+ sala VIP+ qualquer posição sexual+ qualquer modalidade sexual por um preço abaixo de 50 reais. Só faltou incluir a batata frita por mais R$ 3,90! o McLanche Sexual Feliz saiu no capricho!
Olha que maravilha!
Os brutos se fartaram, tiraram fotos, se divertiram e até hoje lembram felizes e orgulhosos da aventura.
Pronto! morro de dor-de-cotovelo. Não só não tenho uma história assim para contar, como também não posso pegar o carro, encher de amigas, jogar uma grana no balcão e pedir um moço de reconhecida competência sexual para que a gente se divirta.
O comércio sexual é para os homens e para os homossexuais do sexo masculino. Meninos de programa só pegam homens...
Mas se eu fosse, se tivesse uma história assim para contar, eu nunca poderia contar sem a certeza de que seria chamada pelos mais terríveis e aviltantes adjetivos. A emancipação nunca aconteceu. As mulheres continuam vigiadas (especialmente umas pelas outras),nada se fez em favor da igualdade,que é só de deveres e não de direitos e quando eu digo isso em família, isto é, entre os primos, né? que um assunto desse na sala de jantar e minha tia e meu pai me excomungam ou chamam um exorcista...isso sem contar se a mesa de jantar fosse lá em São Paulo, onde a parte mais conservadora, retrógrada e caretona de minha família se encontra - vejam: fui criada por eles e com eles!kkk!!!bem feito! não deu certo comigo, uhuuuu!
Mas, está aí a tal da emancipação: mera conversinha para acalmar nossas TPM políticas.
Uma dia teremos a despedida de solteira que sonhamos e merecemos!
E justo hoje que é sexta-feira eu fico aqui remoendo o fato de que não ha um prostíbulo para servir às mulheres...que vida injusta!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Questões de segurança


Em tempos de confiança pouca, é bastante normal que a gente queira saber direitinho em que lugar está pisando, pois que a imagem da firmeza às vezes oculta muita areia movediça. Contudo, foi com espanto que eu recebi a pergunta dele, de C.: "Você tem Facebook?".
Ora, ele não estava perguntando, mas supondo que ou eu não tinha ou me escondia sob uma identidade falsa. A pergunta só veio depois que ele cansou de procurar e não achar. Ora, todo mundo tem Facebook...e para eu não ter, suponho que ele tenha pensado que eu tenho muito mesmo a esconder.
Então falei do meu Orkut,deixei claro que não participo de outras redes sociais porque não tenho vontade nem tempo...até eu me lembrar que andei colocando no meu perfil que eu tinha namorado.
E foi um protocolo explicar para ele que eu inventava o namorado imaginário porque queria espantar os candidatos desinteressantes. Em suma, ele está fazendo uma investigação social sobre mim... que desconforto. Agora sou eu quem não tem mais certeza sobre a conveniência de tirar a relação da clandestinidade. Talvez sejam as indefinições que façam nossa neurose, nosso relacionamento neurótico e nunca assumido, sobreviver.
Por acaso soube que ele acompanha os meus passos na UFBA e que agora que sabe que eu estou próxima de uma certa pessoa, acredite que convenha abrir os olhos...desconfiança mais fora de propósito.
O nosso namorinho medieval, tão ao gosto de ambos, ou vai para frente ou acaba de vez, após tantas idas, vindas, indefinições e, agora, investigações sociais - daqui a pouco ele procura confirmar se tenho ou não antecedentes criminais.
Ele falou comigo há pouco: deve estar lendo cada um dos recados deixados pelos meus amigos, pelos desconhecidos, por quem quer que seja. É a maior CPI já feita em minha vida, é a instauração de uma investigação que nem mesmo o CSI é capaz de fazer.
Sim, eu tive que convencer o rapaz de que eu não tenho webcam, por opção, caramba! nem Thales acreditava nisso. As pessoas simplesmente não acreditam que alguém possa optar por não querer aparecer!não acreditam que eu não vejo graça em ter uma webcam, para trazer os olhares conhecidos e desconhecidos aqui para este meu quarto de onde costumo escrever.
Foi assim quando eu fui ao encontro de um determinado escritor: exames, investigações, insinuações...sem o menor sentido.

Ver você dormir
Me corta o coração
Se o seu sorriso
É sonho ou traição
O que você sonhou
Eu nunca vou saber
Me dá uma pista
Que eu possa percorrer
Não que eu seja ciumento:
É apenas precaução.
Quando você acordar
E não puder lembrar
O que sentiu
Será que não mentiu pra mim?
Quantos beijos de amor
Você pode sonhar
Em mil histórias
Onde eu não posso entrar
Deixa eu ler seu pensamento
Deixa eu ser seu espião
Deixa eu ser seu espião
Alguém tem que controlar o seu coração
Deixa eu ser seu espião
(Seu espião - Kid Abelha)

domingo, 11 de setembro de 2011

Primatas incríveis


A natureza é sábia!

O valor da fé


A fé move montanhas...de dinheiro!
Abri meu escritório de consultoria espiritual, totalmente informatizado com serviço de Umbanda Larga 3G: agora, a concorrência vai precisar de milagres para me superar.
Essas são as especialidades de Pai Ambrósio, mas as minhas vão bem além.

O poder da imagem


Tirem suas próprias conclusões!

Outros domingos


Sucker love is heaven sent
You pucker up, our passion's spent
My heart's a tart, your body's rent
My body's broken, yours is bent
Carve your name into my arm
Instead of stressed, I lie here charmed
Cause there's nothing else to do,
Every me and every you.
Sucker love, a box I choose
No other box I choose to use
Another love I would abuse,
No circumstances could excuse
In the shape of things to come
Too much poison come undone
Cause there's nothing else to do,
Every me and every you.
Every me and every you,
Every me...he
Sucker love is known to swing
Prone to cling and waste these things
Pucker up for heavens sake
There's never been so much at stake
I serve my head up on a plate
It's only comfort, calling late
Cause there's nothing else to do,
Every me and every you.
Every me and every you,
Every me...
Like the naked leads the blind
I know I'm selfish, I'm unkind
Sucker love I always find,
Someone to bruise and leave behind
All alone in space and time
There's nothing here but what here's mine
Something borrowed, something blue
Every me and every you.
Every me and every you,
Every me...
(Every You Every Me - Placebo)

Eu ouvia esta música só para sofrer, porque deve ser que eu vejo graça em sofrer em inglês. Mas, esta auto-ironia acontece porque de vez em quando, principalmente nas tardes de domingo, me bate uma nostalgia de outros domingos.
Então ou fico me lembrando dos mais recentes domingos - relativamente recentes, porque neste ano eu sou cem por cento quietinha, cem por cento responsabilidade e vivo para o doutorado - aqueles domingos do arrependimento e do suco do arrependimento, porque eu precisava tomar muito suco de cenoura para voltar ao meu estado normal, sem aqueles "pins" que dão no ouvido, sem aquele cricrilar de grilos que fica no ouvido até à segunda-feira de manhã, por conta de quem vai para festa se esgoelar junto com a banda,cantando e dançando até criar bolhas nos pés.
Mas neste tempo aí, de ouvir esta música só para sofrer, eu namorava o cara mais grosso do mundo. E ele namorava o mundo. Então eu ia para o Rio Vermelho, com ou sem a minha amiga e comparsa J.R., ficar nas festas, paparicar os caras das bandas que a gente conhecia e se sentir o máximo quando os vocalistas diziam que estavam tocando para nós esta ou aquela música - sempre tinha Blur, com a Song 2 neste meio.
Aí, a gente saía das festas 04 ou 05 da manhã e ficava besta, olhando o mar e discutindo porque a gente era tão idiota, a ponto de amar gente idiota que não dava a mínima para a gente; e sempre concluíamos que nós éramos idiotas, conjuntamente idiotas e, como tais,tudo se auto-explicava.
Nesse mesmo tempo em que eu ficava ouvido Every you, every me, estava tudo errado com a minha vida e eu não tinha a menor noção de que alguma coisa poderia mudar, desde que eu mudasse alguma coisa.
Elegi trilhas sonoras para as minhas dores e como andávamos no mesmo ambiente, minha trilha era a mesma trilha da minha amiga que, por fim, trilhou caminhos diferentes dos meus, se rendeu ao destino social das mulheres e hoje é bem mais infeliz do que éramos naquela época.
Naquela época, também, confundíamos a angústia com a infelicidade - não éramos infelizes, na verdade. A gente era normal, com angústias, aflições, medos e falta de iniciativa, algo que pesa na alma como uma leve sombra da morte.
Conhecemos mais gente angustiada e tivemos relacionamentos angustiados, mas bons.
E nada pior do que namorar gente que é igual à gente até nos defeitos. Todos eram namoros não assumidos que podiam ser resumidos à união de nossas angústias.
Alugamos um apartamento em frente ao farol da Barra, trabalhávamos em dois lugares, morávamos em duas cidades e foi depois disso que a gente começou a realmente viver.
A música do Placebo era algo que ouvíamos mais em casa, ou no caminho para casa, quando achávamos por bem voltar para Feira no domingo de tarde e passávamos olhando o caminho e os cenários da noite anterior já transformados pela simples aparição do dia.
Acho que a angústia tem mesmo uma trilha sonora. Quem fala em rock depressivo não está metaforizando. Prova disso é o que a gente sente ao ouvir os Smiths, o Morrissey cantando "There is a light that never goes out" - coisa apenas comparável a ouvir Karma Police, do Radiohead. E desta eu não gosto nem de lembrar porque é como arrancar as cascas das feridas.
Mas as dores-de-cotovelo, as dores de amor, estas são basicamente em português, claras e bregas como um tango argentino. E se minha memória se remexe tanto neste momento é porque também sei que estou me revirando por dentro, procurando fios que me tirem do labirinto, que não me permitam me perder, é porque estou escavando experiências anteriores para poder ter clareza sobre outras decisões, para não repetir receitas nem resultados. É minha vontade brigando feio com os meus medos, porque medo eu só tenho no plano dos sentimentos.
Não tenho medo de nada como tenho medo dos ferimentos, escoriações, machucados e efeitos colaterais das relações amorosas. Dou graças a Deus pelo amor ser líquido, pelos laços serem frágeis, por amar no domingo e esquecer na terça, porque amar é para os fortes. Olha, não é mentira: "Amar é um deserto e seus temores".
E como eu já sei como as histórias de amor acabam; e como eu também sei através do meu poeta, que diz "paixão, súbito rio sem margens", fico agarrada à borda da piscina, com medo de me afogar na profundidade. Dá para entender bem o que é estar num rio sem margens? não há para onde nadar, não há terra à vista, não há nada a não ser o lugar em que a gente está imerso.
Talvez tudo isso seja falta de cafeína, viu?

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Como não amar António?


Ontem fui ver a casa, Ana. Quer dizer, eu sabia que já não havia a casa mas insisti em ir a Campo de Ourique mesmo assim. Você sabe: a casa dos meus pais por trás da igreja, a vivendinha de dois andares em cujo jardim costumávamos brincar ajoelhados no trevo dos coelhos, perto da gaiola da rede ao fundo do quintal onde os olhos, as orelhas e os focinhos deles tremiam. Aliás quando me lembro da casa é sobretudo isso que recordo: uma silenciosa agitação de sombras na gaiola encostada ao muro sob a nespereira sáfara, pupilazinhas vermelhas, pálpebras que me espiam, que nos espiam, secretas, da infância.
Onde era a casa e a casa ao lado
(a do coronel de artilharia, aquele senhor muito alto amparado a uma bengala como um pedaço de vento que se esqueceu de soprar)
é um minimercado agora no qual as viúvas de Campo de Ourique compram sabão, detergentes, caramelos, dúzias de viúvas empurrando os seus carrinhos por veredas de fraldas e compotas, mas eu continuo a supor que a nossa casa existe de forma que entro no minimercado coloco a moeda de cinqüenta escudos na ranhura, separo por meu turno um carrinho dos carrinhos encaixados uns nos outros numa longa fila expectante e como se fosse também eu uma viúva
(os homens podem ser viúvas não é verdade Ana? principalmente os homens de minha idade assim grisalhos, assim calados, assim tão sem esperança como a chuva num pátio)
caminho por uma ruazinha de flocos de aveia, caramelos, iogurtes, do mesmo modo que caminhava dantes em peso pelos compartimentos da casa, através das ilhas de luz que a hora da sesta semeava nos tapetes.
Tão estranho não ter casa, Ana. Não nos vemos há tanto tempo, deixamos há tanto tempo de falar que você não sabe, não pode saber, onde moro: basta que lhe diga que para chegar a Campo de Ourique necessito de tomar três autocarros diferentes, deixando-me o último bastante longe da vivenda junto do cemitério e dos seus gladíolos tão brancos. Mas todos os domingos venho aqui. Preciso de voltar a casa mesmo que não exista a casa, mesmo que tenha de empurrar um carrinho pelos ladrilhos do minimercado e de comprar o orégão, a salva e os rebuçado de menta de que não preciso para que os empregados não entendam quem sou, para que não percebam o que venho fazer, para que não escutem o leve, teimoso, persistente, suave rumor do passado que me persegue e acompanha, para que não dêem fé dos coelhos na gaiola de rede a devorarem o trevo debaixo de um ramo de nespereira. Detestaria que dessem fé dos coelhos. Como detestaria que notassem o retrato dos meus pais acolá, no sítio de sempre, sobre um tampo de cômoda que se transformou numa pilha de garrafas, etiquetas de cerveja e concentrado de laranja.
Às vezes dá-me a sensação de que é isso e não o fiambre ou o leite ou os chocolates que as viúvas de Campo de Ourique transportam nos carrinhos metálicos, dá-me a sensação de serem fotografias, obectozinhos, casaquitos de lã, o relógio de ouro do meu avô na sua redoma de vidro, dá-me a sensação que pagam na caixa o meu passado, que o arrumam na despensa, que o gastam no inverno, que de certa maneira se alimentam do que fui, do que fomos: passeios de bicicleta até à Ajuda, noites de sexta-feira no cinema, sabor de bombons de tangerina, um morto enorme, de sapatos de verniz, no quarto lá de cima. Que estranhas estas viúvas, Ana: todas de negro, com um chapelito de véu na cabeça, caminhando em fila num trote miúdo, carregando em sacos de plástico o que me pertence, o que durante anos sem fim me pertenceu. Daqui, de onde lhe escrevo
(uma leitariazinha modesta perto da nossa casa com um televisor apagado em cima de latas de biscoitos)
olho o minimercado que a última delas abandona e sei que se entrar, se introduzir uma moeda de cinqüenta escudos na ranhura, separar um carrinho e me dirigir com ele para as avenidas de latas de molho de tomate e pão de forma, encontrarei dúzias e dúzias de coelhos mastigando, à falta de trevo, os desenhos do carpete, numa casa em que a ausência se multiplica nos compartimentos sem ninguém. A empregada da caixa, sem os ver, lê uma fotonovela encostada ao balcão.
E passarei por entre as prateleiras em busca de um odor que não há, apanharei o autocarro na paragem junto ao cemitério e regressarei ao apartamento em que moro a fim de terminar esta carta, a colocar no envelope, e permanecer a olhar a parede fronteira séculos a fio, como sem que você se desse conta olhava o seu perfil ao meu lado na tarde em que fomos ao teatro e eu quis dizer que gostava de si e nunca fui capaz.
(António Lobo Antunes: Uma carta para Campo de Ourique. IN: Livro de crônicas. Lisboa: Dom Quixote, 1998)
Nesta transcrição foram respeitadas a grafia e a forma como o texto é escrito e estruturado, com suas minúsculas e seus parênteses, com sua pontuação em supressão, ou ausente, ou trangressora das normas, como costuma acontecer em boa parte dos escritos de António Lobo Antunes.
Adorei conhecer esta crônica - que é conto, que é poema, que é qualquer coisa de classificação imprecisa, ora, e o que me importa?
Desta memória que deambula por um mercadinho como se este fosse ainda aquela sua casa da infância, tenho lá minhas identificações: acho que penso demais no que será de minha casa quando eu morrer, especialmente com a especulação imobiliária e o crescimento urbano da cidade em que moro, em paralelo ao estouro e às inconsequências da construção civil, que transforma tudo em prédio, em villages, em condomínios, nas gaiolas contemporâneas que todo mundo gosta.
Minha casa é minha memória e se por muito tempo falei dela com saudades, não foi por outro motivo senão porque gosto dela.
Minha outra identificação pessoal está na parte final do texto: isso de gostar de alguem e ser incapaz de dizer. Com o tempo, essa incapacidade se tornou também a incapacidade de perceber de quem eu gosto - coisa que eu julgo autopreservação, que eu devo esconder de mim mesma os sentimentos.
Acabam aí as identificações pessoais e começam as imensas admirações literárias: acho que toda vez que eu me deparo com um escritor desse quilate eu questiono a própria escrita e essas manias e egolatrias de hoje, em que qualquer rima cruzada é poema, em que qualquer palavra em desencaixe é um conto, é um livro, é literatura, embora, sim, há os hábeis e criativos que realmente podem tornar essas operações um bom texto, mas esses são exceções. Daí porque a vida em pseudônimo é mais segura: quando você olha um texto de Lobo Antunes, por exemplo, e olha um outro qualquer, ou um próprio, constata que, definitivamente não estamos diante de diferenças e de particularidades, mas do fato que aquele sim, é um escritor.
Acho este texto lindo.
Tem aí quem vai catar traços de autobiografia, devido à Ana ter existido e ter morrido, tem os traços biográficos da gente mesmo, que se identifica e se vê refletido em situações e referências, apesar de saber que isso é imposível...e tudo isso faz o texto ser lindo.
Tem as coisas totalmente fora de rota, as que não têm nada a ver com o texto, mas que nos vêm à cabeça, sabe-se lá porque, como a dor de uma amiga minha - dor que eu também já experimentei - porque percebeu que o homem com quem ela estava saindo queria apenas uma parceira sexual.
Não era uma dor qualquer, dessas que qualquer mulher entende de imediato nos tempos de hoje. Era, porém, uma dor explicável, porque ela sentia muito o fato dele não se interessar por ela, mas pelo sexo dela. Então, minha amiga incorporava essa subestima com tristeza e indignação, porque dormindo juntos, ele nunca quis conhecê-la, nunca deu uma chance de descobrir outras coisas nela, não permitiu que ela se apresentasse, não quis saber, nem conhecer nem discutir, nem perceber - coisas pelas quais todas nós já passamos.
E para se salvar e não sair olhando os próprios machucados, dizemos que "quem saiu perdendo foi ele" - cada um se defende como pode, mesmo que a defesa seja mentir para si mesmo.
Acho que talvez eu tenha lembrado dela porque admiro nessa escrita a postura do narrador masculino dizendo que "os homens tambem podem ser viúvas", porque o luto de amor vivido por uma mulher é algo muito próprio e dolorido. E a dor deste narrador é gradativamente reforçada: "principalmente os homens da minha idade assim grisalhos, assim calados, assim tão sem esperança como a chuva num pátio".
E depois de trilhado todo esse percurso narrativo, quando já nem há como voltar atrás, ele, o narrador, finalmente consegue dizer que gostava de Ana - como são abundantes as imagens da morte, a memória e morte, como tudo que ficou para trás no tempo, mas corporificado em lembranças, acredito que esta carta é para alguém que já morreu. Ou morreram as oportunidades de viver o que havia para viver.
Este é o meu António, a quem espero saber corresponder interpretativamente, porque ao escritor a gente sempre deve respeito e responsabilidade com aquilo que faz de sua obra. Não obstante, devo admitir: não é fácil. Como não é fácil dizer que eu gosto dele, daquele que não é ficção nem criatura de papel.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Feche a porta


Por maior que seja a fúria, não gosto de fazer barulhos para fechar a porta atrás de mim. Na minha vida pessoal não gosto de barulhos. E por gostar de usar sapatos de salto, também aprendi que não devo fazer barulho com os meus passos - olha, essas pequenas futilidades ensinam tanto à gente...
Há uma outra regra que diz que a medida do perfume, para que não se erre a dose, não deve descurar de que a fragrância não deve chegar antes de você ao ambiente, nem sair depois. Claro, se você acabou de tomar banho, nada disso se aplica, mas se pegarmos a futilidade como metáfora aí estará um outro grande ensinamento.
Antes de fechar a porta, tive que ir falar com um dos porteiros - que não é dono da casa, mas pensa que é - e me senti em frente a um remanescente do DOI-CODI, porque ele não queria apenas informações, ele queria notícias para movimentar as coisas, ele queria um roteiro de novela, ele queria um registro de ocorrência, ele queria um recorte de jornal da imprensa marrom. E foi tão interessante a pessoa se empenhando em me tirar uma informação, sem conseguir entender porque eu estava fechando a porta, até porque o porteiro é ele.
Não adiantou tortura, cercame, ameaça, coerção e coação: não falo mesmo!
E nessas minhas peregrinações, fui à outra sucursal do Inferno, hoje de manhã: desamarrei os meus caminhos e, de passagem, vi muitas pessoas do bem, aquelas que realmente significam muito para mim.
Também por um lance de acasos totalmente improváveis, vi meu grande amigo Chuck. E fiquei pensando, então, que o Inferno não estava cheio de boas intenções, não. Está aí algo que eu detesto, isso de as pessoas condenarem às outras que tiveram boas intenções e maus resultados.
Fazer tudo certo, todo mundo sabe, não dá garantias de que tudo vá dar certo. Olha, nem sempre CERTO+CERTO=CERTO. Essa conta exata, que gente boa e gente medíocre faz, não tem resultado garantido, mas variável. Entretanto, o erro dar certo é uma verdadeira situação atípica.
Então o Inferno está cheio de gente boa. Só que gente boa não faz o Inferno, participa lateralmente dele, ou colateralmente dele.
Quando vou às sucursais do Inferno, encontro, sim, gente boa, gente ética, gente trabalhadora: o caso é que quando estes bons vão parar lá, o Inferno já está feito, já é uma forte identidade coletiva. E o Inferno vai estar sempre que houver apenas UM, porque basta apenas Um demônio qualquer para que o Inferno se estabeleça.
Os que vão ao Inferno, vão porque precisam e não há outra alternativa mesmo - nem cogite quais são os meus Infernos, pense aí nos seus, porque todo mundo tem os seus.
Novo encontro marcado com o Capeta, a que não irei sem "as roupas e as armas de São Jorge". Também vou munida de outras armas que eu puder, mas tenho que ter a clareza de que não se sai ilesa de um encontro desses.
O meu amigo que foi para longe, para uma sucursal do Inferno que fica numa determinada fronteira, já começa a reclamar do Capeta, aquele lá, então, bem típico.
Disse o meu amigo que todos nós avisamos sobre o clima do Inferno, mas uma coisa é saber disso sob nossa teoria; outra coisa é queimar a carne na brasa e ver confirmado o pesadelo.
O Inferno é um lugar em que a gente deve chegar mudo e sair calado, pois por qualquer descuido você cai na caldeira.
Tem Infernos de todos os tipos, tamanhos e especificidades, mas os que eu cito são sempre de uma determinada classe, com poucas variações. Sempre fiz visitas ao Inferno, estágios, pequenas permanências, longas temporadas, em condições e posições variadas.
Pode ser que um novo Inferno esteja só começando para mim, mas não há novidades neles...conheço muitos, sei o que esperar...sei literalmente o que é uma temporada no Inferno.
E como falei em minha fúria, às vezes ela é assim, silenciosa, discreta, anônima.
Tati, foi informada por e-mail da minha visita ao Inferno e teceu um ou dois comentários elogiosos a respeito do que eu escrevi, de modo que eu respondi: "É que foi psicografado pelo ódio", a única linguagem que o Inferno entende bem.
Fechei aquela porta: é o que me interessa.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A independência e os filhos da Pátria


No Dia da Independência do Brasil eu estou a pensar é na minha própria independência, que sempre me custou caro.
Independência é um caso ambíguo: em se tratando desta Pátria que nos pariu, é pensar que se libertar da Metrópole foi só um gesto de formalidade política que o tempo não conseguiu concretizar em seu sentido amplo - é como trocar a casa dos pais pela casa dos avós, quando se é menor de idade, e seguir com a dívida das satisfações a prestar.
Aliás, que nação, hoje é Independente? construtos imaginários que se desgrudam da atenção ao Direito Internacional, às organizações e blocos econômicos e às tantas variáveis que nos deixam aqui, no camarote da periferia, brincando de gigante das Américas.
Minha independência pessoal sempre foi negociável e negociada, a custos altos, como eu falei. Quando a gente declina do subjugo dos pais, dos maridos, de qualquer dessas pessoas com as quais estabelecemos um certo laço de dependência - das quais, eu já disse, a pior é a dependência emocional -, nos vem o preço social a pagar, nos vem o preço do sustento da própria vida, material e simbolicamente falando, vem, claro, o preço da solidão em termos de não se ter a quem recorrer. E ainda assim, o preço exorbitante é compensado pela liberdade. É o clichê mais respeitável que eu conheço, esse que diz que "liberdade não tem preço".
A manutenção da independência é assim algo de sacrifício. E eu que disse "Independência ou morte!" anteontem, como paguei caro! mas nem foi pelo que perdi, mas pelo que eu deixei de ganhar, já que minha vida estava toda planejadinha, metodicamente planejada, criteriosamente planejada e agora nada mais pode ser conforme o planejado e já executado em seu começo.
Eu escolhi isso.
Eu escolhi o preço da Independência e da liberdade, sem o menor constrangimento de dizer que se era para continuar no Inferno, que fosse ao lado de quem eu gosto.
Diplomaticamente fiz os meus pactos, mas não sem questionar que se eu saísse do Inferno, talvez o Inferno não saísse de mim.
Como eu não tenho a menor pretensão de ser original e gosto de clichês, também há um clichê que diz que "O perigo de combater os lobos é vir a se tornar um deles". Estou em alerta!
Pensei em todos os preços e (que incrível!) me predispus a mudar tudo, a ir para bem longe e reiniciar meus processos e minhas escolhas, se preciso fosse. Não foi preciso.
Fiz, também, algumas apostas, novas apostas com um bilhete não pago ou metaforicamente pago com um cheque sem fundos, mas o importante é estar acordado no jogo. Conheço as cartadas e o perfil dos jogadores - tenho minhas cartas na manga, também.
Minha amiga voltou para cá e eu não entendi por que. Ela havia largado tudo e ido para Brasília, num infindável relatório de aventuras boas, do emprego, dos homens, dos programas... e mal respiramos 06 meses entre o ali e o agora, ela voltou, sem se anunciar.
Um dia abri o e-mail e lá estava: voltei. Apareça! e eu quase peguei um carro e saí voando até o Campo Grande só para entender o que era aquilo. Deve ser que o carnê de pagamento do preço da independência começou a ficar em atraso e dívida ficou insuportável. Gente fina minha amiga: só não lembro da última vez em que ela esteve sóbria numa festa...
Tenho amigas muito malucas - tudo a ver comigo, que sou louca mesmo e ainda me incomodo com gente arrogantemente sã. Nem penso no que há com ela agora: penso é que se eu for à Groove a gente se encontra e no domingo ela me liga para contar o que havia de especial com o cara mais bonito da festa, porque ela sempre fica com o cara mais bonito da festa - amiga poderosa!
Bonitinhos esses rótulos, não é? O cara mais bonito da festa; A Banda mais Bonita da Cidade; A melhor amiga; O homem da minha vida; O grande amor da minha vida;Os melhores anos; A mais linda declaração de amor...eu só tenho ressalvas com o tal do Melhor amigo e da melhor amiga...dói perceber que você não é o tal melhor amigo ou ouvir isso diretamente. Eis uma coisa que não se diz.
Ao dizer que alguém é o nosso melhor amigo a gente aponta uma hierarquia de consideração, de respeito e de afeto. É como dizer que a gente gosta mais de um do que de outro, que confia mais neste do que naquele, que um é mais importante que outro...coisa feia, não é?mas a gente acha que é bonito. Eu não acho. Acho porém que os meus amigos são os melhores, porque são meus amigos e com defeitos, brigas, discordâncias e críticas, somos amigos, sim.
E para fazer jus à imagem escolhida para referência a este Brasil e a todos os filhos da Pátria, ficaremos a pensar nos "filhos desta dama que você sabe como se chama"...ai, quem sabe um dia a Independência se fará...

Morar nesse país
É como ter uma mãe na zona
Você sabe que ela não presta
E ainda assim adora essa gatona
Não que eu tenha nada contra
Profissionais da cama,
Mas são os filhos dessa dama
Que você sabe como é que chama:
Filha da puta
É tudo filho da puta!
É uma coisa muito feia
E é o que mais tem por aqui
E sendo nós da Pátria filhos
Não tem nem como fugir
E eu não vi nenhum tostão
Da grana toda que ela arrecadou
Na certa foi parar na mão
De algum maldito gigolô
Filha da puta
É tudo filho da puta!
Vocês me desculpem o palavrão
Eu bem que tentei evitar
Mas não achei outra definição
Que pudesse explicar
Com tanta clareza
Aquilo tudo que agente sente
A terra é uma beleza
O que estraga é essa gente
Filha da puta!
(É tudo filha da puta - Ultraje a Rigor)

domingo, 4 de setembro de 2011

Ode ao último biscoito do pacote


Fui uma criança que comia apenas o "recheio" dos biscoitos "recheados". Eu não deveria ter esquecido disso, porque um fato tão banal me dá tantas pistas de quem eu sou e de como sou - mas estas metáforas não podem constar aqui.
Vou aproveitar o tema besta porque eu estava ouvindo não sei quem questionando a respeito das pessoas que se sentem o último biscoito do pacote (com as variações de última cereja do bolo ou última bolacha do pacote): claro, todo mundo quer pegar.
Todo mundo quer o último biscoito do pacote, mas ele é disputado da forma mais discreta, porque ninguém quer assumir a gulodice, o desejo de comer. Todo mundo sabe que todo mundo quer. E essa metáfora popular é para se referir àquelas pessoas que se acham, que se sentem, que inflam o ego até dobrar de tamanho.
Acho que da mesma forma que há dismorfia corporal, há dismorfia para tudo nessa vida, mas de modo inverso: há as pessoas que se acham irresistíveis, sensíveis, brilhantes, super-dotadas, sem o menor motivos para isso.
Recentemente eu fiquei com pena do rapaz, fiquei constrangida juntamente com ele, porque não houve jeito para a minha amiga entender que ele não estava querendo flerte com ela e a coisa chegou a um extremo que eu quase antevi a perda da boa educação do rapaz.
Esse povo que se diz sensível costuma ser sensível ao próprio umbigo, essa sensibilidade egoísta que impede de ver que os outros são seres humanos com apreensões, necessidades e desejos idênticos aos seus. Aí está a minha amiga. E como dizer à minha amiga uma coisas dessas?como é que a gente comunica a uma pessoa que o mundo parou de girar em função dela?
Há muito que ela esqueceu que relação é troca. Por isso, cada vez mais, menos pessoas dão continuidade à amizade - sem reciprocidade, não dá.
Mas o que será que faz com que a pessoa distorça a realidade desse jeito? será para se auto-proteger ou há um auto-convencimento de que se é irresistível?
Sou uma dessas pessoas que fechou as portas para o contato egoísta. Agora será preciso rever meu arcabouço de desculpas esfarrapadas para não manter contato com ela. Isso é menos pelo egoismo dela do que pelos vexames variados de ir colocar gasolina no carro e a minha amiga, de saia, literalmente abrir as pernas para o frentista e dizer absurdos; ou de suas investidas descabidamente vulgares nos vendedores das lojas a que vou e ela me acompanha...enquanto algum deles possa corresponder, ótimo. Todo mundo tem o direito à iniciativa, mas também deveria ter limites, noções de educação.
O último biscoito do pacote deve ser é muito solitário: foi o último a ser escolhido, embora tão desejado quanto os demais e igualmente saboroso...deve ser um negócio meio triste,se alguém demora a avançar sobre ele.
O último biscoito do pacote deve ter sua dose de sofrimento, nem tudo é glamour:a festa dura até que ele seja comido. Após isso, tem o mesmo destino que os demais biscoitos. Isso, se não achar alguém como eu, que só pega o recheio e joga o resto fora.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A alma do negócio nos negócios da alma


Ocupada como eu ando, me vem meu amigo aqui, me pressionar para dar conta do que vou publicar junto com ele e outros, assumindo, enfim, algo que não seja essa minha repetitiva mania de escrever sobre questões do gênero feminino como ocorre em Todas as mulheres se chamam Maria.
O meu outro engavetado livro, nunca assumido - porque tudo meu é puro pseudônimo...tudo que escrevo fora do eixo científico nunca levou meu nome - finalmente vai ser desmembrado e penso em ceder o nome provisório em favor desta coletânea nossa.
Com textos bem humorados, escolhi chamar de Crônicas e agudas, o bendito compêndio. Os meus chegadinhos, sem saber dar nome à criança de papel,que é esse outro livro em forma de coletânea, certamente vão pescar esse título.
Pelo que vejo, serão crônicas e contos, mas na era pós-moderna, esses limites já nem são tão claros mesmo...
Falando em escrita, lembrei das Escrituras, que há muito viraram objeto de interesses de outra ordem, revelando que a alma do negócio avança sobre os negócios da alma.
Então pensei em outras coisas, na minha vida financeira: religião é um excelente investimento econômico. Vende de tudo: óleos, imagens, camisetas, chaveiros, CDs, paz de espírito, Salvação, esperança, bens materiais...
Só não acertei ainda como é que vou configurar o negócio, porque posso fazer um aglomerado de postulados ou posso simplesmente montar uma prática Central de Resolução de Problemas e Adivinhações. Esta, sim, mais simples e de retorno rápido e garantido.
Não posso ser ialorixá de terreiro de Umbanda Larga 3G, conforme costumo subescrever em meus e-mails, nesse tempo de egos imensos, vigilâncias linguísticas e competências poucas...mas posso me apoiar em alguma palavra bem inventada que pareça se referir a algum ancestral com poderes espirituais e aí tocar o negócio para frente.
Franquias de igreja são negócios maravilhosos. E o melhor: são simples, exigindo apenas que a equipe esteja a par das aflições existencias comuns ao nosso século e treinamento retórico, porque um dos maiores veículos de manipulação e de persuasão é a palavra.
Daí é so inspirar confiança e credibilidade, o que não implica utilizar o santo nome de Deus em vão, mas interpretar suas palavras em favor de nossos interesses.
Reforços mnemônicos para decorar passagens, versículos e filosofias, sensibilidade para distinguir especificidades dos gêneros masculino, feminino e outros são requisitos para o sucesso do negócio...
Se tem gente que anda comercializando a fé, fazendo altas transações em nome do espírito, não é nada incompreensível que as pessoas façam investimentos nas coisas da religião. Vou fundar a minha, para que a sfinanças nãoa fundem, já que entre a minha escrita e as Escrituras vão muitas distâncias.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Para tocar no meu ego


Suspenderam
Os Jardins da Babilônia
E eu, para não ficar por baixo,
Resolvi
Botar as asas prá fora
Porque
"Quem não chora dali",
"Não mama daqui",
Diz o ditado.
Quem pode, pode.
Deixa os acomodados
Que se incomodem...
Minha saúde não é de ferro não,
Mas meus nervos são de aço:
Pra pedir silêncio, eu berro
Prá fazer barulho,
Eu mesma faço
Pegar fogo
Nunca foi atração de circo
Mas, de qualquer maneira,
Pode ser um caloroso espetáculo
Então,
O palhaço ri dali,
O povo chora daqui
E o show não pára.
E apesar dos pesares do mundo
Vou segurar essa barra...
Minha saúde não é de ferro, não!
Mas meus nervos são de aço:
Prá pedir silêncio eu berro,
Prá fazer barulho
Eu mesma faço

(Jardins da Babilônia, Rita Lee)

Entre o ódio e o pavio curto


Tati me falou, toda entristecida, sobre uma colega de trabalho dela, que outrora fora colega de curso na universidade, mas com quem não manteve contato senão um cumprimento vago, que a gente chama cumprimento de sobrancelhas, e que claramente nutre um ódio supremo por ela.
Foi isso que a tocou: o ódio gratuito, especialmente de uma pessoa que, para ela, nunca existiu. E o agravante: ela usa o ódio para fazer campanha contra a minha amiga, solidificando maus conceitos, construindo a imagem paralela, o conceito antecipado dos que ainda não são próximos – já que o concurso convocou Tati recentemente e a outra já está lá há um tempo maior.
Coitada, ela sofre mesmo. Sofre de indignação, porque quando se é odiado, a primeira coisa que a gente pergunta é “o que é que eu fiz contra essa pessoa?”.
Bobinha, a minha amiga: nada, não é preciso ter feito nada contra o outro para que ele nos odeie. O certo é que o ódio seja neutro, que cada um odeie, mas deixe o objeto de ódio em paz. Assim deveria ser. Reporto-me, mais uma vez a Lobão: “O inferno não depende da presença do Diabo”. Este sim superou Sartre, para quem “O inferno são os outros”. Não, o inferno está em toda parte independente do comandante, independente da presença do Diabo.
Logo que eu cheguei num certo emprego meu, vi uma reunião que abundava em mútuos desrespeitos, um pandemônio. Neste dia eu chorei e disse: “Eu não quero trabalhar no inferno”. Coisa mais besta, hein? Meu inferno estava só começando. E não chorei por mágoa não, chorei decepcionada, comovida com o quadro todo. Algo que não me ocorre é chorar por causa de coisas desse gênero se o alvo for eu. O que primeiro se descobre na estada do inferno é que os anjos são todos falsos e que as pessoas são escolhidas para serem demonizadas. Mas é comum, é recorrente: demônios verdadeiros se travestem de anjos.
Tenho os meus dias de cão. Tenho que encontrar com o Capeta, ultimamente bem mais do que eu queria ou do que eu de fato suporto e há dias em que eu não estou a fim de negociação.
Quem nunca trabalhou com gente filha da puta que atire a primeira hóstia. Oh, classe que cresce assombrosamente!!! Mas o problema é que Tati sofre mesmo. E eu também: em todos os casos eu fiz contagens regressivas, eu desejei o bem a quem me odiava, apenas para que a pessoa fosse para bem longe de mim – e isso é bem conhecido de minha parte: mais do que estar perto de quem eu amo, eu desejo estar longe de quem eu odeio, porque no geral eu aprendo rapidinho a odiar quem me odeia. E distância é o mínimo que eu quero desses capetas.
Mas, levantar, todo santo dia, e saber que vamos encontrar quem nos odeia (e quem odiamos), passar uma vida num contínuo exercício de ódio, todo dia, por vários anos, é a réplica do Inferno.
O ódio sincero é melhor que a falsidade camuflada, isso eu reconheço. Nenhum de nós está no mundo para ser odiado, não é bom, mas a gente aceita desde que esse ódio não nos atinja, não bloqueie nossos caminhos.
Muitas vezes o convívio ruim se prolonga por coisas que estão acima das escolhas, pelo que não depende de nós, porque a gente não vai largar empregos e lugares por causa de um convívio insuportável, mas esse apego, depois, se mostra frágil: faz tanto bem estar longe das pessoas nefastas. Vale a pena fazer a contagem regressiva até o dia do fim do estágio probatório, vale a pena contar os dias que faltam para acabar os motivos do convívio forçado... Ah, é uma satisfação que não tem preço.
Às vezes o ódio vem do chefe ou do superior hierárquico. Aí a gente está lascado: tudo será usado contra nós, nenhum esforço será reconhecido, todos os caminhos estarão travados e o Inferno estará garantido. É um preço muito alto para o pão integral nosso de cada dia, não acham? Aprendemos com Chico Buarque: “Depois penso na vida para levar, e me calo com a boca de feijão!”. Tem quem use nossas necessidades como elemento de chantagens.
Como pessoas assim, que usam cargos, posições, benefícios simbólicos, para coagir infernos alheios, podem dormir sossegadas?
Acho que o homem tem um terrível instinto primitivo, violento e de autodefesa, conjuntamente e, por isso mesmo, se o ódio é assim estupidamente gritante, ele só será aplacado pelas vias de fato, no tapa e no braço. Enquanto isso não ocorre – e os que se fingem de civilizados vão deixar de reconhecer que a violência está no assédio moral, na humilhação, no aviltamento e na perseguição exercida e não na briga física.
Acho ridículo que alguém pague para ver dois idiotas brigando num ringue. Como aquilo pode ser esporte? Como as pessoas não se envergonham em se comprazerem com uma pessoa apanhando até cair? Que instinto monstruoso faz a torcida ver e torcer pelos que trocam murros, pancadas, ferimentos, numa arena autorizada? Que beleza há no nariz quebrado e sangrando de quem cai na lona? Mas essas mesmas pessoas preferem a tortura permanente e gradativa dos pequenos atos violentos, da fofoca, do dano moral, da difamação, das chantagens (por que, quem vai enfrentar o chefe e correr o risco do desemprego?). Violência é isso, é a luta desigual... Descarregar ódio e assumir que o ódio pela porrada é mais lícito é a via mais sincera – palavra de quem não suporta a violência. Mas, nem todos são valentes fora dos seus nichos e lutar sem máscaras pode ferir a cara.