Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Acabou-se o que era doce...


Eu só fiquei pensando em como começar este post. É que hesitei em dizer se "acabou-se o que era doce" ou se " alegria de pobre dura pouco" ou se, mais simploria e objetivamente, eu deveria dizer: "A casa caiu!".
Vamos ao fato: ainda ontem eu estava dizendo que o meu orientador me deu um "sossega-leão", dizendo que deixaria minha defesa de Qualificação para o ano que vem, que eu relaxasse, que largasse o stress, que as coisas não são bem assim para ontem...
Juntei a alforria concedida à vontade louca de ir à praia, pegando a estrada desde amanhã, começando o processo de exorcismo da tese na festa da Groove e culminando em uns 03 dias de praia, de Praia do Forte e o que mais quiséssemos.
Mobilizei minhas amigas - aliás, amigos - e tudo foi articulado para uns dias pelo litoral, pela Linha Verde.
Até às onze e meia da manhã desta segunda-feira, tudo ia bem: uns sairam para comprar short e sandálias, outros foram levar o carro para a revisão,alguns foram jogar a semente da dissimulação para obter um atestado que cubra as faltas ao trabalho, eu contactei minha tia, que mora perto da praia, avisando que passaríamos uns dias lá e pedindo a previsão real do tempo...
Quando eu estava bobinha, numa sessão de futilidade, o telefone tocou e eu nem me mexi para atender, pensando que eram as meninas atrás de bobagens e perturbações. Quando eu atendi, na segunda vez, fiz mil gracinhas, pensando que era Chuck, mal ouvindo o meu interlocutor.
Tchan-tchan-tchan: era meu orientador, que me deu a maior lavada para dizer que sexta-feira, ao meio-dia estará me esperando na sala dele, porque ele, agora, parecia que tinha sido incorporado por Raul Seixas e estava era me dizendo: "Eu vou desdizer aquilo tudo que eu lhe disse antes..." **takiupariu!
Que metamorfose ambulante, meu Deus!
Como é que pode? de sexta até às onze e meia desta manhã, eu era livre, eu estava livre, eu não tinha compromisso nenhum, nem precisava ter pressa...
Ele disse que, como ele vai a Portugal na semana que vem, soube que teria que assinar meus protocolos e autorizar meu depósito de tese até à sexta que vem. Com isso, estava suspenso o meu recesso, que eu corresse para casa para dar conta do que ele estava enviando...
Eu fui sincera: "mas, professor, uma vez que o senhor me dispensou, eu estava com praia marcada..."
e ele:
- "Sinto muito, seu feriado será de escrita. Corra!Não tem jeito!"
Ele falou daquele meio-dia de sexta-feira como quem estava marcando um duelo no Velho Oeste.
Eu pensei que para o Dia dos Finados,que será quarta-feira, ele estava me matando e se eu tivesse onde cair morta, juro que eu morreria.
E agora? como é que eu vou ficar na praia, escrevendo?
Estou aqui de dedo duro, de tanta digitação.
Meus dois neurônios foram ao colapso, ou dançaram calypso, sei lá, só sei que não estão em pleno funcionamento...
Vou largar o povo na praia na sexta-feira de manhã e, humilhada, pegar a estrada de Salvador rumo ao duelo do meio-dia. Por que será que ele marcou meio-dia? será que quer comer meu fígado? será que é metáfora para indicar que eu estou frita?ou é so para que eu não almoce?
Estou lascada!
Não contei nada às meninas, para não jogar água no ânimo...
O que é que eu vou fazer para escrever um bocado de coisas num tempo mínimo?
Fiz a pausa para este post porque não flui nada, não tenho criatividade, não tenho palavras, não tenho saída e meu caso não se resolve com Google...

domingo, 30 de outubro de 2011

Se der praia...


Achei mega interessante a Groove promover a festa prevista para o dia 1º de outubro e astuciosamente chamá-la de Refinados. Aí, o feriado do Dia dos Finados, vira uma festa prévia e, como não poderia deixar de ser, o cover é de Raul Seixas e de Cazuza - daí os dois finados serem refinados...
Se o sol ajudar e a disposição do povo também, quero ir à festa e à praia, apesar da inconstância do sol por aqui.
Há dores de cabeça que eu só curo em Guarajuba - dizem os meus primos que é porque antes de Gurajuba fica o Rio Sonrisal. É, ele existe e eu ouvi dizer que há outros lugares no Brasil em que há um rio com o nome desse analgésico.
O que é engraçado nas minhas amigas são os esforços feitos para me incluir nas loucuras de verão, mesmo quando minhas finanças são desfavoráveis: estão articulando um reveillon muito metido a besta, no Rio de Janeiro, sem cuidarem que o Rio de Janeiro, no mês de janeiro, é literalmente um rio: chove para caramba. É o período das enchentes de verão, das chuvas quase eternas...
A minhas amigas têm esperanças de que tudo mude para melhor.
E eu já estou começando a pensar em tomar o rumo da praia porque estou realmente com um cansaço mental fora do comum... meu orientador está atarefado e cansado e acabou de carimbar meu passaporte para um pequeno recesso. Enquanto eu estou em casa, não há recesso que eu acate e todo dia eu mexo no texto, engordo o texto, apago coisas, escrevo coisas, perco a cabeça preocupada com tudo...
Preciso de uma boa dose de descanso, de praia e deste feriado que há de vir sem chuva.

A paixão: puro afã...


É tão bonitinha a cara de idiota dos apaixonados. De todos os apaixonados: homens e mulheres...
Acho que ela se interessou por esta mágica inscrita na paixão, coisa que deve ter uns vinte anos que ela não sabe o que é, mas está aí construindo uma paixão imaginária para esta vida séria, responsável e difícil de levar.
Há aquela trabalheira toda dos apaixonados em procurar uma roupa nova para cada encontro, em se preocupar com o encontro perfeito, em se empenhar para mostrar o melhor de si para o outro, em se esforçar para chamar a atenção, nas formas discretas de se exibir para o ser amado,num quadro completo de escolhas e ações só para viver a paixão e a conquista do outro...
Claro, toda paixão sofre a ação do tempo - tempo indeterminado, quase sempre durável, bem durável, durável o suficiente para as pessoas perderem a cabeça, a vergonha, a noção das coisas...
Já a minha amiga R. está apaixonada pelo poeta errado - é aquele lá com quem eu já tive um rolo. Eles não se conheciam, ela não sabia que ele era ele, até que ligou as coisas...e se ligou nele, que adora jogar charme para todas mas não troca sua escolhida por nenhuma. Relacionamento obsessivo dele com L, que tem, como convém às esposas de poeta, um comportamento "rasga-pulsos" que fala por si só. Podem entender literalmente.
E também é boa essa paixão que não se realiza nunca.
Para mim, todo grande amor começa com uma grande paixão e é uma grande paixão: um amor sem a voracidade da paixão é a coisa mais insossa do mundo - é insípido, é sem-graça, é comodismo e oportunismo parasita que chega perto do desespero de causa.
Eu tenho medo do desespero de causa. Acho que quando a gente flexibiliza a tal ponto que se desfaz do que realmente deseja, do que realmente quer, acaba se agredindo.
Ontem, quando eu saí com a minha amiga - porque a noite de sábado continua a me convidar para sair, haja o que houver - ela me falou que de repente criou um tremendo medo da solidão.
Ela me perguntou, como também perguntam os meus amigos, se eu já passei por isso.
Não, eu não tenho medo: eu gosto de estar sozinha em casa, eu gosto de companhias, mas com moderação. Gosto que a minha vida seja minha e não gosto de compartilhar camas e mesas com frequência.
Não gosto de dormir com ninguém, salvo em estados de exceção - numa viagem, num camping, numa situação atípica. Tenho um sério problema em não gostar de prescindir da beira da cama - o instinto primitivo dos homens faz com que queiram a beira da cama, tal como era na Idade da Pedra, no conforto da caverna - assim me explicou aquele arqueólogo que... bem, não vem ao caso.
Faço mil artimanhas para recobrar a beira da cama. Também não gosto de compartilhar minha cara amassada do pós-sono com ninguém. E outras coisas são meus segredos de banheiro, que todo mundo tem e todo mundo faz, mas que não precisa ter testemunhas... Por tudo isso e por outras coisas, não somente não sinto solidão como não vejo graça em convívios prolongados, o que é diferente de amores duráveis. Gosto de amores duráveis, por sinal.
O desespero de causa faz as mulheres namorarem ogros, casarem com uns caras que não têm nada a ver, pegar e se apegar aos cafajestes, fazerem jogos de consolação namorando o cara errado e sonhando com o cara que elas realmente desejam. Em tempos de amores raros, também penso se não é pecado dispensar o amor que me é ofertado, se dispensar o sujeito não é agir como em blasfêmia, num momento em que todos têm fome e eu desperdiço a comida...e jogo na balança: isso pode ser desespero de causa.
Sei que quem se apaixona está propenso à queda - à queda do fim, da decepção, do desprezo,das trocas...porque a paixao não acaba simultaneamente para as partes envolvidas, demorando mais para uns e menos para outros.
Às vezes a paixão passa, mas as coisas eram tão boas que damos risadas ao percebermos que acabou: risada cúmplice, do respeito mutuamente construído, vai o namorado, fica o amigo...vai o marido, fica o cúmplice - assim fazem os mais fortes.


Você desconversa, você pode tapar o sol
E me desconserta deixando o meu sangue sem sal
Você atravessa o sentido de cada sinal
Que eu mando de dentro do azul
Desse amor que é só seu afinal, só meu afinal

Tão forte querendo, eu me multiplico por mil
Você não está vendo, há uma coisa que é você e eu
Que brilha no espaço no tempo, no céu e no chão
Que arde mesmo aquém e além
Desse jeito de eu dizer que sim, e você que não

Um dia você vai voltar como numa canção do passado
Dizendo que fui muito burra em não atender ao chamado
Agora entre os dedos você deixa escorrer o mel
Se agarra a segredos e medos e ponto final
Mas é sempre assim, é uma regra maldita e geral
Ou feia ou bonita, ninguém acredita na vida real

(Maria Bethânia - Vida Real)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A turma dos meus sonhos!


Olha, se a sinceridade imperasse no mundo, veríamos muitas faixas como esta aqui.
Pessoalmente eu já ouvi pragas, ameaças e resmungos porque, na condição de professora, pedi aos meus alunos para que lessem um determinado texto.
Estando na universidade, nada mais natural do que a reciprocidade dos deveres e dos direitos, dos quais o pacto da leitura e posterior discussão. Ora, isso não acontece quase nunca... a situação dialógica vira um dissabor monológico, sempre a cargo de um gato pingado que lê o que caberia ler ou ao meu próprio dissabor de rasgar a garganta blablablando sobre um autor ou uma teoria.
Numa certa vez, em 2007, irada com a recorrência do oba-oba e das constantes embromations daquela turma longínqua, eu lhe disse: "Ah, esqueçam minhas aulas. Querem saber alguma coisa? joguem no Google!"
E aí, quando eu vi esta linda foto no Kibeloco, cheia de "gente fina, elegante e sincera" eu pensei: "P#$$! eu queria ter uma turma assim".
Já que a gente pede a obra e os alunos lêem o resumo; já que a gente pede o ensaio, o artigo ou o seminário e os alunos CTRL+C/CRTL+V, não é melhor assumir e agradecer à colaboração do Google na formação acadêmica?
Parabéns,exemplares formandos!assim é que se faz ética: reconhecendo os caminhos, admitindo os percursos e louvando àqueles que verdadeiramente contribuíram para a conquista do título acadêmico.
Valeu!

Na direção da TPM


Ah, eu teria uma placa destas...e eu recomendo às mulheres que estão na TPM.
E não é que a cidade chamada "Não-me-toque" existe mesmo?

Homens no trânsito


Há motoristas que assumem o que têm na cabeça...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Bilhete oculto


Ih, o negócio está feio aqui por dentro, dentro de mim: não gosto de ninguém.
E já não sei se me desencantei ou se eu criei paixões imaginárias, sei é que ele me veio com um convite "enviesado", sem aquela coragem de encarar e me chamar diretamente para ir até lá; ou seria a questão da mensagem ser apenas a informação de que, caso eu queria encontrá-lo, ele vai estar lá, naquela hora, naquele lugar...ele é assim, de me mandar bilhete oculto.
Meu amigo Léo, repito, ainda me disse:"Ah, tá reclamando que está se sentindo de lata? imagine se você estivesse com os problemas atuais e, de quebra, ainda estivesse em apuros sentimentais? melhor assim..."
Sei é que fiquei com tanta vontade de enviar esta música da Roberta Sá para ele...
Não mandei, mas, era tudo que eu queria dizer

Não sei se é certo pra você
Mas por aqui já deu pra ver
Mesmo espalhados ao redor
Meus passos seguem um rumo só.

E num hotel lá no Japão
Vi o amor vencer o tédio
Por isso a hora é de vibrar
Mais um romance tem remédio

Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha
Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha.

O amor é um descanso
Quando a gente quer ir lá
Não há perigo no mundo
Que te impeça de chegar.

Caminhando sem receio
Vou brincar no seu jardim
De virada desço o queixo
E rio amarelo.

Agora é hora de vibrar
Mais um romance tem remédio
Vou viajar lá longe tem
O coração de mais alguém.

Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha
Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha.

(Mais alguém - Roberta Sá)

Tendências da Economia


Faz um bom tempo que os profetas do apocalipse econômico anunciam o fim do Capitalismo. E como o fim não está próximo, o fim será próspero.
Podem dizer o que for, mas o Capitalismo sempre se reinventa – tanto faz se você chama de Capitalismo Liberal, Mercantil ou por outro nome qualquer – eis um modelo econômico que chegou para ficar e não é difícil entender por quê, frente ao que as sociedades têm em comum e que todos aprendem a incorporar coletivamente: competição, lucro, concorrência, consumo...isso mexe com a neurose básica do ser humano, que é a insatisfação.
Por mais que tenhamos 100 pares de sapatos, queremos o centésimo primeiro, queremos sempre mais; um carro basta mudar de faróis na versão de um ano para o outro para que queiramos trocar. Aliás, basta inventar a idéia de “carro do ano!” para que a gente acredite nisso. Vejam: um bem durável que envelhece a cada 12 meses.
Tratamos o mercado como um ser vivo: o mercado está nervoso; o mercado está pessimista; a bolsa abriu em queda e os mercados estão cautelosos...
Também, vem agora o caso particular da minha cidade, Feira de Santana: o Capitalismo, é claro,nesta coisa de se reinventar, mostra que todo mundo quer estar inserido nele. Seja como for. Então, ouve-se muito dizer acerca do Feiraguai (aglutinação de Feira+Paraguai, porque este país nosso vizinho, após ser depauperado por nós,os brasileiros e suas guerras ridículas - oh, inocente, a Guerra do Paraguai quem fez foi o Brasil, lembra? - se refugiou no mercado dos contrabandos).
É a nossa versão da 25 de março paulistana; é o Saara carioca local, em que tem de tudo. E acima de tudo, o Feiraguai vive de pirataria de entretenimentos e de eletrônicos.
Devemos reconhecer que o Capitalismo gerou um exército de desempregados, mas não de desocupados: quem não está no tráfico nem nas atividades correlatas de roubos e estelionatos, está ocupado.
Ocupação é diferente de profissão.
Estar ocupado é ser camelô, é ser baleiro, é ser ambulante, é ser diarista, é inventar coisas para vender e para fazer em troca de algum dinheiro.
À parte essas coisas, o que eu achei interessante foi que ontem eu fiz a primeira visita a uma banca de pirata Cult.
Eu já havia ouvido falar, por Manoela, previamente recomendada por um professor de renome, que lá pela UNIJORGE tinha um sujeito que vendia umas jóias Cult pirateadas: DVDs incríveis de clássicos, antologias, mil materiais úteis ao ofício do professor e para usufruto cultural geral.
Meu amigo Chuck, que me apareceu aqui com um Hitchcock fantástico, tinha me dito: na Barraca do Índio você encontra tudo. E se não encontrar, o índio manda trazer rapidinho.
Finalmente fui à Barraca do Índio. Meu acompanhante se deslumbrou com uns filmes da década de 30 e eu me refestelei com “Il Decameron” de Pier Paolo Pasolini, com o duplo de O povo brasileiro e tantas outras coisas que nem caberia enumerar aqui.
O índio não estava na tribo quando eu cheguei lá, perto de fechar. Mas, a assistente do índio, me vendo pegar O retrato de Dorian Gray, me perguntou:
- “Você é professora?”
E frente à minha confirmação, disse:
- “A maioria dos nossos clientes é professor”.
Só faltou completar: “...de Literatura”.
Incrível existir esta pirataria especializada. Todo mundo que vende DVD pirata vive de Sherek e outras bobagens Hollywoodianas. Esses caras, não: exploram outro filão, outro público igualmente sedento por audiovisuais... Vou voltar lá porque adoro Stanley Kubrick, todo mundo sabe disso (embora Laranja Mecânica seja um filme dificílimo, sentimentalmente, de ver, e eu ainda vejo bastante beleza em De olhos bem fechados, o último deste diretor que, infelizmente, já foi para o além) e recomendo a quem quer que seja, que vá lá e procure o que quer: fica na Avenida Senhor dos Passos e eu só não vou dar mais detalhes porque tenho medo de que a Polícia Federal apareça por lá para moralizar e o Rapa tire o pão do trabalhador do mercado informal, que na verdade, é só um ocupado; e atinja a classe que tem títulos mas não tem dinheiro: a minha.

domingo, 23 de outubro de 2011

Debaixo de chuva


Ah, não para de chover nunca! poxa vida!!! saí embaixo de chuva para dar aulas na pós-graduação neste final de semana. Voltei e a chuva continua, o dia esteve horroroso, as meninas ensaiando sair, mas desencorajadas pelo clima...eu doida para correr um pouquinho, mas nada feito diante da chuva chata.
Descobri, finalmente, porque estou feliz quando não há motivos para isso.
Devo ressaltar: não só não há motivos, como a situação é toda adversa a mim. E estou feliz porque me livrei de algo que me deixava infeliz. Deste modo, o que vier, o problema que for, a adversidade que for, tudo é pouco diante do fato de eu me livrar do que eu não queria para mim.
O mais alto dos preços é ainda pouco diante da satisfação de me livrar de quem me oprimia. Claro, estou falando da orientação mesmo, da vida acadêmica. Faz muita diferença esta paz de estar longe de quem eu definitivamente não quero por perto, ainda mais na minha vida e no meu cotidiano. Eu queria ver se eu aguentaria o convívio semanal da gente, durante o estágio. Claro que não!
Sou uma chata assumida: não foram poucas as vezes em que falei sobre a minha necessidade de estar sozinha, de ficar sozinha em casa. Não sei se isso se volta à impaciência, mas sei que isso se relaciona com minha dificuldade em morar com alguém, seja quem for, em que condição for.
Se me falta a paciência para aturar um homem que examinasse meu celular e invadisse minha privacidade, falta ainda mais paciência e disposição para estar acompanhada a toda hora.
Gosto da minha vida: ela é minha e eu gosto de ficar sozinha.
O convívio lá com o ser humano que me orientava iria enfrentar os desgastes do convívio prolongado...e assim foi.
Já pensei que eu fosse egoísta: a psicanálise mostrou que não, pelo contrário. Eu sempre me doei e sempre procurei dividir o que tenho e não tenho o perfil muquirana, por isso sou generosa com presentes e agrados, sei pedir desculpas e sei agradecer, sou solidária nas dores dos meus amigos e divido as minhas alegrias com eles. Não sei me esquivar de retribuir ao carinho e à atenção de meus "próximos" e, se não bastasse um diagnóstico da psicanálise, Tatiana já declarou isso também.
Tenho resistência em manter contato com que eu sei que me traiu; tenho dificuldade em cumprimentar um traidor disfarçado de amigo e me sinto constrangida por não poder ser franca e dizer diretamente tudo isso a quem couber. Toda vez que eu traio o que eu sou e o que eu sinto, no final vai dar nisso, numa outra forma de incômodo.
Também me sinto mal quando encontro um amigo ou amiga que eu sei que está recebendo a punhalada nas costas, seja dos seus namorados, maridos ou amigos, porque parece que todo mundo sabe de tudo, exceto a parte envolvida. Portanto, me sinto cúmplice. Mas eu nunca contaria nada, como, de fato, não contei. E quando eu falo que a minha vida é minha é para reforçar que cada um cuide da sua. Assim, não me meto nas vidas alheias.
Bom, mas com chuvas, com problemas, com faltas e com o que for, estou feliz...feliz e sonolenta, porque eu cheguei a Feira na madrugada de hoje e o sono esbagaça meu bem-estar.
Vamos ver o que eu coloco no meu repertório de desculpas esfarrapadas para não viajar com as meninas neste feriadão. Eis a falsidade que dói fazer: tenho que ir alimentando que vou, que está tudo certo, porque senão elas desistem. Hoje eu me traí, jogando a pré-desculpa esfarrapada, dando a entender que terei o que fazer nesta semana e blablablá...aí já me vieram com um plano B, tipo adiar a viagem... vou ter que aperfeiçoar a técnica.
É, a chuva não passa...

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Coisas públicas nas (coisas) privadas



Ontem, enquanto eu falava sobre o fato de ter encontrado uma excelente funcionária pública e que ela havia, realmente, contribuído para solucionar minhas questões, lembrei que voltei da UFBA conversando sobre coisas correlatas com Manoela.
A gente estava discutindo a respeito das pessoas que adoram complicações e burocracias, apenas para emperrar a vida dos outros.
Pensei, de imediato, nos cartórios: embaixadas do inferno em que a gente paga para sofrer em troca de assinaturas que legitimem a honestidade e idoneidade que é nossa ou pelo reconhecimento da legitimidade e idoneidade de nossa própria assinatura.
Lembrei, depois das diretoras de escolas e dos diretores de departamentos de universidade, dos coordenadores de curso, todos da esfera pública, que tendem a encarnar as atitudes senhoriais, travestidos de feitores de escravos. Daí, percebi que no Brasil a coisa pública acabou. Não existe serviço público, República, nada que remeta ao público como pertença coletiva dos brasileiros.
Não, não há corrupção também: há o uso individual e particular do dinheiro público. Aliás, do dinheiro que era público. Uma vez desviado, torna-se particular.
E os que criticam os corruptos, usam o aparelho público para beneficiar seus amigos, seus parentes, seus bolsistas de graduação, seus orientandos, seus chegados, seus coligados, seus interesses individuais.
Se algo é público, ele é uma pertença coletiva: é de todos em geral sem ser de ninguém em particular. Constato que isso não existe por aqui: se você passar num concurso público, conforme sejam a expectativa e o veredicto de quem dirige ou coordena o lugar, o direito público desce pelo ralo. Se insistir no direito público, serão criados mil subterfúgios para que a pessoa desista voluntariamente forçada a isso – ah, entenda aí a contradição do termo.
A repartição, a escola, o curso e a universidade, dentre outros tantos lugares em que caiba alguém a mandar na coisa pública (quando caberia administrar e não mandar) passa a pertencer à esfera do particular e a coisa pública se torna uma posse. Não fosse assim as pessoas não digladiariam entre si para estarem em postos de comando. Ser diretor, coordenador, assessor e etc. é tão ruim que as disputas são acirradas...
E todos sempre saem – quando não conseguem se perpetuar por lá – bem mais ricos do que entraram, bem melhores do que antes, surpreendentemente. Não é incrível?
De uma hora para a outra a casa já não é a mesma, nem a conta bancária, nem os privilégios... Milagrosamente, devido aos esforços do trabalho de mandar em tudo.
Não deixa de ser exceção as pessoas que, no emprego público, na repartição pública e no órgão público, tratam às outras pessoas como pessoas e vejam o ser humano como ser humano. Ainda estou feliz por ter encontrado uma exceção: fico agradecendo a Deus, porque é um milagre escapar à lógica geral. Coincidiu, claro, de sexta-feira, dia 28, ser o dia do funcionário público e, sim, parabéns a estes que suponho representar 03 a 05% do geral dos funcionários públicos e que são honestos, prestativos, idôneos e solícitos, como deveria ser a maioria.

Levando fumo


Resolvi fazer um post para homenagear uma amiga minha, mega-maconheira assumida, que vive dizendo que eu tenho preconceito contra usuários. Poxa, Paloma, eu não tenho, não: desde que o usuário não use perto de mim, nada a reclamar.
Vá lá, amiga, considere aí: ver graça num troço babado, que cheira a cocô queimado e que deixa seus olhos em brasa, bem, não é para qualquer cristão.
Mas, por mim, quem quiser que fique aí, levando fumo: na bolsa, no bolso, no carro, tanto faz e a amizade continua.
E especialmente para Paloma, Marcos, Ramiro e Duda, para a Banda Erva e para os Filhos da Erva; para uns 25% dos frequentadores daquele bar desta cidade que todo mundo sabe onde fica e para os colegas que gostam de passar a tarde na "FACOMha" e no forninho do PAF e para tanto outros que gostam da "cannabis sativa na cabeça ativa",eis A feira d'O Rappa:

É dia de feira,
Quarta-feira,
Sexta-feira,
Não importa a feira.
É dia de feira
Quem quiser pode chegar.

Vem maluco, vem madame
Vem Maurício, vem atriz
Prá comprar comigo...

Vem maluco, vem madame
Vem Maurício, vem atriz
Prá levar comigo...

Tô vendendo ervas
Que curam e acalmam.
Tô vendendo ervas
Que aliviam e temperam...

Mas eu não sou autorizado,
Quando o Rappa chega
Eu quase sempre escapo.
Quem me fornece
É que ganha mais,
A clientela é vasta
Eu sei!
Porque os remédios normais
Nem sempre
Amenizam a pressão
Amenizam a pressão
Amenizam a pressão...

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Cansada de guerra


Para completar o nosso horário de verão desta primavera, o céu se fechou em águas desde à tarde de ontem. Hoje, como não era de se esperar, o dia se manteve chuvoso. Nada deixa meu dia mais sem graça do que a chuva, mas, não sei como, voltei a ver graça no dia e na vida hoje... minha desconfiança é reincidente: será que tem alguma endorfina no cappuccino que eu tomo? tem alguma coisa errada aí.
Também tenho que admitir: tendo sido atendida, por telefone, por vários funcionários negligentes ou mal humorados, finalmente um ser humano bem humano entrou em comunicação comigo, numa solicitude ímpar e destoante do que costumam ser os funcionários públicos.
Ela, a funcionária pública, para ressaltarmos o gênero, tinha todas as chaves, de todas as portas e não se furtou a abrir cada uma para mim, numa atitude de deferência e confiança em minha idoneidade que mais reforçou minha responsabilidade em corresponder ao que me foi concedido. Com isso, resolvi tudo que eu tinha por resolver, numa parte da UFBA em que eu nunca havia ido.
Depois disso, ainda sob chuva, esbarrei nas pessoas certas, falei com quem eu não via há tempos e até com quem eu não mantinha contato há uns 12 anos: Meu professor de Didática.
Não imaginem um professor de Didática: imaginem um bonito, alto, elegante e interessante professor de Didática, a quem os anos não fizeram mais do que reforçar todas essas qualidades...encontro excelente para um dia de chuva.
Meu orientador não pegou no meu pé com meu texto, eu não vi as pessoas que eu detesto, as pessoas que eu detesto não me viram, encontrei outro grande amigo meu e voltei em paz para casa.
Aí, zappeando por aí, encontrei esta imagem de um combatente líbio tocando violão ou é viola, no meio do tiroteio. A identificação foi imediata: minha vida está meio bombardeada e eu estou vendo graça na vida...vê se pode? eu, que nem sou otimista, nem tenho essas distorções da realidadede a ponto de achar que há males que vêm para o bem...
Talvez seja a noção de que tudo passa, mesmo que demore para passar... ou talvez seja que eu estou mega-convencida por ter rompidos certas convenções, me sentindo corajosa...
Bem, eu preciso admitir: eu me sinto orgulhosa de mim mesma por ter chutado o balde, ter perdido uma série de coisas que me eram vitais, ter feito apostas com cheques sem fundos, mas não ter me acomodado.
Joguei meus planos pela janela e minha vida foi por água abaixo... já dei meus gritinhos de desespero (ah, vou admitir: gritinhos mais histéricos do que das fãs do Restart ou do Justin Bibier...), já me descabelei e já tomei providências para sair do fundo do poço mesmo que seja escalando as paredes com as unhas e, claro, o negócio está difícil, mas foram tantos os ganhos subjetivos!
Tenho que admitir esse pequeno fio idiota de felicidade que acompanhou meus desesperos. Acho que todos os preços cobrados até então foram pouco em relação aos ganhos obtidos. Na mais profunda verdade interior, digo a mim mesma: "Valeu!", redescobrindo a máxima de Nietzsche segundo a qual, "o que não me destrói, me fortalece".
E como costuma me ocorrer, não lembro mais o que foi que me fez lembrar de um dito popular, mas fiquei pensando que se "A voz do povo é a voz de Deus", faz tempo que Deus está mudo, porque o povo não tem voz mesmo...
Deve ser que eu intui essa loucura lendo coisas por aí, ou ficando consternada com a inércia do brasileiro ante a corrupção, sei lá o que foi... o importante é que eu não seja inerte.
Bem, foi um ótimo dia de chuva.
E como andei ouvindo muito o Ney Matogrosso nesses últimos dias, vou repetir a letra de uma música que eu adoro e que tem tudo a ver com as coisas que eu fiz, exceto que eu não "jurei mentiras".

Jurei mentiras
E sigo sozinho
Assumo os pecados

E os ventos do norte
Não movem moinhos
E o que me resta
É só um gemido
Minha vida, meus mortos,
Meus caminhos tortos,
Meu Sangue Latino
Minh'alma cativa.

Rompi tratados,
Traí os ritos;
Quebrei a lança,
Lancei no espaço
Um grito, um desabafo.

E o que me importa
É não estar vencido
Minha vida, meus mortos
Meus caminhos tortos
Meu Sangue Latino
Minh'alma cativa
(Sangue latino - Ney Matogrosso)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Cuidados sob o sol


Pois é, só para que ninguém se esqueça: além de usar protetor solar, convém usar chapéu para se proteger dos efeitos nocivos do sol.
Serviço de Inutilidade Pública da Louquética Assessoria Dermatológica

Sobre tamanhos e documentos


Registro minha impossibilidade de postar as prometidas Histórias de Quinta: é que já passou mais de um mês de ocorridas as coisas e eu também não vou derramar sobre a mesa as chaves da porta do armário de quem saiu do armário bem antes de eu entrar no restaurante da longínqua cidade de que muito ainda se irá ouvir falar.
Vamos às trivialidades (para alguns, RIVOTRIVIALIDADES - ah, eu odeio esse remédio. Poxa, se eu pudesse, faria campanha contra essas drogas que não curam nada!não tem uma casa de amiga minha que não tenha esse monstruoso remédio...).
Depois de me internar na frente do computador que, na verdade representa me internar na frente das minhas obrigações,resolvi sair no final da tarde de ontem - tarde na realidade e noite de acordo com o horário inconveniente de verão.
Aí, nem bem andei uns quinhentos metros da minha casa, fiquei desconfiada de que estou virando uma pessoa sem noção. Onde já se viu ver graça na vida, apesar dos problemas? se eu não morasse sozinha,iria desconfiar que colocaram cogumelos alucionógenos na minha salada, mas , enfim, ao invés de ir à academia, resolvi fazer uma caminhada pela pista de cooper da avenida. E eu não sei o que deu em mim: dobrei o terceiro quarteirão e me esbarrei nas barraquinhas de flores,ainda relativamente perto de minha casa, me sentindo deslumbrada pelos bons odores das rosas, das plantas em geral...e achei lindo o por-de-sol, achei gostoso poder andar por ali, como se eu nunca houvesse passado por ali.
Ora, a paisagem é a mesma, minha paisagem interior está decorada por problemas, mas ainda assim estava tudo bonito mesmo.
E como minha vida é tragicômica, como cabe a uma louquética, quando eu dobrava uma rua mais calma, um motociclista me disse umas gracinhas. O sinal fechou e eu passei bem perto dele, menos por flerte do que por força das circunstâncias: fofinho, gracinha e , infelizmente, baixinho.
Oh, meu Deus, como eu tenho problema com tamanho.
Tamanho é um problema: seja de estatura, seja de..., bom de... de qualquer coisa aí.
Abraçar um homem baixinho é quase um exercício de pedofilia: juro, parece que a gente está pegando uma criança. Deus me livre!!!
Tantos rapazes bonitos, mas baixinhos...aí, as opções que já não são muitas, tornam-se ainda menores.
Uma vez eu fui dançar com um baixinho, isso nem tem muito tempo. As meninas ficaram dando pilha, inferindo que eu sou metida a besta, que só gosto de mauricinhos, que eu excluo, que eu elimino os candidatos e etc., e eu resolvi flexibilizar.
Lembrai-vos que eu não sei dançar a dois. E dançar a dois com um baixinho é um espetáculo de horror: Meu joelho ficou bem no nível do "equipamento" do rapaz. Logo, se eu descuidasse do passo, iria acertar em cheio os testículos do sujeito e, deste modo, lembrei de Ney Matogrosso cantando: "Suas pernas vão me enroscar/num balé esquisito..."
Todo santo dia eu me revolto com quem inventou que tamanho não é documento. Com certeza, isso partiu de um hipócrita. E ainda tem quem acredite nisso. E, olha, estar na horizontal não resolve o problema, isso é conversa de cachaceiro. E tudo bem, não sou alta, mas pelo menos não sou baixinha, passo de 1,63m e ainda uso salto que me deixa na casa de 1,70. E se eu fosse minúscula, aí, talvez, pegar um cara de seus 1,55 ou 1,60 fosse meu ideal. Mas, nas atuais circunstâncias, nem dou bom dia aos homens baixinhos.
Mas, à parte tais problemas com tamanhos e estaturas, adorei a caminhada e a corrida de ontem, voltei revitalizada e relaxada.
Eu poderia dizer que a noite foi de todo, ótima, exceto pela descoberta recente de que odeio dormir acompanhada. A unica coisa de que comecei a discordar de A insustentável leveza do ser é a idéia do sono compartilhado.
Já não sou muito de ficantes em minha casa e de dormir acompanhada, pior ainda. Assumo a minha chatice.
Notei, também, que é gostoso dormir onde dá sono e quero tentar ser menos ortodoxa para dormir. Logo, se eu adormecer no sofá ou no tapete, não quero criar os protocolos de me preocupar em ir para a cama. Mas sou metódica, levanto e vou para a cama, arriscando perder o sono. Onde já se viu? a gente procura um lugar certo para dormir, um modo certo para coisas e tudo não passa de etiqueta e convenção.
Falando em etiqueta e convenção, o meu ficante não se tocou da hora de ir embora. Olha, quase dez da manhã, eu tendo o que fazer, o que escrever e já no limite da minha misantropia...
Desesperada, recorri à coisa mais fora da lógica que eu conheço, mas que, por força das crenças arraigadas na minha cabeça se tornaram o meu recurso: fui até à cozinha e coloquei a vassoura de cabeça para baixo. Via a minha tia fazendo isso para espantar as visitas indesejadas. Bom, em dez minutos o meu ficante foi embora. Ah, eu acredito em vassouras de cabeça para baixo (kkk!!!).
Não sei onde vou pegar o meu Certificado de Chatice, mas sei que vou ganhar, também, um Comprovante de Impaciência, devidamente carimbado e reconhecido. Enfim, pelo menos em meu caso, será a junção das questões do tamanho à dos documentos.
P.S.: Imagem meramente ilustrativa deste post, sem alusões maldosas sobre o pinto que se encontra ao lado da régua.

domingo, 16 de outubro de 2011

O sonho de uma noite sem verão


Assim como dizem que "uma andorinha só não faz verão", também um horário de verão não pode ser feito sem sol...e sem verão, porque afinal estamos na primavera. Adoro essas incoerências só para poder dizer que eu odeio horário de verão.
Tendo passado por um prévio plebiscito, em que o povo nordestino votou contra a instituição do horário de verão, resolveram incluir justamente a Bahia neste rol de condenados. Ah, só para não perder esta segunda oportunidade de declarar, declaro que eu odeio horário de verão.
Ontem eu não saí.
Eu poderia ter aproveitado a minha noite de sábado e ter ido à festa de comemoração do Dia do Professor, fazer meu lobby e tudo mais...mas eu não quis. De novo estou aqui, atolada na tese, catando detalhes, substituindo termos, constatando repetições e lapsos semânticos.
Aconteceu de além de eu não ter saído ontem, ter planejado ir dar uma voltinha na Marina, hoje, de manhã,para desafiar a dermatologista e ganhar uma marquinha de biquíne e umas manchas na cara.
Aí, quando eu já estava de saco cheio de refazer períodos e orações (se eu bem soubesse, faria outras orações, mas para São jorge, e não orações textuais), vi um pedaço de um episódio de House, dei um tempinho e lá fui eu, reler As palavras e as coisas, de Foucault.
Numa tese há tanta coisa que a gente pensa que disse, mas não disse; tanta explicação que pensa que deu, mas não deu...tantas faltas...e olha que eu só estou na metade.
Aí o tempo passa e com o bendito horário de verão, acabei dormindo perto das três da manhã.
Ao acordar, parecia que eu estava em outro mundo, porque na televisão a hora já era de almoço e lá fora, nada de sol...excepcionalmente hoje, quando eu não estou caindo de sono por causa da noite anterior, os crentes evangélicos da igreja que fica nos fundos de minha casa resolveram silenciar.
Nem posso dizer que não há nada de novo embaixo do sol, porque sol é coisa rara por aqui o tempo inteiro...e essa chateação vai durar até depois do carnaval - claro, carnaval chuvoso, ano novo chuvoso, e só nuns poucos dias de janeiro é que há sol.
Estávamos planejando, ontem, nossos poucos dias de sol provável - eu e minhas amigas.
Se me descabelo com afazeres acadêmicos agora é porque vou dar um tempo, pôr em suspenso essas tarefas por uns 20 dias, pelo menos. É o máximo que eu posso fazer.
Meu natal é quieto, em casa - não gosto de badalações natalinas, odeio confraternizações de gente falsa, troca de presentes com gente que ignoro, esses babados todos.Faço a ceia na minha casa, para poucos e, preferencialmente, para quase ninguém. Só saio no reveillon.
Mas, antes e depois disso,pelo menos ficar de bobeira na Praia do Forte e na Reserva da Sapiranga por uns 05 dias,dando uma esticadinha de mais 05 dias em Guarajuba, ah, isso eu faço.
O horário de verão me põe a pensar no verão, que não existe e nem vem, mas que é bem vindo - tempos de ar condicionado e banhos frios repetidos; tempo de reclamação na casa de praia alugada com os amigos, porque sempre falta água e porque tem gente que entra em casa com a sandália cheia de areia;tempo de aguentar músicas de procedência duvidosa e de conteúdo questionáve, tempo de uns contatos fortuitos e breves, tempo de sono irregular e de fazer abstração dos problemas...mas, por enquanto, o tempo está fechado.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O assassinato do Português


Valei-me Minha Nossa Senhora da Correção Ortográfica!
Eu já me livrei de um lindinho que me disse que queria marcar um ENCRONTO. Não, amigo, não está escrito errado, não: ele é que falava assim.
Em noites bêbadas em que eu jamais bebi álcool (adoro o princípio da contradição), já fiquei com um lindinho que falava CAMPEONA.
Agora, o nada lindinho me vem com o tal do DERREPENTEMENTE. Explico: ele quer dizer Repentinamente, tá?
Minha amiga fala ÍDOLA, à là Faustão, e minha outra chegada, a sexólatra Tella, arrasa os gerúndios. Deste modo, tudo é um CHEGANO, COMENO, GOSTANO... deve ser preguiça de articular um D, não é? só falta me dizer: "SASTIFEITA?".
Vai me dizer que é licença poética? Licença poética quem tem é a Ednéia, a popstar, a garota na chuva lançada pelo Pânico na TV.
Se a gente pedir a certos caras para eles empregarem o plural , é capaz deles dizerem que é para o plural mandar currículo, que eles vão ver o que tem lá na empresa.
E falar em concordância com certos sujeitos é briga na certa: Eles dirão que não são obrigados a concordar coisa nenhuma, que não se pode sair assim concordando com todo mundo.
E se a conversa descambar para a flexão, na hora eles gritam que flexão é um negócio que se faz na academia e não tem nada a ver com a Língua Portuguesa.
Está bem...

Assaltaram a gramática
Assassinaram a lógica
Meteram poesia, na bagunça do dia-a-dia
Sequestraram a fonética
Violentaram a métrica
Meteram poesia onde devia e não devia.

Lá vem o poeta com sua coroa de louro
Agrião, pimentão, boldo
O poeta é a pimenta do planeta
(Malagueta!)

Na fossa


Para você, meu amigo, que assim como eu está levando uma vida de Boston.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O encontro e o desencanto


Encontrei no shopping, ontem, um amigo que eu não via há tempos.
Como uma criança de quarta série que escreve lá no seu caderno que " a amizade verdadeira a mentira não destrói, a distância não separa e o tempo não apaga", lá fui eu falar com ele que, por sua vez, estava com um amigo e duas crianças, dois meninos: ganhei um receptivo abraço e um daqueles cumprimentos comuns a quem tem histórico de amizade longa e verdadeira, correspondente a tudo aquilo que as crianças da quarta série de outrora escreviam em seus cadernos.
Eu estava acompanhada e meu "ficante" não gostou nada da efusividade do encontro. Por conta de estar de coadjuvante, lá foi meu amigo D. se desculpar com o meu ficante. Tudo bem, tudo entendido e o mau humor do outro não era mais do que responsabilidade do pouco sono da noite anterior e de nosso percurso pela fantástica caixa de vidro e concreto que é o shopping.
E mal meu acompanhante se sentou, lá veio o meu desencanto: depois de carinhos e conversas, meu amigo D. realmente esqueceu que éramos amigos e, tendo pedido meu telefone, deixou bem claro que queria vir à minha casa, mas não como amigo.
A gente estudou juntos na UEFS: ele em Economia, eu em História, cursos que tinham muitas matérias em comum.
Já viajamos juntos várias vezes. Ele namorou Carla, minha amiga unha-e-carne. Ele namorou Luana e muitas amigas minhas e, mesmo Cléo forçando a barra numa conversa comigo uma vez, eu reforcei que ele sempre foi meu amigo, que eu não tenho a menor intenção de outra coisa que não seja a amizade com ele (maldade dela, não dele, neste caso). Olha, amizade de mais de uma década...
Não sei de onde tiram isso de querer dar uns pegas nos amigos, mas, para mim, amigos não são artigos de consumo, não entram na cadeia alimentar do sexo...
Sei que me acostumei demais a ter amigos gays - daí que quase entro pelo cano por estar à vontade com um amigo dos meus amigos gays, achando que o menino era da confraria. Tenho notado que os amigos dos meus amigos gays se fingem de gays para passar a mão na gente, para olhar lances de saias, calcinhas e biquínes...que estratégia! E como há poucos heterossexuais, a gente realmente cai na armadilha. Todavia,respeito meus amigos heterossexuais. Se entrou na categoria de amigo, não tem jeito que dê jeito para mudar.
E de tanto falar o que todo mundo já sabe, isto é, que "família é aquela que o coração escolhe", quando D. insistiu na conversa besta de me passar a cantada, eu abracei o miserável e lhe disse ao ouvido: "Eu sou sua irmã. Você está louco?".
A pessoa passa dois anos sem me ver, se enfia pelo Rio de Janeiro, e quando me encontra não lembra que somos amigos. Fiquei decepcionada!
Odeio este povo machista que diz que entre homem e mulher não pode haver amizade. Claro que pode, claro que há.
Sei que eu voltei triste desse encontro, após ter ficado feliz com o acaso...
Tanta coisa boa na nossa amizade, naquele contato, naquele encontro, e D., a última coisa que ele me disse foi: "espera aí para eu olhar para as suas pernas mais um pouco!"
São as pernas de sempre, da pessoa de sempre, da amiga de sempre... O que será que mudou dentro dele? Não há nenhuma graça nisso. Ao contrário da lisonja normal que a gente experimenta com um elogio de um amigo, eu senti repulsa e decepção, um desencanto...
Tem gente louca, dessas que entram na lógica do "antes mal acompanhado do que só". Esta não sou eu. As minhas loucuras são outras. Estas aí, do desespero de causa, são degradantes, não curam a dor, não preenchem, não completam, não resolvem... Será que ele está só e desesperado? será que trocaria uma amizade sólida por uma pegação vazia e fugaz? será que ele não me reconheceu como amiga porque não me fiz reconhecer, tendo mudado alguma coisa ao longo destes dois anos? não vou saber nunca, mas meus amigos saberão que amigos, para mim, são sempre e somente amigos.

Ao último romântico


Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

(Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Ele é o cara!


Ontem eu estava assistindo às declarações de Jean Wyllys, no Conexões Urbanas, no canal Multishow,e aquele modo como ele falou acerca dos homossexuais muito me comoveu, no sentido de sua afirmação que aproximadamente seria algo como ‘Passar da vergonha ao orgulho é um processo incrível, individual, necessário”.
Poxa, o sujeito, o Jean Wyllys pode agradecer aos Céus, aos orixás e a quem quer que seja no plano simbólico, porque ele, sim é uma pessoa especial, abençoada, sortuda, competente, inteligente.
O normal de um Bigbrother é a futilidade e o oportunismo, além de lances moralmente duvidosos para se manter na mídia. Jean, sendo ex-Bigbrother, pegou seu milhão, desapareceu e depois usou sua fama para adentrar ao mundo político (Deputado Federal pelo PSOL) e ser útil ao próximo, na luta pelos direitos das minorias em geral, e dos homossexuais e negros em especial, além de defender o povo de santo, ou seja, os adeptos das religiões de matrizes africanas.
Os homossexuais do sexo masculino, então, majoritariamente vítimas de violência e de discriminação, muito tem a aprender acerca de “passar da vergonha ao orgulho”, algo muito bem explicado por Jean, que argumentava sobre a vergonha que os homossexuais sentem por serem homossexuais e de todos os entraves e cerceamentos por que eles passam.
Claro, já falei e repito: tem homossexual ladrão, mau caráter, mal educado, burro, feio, violento, calhorda... assim como há os que são inteligentes, bonitos, honestos,agradáveis, conscientes, competentes - porque são seres humanos e têm defeitos e qualidades como quaisquer outros seres humanos.
Como mulher heterossexual que sou, quero que haja muito heterossexual, óbvio, para eu pegar, não é? Mas isso é outro plano, é outra coisa, nada que me impeça de apoiar todas as ações que resguardem os direitos deles, que não são menos gente do que qualquer um de nós, heterossexuais.
Aí pensei que, com ou sem fama, tem gente cuja existência, realmente, é especial.
Jean Wyllys poderia estar confortavelmente multiplicando o seu milhão e fazendo a média por aí, a média com a mídia e o lobby nosso de cada dia. Mas, não, o cara quer para os outros o mesmo bem que veio para si.
Tem um grande amigo meu, que nem é meu amigo, isto é, eu ressalto que a recíproca não é verdadeira, ex-colega de trabalho, H., que é assim. E na defesa do doutorado dele, em que eu nem estava, perguntaram: “H., qual é a sua utopia?” e ele disse: “Que esse momento aqui não seja exceção e que muitos negros possam ser doutores.” E esse sujeito, por quem tenho a mais alta estima, também desejou e agiu, ao seu modo, cedendo um livro, dando incentivo, a mim e a outros colegas de trabalho para que fôssemos cursar o doutorado. Filho de Xangô maravilhoso ele. Está ali outra existência que se justifica – com seus respeitáveis defeitos, com seus inevitáveis equívocos, com seu bem e o seu mal que perfazem qualquer alma humana.
Interessante isso, que só vejo em alguns adeptos do Espiritismo, por sinal, quando eles explicam que a noção de Céu e de Inferno cristãos (seja católico ou crente evangélico) é egoísta: não se pode ser feliz no Céu contemplando os semelhantes queridos no Inferno. Então, a idéia de Deus é democrática, acessível, inteligível e baseada em leis de causa, efeito e responsabilidade moral. Povo inteligente é isso mesmo: joga luz na problemática, sem medo de discutir e de ouvir argumentos.
Assim é o meu amigo H., que é da Umbanda: não quer o Céu só para ele, não quer ser exceção nem ser o privilegiado.
Acho que algumas coisas, realmente vêm de dentro. A educação política só reforça a percepção.
Também nosso humor, nossa compleição interior para encarar a vida, se é genética, eu não sei, mas vem de dentro.
Quando digo do meu mau momento, dizer que é mau ainda é pouco. Porém, como eu já disse: lastimo, blasfemo, me irrito, fico irada, triste, infeliz, cabisbaixa... mas não consigo encarnar o mau humor.
Acho que isso é predisposição. Minhas amigas já passaram por coisas equivalentes àquelas por que eu passo: umas tentaram o suicídio e outras só dormem com Rivotril; e todas lastimam a Depressão. Acho que elas acreditam comodamente em depressão, porque é duro mesmo encarar as angústias e saber que elas vão estar conosco a vida inteira.
É um sentimento de impotência num dia, indignação no outro, perplexidade depois, desesperos muitos, frustrações incontáveis e não faltam motivos para a gente se ferrar nesta vida.
Amor, sorte, amparo, boas amizades, família equilibrada: tudo isso é artigo de luxo e sorte para poucos. Eu sei disso. Eu tenho consciência disso. E sonho. Claro que eu sonho, claro que eu desejo, claro que eu projeto e sou teimosa em ser feliz: não é artificial e forçosamente, não. E acho, inclusive, que as pessoas que têm essa existência especial (onde eu não me enquadro, óbvio) tipo o Jean Wyllys, tipo o meu amigo H., que vieram à vida na primeira classe, muito ensinam à gente, ensinam sobre a vida e ensinam sobre ser gente, com muito orgulho, com o bom orgulho que acompanha aos suficientemente corajosos para encarar a vida.

domingo, 9 de outubro de 2011

O possível (segunda versão)


E eu vou precisar argumentar alguma coisa, depois de ter dormido tão pouco porque a Igreja de crentes evangélicos resolveu me acordar com a estridência estereofônica do culto deste domingo? dormi às cinco da manhã e tive que acordar antes das dez...
A imagem aí sou eu , agora, em todos os sentidos. Aposto que ao me ver na beira do precipício muitos esperem que eu dê um passo à frente.
Ah, vida de Boston: eis o possível.
P.S.: Além de ser o possível, é também o previsível, mas ontem, eu juro que esqueci dos cultos matinais... E lá vem as meninas, que dormiram até às 14h, à procura de esticadinhas neste meu domingo sonolento...vou esticar é o meu sono, ali no sofá.

O ideal (segunda versão)


É, eis o ideal: tudo em paz e bobamente feliz. Feliz pela simplicidade, pela descomplicação, pelas escolhas, pela aceitação das angústias, pelos esforços em não multiplicar cada angústia, pela gratuidade da sorte,pelas teimosias em ser feliz com o que basta, pelas sublimações para encarar o que é não possível realizar, pela renovações dos sonhos,pela contemplação da liberdade, pela euforia dos desejos...enfim,como a imagem deste post.

sábado, 8 de outubro de 2011

Por dentro do problema


Ah, está bem, o diagnóstico é claro: estou com dor-de-cotovelo. Nunca entendi porque os problemas do coração me dão dor-de-cotovelo. E para quem não entende a expressão, os cotovelos doem porque é sobre eles que a gente equilibra a cara, que a gente apoia a cara, para pensar.
Estou com dor-de-cotovelo, estou irada, estou saudades do pavão que feriu meu ego, estou infeliz porque não tem jeito para a gente se dar bem, mesmo quando acertamos os ponteiros e negociamos as tensões. Já era! eu e C.,só um milagre.
Mas, minha vida toda está uma porcaria. Não sou feliz todo dia, ok, mas tem épocas em que um urubu pousa em minha sorte, todas as portas se fecham, tudo de ruim acontece, a Lei de Murphy impera, tudo perde a graça, tudo dá errado, todas as pragas pegam, todos os inimigos me vencem e tudo que pode dar errado, dá mesmo.
Eu gosto dele. Eu estou com saudades dele. Acontece que ele achou que ficou em segundo plano nas últimas três semanas...quase como ele próprio me deixou em segundo plano nos últimos dez meses, sei lá... Signo de Leão, com ascendente em pavão e o sol em pura vaidade, alinhando a casa 6, de Saturno, com a casa do karalho, que é para onde eu mandei ele.
Ah, gente, hoje já é quase amanhã, passa das 23h30min e agora as meninas dizem que estão saindo de casa...e eu aqui, saindo do sério.

Os engodos de sábado à noite


Takiupariu!estou aqui pirando porque as duas criaturas que se dizem minhas amigas resolveram sair comigo nesta noite de sábado. Ora, pois, desde às dezenove horas é um torpedo por segundo, mas agora, quase 23 horas, as duas pestes não me aparecem.
Ok, estou com o humor encapetado. Hoje eu seria capaz de tomar uma vodka, para ter ideia do meu desvario...
E foi só eu responder assim que elas se assanharam em sair, prometendo que a gente só volta amanhã de manhã.
Ah, minha vida está uma porcaria, uma vida de Boston!e aí elas levam na brincadeira, ou me acham mais divertida quando estou irosa. Engraçado, namorei um palhaço que achava engraçado quando eu estava irada, irosa e qualquer coisa com raiva pelo meio...ah, tá, vai a missa e o nome do padre: Marcelo, a peste do Ex-Grande Amor da Minha Vida. Bem, melhor do que o outro palhaço, o Du, que me perturbava porque, segundo aquela mente psicopata, eu ficava linda depois de chorar...
Minhas queridas amigas estão se arrumando para sair desde às dezenove horas. Explico: ao meio-dia, elas tiveram a ideia de sair. Dei de ombros, fiz pouco caso, lamentei a vida e as finanças, mal quis saber e ficou na vaga promessa.
A partir das dezenove, vieram os torpedos e as insinuações, coisas de querer passar no bar de Eudes, o Jeca Total, para ver se Caio C. (é, o nome da peste é esse)finalmente põe as mãos em mim. Oh, que troço chato essa torcida, já que eu não estou nem aí para o cara...
Dei de catar na web outra alternativa: tem show dos LP e os Compactos, no Antiquário, agora à noite. Tento desviar as duas criaturas para lá.
Na verdade, amargo uma leve dor-de-cotovelo, porque sábado à noite é legal ir a Salvador, ir à Groove, ainda mais hoje,mano véio, que o show é de Dado Villa-Lobos e Toni Platão. Pensa aí no quanto vai ser fodovsky um show desses!!!baratinho, a trinta reais.
As duas criaturas optaram por se segurar por aqui, porque semana que vem tem show da chatinha da Maria Rita no TCA. Eu que não vou, mas sigo enrolando, até que a bebedeira delas passe e elas leiam minhas declarações.
Ih, telefone: mandam eu me arrumar porque elas estão se arrumando.
É que o tempo para as meninas funciona assim: elas projetam sair. Isso leva umas quatro horas. Elas projetam as roupas e acessórios. Somem-se três horas. Decidir o roteiro, leva mais umas quatro horas, até porque, em cima da hora, decidimos que não iremos para onde havíamos decidido antes.
Banho de cada uma: trinta minutos.
Arrumação de cabelos, batom e demais frescuras: uma hora e vinte.
Se vestir: vinte minutos.
Tirar o que vestiu para vestir outra coisa: quarenta minutos.
Procurar coisas esquecidas: vinte minutos.
Esquecer o que estava procurando: cinquenta minutos.
Saída até minha casa: quarenta minutos, apesar dos seis quilômetros que separam nossas casas.
Nós três seremos quatro, após novo telefonema que recebi agora, então, alterações no cronograma: ir à casa de Patrícia, 30 minutos, apesar dos quatro quilômetros que separam nossas casas.
Tempo perdido para discutir se iremos ao Seu Zé Lounge Bar, a um karaokê de quinta categoria ou ao Antiquário, quarenta minutos.
Acessos de tédios e/ou de discórdia: 20 minutos ao telefone, mais 40 minutos ao vivo.
Tempo no ambiente escolhido: duas horas.
Tempo perambulando de carro à procura de lugares onde comer: cinquenta minutos.
Tempo para se decidir diante do cardápio: 30 minutos.
Pausa para as meninas irem vomitar no banheiro devido ao excesso de álcool - sim, bebem álcool sob forma de vodka, roskas, biroscas, cervejas, tequilas, gim,coquetéis, metanol, etanol, aguardente, vermutes, Smirnoff Ice, sakê, ligantes, cravinhos, colantes, capetas e o que ocorrer - cinco intervalos de oito minutos.
E após tudo isso, a diversão é rir umas da cara das outras, especialmente da minha, que me mantenho sóbria e careta, reclamando dos cigarros alheios e do sono.
Amanhece. Cinco da manhã: pegar a BR, para tomar café no município vizinho, Amélia Rodrigues, só porque Cléo quer.
Pensamos na praia.
Seis e meia volto para casa, com dor de cabeça e arrependida. Alimento meu cachorro. Tomo banho. Durmo. Acordo. Levanto e vou dormir no sofá. Tomo café às 14 horas. Sinto sono. Durmo de novo.Ligo a televisão. Durmo de novo. Fico irosa porque os problemas continuam. Blasfemo. Temo que Deus me desça a madeira e me castigue. Rio das desgraças. Faço as pazes com Deus. Sinto sono de novo. Fico irada de novo.Poxa, não almocei, de novo. Pronto!!!E amanhã será igual a hoje, assim como hoje foi igual a ontem. Penso em Ana Rita me dizendo uma frase de Mayakovsky: "É melhor morrer de vodka do que de tédio". Takiupariu!!!quem mandou eu não beber?
Ah, tô cansada de esperar.

Para o menino e o meu passado


Quis nunca te perder
Tanto que demais
Via em tudo o céu
Fiz de tudo o cais
Dei-te pra ancorar
Doces deletérios

Eu quis ter os pés no chão
Tanto eu abri mão
Que hoje eu entendi
Sonho não se dá
É botão de flor
O sabor de fel
É de cortar.

Eu sei é um doce te amar
O amargo é querer-te pra mim
O que eu preciso é lembrar, me ver
Antes de te ter e de ser teu, muito bem

Quis nunca te ganhar
Tanto que forjei
Asas nos teus pés
Ondas pra levar
Deixo desvendar
Todos os mistérios

Sei, tanto te soltei
Que você me quis
Em todo lugar
Lia em cada olhar
Quanta intenção
Eu vivia preso

Eu sei, é um doce te amar
O amargo é querer-te pra mim
Do que eu preciso é lembrar, me ver
Antes de te ter e de ser teu
O que eu queria, o que eu fazia, o que mais?
Que alguma coisa a gente tem que amar, mas o quê?
Não sei mais

Os dias que eu me vejo só
São dias que eu me encontro mais
E mesmo assim eu sei tão bem
existe alguém pra me libertar.

(Los Hermanos : Condicional. Composição: Rodrigo Amarante)

Sim, e há passado. E ainda há beleza quando nos encontramos na rua...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Entrando numa fria maior ainda


Cheguei ontem, altas horas, e continuo sem tempo. Por enquanto vou me ocupar de comemorar o fato de estar em casa, já que este fato raro só vai acontecer por algumas horas, porque amanhã é dia de ir a Salvador ver o meu orientador.
Minha vida está de pernas para o ar.
Está tudo fora de lugar e nem há lugar para mim.
Minha volta das terras frias foi um negócio tão estressante - terá sido pior a ida ou a volta? - que as coisas lembraram mesmo o filme Entrando numa fria ainda maior. Sim, coisa de cinema (e de clichê, né? porque minha vida só tem clichê...e dos piores), drama de cinema à là Almodóvar, mas indo ao clichê, peguei um ônibus que era "Por fora, bela viola;/por dentro, pão bolorento!". Tanto na ida quanto na volta.
Na ida, fiquei presa no banheiro e estou com hematoma na bunda que mais parece um eclipse lunar, porque onde eu mais tenho força é no quadril. Por tanto, após 20 minutos querendo sair, dei de bunda na porta, bem em cima da maçaneta e ploft!saí.
O motorista reclamou, dizendo que não se pode fechar a porta do banheiro do ônibus...ora, eu não sabia que era ônibus de nudismo.
Bem se vê que só louco chapado gosta de ir de ônibus para a Chapada Diamantina. Com uma viagem daquela, quem não vê disco-voador? Oh, meu rei. "But my eyes go looking for flyng-saucers in the sky..." esse Caetano Veloso, ai, ai!
E na volta eu quase vi foi gnomo: novamente, o ônibus de outra companhia, todo mega-extra-máxi-golden-plus e "por fora, bela viola;/por dentro, pão bolorento". E eu nem disse que no ônibus de ida todo cuidado era pouco para as coisas não se desintegrarem, não foi?
No da volta, tinha uma quadrilha fumando uns troços bravos. Desses que se bem fumados, você vê gnomos, você conversa com Sarah Shiva e abre o Terceiro Olho (benza Deus, meu Pai, que eu não abro o meu Terceiro Olho para ninguém). Eis um retorno sufocante.
Providenciei logo um chilique alarmante, transformei minha rinite em asma, liguei para meus contatos, antes, para avisarem à Polícia Rodoviária Federal para interceptarem o Ônibus fumacê e, por milagre, o Ônibus fez outro caminho, se safando do flagrante. Aí, chegando em Lençóis, homenageei Bertold Brecht e dei uma crise de asma que fez o ônibus parar, a galera do fumacê se enquadrar e eu seguir na cabine dos motoristas até Feira de Santana.
51 lugares num ônibus duplo e apenas duas mulheres a bordo...que perigo!
Bom, voltei cheia de histórias interessantes, de fofocas de bastidores, de descobertas, de raiva porque perdi na segunda fase do concurso, de gafes, porque meus mil e um amigos gays me fizeram pensar que o amigo deles era também gay e aí, ah, coitado do Fred...fiquei pensando que ele queria minha maquiagem...
Ah, e para pagar a minha língua olha o que aconteceu: após levar metaforicamente umas boladas nas costas, cheguei cansadíssima a Feira, irada, virada nos setecentos...
Aí comecei a blasfemar, a lamentar a má sorte, a soltar uma pragas aos meus malfeitores que não têm nada a ver com o concurso...bebi uma água e desci uma cachoeira de choro histérico de TPM - e TPM, que é quando Tudo Parece Mal, me deixa louquinha para destruir a humanidade, matar as pessoas, quebrar uns pescoços, essas coisas básicas que desestressam.
Bem, quando o meu querido acompanhante me viu chorando chorando mesmo, chorando como uma viúva com nove órfãos para sustentar, ah, lá vem ele: "toma um calmante!"; "bebe isso aqui".
Pergunto eu: "O que é isso aqui?"
-"É calmante!"
-"Que calmante?"
- "Bebe, menina!"
Por não querer beber, sugeri que ele partisse o comprimido. Ok, bebi.
Depois ele disse que aquilo era Rivotril.
**takiupariu! o menino me rivotrilizou. Ôpa? o que ele estava fazendo com Rivotril na carteira? como?
Não demorei nem vinte minutos querendo resposta: dormi da noite de ontem até às 14 horas de hoje. E quem disse que meus olhos abriam? e quando finalmente eu levantei, fui dormir no sofá, até umas 16 horas, sem almoço, sem café, sem banho, toda anestesiada. Nem vi quando ele foi embora.
À noite, ele me pergunta se estou bem. Olha, tomei um "Boa noite Cinderela" e o bruto me vem dizendo que Rivotril para ele é água, que nem dá sono...e se mostrou surpreso com os efeitos de meio comprimido em mim.
Agora, odeio os tarja-preta muito mais.
Passei o dia como um zumbi. Se tem quem tome isso para sair da depressão, está lascado: de que adianta sair da depressão sem conseguir sair da cama?
Ah, que fria!

sábado, 1 de outubro de 2011

Entrando numa fria


Eu me sinto como um repórter que vai ao Rock in Rio apenas para fazer cobertura: está afastada a possibilidade de usufruto da festa!
Nesta manhã de sábado vou viajar para terras frias, que todo mundo gosta, que todo mundo curte...mas eu, eu vou a pulso, a contragosto. E a culpa é toda da obrigação.
Está bem que comparativamente, o Rock in Rio não tem Rock... e não tem Rio, só se for o Rio Tejo, nessas experiências que são puro contra-senso, como foi fazer um Rock in Rio Lisboa.
É, o mundo está esquisito mesmo. Hoje em dia, portanto, dizer que o Rock in Rio é no Rio já não é redundância.
Bem, mas estou eu aqui, escrevendo de madrugada, depois de algumas revoltas pessoais. Nessas horas, penso logo nos crentes evangélicos e seus adesivos de carro: "Quando Deus quer, é assim:". Que adaptado à minha vida, fica desta forma: "Quando Deus quer, é assim:" a tinta da impressora acaba. Quando troco o cartucho de tinta, o papel embola dentro da impressora. Quando acabo o que eu estou fazendo, aparecem mais coisas para fazer. Quando quero dormir, não tenho sono. Quando tenho sono, não posso dormir...
Mas deixa isso para lá, porque amanhã o caminho é longo e a terra lá é fria.
Hoje, Mi indagou porque eu fui tantas vezes completamente sozinha a Campinas, a São Paulo e ao Rio e estou assim, toda temerosa para ir ali.
Não há resposta para isso: eu simplesmente não queria ir.
Mas nem sempre faço o que eu quero.
Paciência.
Ele também me adverte: não esquece de fotografar. Agora acabei de me lembrar que a mala está feita e a câmera não está na bagagem...
Tomara que eu possa pelo menos correr nos finais de tarde.
Além de minhas obrigações, o que posso fazer nos momentos ociosos? eu, que nem bebo cerveja, nem sou chegada às diversões noturnas sem música para dançar? isso significa que desde já eu admito que vou precisar tomar um porre para aguentar esse dias por lá... Isso é que é entrar numa fria!