Louquética

Incontinência verbal

domingo, 27 de fevereiro de 2011

O peso e a leveza


" O drama de uma vida pode sempre ser explicado pela metáfora do peso. Dizemos que temos um fardo sobre os ombros. Carregamos esse fardo, que suportamos ou não. Lutamos com ele, perdemos ou ganhamos. O que precisamente aconteceu com Sabina? Nada. Deixara um homem porque quis deixá-lo. Ele a perseguira depois disso? Quis vingar-se? Não. Seu drama não era de peso, mas de leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser.
Até então, os momentos de traição a excitavam, a idéia da nova estrada que se abria e a aventura sempre nova da traição que lhe esperava no fim da viagem enchiam-na de alegria. Mas o que aconteceria se a viagem terminasse? É possível trair os pais, o marido,um amor, uma pátria, mas o que sobraria para trair quando não houvesse mais nem pais, nem marido, nem amor, nem pátria?
Sabina sentia o vazio em torno de si. E seria esse vazio o objetivo de todas as suas traições?
Até aqui, não tinha consciência disso, o que é compreensível: a meta que perseguimos é sempre velada. Uma moça que deseja um marido deseja uma coisa que lhe é totalmente desconhecida. O jovem que corre atrás da glória não tem nenhuma idéia do que seja a glória. Aquilo que dá sentido à nossa conduta sempre nos é totalmente desconhecido. Sabina também ignora que objetivo está oculto por trás do seu desejo de trair. A insustentável leveza do ser, seria esse o objetivo? Desde sua partida de Genebra, aproximou-se terrivelmente dele."
(
KUNDERA, Milan. A insustentável leveza do ser.Rio de Janeiro: Record, 1983, pp. 127-128).
Sabina é bem diferente de Tereza,a personagem central desta narrativa.
A insustentável leveza do ser não é respondida aqui, mas ao longo do livro - e ser respondida não quer dizer ser resolvida. Essa aporia me fascina.
Saio da Literatura, volto-me para a minha vida: O dia está lindo, mais uma vez, calmo como uma manhã de domingo deve ser - talvez por isso eu tenha declinado das obrigações de leitura e escrita, para me verter sobre esta minha paixão pelo livro da minha vida.
Talvez porque acabei de falar sobre paixão com ele - ele, que tanto compreende minhas aporias pessoais e que faz minha manhã de domingo ser mais bonita.
Ele entende isso. Ele entende tudo e isso me conforta (para dentro de mim eu estou a dizer, a gritar o quanto é bom ter contato com um homem inteligente).
Eu já nem sou tão capaz de paixões por homens, salvo as paixões efêmeras e as covardemente retroalimentadas pelos pequenos gestos que me encantam.
Há dias em que trocamos insultos de ciúmes (ciúmes bravos, de porta de delegacia!)e dias em que achamos engraçadas as situações geradores de conflitos.
Há dias em que somos um do outro, um para o outro e dias em que só a distância resolve.
Há dias em que ele nem existe e dias em que eu não aguento pensar em nada; e tudo é só gerúndio: um indo, um sendo, um ficando, um gostando, um estando intermináveis.
Gosto de brigar com ele. Gosto de brigar com quem eu respeito, de medir forças com o mais forte só pelo desafio do conflito, mesmo que seja para perder com dignidade.
Gosto mesmo de uma boa briga, mas só com os bons lutadores - odeio os covardes, os que trapaceiam, os que jogam baixo e dão golpes baixos. Luto olhando nos olhos do meu opositor e ele compreende isso.
Sei que eu seria muito inclinada a ter um affair com um inimigo, mas nunca com um amigo. Amigo é família; inimigo é desafio.
Todos os dias em que tenho um desafio, me apego ao simbólico, digo que sou de áries e que meu santo é São Jorge, que não dá moleza para ninguém, que prega a luta justa e que não é inerte. E Marte me rege indubitavelmente.
Odeio as coisas inertes, as pedras que nunca rolam, as pessoas que nunca encaram desafios, que têm medo de pegar na lança, que temem os conflitos. Vivo de guerra, sou belicosa, mas gosto muito da forma como ele me vence.
Ele entende os meus pesos, os meus fardos,as coisas próprias da existência - ele sabe como o amor é mau.

Dentro da verdade


"É uma fórmula que Kafka usou num diário ou numa carta. Franz não se lembrava bem. Estava seduzido por essa fórmula. O que era viver dentro da verdade? Uma definição negativa era fácil: era não mentir, não se esconder, não dissimular nada. Depois que conhecera Sabina vivia na mentira. Conversava com sua mulher sobre congressos em Amterdã, conferências em Madri que jamais haviam acontecido, tinha medo de passear com Sabina nas ruas de Genebra. Achava divertido mentir e esconder-se, já que nunca o fizera antes (...).
Para Sabina, viver dentro da verdade, não mentir nem para si nem para os outros, só seria possível se vivêssemos sem público. Havendo uma única testemunha de nossos atos, adaptamo-nos de um jeito ou de outro aos olhos que nos observam, e nada mais do que fazemos é verdadeiro. Ter um público, pensar no público, é viver na mentira. Sabina despreza a literatura em que o autor revela toda a sua intimidade, e também a dos seus amigos. Quem perde sua intimidade perde tudo, pensa Sabina. E quem a ela renuncia conscientemente é um monstro. Por isso Sabina não sofre por ter de esconder o seu amor. Ao contrário, para ela esta é a única forma de viver "dentro da verdade".
Quanto a Franz, está convencido de que na separação entre a sua vida privada e sua pública está a fonte da mentira. Para Franz, viver "dentro da verdade" é abolir a barreira entre o privado e o público. Mencionava, com prazer, a frase de André Breton em que ele dizia que gostaria de viver "numa casa de vidro" onde nada é secreto e que está aberta a todos os olhares.'

(KUNDERA, Millan. A insustentável leveza do ser. Rio de Janeiro: Record,1983, p. 118)

Se eu lesse este livro 170 vezes, iguais 170 vezes eu me apaixonaria por ele.
Declaro amor total à A insustentável leveza do ser., não obstante ser mesmo o livro da minha vida.
Trecho especialmente selecionado em homenagem aos meus amigos A. e C. e para certos visitantes que se encontram nessa mesma condição, nesse mesmo dilema sobre viver dentro da verdade.

Sábado: Game over!


Se há algo que me deixa revoltada é desperdiçar uma noite de sábado.
Se o oceano incendiar numa sexta-feira, se o mundo entrar em liquidação num domingo, se chover meteoro na quarta-feira, se "friday I'm in love", não estou nem aí, desde que nada atinja o meu sábado.
Eu bem falei com Cléo: depois desse súbito fogo no espírito de sair na quinta à noite, cuidado com os compromissos que temos no sábado!
Aí ontem, todo mundo saiu de novo ( eu fiquei terminando meu artigo, derrubada de sono!). Eu adverti: cuidado com o sábado.
Nisso, Cléo se meteu num churrasco a tarde inteira de hoje. Às 20 horas ela era só ectoplasma, toda morta de sono.
O máximo que fizemos foi sair ao encontro de Chuck e ir comer uma pizza - que, graças a Alá, estava ótima.
Voltei humilhada para casa! que droga! sábado à noite e eu em casa antes da meia-noite, sem ter dançado.
Meu domingo é de resignação. Sou toda previsível: durmo até às 9h30min, tomo café vagarosamente, tomo banho, vejo meus bichos, leio,vejo uns clipes e daí em diante eu odeio sair de casa.
Domingo é o dia do arrependimento, do sono, do suco de cenoura, dia em que eu não quero ir a lugar nenhum, dia de ligar para os outros para encher a cabeça deles de ilusão, afinal eu durmo carente e acordo beijando o meu travesseiro...e vou vender loucuras a preço de custo via Embratel.
Domingo excepcional é domingo de praia, mas às vésperas do carnaval, ninguém quer ir.
Mas, vou ficar quietinha no meu domingo e me vingar desse povo chato que me deixou sem minhas badalações de sábado! não vou sair para almoçar coisa nenhuma, com ninguém, neste domingo.
O melhor do sábado é que ele dura até às 04 da manhã do domingo, como eu costumo dizer...poxa, que dor-de-cotovelo eu estou sentindo! será que tem ortopedista para isso?

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A arquitetura dos amores


"O inferno pelo qual eu passara - como posso te dizer? - fora o inferno que vem do amor. Ah, as pessoas póem a idéia de pecado em sexo. Mas como é inocente e infantil esse pecado. O inferno é mesmo o amor. Amor é experiência de um perigo de pecado maior - é a experiência da lama e da degradação e da alegria pior. Sexo é o susto de uma criança."
(Clarice Lispector. A paixão segundo G.H. Rio de janeiro, Rocco, 1998, p.133)
Não vou aqui discutir as profundidades filosófico-existenciais desta obra de Clarice Lispector, mas, se cito é porque vejo algum traço de identificação com coisas já vividas.
Pensei nesta leveza dos amores clandestinos, dos sentimentos fraudulentos, das paixões imprecisas que não passam de emoções de duas semanas...
Ás vezes é o desejo de vazio, o desejo de solidão, tudo naturalmente dado,como uma necessidade, sem sofrimentos. E isso me faz ver que quando a solidão é escolha deliberada, não dói como um castigo. Dói é ser condenada à solidão, a uma vida sem paixões, sem amanhã que se preze, quando os dias se tornam dízimas de uma existência oca. Aí dói mesmo!
Eu saí do inferno e acho que isso determina minha postura atual com a vida. Não é nem que necessarimanete tenha surgido uma postura nova diante da vida, é que ela veio à tona.
Léo me passou na cara, ante minhas reclamações de que eu já não tinha nenhum amor verdadeiramente importante, que por muitas vezes eu dizia que eu queria mesmo era esquecer quem eu amava e não amar a nenhum outro, que felizes eram os que não passavam pelos sobressaltos, pelos dissabores, pelas torturas do amor.
Reclamei tanto dos hematomas deixados pelo amor desfeito! E não sou dessas pessoas que acham que amor e paixão são diferentes. Não! meu amor é minha paixão!
Não gosto de relacionamentos mal temperados - isto é, sem sinais de paixão. Amor que se renova todo dia é paixão das boas.
Mas, amar é um inferno!
Depois que a gente sai do inferno, não quer mais papo com o Capeta, nem quer arder no fogo do Juízo Final, ainda mais quando objetivamente não vale a pena.
O caso é que não basta saber onde está a porta de saída do inferno. Lembra? "É o estar-se preso por vontade!" e, portanto, uma vontade duvidosa te faz se sentir fraco, sem a menor força para ultrapassar a porta que te tira dali.
Perto disso, sexo não é nada - o pecado maior, a degradação e a lama estão no amor.
É por amor que a gente desce bem baixo, se humilha, se mata, morre todo dia um pouco, faz papéis ridículos, acata aviltamentos, vive de esperanças vãs de correspondência, arde em ciumes, em desesperos, em inseguranças, em pesadelos.
O amor de que fala Clarice Lispector é bem maior do que esse, de homem e mulher, mas também é esse amor de homem e mulher (ah, aplicável a quaisquer pares, claro!).
Ontem a gente presenciou uma cena de tango argentino, lá no Jeca Total, com todos os clichês, todos os lugares-comuns a que se possa ter direito.
A mulher traída entrou furiosa, pegou o marido irresponsável, perdeu a cabeça, abdicou da dignidade e o escândalo avançou do bar para a rua - isso é que dá eu resolver tirar o pé de casa com Cléo já bem depois das 23 horas e mudar o percurso, porque estávamos indo a uma festa e eu que sugeri ir ao Jeca, tentar ver outra pessoa.
Uns ficam consternados, mas sabem que não devem "meter a colher", porque depois tudo se resolve com sexo e com promessas de fidelidade.
Outros, como nós duas, pensávamos em como chamar a polícia, como intervir... mas optamos pela segurança da omissão. Mas,a polícia veio, porque a rua é mesmo cercada de prédios de classe A e o povo se mobiliza.
Ficou em nós a identificação pela mágoa: como as mulheres sofrem por amor! E nesse momento, demos muitas graças a Deus por já não estarmos atadas a ninguém.
Repito quarenta mil vezes, sem constrangimento em ser óbvia: Não há solidão pior do que a companhia de um homem sacana.
Se reclamamos de não ter em quem pensar antes de dormir, nem para quem comprar um presente, também isso tudo é um preço baixo para a paz.
Não queria que Sandro pensasse o que pensa, nem queria me importar com algumas coisas quase sem importância, mas o que é mesmo que importa?
O inferno é quente e não é aconchegante, mas é agitadíssimo.
Deus me livre de medingar o amor de alguém, principalmente daquelas pessoas que não querem nada conosco, que deixam claro suas escolhas - só me dá piedade das minhas amigas que estão esmolando uma migalhinha de carinho, de atenção, de reciprocidade, apostando em mudanças, subornando sentimentos com presentes e vantagens, sonhando que tudo mude, dando de graça as coisas mais valiosas que têm em si, adoecendo. Ah, meninas, vão bater em outra porta!
Tudo que digo é porque eu sei. E tudo que sei, nesse quesito, é porque eu já vivi. Conheço tudo do inferno!
E prestem mais atenção às palavras de Clarice Lispector - afinal, olha o espaço do amor num livro que se propõe a tratar da Paixão (segundo G.H. e as iniciais de qualquer um de nós)- não: amor e paixão não se separam, só quando se desgasta este presunçoso sentimento.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

The book is on the table!


Ah, meu Deus, esqueci de falar da porcaria do meu livro: é, the book is on the table e, em breve, the book is under table. Entenderam o trocadilho?
Por enquanto, ele está em cima da minha mesa, porque eu estou confusa, até porque Tatiana me perguntou se não me causava constrangimento saber que as pessoas vão ler e que eu, que sou tímida, vou ter que responder um bando de coisas e aguentar mil julgamentos.
Penso que o livro passará a estar embaixo da mesa, bem under table, a partir do momento em que a dúvida acabar e eu chegar á conclusão de que escrevi porcarias que têm mais futuro se colocadas como calço de mesa - até porque o cupim roeu a perna inteira de minha mesa.
Não sei pensar essas coisas de editoração, lay out, tiragem e aqueles blablablás burocráticos. Nem sei, aliás, como um livro óbvio, com este título óbvio de Todas as mulheres se chamam Maria pode despertar algum interesse verdadeiro.
Meu amigos chegados que me põem nesse pesadelo.
E já que eu não terei nenhum filho e já plantei várias árvores (o tamarindeirinho que plantei nesta minha casa, quando eu tinha onze anos,é prova disso), na teoria deles, falta escrever o livro para completar a trilogia clichê da existência.
Minhas personagens são angustiadas, com dores óbvias e com taras escandalosas. Isso até me chateia, acho que não tenho boas histórias para contar, é tudo banal.
Os meus queridos editores é que acham que o óbvio leva à identificação, que o extraordinário estaria na minha forma de tratar do óbvio, das Marias, da vida em si.
Estou segurando esses negócios por aqui, enrolando nas decisões, pensando bem...
Transfiro para mim as críticas que já fiz aos outros: de onde é que vem esta convicção presunçosa de que escrever meio mundo de palavrinhas lhe dá autoridade de escritor? e se eu li escritores competentes, sei qual é o meu lugar, sei reconhecer minha mediocridade.
Tem quem ache que eu radicalizo no auto-julgamento, mas vai que eles são generosos em suas avaliações?
Por enquanto ainda estou vendo se vale a pena, se não me exponho ao ridículo, achando que fiz o que não há - não precisa entender, viu? é que meus contos têm vida própria(mas têm também muito da vida alheia e nada da minha vida. Nada a ver!).
Se comparado com o livro Vídia e Óbria, de Seu Creysson, aí, então, eu vou a nocaute!

O que fica


Vivemos repetindo que somos mal interpretados, falamos de mal-entendidos, desconfiamos das aparências das coisas e das situações e não há quem ainda não tenha se dado conta de que alguma coisa foi editada ou que esta mesma coisa possa ser apenas uma versão da totalidade de um fato.
Vi que Marcos ficou meio com cara de quem tomou uma pancada na cabeça porque me viu, ali, sentada, almoçando com meus dois ex-namorados. Dava para ler na cara dele: "O que está acontecendo? será relação a três?"...e a gente, lá, sem entender o mal entendido.
Tenho meus ex-namorados como amigos e promovo a amizade deles entre si. Daí que a relação de amizade e cumplicidade se sustentam.
Há pouco eu estava ouvindo um deles, em seus segredos profundos, querendo uma opinião acerca de um caso. Boa conversa!
Um mau ex-namorado foi apenas Ricardo. Todos os outros, mesmo com os infortúnios que determinaram as separações, os fins de relacionamentos, sempre tiveram outros aspectos que permitiram o contato e eternizaram a relação no sentido de tê-la transformado em boas amizades.
Em meu caso, esses ex de tempos atrás não fazem a fila andar em círculos: são meus amigos, nem lembro de intimidades sexuais ou coisas do gênero, não tem mais aquela malícia erótica do tempo do namoro. Isso não exclui umas brincadeiras de duplo sentido, nem alguns desconfortos das namoradas e esposas deles, mas com o tempo se passa a naturalizar a relação.
É meu velho mas válido argumento: se houvesse interesse de outra ordem, não seríamos ex.
Trocamos confidências, tomamos decisões em conjunto, pedimos opiniões, intervimos reciprocamente em assuntos variados de nossas vidas, enfim, a ligação ganha outros contornos.
E para sanar curiosidades, esclareço que almoçávamos a três porque um dos meninos estava comprando um carro zero e tinha muitas dúvidas para dirimir, além de pedir ao outro, que se tornou seu amigo por minha causa, que lhe ajudasse na compreensão da mecânica do modelo pretendido. Mas nós nos gostamos o suficiente para aproveitar o pretexto da compra e almoçar, debater coisas, rir... os olhos conservadores de meu amigo é que não entenderam - eu sei que é difícil, especialmente para Marcos, que acompanhou todo meu namoro com um deles, nos tempos da universidade, entender que após 5 anos juntos tudo tenha virado amizade.
"Ih, deixem que digam, que pensem, que falem, deixa isso para lá, vem para cá, o que é que tem?"

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Serviço de FUTILIDADE Pública


O verdadeiro serviço de utilidade pública deveria, certamente, ter utilidade. Então, vou fazer a minha parte, mas esclareço que é serviço de Futilidade pública - embora bastante útil para muitas pessoas.
Vamos lá: Quem não quer um condicionador que condicione? então, recomendo o Après-shampooing conditioner, da L'Occitane, aquele que é composto por cinco óleos (5 huiles essentielles). Não se assustem: custa em torno dos 40 reais e em qualquer shopping de porte tem uma franquia desta empresa francesa.
Não estamos falando de qualquer condicionador, mas de um que desembaraça qualquer nó.
Num tempo em que eu tive mega-hair, ao lavar, tudo virava um dread-lock que só este condicionador resolvia. E mais: é extremamente cheiroso.
Xampú que lave sem deixar o cabelo ressacado e que permita que o pente corra solto entre os fios mais enroscados do planeta, sinto muito, mas vai outro importado: Hydrating Detanglin Shampoo da keracare/Avlon. Custa cerca de 35 reais e está à venda em alguns salões: vale cada centavo.
O lado bom de escolher um bom cosmético é alcançar o fim que se deseja.
Ter reparador que não repara, tintura que não pinta, sabonete que não lava, é tudo perda de grana.
Um excelente finalizador é o Éh encaracolado fluído antifrizz, de cacau e leite de avelã. Em São Paulo, quando a garoa derrubava minha escova, era este o meu socorro - custa perto dos 18 reais e dura ad infinitum.
A outra marca que parece com a Éh é, coicidentemente, a baiana E cosmetics, que tem os melhores reparadores de ponta que eu já experimentei. Mas, advirto: o xampú não é nada bom! ah, esta é outra advertência que devo fazer quanto ao condicionador indicado: o xampú da mesma linha não é nada bom, resseca os fios, deixa o cabelo elétrico.
É uma tremenda ilusão esta história de usar o kit completo de qualquer coisa.
A este propósito, sugiro que ninguém se arrisque com os produtos da Luna: nada dá certo, custa horrores e os resultados não passam de palavras.
Palmas para um nacional, de preço metido a besta, fabricado em Campinas-SP, de resultado excelente: Hydra Six Seventy. Ainda não vi à venda na Bahia, mas é tão bom que a minha tia experimentou e confiscou o meu.
Contrariando qualquer expectativa, afirmo que a maquiagem da Contém 1 grama é poderosa, duradoura, excelente, mas com preços de gente grande.
Batons Yves Saint Laurént não chegam aos pés da nossa brasileira Contém 1 G - tenho um batom aqui que, pelo amor de Deus! gordurosão. E é Yves Saint Laurent!
Registro meu queixume geral: qualquer rímel da Contém 1 grama,aliás, qualquer rímel de qualquer marca vale aquele comparativo que as mulheres fazem.
Dizem que os homens são como rímel: desaparecem ao menor sinal de emoção. É: tanto faz a marca, mesmo que ele prometa ser à prova d'água, todo rímel sai com quaalquer coisa e, com um pouquinho de lágrima, suór ou água, a gente fica parecendo o vocalista do The Cure ou um gótico mal cuidado.
Há baratos que resolvem e aí cito vários tipos de produto: Yamasterol, leite de Colônia, Pomada Minâncora,óleo de amêndoa doce de qualquer marca, sabonetes e desodorantes Dove, batons Anaconda (olha, são perfeito e baratinhos, muito hidratantes e de cores firmes, a preço médio de 5 reais).
Perfume é que naõt em jeito. Aliás, até virou mote isso de dizer que alguém está usando um perfume barato. Nunca vi um perfume barato ter fixação, nem fragrância agradável.
No meu dia-a-dia uso Atractive, da Água de Cheiro e, quando é um dia mais especial, a mesma fragrãncia, só que na versão importada: Hypnôse, da Lancôme - as versões eau de toillet de sheer fragrance não duram nada, viu? Mas, quando eu sei que tenho que demorar fora, seja em festas ou em compromisso, o meu eterno Éden, da Cacharel é aposta de segurança. Perfume ímpar que dá trabalho aos falsificadores.
Todos os perfumes da Britney Spears, assim como os de Sarah Jéssica Parker, não têm fixação, mas já experimentei, joguei minha grana fora.
Dica para as centopéias: você aí que tem e gosta de sapatos, experimentai r às outlets! Aqui em Feira, em Salvador e em Vitória da Conquista tem uma outlet mista chamada Empório do Sapato. vende de tudo, de New Order a Osmoze, passando pelos femininissíssimos Terrace: com salto, sem salto, estilo Drag Queen.
Roupas que eu jamais usaria: modelos sarouel, roupas vintage do tipo esburacadas, geométricos brega, roupas verdes (que cor horrorosa!), coletes, soutiã de alça transparente e macacões (bléh!!!)
Para a pele nada funciona mais do que cremes de farmácia de manipulação.
Eu já gastei horrores em cremes contra mancha, tipo Vitacid Plus e afins, com cremes com DMAE da Rocco e La Roche- Posay: nada substitui , as fórmulas.
Para manchas, fórmula contendo hidroquinona, ácido glicólico e dexametasona.
Para que sua cara não se encha de vincos antes do tempo certo (sim, nenhum creme vence o tempo, viu? mas a gente não precisa ser ignorante e largada, né?) fórmulas com DMAE, retinol, vitamina C... aqui eu só cito, as concentrações da fórmula, a dermatologista quem receitou. Fica como dica, alternativa e futilidade pública.
Uso máscaras de argila: pego argila verde e acrescento tônico, loção tônica, ao invés de água mineral - deixa a pele bem macia, recauchutada.
Protetor solar? Anthelius XL, fator 60.
Sabonete líquido? Ervas, de O Boticário - maravilha!!!!
Sabonete para a pele? Clean and Clear e tudo da Avon, da linha Clearskin, porque pele oleosa e espinha é o meu karma.
Quando meu lado "do lar" falar mais alto, darei as dicas dos produtos de uso domiciliar, especialmente os de limpeza (oh, sim, eu uso sabão líquido Ariel: imbativel, tá?).
E para matar curiosidades fúteis, afirmo: não gosto de catch up, nem de mostarda, nem de refrigerantes, muito menos de bebidas alcóolicas e acho que todo mundo tem que pagar mais caro por um bom papel higiênico.
Informou o plantão Louquética em edição extraordinária, porque ando com a cabeça cheia de trabalho e precisava me desviar um pouquinho para falar de coisas leves e fúteis - Ôpa, desde quando cuidar de si é futilidade?

Seguindo estrelas


Quando uma saudade se torna uma lembrança boa, ah, tudo é tão leve...tão bom e leve!
Por acaso lembrei da trilha sonora de uma noite boa (de uma, entre tantas!)...e das vezes em que seguimos estrelas.
Quando a saudade é esta mesma lembrança boa, é um prazer recordar...

Sigo palavras e busco estrelas
O que é que o mundo fez
Pra você rir assim?
Pra não tocá-la, melhor nem vê-la
Como é que você pôde se perder de mim
Faz tanto frio, faz tanto tempo
Que no meu mundo algo se perdeu
Te mando beijos
Em outdoors pela avenida
E você sempre tão distraída
Passa e não vê, e não vê
Fico acordado noites inteiras
Os dias parecem não ter mais fim
E a esfinge da espera
Olhos de pedra sem pena de mim
Faz tanto frio, faz tanto tempo
Que no meu mundo algo se perdeu
Te mando beijos
Em outdoors pela avenida
Você sempre tão distraída
Passa e não vê, e não vê
Já não consigo não pensar em você
Já não consigo não pensar em você

(Paralamas do Sucesso: Seguindo estrelas)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

As identidades em suas crises


Depois das teorias de Stuart Hall, todo mundo se acha no direito de declarar que a identidade é uma instância móvel e fragmentária. Sim, temos várias identidades e várias modulações identitárias. O problema é a interpretação disso: o fato de as identidades não serem fixas não quer dizer que não tenhamos individualidade, que tenhamos duas caras, que não tenhamos firmeza em nada.
Sabemos o que é uma pessoa mau caráter e sabemos o que é uma pessoa sem personalidade , o vulgo "Maria vai-com-as-outras".
Isso tem um tempo certo para acontecer: enquanto você é um bestão que está na Universidade, construindo seu arcabouço teórico, se deslumbrando com Marx, com Marley, com Luther King, com Deus, com Frederic Jameson ou se achando um gênio incompreendido da literatura e da poesia, em particular, se identificando com Clarice Lispector ou com Lord Byron, até aí, tudo bem.
Sabemos que o normal é que o bestão nessa fase seja, num semestre, marxista, num outro niilista, depois se torne ateu, aí se filia ao PCO (Partido da Causa Operária)ou qualquer partido afim, passa a usar sandalinha de couro do Mercado de Artes, vai frequentar aquele barzinho aqui de Feira de Santana que homenageia Os Filhos da Erva (agora em alusão à banda feirense liderada por Duda, lembram de Duda, de Economia?), acha que quem tem tribo é índio, mas faz parte de Tribos urbanas (vai ser punk e ouvir o The Clash ou vai ser Pós-punk e ouvir The Cure), enfim, tudo é esperado.
Nessa mesma fase, todo tipo de droga será bem vinda e as orgias no Feira VI, em seus velhos saraus nas repúblicas farão uma versão retrô da geração de nossos pais e seu também velho clichê de "sexo, drogas e rock and roll", para o qual o povo atual contrapôs a "masturbação, antidepressivos e Restart"...olha como estamos f*didos!
Mas temos nossas decisões e coisas que são mais permanentes em nós.
Respondendo por mim, digo com todas as letras e sem o menor pudor que há coisas em minha identidade que nunca mudarão: eu serei eternamente heterossexual, eu vou odiar beringela e rúcula até o fim dos meus dias, eu nunca deixarei de ser uma pessoa honesta, eu nunca irei a um carnaval no Rio de Janeiro, eu nunca irei gostar de bebida alcoólica e há uma série de coisas, de teor sexual que não citarei aqui, que eu garanto que nunca vou fazer.
Aí está o outro ponto. Parafraseando o magnífico filósofo brasileiro Beto Barbosa, "Fantasia na cabeça, todo mundo tem!".
No reino da fantasia, nosso superego se afrouxa, permite mil coisas, passeia por muitos territórios e tudo é permitido.
Nossa fantasia pode ficar nuns fetiches bobinhos ou pegar pesado, indo de gangbang a menàge a tròis, percorrendo trilhas que desafiam a religião e zombam da vigilância moral. Mas nem tudo será tornado realidade. Fantasia é fantasia mesmo e muitas vezes o melhor lugar em que ela funciona é na imaginação.
Minha amiga, ontem, me perguntou se eu já havia transado com mulher.
Perguntou isso todo engasgada,sem jeito,claramente sem noção porque ela queria uma resposta de mim e uma resposta para si.
Como eu não vi a pergunta como ofensa, respondi a verdade: Não, nunca transei com mulher.
Daí veio uma meia-confissão sobre a outra minha grande amiga que, na interpretação daquela minha amiga ali, era apaixonada por mim.
Lembro que esta amiga citada um dia falou que procurou logo ter filhos porque andou se sentindo em crise de identidade sexual. Ora, para mim, problema dela!
Essas que me conhecem muito sabem que eu não vejo graça em mulher, sexualmente falando.
Tenho muita liberdade para achar uma moça bonita, admirar alguma coisa, ser carinhosa com uma amiga, essas coisas que nós, mulheres, fazemos.
Então ela me disse que sempre foi heterossexual. Ora, ela estava dizendo para mim, que já a conhecia desde os tempos de universidade, que como marujos dos piores navios, discutiamos os volumes penianos dos meninos de Engenharia e que hoje em dia ainda discutimos a velha teoria do tamanho.
Assim como eu, ela declara a importância do tamanho: ah, que me perdoem os pouco agraciados pela natureza, mas tamanho é fundamental. E olha que eu não estou falando do tamanho do pé!
Seguindo a conversa, ela confessou sua própria crise, sua angústia, sua agonia, porque agora ela se sentiu seduzida pela moça que está investindo tudo nela.
Imagino que ela esteja como aqueles gays que procuram se tornar crentes para segurar as pulsões sexuais e não saírem distribuindo purpurina por aí.
Ela teve medo de nossa amizade acabar, porque eu poderia achar que ela sapataneou de vez e que iria procurar ousadias comigo. Eu só pude rir!
Acho que minha amiga apenas está vulnerável e, no momento da sede, lhe veio uma água boa, no momento de fome, lhe veio uma mesa farta...e a comida desconhecida despertou mais a curiosidade do que o apetite.
Foi assim que um grande amigo meu deixou seu armário se abrir um pouquinho: apesar dos trejeitos, ele certamente nunca tinha se dado conta de que realmente era gay. Aí veio ele, com a ousadia que só os mais novos têm, e de erro em erro,de impetuosidade em impetuosidade,cercou, pegou e venceu o mais velho.
Acho que a identidade sexual é o que é.
Penso como Parmênides: nesse caso, não há devir pois, "O que é, é. O que não é, não é, nem pode vir a ser".
Mas acho que se há a dúvida vale tirar a prova.
Na dúvida, ultrapasse: ultrapasse as caretices morais, vença seu superego e chegue a uma clara conclusão.
Ela argumenta o óbvio e certo ditado que preconiza que não há ex-gay. Por isso ela teme experimentar e se tornar lésbica.
Eu adverti: pode não ser isso, você pode se tornar bissexual ou, simplesmente, pode continuar ainda mais heterossexual após notar que não há atração real pela pessoa do mesmo sexo.
Crise de identidade sexual uma pessoa muito próxima a mim teve, também. E foi realizar a fantasia: não realizou foi nada, ficou com nojo, sem jeito, não viu graça e voltou à sua base de segurança, com a fantasia desfeita.
Pior é se tornar aqueles que não se aceitam, os que já consolidados como gays ficam recobrando memórias de experiências heterossexuais passadas, como se isso fosse prova de heterossexualidade.
Sexo é descoberta (bem que eu queria que o meu vizinho gostoso viesse aqui, descobrir o meu!kkkkk!), então, é isso. E podem se misturar a estes fatores da descoberta as carências, os medos, as fantasias...
Faço comentários politicamente incorretos, repito machismos, falo coisas grossas, mas não discrimino ninguém pela orientação sexual - não há, é claro, quem passe incólume a um mal comentário diante de uma biba "fechativa",uma lésbica machadão, qualquer categoria que corresponda a um estereótipo. Sim, falamos, rimos, erramos, mas política e humanamente nós jamais permitiríamos qualquer desrespeito real ou violência contra nenhum homossexual.
O que eu disse a ela foi para parar de falar da possível relação homossexual como um erro ou como um crime. Depois, que se perguntasse se estava maltratando alguém, tirando algo a alguém, agindo em desfavor de alguém. E se a resposta for não, viva sua vida!

É vida vida amor brincadeira a vera
Eles se amaram de qualquer maneira a vera
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor vale a pena
Pena que pena que coisa bonita diga
Qual a palavra que nunca foi dita antes
Qualquer maneira de amor vale a aquela
Qualquer maneira de amor vale amar
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor valerá
Eles partiram por outros assuntos muitos
Mas no meu canto estarão sempre juntos muito
Qualquer maneira de amor vale o canto
Qualquer maneira de amor vale amar
Eles se amam de qualquer maneira a vera
Eles se amam é pra vida inteira a vera
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor vale amar
Pena que pena que coisa bonita diga
Qual a palavra que nunca foi dita diga
Qualquer maneira que eu cante esse canto
Qualquer maneira de amor me vale cantar
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá!

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ele, sempre ele!


Coisa chata é quando eu tenho que dialogar com o meu orgulho: ele sempre vence.
Como o sono é um bom conselheiro, eu, que dormi mal, resolvi ligar para ele, desafiando o meu orgulho. Em outras palavras: nem ouvi conselhos interiores.
Eu não sei onde meu orgulho iria me levar, mas sei que esse momentinho em que eu me desvencilhei dele, apostei na insensatez, me deixei levar pelo momento, porque, afinal, nessa manhã de domingo eu estava, novamente, Easy like a Sunday morning e, portanto, tudo deu certo.
Mas meu orgulho estava ali, me impedindo de dizer que ele me faz falta, que eu cansei de brigar, que estava com saudades, que eu precisava que ele me escutasse...e meu orgulho venceu essas pequenas disputas.
Ele ficou muito feliz por nossa conversa - incrível, já que homem odeia conversar e joga as coisas embaixo do tapete para nem ter que limpar.
Minhas amigas são totalmente cúmplices dele - acho que são cúmplices dos meus pares, em geral. isso me dá uma raiva! - e ficaram acompanhando meu telefonema, se metendo,dando indiretas, risadas, tirando foto e gritando a legenda: em breve no orkut, "Mara falando com * ao telefone"...ah, elas enchem o menino de ousadias.
Não consegui dizer tudo o que eu queria, mas pelo menos saltei um obstáculo subjetivo que eu ergui.
Não foi o bastante para eu admitir com todas as letras: "Eu preciso que você me entenda!", mas admirei a coragem dele em se despojar do seu orgulho pessoal, porque todos nós temos orgulho, e ouvi-lo dizer que o dia dele estava melhorando ali, que estava com saudades, que quando as coisas entre nós vão para o brejo, ele desmorona, bem, isso é coisa boa de ouvir, mas que nunca me convence.
Se eu insinuo coisas desses tipo, das que põem em dúvida qualquer declaração dele, aí é outra crise paralela que atesta que eu realmente não acredito nele...ah, que droga! todo mundo gosta dele!quando eu penso nisso só me vem à cabeça o Dom de iludir, a letra inteira dessa música.
Vejo tudo como somatórios de dispositivos de dominação, vivo com medo constante disso,de que alguém ou algo me domine.
Tenho medo da fé manipulada, dos delírios coletivos, de paixões que me descentrem, de voltar atrás numa decisão (ora, mas que idiotice, né? se a decisão é errada, por que não reconsiderar?),de admitir desejos, de me sentir vulnerável, de ficar frágil, de perder meu espaço, de dependências emocionais, de disputas afetivas, de decidir por impulso, da fugacidade de certos sentimentos e de certas felicidades ( e de maneira infantil, tenho medo de virar uma idiota que acredita em cartomantes, por exemplo.)...
Ao primeiro sinal de me colocar na gaiola, eu pulei fora da relação com Felipe, vendo nele toda a tirania que veio à tona numa única ida ao shopping, num único momento fora da universidade, e isso já tem mais de um ano. Ali eu vi que ele não se relacionaria com quem ele não dominasse.
Os dilemas particulares fazem com que sejamos quem somos e eu sou assim... mas seja lá como for, como quer que seja, acho que eu fico, estou e sou mais feliz quando tudo está em paz entre nós - nisso, nós nos parecemos muito.
Será que é isso mesmo? será que...

Amor é privilégio de maduros,
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, o amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe.

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio,
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.
(Carlos Drummond de Andrade)

Bem, é que ainda é cedo...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Castelos, sonhos, Sandro...



Eu não quero mais mentir
Usar espinhos
Que só causam dor
Eu não enxergo mais o inferno
Que me atraiu
Dos cegos do castelo
Me despeço e vou
A pé até encontrar
Um caminho, um lugar
Pro que eu sou...
Eu não quero mais dormir
De olhos abertos
Me esquenta o sol
Eu não espero que um revólver
Venha explodir
Na minha testa se anunciou
A pé a fé devagar
Foge o destino do azar
Que restou...
E se você puder me olhar
Se você quiser me achar
E se você trouxer o seu lar...
Eu vou cuidar
Eu cuidarei dele
Eu vou cuidar
Do seu jardim...
Eu vou cuidar
Eu cuidarei muito bem dele
Eu vou cuidar
Eu cuidarei do seu jantar
Do céu e do mar
E de você e de mim...

Sandro não acredita que eu estou ocupada e não acredita nas minha justificativas para adiar a viagem que eu faria em março.
Ah, que cansaço! eu não tenho mais argumentos: é tudo verdade! e a verdade não funciona.
Não funciona falar das saudades, nem da minha situação atual, nem das obrigações, nem dos prazos...
Ah, vai ouvir Os Cegos do Castelo, vai!

Grandes venenos em pequenos frascos


Passei a entender melhor aquelas pessoas que distribuem gratuitamente maldades e comentários depreciativos.
Compreender estas espécies de víboras não significa conceder perdão a ninguém, mas apenas observar o que move estas criaturas com ares de vilãs de novela da oito: a começar por aquelas víboras que já me picaram, percebi o velho histórico das concorrências afetivas com a família.
Num momento elas se sentem preteridas em relação aos outros irmãos, ou em relação à irmã mais bonita - esta, então, já privilegiada pela natureza. E abro aqui um parêntese: Como é possível, né, que da mesma carga genética, mesmo pai e mesma mãe, nasçam criaturas tão diferentes como os irmãos entre si? especialmente as mulheres...são diferenças estúpidas, na maioria das vezes, que vão de estatura à cor dos olhos, passando pelo formato do corpo e tipo de cabelo.
Consideremos aquelas pessoas que vivendo ou não estas questões citadas, passam a ser mães.
Uma vez mães, não conseguem ter autoridade sobre os filhos ou sentem que os filhos preferem ao pai, ou a um outro parente...
Destes tipos tratados, vejo o ponto em comum: elas se vingam na posteridade, na massa de amigos,conhecidos, funcionários ou quem quer que seja que esteja no caminho.
Observem a lógica: fazendo o mal a outrem ou tratando mal às pessoas, troca-se de lugar e, de quebra, a pessoa vai conseguir dizer ou fazer com esta outra pessoa tudo de mal que quis e não conseguiu fazer contra a irmã, o irmão, o filho...
Algumas pessoas têm ódio de encontrar paridades, odeiam quem se parece com elas e isso para mim já está resolvido: digamos que A e C têm muito em comum, indo de opiniões a situações vividas, afinidades culturais, crenças, etc.
Ver a si mesmo dentro de outra pessoa não estreita a afinidade, mas desperta o ódio, porque o espelho vai refletir os defeitos em comum, podendo também operar um ódio através da inveja das poucas diferenças entre A e C. Neste caso, se A julgar que C, em suas diferenças, é superior a si, a guerra está decretada.
Fiz vários percursos quando eu quis entender o ódio gratuito dela por mim e a forma que ela tem de prestar atenção à minha vida, mesmo eu há muito tempo fora do caminho dela, sem um e-mail, um telefonema, uma pergunta através de terceiros (e os terceiros são bem lentinhos para perceber que os laços sempre foram frouxos: ora era a necessidade de aceitação que ela tem, eternamente se fingindo de carente, se trancando para ser visitada, ora era minha cara de desconforto diante de tudo)...
O ódio dela foi gratuito, mas é que para dentro de si, se ela conseguisse me destruir destruiria o que odeia em si mesma, já que somos parecidas; ou, oxalá, conseguiria se vingar num outro Judas das coisas que supostamente perdeu.
No fundo nutro lá uma certa admiração por aquela lá: é das poucas pessoas que conseguem representar o tempo todo, sustentar a imagem da fragilidade, de uma personalidade cordata, da sensatez...talvez seja que aqueles intervalos em que a máscara fica em cima da pia, para que ela possa lavar o rosto, talvez seja num momento desses que um e outro e depois mais um esteja catando as pistas e desconfiando que ela não existe, é uma representaçãozinha que certamente vai se sustentar por um menor tempo do que eu supunha.
Em qualquer ruptura fica claro que os amigos se posicionam para um julgamento e tomam partido, sim, antevendo quem é o certo e quem é o errado. E assim foi que, estando na mesma situação, a minha outra amiga se limitoou a ficar calada. Quem escutaria seus argumentos se eles se contrapusessem a quem conseguiu firmar a imagem do Bem?
E hoje, depois de tanto tempo, eu falo nela, alguém que praticamente não existe e quando existiu como inimiga, era, para mim, de uma invisibilidade assustadora...já nem sei por que pensei nela, mas parece que foi porque ela ainda me persegue,porque ousa perguntar por mim, porque ainda quer transformar meus amigos em seus melhores amigos, porque ainda se ocupa em tentar se apropriar de coisas minhas ou apenas ter o gosto de me expropriar, como se eu não tivesse direito ao que conquistei, ou como se minhas conquistas subtraíssem do patrimônio simbólico dela.
Juro, ainda me sinto idiota por ter gostado dela, por ter torcido por ela, por ter agido como amiga e por ter demorado a ver que ela não entende nada nem de amizade, nem de amor: é só uma pessoa egoísta que quer ser amada e atendida sempre.
Eis o tipo de pessoa para quem minha felicidade é ofensa e, que quando feliz, eu jamais quero que ela saiba - acho que ela faria um falso testemunho, que jogaria com as mais baixas armas contra mim...e eu que já tive piedade da víbora, hein? acho que é uma pessoa tão má que do ódio eu passo à pena, porque é inacreditável.
Em meu livro Todas as mulheres se chamam Maria,acho que acabei trazendo elementos da personalidade dela para a composição de uma das minhas personagens.
Ah, sim, o livro...
Parece que ela vai me picar em breve. Mas é bom saber que eu também tenho veneno, muito veneno para me defender.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Herança de outras viagens?


De vez em quando, quando eu chego em Xique-Xique para trabalhar, após a sempre falada viagem de vinda, em que eu chego aqui sem ter dormido, após oito horas de viagem, juro, sei lá o que dá na rádio mentalizada que vai lá e sintoniza justamente na voz de Marisa Monte cantando exatamente esta parte do Ensaboa mulata:
"Cansaço é bastante, sim." E me dá aquela sensação de que eu não posso ter a menor dúvida sobre reencarnação porque eu fui, sim, escrava de ganho no Império. E daí que tudo que eu sinto hoje guarda uma linha de continuidade com algum mal entendido espiritual que me fez experimentar todas as heranças da escravidão, das quais, o trabalho exaustivo.
Acompanhe a versão de Marisa Monte, porque ela, sim, vê esta mesma linha de continuidade, a persistência das práticas coloniais, inclusive:

Sabão!
Um pedacinho assim
Olha a água!
Um pinguinho assim
O tanque,
Um tanquinho assim.
A roupa,
Um tantão assim...
Ensaboa mulata,
Ensaboa!
Ensaboa!
Tô ensaboando...
Tô lavando a minha roupa
Lá em casa estão me chamando
Oh Dondô!...
Ensaboa mulata,
Ensaboa!
Ensaboa!
Tô ensaboando
Ensaboa mulata
Ensaboa!
Ensaboa!...
Trabalho!
Um tantão assim
Cansaço,
É bastante sim.
A roupa,
Um tantão assim
Dinheiro,
Um tiquinho assim...
Ensaboa mulata
Ensaboa
Ensaboa
Tô ensaboando...
Tô lavando a minha roupa,
Lá em casa estão me chamando
Oh Dondô!...
Ensaboa mulata
Ensaboa,
Ensaboa!
Tô ensaboando...
Ensaboa mulata
Ensaboa!...
Everybody run, run, run
Everybody run, run, run
Everybody scatter, scatter
Some people lost some blood
Someone nearly die
Colonial mentality...
Eu não sou daqui
Eu não tenho nada
Tristeza não tem fim
A felicidade sim
Meu coração é a liberdade...
They leave sorrow
Tears and blood...

E as malas estão como imagem do post porque eu estou pensando seriamente e largá-las pelo caminho.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Quando não somos quem fomos


Quando eu penso em Ditadura, duas imagens me vêm de imediato: a das madres e abuelas da Praça de Maio, que nunca traduzo por mãe e avós da Praça maio,pelo menos mentalmente; e a voz de Zé Ramalho cantando que "Nas torturas toda carne se trai".
O certo é que até hoje o tema é instigante para mim, do ponto de vista historiográfico.
A Ditadura argentina e seu governo populista (Perón) é deveras paritária com a Ditadura brasileira e seu governo populista (Getúlio Vargas)...apenas não temos grande noção do que seja estar na Ibero-América, ignoramos a história.
Mas há um lado paralelo pessoal: acho que é porque penso nas várias torturas que já me fizeram, penso naquelas a que me submeti, por fraqueza, por nem perceber que eu concordava com a tortura a mim imputada da mesma forma como um grande pecador impinge um ritual de auto-flagelação, descontando os débitos espirituais e morais pelos atos cometidos.
A cabeça moralista é assim: justifica o mal do outro a partir de algo nascente ou presente em si mesmo, trocando de lugar com o agressor, instituindo um silencioso: "Eu mereço!".
Dessas coisas eu posso falar porque já passaram.
De vez em quando a gente olha as fotografias internas do passado e quase não se reconhece. E é claro que nós nos perguntamos: "Por que eu era assim?" e vem essa resposta interior e a velha confirmação de que só fazem à gente aquilo que permitimos que seja feito - aqui em referência à violência simbólica, óbvio.
Agora penso nisso com coragem - e como eu era muito covarde! não me reconheço na pessoa que fui.
Eu tinha medo de avião - ora, me Deus, tinha medo sem nunca ter voado!
Eu tive medo de tudo que eu desejei - era medo de ter e perder, era um medo desgraçado da vida, e uma medincância absurda pelo amor do Outro...sim, todo mundo quer ser amado, mas se o amor não é voluntário, é negociata, é moeda sádica em mãos manipuladoras de amigos, parentes e namorados, sinto muito, não é amor!e nem se canse para chorar pelo que você não tem. Você não tem.
A auto-confiança, essa edificação complicada e cara, quando pronta, posso dizer como diria o mais canastrão dos livros de auto-ajuda,faz você andar com suas próprias pernas, te dá uma auto-suficiência e uma segurança que ajuda a atrair coisas, pessoas e situações reais.
Não quero dizer que essa referência às coisas reais implique num tom seco de encarar a vida, sem imaginação,sem fantasia, sem piedade e com cem por cento de senso prático. Não é isso: é que a gente passa a saber romper com os ditadores e com as torturas.
Toda sorte de tortura simbólica já me abateu e e me imobilizou.
Andei, sim, estranhando, a rapidez com que corto um laço, especialmente com os homens, mas o caso é bem mais simples do que parece.
Quando a gente aceita o rótulo da carência, acaba aceitando bem menos do que merece, afinal, quem supostamente nos ama está fazendo um favor...assim costumamos pensar.
É bom lembrar que as madres e abuelas da praça de maio são mulheres. Mulheres entendem de dores e de lutas e, por isso, essas mães e avós reclamam respostas sobre seus desaparecidos ( que todos nós sabemos mortos)... e o tempo passa. Nem por isso a luta cessa, até que o Estado assuma sua violencia e devolva as informações e os corpos de filhos, irmãos, maridos, esposas, irmãs, amigos e amigas e a infinidade toda de gente que desapareceu nas mãos do Estado.
O tempo passa.
Não devemos brigar com o tempo, mas tirar proveito dele, alimentar a Memória, nunca permitir o esquecimento do que é importante, nunca permitir que o tempo apague as marcas importantes: olhe e aprenda com aquelas mulheres de várias gerações.
Nunca se esqueça: "Nas torturas, toda carne se trai". É preciso ver a transmigração da ofensa em dor, da humilhação em feridas, dos desprezos e das subestimas sofridas em lacerações e hematomas. É preciso lembrar de cada tortura sofrida e aprender a se defender, mas aprender a se perdoar, a dar um auto-indulto para os momentos em que nossas carnes foram traidoras e deram de mão beijada os nosso segredos, porque a dor era grande e vendemos bem barato o que não tinha preço.
Devo assumir, também, que dá um prazer incomensurável saber dizer não, jogar fora o que não me interessa, apostar alto, determinar meu preço numa dada circunstância e não aceitar barganha - ora, quem diria!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Inteligência para dar e vender!


É um protocolo ter que explicar, falar ou discutir a ética na pesquisa e os cercames todos da propriedade intelectual, especialmente nessa nossa era em que tudo se resume a copiar e colar.
Faz é tempo que vejo caras ofendidas porque o professor surpreendeu e provou o plágio. Só acho engraçado é o jeitão de ofendido do ladrão. Não esqueçam: apropriação indébita das idéias, argumentos e textos alheios é roubo, tá? eu nem falava agora dos meus próprios alunos, falava dos colegas, dessa graduação que eu (re)comecei neste ano. Olha, se fosse comigo eu morreria de vergonha!
Um aluno meu da Federal de Sergipe, acima de qualquer suspeita, sem a menor necessidade de plágio,fez exatamente um CTRL+C/CTRL+V, num ensaio que eu havia solicitado.
Por incrível que pareça, a coleguinha dele, do noturno, inventou de proceder da mesma forma, com o mesmo texto, numa daquelas coincidências de fazer partir a cara ao meio!
Ladrão tem que ser desmascarado!
Se você acha a impunidade na Política um absurdo, procure não deixar impunes os infratores do cotidiano: então, tirei xérox, anexei coisas, apresentei ao Diretor e as duas lindas pessoas passaram um semestre a mais para chegar à formatura, reprovei com gosto e com justiça.
Mas, há espertos e espertos. E se eu me sentir vitimada pelo roubo intelectual, pode apostar que invisto fundo na avaliação investigativa.
Não vejo como aqueles que encomendam trabalhos a terceiros, não se tocam: Ora, se vocês não sabem mostrar uma argumento coerente, se escrevem abaixo do nível desejado, se têm uma fama consolidada (isto é, todos os seus colegas já sabem que seus trabalhos nunca alcançariam certos parâmetros de escrita), como é que julgam que, estando num dia escrevendo: "Nós num vai resolver dois pobrema com dez real", amanheçam gênios que argumentam: " Em face de nossas sérias restrições orçamentárias, dificilmente teremos êxito na resolução destes problemas". Cuma?
Aí reclamam quando em bancas de Seminário de Pesquisa os arguidores fazem óbvias arguições. Ah, filhinhos, nós sabemos o que você fizeram nos semestre passado.
Tem um aspecto interessante nisso: é o outro lado!
Lembro da minha primeira redação de vestibular (o que eu fiz, passei e cursei), que trazia a seguinte citação de Marleau-Ponty: "Mas é que o erro das pessoas inteligentes é tão mais grave: elas têm os argumentos que provam".
Nunca esqueci!
E fico acusando mentalmente as pessoas inteligentes que possivelmente venderiam seus neurônios por alguns bons reais, a fim de favorecer um desses seres humanos desonestos.
Elas só são suspeitas porque são inteligentes - e talvez por uma inteligência ainda maior, deduzam que uma hora a casa cai para os seus compradores.
A transação é especialmente interessante para elas, que aprendem ainda mais, que lêem, que reforçam seus conteúdos e suas referências e que, afinal, dão a parte escrita para o Jeguerino Desonestino da Silva, mas, por serem realmente inteligentes, retém para si o conteúdo. Todo trabalho intelectual tem uma parte escrita e outra internalizada.
Eu, pessoalmente, não condeno quem vende, porque têm um duplo ganho: do dinheiro e do conteúdo.
Assim as coisas não saem do lugar: o relapso Desonestino nunca vai se esforçar por aprender, nunca vai alcançar nenhum mérito, enquanto quem sabe vai seguir sabendo mais e mais - aí vem o mega-povo da Pedagogia duvidar do caráter reprodutivista das relações intelectuais de hoje em dia.
Comigo seria o contrário: se eu visse que alguém subestimou minha capacidade intelectual, fosse aquele colega que não me quis na equipe, fosse o professor que não quis ser meu orientador, eu iria ralar para provar o contrário, iria dar boas lições de moral, deixaria o povo calado e provaria, sim, que fui eu quem escrevi, que fiz, que pesquisei...mas o que eu vejo, até agora, é um apego à Lei do Menor Esforço...e por conta disso eu tenho mais atitudes de piedade do que de punição.
Não sou negligente, não deixaria de aplicar a punição cabível, não deixaria impune um ser humano desse tipo (e esse tipo não é ser humano: é Cero, Mano!).
Louvo, sim, a quem tem inteligência para dar e vender. E vende, mas não vende tudo, não!fica com os maiores lucros, com os verdadeiros frutos do investimento intelectual.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Outras viagens




Roupas no varal
Chuva de verão
Os dias outros no quintal
Vão me dando a direção
Se você perguntar o que eu fiz
Se você quer saber o que eu quis
Ah, o tempo passa e eu penso demais
Pra dizer ao vento que me satisfaz
E eu minto!
Quartos de hotel
Ah, alguém que se perdeu
Se você perguntar o que eu fiz
Se você quer saber o que eu quis
Ah, o tempo passa e eu penso demais
Pra dizer ao vento que me satisfaz
Tanto faz
O tempo passa e eu penso demais
Pode ser que eu tenha te deixado pra trás
E eu sigo
E eu minto
E eu sinto
Se você perguntar o que eu fiz
Se você quer saber o que eu quis
Ah, o tempo passa e eu penso demais
Pra dizer ao vento que me satisfaz
Tanto faz
O tempo passa e eu penso demais
Pode ser que eu tenha te deixado pra trás
E eu sigo
E eu minto
E eu sinto
E eu sigo
(Sabonetes - Hotel)
Acho essa música a cara do céu cinzento de São Paulo, todo tempo, o tempo todo.
Talvez seja porque a banda Sabonetes andou dizendo que ficou muito tempo sendo classificada como mais uma banda da Rua Augusta.
E me lembra a semana que eu e Tatiana passamos lá em São Paulo: ela, olhando os tamaguchis e eu vesga com as réplicas de Thales, um bando de gostosos, altos e branquinhos que transitavam pela Consolação ou mais perto da Pós da Mackenzie.
Acho que estou inconsolável porque vou deixar minha amiga sozinha em São Paulo, no mês que vem, ou em companhia duvidosa...descobrimos isso ontem, quando encaramos o calendário e eu, que não vou mais me encontrar com o Capeta, por opção e por prudência, posso ter que ir pagar umas coisinha a Caronte justamente na data de nossa viagem...o barqueiro pode escolher essa data.
Mas, estou triste por isso: tínhamos planos juntas e eu nem sei o que vou dizer a quem está me esperando.
E por enquanto, de consolo, já que pelo jeito, ironicamente, nem vou à Consolação, vou ouvindo os Sabonetes para lavar a alma - putz, bonitão o Arthur, aliás, a banda toda é bem servida de homem!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

"...Easy like a sunday morning"


O mais idiota dentre os meus cachorros me acordou, a la Shakespeare:Muito barulho por nada, às sete da manhã.
Claro que minha primeira reação foi difamar a mãe dele, aquela cachorra!ora, pois, se todo mundo adora dormir até mais tarde no domingo, quanto mais eu, que um dia por semana não durmo.
Mas, é interessante: estava passando um clipe de Sting, logo que eu me levantei...e daí veio um solzinho confortável que me fez pensar no caminho sempre lindo que eu faço, quando o sol colabora, quando o tempo permite e quando a grana ajuda até Guarajuba ou até à Praia do Forte.
Não tenho o menor mau humor em acordar cedo quando o compromisso é comigo mesma ou com um lugar que eu gosto.
Não acordei mal humorada, não: fiquei irada com o meu cachorro porque ele me acordou antes da hora, porque estava fazendo um barulhão por coisa nenhuma, apenas para incitar os outros dois cachorros a brincarem com ele, ou seja, foi para chamar a atenção.
Aí me veio o refrãozinho: "That's why I am easy/I am easy like a sunday morning", porque se o domingo é um dia universalmente chato, as manhã de domingo são deliciosas sempre. E fiquei, bem easy.
Tenho coisas a corrigir, coisas a escrever e coisas para estudar - além da vida comum, de lavar roupa e ir ao supermercado, atender 04 telefonemas do meu primo cafajeste, que no momento está com o meu carro, fazendo barberagens, porque afinal o carro dele está para chegar.
Por falar nisso, se eu pudesse colocaria uns adesivos no meu carro, mas adesivos sinceros:
adesivo 1: Quando Deus quer é assim: em 48 prestações!
adesivo 2: Propriedade do Senhor...e da financeira, claro!
adesivo 3: Mantenha distância: Mulher na TPM.
Ainda sobre o item família, eis o pior dia para ir a restaurantes: domingo é a folga de todo mundo e dia de trégua nas brigas de família. Então, vão comungar nas churrascarias, nas pizzarias, nos restaurantes, nas praças de alimentação, porque tem família que é tão individualista que propõe o restaurante a quilo, de modo a que "cada um paga a sua e a amizade continua", e aí é uma profusão de crianças correndo, gritando e chorando pelo shopping, em frente a pais sem a menor autoridade, fazendo ouvido de mercador para aquela estridência irritante, para tornar normal e perdoável a pouca educação dos seus filhos.
Cinemas, no domingo, é coisa para louco: todo mundo está fazendo isso e a fila se torna um espetáculo paralelo, com adolescentes twitteiros em conversinhas produtivas sobre o Restart ou sobre o traçado do rabo de Luann Santana.
Por tudo isso eu prefiro a praia.
O pior de Guarajuba é chegar tarde: você fica circulando feito um otário atrás de vaga no estacionamento, com o sol rachando o crânio primeiro, e depois o sol assando os pés da gente na areia quente. Passada essa fase, caso você se atreveu a ir à praia às 11 da manhã, tudo bem. Guarajuba é praia limpa e organizada, sem sambão e sem baixaria, com chuveiros e banheiros limpos e organizados, para você se arrumar o quanto precise.
Em Guarajuba há placas invisíveis dizendo:"Sem farofas!" e placas explícitas proibindo carros com som alto, ou seja, você não corre o risco de desfrutar da sonoridade duvidosa dos pagodes e dos axés.
A água, então, parece artificial de tão agradável - ali o tempo passa, o tempo flui sem dar a menor dimensão de perda. Eu me desligo mesmo, salvo quando minha tia resolve ir conosco e quebrar a paz, isto quando ela está mal no relacionamento.
Passam muitos gatos em Guarajuba, também, contribuindo para melhorar ainda mais a paisagem.
Saindo da praia, a gente pode ir lá nos quiosque e no vagão do Bob's, pegar um milk-shake, ou ficar bobinho, olhando o areal e a Lagoa...ou entrar na Cantina, tomar alguma coisa e ficar contemplativo, olhando os passarinhos brincando sobre as águas da Lagoa.
Na volta, quase sempre passamos num Jorrinho no meio do caminho, ficamos meia hora em confortável água doce, onde geralmente colocam bons Cds de MPB no bar que fica lá...a esta altura, o sono já me pegou e me dá uma preguiça boa.
Não vou mal agradecer a esta manhã que começou mais cedo para mim e sem praia: pude curtir imaginativamente o lado bom de quando acordo cedo para ir à praia.
E continuo easy, like a sunday morning.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Certas canções que ouço


É quase genérico o fascínio que os estudantes de História têm pelo estudo da Ditadura Militar brasileira - só comparável ao fascínio exercido pelo desejo de conhecimento da Mitologia grega.
Para aqueles que são memória viva do período da ditadura, é imperdoável a pouca memória do brasileiro e seu desinteresse pela sua própria história. Acho que há um cansaço aí, também.
As nossas experiências políticas que a Literatura ficcionalizou comprovam que tanto faz se é Império ou República, tanto faz a forma de governo, o povo é sempre desfavorecido (vide os personagens e as narrativas de Machado de Assis e de Lima Barreto). Até a Independência e a Proclamação da República foram feitas à revelia do povo.
A História do Brasil se tornou um aglomerado de frases feitas sem o menor sentido prático: "Independência ou morte!", por exemplo!
Das nossas descrenças no país do futuro que ignora seu passado e enfrenta um presente contínuo, fica em primeiro plano a total certeza de que não há político honesto nem salvação pela honestidade e pela idoneidade política. Aprendemos que todos, invariavelmente, metem a mão na cumbuca e se aproveitam dos cargos públicos para tratar de alimentar sua riqueza pessoal.
Mas ainda sobrevivem muitos que até hoje acreditam que os presos, torturados e mortos pela Ditadura eram delinquentes. E como deram o mau nome, totalmente inadequado, de Revisionismo Histórico para quem nega a história, seus vestígios, sua constituição ( o que inclui negar o Holocausto, apesar dos sobreviventes, das estruturas das prisões e dos campos de concentração, de vários documentos), temo que o Revisionismo consiga apagar ainda mais a vaga lembrança do brasileiro em relação à sua nação.
Ninguém esquece quem venceu a Copa de 1956, mas ninguém vai lembrar em quem votou para Senador, nem quem era presidente do Brasil em 1996, nem qual é o nome do atual presidente da Nicarágua. Sabemos, porém, que Ronaldinho foi casado com Daniela Cicarelli. Eis a nossa memória.
O canal Brasil está exibindo, para bem de nossa memória, a série de documentários chamado Canções do Exílio. Excelente!
Tem depoimentos incríveis e esclarecimentos indispensáveis, contados pelos próprios cantores que foram exilados.
Tem a fantástica história da composição de Cálice, por Chico Buaarque e Gilberto Gil, e todo o aparato das imagens usadas, além da assunção, por parte de Gil, de que ele não cantaria jamais esta música, pela dor de suas imagens e de suas lembranças.
Vale dizer que o contexto de escrita da música foi mesmo a Semana Santa - daí o cálice contra o cale-se.
Por muito tempo escrevi sobre as músicas do LP Transa, de Caetano Veloso, explorando o embate cultural da estada de Caetano em Londres - no documentário, todos falam das inquietudes de caetano no Exílio, da impaciência, da dor, do desespero e da tristeza, especialmente por estar longe do filho mais novo.
Mamãe Coragem é a música que acompanha a vinheta de chamada da série:

Mamãe, mamãe, não chore
A vida é assim mesmo
Eu fui embora
Mamãe, mamãe, não chore
Eu nunca mais vou voltar por aí
Mamãe, mamãe, não chore
A vida é assim mesmo
Eu quero mesmo é isto aqui
Mamãe, mamãe, não chore
Pegue uns panos pra lavar
Leia um romance
Veja as contas do mercado
Pague as prestações
Ser mãe
É desdobrar fibra por fibra
Os corações dos filhos
Seja feliz
Seja feliz
Mamãe, mamãe, não chore
Eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz
Mamãe, seja feliz
Mamãe, mamãe, não chore
Não chore nunca mais, não adianta
Eu tenho um beijo preso na garganta
Eu tenho um jeito de quem não se espanta
(Braço de ouro vale 10 milhões)
Eu tenho corações fora peito
Mamãe, não chore
Não tem jeito
Pegue uns panos pra lavar
Leia um romance
Leia "Alzira morta virgem"
"O grande industrial"
Eu por aqui vou indo muito bem
De vez em quando brinco Carnaval
E vou vivendo assim: felicidade
Na cidade que eu plantei pra mim
E que não tem mais fim
Não tem mais fim
(Música composta por Caetano Veloso e Torquato Neto, interpretada por Gal Costa - ouçam! é linda!)
P.S.:Aí eu penso mesmo: como é possível que eu não me torne preconceituosa com a música enlatada? Compara isso aí com "Ela sai de saia/de bicicletinha...". Fica difícil, viu?
P.S.2: Parabéns aos egípcios, que não se mumificaram e conseguiram remover do poder um grande ditador.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Brava gente interesseira!


Há um bom tempo atrás eu havia me espantado e escrito a respeito das várias circuntâncias que revelam os interesses e as pessoas interesseiras, suas legais representantes.
Então, reproduzi uma máxima popular: "Enquanto uns choram, outros vendem lenços".
Sim, imaginem que o dono da funerária não deve torcer pela longevidade das pessoas, porque enquanto uns morrem , outros vendem caixões.
Também não deve ser interessante para a indústria farmacêutica que as pessoas estejam plenamente saudáveis. Logo, enquanto uns adoecem, outros vendem remédios.
Aind abem que eu sou professora e posso afirmar que não ganho nada à medida que as pessoas aprendam menos. Nisso Paulo Freyre me salvou: "Ninguém educa ninguém; ninguém se educa sozinho; os homens se educam em comunhão". Então, pelo menos em minha profissão há trocas - agora, a equidade das trocas é que pode ser questionada.
Mas termos interesses é algo normal, se a ética for preservada. Nesse ínterim, foi um misto de perplexidade e incredulidade que vi os telejornais e portais onlines em cima do acidente que vitimou o piloto Kubica.
Não houve humanidade nem solidariedade pela pessoa que ali estava, em estado de saúde comprometedor, nenhuma piedade, nenhum sentimento outro senão o do interesse em destacar que um piloto brasileiro poderia substituí-lo.
Isso não é feio: é desumano.
Não se pode nem criticar de todo, porque muitas vezes as nossas experiências próximas revelam os parentes se digladiando por herança, antes mesmo do parente moribundo se tornar defunto de fato. Assim é que se justifica a atitude coletiva de nem sequer notar que o piloto Kubica está sofrendo, mas atentar apenas às vantagens que isso representa para o Brasil, em termos de vaga para a categoria em que ele concorria.
Poxa, se chamam as mulheres loucas por homens que possuem carro de Maria-gasolina, nossa nação poderá ser chamada de que? Joões-autódromos?

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Sobre estereótipos e poder


Até que tem uns dias em que a gente procura se aproveitar dos estereótipos, só para ficar em paz. Em outros dias é para desfazer de cada um deles, para desconstruir.
Eu vi e ri bastante de um e-mail que trazia um cérebro feminino, como contendo áreas absurdas, tais como: "áreas do viver problemas do passado com a mesma intensidade no presente"; "área da desconfiança de qu está sendo traída" e "área da vingança sexual, do tipo: estou com dor de cabeça, estou com sono".
Os esterótipos estão nas pequenas e quase indetectáveis glândulas que capacitam os cálculos matemáticos e nas imensas zonas responsáveis pela operação da fofoca.
Olha, eu odeio gente calada.
Se estar perto de uma peste berrenta, que ri aos relinchos e que fala como o barulho do trovão incomoda para caramba, posso dizer que a companhia de uma múmia paralítica é ainda pior.
Prefiro mesmo que nós, mulheres passemos por faladeiras. É a gente que verbaliza os problemas, que assume a necessidade de discutir os relacionamentos, que põe a limpo o que os outros põem sob o tapete.
Dos resto dos esterótipo, eu não estou nem aí, mas quanto à nossa compulsão por falar, nada contra!
Vejam, estar perto de múmias silenciosas e paralíticas é um negócio tão incômodo que até nos filmes de terror as múmias um dia se mexem e até mesmo o país das múmias, o Egito, se mexeu e muito.
Olha como é isso, né, gente? esse povo que faz de conta que estar no poder é um sacrifício, não quer largar nunca os postos de direção e de comando.
Aí o Egito abalando p-ara a múmia do Mubarak sair do poder, e o cara não larga!
A múmia do Senado, José Sarney, falou que era um sacrifício pessoal voltar ao comando da casa...Oh, que sacrifício, hein?
E esse povo que é diretor de tudo quanto é coisa, que é presidente de tudo que é coisa, entra no poder e segura as rédeas, prorroga o mandato... aí vem com aquela cara ridícula alegar compromissos morais que pedem mais uma gestão e blablablá...para diretor de escola é assim também. Eu só não entendo como alguém pode ser tão imbecil, idiota, quadrúpede, burróide a ponto de não deduzir que se há disputa pelo cargo, é porque o poder é uma delícia e tem seus frutos apreciados. Não obstante, meia dúzia de jegues não vêem - ou não admitem - que se ser diretor, presidente, comandante, etc., fosse ruim, ninguém estaria na briga ou na disputa por esse lugarzinho ao sol.
Mas eu fico na minha porque é sempre bom lembrar que esse troço de raciocínio, de lógica, não é coisa para mulher.
E passemos aos outros estereótipos em data oportuna.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Para um grande guerreiro


Lembrei que há uns dias, antes do acidente, você recebeu conselho para cultuar um terceiro orixá, que lhe amenizasse o ímpeto de guerra, pois tanto seu Ogum quanto seu Oxóssi são impetuosos e guerreiros.
Além das predisposições espirituais, você é ariano como eu - regido por Marte, o Deus da guerra.
Não somos de esperar sentados, não é? e você aí, relutando em obedecer às regras do repouso.
Temos muitas batalhas em comum... e somos guerreiros - ora, "guerreiros são pessoas, são fortes, são frágeis"...mas adoramos uma guerra.
Meu santo querido é São Jorge por isso: ele age. Não é um santo passivo, é guerreiro, vai à luta - então, se prepare porque muitas outras lutas estão por vir.
Para você, cito o que não tenho talento para criar:
Um homem também chora
Menina morena
Também deseja colo
Palavras amenas
Precisa de carinho
Precisa de ternura
Precisa de um abraço
Da própria candura
Guerreiros são pessoas
São fortes, são frágeis
Guerreiros são meninos
No fundo do peito
Precisam de um descanso
Precisam de um remanso
Precisam de um sonho
Que os tornem perfeitos
É triste ver este homem
Guerreiro menino
Com a barra de seu tempo
Por sobre seus ombros
Eu vejo que ele berra
Eu vejo que ele sangra
A dor que traz no peito
Pois ama e ama
Um homem se humilha
Se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida
E a vida é trabalho
E sem o seu trabalho
Um homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata
Não dá pra ser feliz
Não dá pra ser feliz
(
(Guerreiro menino, Fagner)
Que os nossos ombros sejam sempre fortes!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Atenção: Cafajestes na pista!


E como cafajeste é raça em proliferação, a minha querida amiga veio me dizer toda pesarosa: "descobri que ele tem outra!".
Como eu sempre presumo que o traído é mesmo o último a saber - quando não, ele nem quer saber - dentro de mim eu pensei: "Não, não é outra: é a mesma!". Mas eu nunca iria falar isso com a minha amiga.
Mas ela completou: "Ele tem outra!" (pausa dramática depois...)"Ele tem outra! Mara, a Outra sou eu!".
O sujeito lá enrolou minha amiga Cléo por quatro meses e agora ela pegou, via Web, a verdadeira vida do cafajeste.
A lista de palavrões destinados a ele daria para ir à China e voltar, mas foi bem pouco para a indignação.
Eles terminaram há pouco tempo, porque ele dava a entender seu desconforto porque minha amiga tem um bom carro, casa própria, vida estabelecida, conteúdo cultural, etc., ele é sustentanto pelo pai e pouco mais que isso se pode saber nesse tempo.
Soube que ele tem uma competências que compensam essas faltas, mas cafajeste que se preze sabe que o "amor de***, quando bate fica".
E num dia de agrado, ela permitiu que ele dirigisse o carro dela, para que ele não se sentisse tão abaixo dela.
Foi incrível: em cada quebra-molas ficou um pouco dessa experiência, porque ele não sabia reduzir em nenhum. Depois, o canteiro estava lá, onde não devia...ali as calotas ficaram de recordação deste momento ímpar.
Aí ela foi pegando as pequenas mentiras, inclusive a ocupação dele junto ao pai e outras coisas que não existiam - tá, cafajeste e vagabundo, que coisa!
Sei que juntando uma coisa à outra, ela mandou o menino ao local de origem, deu um passa-fora.
Nestas últimas semanas, o kapha Jeste implorou, rogou, requereu, solicitou e pediu para estar, para ficar e para voltar - ah, encheu a pobrezinha de lisonjas, de ilusões...aí, minha amiga descobriu tudo!!!
Logo agora que ela sacudiu a poeira do conservadorismo, resolveu viver coisas que antes nunca havia vivido: desce a garrafa de cana, bebe alcatrão, bebe "atitude" no Jeca Total, bebe Roska e Bi-Roska, bebe o que ocorrer e fuma para chocar os colegas...Logo agora, magoaram minha amiga!
Ela , que sempre foi tão carola, tão certinha, tão da Lei - eu escolhi a imagem do post pensando nela, que sempre foi assim, precavida, na linha!
Agora ela é do carnaval, agora ela quer recuperar o tempo perdido... agora ela está se sentindo perdida...e quando a gente está perdida, tem sempre um novo cafajeste para encontrar a gente...

Cafajestes: ad eternum!


Meu famoso primo cafajeste foi me encontrar na academia, ontem, porque ele precisava atualizar o Lattes e não sabia nem para que lado ia...
Lembrai-vos, este é aquele primo cafajeste que falava às moças, no tempo da graduação: "Que lindas pernas as suas! A que horas abrem?" e, também, "Vamos sair, sei lá, para tomar alguma coisa juntos: um vinho, um sorvete, um banho..."
Descobri, ontem, que ele tem uma agenda. Bem pior do que se possa imaginar, não é uma réplica do 234-5678, do Gabriel, o Pensador, ele realmente digita lá: Mulheres que eu gostaria de comer; Mulheres que querem dar para mim e, num outro canto tem escrito: "Deus é mais!", que eu suponho que é gente que não passou no teste de qualidade - ora, veja!
Atenção: lá vem escrita non-sense.
Deixei de contar que pela fama de cafajeste e de tarado que ele tinha na UEFS, especialmente nas aulas de natação, de que ele saía com os olhões vermelhos de tanto ficar olhando as partes submersas das meninas, ganhou o nome de Tarado Terça e Quinta (TTQ), ou seja, os dias de aula que ele frequentava. Sabendo disso, uma menina do curso de Letras, certamente por desacreditar de qualquer critério de seleção que meu primo pudesse ter, foi lá e "pam"!.
Explico: ele estava saindo da piscina, já bem depois das 19 horas ( é que ele fazia a aula dele e ficava para a aula de todo mundo - para a sorte dele, não me lembro de haver outros homens e se eventualmente teve, não era heterossexual - oh vontade de escrever heterossexuais: extint since 1995 - mas eu não vou fazer isso não - nesta saída, a conhecidíssima ( e, diga-se de passagem, mulher tarja-preta since 1994, puro deprezol, cem por cento bi-polaridade, mas não contém glúten!então, tudo bem!) atravessou o caminho do meu primo e agarrou-se ao pescoço dele adiantando o beijo.
Não porque ela fosse feiosinha, masculina, tarja-preta, problemática, psicótica, leguelé, descombalizada (isso é com S ou Z?), estrobofética, mais louca do que a Rê Bordosa ou do que qualquer personagem de Angeli, não, por nada disso o meu primo pirou, mas pelo fato de que ela disse claramente que há tempos não beijava ninguém, se jogou, implorou, fez, aconteceu e o meu primo se sentiu constrangido.
Nunca vi aquele cafajeste mais descompassado: ele, claro, além de reclamar do troféu Feiosidade ( é que Feiúra é pouco, gente. A moça era daquelas que nem usam perfume, nem brinco, nem batom...quase não dá para ver que é uma mulher) da moça, juro, meu primo invocou que estava com encosto espiritual, que a menina iria comprometer a sorte dele, foi como um urubu pousar na janela dele.
Sei que ele tomou banho de sal grosso e morreu de vergonha do ocorrido - e foi bem numa estradinha de areia que separava a área da piscina dos módulos da UEFS...àquela hora, só tinha o ruivo R.C. de testemunha, mas já era demais para render boas gargalhadas posteriores.
Agora descubro a agenda do cafajeste, com as já mencionadas " sessões".
Cafajeste e machista são sinônimos e nãos ei quantas vezes ele mordeu o calcanhar dos meus pretendentes ou o quanto bagunçou meus relacionamentos ou tentativas de pegação na universidade.
Coisa que cafajeste detesta é imaginar que fazem com as parentes dele coisas bem parecidas com o que ele faz com as irmãs, primas e demais parentes dos outros...ah, ele já inventou mil coisas e, se não funcionasse, o processo de afugentar meus namorados apenas iria sofrer adaptações.
Se na família tem desses, imagine no planeta!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

"Tudo, tudo na Bahia faz a gente querer bem..."


A vida é cheia de contradições e de paradoxos.
Pensando nas questões da Bahia em geral, e de Salvador em particular, o e-mail abaixo transcrito explora a cartografia da cidade através dos nomes dos bairros, claro. Sim, os baianos fazem bons e-mails, viu, professor!
Aos que não conhecem Salvador, Roma, Uruguai, Liberdade, Caixa d'água, Campo da Pólvora, Calçada e demais referências são mesmo nome de bairros da capital baiana.

COISAS QUE SÓ ACONTENCEM EM SALVADOR:

1º) SER PRESO NA LIBERDADE.
2º) FUMAR NO CAMPO DA PÓLVORA.
3º) TOMAR BANHO DE MAR NO RIO VERMELHO.
4º) PASTOR EVANGÉLICO MORAR NA CAPELINHA DE SÃO CAETANO.
5º) ATRAVESSAR A RUA NA CALÇADA.
6º) MORAR NO URUGUAI E TRABALHAR EM ROMA.
7º) FALTAR ÁGUA NA CAIXA D'ÁGUA.
8º) ADULTO TOMAR BANHO NA ÁGUA DE MENINOS.
9º) CANDOMBLÉ NO TERREIRO DE JESUS.
10º) HOMEM DO PAU-MIÚDO SE CASAR COM MULHER DA FAZENDA GRANDE.
11º) CONFUSÃO NA RUA DO SOSSEGO.
12º) BRIGAS NO BAIRRO DA PAZ.
13º) NÃO ENCONTRAR APOIO NA RUA D'AJUDA.
14º) JOVENS NA PRAÇA DOS VETERANOS.
15º) NÃO DAR ESMOLAS NA PRAÇA DA PIEDADE.
16º) CASAS VELHAS NA CIDADE NOVA.
17º) LAGOA DE ÁGUA DOCE DENTRO DE VILAS DO ATLÂNTICO.
18º) ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO NA BOA VIAGEM.
19º) ASFALTO NO CAMINHO DE AREIA.
20º) SER TORCEDOR DO BAHIA E MORAR NO CORREDOR DA VITÓRIA.
21º) LUZ NA MATA ESCURA.
22º) LER A TARDE TODOS OS DIAS PELA MANHÃ.
23º) MORAR NA SAÚDE E FICAR DOENTE.
24º) MORRER NA SEXTA E SER ENTERRADO NAS QUINTAS... DOS LÁZAROS.
"A MELHOR"
25º) UM CLUBE QUE NUNCA FOI CAMPEÃO BRASILEIRO COM O NOME DE: VITÓRIA

E cito, claro, uma constatação dos geógrafos cariocas do Casseta e Planeta, que mui sabiamente concluíram que Salvador é uma cidade de Altos e Baixos, ligados por um elevador.

Lições de ignorância


Como a maioria de nós já sabe, toda PUC, isto é, Pontifícia Universidade Católica, como o nome sugere, tem a ver com a autoridade do Pontífice, o papa. Ao papa cabe a escolha de seus reitores.
As demais universidades chamadas Católicas pertencem à Igreja - é uma mescla com a administração particular, mas, claro, assentada na autoridade clerical.
Esses dados confirmam o quanto a Igreja, ao longo dos tempos, concentrou poder; e poder sob a forma do saber. Se alguns tratam disso como sendo uma exclusividade da Idade Média, ouso discordar, observando essa mesma prática antes e depois de passado o período medieval.
Certo é que as católicas formam a base do sistema particular de ensino superior: são das poucas a terem autorização para doutorados particulares, por exemplo e, queiram ou não, as PUC são entidades sérias, de respaldada produção científica e com amplo reconhecimento acerca de sua competência. Tanto assim que quase nem lembramos que elas são universidades particulares - as primeiras e durante muito tempo as únicas, porque nelas o fato de haver investimento em dinheiro, por parte dos alunos, não significou a mesma mercancia que rege, hoje em dia, o sistema particular do ensino superior, que se sustenta em métodos duvidosos de aprovação, de manutenção e de formação profissional, de modo a corresponder ao que em tempos dos nossos pais era o tal PPP (papai pagou, passou!).
Tenho amigos cursando um doutorado inter-institucional com uma certa PUC. O que me afligiu foi entrever o lado conservador de alguns profissionais da instituição, daqueles tipos para os quais os esterótipos valem tudo, e os pré-conceitos são uma verdade inabalável.
Assim, tal como um ignóbil professor responsável pelo curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia, diante dos baixos conceitos obtidos pelos alunos do curso em uma avaliação do MEC, declarou que os baianos eram incapazes intelectualmente, tal como o berimbau, "instrumento de uma corda só", o referido professor da PUC veio ministrar um módulo do doutorado na Bahia e, de antemão, subestimou seus alunos.
Não foi mera subestima, foi o total desconhecimento sobre seu público, lançando perguntas absurdas em classe, do tipo : "Você já ouviram falar em Michel Foucault? em Derrida? em Deleuze?", desdobrado em: "Algum de vocês já foi a algum congresso?".
Muito me admira o sangue frio dos alunos dele.
Devo dizer que estes alunos são TODOS professores de universidade pública baiana.
Imagine que o sujeito acha que a produção teórica não chega à Bahia e que ninguém aqui vai a congressos.
Perdeu feio o pobre ignorante: Vamos a congresso, fazemos congresso, publicamos em congressos e, pior que tudo, fazemos, frequentamos e publicamos em eventos internacionais.
Pobrezinho: não deve nem saber o que é a Plataforma Lattes, porque se soubesse, teria o cuidado de examinar o perfil de seus alunos.
Esse etnocentrismo todo e nenhum dos alunos lá teve a coragem escancarar a situação.
Pensei, porém, que talvez ele levasse consigo o lado conservador de sua instituição de ensino.
Talvez seja comum que alguém do Sul, no caso dele, Rio Grande do Sul, pense que na Bahia só há ignorantes, que todo mundo é cantor de axé, que todo mundo acha que o hino do Brasil é "Vou não, quero não, posso não, minha mulher não deixa, não", que, por sinal, é música pernambucana...
O problema é que ele não está errado sozinho.
Ao ouvir o relato dos meus amigos sobre o tal professor, pensei no exercício nosso de cada dia, para tentar fragmentar os preconceitos de nossa comunidade e de nossos alunos, isso feito a partir de seminários, de eventos.
A Semana de Letras que tematizou questões GLBTT ajudou a que alguns assumissem seus desejos, mas não que saíssem do armário.
Certos alunos não compareceram, com medo de serem interpretados como gays. Mas levamos a discussão à frente e valeram a pena os tímidos resultados sociais obtidos.
Todo santo dia é uma luta para mostrar que negro, que homossexual, que adeptos de expressões religiosas de matrizes africanas são gente, seres humanos como quaisquer outros. No entanto, há muita resistência.
É uma luta mostrar que mulher é gente, que tem direitos, que tem sexualidade, que tem vida própria.
É uma luta mostrar que Deus fez o homem e fez a mulher e a diversidade veio em seguida, pois que todo homossexual é gente na amplitude do termo, não são seres sem alma e sem princípios que podem ser agredidos e mortos como um animal qualquer.
Em tempos assim, em que tudo se discute, em que usamos o pensamento acadêmico para diminuir preconceitos e para entender os fenômenos sociais, ainda encontramos o que encontramos...oxalá na consciência de um pobre coitado que pensa que é superior, que nunca deve ter lido A invenção do Nordeste,que tem essa estreiteza de raciocínio e nem se dá ao trabalho de agir com respeito frente àqueles que ele julga inferiores e incapacitados!
Penso na questão com ódio e com piedade dele, mas não concebo que uma classe sofra tanta discriminação e não escancare, não ponha a limpo o caso.
Não foi só ele quem agiu desta maneira, pelo que eu soube: os demais, mui respeitosamente,se mostraram surpresos com a capacidade de leitura e com a qualidade intelectual dos doutorandos desta mesma turma.
Nenhum destes meus últimos ficantes paulistanos, seja de que curso for, nenhum deles escapou dos deslizes de linguagem. E olha que eu tenho um assumido preconceito linguístico! então, o sotaque ABC paulista sempre veio acompanhado de problemas de flexão verbal, num " mal falar" que vai de " nós vai", passa por "dois pastel" e chega a picos absurdos de assassinato verbo-nominal que nem dá para expressar. Esses meninos são estudantes ou formados em Direito, em Educação Física, em Engenharia da Computação...
Acredito que o professor lá dos meus amigos nunca tenha se dado conta dessas coisas, da diversidade linguística, da heterogeneidade do país, da produção intelectual baiana...e aí veio a esta terra, tomar uns sustos - fosse comigo, ele iria tomar uns sustos e umas porradas, tchê!porque para tudo aquilo que o diálogo não resolve há sempre uma outra solução mais potente - não levem a sério: é que diante da violência simbólica que ele cometeu, só resta revidar.