Louquética

Incontinência verbal

sábado, 30 de abril de 2011

Quando a vida dá trabalho


Não vou a festas para resolver os enigmas do mundo, nem à Micareta para obter respostas sobre grandes paradoxos, mas devo dizer que ao voltar da festa, não sei se na noite de ontem ou no começo da manhã de hoje - eu já disse que eu só considero que hoje é hoje quando amanhece, independentemente de passarmos da meia-noite. Verdade seja dita: odeio as burocracias cronológicas deste caso, então vou seguir meus parâmetros pessoais e considerar que foi na noite de ontem - reparei o quanto ele é um homem triste.
Não que ele estivesse aqui, não que ele houvesse ido comigo à festa, foi coisa de dois gestos e umas poucas palavras mesmo e eu vi, de uma maneira mais focalizada, talvez, que ele é um homem triste.
Eu deveria entender e acreditar no que ele me disse, mesmo sem acreditar em si mesmo:ele não era o mesmo.
Eu deveria saber que ter tudo, como ele teve, ser importante, como ele foi; viver as coisas que ele viveu; ter o amor que ele teve e todas as chances do mundo para fazer com que tudo isso durasse e se multiplicasse e, entretanto, perder tudo, deixaria marcas ou mudaria radicalmente tudo.
Parece O Caso do vestido, de Carlos Drummond de Andrade, com pequenas diferenças, pois que depois de suas tragédias pessoais nada foi refeito. Eu só não esperava é que ele fosse um homem triste - não triste desse jeito. A sorte é que ele não sabe.
Se bem que de vez em quando ele faça balanços e avaliações sobre a própria vida, jogue um pano em cima, siga e pense que está tudo bem, fingindo que está tudo bem...até tudo desmoronar.
Ele até me disse que estava com uns sintomas esquisitos, se sentido apático, sem ver graça nas coisas, sem usufruir do que o trabalho lhe dava, meio sem perspectivas de amanhã, de devir, cumprindo um dia de vida por vez, de modo a que a vida fosse passando.
E eu disse: "Você está sofrendo é de existência!" - e foi aí que eu vi que ele é dessas pessoas para as quais qualquer tristeza é depressão, qualquer angústia se cura com remédio, dessas pessoas que não devem ter a menor noção do que seja estar vivo, porque não há vida sem angústia e sem faltas, mesmo para aqueles que têm tudo material e simbolicamente. Como disse meu poeta Iderval Miranda:

todas as sementes do nada
e a sempre falta.


Mas ele é workaholic e isso resolve parte das coisas dele.
Quando o senso comum diz que no tempo de nossas avós não havia depressão porque todo mundo tinha uma trouxa de roupa para lavar, não está dizendo exatamente aquilo que está dizendo: está dizendo que é preciso ter atividade, é preciso mobilizar vários setores de nossa vida em favor do nosso bem estar.
Ter o que fazer não é condenar a mente ociosa à oficina do Diabo, não: quer dizer que todo mundo tem faltas e que existem coisas além da falta, que as faltas sempre existirão, mas que podemos ter nos nossos afazeres uma certa pulsão de vida.
Estar em atividade é estar vivo, pelo menos para poder lavar um monte de roupas, descarregar a energia vital do corpo numa atividade e não dar dedicação exclusiva à falta, não ceder totalmente o espaço da vida àquilo que não temos, embora não devamos ignorar a realidade dessas faltas e seu valor para nós.
Traduzam, pois, o senso comum e sua "falta do que fazer" como uma maneira de dizer que não se pode mesmo depositar todos os ovos numa única cesta - e eu gostaria tanto de dizer a uma amiga minha para que ela acordasse também, que visse que não se pode viver somente por e para uma única pessoa sem pagar um ônus fatal por isso.
Pois, ele é um homem triste e está sofrendo de existência - essa é a maior sorte dos ignorantes: não saber o que é existir, não pensar sobre nada, não ver nada, resolver seus conflitos internos com muita cerveja e umas páginas de O monge e o executivo ou qualquer coisa do gênero. Por acaso lembrei que minha referida amiga está resolvendo suas questões existenciais com a leitura de Por que os homens gostam de mulheres poderosas... é, o desespero tem várias faces e adora se aliar com a ignorância, numa aliança irrevogável.
Quando eu falo em ignorância não estou descartando o nível superior cursado pelos referidos personagens da vida real aqui lembrados, não é de escolaridade que eu falo, mas de ignorância e burrice mesmo, não é burrice de Q.I., esses negócios objetivos, não: é outra espécie de burrice para a qual nem escola nem remédio dão jeito.
Pois, bem, ele é workaholic e com seu vício no trabalho ele sempre fugiu de casa e da vida, o que ajuda até certo ponto, mas tem seu efeito colateral de pôr embaixo do tapete as causas dos sintomas dele, as questões realmente cruciais, que agora assolam de forma voraz. É que ele não entendeu bem o que seria ter o que fazer, se ocupar...aí se jogou no trabalho e agora que é a vida que anda dando trabalho, ele não sabe trabalhar a questão.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A praça e o poeta


Olha o meu problema de acordar de bom humor, em ver a vida ensolarada, apesar de tudo nublado nesta cidade chuvosa, apesar de não ter dormido assim tão bem porque é Micareta e minha obrigação é estar na Avenida, porque, caso contrário, a Micareta vem até a minha casa. E assim foi: deitei antes da meia-noite, mas até depois das duas da manhã ouvia uma canção de ninar que dizia: "Vou não, quero não, posso não,minha mulher não deixa, não"... e não estou aqui para condenar a alegria dos outros, nem para julgar se esta alegria é falsa ou natural. O importante é que tentam ser feliz, e isso eu também faço em todos os dias do ano.
E fico com esta minha cabeça louca pensando em Caetano veloso cantando que "Enquanto so homens exercem seus podres poderes/Índios e padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes fazem o carnaval" e também acho que eu "queria poder cantar afinado com eles"...
A praça é do povo,quando é carnaval em Salvador, na Praça Castro Alves; a Avenida Presidente Dutra é do povo enquanto durar a festa em Feira de Santana. Let it be!
Então, o caso é que todo o som desta cidade parece ter predileção pela minha casa: o vento traz o barulho da festa, o da missa, o do culto, o das escolas de samba...entretanto, o afoxé que é aqui pertinho, o Pomba de Malê, nem traz o menor eco, porque é perto, mas desfavorecido (?) acusticamente pelas condições topográficas.
Nesta manhã eu estava pensando em um poema do meu orientador, aliás, ex-orientador, porque ele era meu orientador no mestrado, mas ocorre que os afetos e o respeito são constantes e duráveis e eu fiquei carregando o título de orientador para ele esse tempo todo e, enfim, durante o concurso que fiz recentemente, eu sempre pensava nos versos: Fera que sou entre feras,vou devorado por elas e as devoro...". E lembro que um inimigo meu, despeitado, desceu a madeira neste poema, dizendo que era uma imitação barata de Augusto dos Anjos. Este inimigo meu já morreu, por sinal, mas faz falta quebrar o pau com ele, porque fera que eu sou, adoro uma briga.
Infelizmente meus inimigos atuais são sonsos, dissimulados, carrascos carismáticos que quando saem da vista do público fazem coisas que Deus já deixou de duvidar. Tudo gente frágil e sensível em sua casca social. E eu, que já estudei história,sei o que é uma pessoa populista, o que é um tirano e o que é um líder carismático - entre ser amado e ser temido, esses vermes sabem ser amados e manipular as pessoas perfeitamente bem.
Mas, meu digno orientador, parafraseando Nietzsche, diz no seu poema ECCE HOMO:
Nasci entre feras
e entre elas me vou
fera que sou entre feras.
Vou devorado por elas
e as devoro (os dias difíceis?
as horas belas?):
elas e eu num declive
elas presas e eu livre
nelas.


Mas eu não lembrava do poema todo, lembrava das partes que marcaram seu significado em mim.
Há um que se chama A inútil lição, que eu adoro, também:
Disseram que não sou eu,
não contestei, consenti;

e que num tempo remoto
fui o contrário de mim.

Mergulhado em meu avesso
buscando saber quem sou

errei meu endereço
enquanto a vida passou.

E há outro poema chamado POEMA (é isso mesmo, POEMA!), que eu amo:

Entrei de costas na vida
e vi o passado morrer:

sou este ser invertido
olhando para o perdido

como quem sabe esquecer.

E quando eu escrevo neste blog sobre lições e aprendizados, não deixa de ter o peso da realidade do que eu realmente aprendo. Daí que há um poema chamado QUARTO APRENDIZADO, que eu também adoro:

Para nada vivo.
Sou apenas mais um, e se não fosse
nenhum seria
o prejuízo.
Nasci por mero acaso
e não me explico. E
por mero acaso
aceito satisfeito a tudo isso.

Todos estes poemas estão contidos no livro Amálgama, lançado em 2004 e se eu não disse o nome do homem antes foi para não influenciar as impressões sobre a poesia dele: Roberval Pereyr.
Tenho um rolo bravo com os poetas, claro, com os que me enganaram, não com este, de quem eu não canso de dizer: mui digno. Pessoa íntegra, criativa, sábia, que pacientemente tentava me ensinar a perdoar, lição me que não me esmerei muito. No mais, tudo foram lições.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Um amor de pessoa!


Há um tempo atrás discutíamos quem , dentre nós, teria a "sorte de um amor traquilo", algo tão improvável e para poucos,que geralmente só ocorre entre os casais gays - qualquer casal gay.
E hoje a namorada dela, num gesto lindíssimo, pediu minha ajuda para fazer uma surpresa para ela, coisa delicada que dependia mesmo das dicas de uma amiga de longa data. Assim, pensei em quanto tempo faz que a gente se conheceu e, sei lá, bem mais de 15 anos, mal havíamos saído da adolescência, cronologicamente falando.
Tatiana argumenta que "amor e dor", jamais. E se pintar sofrimento ela caí fora, porque amor não é para fazer sofrer, é para fazer feliz. Ela tem um raro amor heterossexual "tranquilo" e, de fato, ao longo da vida, jamais aceitou as complicações e os sofrimentos.
Nem sei como pode ser esse volteio de racionalidade que vê que se o outro está nos tratando mal, se faz de nosso sentimentos um artefato de chatagem emocional ou usa este sentimentos que nutrimos para nos ridicularizar, humilhar, manipular, então este outro é nosso inimigo, não alguém que devemos amar. Tati é assim, vê os relacionamentos assim. E está certa.
Meus amigos gays, homens e mulheres,de fato, vivem amores tranquilos e talvez por isso eu tenha aprendido a naturalizar as relações entre os iguais.
Sou grata a ela, que faz minha amiga feliz e se preocupa em trazer muitas outras alegrias. E admiros eles, que a seu modo fazem felizes os meus amigos, hoje já não tão próximos, mas nem por isso menos amados por mim...
Aprendo muito com eles e acho que eles entendem quando pego no pé dos estereotipados, porque não acho que minha amiga zapatista tenha que ser masculinizada e que meus amigos bibas tenham que ser fechativos, caricatos, desmunhekovsky.E pode ser que isso seja resquício dos meus preconceitos internalizados, mas sei que gosto de vê-los felizes e respeito profundamentea aqueles que chegaram para abalar portas de armário, seja para se trancarem junto com, seja para tirar quem lá estava: o importante é estar feliz.
Meu amigo Léo, que eu sempre tenho que frisar que dentre os meus amigos é um dos raros heterossexuais, também encontrou Jana e a sorte de um amor tranquilo, mui dignamente.
Eu nunca pensei que ele pudesse ser feliz no amor porque ele é (era) uma daquelas pessoas que não sabiam como ser feliz. Hoje ele está meio basbaque, perplexo sem acreditar que é possível ser feliz no amor - e como ele mudou para melhor!
No caso dos meus amigos homossexuais, estão aí vendo como é esse negócio de maternidade e de paternidade, pensando em constituir um lar, uma família - algo mais difícil para as meninas que sonharam em ser mães biologicamente falando e agora planejam a adoção, redirecionam os sonhos para o plano do possível. Capítulos dos romances reais, mais importantes do que o casamento de Catherine Middleton e do Príncipe William, com certeza.
Fico mesmo feliz por todos eles.
E, como Cazuza...

Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós, na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente nem vive
Transformar o tédio em melodia...
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno anti-monotonia...
E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio
O mel e a ferida
E o corpo inteiro feito um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria...
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E algum veneno anti-monotonia...

(Cazuza, Todo amor que houver nessa vida)

terça-feira, 26 de abril de 2011

Com todo o gás


Porque ontem o meu gás acabou e eu vivo as vicissitudes do final de mês de qualquer assalariado, peguei meus quarenta reais, dei providência num novo botijão e fiquei a pensar na vida. E uma pessoa louca quando inventa de pensar, cria é coisa, inclusive as coisas sem o menor sentido.
Pensei que a última vez em que comprei o gás aqui de casa foi exatamente em 31 de agosto de 2010 e que eu tenho o hábito de anotar no calendário porque sonho com a possibilidade de que meu gás consiga completar seu primeiro ano de vida ao meu lado, menos por pão-durice do que por desafio, já que se há uma coisa de que eu sou convencida é a de não ser pão-duro. Acho que dinheiro é para trazer felicidade para mim e para os que eu amo. Logo, guardar dinheiro, fazer mesquinharias, me privar de um prazer, suportar o sol de ponto de ônibus apenas para economizar táxi, definitivamente não é a minha praia. E negligenciar o aniversário de um amigo ou subestimar os efeitos de alegrias que as pequenas surpresas causam nas pessoas também não são comigo. Maldosamente os meus amigos devem estar pensando: “Esta gosta de dar”. Gosto mesmo – com e sem maldades. Partilho dos versos daquela música que o povo, acho que do Pirigulino, canta: “ Só é seu aquilo que você dá”.
Tenho, óbvio, apegos afetivos a sapatos e roupas, a certas coisinhas e também pondero antes de um grande gasto, mas não sou pão-duro não.
Mas, voltando ao gás, fiquei feliz por ter dinheiro e dei graças a Deus pela minha independência: sei retirar o botijão, sei colocar o botijão de volta e pago minhas contas. Coisas banais que me deixam feliz.
Perguntei ontem a Cléo se o fato de que ela acorda às 5h40min faz com que ela fique irritada. E ela disse que não tem como ela acordar mal humorada, que ela se cansa, mas leva numa boa o ritual da manhã.
Odeio atividades de manhã, compromissos que me obriguem a acordar cedo. Aí fiquei pensando em como é gostoso dormir sob um edredom, espreguiçar de manhã, ouvir música e ir à cozinha, preparar um café da manhã que eu adoro. É um prazer. Mesmo quando o gás acaba e adia tudo, adia o café, antecipando uma série de ações burocráticas, tipo ligar para pedir um gás e seguir desatarraxando válvulas e pondo o botijão a postos. Não estou nem aí, não acabo o meu dia por estas coisas.
Se é certo que eu digo que toda felicidade é suspeita e que eu não acordo dando risada para as paredes, não acordo mal humorada nem triste.
Ultimamente minha casa não tem tido aquela paz de antes, por sinal: ora é uma amiga suicida que liga toda hora porque precisa de atenção ou porque não consegue ser o centro das atenções, como bem cabe ao nosso tempo; ora são coisas mais insólitas para as quais declino minhas explicações: a igreja evangélica que fica no quintal de minha casa é barulhenta – é, meu amigos, moro numa área de 727 metros quadrados, numa casa de 46 metros quadrados, o que ajuda a propagar o som - e eu sofro na Semana Santa e na Micareta, seja com cultos, vigílias e liturgias, seja porque qualquer som de lá vem para cá.
Neste ano há uma escola de samba na minha rua – poderosa, organizada e barulhenta que, por sinal, devido a um carro alegórico e as batidas rutilantes dos seus últimos detalhes, me acordou hoje bem cedo...
De tempos em tempos, acontecem estas coisas. E falando em tempo, hoje Tatiana me citava o Eclesiastes, me dizendo: “Há tempo de semear e tempo de colher”, para um certo contexto e eu concordei. A gente se conhece o bastante para refletir, discutir e analisar as coisas e cinicamente eu disse: “Confie em Deus, mas tranque a porta da frente”, em alusão a que temos que ter fé, mas jamais declinar de nossa responsabilidade sobre o destino das coisas. Ela sabe disso. Eu sei também, e muito.
Daí que fiquei pensando novamente em meu dinheiro que me possibilitou pagar o gás e tomei ciência de que estamos nos últimos dias para fazer a Declaração de Imposto de Renda.
Liguei para a empresa da contabilista. Pensei em Tiradentes, aquele cujo feriado foi 21 de abril e que ninguém presta atenção.
Pensei que o povo dos anos 1700 e lá vai protestava contra a cobrança de impostos: o Quinto, a Derrama e o que ocorresse. Literalmente, perdia-se a cabeça protestando e confabulando contra o excesso de Impostos que a Coroa Portuguesa infligia aos brasileiros. Faço um adendo para explicar que, enquanto fui professora de História no Ensino Fundamental, os meus alunos achavam que a Coroa Portuguesa era uma mulher de mais de 40 anos, que nasceu nas terras além-mar, ao tempo em que achavam que a Colônia era um perfume muito usado nos tempos do Descobrimento.
Aí vou dizendo pelo telefone os dados para o preenchimento da Declaração e tristemente a contabilista procura subterfúgios para promover a dedução: ora, não tenho dependentes, não tenho saída, o governo come o meu salário. Atualmente, excetuando este ano, devo mais de três mil ao erário público... Como é que pode?
Não sei você, mas eu acho o Imposto de renda uma afronta, um roubo: ele é pago porque você recebeu uma determinada renda, entende? Você trabalha, aquilo é seu salário, mas o governo diz que do seu trabalho ele merece cerca de 27 por cento. E Karl Marx, coitado, falava em Mais-valia... sem noção este aí!
Com contrabando é a mesma coisa: contrabando não é roubo. A pessoa foi a outro país, pagou, comprou o objeto. Aí para que o objeto que você já pagou possa vir com você para a sua casa, o governo vai lá e pam! Come seu dinheiro. Quando a alfândega me pega, leva sessenta por cento do valor declarado...nunca mais importei nada, nem importo nem me importo.
Mas eu já paguei, eu não roubei. Contudo, o governo irá traçar uma explicação de Economia de modo a mostrar que as divisas internas e blábláblá justificam a mordida.
Enquanto isso, eu pago o meu gás, com meu salário, tão fugaz...

domingo, 24 de abril de 2011

Quando bate, fica?


Estar louco de amor, louco de paixão, mais do que uma expressão recorrente, é uma suave admissão de que há qualquer coisa que aproxima o amor e a loucura. Se fosse para tratar de minha vida, eu diria que um terceiro elemento, a burrice, perpassa o amor também. Vivi amores burros! se me apaixono, tiro os pés do chão: os quatro (quadrúpede que fico).
Se é verdade que andei me queixando dos meus contrabandos afetivos, dessa pirataria sentimental que me acomete ultimamente – e quando eu falo pirataria é porque as coisas se mostram originais e verdadeiras na aparência, mas não duram muito tempo, são só cópias baratas mesmo – por outro lado dou graças a Deus por não estar metida em encrencas afetivas.
Minha amiga abandonou o emprego só para ficar cem por cento de seu tempo ao lado do namorido drogado e instável. Ela é uma dessas pessoas que se deve amar à distância. E eu mantenho distância, sim; e não fosse o fato de eu estar teclando com a irmã dela pelo MSN e esta ter dito que iria apartar uma briga, tendo, 05 minutos depois, me explicado sua habilidade de se desviar de caçarolas arremessadas contra ela, eu nem saberia do babado. Mas, o método Von Ritchofen de convívio familiar funciona para alguns, pelo que vejo. E a porrada era justamente porque o pai da moça interferiu, aconselhou a minha amiga a voltar ao trabalho...o sujeitão lá se ofendeu, ok.
Vou só fazer um adendo: a família dela é Adventista e acha que o casal deve ficar junto haja o que houver – neste caso, com drogas, violência doméstica e tudo mais...tudo vale a pena!
E quantas das minhas amigas e conhecidas, assim como essa, com boa formação universitária, independentes financeiramente, pessoas de bem, se arrebentam sustentando o companheiro, apanham, suportam os vícios e fazem cara de paisagem para o próprio sofrimento, fazendo de conta que têm uma união feliz - coisa que alguns olhos roxos desmentem, porque às vezes a infelicidade está na cara.
Destas, principalmente no mundo do Ensino Superior, a maior parte se engaja em Estudos de Gênero, têm discurso feministas, seja para efetuar sua catarse de modo a se realiza na teoria, seja para disfarçar ainda mais o inferno doméstico, pois quem tem conhecimento de causa teoricamente saberia se defender, nunca permitira que acontecesse consigo aquilo que elas apontam em seus estudos, enquanto consequência do machismo. Mas, nada feito:na prática a teoria é outra e o pau come na casa de Noca!
Mas, tirando esses casos extremos, realmente vou voltar atrás: não quero me apaixonar, não.
Amor tranqüilo é coisa rara. Amar sempre pressupõe alguma humilhação, alguém que nos domina, concessões, traições, dores...e aquela aposta ridícula na correspondência. Tem coisa mais ridícula? Você amar certa pessoa e coincidentemente, esta pessoa amar você?
E se há terceiras pessoas, aí o bicho pega. Se a mulher amar alguém que tem outro alguém, a batalha já está perdida de antemão, mas nem por isso a idiota vai deixar de disputar, de odiar a outra, que chegou primeiro, que não tem culpa de nada, mas que precisa ser destruída no mínimo moralmente. Tanta luta e o prêmio é um homem.
Ao contrário de muita gente, quando tive minhas barcas furadas, amores maus, nunca tomei por ofensa e intromissão o caso de um amigo me aconselhar. Em meu caso, podem “meter a colher” porque eu entendo que o amigo está me chamando à razão, me colocando a par da realidade.
Neste momento há outra amiga minha doente, arrasada por um amor sádico: ele faz o que quer com ela, é convencido, sabe que ela sempre aceitará qualquer coisa, que está disponível e que qualquer migalha que ele der sacia a fome que ela tem. O analista já disse para ela cair fora, porque ele é parte das inclinações suicidas dela...nada feito! Ele despreza, pisa, humilha, reduz a moça a uma partícula insignificante, bate a porta. Mas volta quando convém e ela sempre aceita.
Essas são as minhas amigas. São assim outras amigas dos meus amigos, das quais eu própria, que a meu tempo sofri minhas humilhações por amor, embora não tenha sofrido violência física. Nem por isso o amor se esquivou de me deixar cicatrizes profundas, coisa que cirurgia nem curativo jamais irão sanar.
Embora eu já não acredite em Drummond com aquela sua assertiva poética de que “amar se aprende amando” – amar não se aprende é nunca! Cada situação é única e a gente sempre se repete, isso sim – acho que o coração se desgasta .
Amor é uma droga de alto poder de desvirtuamento da realidade. Causa uma dependência indescritível, vicia, tira o sono e o apetite, causa picos de euforia e picos de tristeza, transformando as pessoas em bi-polares, causa transtornos que nem daria para enumerar. E para quem já foi viciado, para quem já amou, sempre desperta um misto de atração e repulsa, pavor, talvez.
Quando às vezes falo do ex-Grande Amor da Minha Vida, por quem, aliás, mais por orgulho do que por lucidez, eu não me humilhei, falo com o trauma muito vivo em mim. Um trauma real que me impede de voltar a Aracaju, que fez com que eu me inscrevesse duas vezes num concurso lá, não tendo comparecido em nenhuma delas; que me impede de pensar em pôr os pés de volta àquela terra e que eu só posso comparar à mesma sensação que alguém poderia ter caso voltasse à cela em que foi torturado. Mas isso me diz: não quero nunca mais sentir essa dor novamente.
Por ser a rima mais óbvia do mundo, não quero nunca mais amor e dor. Se não quero, não procuro e não vai acontecer salvo se eu for tomada de assalto, mas não há quem me encante tanto, não há quem desperte em mim esse sentimento, pelo menos por enquanto...e isso pode ser conseqüência de alguma vigilância interna, de meu sistema de segurança.
Tomei o conselho de Chico Buarque a sério e não quero ser uma mulher de Atenas, não quero repetir os imperativos do meu gênero.

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Vivem pros seus maridos,
Orgulho e raça de Atenas.
Quando amadas, se perfumam,
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas.
Quando fustigadas não choram:
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas; cadenas.
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Sofrem por seus maridos,
Poder e força de Atenas.
Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados;
Mil quarentenas.
E quando eles voltam, sedentos,
Querem arrancar, violentos,
Carícias plenas, obscenas.
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Despem-se pros maridos,
Bravos guerreiros de Atenas.
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas.
Mas no fim da noite, aos pedaços,
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas.
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Geram pros seus maridos,
Os novos filhos de Atenas.
Elas não têm gosto ou vontade,
Nem defeito, nem qualidade;
Têm medo apenas.
Não tem sonhos, só tem presságios.
O seu homem, mares, naufrágios...
Lindas sirenas, morenas.
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Temem por seus maridos,
Heróis e amantes de Atenas.
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas,
Não fazem cenas:
Vestem-se de negro, se encolhem,
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas;
Serenas.
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Secam por seus maridos,
Orgulho e raça de Atenas.

sábado, 23 de abril de 2011

Salve, Jorge!


Hoje, 23 de abril, é Dia de São Jorge, meu santo guerreiro, bendito e poderoso, que ensina que as conquistas dependem da luta, que não prega a passividade contemplativa.
São Jorge, guerreiro, tão afim do meu regente Marte, deus da guerra, que tanto ensina sobre ser perseverante e justo, que não desampara seus devotos, que atende aos rogos: contigo sigo aprendendo.
Salve, Jorge!

Jorge sentou praça na cavalaria
E eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem
Para que meus inimigos tenham mãos e não me peguem, não me toquem
Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam
E nem mesmo pensamento eles possam ter para me fazerem mal
Porque eu estou vestido com as roupas e armas de Jorge.
Armas de fogo, meu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem, sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem, sem o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é de Capadócia, viva Jorge!
Jorge é de Capadócia, salve Jorge!
Perseverança, ganhou do sórdido fingimento
E disso tudo nasceu o amor
Perseverança, ganhou do sórdido fingimento
E disso tudo nasceu o amor
Ogam toca pra Ogum
Ogam toca pra Ogum
Ogam, Ogam toca pra Ogum
Jorge é da Capadócia
Jorge é da Capadócia
Jorge é da Capadócia
Jorge é da Capadócia
Ogam toca pra Ogum
Ogam toca pra Ogum
Jorge sentou praça na cavalaria
E eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
Ogam toca pra Ogum
Ogam toca pra Ogum
Jorge da Capadócia
(Jorge Ben Jor - Jorge Da Capadócia)

Expressões da vida


Se há duas expressões que me intrigam, elas são: "estar de bem com a vida" e "eu era feliz e não sabia".
A primeira é uma verdade clara, porque estar de bem com a vida significa aceitar a própria vida, o que implica tomar consciência de que o mundo não está aqui para te agradar, que há dias cinzas e dias coloridos, mas as cores dependem do manejo criativo da realidade.
Estar de bem com a vida é acordar e verificar que a contabilidade da casa não está muito favorável, mas, mesmo com as dificuldades, despertar um sopro positivo que mostra que as restrições financeiras não impedem que possamos aproveitar outros recursos gratuitamente dados, seja o sol, seja o papo com o amigo, seja aquela música que você põe para tocar e ouve parcimoniosamente ou se contorcendo feito louco, dançando na sala.
Quem te disse que viver é fácil? mas se a gente é de mal com a vida, vai ter uma indisposição para viver, uma preguiça de resolver as questões que realmente interessam, vai jogar sobre o outro a responsabilidade de tomar conta de si, vai inventar lugares onde depositar fatores de felicidade, sendo, porém, que estes lugares sempre estarão acima das estrelas, sempre onde a mão não alcança.
Sem estar de bem com a vida, nenhuma conquista nossa pode ser vislumbrada, reconhecida, comemorada...
Eu que não de otimismos nem de auto-ajuda, reconheço que nosso humor determina muito sobre nosso bem-estar. E estar de bem com a vida é ver graça na vida, é ter a vida como uma graça, apesar de situações espinhosas.
Quando decidimos estar de bem com a vida, também decidimos não nos amarrar ao passado, recapitulando dores, fixando tristezas ou olhando para quem nos tomou algo que nos pertencia de fato ou por direito.
O que vejo é que vivemos do passado porque ele não sai de nós. E nisso não há nada de errado: somos o que somos por um ato processual, assim como não se chega aos 35 anos sem termos passado pelos vinte. E, engraçado, eu só considero que comecei a viver após meus 24 anos, porque foi ali que consegui meu primeiro emprego fixo. É que a questão de me manter, ou seja, manutenere, ter nas mãos, significa que sou dona de mim, que não estou na mão de outrem, manipulável como um fantoche...
E as mãos têm um significado todo especial para mim: reparo na forma como os homens ficam de mãos dadas comigo; reparo na intensidade do carinho das mãos masculinas em meus cabelos; adoro olhar as mãos e tenho o maior respeito e admiração pelos apertos de mãos.
Mas, sim, o passado nos constitui.
Estar de bem com a vida implica estar de bem consigo mesmo e eu que não sou hipócrita digo que dinheiro ajuda muito a ser feliz. Entretanto, paradoxalmente, tantas vezes somos felizes quase sem dinheiro algum, sem nenhum motivo concreto somos tão felizes quanto o maior bilionário da história.
Mas para quem vive de mal com a vida, nem o maior salário, nem estabilidade emocional, financeira, qualquer fator que seja, não ajuda a melhorar a vida - e a vida, meu irmão, é fardo pesado! se você não sabe parar um pouco e descansar do seus pesos, você está perdido.
"Eu era feliz e não sabia" é o cúmulo do nonsense: não tem sentido. Se você é feliz e não se dá conta da felicidade, com certeza você não é feliz, pois felicidade imperceptível, felicidade de que não se usufrui conscientemente, nunca foi felicidade.
Ignorar o que te faz feliz é sintoma grave, porque quem não sabe o que procura ignora tudo de bom que acha.
Ontem ele me ligou e me disse: "Faz 11 anos. Hoje faz onze anos que..." e completou a frase falando justamente de algo que eu fiz por amor a ele, onze anos atrás.
Amor, quando passa, deixa só a sensação de termos sido ridículos. E eu me senti ridícula, enquanto ele se sentia saudoso e lamentava: "Eu era feliz e não sabia".
Ele nunca foi feliz. Felicidade é um troço muito gostoso para você não perceber, não dá para ignorar a sensação boa e gostosa de estar feliz - se você preferir, imagine aí uma descarga de endorfina que durasse,assim, uns 5, 10, 15 dias?
Todo dia temos angústias. Todo dia, de alguma forma, conversamos com o passado, esse velho interlocutor que segue nossos passos, mas você sempre tem opção de ressemantizar as coisas.
Um dos entraves à minha boa relação coma vida era me privar de dizer o que eu queria dizer a certas pessoas. Agora só falta uma com quem acertar as coisas: também a vida nos mostra que o perdão pode ser uma mentira que nos faz mal.
Ser politicamente correta, ser cristã no sentido da prática do perdão pode ser altamente prejudicial à saúde psíquica: só me resolvo com o meu passado quando verbalizo sobre ele e, neste caso, preciso dizer meia dúzia de verdades a alguém a fim de expurgar a mágoa, porque para operar a morte simbólica do meu pai também foi preciso dizer a ele o que eu havia a dizer.
Ontem, estudando para o texto que construo para o Exame de Qualificação do doutorado vi as notas que Michel de Certeau faz sobre Freud e me reconheci justamente nas concepções dos três tempos do pai: o pai superestimado; o pai rejeitado e o pai substituído e o que Freud classificou como O romance familiar dos neuróticos.
Dentro dos meus estudos, o fato de António Lobo Antunes ser psicanalista influencia a constituição da narrativa que eu trabalho, mas, como sempre ocorre, não costumo escrever coisas sem ter certa vivência empírica sobre elas.
Aprendi, também, que se tenho problemas com A. e comento estes problemas com C., me desvio de solucionar a questão, já que eu deveria tratar diretamente com a pessoa referida - é assim que as pessoas falam mal das outras pelas costas, daí porque costumo insistir com os meus inimigos, insistir no confronto direto. Ora, se são meus inimigos, por que temer falar diretamente a mim aquilo que já é dito sobre mim aos outros?
Mas, bem: estou de bem com a vida!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Trópico dos pecados ou beba da fé (das bêbadas)


Fiz um roteiro, ontem, totalmente fora dos meus planos, e acabei indo parar na UEFS, na festa do Encontro de Educação Física - estávamos em bando de três, a saber: eu, Cléo e Mara, minha xará.
Chegamos por lá perto das 23 horas,depois de eu ter ido jantar com Cléo. A banda de abertura não era uma banda, era um bando que tocava Quixabeira - e eu, meus irmãos, não sei dançar dessas coisas folk, mas me meto lá no meio.
Poucos conhecidos na área, mas o bastante para movimentar o fogo no espírito que a gente já tinha e que as meninas resolveram atear ainda mais com vinho, cerveja e o que ocorreu, porque, conforme todos sabem, eu não bebo álcool e entendo tanto de bebida quanto entendo da política de tráfego aéreo que a Agência Nacional de Aviação Civil, a ANAC,pratica.
Só sei que elas ficam diferentes e imediatamente passam de baianas a orientais, porque os olhos ficam apertadinhos. E quanto ao vinho, eu bem sei: o dia seguinte é o dia de Dolores, "Dolores de cabeza", como se diz em espanhol.
Flertaram sem pudores um pós-adolescente da barraca de Economia, lindíssimo, bem mais bonito que o Justin Bibier; olhamos a grossura do cigarro de maconha que o povo estava torrando e os conhecidos que ficam fantasiados de rastafári para parecerem descolados e fazerem cenas; e num saudosismo de que só os velhos são capazes, Cléo e eu lamentamos que ali ninguém dava os pegas de nosso tempo de universidade.
Ao invés de amassos e emoções baratas, o povo estava no álcool e na maconha: mesmo os que chegaram com seus pares, não namoravam; os flertes não passavam de olhares e nada daquelas sacanagens do tempo em que a gente entrava no D.A. durante as festas noturnas para tratar das políticas do corpo com os meninos de outros Estados, promovendo o verdadeiro intercâmbio cultural.
Não,naquela festa tudo era só droga. Uma droga!
Nunca a geração da gente iria deixar de estar curtindo as sensações do corpo para ficar se drogando - e olha que eu fiz curso de maconheiro e sapatão, como eu digo, de acordo com o estereótipo de nossas graduações. Fazia-se os dois ou apenas um, mas não exclusivamente se drogar...
Encontrei quem eu não queria encontrar, fugi, mas no final da festa ele foi lá no estacionamento falar comigo e após 14 meses sem que a gente se falasse, Léo se pronunciou, me pediu desculpas e blablablá, me roubou um beijo e eu voltei feliz para casa porque eu gosto dele e não sou de terminar e ficar de tromba com a pessoa.
Difícil foi superar a vergonha porque Mara estudou com ele na infância e mesmo se não houvesse estudado, dá para ver o quanto aquele peste é mais novo do que eu.
Pior foi Cléo associar o nome e a pessoa e se acabar de rir, em bebedeira, me dizendo coisas que não ouso repetir, mas derramando geral que sabia que eu tive coragem de namorar o filho do namorado da minha amiga, elogiando o nariz do menino que é lindo mesmo, e me colocando numa saia justa.
Léo e eu ficamos de bem e eu tive que ouvir Lulu Santos o caminho inteiro de volta para casa, porque Cléo estava me provocando, me deixando vermelha de vergonha das perguntas que me fazia e aí meteu lá um "...porque eu só faço com você,/só quero com você,/só gosto com você...adivinha o quê?".
Veja a lógica do nosso trio católico: resolvemos sair ontem, quarta-feira, porque na quinta e na sexta-feira da Paixão ficamos quietinhas e recolhidas, respeitando os dias santos de nossa religião.
Bem, ou foi a marca forte de nossa criação quem fez isso, ou introjetamos a cultura demais, de modo que ainda tememos os desígnios divinos e, mais ainda, levamos a sério um calendário artificialmente proposto. Mas, ora, sim, que burrice:se é cultural é porque não é dado pela natureza.
Do herético ao erótico se vai em menos de um segundo e para expurgar meus pecados nenhum ritual de auto-flagelação é mais potente do que encarar filas de supermercado num feriado nacional que é véspera de feriado santo - nem havia carrinho de compras disponíveis, hoje, já perto das 14 h, no maior supermercado desta minha Princesa do Sertão, gente!
E assim foi, nestes momentos em que se eu não praticava pecados, pensava em cometê-los aos rodos: uma vontade de matar meu semelhante que inventou de ir ao supermercado no mesmo momento que eu, ocasionando filas; uma vontade de me lascar na gula porque vatapá é um troço gostoso e é parte da ceia da Semana Santa baiana; um impulso para me entregar à luxúria, consumindo a carne dos gostosões que estavam no supermercado, em peregrinação,comprando cerveja para fazer a procissão da Santa Cana sem misericórdia e uma infinidade de outros pensamentos impublicáveis que Deus há de perdoar.
As meninas, pelo menos desde ontem à noite estão me jejum, a pão e vinho, sem o pão.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O doce veneno de Bruna Surfistinha


O que surpreende no filme Bruna Surfistinha, baseado no livro O doce veneno do escorpião, é a trilha sonora.
Especialmente para mim, que adoro o Radiohead, nos primeiros minutos em que toca Creep e também, lá no meio do filme, Fake plastic trees, eu viajo totalmente. Já nem presto atenção ao filme, em si, mas na música - que mistura dor existencial, doçura, um amor não convencional...
Da narrativa do filme, em si, nenhuma novidade frente ao que a celebridade em que se tornou a Bruna Sufistinha da vida real já não tenha falado ou divulgado pelos programas de televisão.
Todo mundo quer saber sobre a vida de uma garota de programa: os homens, para inspirar suas fantasias; as mulheres para aprender técnicas e novidades. Mas, não se preocupem: não tem nada disso. É um filme sobre sexo em que quase nada sobre sexo aparece, porque aliás,é sobre a vida de uma mulher que vive do sexo enquanto atividade econômica.
A menina na mesa de café da manhã que aparece no filme em nada condiz com os comerciais de margarina, mas também não cai na mentira de inventar pretextos para a prostituição de Raquel (posterior Bruna): ela é muito amada, sim, está numa família comum e opta por cair fora e entrar na prostituição.
Ultimamente virou moda arranjar álibis para as opções das pessoas, até mesmo para os crimes se procura um álibi subjetivo, tipo um conflito familiar ou um convívio familiar tenso. No filme, não tem isso: ela sai de casa porque quer; ela não volta para casa porque não quer, ela não aceita uma relação estável com um homem porque não quer e segue na prostituição porque assim deseja.
Livro desse tipo vira best-seller porque traz o espetáculo. E o que a gente não vê na cultura sensacionalista é que todo mundo quer o espetáculo, quer ser ator mais do que ser platéia, quer sair da vida para entrar no noticiário e colocar a culpa no bulling nosso de cada dia, porque quem de nós não teve apelidos depreciativos na infância, que atire a primeira AR-15. Mas, está bem, agora é moda e eu não quero ficar out.
De resto, o filme mostra uma moça estratégica e inteligente que encara a prostituição como carreira e, sim, a partir de um blog dá outros rumos à sua atividade de trabalho. Isso também é importante: prostituição é trabalho, ela tem clientes, ela se queixa do cansaço após atender oito clientes numa despedida de solteiro, ela não nega o abismo da cocaína, mas suponho que por questões também estratégicas, há o esforço por tentar encobrir um suposto glamour de ser prostituta.
Suponho que quem chama prostituta de vagabunda, realmente, não tem a menor noção do que seja trabalho - e olha que muitas trabalham menstruadas, usando um absorvente interno ou se entupindo de anticoncepcionais para suspender o ciclo, porque cafetão não aceita atestado médico nem dá trégua para o período menstrual.
Por fim, a prostituição como espetáculo leva a gente para as telas de cinema - demorei a ir, porque afinal me faltava tempo, mas não me faltava curiosidade - mas é uma narrativa boa e a atuação de Débora Seco que seguram o filme.
A Bruna da vida real eu, pessoalmente, acho gorda e feiosinha, o que não diminui em nada os seus méritos, porque ainda assim ela conseguiu atrair sua clientela, se manter na mídia, exercer seu poder de sedução e desbancar muitas garotas bonitas.
Meu amigo não quis ver o filme, porque ele é moralista e não sabe separar ficção de realidade, julga moralmente a arte e certamente tem medo de sentir alguma coisa no corpo de que o Deus dele discorde.
Ok, não é lá um grande filme, mas é um filme que tem boa produção, é bem feito. O resto é o que a nossa curiosidade dita.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Imprevisões do tempo


É uma ilusão tão cansativa isso de querer remendar o tempo.
A gente vive até umas coisas extemporâneas, do tipo: comprar depois de adulto um brinquedo desejado na infância; cometer exageros e destemperos que não vivemos quando jovens; dizer uns bons desaforos a quem já não é nosso chefe ou acertar outras contas com as pessoas que no tempo devido ou exerciam poder sobre nós, ou não víamos o que elas nos causavam.
Mas me incomoda muito quando o remendo é nos relacionamentos. Caso comum, com aqueles homens que estiveram conosco, não nos valorizaram, não reconheceram nada de bom e convidativo em nós, mas aí, passados dois casamentos e algumas decepções, querem retroceder, pensando que erraram ao não eleger a gente como companheira.
O problema é que o tempo passa.
O tempo não desfigura somente as pessoas, trazendo rugas, cãs, barrigas acentuadas e levando embora cabelos e vitalidades - o aspecto fisico é negociável, tudo passa mesmo e podemos ser velhos e bem apresentáveis ou sermos velhos e charmosos, vide ao Magnífico Senhor de quem nunca esqueço o beijo frio ou o outro senhor que encantou Tatiana, naqueles seus quase setenta anos.
Olhe lá o Herson Capri: sessenta anos e além de sexagenário é sexy, inteligente e ativo. Já nãos e fazem mais velhinhos como antigamente.
O problema é envelhecer sem amadurecer e, também, esperar que o tempo não tenha passado para as pessoas deixadas para trás, como se o amor que sentíamos pudesse se congelar. Acho que o ex-Grande Amor da Minha Vida tem dessas coisas, acho que todos os meus ex...
Por um tempo minha fila andou em círculos, porque eu sempre voltava para quase todos eles...pouco tempo depois me davam umas agonias e eu caía fora...ou era o caso de eu perceber o remendo, que eu estava ali como band-aid, por ser boazinha nos critérios deles.
Quem foi muito amado por nós não tem boa aceitação com o fim dos nossos sentimentos por si. Claro, vicia.Ser amado vicia.
Agora, de minha parte, continuo sem saber o que fazer para que N.M. aceite, acredite e se toque de que eu não quero nada com ele. Nada!
Não quero criar feridas narcísicas nele, fico torcendo paar ele descolar uma outra namorada, já falei o mais claramente que posso, mas para esse aí, sim, a esperança é a última que morre - mesmo tendo sido a primeira que eu matei em relação a qualquer possibilidade de ficarmos juntos.
Acentuando isso está a má aceitação dos homens frente ao fato de gostarmos de alguns deles como amigo. É que tem isso, tem gente que é legal é bonitinho, é inteligente, mas não é para consumo afetivo-amoroso.
Cléo inventou de interferir a meu favor, assim pensou ela, e ligou para K.C., enchendo o menino de esperanças, dando meu telefone fixo, propondo coisas em meu nome. Agora tenho essa saia justa para dar conta!
Eu sou explícita: sou chata, meus amores não passam de três semanas, meus grandes amores, atualmente, não têm certificado de garantia nem cobertura para danos e avarias...resumindo: eu não gosto de ninguém.
Não gosto seriamente, sabe? respeito e desejo as pessoas do meu entorno (olha, pessoas aqui equivalem a homens, viu? para evitar dúvidas e mal entendidos), valorizo cada instante vivido juntos, curto, faço planos, me divirto, mas não sei se a porta dos meus sentimentos está fechada mesmo ou se nenhum deles tem a chave certa: sei que não gosto de ninguém - às vezes amo, mas com outras partes do meu corpo que não exatamente o coração - mas se tem algo que sei é quem eu não quero.
Procuro dizer isso da forma menos traumática possível, mas sou das pessoas que podem dizer "dessa água não beberei". Portanto, morro de sede, hirta e seca, mas não bebo de águas que eu não quero.
Morreria de solidão, mas não ficaria com quem eu não quero.
E não tenho talento algum para os remendos. Não digo que se Robson, Valério ou Omar aparecessem eu não tivesse a curiosidade de conversar e de ver a cada um deles, porque deixaram boas saudades, se tornaram outros amores, aliás, meus amigos são uns amores mesmo; e porque foram para longe demais, há anos, há mais de uma década num caso...
O resto é saber que o tempo não tem retrocesso, tudo muda... e eu não sei de onde esse povo tira a conclusão de que nossa vida não muda com o tempo, deixam de perceber qque o tempo amarelou os sentimentos, ruídos, puídos, rotos totalmente...não sei, não sei...mas sei o que eu não quero.
Talvez pelo meu celular ter o mesmo número de 11 anos atrás, e de eu morar na mesma casa de décadas atrás...talvez tudo isso dê a impressão de que o tempo possa não ter passado para mim, mas passou e eu já não posso chamar de meu amor a quem deixou de ser sentimentalmente significativo. Passou. Pretérito preterido.

sábado, 16 de abril de 2011

Em todos os sentidos


De repente fico rindo à toa sem saber por que
E vem a vontade de sonhar de novo te encontrar
Foi tudo tão de repente, eu não consigo esquecer
E confesso tive medo, quase disse não
Mas o seu jeito de me olhar, a fala mansa meio rouca
Foi me deixando quase louca já não podia mais pensar
Eu me dei toda para você
De repente fico rindo à toa sem saber por que
E vem a vontade de sonhar de novo te encontrar
Foi tudo tão de repente, eu não consigo esquecer
E confesso tive medo, quase disse não
E meio louca de prazer lembro teu corpo no espelho
E vem o cheiro de amor, eu te sinto tão presente...
Volte logo meu amor
(Maria Bethânia - Cheiro de Amor)

A tua presença...


A tua presença
Entra pelos sete buracos da minha cabeça
A tua presença
Pelos olhos, boca, narinas e orelhas
A tua presença
Paralisa meu momento em que tudo começa
A tua presença
Desintegra e atualiza a minha presença
A tua presença
Envolve meu tronco, meus braços e minhas pernas
A tua presença
É branca verde, vermelha azul e amarela
A tua presença
É negra, negra, negra
Negra, negra, negra
Negra, negra, negra
A tua presença
Transborda pelas portas e pelas janelas
A tua presença
Silencia os automóveis e as motocicletas
A tua presença
Se espalha no campo derrubando as cercas
A tua presença
É tudo que se come, tudo que se reza
A tua presença
Coagula o jorro da noite sangrenta
A tua presença é a coisa mais bonita em toda a natureza
A tua presença
Mantém sempre teso o arco da promessa
A tua presença
Morena, morena, morena
Morena, morena, morena
Morena.
(Caetano Veloso - A Tua Presença Morena).

Diários de luta


Desdobrando o assunto do concurso, não reclamo: sorte é o que não me faltou e, por isso, a prova escrita, que era o terror dos terrores, porque eliminatória, acabou fugindo dos temas técnicos nos quais eu suponho não ter muito trânsito, nem dispor de recheio para tanta lingüiça (hum! aprecio! Kkk!). Mas a banca se atrasou deveras, eu havia dormido mal e tudo começou uma hora e meia após o prazo regular. Daí que duas horas depois do início, meu cérebro e meu estômago começaram a se desentender e para reforçar a confusão, o cansaço deu seu ar da graça. Fiz, portanto, minha dissertação sem o menor cuidado nas considerações finais.
Lá vamos nós, na terça-feira, sob tensão, conferir se voltamos para casa ou se seguimos no processo: passei. Eu e outros cinco seres humanos a se digladiar silenciosamente pela aprovação no concurso. Aleluia!
Muitos saíram amparados da sala neste momento crítico.
Sorte: ganhei o direito a ser a primeira a sortear minha própria ordem. Sorte de novo: número cinco.
Explico: nos editais atuais da UFBA você não tem mais aquelas 24 horas entre o sorteio do ponto da aula pública e a sua apresentação. Agora cada um sorteia duas horas antes de seu horário e pronto. Neste caso, meu horário caiu dez da manhã de quarta, com aulas ao meio-dia da mesma quarta-feira.
Novo atraso e...sorte: tirei um ponto que eu dominava e que dava possibilidade de amplo desenvolvimento. Valorizei minhas duas horas, especialmente porque minha amiga Ilmara se disponibilizou a ir me buscar, subir e descer e, de quebra, me emprestou o laptop que o concurso não dava para exibir os slides.
Surpresa: ao revisar o assunto, peguei de novo um livro e um texto da web, além de um texto do site de certa universidade. E qual a surpresa? Eram plágios do livro. Traduzindo: eu pensei ter lido versões diferentes para o mesmo assunto e, no calor das leituras, só ali constatei que eram plágios, tudo igualzinho ao livro. Temendo estar delirando, mostrei a Ilmara, que é uma pessoa normal, a fim de confirmar. Confirmado!
E assim cumpri o meu dever, que também reforçou meu cansaço e as noites muito mal dormidas no hotel, menos pelas instalações do que pela desobediência do meu corpo.
Quinta, meio-da, lá vou eu defender meu memorial naquelas quase duas horas completas que, supreendentemente, foram boas horas.
Eis a minha surpresa: eu nunca pensei que fosse gostar de defender meu memorial neste concurso, mas gostei sim.
Aí, como vinha ocorrendo após cada etapa, senti fome mas nenhuma vontade de comer.
Parei, esperei minha amiga Tati aparecer,sentei, conversei, divaguei e frente à atenção e à solicitude dela, resolvi esperar o resultado, que só sairia às 20 horas e que acabou saindo às 21 e tantas.
Fomos ao shopping matar o tempo, distrair e comer, porque ela consegue me forçar a me alimentar. Devo tanto a Tatiana!
Neste concurso, minhas coadjuvantes foram Ilmara e Tati, porque se a primeira me amparou emocionalmente, sendo a única cara familiar que eu vi no meu aniversário, se predispondo a me aguentar pisotear o meu nervosismo prévio na sala da casa dela, a segunda, então, viveu tudo como se fosse consigo mesma, me sacudiu, me deu umas duras, foi companheira, foi irmã...
Em Salvador, 20 horas: Toda hora a divulgação informava adiamentos, atrasos: mais quinze; mais trinta e mais quinze minutos.
Finalmente abriram a sala e começou a leitura chata e detalhista que confirmaram a favorita como favorita e eu em segundo lugar, deixando alguns outros favoritos atrás de mim e perdendo a primeira posição por cerca de oito décimos.
Para mim, guerra justa, batalha limpa de minha parte e minha felicidade, claro, pelos tantos nove e meio que levei em cada fase, com exceção da escrita. Além disso, a favorita é, segundo comentam, competente mesmo. Gosto de ter orgulho de disputar com os melhores.
Ocorre que platéia é coisa do demo: fica o povo meio que em pequenas interjeições, tipo quando no estádio de futebol a bola bate na trave e aquilo lá é uma ameaça de que o jogo vire...."ahhhhhhhhhhh!ohhhhhhhhhh!"
Na saída, os comentários do tipo: "ficaram focinho com focinho", como se se tratasse de briga de cachorro grande - muito engraçado.
Mais engraçado foi o energúmeno nojentinho estar lá, todo tempo o tempo todo...nem vou falar dele porque depois percebi que ele casou e que ainda se perturba quando me vê ( foi lá atrás de mim, no primeiro dia, procurando pretextos... e eu e minha cara de paisagem, toda desentendida. Depois, tanto no primeiro quando no último dia, forçando uma aproximação que a gente nem teve e que piorou agora).
Vem, então, minha onda de insensibilidade: como é que a gente finge que não está feliz com a própria vitória diante de alguém que, sendo cortês conosco, levou um tombo, tendo um resultado ruim? como é que se pode estar feliz respeitando a infelicidade alheia em situações em que se é concorrente? e como sustentar a hipocrisia, ocultando a própria satisfação?
É que eu fiquei feliz pelo meu próprio resultado, não foi por ignorar a decepção do outro ser humano, nem desejar o pior àquele ser humano.
Achei minha vitória legítima e escorreguei exibindo minha satisfação e surpresa com o resultado. Mas não foi maldade.
Aí, passando lá em Ilmara vi que ela fez por mim mais do que podia: escondeu que tinha uma cirurgia naquele dia, para não me desestabilizar. Que ser humano humano!pobrezinha da minha loira,toda encolhida em esparadrapos, sem muita mobilidade no braços direito, tomada de remédios e ainda vivaz para cacarejar meu resultado.
Gente fina minhas amigas.
Agradeço muito a Deus por todos que Ele pôs a seu serviço em meu auxílio. Realmente posso dizer que fui abençoada, agraciada por Deus.
Meu santo guerreiro sempre esteve comigo e dia 23 de abril, dia de São Jorge, tenho que lembrar dele ainda mais.
Agora é esperar, dentro destes dois anos de validade do concurso, o dia D. E vão levar tantos dias que eu nem sei se 365 ou se pouco mais de 600.
Tanta luta e "o concurso gera apenas a expectativa de contratação".
Lutei por uma expectativa.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

With love, from me to you (para um homem especial)


Uns preferem Rebolation; outros, Revolution - especialmente para o lindíssimo e encantador R. Jatobá, embora eu saiba que esta letra ele sabe de olhos fechados ( e quem disse que eu também não fecho os olhos para ouvi-lo cantando?).

The Beatles - Revolution

You say you want a revolution
Well, you know
We all want to change the world
You tell me that it's evolution
Well, you know
We all want to change the world
But when you talk about destruction
Don't you know you can count me out
Don't you know it's gonna be
All right
You say you got a real solution
Well, you know
We'd all love to see the plan
You ask me for a contribution
Well you know
We're all doing what we can
But if you want money for people with minds that hate
All I can tell you is brother you have to wait
Don't you know it's gonna be
All right
You say you'll change the constitution
Well, you know
We'd all love to change your head
You tell me it's the institution
Well, you know
You'd better free your mind instead
But if you go carrying pictures of Chairman Mao
You ain't going to make it with anyone anyhow
Don't you know it's gonna be

All right
All right

Espelhos de tua vida


Jogue fora o espelho quebrado. Acredite, ele não lhe serve, não tem conserto. E pior ainda: pode lhe ferir.
Já duvidei do Feng Chui e, como Tereza, julguei (e parcialmente ainda creio nisso) que fosse uma doutrina oriental safada e capitalista, que prega que nada pode ser reaproveitado - alimentando, pois o consumo e diminuindo a vida útil das coisas. Mas, te digo: jogue este espelho fora.
Acredite em sua avó: dá sete anos de falta de sorte e é atraso de vida.
Você sabe a diferença entre antiguidade e quinquilharia? então jogue fora este espelho que já deu o que tinha a dar.
Não se prenda não, arranje um espelho melhor, maior, diferente. Outros espelhos virão, largue de egoísmos e de desculpas esfarrapadas para segurar esse negócio que não vai acrescentar nada ao teu presente nem te oferecer perspectivas de futuro.
Se o tempo te fez se apegar ele, veja se ele ainda te reflete e veja se é você mesmo na imagem...duvido! o tempo descascou todo o brilho, já não reluz...
Por que você se apega a ele? nem te pertence mais, jogue no lixo.
Este não é mais aquele espelho dos primeiros tempos, esqueça.
É preciso saber desistir. Se você já tentou,já lutou, já esperou e não deu, tenha a dignidade de partir para outra, mesmo que esta outra pareça nem existir - olhe para você sem o espelho e reflita: tudo continua.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Jornada e batalha


Poxa, estou desgastada!Além de tudo, morro de saudades de minha casa...
Engraçado, estou vivendo na prática aquele ensinamento de gente que faz cursinho e aspira a uma vaga na universidade: "Concurso é como sexo: não importa a posição, o importante é estar dentro". E eu, que não tenho lá grandes insights de raciocínio, complemento: "Uma vez bem colocado, só resta fazer direito". Ambiguidades à parte, é isso que eu realmente penso.
E sigo na batalha, doida para vencer a guerra e voltar para casa - ah, mas os meus respeitáveis adversários têm boa artilharia e imenso potencial bélico.
Acho engraçado quem pensa que juntar a fome e a vontade de comer é apenas uma metáfora: sob tensão tenho fome e nenhuma vontade de comer. Uma coisa compromete a outra...com isso, estou dois quilos mais magra hoje - O Ministério de Louquética Adverte: Dieta do candidato, pratique com moderação.
Nem vi meu aniversário chegar, nem deu para usufruir a data - fato inédito em minha história.
Não escrevi no blog, não percebi o sol nascer, não desci para ir à praia, contrariando o fato de eu ter colocado o biquíne na bagagem; não me lasquei em café gelado, como eu gosto; não fui ao Bondcanto na terça, nem ao Farol Music ou ao Boteco Ali do Lado na quarta...
E ontem, num pequeno intervalo em que pus a cabeça para fora da água para respirar, me vem o sujeito desinteressante me dando uns apertos telefônicos, de modo a forçar nosso encontro.
Fiquei feliz por ele não ter notado meu desinteresse logo que a gente se conheceu. Seria mal educado e frustrante, de minha parte, deixar isso claro naquele momento (oh! momento em que eu vi que ele era uma fraude. E uma fraude sem cabelo e beirando a obesidade, ah, é muita coisa!ainda mais quando a imagem que ele usa virtualmente desmente em muito a realidade).
Eu estava cansada.
Eu estou cansada agora e nem consigo dar atenção aos meus amigos, nem consigo me desligar de que Ninno me informou que me cachorro (Bruno) está doente. Não penso em mais nada! e então me vem o sujeitinho fraudulento me propor encontros, massagens e relaxamentos...francamente!
Ele já havia articulado uma viagem a Feira, bolado mil situações que me cercassem e eu, já cansada, joguei limpo, ou quase isso:" Gosto de C. e por conta de uma mensagem que recebi no meu aniversário, voltamos."
Não sei o que mais eu poderia fazer além de lançar mão de namorados imaginários, porque sei que dói quando a gente esclarece que está só, mas prefere continuar só a estar com aquele determinado candidato.
Sou candidata, também, e o que um candidato a qualquer coisa aspira é a uma oportunidade. Sinto muito, você não tem o perfil do candidato que eu preciso.
Nem sei onde está L.E., que deve ter me achado uma perua negligente. E fui.Não perua,mas negligente: viajei em sequëncia, de modo que sumi há duas semanas quase completas. A esta hora devo ter perdido o candidato que me interessava, mas, houve outra demanda que determinou o arquivamento temporário das negociações entre nós.
Tem gente que pensa que eu desligo o telefone para estar indisponível. Nem sabem, coitados, da realidade e da responsabilidade e, claro, do cansaço, que me deixam fora da área de cobertura.
"Oh, sim, eu estou tão cansada!" e duvido que algum dos meus pretendentes a "honey baby " acredite em mim, tal como o idiotão lá nem acreditou... "é que a vida, meu filho, tem outras coisas que me interessam ", ele deveria ter subentendido.Não encho meu prato de metafísica nem saboreio a futilidade - entre um e outro extremo está a minha vida prática, com sua dinâmica e as contas para pagar, fora contas a prestar à minha própria existência.
E a trilha sonora de agora seria Pato Fu cantando Perdendo Dentes:

Pouco adiantou
Acender cigarro
Falar palavrão
Perder a razão
Eu quis ser eu mesmo
Eu quis ser alguém
Mas sou como os outros
Que não são ninguém
Acho que eu fico mesmo diferente
Quando eu falo tudo o que penso realmente
Mostro a todo mundo que eu não sei quem sou
Eu uso as palavras de um perdedor
As brigas que ganhei
Nem um troféu
Como lembrança
Pra casa eu levei
As brigas que perdi
Estas sim
Eu nunca esqueci
Eu nunca esqueci.

Então, estou na briga.

domingo, 10 de abril de 2011

Seu animal!


O mundo é mau e o ser humano merece o mundo que tem, já que ele, na verdade, fez reformas naquilo que Deus construiu. Fez reformas sem a menor preocupação com a planta original...então, não dá para reclamar com ele o que é criação nossa.
Aí eu tenho o maior embate com a coletividade: no nosso tipo de Democracia, o que a maioria decide, prevalece. Contudo, quando ela, a coletividade, decide errado, quem leva a pior é aquela outra parte que defendia outro ponto de vista.
A maioria não se importa com os animais, não expressa nenhuma preocupação ética com os outros seres do planeta.
Sei que tenho em mim a incorporação do pensamento de Hobbes, e nunca escondi isso: O homem é mau, nasceu para o mal, faz o mal gratuitamente. Se ele tem escolha, ele vai escolher o mau sempre. Os que escapam a isso é porque têm boa auto-vigilância, um senso moral realmente atuante.
Penso na indiferença com que nos portamos diante dos sofrimentos dos animais: eu se pudesse, decretaria o fim do uso de cavalos e eqüinos em geral, para o transporte de cargas, por exemplo.
Anteontem eu vi uma cadela em Xique-Xique e desconfiei que ela houvesse sido estuprada, prática, infelizmente muito comum. Há pouco, quando acessei o Calcinhas no Box, blog da Cruela, vi o post em que ela tratava da denúncia do estupro de uma pitbull, encontrada na rua. O monstro estuprador tem antecedentes na Polícia pelo mesmo crime. E os homens nunca estupram apenas: agridem, quebram os dentes dos bichos, fazem misérias em termos de violência...
Como uma coisa dessas pode se chamar zoofilia?
Sei que no pensamento de alguns agora está a constatação: “se fazem isso com os seus semelhantes, o que não farão com os de outras espécies?”... a diferença é que pelo menos para os seres humanos há Secretaria especiais de defesa do direito de cada um, há comoção, há ação...
E para os bichos não há nada, salvo, claro, a condição degradante de executar trabalhos e não receber comida, água e abrigo, o que é o mínimo. E se somos desumanos com os próprios seres humanos, por que seríamos humanos com os bichos?
Matamos os bichos, comemos os bichos, maltratamos os bichos, exploramos até além do limite cada animal, reinando absolutos no planeta, vangloriando nossa racionalidade.
Há bichos que são mais afetuosos que muita gente e ainda têm senso de fidelidade e companheirismo, isto é, caracteres que muita gente que se pensa humana nem sabe o que é.
A gente pode dizer com as gracinhas dos Mamonas Assassinas, sem medo de errar: “O homem é corno e cruel!”. Ou ficar indignado porque tem gente que tem mais amor pelos bichos do que pelos parentes, ou mesmo porque muitos pets passam a vida bem melhor do que muito menino pobre e dizer, como Eduardo Dusek: “Seja mais humano, seja menos canino: dê comida para o cachorro, mas também dê para o menino”. Ok, está certo.
Mas nós sabemos que os homens são maus e por isso, se você adota um bichinho, muito dificilmente ele vai crescer e planejar matar seus donos para tomar os seus bens, coisa que os semelhantes ditos humanos fazem a três por quatro. E se o teu animal te ferir, você sabe que ele é irracional, que age por instinto de defesa e de sobrevivência. E se o teu semelhante te fere, qual é a justificativa?

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Atos falhos


Ela está feliz e eu estou feliz por ela.
Não que eu torcesse contra, mas eu achava que a realidade iria ditar outros planos e outros rumos que os encontros virtuais e telefônicos não proporcionam.
Eu disse que ninguém passa de Sandy a Lady Gaga da noite para o dia, mas se até Sandy agora é Devassa, minha amiga resolveu radicalizar.
Ela quer casar com a moça: eu espero ser madrinha e aprender a conviver com as novas escolhas da minha amiga, com as mudanças que ainda estão por vir, com as barras pesadas junto à família dela e, principalmente, com as minhas próprias resistências, porque já vi mulheres se beijando, mas pensar que a minha amiga é capaz de beijar outra mulher na boca, de fazer coisas em que eu nem quero pensar, poxa, me deixa na beira do regurgitamento.
A gente nem tem dimensão real sobre o próprio preconceito. Veja: quando Bruna chutou as portas do armário e foi viver matrimonialmente com a C., achei tudo normalíssimo, porque todos nós sabíamos que aquela era a praia dela, apenas ela não sabia que era do babado.
Mas minha amiga certinha, heterossexual, bem nascida e bem educada ir explorar o armário alheio porque achou aconchegante e convidativo, ah, isso me deixou passada. Não fosse esse meu estranhamento, ou leve mal-estar, atenuado por ela estar bem eu teria perdoado o meu ato falho – que, graças a Deus aconteceu bem distante dela, mas em volta à mente toda hora. Disso eu tenho vergonha. Juro,acho uma grosseria inconteste, mas veja o que aconteceu: eu estava no salão, dando uma massagem no cabelo. Então, olhei para um cantinho do teto e lá estavam duas aranhas.
Fui olhar de perto e imediatamente se misturaram em minha cabeça o encontro da minha amiga Sandy com a outra mulher, as aranhas e Raul Seixas cantando na minha cabeça, cantando o rock das aranhas: “Subi no muro do quintal e vi uma transa que não é normal/ E ninguém vai acreditar: eu vi “duas mulher” botando a aranha pra brigar/ Duas aranhas, duas aranhas...vem cá, mulher, deixa de manha, a minha cobra quer comer a sua aranha...”
Uma baita grosseria machista dessa me deixou com coceira mental. Eu não perdôo a minha grosseria, insensibilidade, machismo e outros adjetivos menos educados.
A porcaria do ato falho é justamente isso: um momento de vacilo, de distração do superego. Onde já se viu? Ah, grosseria sem par – misturei tudo!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Mudos e mudanças


Não sou de mudar os móveis de lugar em minha casa. Sei lá, me sinto deslocada, estranha, parece que nem é a minha casa. E, por outro lado, sempre que mudo de amores – amores mesmo, não esses traficozinhos sentimentais, esses contrabandos amorosos e outras emoções baratas e instantâneas – eu gosto de trocar de móveis ou modificar alguma coisa da decoração, de uma parede, de algo assim.
Experimentei mudar a cara do blog várias vezes, agora que ele completa seus dois aninhos de vida - ariano como eu, porém de nove de abril. Ah, achei mega esquisito, me senti deslocada... aí estou brincando de experimentar novas caras nele, mas acho que sou conservadora, neurótica o bastante para gostar da rotina.
A rotina que eu gosto é aquela que me dá segurança, que me dá a segurança de que tudo esteja em seu lugar. Mas não gosto nada de um dia igual a outro, de pensar que ontem foi igual a hoje e que o hoje se repetirá amanhã – creiam, eu adoro o devir!
Também sei a medida em que as coisas enchem o meu saco, extrapolam os meus limites e as fronteiras da minha parca paciência. E quando isso acontece, se for, por exemplo, no setor de trabalho, eu não discuto mais. E quem mais me conhece sabe, que se eu sou falastrona e me calo, a tempestade está no ar, densa, escura, sobre a cabeça certa.
É, o silêncio é a minha pior atitude, é minha pior capa: significa sempre o pior, os piores sentimentos. Talvez quem melhor saiba disso são aqueles que eu risco, pelos quais eu não pergunto jamais, para os quais o meu silêncio é o silêncio do desprezo.
Outras vezes esse silêncio é anulação, acima de tudo, mas jamais é passividade. Não sou passiva, mas também reconheço que barulhos são inúteis diante de ouvidos viciados ou tapados – e todo ser humano bem tapado tem um ouvido condizente com sua condição de tapado, ouvido de mercador.
Já estive em silêncio, também, diante da grandiosidade de um sentimento: eu não sabia dizer que amava aquela pessoa. Certamente, dizer não bastaria, todas as palavras seriam insuficientes. Grandes amores também me emudecem.
Há os silêncios que eu odeio também: quando alguém se sente ferido e não verbaliza, não há como saber o que houve.
Nos filmes de Hollywood, quando é hora da separação, um dos personagens sempre pergunta: “Foi alguma coisa que eu fiz ou deixei de fazer?”. E a peste do interlocutor nunca responde. Isso é terrível!
Mesmo que seja para ouvir as piores sentenças, os maiores absurdos, as mais deslavadas injustiças ou para ouvir que simplesmente os sentimentos acabaram e ponto final, vale quebrar o silêncio e esclarecer. Deixar o outro sem resposta, neste caso, é mais do que desrespeito.
Há as respostas silenciosas, claro, como diz um ser humano que eu muito prezo, mas se calar para fugir do confronto é covardia feia.
Aprendi com outra amiga algo de que eu já tinha desconfiança: amizades de trabalho são bichinhos delicados e melindrosos. Portanto, não são animais domésticos. Se você os leva para casa, corre riscos demais. Então, deixemos o trabalho no trabalho mesmo, isto para quem tem juízo, óbvio.
Pior do que transportar as amizades do trabalho é morar com o trabalho, no trabalho e com as pessoas do seu trabalho. Não é a sua família, não adianta substituir: tudo se confundirá às suas costas, seus segredos se espalharão ao vento, suas confidências serão usadas contra vocês e aquelas amizades serão destruídas por causa de hidratantes, por um pedaço de pão, por um esquecimento, por uma pequena negligência, por coisas mal interpretadas ou pela interpretação maligna oferecida por algum daqueles que você pensou ser amigo e que, sabendo manipular os sentimentos de grupo, vão te colocar no ostracismo.
Acho que isso justifica a minha aversão por confraternizações e demais falsidades de convívio – a ausência da gente também é um modo silencioso de mensagem.
Mas, então, eu que sou portadora do gene da incontinência verbal, não seguro o verbo mesmo, assumo as coisas que penso com uma certa tranqüilidade. Acho que continuo acreditando no tempo, senhor de todas as Verdades: Demora, mas revela!
Uma pessoa novamente me perguntou sobre o fato de que eu não acredito em cartomantes e afins. E como isso tem a ver com o tempo, eu vou explicar, trocando em miúdos: na minha acepção, o passado já passou. Então, eu conheço o passado pois se refere às coisas que eu já vivi.
O presente, eu vivo hoje. Logo, o que se passa agora eu sei muito bem, até porque não bebo cachaça.
E do futuro, ninguém sabe – nem a cartomante. Então eu não teria o que fazer numa cartomante. Quem pode se antecipar ao tempo? Só quem envelhece precocemente ou nasce prematuro, né?
Mas já fui, sim, sob pressão de amigas ou para desafiar minha própria descrença: tudo vago, tudo em vão, nunca vi nada se concretizar. Pelo contrário, vi foi gente manipuladora mandando ver nas inseguranças dos outros, falando o óbvio com ares de sabedoria, usando seu poder de coerção para o mal, manobrando a eficácia do simbólico com astúcia e sagacidade.
Não gosto de mudar os móveis de lugar, talvez porque eu goste do meu lugar exatamente como ele é, gosto de ter familiaridade com a minha casa ou, até, porque eu ache que mudança é algo mais substancial, não são simples trocas, mas completas substituições e renovações – com tudo que isso suscita de grave, de perigoso, de arriscado, de bom, de supreendente...
Ou será que apenas os amores merecem que façamos mudanças verdadeiras?

Exercícios



Bom, aconselho a todas as mulheres que desenvolvam gosto pelo esporte: pode ser muito saudável!Façam exercícios sempre, mesmo que seja apenas o exercício da imaginação.
P.S.: Gente, dá para ver que é o Cristiano Ronaldo de novo, né, ali na primeira foto? eu tenho os meus preferidos no esporte.

Coisas que não existem




É, eu sei, eles não existem...
Mas, ainda vale sonhar!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Fatos e versões


Durante o almoço que tivemos, juntos, há uns quatro dias, meu amigo refutava uma antiga prática minha: o ato de separar o pessoal do profissional, no tocante aos inimigos e às pessoas que julgo execráveis.
Ele argumentava que, sim, uma pessoa pode ser detestável e mesquinha na sua prática social cotidiana e, paralela e contraditoriamente, ser um artista ou um intelectual maravilhoso, conforme meus (nossos) próprios argumentos. Para ele, o meu erro estava em promover o nome da referida pessoa, em levar seus textos às classe de universidades aonde vou, em reconhecer qualidades e situar muito bem os aspectos louváveis da pessoa neste plano tratado. Disse ele que também foi assim e que isso não era certo, não só porque a recíproca nunca seria verdadeira – haja vista que inimigos não reconhecem qualidades nos outros inimigos, nem aplicam justiça em críticas, comentários, seleções, limitando-se a detonar o nome do outro, discreta e vagarosamente ou de forma explícita – mas porque temos outras opções, outros autores, outros teóricos...então, para quê promover o nome da pessoinha lá?
Ele tem toda razão no que argumenta. Creio que realmente, isso não faz o menor sentido, mesmo que eu sustente a velha idéia de que até os inimigos devem ter código de ética – ora, os piores prisioneiros têm; os mais temíveis condenados têm ética; seria possível declinar da ética neste plano nosso, da vida profissional acadêmica?
Houve um tempo em que um outro amigo, nosso contemporâneo, também se queixava da falta de ética dos nossos próprios professores.Ora, e quem não se queixa? Só os beneficiados fingem não ver nada! Ele via com pavor o tráfico de influência, o cargo, a bolsa, a vaga, sempre aparecendo para o namorado/namorada do professor (a), extensivo aos seus amigos e comparsas; via a verba entrar por um lado e sair sob forma de bens mal explicados e incompatíveis com o salário do povo manda-chuva; via os cargos de confiança serem negociados em tempos de eleição...via, como eu via...e reclamava. Até que alguém deu um cargo para ele também. E daí em diante ele construiu a vida por cima, de outra situação hierárquica, porque tem isso: você pode ser aluno,criticar, se indignar... mas se estiver envolvido com as pessoas certas, se souber de podres e de segredos, aposte, o seu bom futuro está garantido. E foi de tanto ver, de tanto andar pelas cozinhas que ele conquistou seu lugar.
Mas, voltando ao primeiro amigo citado, todo dia a gente faz escolhas. Ele até comparou isso de não promover textos de inimigos e de gente execrável ao que Harold Bloom afirma sobre o cânone da Literatura, quando o crítico diz que é preciso escolher, selecionar o que se vai ler, pois não há tempo para ler tudo que existe. Então, sempre podemos fazer novas escolhas e escolher uns pode representar excluir outros. Li nas entrelinhas: exclua seus inimigos. Exclua mesmo!
Recentemente fiquei horrorizada ao conhecer dois autores com os quais eu costumo trabalhar em classe, sendo o primeiro de renome nacional e o segundo suficientemente conhecido: dois homens extremamente arrogantes, deslumbrados, ególatras e desagradáveis.
Não sei se por opção performática, mas um deles assumiu, se declarou deslumbrado e ególatra. E eu fico com a consciência em paz por isso, já que não foi apenas uma constatação minha ou uma impressão à toa. Neste caso, se eu gostava deles antes de conhecê-los, admirava a obra e tudo mais, não teria motivos para firmar impressões negativas. E assim foi. E eu declaro para os devidos fins que NUNCA MAIS adotarei obras de nenhum dos dois.
Obviamente, não se pode confundir a pessoa física do autor com o narrador de uma obra de ficção, não estou falando disso – entre as celebridades, minha amada Brigitte Bardot, que defendia os animais, era reconhecidamente preconceituosa com os negros e insuportável no trato com os seus empregados (Ah, meninos, muita gente amiga minha, que levanta bandeiras de igualdade, também é assim.” Igualdade sempre, mas não lá na minha cozinha, ta?”, é o que se pode subentender das práticas). Logo a persona artística é outra situação, a persona pública, idem – estou falando daquilo que está claro.
E se fosse meu amigo a escrever agora, ele diria que, trocando em miúdos, não se deve divulgar o nome de gente escrota a não ser para mostrar que a pessoa é escrota.E ele ainda ilustrou: “Se Hitler pintou quadros bonitos, que lindo! Que belo artista! Entretanto, isso não apaga o fato de que ele dizimou judeus, perseguiu, matou e foi desumano, isto é, foi um tremendo de um escroto!”. Donde se pode deduzir que gente que é escrota com a gente ou que de quem a gente testemunha atos escrotos, não merece holofotes, foco, brilho, zoom, purpurina, festinhas, paparicos, divulgação de seus trabalhos. Mas como eu fui idiota!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

É o bicho!


Ainda da incrível série Coisas que me impressionam, eis aí a noção sobre animal, em algum lugar do Brasil...(imagem pescada do Kibeloco, meu blog do coração!)

Dali, de Salvador



Da incrível série Coisas que me impressionam, dali de Salvador.
Ah, meu Deus, "Tudo, tudo na Bahia, faz a gente querer bem...a Bahia tem um jeito!". Não duvide!

Saiba:



Um dos principais pilares do fracasso da educação é a manipulação pedagógica da realidade.
Assim é que se fundamenta o pensamento de que a educação salvará a Humanidade – não salva não: sozinha, não salva nada, embora tudo seja bem pior sem ela.
Assim, também, é que emerge o discurso contra a avaliação, contradizendo a verdade da vida que nos mostra que todo mundo é avaliado, sempre.
Assim, rejeita-se a reprovação, como se a vida real não cobrasse competências e habilidades construídas ao longo de um processo de formação, como se não houvesse nenhum processo de seleção e de avaliação na vida real, na vida extra-escolar. Então, é preciso reter conteúdos, processá-los e transformá-los, recriando toda uma cadeia de conhecimento, excedendo a repetição vazia.
Ou ficamos como estamos e viramos uma empresa, apoiada em estatísticas, de modo a congratular os percentuais de metas, a ter os alunos como se fossem clientes, tudo por uma lógica de lucros inserida, no caso do que diz o senso comum acerca da escola pública de que “o professor finge que ensina; o aluno finge que aprende”. E pode ser diferente? É proibido reprovar – e as falhas, as faltas, as carências vão sendo empurradas para frente. É que reprovar alguém é frustrá-lo, ferir o ego, ferir o íntimo...melhor é o fingimento ( e que fique a cabo da realidade mostrar a Verdade).
Educação é ginecocracia: lugar de diretoras histéricas, governo de mulheres competitivas, vingativas e ensimesmadas! Minhas colegas de trabalho na universidade que também dão aulas nos Ensinos Fundamental e Médio comentam que elas, as diretoras, parecem ter saído de uma mesma forma, que são produção em série, todas encarnando a representante do Estado Vigilante. Também passei por isso quando dei aulas nestes patamares da educação.
Comigo era ainda pior: eu tinha que ouvir, no tempo em que fui Coordenadora, o Secretário de Educação dizendo: “Quem perde é o aluno”, em referência às raras ausências dos professores, gente séria e competente que levava a escola nas costas, se empenhando em projetos nunca reconhecidos.
Em minha teoria pessoal, acredito que existe a Pedagogia de gabinete, algo análogo à Antropologia de gabinete, isto é, o tempo em que as formulações antropológicas eram fundamentadas a partir de relatos terceirizados, nunca o antropólogo estava in loco, apenas sentava-se no gabinete e tirava conclusões.
Na Pedagogia de gabinete, a realidade é ignorada: há apenas lindas teorias, citações de Perrenoud, de Vigotsky, de Wallon... ignora-se a violência sofrida pelos professores,ignora-se a perseguição das diretoras às suas colegas que alcançam títulos acadêmicos importantes, ignora-se que muitos alunos vão para a escola se encontrar com amigos e ter vida social, conhecer de sexo e de amores, ignoram-se os ensinamentos e os aprendizados que se processam nos fundos das escolas... e a cada professor agredido virá um pedagogo justificar o agressor dizendo que o referido aluno não se sentiu inserido pela e na escola.
Que pena!
Numa conversinha de salão de beleza, nesta sexta passada, a cliente nos contava que era professora e que, estando de volta para casa, no começo da noite, há poucos metros da sua casa,foi cercada por quatro rapazes, de modo que não havia como fugir.
Ela diz que observou os bonés cobrindo a cara de cada um deles, até que um destes rapazes se aproximou e colocou a mão num dos seus ombro..
No susto, ela só percebeu o cheiro forte de maconha impregnado nas roupas dele...e depois, ele, finalmente dizendo o nome dela e pedindo aos demais para caírem fora, porque aquela era a professora X.
Ele fez questão de levá-la à porta de casa e ficou, neste tempo, recordando coisas do tempo em que ele estudava, do quanto brincara com os próprios filhos daquela professora.
Ela disse isso já com lágrimas nos olhos e explicou para nós que tinha visto aquele marginal lá quando criança. E ela disse com pena e com desespero que a gente vê a pessoa pequenininha, que toda criança, todo menino é igual, é engraçado, é bonito, é divino... e que nenhum professor deixa de se chocar quando percebe que aquela criança de outrora virou aquilo ali. Claro, nós, professores (posso responder em nome de todos), sinceramente, desejamos o melhor para os nossos alunos. Quem não se entristeceria ao defrontar com alunos em situações adversas, em situações humilhantes, em risco, em clara marginalização fazendo mal aos outros e se inscrevendo do outro lado da Lei?
Interessante é a contradição na fala desta professora: “Imagine você, se eu fosse uma professora ruim? Esse menino teria feito misérias comigo! Viu como é melhor ser um professor bom?” parece embutida aí uma noção de que um professor ruim mereceria vinganças de todo tipo. E se ser um professor ruim é aplicar disciplina, é cobrar a parte do outro na parte da educação, poxa, eu não sou boa não!
Falo de pacto porque educação é pacto ; e não é o pacto da mediocridade. Disse Paulo Freire que “ninguém educa ninguém; ninguém se educa sozinho: os homens se educam em comunhão”.
Então, não é só a questão da reciprocidade no sentido da troca de conhecimento, mas o pacto de que há um compromisso tacitamente firmado entre as partes, o que pressupõe direitos e deveres de ambas as partes, ou seja, está subentendida a realização de tarefas escolares, de funções, e há uma série de atos que resguardem o respeito mútuo.
Mas, eu, que gosto de trilha sonora para tudo nesta vida, fiquei pensando na música de Arnaldo Antunes, Saiba, porque acredito que na simplicidade e na obviedade das constatações é que se escondem as coisas que todo mundo sabe, mas não percebe exatamente o significado desse saber.
Arnaldo Antunes - Saiba

Saiba,
Todo mundo foi neném
Einstein, Freud e Platão também
Hitler, Bush e Sadam Hussein
Quem tem grana e quem não tem
Saiba:
Todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
e também você e eu
Saiba,
Todo mundo teve medo
Mesmo que seja segredo
Nietzsche e Simone de Beauvoir
Fernandinho Beira-Mar
Saiba,
Todo mundo vai morrer
Presidente, general ou rei
Anglo-saxão ou muçulmano
Todo e qualquer ser humano
Saiba,
Todo mundo teve pai
Quem já foi e quem ainda vai
Lao Tsé, Moisés, Ramsés, Pelé
Ghandi, Mike Tyson, Salomé
Saiba,
Todo mundo teve mãe
Índios, africanos e alemães
Nero, Che Guevara, Pinochet
e também eu e você.