Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Imprevisões do tempo, versão II


A minha amiga lindíssima e eu somos diferentes fundamentalmente nisso (claro, antes do fato de que ela é lindíssima e eu nem chego à quarta parte disso): quando as coisas vão mal ela escreve mais, o blog dela fica cheio de coisas, de coisas lindas,de coisas profundas e das mais lindas banalidades; enquanto eu, se meu tempo está inclinado ao over, desapareço do planeta, não escrevo nada, apenas fico relendo a tese e se for escrever é na própria tese.
Esta minha amiga citada, está lascada com o texto dela. Escreve no blog o que não dá para escrever na tese: nada a ver uma coisa com a outra, como se pode depreender.
Agora, então, que bati as cem páginas, me dá um medo de que eu tenha escrito cem páginas de idiotices, cem páginas de inutilidades, cem páginas de equívocos, cem páginas de vazio...
Sou uma má avaliadora de mim mesma e dialogo com aquelas querelas clichês de quantidade versus qualidade. Então, se o texto cresce, tenho medo de me perder nele ou de tudo estar perdido e eu ter saído da rota.
Não tenho título. Vou pensar nisso nos próximos dias, se me sobrar juízo - e desde quando Louquéticas têm juízo?
Aí me vem minha amiga, que faz doutorado na FACOM (FACONHA, né?), que é a Faculdade de Comunicação da UFBA, prédio ao lado do meu Instituto de Letras, onde não se passa sem que se respire uma boa dose de cannabis sativa na cabeça ativa, à la Marcelo D2, me veio com essa: Uhuuuuuuu, fiz minha Qualificação! Deu tudo certo, tudo lindo, tudo maravilhoso! Agora, deixei de ser uma desqualificada.
Olha os efeitos da erva na cabeça do fumante passivo!gerou!!!
Não que seja surpresa que a minha competentíssima amiga tenha obtido êxito, mas eu descobri que quem ainda não fez o Exame de Qualificação, é um desqualificado. E eu me enquadro nesse rol.

domingo, 28 de agosto de 2011

O amor nos templos de compras


Não é novidade que eu sou tímida. Sou tímida mesmo, incapaz de lançar um olhar paquerador, de ter iniciativa na conquista de forma direta. Por isso gosto dos raros homens que têm iniciativa e paciência - justamente as duas coisas que me faltam no plano afetivo.
Também não é novidade o fato de que a beleza masculina me paralisa, me hipnotiza. Não obstante, não sei quem andou prendendo os homens realmente bonitos de minha cidade, mas sei que soltaram todos eles nessa semana que passou.
Para a minha sorte, ou os deuses fizeram as pazes comigo ou alguém me passou açúcar sem que eu visse, porque dei de cara com uma receptiva legião deles, dos quais o próprio Leon, que me põe a interrogar o espelho a fim de descobrir o que foi que aquele deus viu em mim.
Nesta quinta-feira fui ao shopping com Tella, por obra do acaso, sem o menor planejamento: saí morrendo de fome da academia,ela passou por lá para a gente ir à padaria e a um bistrô, tomar café gelado e acabamos indo ao Mariposas da Ville Gourmet.
Como sou tímida, enfio a minha cara no cardápio, sento de costas para os outros e fico ali entretida com a amiga que estiver à minha frente.
Dois cafés gelados e muitas risadas depois, minha amiga resolveu que queria ir ao shopping comprar um vestido, já num horário limite para fechar tudo lá.
Antes de sairmos ela deixou o número do telefone dela com o garçom devidamente subornado, para entregar a um sujeito sem graça da mesa em frente. Eu, atônita, pulei no garçom para que ele deixasse bem claro que a interessada era Tella e não eu. Imagine: o sujeito usava boné. Odeio boné. Geralmente bonés são usados para encobrir o rosto e a careca. Fora isso,o cara era baixinho... Tella e seu gosto duvidoso - que dizer? ela gosta mesmo de homens velhos, barrigudos, brancos e carecas, que são a réplica do ex-marido.
Eu sou mesmo preocupada em deixar claro meu desinteresse. Que negócio chato é quando a pessoa julga que eu estou a fim quando, na verdade, eu nem quero saber se o cara existe!
Só sei que o garçom gesticulou, apontou, escandalizou e só faltou colocar um banner no carro da gente para mostrar ao candidato de Tella quem era a pessoa interessada nele.
Vexame é pouco, isso é pura vergonha!
Nessas horas eu, que sou tímida, fico com a cara no chão.
Quando chegamos ao shopping, a fim de nos desviarmos de uma horda de chatos, pegamos uma ala dos fundos e fomos conversando, distraidamente, até que o meu radar detector de gatos extraordinários foi acionado e disparou meu alarme interno: pronto! hipnose!
Dei de cara com um gato, tão gato que põe ator de novela das oito no chinelo!
Ah, eu fixei os meus olhos nos olhos dele como não teria coragem nem se me injetassem whisky na veia.
Por incrível que me pareça, ele correspondeu, mas foi tão elegante e cavalheiro que eu fiquei encantada. Deve ter umas cinco encarnações que ninguém me paquera a ponto de dar uma piscadinha, de ser assim cortês, discreto, de chegar perto discretamente também e pedir para que eu voltasse lá, de me chamar para conversar... E eu correndo porque a loja a que iríamos ia fechar; e ele na mesma expectativa, porque precisava pagar as coisas dele.
E como em qualquer romance de acasos,há a presença do chato,do antagonista que vai encetar peripécias e impedir o encontro do mocinho com a mocinha: não deu para voltar e a loja fechou com a gente (Tella e eu lá dentro).
O chato de boné ligou para Tella e eles se encontraram já na rua, após sairmos.
Tem gente que confunde o homem delicado com o homem fresco, afeminado. Eu odeio casca-grossa: fiquei encantada por ele, pelo gato do shopping. Todo homem deveria se portar como um príncipe por mais que os seus objetivos fossem idênticos aos de qualquer cafajeste.
Lindo o sujeito. E mesmo sem ser um príncipe era encantador.

Aos chatos dos domingos


Às vezes dá certo quando a gente manda nosso amigo levar a depressão dele para passear. Hoje eu queria pedir para que a minha amiga levasse a depressão dela para dar uma voltinha: eu sei que o dia não ajuda, porque é domingo e o mundo fica meio morto...
Há um tempo eu estive pensando nisso: os dias úteis e os feriados - úteis a quem? mas quem consegue ser feliz com um shopping fechado aos domingos? quem somos nós que nos sentimos mortos porque a rua não está cheia de gente, porque o comércio não abre, porque as poucas casas comerciais que abrem fecham cedo, porque não há festas nos domingo, só os aniversários de crianças ou as paradas gays, que não excedem as 22 horas?
Porque a praia no domingo é um saco? não é porque depois de estarmos rodeados de gente sob o sol, o fim da tarde é um funeral chato, em que cada um volta ao sepulcro? porque reclamamos do barulho, mas não suportamos muito silêncio? por que o domingo é assim, tristonho e chato?
Até os shows na Concha Acústica do Teatro Castro Alves terminam cedo, com a multidão se dispersando às 22 horas... uns reclama do dia seguinte, que é segunda-feira, dia de batalhas; outros silenciam sua apatia.
Nada acontece num domingo!
Mas isso não impede que você, minha amiga, leve essa sua depressão para passear. O domingo é chato, você também é,e de repente há entendimento.
Saindo você muda de cenário,se predispõe a alguma mudança...ah, essa depressão te deixa embolorada, sabia? ainda mais que essa depressão nunca foi depressão, é só covardia mesmo porque você acha que os seus pais deveriam resolver todas as suas angústias.
Eu já me cansei dessas inúteis horas ao telefone em que você fica aí apontando o que foi que sua irmã tirou de você na infância, a negligência de sua mãe, a dureza do seu pai, os homens que nunca reconheceram seu valor como mulher... até parece que só você passou por isso. Vá aprender tempos verbais, querida: passou.
Agora que passou, cuide das marcas e não deixe as feridas virarem cicatrizes.
Minha amiga desesperada, outra amiga, já não tem vida própria: mando um torpedo SMS para ela e quem lê é a namorada dela, com quem eu não tenho intimidade. Tudo para tentar instaurar um clima de ciúmes, como se eu tivesse alguma tendência à sapatania. Ora, veja, tudo na mesma: mulheres homossexuais buscam mostrar que todo mundo é homossexual, que mulheres heterossexuais não existem, são construções imaginárias. Que pena! por que ter vergonha de si mesmo, então? estou de saco cheio dessas duas amigas!e aí, meus amigos, chegados, conhecidos,desconhecidos, visitantes e seguidores: vocês nunca ouvirão dizer que eu encarei uma vagina! Deus me livre! já me basta a minha! desta água não beberei. Problema de quem é lésbica, tetra-sexual ou seja lá o que for. Respondo por mim, que assumidamente não tenho e jamais tive atração sexual por mulheres.
Que desaforo: a pessoa é minha amiga há 15 anos e agora inventa de distorcer as coisas. Em minha mensagem eu dizia: " Decidi que vou passar o reveillon na Praia do Forte mesmo, porque estou lisa. Se quiser ir, planeje-se. Abraços". E a resposta: "Estou casada!".
Olha o preço da burrice: eu não sabia que as habitantes da Ilha de Lesbos não poderiam ter reveillon. Mas eu não lembro de ter perguntado se ela estava casada. Mas eu nem perguntei, só afirmei minhas coisas...ah, o senso do ridículo, tem quem pode.
Será que ela ela entendeu que ao invés de um torpedo SMS aquilo era um torpedo GLS?
Já era a amizade. Deus me livre, parte II!
O Ministério das Relações Interiores adverte: União estável ocasiona a perda da privacidade e da vida própria. Que coisa pavorosa!
Não parece, mas meu domingo não está chato: é que as manhãs são sempre melhores que as tardes. Tarde de domingo é esse velório chato mesmo.
O domingo morre.
Aqui jaz(z) - rumba, reggae, pop e rock and roll, para quem pode também.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Todo mundo quer saber


Ontem o Saia Justa do canal GNT esteve incrível!
Primeiro porque discutiu os escândalos das pessoas públicas e a tendência das pessoas comuns a focalizar o escândalo alheio, como se não cometessem escândalos também. Disso todo mundo quer saber! e de sexo também.
Mas, excelente foi ver escândalos memoráveis e, neste tocante, eu que gosto de Hugh Grant, menos pelo talento que pela aparência - vai ser bonito assim na casa da mãe! - revi os apertos dele quando foi surpreendido há anos, com Divine Brown, numa esquina do Sunset Boulevard, numa (invejável) sessão de sexo oral. Mas aí o Clinton, o Renan Calheiros e tantos outros políticos compuseram o rol da discussão e sobre a forma como se portaram diante dos escândalos.
No caso de Grant, assumindo e se promovendo (eis as facilidades dos heterossexuais solteiros), em se tratando de Clinton, assumindo e pedindo desculpas à nação, à família e a Deus...e do Calheiros, bem, se esquivando e recorrendo à Constituição para reclamar seu direito à privacidade. Mas que povo besta que faz de sexo oral um caso do outro mundo! De todo modo, não fosse Clinton e não entraríamos na discussão sobre se sexo oral é sexo ou não, se configura traição ou não. Na esteira da discussão, minhas amigas acham que sexo oral não é sexo - e eu, pessoalmente, não sei o que dizer, já que taxionomicamente seria...mas, classificar não é entender. Deixemos na ambiguidade do termo: sexo oral é algo que está na boca do povo. Melhor assim, não é? eu aqui preocupada porque minha orientadora escolheu uma inimiga minha para compor a banca, imagine se vou revolver todas as camadas dessa querela sobre se é preliminar ou se é sexo.
Mas, vamos à parte que realmente interessou: enfocaram o surgimento da produção pornográfica para as mulheres. Chamam de New pornô.
Segundo a discussão do Saia Justa, os filmes são diferentes, com mulheres mais próximas a uma mulher de verdade, com um sexo que busca atender às pessoas que estão em cena e não apenas aos homens. Mas são filmes produzidos pelas mulheres, o que demonstra o machismo dessa indústria, já que parece que um homem seria incapaz de fazer um filme em que a mulher não fosse objeto sexual.
Interessante é a queda do mito: esse negócio de argumentar que as mulheres preferem filmes com "historinha", caiu por terra. E pelo menos estatisticamente, as mulheres representam 30% do consumo de material pornográfico atualmente. Muitas mulheres gostam, consomem, mas não assumem, principalmente porque os homens fazem muito mal juízo sobre isso.
Os filmes pornográficos da minha casa devem ter uns 05 anos, porque são comprados por namorados ou, através de suborno, pois eu pedia ao meu primo para comprar...é diferente de estar numa sexshop, que é espaço para compras eróticas em que mulheres entram e saem tranquilamente.
Qualquer senhora de família, dona de casa de respeito e mulheres independentes em geral vão à sexshop e essa permissividade é porque o mundo já entendeu que as mulheres rivalizam entre si, querem agradar aos parceiros, querem concorrer com as amantes e, por fim, o senso comum parece supor que elas estão ali procurando formas de bem servir aos homens. Por isso perdoam e permitem o trânsito de mulheres de todas as idades.
Mas o filme, não: filme é visto como coisa de pervertida, de depravada, de prostituta querendo fazer aperfeiçoamento. Quem sabe com o tempo as pessoas irão se acostumar com a capacidade desejante de todos os seres humanos...
De qualquer maneira, fico feliz por uma diferença que se esboça nesse comércio, a contragosto de puritanos e moralistas.
Se não fosse a internet, estaríamos fritas, porque pelo menos a rede permite ter acesso a filmes sem necessitar colocar a cara para comprar numa loja física por aí - e meu primo cobrava caro pelo favor da compra, sem maldades sexuais, porque somos como irmãos e ele é um cafajeste sem vergonha que eu adoro!, mas eu desembolsava uma grana à parte, pagando meu material e o dele - ainda é um tímido atendimento às mulheres, mas já é um começo.
Meu tio ontem esbravejou contra o Direito das mulheres, falou com todas as letras que antes tudo era mais fácil, que a gente está exigente, ousada, exagerada, que escolhemos namorados e maridos, coisa que antes cabia ao pai e à família e blablablá.
Minha família me acharia uma pervertida por causa das ideias que eu defendo em favor das mulheres. Mas é que mesmo que a gente não compre, não consuma, não entre na lógica da indústria do sexo, é preciso que tenhamos opções e liberdade de comprar ou não, de ver ou não ver. Ah, eu nunca vi nenhum desses filmes da safra nova, mas estou curiosa pois entendo que finalmente colocaram atores bonitos. Poxa, alguém deve ter percebido que gostamos dos caras bonitos e não daqueles que apenas foram agraciados com um bom tamanho de...talento! kkkk !É, o "talento" tem que ser enorme para me impressionar, porque há coisas que não determinam, mas influenciam.
E para quem achou que esse post está uma sacanagem, digo que pornográfico, sacana e depravado mesmo é pôr uma inimiga para avaliar meu trabalho de doutorado...aí é que é phoda!
Depravada mesmo é a política, que está cheia de tarados e filhos da p*ta, nas mais diferentes posições ao largo dos cargos públicos.
Há tantas formas de ser sensual sem ser vulgar e de ser sexual sem ser pornográfico...mas, para quê medir fronteiras na reserva da privacidade?

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Debaixo do pano


Para alguns, a vida em forma de indiretas é mais segura: ninguém assume nada, espera-se por alguém em quem a carapuça caiba. Engraçado é que tem aqueles que aplicam isso aos sentimentos: nada pode ser dito diretamente, as coisas são insinuadas.
Coloquei um namorado imaginário no Orkut por conta de um assédio indesejado: que interessante! chovem perguntas. E para meu desacerto, estou de flerte e sei lá mais o que com Leon, um sujeito lá da academia que eu frequento.
Antes dele, também pelo Orkut, fui assediada por um sujeito que não me interessava nem um pouco e que entendeu minha cortesia e educação com aquiescência, com correspondência às inúteis investidas dele.
Mas, também devido ao burburinho entre os meus amigos, estou dando nome aos bois. E o nome dele é Leon, e não é boi, é muito gato!
Como qualquer pessoa que se deslumbra no caso de encontrar "muita areia para o seu caminhão", fiquei sem acreditar no que houve e, claro, fiquei bem feliz.
Não sou de redes sociais, não quero Facebook, Bundabook, Assbook ou qualquer coisa e se meu Orkut existe é porque sei lá o que me deu naquela época...Assim, pouco visito minha página, mas aconteceu: Fui lá e vi que Leon tinha rastreado minha página, feito a visita.
Deslumbrada, achei ótimo, porque em tempos de laços tão frouxos nos relacionamentos, vivo o Carpe diem das relações sem a menor certeza sobre o dia seguinte. Se ele pesquisou, reforça o indicativo do interesse dele por mim.
Outras vezes, entro no jogo, também vivo a fugacidade de tudo. Mas, quando vou eu, toda feliz ver a página de Leon, descubro que é o outro Leon, de quem eu não tenho notícias a 40 mil anos e que não tem nada que me interesse além da amizade. E ele, por sua vez, acessou minha página por que eu declarei estar namorando.
Isso é bem interessante mesmo e me lembra aquela camiseta que vi no carnaval e que comentei aqui, em que estava escrito: CAMPANHA PELA VIDA: CUIDE DA SUA!
Não é para os meus amigos que estou dizendo isso. É que daquelas 173 pessoas lá, minhas amigas em termos, eu não devo ter 30 como amigas.
Se falo tanto de tráfico de amores, de falsificação de amizades e de contrabando de relacionamentos, é devido ao meu dia-a-dia. Tem gente de bem mais longe que é minha amiga, como esses supostamente próximos nunca serão.
Velhas contradições e antinomias de um mundo que ainda está mal arranjado com suas próprias transformações (tecnologias, relações frágeis, compulsões, superficialidades, virtualidades...) mas, os laços afetivos reais, para mim são atemporais.
Penso em quem eu já gostei como amiga e depois descobri que era uma fera das mais venenosas e cruéis: a gente corta o laço sem dizer nada, mas se sente traído e otário. Coisa terrível é a amizade falsa!especialmente porque degrada, não é mesmo uma boa experiência.
Porém, em termos de Orkut, até que eu não acho que haja uma traição moral, mas uma traição de interpretação: nossos amigos de Orkut são números, como são números os seguidores dos ídolos do Tweeter. Na verdade, amizade não pode ser quantificável. Não desta forma, de um, dois, três milhões...
Meu aluno até brincou comigo, dizendo que se eu quiser ser milionária, que acione os meus amigos, porque quem tem um milhão de amigos pode pedir um real a cada um e de repente, eis um milhão. Mas eu tenho amigos que valem ouro, que valem mais que família, que não tem preço que pague a companhia deles - sim, meus amigos, eu amo vocês.
Não desprezo os contatos: no Orkut a gente encontra quem não vê há tempos, deixa e manda recados e se alguém se pronuncia, se envia convite, parte das vezes é porque quer o contato e parte das vezes é porque está com vergonha de não ter um número significativos de amigos em sua página inicial. Entre uns e outros, aqueles que bisbilhotam porque querem reunir informações a nosso respeito e os que querem nos dar uns amassos.
Não dou importância a certas coisas da intimidade, porque acho que sei diferenciar e estabelecer o limite de minha privacidade e, depois, vivendo num país machista, sempre me lembro que não casei nem sou casada, não tenho filhos nem os terei, pago meus impostos, estudo, não roubo, não transo com mulheres,não sou pedófila, necrófila, zoófila,não mato, não uso drogas, não bebo álcool nem danço pagode e isso me faz pensar que não devo nada a ninguém, satisfações a ninguém.
Não há nada debaixo do pano, nem esqueletos no meu armário. Ah, e por falar em armários, não esqueçam da Parada Gay de Feira de Santana, neste domingo, viu? vá apoie, proteste, brinque, conscientize, colabore, deixe o conforto do seu armário e como eu disse ano passado, saia do armário e entre na avenida. Não precisa ser gay para defender um tratamento respeitoso para eles.
Voltemos à programação normal:
Ou eu deveria fazer plantão, sozinha, esperando que alguma coisa mude, até que minha relação com C. desse certo? espero que o critério não seja ser fiel ao que eu sinto, porque aí terei sérios problemas morais a resolver. Ora, eu não abraço quem eu não gosto, não há mentiras nem promiscuidade em ficar com quem eu desejo, porque não traio ninguém. Olha a indireta de que eu gosto de C.! Pois é, eu gosto, mas não temos nada um com o outro. Deixa o pavão dar seu show, ele gosta do espetáculo.
Não tenho o que esconder nem do que me envergonhar. Mas que o povo se assanha todo em busca de uma boa fofoca, ah, isso sim!
Também tenho curiosidades, claro! mas que é engraçado lançar o namorado imaginário na rede, é: fica o povo fuçando meus álbuns para ver a cara do sujeito. Nem precisa isso, porque agora foi que percebi que Leon segue o mesmo padrão dos demais que eu namoro - juro que foi inconsciente! tanto assim que foi ele que veio, que propôs o flerte - então,seguindo o padrão ele é branquinho, alto, de cabelinho preto, liso e espetadinho. Dizem que quem vê um namorado meu, vê todos (mentira isso: o Magnífico Senhor, por exemplo, não é exatamente assim).
Para mim, tudo é acaso; para os meus amigos, escolhas e repetições. Tanto faz: o menino é lindo e me fez feliz. E se continuar fazendo, será um bom motivo para compensar esse frio chato de um inverno que não passa.
E para não terminar essa pauta de forma mal humorada, cito um trecho da música de Margareth Menezes,Saudação ao caboclo:
Na minha aldeia
São vinte cavaleiros
Comigo são vinte e um
Lá vivemos felizes
Lá não se vive de "zum-zum-zum"
Não é como nesse planeta
Que juntam dois para falar de um.

domingo, 21 de agosto de 2011

Um dia de sol


Graças a Deus fez sol aqui, hoje.
Nenhum sol digno de piscina ou de praia, mas o suficiente para alegrar a manhã deste domingo.
Acho que ninguém cuida da minha casa como eu cuido; acho que ninguém cuida do que é meu como eu cuido e por isso aproveitei o sol para lavar roupas e para dar banho no meu cachorro - tarefas nem um pouco enfadonhas para mim. Considero uma higiene mental fazer essas coisas e só mando lavar fora umas roupas da casa, como roupões, cortinas, lençóis e toalhas, quando o tempo realmente requer isso. Gosto dessa banalidade. Sendo louca, gosto de parecer normal à medida que executo coisas normais, sem a menor excepcionalidade - aliás, é excepcional frente a outros domingos em que de manhã ou estou indo à praia, ou voltando de alguma festa, ou, nos maus tempos, estaria dormindo domingo de manhã após oito horas de viagem de volta do trabalho.
Coloquei as luvas e dei banho no meu cachorro, um bruta cachorrão, nos seus onze anos de idade. E pensar na idade de Bruno, o meu cachorro, me deixa toda melindrosa, porque amo o meu cachorro e tenho medo que ele morra.
Por qualquer coisa eu temo que ele morra, apesar do aspecto jovial - recentemente é que me pareceu meio surdo, mas quando meu pai aparece no portão, Bruno sai de sua casa, reconhecendo a voz, todo feliz. Ele adora a minha família, se dá bem com todo mundo - onde será que ele aprendeu isso? - mesmo os parentes que levam anos a vir aqui.
Eu fiquei pensando, de novo, na ação do tempo: O tempo passa para o meu cachorro. O tempo passa para mim. Não brigo com isso, mas não sei viver sem meu cachorro.
Poxa, se o Tempo não trouxesse rugas e levasse os cabelos,a vitalidade, a saúde dos seres humanos em geral, seria tudo mais tranquilo. Morrer em paz.
Meu médico já me dizia há uma década: não quer envelhecer? então morra jovem. Ele sabia que eu não tenho a menor pretensão à longevidade, não quero uma vida longa. Para quê? para olhar do alto da minha caduquice os tostões economizados? para subir em minhas posses e em meus títulos e mirar, lá de cima, os lindos homens que não me desejam? ou para investir tudo em remédios, tratamentos e fisioterapias, de um corpo que, com o tempo, não reconhecerei como meu?
Ainda acho que o melhor da vida é a finitude.
Nao falo com o amargor dos inconformados, nem com ironia alguma: é assim que tem que ser. Eu não suportaria uma vida que nunca acabasse.
Olhando o tempo, enquanto eu dava banho em Bruno, lembrei do meu e-mail e das pastas criadas apenas para guardar as coisas relativas aos amores já passados. Tenho lá uma pasta que se chama: "Como eu fui idiota!" e outra, que se chama "Paixão, súbito rio sem margens", cujo título é paráfrase de um poema de Iderval Miranda. As duas pastas são para a mesma pessoa. O tempo transformou o sentimento e transformou minha percepção sobre o que houve.
Não joguei fora: não merecia a lixeira.
Por mais que haja esse tom derrisório e ao mesmo tempo depreciativo, não subestimo o que eu senti, o que eu vivi. Ora, eu vivi. Meu passado me constitui e, além disso, foi tão bonito tudo o que vivi. Doloroso e bonito - e, poxa, eu escrevia coisas tão bonitas, tolas e bonitas, sinceras, viscerais, reais, intensas...não vou jogar fora tudo isso.
Também olhei outras decisões, por causa das pressões recentes e do meu medo de ter escolhido errado: ah, as coisas da profissão! que negócios difíceis. Já tomei decisões muito mais radicais,do tipo: pedir exoneração e ficar sem emprego, vivendo uma vida de estudante; já pedi demissão por ter entendido que o trabalho me consumia, mas agora, que as coisas são mais simples, é tudo tão difícil. E o preço é tão alto.
Olhei as outras decisões, as da vida pessoal - incluindo os amores traficados, as amizades falsificadas e umas relações com conteúdo adulterado...renovei meus votos: é preciso dizer não, mas a pirataria amorosa, esse amores feitos em fábricas clandestinas...melhor nem comentar.
E o resto é a vida - porque não há fármacos que resolvam problemas da vida real, não é? então o remédio é viver, é assumir a vida e o preço correspondente - a vida não entra em promoção, tudo é sempre muito caro, sem descontos, sem barganhas...mas ela vale,eu acho.
Vou torcer por um novo dia de sol amanhã!

Problemas com a língua


Esse negócio de idiomas é caso muito sério.
No meu caso particular, quem disse que determinar se se trata de português de Portugal ou de português do Brasil resolve? Fora as incontáveis diferenças na lusofonia nos demais países.
Foi um esforço entender o que era “fixe” – palavra que eu sequer sei pronunciar sem correr riscos – e olha que já havia visto em Bom dia Camaradas, do Ondjak, e vez por outra em alguma outra literatura africana contemporânea. Em princípio associei fixe com fixar, supondo que fosse uma maneira de se referir à firmeza de outra pessoa ou traduzir um adjetivo análogo a esse. Depois de muito tempo me resolvi com o sentido da palavra, não com a pronúncia. Vê-se daí porque sou, mesmo em voto vencido, contra o acordo ortográfico: mudar grafias não resolve distâncias culturais, nem apaga conflitos.
Não bastassem umas referências da cartografia urbana de Portugal, constantes na obra de António Lobo Antunes, do tipo Encarnação, Estefânia e Jerónimos, morro infeliz para entender o que são os mochos e o que são betões; e agora, então, morro em busca de descobrir o que são melgas. Serão lesmas? E se mal sei o que são umas osgas, foi porque Agualusa, em palestra recente aqui no Teatro Castro Alves, falou que eram lagartixas. Contudo, minha orientadora fica me explicando que não são assim as mesmas lagartixas brasileiras, são menores e têm sei lá o que de diferente, donde me pergunto sobre minha tese e a nacionalidade das lagartixas a me criar problemas.
Fico abobalhada, um pouco mais do que sou, enquanto escrevo. Vou fazer alguma transcrição e me esbarro, por exemplo, com uma certa zarzuela. Nem sempre o Google PT resolve e tampouco eu tenho dicionário de português de Portugal, achando um paradoxo falar e escrever em português, ter dicionários de minha língua materna e precisar de um que dê conta do português dos outros – e me enrosco demais porque às vezes me aparecem expressões do português da África lusófona.
Muito recentemente é que eu soube que a senzala de Portugal não é a senzala brasileira, aquela relativa à escravidão e, confesso, achei lindíssima a palavra autoclismo, que para brasileiro é apenas uma descarga. Mas, também muito me confundo com o que para nós é palavrão e que em Portugal é uma expressão com sentido corriqueiro e nada amoral.
Problemas com a língua, quem não tem? temos problemas para aprender a língua materna; problemas para frear a língua, problemas com a língua dos outros quando falam da gente; mil problemas em mil acepções com a língua.
Eu teria, então, que ser poliglota numa única língua, por mais contraditório que seja, para me acertar com o sentido das palavras. E aí é que está: tradução e sentido. Trocar uma palavra pelo seu significado, fazer tal substituição, não é traduzir.
P.S.: Aproveito para pedir desculpas a Júlio, nas várias vezes em que o confundi com um dicionário; e também para agradecer à generosidade deste meu amigo, sempre solícito à minha profusão de perguntas e gentil com minha ignorância.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Para sonhar


Se você, amiga, não tem um desses ao seu alcance, tome uma iniciativa. Ou tome vodka, até confundir qualquer um com um desses: o poder da imaginação é indispensável para tornar a vida mais bonita - e o poder da concentração alcóolica ajuda a reforçar os efeitos do belo.
Excelente para um dia de chuva, não acham?
Postagem especialmente dedicada às minhas amigas e cúmplices.

Tempo e Semelhanças


"Um olhar lançado à esfera do "semelhante" é de importância fundamental para a compreensão de grandes setores do saber oculto. Porém esse olhar deve consistir menos no registro de semelhanças encontradas que na reprodução dos processos que engendram tais semelhanças. A natureza engendra semelhanças: basta pensar na mímica. Mas é o homem que tem a capacidade suprema de produzir semelhanças. Na verdade, talvez não haja nenhuma de suas funções superiores que não seja decisivamente codeterminada pela faculdade mimética. Essa faculdade tem uma história, tanto no sentido filogenético como ontogenético. No que diz respeito ao último, a brincadeira infantil constitui a escola dessa faculdade. Os jogos infantis são impregnados de comportamentos miméticos, que não se limitam de modo algum à imitação de pessoas. A criança não brinca apenas de ser comerciante ou professor, mas também de moinho de vento e trem."
(BENJAMIN, Walter.Magia e técnica, arte e política. 7 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994).
Ao analisar a doutrina das semelhanças, Walter Benjamin esmiuça uma torrente de aparatos a respeito da faculdade mimética, da sua transformação e de como isso se situa no mundo contemporâneo. Olha que o contemporâneo já é questionável e por isso fiz a citação acima.
Passo pela mímese, pela mímica e pelo mimetismo no sentido dos estudos pós-coloniais, daí porque revisei esse texto.
Tenho um problema, assim como Manoela, assim como minha própria orientadora: esqueço (cemos) os textos.
Sabemos do que tratam, que referências dar e a que eles se referem, mas não mapeamos nada, basta mudar de semestre e a cabeça apaga as coisas - e já não sei se os problemas são mesmo de memória ou do quanto somos expostas a conteúdos que formam links no que ensinamos e no que estudamos.
Se soa arrogante dizer que li o livro cinco vezes, deveria, antes, soar como um sinal dos tempos, porque vamos lendo, depreendendo, reprocessando, mas chega a um ponto em que isso é feito com várias obras...ah, confusão e lapsos!
Há um mês, aproximadamente, eu estava discutindo com Tati a dificuldade de aplicar certos sentido cronotópicos à minha tese, menos pelos textos em si do que pela forma como o tempo de hoje mudou tudo, destituiu formas de conceber gerações e cronologias, se fez entrópico e fugaz, por mais que essas coisas assim postas em paralelo fiquem estranhas.
Então ela me perguntava do meu caso:"Quais são os anos das obras com as quais você trabalha?" (anos, aqui, no sentido de ano de publicação). E eu respondi bem tranquilamente, 1989 e 1998.
Tati ficou louca, em busca da resposta sobre como estabelecer um estudo comparativo para distâncias temporais tão grandes e eu, ainda tranquila, acreditava na velha contagem historiográfica que mede as gerações.
Sim, cada geração, em tese, equivaleria a uma vida. Com isso, teríamos 30 a 40 anos como duração.
Contraditoriamente, me parece que agora uma vida dura bem mais que isso, haja vista a expectativa de vida que consta das estatísticas, mas o tempo já corre mais rápido, tudo bem rápido e superficial, tudo ficando obsoleto por diferenças sensíveis da tecnologia, mas aí as gerações já podem ser consideradas a cada 05 anos - eu que não concordo com isso.
Eu ainda falei para Tati que achava 2006 foi há uns 20 anos atrás. Ela concordou. E para mim, é sério: 1998, por exemplo, foi há uns 50 anos e o mesmo 2006, juro, me passa a impressão de que está anos-luz de distância, porque essa objetividade de situar 2006 como cinco anos antes do ano em que estamos não dá conta de nada.
Então me enrolei com o tempo - não me importo, já previa.
Por outro lado, o fim não está próximo: o fim está sempre próximo. Acredito que o mundo acaba de tempos em tempos. E desde quando me percebi no mundo até hoje, o mundo já acabou várias vezes, este aqui é outro mundo, reinventado, mesmo-e-outro. E se algum imbecil apenas para simplificar chamou tudo isso de pós-moderno, deveria reconhecer que o conceito também não dá conta do que vivemos.
Como o pós do pós-moderno não significa o que vem depois, o que supera o antigo, mas o que vive concomitante a ele, talvez assim considerado possamos concluir, com Benjamin: "Porém o ritmo, a velocidade na leitura e na escrita, inseparáveis desse processo, seriam o esforço, ou o dom, de fazer o espírito participar daquele segmento temporal no qual as semelhanças irrompem do fluxo das coisas, transitoriamente, para desaparecerem em seguida." (pp.112-113).
Nossa Senhora! hoje é sexta-feira e eu estou aqui, em pleno clima de tese...deixa eu fazer jus ao caráter louco do blog e mudar de assunto. O efeito CDF se implantou em minhas plaquetas, está circulando na corrente sanguínea...bem que se eu bebesse álcool...

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Medo da chuva


É pena que você pense
Que eu sou seu escravo
Dizendo que eu sou seu marido
E não posso partir.
Como as pedras imóveis na praia
Eu fico ao seu lado, sem saber
Dos amores que a vida me trouxe
E eu não pude viver.
Eu perdi o meu medo
O meu medo, o meu medo da chuva
Pois a chuva voltando para a terra traz coisas do ar.
Aprendi o segredo, o segredo
O segredo da vida
Vendo as pedras que choram sozinhas
No mesmo lugar.
Eu não posso entender
Tanta gente aceitando a mentira
De que os sonhos desfazem aquilo
Que o padre falou
Porque quando eu jurei meu amor
Eu traí a mim mesmo, hoje eu sei
Que ninguém nesse mundo
É feliz tendo amado uma vez...
Eu perdi o meu medo
O meu medo, o meu medo da chuva
Pois a chuva voltando
Pra terra traz coisas do ar
Aprendi o segredo, o segredo
O segredo da vida
Vendo as pedras que
Choram sozinhas no mesmo lugar
(Raul Seixas - Medo da Chuva)

Chuva, sempre chuva


Vai parecer que eu detesto a chuva, mas não é verdade: eu não gosto dos dias chuvosos. Talvez o mais provável seja que eu prefira as noites chuvosas, mas não deveria chover nas noites de sábado, quando o sábado chegar.
Irritantemente, vou dizer que está chovendo - e aquele mesmo dia cinzento, que me arranca a vontade de sair, que me faz protelar as necessidades e os compromissos porque tudo parece preguiçoso, tudo parece triste e o meu cachorro nem quer sair da casa sequer para comer, porque chove e está frio.
E lá fora parece que tudo é lama e água, apesar das ruas devidamente urbanizadas...enfim, tudo chato, bem chato mesmo. Apesar de, nesta semana, ter deixado para depois o que eu deveria ter feito antes, praticamente acabei o que havia por ser feito: os detalhes e as revisões ficarão por conta de minhas neuroses. O dever cumprido me deixa mais calma, mas não levo tão a sério as minhas necessidades pessoais neste momento, por causa da chuva irritante lá fora: devo deixar para depois.
Não vou a cartomantes, não acredito em cartomantes, mas persigo o assunto ante a insistência das minhas amigas: por que será que elas acham que alguém pode saber mais a respeito delas do que elas mesmas? Por que será que elas acreditam que as cartomantes podem mesmo antever o futuro?
Se fossem perguntas voltadas ao público em geral, tudo bem, as respostas seriam óbvias: desespero de causa, fraqueza, desespero de paixão - e tem coisa mais potente para subtrair nossa razão? - sentimentos de impotência e solidão também estão aí.
Já vi coisa do outro mundo, mas daí a atribuir a alguém esse poder de prever minha vida...
A cartomante de Machado de Assis não é diferente da cartomante de Lima Barreto, que não é diferente da cartomante de Clarice Lispector em A hora da estrela. Não será o bastante para minhas amigas fecharem um raciocínio? e das quantas vezes em que elas vão às consultas e voltam felizes, cheias de boas notícias e de promessas de felicidade e aí, o tempo passa...
Será que vão lá buscar esperanças?
E a cartomante sempre diz: "Você conhecerá alguém que vai mudar a sua vida." E a amiga conheceu mesmo, já que se meteu no submundo e deu de cara com quem, de fato, mudou a sua vida.
Minhas amigas fazem adaptações, ligam coisas desconexas e acham que as cartomantes sempre acertam... não, isso não é racional, elas devem ir lá procurar esperanças mesmo.
Eu morro de vontade de saber do futuro. Bastava saber se vai chover nesse sábado e já estaria muito bom.
Se esse negócio desse certo, se houvesse mesmo um serviço de previsão do futuro, como há um falho serviço de previsão do tempo, eu iria adiantar o meu lado para ficar mais tranquila com a decisao que eu tomei - aliás, as duas decisões, que não são fáceis.
E no tocante a esse assunto, minhas amigas ficaram torcendo tanto para eu decidir pelo "sim". E agora, que o "sim" está dado e só falta ser legitimado, elas pensam no que fazer para me ajudar no caso de que o "bem" venha antes da hora. Aí eu vou estar ferrada.
Nenhuma cartomante via me ajudar, porque elas não podem. E também, eu já li ficções demais sobre as cartomantes, de modo que sei que elas são ficção.
Tenho crenças, como qualquer outra pessoa. Algumas por causa da família, cujos membros parecem aquelas gerações lá dos Buendía, de Gabriel García Márquez em Cem anos de solidão. E por isso me vejo ariana, com a tia astróloga todo dia a, mesmo de longe, acertar nos prognósticos, não porque anteveja nada, mas porque entende tudo de física e embaralha com astrologia, de modo que sabe do ego de C. sem ao menos tê-lo visto; e explica essa minha mania de racionalizar e de insistir, batendo a cabeça na parede, traçando coisas, riscando, calculando...a minha tia me convence, mas não tem nenhum poder.
Começo a entender a revolta de uma certa amiga minha que agora me induz a me refastelar nos pecados, nas ilegalidades, nos erros, a chutar o pau da barraca: ela falou de mim para falar de si: "Mara, você fez tudo certo: trabalhou, estudou, viveu honestamente. E o que você ganhou com isso? adiantou ser certinha? você ganhou o quê sendo ética? e a obediência, te deu o quê? Em nada, não foi? então aproveite, faça tudo diferente, erre mesmo, arrase com tudo!". E esses conselhos desabafados para mim, quando até recentemente eu declinava das coisas por conta de responsabilidade moral, eram um contra-espelho, porque ela respondeu a todas essas perguntas retóricas e chutou o pau da barraca, contrariando todo um passado de conduta ilibada e de irrepreesível comportamento.
Trocando essa questão em miúdos: fazer tudo certo não garante bons resultados.
Não é porque você procura os melhores caminhos que os resultados serão compatíveis com a ação. Acredita-se demais na lei de ação e reação, apesar da vida provar o contrário.
Não quero fazer tudo errado a fim de que no final tudo dê certo, porque aí será ainda mais difícil, mas entendo que elas, as minhas amigas,se decepcionam por ter maus resultados apesar de seguir as melhores receitas.
Não estou messianicamente esperando a volta de ninguém, nem acho que tudo está escrito - nem no cartório, nem nas estrelas, mas peço desculpas pela sinceridade da minha falta de esoterismo e aos poetas, peço desculpas pela minha falta de tolerãncia com a chuva: é que não passa nunca!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Em outro clima


Foi com a maior má vontade e indisposição deste mundo que eu me pus a caminho da academia, no final da tarde chuvosa e chata de hoje. Melhor ter ido, porque acabei tendo uma noite muito boa... uma coisa em consequência da outra.
Eu aqui, cogitando ir à Chapada com umas pessoas que vão lá para ficarem "chapadas' e verem gnominhos; eu, bobinha, ouvindo espantada que a amiga próxima agora é expert em encher a cara de álcool porque, sem a menor ficção, a miserável fez uma experiências, durante a tese de doutorado, tomando umas bebidas indígenas de resultados alucinantes e alucinógenos - Putz, a CAPES paga bolsa para isso!!!sério,a pessoa se envolveu com o objeto de pesquisa; Ih, Claude Levý-Strauss se ferrou: cadê agora, meu antropólogo defunto, O olhar distanciado? - eu, maldizendo do dia feio e de repente...
Alucinada estou eu, doida para as minhas amigas me darem uns beliscões e me provarem que foi tudo real, porque eu não acredito!Que negócio alucinante!!!
E, de novo, qualquer semelhança é mera coincidência.

Kings Of Leon - Sex On Fire

Lay where you're laying
Don't make a sound
I know they're watching (they're watching)
All the commotion
The kiddie-like play
Has people talking (talking)
You...
Your Sex is on fire
The dark of the alley
The breaking of the day
The head while I'm driving (I'm driving)
Soft lips are open
Them nuckles are pale
Feels like I'm dying (you're dying)
You...
Your sex is on fire
Consumed with the words you transpire
Hot as a fever
Rattling bones
I could just taste it (taste it)
If it's not forever
If it's just tonight
Oh, it still the greatest (the greatest, the greatest)
You...
Your sex is on fire...
Consumed with the words you transpire

Chuva, clichês e ilusões


Tem um negócio com os clichês que é, exatamente, nossa desatenção com eles. É que se desgastam e às vezes se desgastam antes mesmo de chegarem em cheio até nós. Mas fiquei pensando em um, que ouvi ontem: "Só se desilude quem se ilude".
Nada de novo, não é? nenhuma filosofia especial, nenhuma elaboração teórica que acrescente nada a velhos postulados que a gente internaliza...
Mas, como a cadeia associativa é um elo que não se pode desafiar, fiquei pensando nas desilusões com os amigos e com os amores e constatei que, de fato, me iludi, projetei coisas que não haviam, supervalorizei indícios ao invés de provas e acreditei na imagem projetada, nada que tenha havido ontem, mas ao longo da vida.
Depois vem a desilusão.
Desilusão é algo como uma queda dolorosa. E é uma queda de proporções imensas, que machuca muito, mas que, depois que você se levanta, tudo é mais real.
Nem sempre a realidade vai doer mais. Deve doer, mas passa e cicatriza. Aí a desilusão se torna amiga íntima da decepção.
Quando a gente se desilude, devido à ação geradora da realidade e do princípio de realidade, tudo se torna muito "idêntico a si mesmo", as aparências já são vistas como meras aparências. Ponto final: hora de desistir do amor ou da amizade, de estabelecer as distâncias emocionais necessárias e de virar a página.
A ilusão é algo que nem está ali, mas que nós colocamos: optamos por certos pontos de vista e nosso prisma pode gerar ilusões de óptica; adotamos o ponto de vista de outros e podemos obter o mesmo resultado ilusório;podemos enfeitar as coisas e conferir outros sentidos mais agradáveis aos nossos interesse e, com isso viver de ilusão ou podemos também encontrar quem seja um bom "ilusionista". Acho que sou meio flexível com os ilusionistas porque há momentos em que a mentira e a inconsistência da ilusão fazem um curativo em nossas dores e nos fazem sonhar um pouco. O preço é alto, claro.
Dia desses eu citei Freud por aqui, em O futuro de uma ilusão. No contexto, ali, da religião, entende-se o que ele quer dizer. Entretanto, eu me referi a mim mesma, porque vi uma ilusão que eu criei e cujo futuro era insustentável. Bem, sobrevivi.
Quando eu estava indo para UFBA,conversava umas amenidades com uma amiga, mas fiquei revisitando uns cenários, enquanto isso - é que meus dois amores do ano passado foram vividos por ali. E então comentei com ela, que está apaixonada pelo crápula de Geografia, que a gente estava diferente na vivências com as dores, com as faltas e com as angústias.
Ela complementou: "E com as desilusões".
E concluimos que não sucumbimos mais da mesma forma porque temos múltiplos interesses e múltiplas ocupações, proporcionalmente importantes. Aqui está a minha resposta sobre "como sobrevivi às angústias da perda do Ex-Grande Amor da Minha Vida".
Estudar é importante, cuidar de nossa profissão é importante,os nossos projetos são importantes e igualmente importante é o entorno do convívio sócio-afetivo da gente. Não temos só um ângulo para olhar, nem uma só coisa a guiar nossa vida.
Não sou daquelas pessoas grossas que afirmam que depressão se cura com roupas sujas para lavar. Mas também não nego que ter o que fazer ajuda a superar o impulso negativo a hibernar na tristeza infinita, muito cômoda para quem quer fugir da angústia - e como a angústia é a base da vida, queixam-se da vontade de morrer, isto é, evidenciam a indisposição para viver.
Nos meus maus momentos, que nem precisam ser tristes mas estressantes, também eu, se pudesse, delegaria minha vida a outrem, passaria a procuração: "Nomeio e constituo meu bastante procurador o Sr. Meu Amigo, para que em meu nome tome decisões, efetue pagamentos e responda às demandas cotidianas." Pronto: firma reconhecida, burocracias de cartório e eu iria dar tchau aos meus problemas. Mas,se não dá, cuido de mim, com franca consciência de que nem todo dia é um dia bom.
Mas, ao andar ali pela UFBA, pisoteando lembranças e saudades, confirmei minha relação com a ilusão, porque poucas vezes permiti que ela crescesse um pouquinho e outras, avaliei mal, achando que algumas coisas nem mereciam ser desejadas, porque seria ilusões, impossíveis ilusões.
Somos outras por dentro: minha amiga e eu.
Ainda nos iludimos, sim, mas muito pouco. E quando isso ocorre, chamamos para nós a responsabilidade: "Eu criei uma ilusão".
E sobre o dia de hoje, já nem posso dizer, como Fernando Pessoa, "O dia deu em chuvoso", porque todo dia por aqui( e em Salvador também) tem dado em chuvoso. E se não nos iludimos com o sol que não virá, por outro lado, vem a minha amiga a perturbar minha prudência financeira, a me convencer a ir ao Festival de Inverno de Lençóis.

domingo, 14 de agosto de 2011

Devagar a divagar


Para aqueles que acreditam que há males que vêm para o bem, digo que bem pior é quando o bem chega fora de hora, na hora errada.
É que as pessoas que são neuróticas como eu sempre se preparam para o período dos terremotos, dos furacões, das maremotos, da hibernação. E se eu sei que as coisas serão assim, lá vou eu planejar.
Acontece que há planos que são a longo prazo. No momento, por exemplo, ou alguma coisa acontece nas próximas duas semanas (o que é improvável) ou, meu Deus, que esta coisa boa não aconteça pelo menos até junho do ano que vem. Se ocorrer fora desses prazos, o bem se transformará num mal para o qual cem anos de lágrimas de frustração e dor não serão suficientes para expurgar a perda.
Todo dia eu penso nisso, desde junho deste ano.
E se declinei de ir à festa ontem,nem por isso deixei de ficar toda quebrada, desfigurada de sono, indisposta, cansada, confusa, com dor de cabeça...porque passou a TPM, dando lugar à cólica e a uma indisposição de múmia...quase que me sinto assim uma prateleira, um armário de parede, qualquer coisa grudada e imóvel. Fico sem força e sonolenta até quando não há sono.
Acabei de pegar um pretexto gentilmente cedido em favor da minha indisposição: foi involuntário, mas acabou caindo como uma luva com os meus propósitos, porque recebi uma mensagem que se aproximava daquela frase clássica de sei lá quem (Millôr Fernandes?): "Nunca deixe para amanhã aquilo que você pode fazer depois de amanhã".
E menos por preguiça do que por indisposição, vou deixar para depois de amanhã o que eu deveria ter feito hoje e agradecer à Nossa Senhora dos Pretextos, que há de cuidar de mim, afinal eu nem sou disso.
E então me lembrei de Tatiana me convencendo a fazer a coisa certa há uns meses e citando o Eclesistes:
" Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.
2- Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
3 - tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar;
4 - tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
5 - tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar;
6 - tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora;
7 - tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
8 - tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz."
Pois é, preciso que as coisas aconteçam no tempo certo porque, para todas as outras oportunidades em que puderem acontecer, há risco de multas.
Mas, deixa eu recolher essa minha ignorância preguiçosa daqui, porque eu já estou tão devagar e mais vagaroso vai meu parco raciocínio.
E para citar, mais uma vez o Millôr Fernandes, que diz que "Devagar se chega ao longe, mas não se encontra mais ninguém", parafraseio o brilhante escritor e digo que "Devagar se chega ao longe, mas muito atrasado."

sábado, 13 de agosto de 2011

Quem também vai te comer


É o tempo.
Não é preciso dizer mais nada: Quem anda me comendo, te come todo dia, e chega sem você perceber.
O caso é que hoje em dia só o envelhecimento das mulheres é apontado e são elas que são trocadas pelas mais jovens, como se o tempo não passasse para os homens.
E não pense que quando a gente morrer ele vai parar de comer a gente: não, o tempo não é necrófilo à toa, é que cabe a ele levar todas as coisas que não são eternas. E todo dia ele leva um pouquinho da gente.

Quem anda me comendo, parte IV


Quem anda me comendo já te deglutiu sem que você visse: o tempo pode ser discreto e chegar mansamente, mas quando o notamos, ele já corroeu tudo.

Quem anda me comendo, parte III


Você pode ser o maior Gladiador desse planeta: Quem anda me comendo sempre vencerá - é que o tempo é o mais forte, por mais que a gente lute contra ele.

Quem anda me comendo, parte II


Quem anda me comendo também devora os homens.

Quem anda me comendo, parte I


"Quem anda me comendo é o tempo", diz um verso da Viviane Mosé, que eu repito sempre, porque o tempo já me abocanhou e não é de hoje!
Mas, quem me come, come também o Arnold Schwarzenegger, porque o tempo é o maior Exterminador do Futuro dos nossos corpos.

Chuva e dia cinzento


Quem disse que um dia de chuva não pode ser um lindo dia? Claro que pode: na poesia, no deserto, nos lugares áridos em que a chuva vai salvar a plantação e em algumas dessas exceções climáticas, mas aqui, na vida real, meu irmão, um dia de chuva é um dia de tédio, é tudo horrível, é tudo cinza, é tudo triste...
E não errou aquele que criou o repetido clichê de que a chuva são as lágrimas do Céu (apaixonado, feliz, depressivo, entediado): eu agradeceria muito a quem lhe oferecesse um lenço!
Se faz frio, tudo bem: o inverno tem esse lado confortável da preguiça das roupas quentes, das comidas quentes, da elegância no vestir, de coisas que só são possíveis usar sob baixas temperaturas...mas se chove, os bichos se recolhem, todo mundo entocadinho, a gente pensa 40 mil vezes antes de se decidir a ir à padaria, tudo está molhado lá fora, tudo está frio e úmido dentro de casa,a alegria fica tímida e também não quer sair.
Estruturalmente, tudo é lama e caos, de carro ou a pé, quem escapa dos respingos? até o corpo fica tendente a manifestar seus espirros de rinite e seus resfriados de protesto.
Sem praia, sem festas, sem roupas no varal, sem bichos se espreguiçando sob o sol. E eu, que sou de açúcar, não gosto de sair na chuva - não é só porque o meu cabelo vai padecer do encolhimento dos afro-transformados quimicamente, não: é que sou super-hiper-mega-maxi-friorenta ( e C. sempre cuidadoso e complacente, mesmo sem que eu pedisse, não acionava o ar-condicionado do carro, para não despertar a minha rinite...cavalheiro, aquele malvado!observava meus arrepios de frio na sala gelada, que era gelada para os meus padrões, e sempre me dava o calor possível para me proteger. Que pena que ele é de Leão com ascendente em Pavão...e eu, Áries, com ascendente em perua e sol em burra, no sincretismo astrológico do horóscopo com o jogo do bicho!).
Se eu não dou uma pausa para futilidades e loucuras, eu entro em pane, nesse meu desgastado exercício CDF de cumprir as obrigações do estudo.
Hoje tem uma festa muito boa lá na The House e eu queria ir, mas nenhum dos meus chegados vai - eu queria ir, mas penso nas consequências de sair hoje à noite e chegar em casa amanhã de manhã, toda quebrada, e passar o dia dormindo, para acordar ainda quebrada na segunda-feira, para ir à UFBA dar aula toda quebrada, desmantelada, desfigurada de sono, no primeiro dia do semestre letivo.
E tem os textos da minha turma, que eu ainda nem fiz a sequência mas, prometo a mim mesma que até às 20 horas de hoje, tudo estará encaminhadíssimo.
São Paulo tem o céu cinzento dos dias de chuva - lá isso não chega a ser triste. Também a chuva nunca me pegou de verdade, como em Campinas. É que em Campinas, chuva é aguaceiro, enquanto em São Paulo, chuva é garoa, pelo menos nas minhas experiências. Acho que estou com saudades de lá.
E por aqui a chuva persiste o ano inteiro...foi um verão chuvoso, um outono chuvoso e agora é inverno, pelo menos para justificar - ano novo tem chuva, carnaval tem chuva, Micareta tem chuva, Semana Santa, tem chuva; São João é chuva pura...só posso garantir que no 07 de setembro não chove jamais, mas no resto dos dias, nem se fala.
Quem terá tido a inteligência de chamar isso aqui de Nordeste? e essa região específica de semi-árido? quem será, meu Deus? a Princesa do Sertão é princesa do reino da pluviometria. E com geógrafos desse quilate, daqui a pouco vamos descobrir que ao lado do Cazaquistão fica a República de Ondeéquestão, pertencente à ex-União Soviética (eu que descobri as terras do Onde-é-que-estão, viu? registre-se, publique-se e divulgue-se!)
É, meu amigo Lobão, "Chove lá fora e aqui tá tanto frio..."

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Dias de CDF


Faz muito tempo que eu não me sinto CDF, mas agora que realmente estou sendo, entendo o sentido e prática de ser CDF: é que minhas nádegas estão anestesiadas de ficar sentada em frente ao computador e, quando finalmente eu vou dormir, fico sentada na cama, relendo o romance de António Lobo Antunes, catando formigas e detalhes, coisas que os meus olhos não viram antes dessa minha sexta leitura.
Meus capítulos estão no fim, mas nunca acabam porque eu releio tudo, capto os lapsos semânticos, as ambigüidades, as notas que ficaram por ser inseridas, o sentido, a coesão do texto... E com isso de ler de novo o romance, toda hora me aparece uma novidade a ser acrescentada.
Aí, quando instituíram o epíteto de CDF como sigla para C* de ferro, realmente sabiam do que estavam falando: parece que há um peso no traseiro, uma âncora que prende a gente aos afazeres do estudo. Mas, claro, tem o lado da vaidade intelectual de não querer passar vexame.
E tem os imprevistos, porque se eu pego uma banca chata tem disso: há conceitos batidos, conhecidos até à exaustão. Logo, deduz-se que explicá-los novamente é ensinar o pai-nosso ao vigário. Contudo, para uns tantos membros de banca de avaliação, você tem que explicar o lógico, o óbvio e o banal. E, claro, às vezes quem lhe indica isso é o seu próprio orientador – e na hora da avaliação, quando você fez ou deixou de fazer por indicação do orientador, o normal é que ele tire o braço da seringa e c* da reta, como dizemos por aqui. E também como dizemos por aqui: “Babau!”, isto é, você está lascado!
Paralelo à tese, a vida continua: os afazeres domésticos, a vida social, a academia para onde vou mais para retirar a ferrugem do meu CDF do que para me esbaldar como às vezes faço, para gastar a energia acumulada; o cachorro para dar banho, a cidade fria e chuvosa, o cabelo por ser cuidado, o dentista, o médico, as consultas negligenciadas pelo tempo escasso e, para completar, o plano de curso para as aulas que darei a partir desta segunda-feira na UFBA. Responsabilidade, pouco tempo e pouca grana, para arrematar meu quadro de impaciência.
De vez em quando eu dou a louca (ora, que novidade para quem é Louquética, hein?): desligo os telefones, espanto os meus amigos egoístas, começo a tanger os parentes como quem extermina moscas e vou viver para ler e escrever meu texto.
Leio, escrevo, complemento, me arrependo, escrevo de novo e a vida continua (em círculos).
Paro e penso na analista, que não sabe que eu, a esta hora, congelei um importante aspecto de minha vida – ela que me ralhou várias vezes por negligenciar o mais importante, por fingir que não é importante aquilo que para mim está acima de muitos valores, por desistir devido ao cansaço, por deixar minha impaciência decidir por mim, por recuar porque avaliei mal o obstáculo e o prêmio e, por fim, subestimei o meu querer.
Não gosto de problemas: se eu tiver um, vou resolver, mas não quero nunca mais que ele volte. Sou das pessoas que podem dizer com orgulho e desdém: “Problema seu!”, porque eu ajudaria a resolver um problema, mas não admito que me tragam problemas. E ela, minha analista, fica espantada pela forma como eu renuncio a qualquer coisa que me traga problema – olha, gente, pode colocar tudo num mesmo balaio que não estará errado: morar com alguém é problema, maternidade é problema, namorado que mora com a mãe é problema, trabalho com gente falsa e picuinha é problema, imprecisão é problema, indecisão é problema, gente que eu não gosto é problema e C. é problema também. E para esses tantos, queria eu poder apenas apertar teclas e resolver: Ctrl+alt+Del. Pronto! Todo mundo na lixeira! E depois fica a indireta das malvadas: “Se pensa que tem problema, não tem problema: faz sexo bem!”...não sei de onde elas tiraram isso.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Para as minhas amigas


Várias vezes eu já disse que se eu pudesse, daria meus cartões, meu dinheiro, minha casa e tudo mais a algum amigo meu de confiança e lhe diria: "Toma! resolve aí a minha vida por mim, que mês que vem eu volto, tá?" e sairia de cena, tiraria férias da minha própria vida.
Ele que decidisse, que resolvesse meus pepinos!
Mas ultimamente eu é que, se pudesse, pegaria a vida das minhas amigas para eu cuidar, resolver e decidir. E quando a gente olha amigos e amigas, sabe quem combina com quem, quem merece quem, enfim, a gente sabe o que seria o correto se a vida fosse assim um troço objetivo e racional.
Dá uma raiva ver uma amiga legal, inteligente, bonita e criativa sendo esnobada por um cafajeste ou delongando uma relação que já acabou, estendendo os sofrimentos no varal junto com as fraldas...
Pior é a gente ver a pobrezinha distorcendo a realidade a seu próprio favor,se enganando, inventando uma vida que não existe, explicando e justificando o sofrimento por que passam...
Domingo eu encontrei pelo MSN uma amiga poderosíssima que coincidentemente viveu as mesmas decepções amorosas que eu. Tudo igual: a situação,o início, o final, o tempo e o lugar. Parecia script!
Ah, quando eu repeti o que eu sempre afirmo acerca dos homens gostarem de fazer a gente de adereço do ego, de instrumento da vaidade deles, poxa, ela acatou para a sua própria realidade isso e mostrou uma mágoa, um hematoma narcísico, que nem após 12 batalhas um guerreiro, um Hércules teria.
Paixão destrói uma mulher.
E quando o sujeito quer tripudiar sobre o cadáver, aí a gente preferia mesmo estar morta!
Tantas vezes essa minha amiga, G., testemunhou as minhas dores e viu, condoída de compaixão, meu esforço para viver...
Até hoje eu me pergunto como foi que eu sobrevivi a quase tres anos (dois anos e sete meses)sem a menor condição de viver.
Ela lia nos meus olhos as lágrimas que estavam ocultas do público, lia as minhas dores, lia aquela tristeza que só quem já amou e perdeu pode entender. E ela entendia perfeitamente bem.
E quando finalmente ela me perguntou por ele, o Ex-grande Amor da Minha Vida, e eu disse: "Esqueci!; além de dizer "Bem feito!", ela se sentiu feliz e aliviada.
Não demorou muito até que a vida dele desmoronasse por completo e ela me colocasse sob suspeita de ter influenciado os deuses da vingança a cravar sua espada no peito do malfeitor - mas, não houve nada: mera coincidência.
Agora, sou eu a maldizer de quem maltratou a minha amiga.
Ela não se recuperou e luto não tem data de validade: muitas noites de pesadelo ainda virão - nas minhas, fiquei com 53 quilos, insônia e uma indisposição para viver, que nem o maior dos deprimidos poderia ter ideia de como era.
Quem vê pensa que é hipérbole, exagero histérico. Experimente amar e perder. Ouse tomar do mel da felicidade plena, absoluta, absurda, divina...Experimente: não dura nada! e quem disse que cair das nuvens não vai quebrar suas costelas?
E como minha analista olhava meu cadáver fraturado e me dizia que eu tinha estrutura, no dia em que passaram as dores eu nem vi, apenas saí andando recobrada, feliz comigo mesma e achando, como é comum quando desconstruimos o amor, que eu deveria estar louca, anestesiada, hipnotizada por ter amado quem eu amei.
Não diminui o valor dele, não: era um sujeito inteligente, competente sexualmente, interessante, cúmplice...mas não na dose e na medida que meu coração pintava.
Minha outra amiga está na Ilha de Lesbos por desespero de causa, não por ser homossexual de maneira verdadeiramente natural; uma outra foi morar numa cabana no interior, largou o emprego e enlouqueceu ainda mais por causa de um maconheiro magrela de terceira categoria que adora descer a mão nela; outra amiga perdeu o bebê que ela encomendou para segurar o marido traidor e M. não oficializa o fim do casamento fracassado com o marido aproveitador e preguiçoso. Estas são minhas amigas e sua sdores. E eu adoro minhas amigas - tivesse eu o antídoto, daria uns 10 litros para cada uma.
Também hoje eu deixei de ir a um certo lugar em que eu sabia que C. estaria. Ele me mandou o convite, claro, impessoal, encaminhado para mim e uns destinatários ocultos.
Não respondi e não fui, apesar de desejar ver o Mia Couto.
Minha tia astróloga até havia me falado que nesta semana estamos ao comando de Leão, que representa a força do ego. Ora, como se eu não soubesse...
Cansei.
Tem outra coisa: os homens não corresponderem aos sentimentos de uma mulher é algo normalíssimo. Nós também sofremos com os insistentes. Mas fazer o jogo idiota de deixar a pessoa em stand by, iludir, ficar em cima do muro ou só se lembrar da pessoa quando a casa cai, aí é demais.
Se você não é amada, aceite. Isso eu diria a qualquer amiga minha: não há receita que faça a pessoa amar a gente se ela já não ama. Seria indigno forçar a barra, subornar emocionalmente o outro, chantagear emocionalmente também.
Contudo, se o caso é outro, eu sei que é difícil desistir do que se quer, mas tome uma atitude, tome um copo de vodka, mude de cidade, corte o cabelo e quebre o vínculo, desate o nó, que a prisão não vale a pena.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Diversão e arte: para qualquer parte


Ontem eu estava num mal humor desgraçado, mas daquele tipo de mau humor de TPM, mesclado com a exacerbação de minha impaciência e uma gritante vontade de matar as pessoas. Nunca mais eu tive acessos de TPM que me dá vontade de destruir o planeta, de asfaltar a Amazônia,de mandar meus inimigos para a putakiupariu e de encher de bolachas, tabefes e safanões um bando de gente chata e cheia de nhenhemnhém. Por conta disso, eu ia desistir de ir ao cinema após a academia. Sorte que eu não desisti: com os meus amigos eu fui assistir Assalto ao Banco Central.
Valeu a pena: para quem achava que ia perder tempo com uma tramazinha sem sal, o filme surpreendeu.
Elenco de primeira, especialmente no caso de Lima Duarte e Giulia Gam, que arrasam nos papéis de investigadores.
Até o elenco que compõe núcleo dos bandidos foi meticulosamente bem escolhido, e eu devo dizer que o Eriberto Leão, uhuuuuuu, sem comentários! Também me surpreendi por ser a primeira atuação de Marcos Paulo como diretor!
Irônico, cheio de ação, e com uns atores gostosos e bonitões como há muito não se via no cinema nacional, o filme baseou-se na história real de uma quadrilha que, em agosto de 2005, inteligente e estrategicamente assaltou o Banco Central, em Fortaleza. Até hoje há imensas controvérsias a respeito do crime, abrindo a possibilidade que a ficção explorou muito bem, ao dar ao personagem chamado Barão um final compensatório, livre da prisão.
Lembro muito bem quando o personagem interpretado por Tonico Pereira é recrutado como engenheiro, para projetar o túnel e cuidar das situações relacionadas à estrutura da “construção”, e, sendo ele marxista, diz , ante a proposta,supostamente citando um comunista: “Nada se compara a roubar um banco, exceto fundar um!” – e o interessante é que a platéia do cinema ri, aquiescente. Pois é, todo mês roubam a gente de maneira oficial e autorizada.
Não faltam oportunidades cômicas no filme, ainda mais quando aparece o homossexual evangélico, Devanildo (interpretado por Vinícius Oliveira): Devanildo é um devaneio só, atrapalhado, conflitante com a fé, indeciso, estereotipado, incrível!
Hermila Guedes é que ficou meio subaproveitada, na função de perua mulher de bandido, mas o elenco todo é muito bom e as coisas funcionam, dando sustentação ao filme.
Eu sou suspeita para falar porque não sou de assistir filme de mulherzinha, com angustiazinhas e lagriminhas permeadas por paixõeszinhas e apelinhos existenciaiszinhos. Até porque é muito difícil que um filme desses seja bem feito.
Mas, saltando do filme à vida real ou quase real, nesta quinta-feira tem show de strip-tease masculino aqui em Feira, para quem quiser ir e puder: tudo discreto, em horário insuspeito e em local também acima de qualquer suspeita, naquele salão de eventos daquele famoso restaurante que começa com K e que fica na Castro Alves. Eu nem sei qual é a clandestinidade de assistirmos a um strip-tease masculino se aqui é aberto o comércio erótico e sexual para os homens...
Vejam, um Clube das Mulheres assim só acontece duas vezes ao ano aqui em Feira. Assim mesmo, tudo incrivelmente, provincianamente comportado: homens fantasiados, muitas sungas brancas, insinuações, dancinhas eróticas, mas homem nu mesmo só no sacrifício de quem se atreve a ir lá e colocar a mão na massa.
Sortuda foi Tati, a Outra Tati, que encantou um dos mais bonitos dançarinos e foi convidada para uma apresentação particular dele, há uns anos. Agora é Tella quem está curiosa...e já que eu não vou ao Rock in Rio, vou lá, olhar as mais interessantes carnes do mercado. Vá também, dona de casa, finja que vai a uma reunião de Tupperware, se encha de tequila e vá sonhar com coisa melhor do que aquilo que lhe espera no lar.
Eu continuo na TPM, que eu já traduzi por Tudo Parece Mal, por isso preciso respirar testosterona para aliviar os sintomas. Ladies night, eu vou!

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comida,
A gente quer comida,
Diversão e arte.
A gente não quer só comida,
A gente quer saída
Para qualquer parte...
A gente não quer só comida,
A gente quer bebida,
Diversão, balé.
A gente não quer só comida,
A gente quer a vida
Como a vida quer...
Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor.
A gente não quer só comer,
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer dinheiro
E felicidade.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer inteiro,
E não pela metade...
Diversão e arte,
Para qualquer parte.
Diversão, balé,
Como a vida quer.
Desejo, necessidade, vontade.
(Titãs, Comida)

domingo, 7 de agosto de 2011

Grandes ensinamentos


Tadução: Antes só do que em companhia de uma dupla de chifres.

De bar em bar


É, faz parte do negócio...
E se você não pode tomar uma atitude, tome pelo menos uma vodka.

Tirando o time de campo


Coisa esquisita é ter uma horda de homens primitivos na minha sala, gritando por causa do jogo do São Paulo contra o Avaí: oh, cacete! o que há de tão emocionante para eles lançarem gritos assustadores, seguidos de xingamentos que se alternam com interjeições de suspense?
Mas, que saco!
E eu, que gosto tanto de minha paz, que gosto tanto de estar sozinha em casa, acato o pedido dos meus amigos e do meu primo abestalhado, para deixá-los assistir o jogo aqui em casa, já que não está sendo transmitido pelos canais abertos, supondo que terão comportamento comedido.
Bastam três homens e uma partida de futebol para tudo sair do normal, para eles saírem de si, para assumirem a identidade coletiva que me faz sair correndo da sala – e por mim, eu sairia correndo de casa – oh, meu Deus, que segundo tempo amarrado...
Os mais longos 45 minutos de minha vida!E ainda deve ter a droga da prorrogação de uns três minutos.
Já sei o que vem depois: uma fila de três imbecis para fazerem xixi no meu banheiro, berrando os comentários do jogo que, terminado, dá lugar ao barulho da santa igreja evangélica que está fazendo sua rave, mega-barulhenta.
Faz tempo que as noites de domingo não são tranqüilas, mas hoje, em especial, está tudo estridente e estereofônico.
Louvores barulhentos, alegrias barulhentas, fé ruidosa, torcida estrondosa... e neste momento desce uma chuva de palavrões em questionamento à conduta moral da mãe do bandeirinha que, não obstante, não é em nada diferente dos adjetivos voltados à mãe do juiz.
Olha, já estamos nos 44 minutos do segundo tempo e teremos acréscimo de quatro minutos, meu Deus! que tortura.
Placar atual: São Paulo 2 X 1 Avai.
Placar de minha casa: Horda primitiva 10 X O meu sossego.
Com este resultado, meu sossego foi para a linha de rebaixamento e eu vou tirar o meu time de campo, antes que os meus queridos convidados comecem a achar que vão comemorar o resultado positivo aqui na minha cozinha.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Sabe com quem você está falando?


“Você sabe com quem você está falando?” esta arrogante sentença já foi combatida de várias formas, inclusive através da ironia: “Você está com amnésia?”, responderia o interlocutor.
Também a famosa frase: “Você sabe quem é o meu pai?”, expressão de um arroubo de autoridade e poder, ganhou sua resposta com o passar do tempo, a saber, “Bem, eu não sei quem é o seu pai, mas um teste de DNA pode resolver isso por você.”
Não é nem preciso procurar os vestígios das atitudes senhoriais nestas expressões – já são por demais explícitas, num país como o nosso em que o nome, a filiação e o dinheiro presume tratamento diferencial e alimenta a egolatria desse povo mal educado que se vale desses subterfúgios.
Acredito que e-mail é um meio coloquial de comunicação entre os amigos e conhecidos e, em menor proporção, pode sim, exercer uma função formal e tratar de assuntos de outra ordem. Para estes últimos nós estamos preparados, sabemos o teor, o conteúdo provável e a necessidade de alguns pressupostos burocráticos e formais.
Quando o nosso amigo passa a nos mandar e-mail contendo dados formais em excesso, passamos a cogitar se ele não está nos perguntando: “Você sabe com quem você está falando?”.
Aconteceu anteontem, com mais um amigo meu.
Ele foi vender a alma ao mesmo Capeta para o qual eu e todo mundo que eu mais conheço já vendeu: a velha história do começo da carreira e a velha história de quem pega a estrada e vai para uma das fronteiras da Bahia com Sergipe, mais para obter o comprovante de experiência do que em troca do salário.
Nem bem fechou seu primeiro mês lá e me veio com esta, na assinatura do seu e-mail – e é preciso ressaltar que era um e-mail informal, para os amigos, engraçadinho até – “JPD: Professor D.E. de T.L./Professor de X, Y e Z disciplina /Mestre em.../da Instituição.../acesse o lattes pelo site: blabblablá.”
Olha, D. E, é Dedicação Exclusiva mesmo. O resto eu abreviei, mas chamo a atenção para que o cara está informando, inclusive a sua carga horária na Instituição, seu regime de trabalho.
Ego todo mundo tem.
Para nós, que somos mulheres, dizer de onde se vem, para onde se vai, qual a titulação e etc. pode ser um passaporte para combater preconceitos, para desconstruir o juízo antecipado de que somos burras e fúteis e ser um instrumento anti-misoginia. Ou pode ser mera vaidade mesmo, de que não estamos livres. Por questões de gênero até dá para entender a atitude. O que aponto é só uma provável justificativa, não estou afirmando que informar essas coisas consiga atingir os objetivos pretendidos.
Mas, então, para os homens, nem esses álibis estão disponíveis.
Sempre que recebo um e-mail cheio desses protocolos, acho que a pessoa está me dizendo: “Você sabe com quem você está falando?”.
Ora que inútil!
Se temos a intimidade da troca de e-mails, se somos amigos ou apenas conhecidos, lógico que eu sei tudo isso.
Acho deselegante, esnobe, descabido.
Pode ser que o meu amigo apenas esteja copiando tendências atuais, em que o ego se sobrepõe à função.
Se eu for entrar nessa, aproveito para colocar meu signo, meu peso, minhas preferências, o nome do meu pai, da minha mãe e os últimos filmes que eu assisti.
Penso também que pode ser orgulho, no sentido mesmo da pessoa se sentir orgulhosa de si, feliz, e querer comunicar ao mundo (?) aonde ela finalmente chegou.
Pode ser que a pessoa seja ególatra e pense que assinando com seus títulos e funções desperte inveja. Nesse caso, há um problema grave: amigos não invejam amigos – exceto os falsos amigos que, obviamente, não são amigos coisa nenhuma – e querer despertar inveja só reforça a teoria de que algo não vai bem em uma das partes,aliás, nas duas. Por que ter inveja dos amigos, se torcemos por eles? E para quê desejar despertar inveja? Logo, o festival do ego se mostra supérfluo, mal empregado, fora de propósito.
Talvez seja mesmo moda. E se for, é muito deselegante, de modo que nunca pretendo usar um modelo desses e, se for forçada a isso, que pelo menos o faça através de um e-mail institucional.
Pensando melhor, pode ser que nunca tenha mesmo sabido com quem eu estava falando...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Aos bem melhores que eu


PRECEITO 10

Graças a Deus que cheguei
a coroar meus delitos
com o décimo preceito,
no qual tenho delinqüido.
Desejo que todos amem,
seja pobre, ou seja rico,
e se contentem com a sorte,
que têm, e estão possuindo.
Quero, finalmente, que
todos, quantos têm ouvido,
pelas obras que fizerem,
vão para o Céu direitinhos.
(Gregório de Matos)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A insistência é a mãe do cansaço


Uma das coisas mais irritantes da vida é ter que lidar com gente interessada na gente quando, no caso, a tal pessoa não nos interessa.
Isso remete a uma ideia de que, se declinamos da investida do candidato, somos nós os poços de soberba, de orgulho, de auto-confiança. Entretanto dá-se o contrário: é o interessado quem se acha, quem se julga irresistível e que, diante do nosso "não',o traduz como charminho, como jogo de sedução de nossa parte.
É deveras cansativo ter que sair enumerando com um bando de explicações e de sinônimos que não queremos namorar a criatura, que não há interesse, que não é recíproco...olha, não sei mais que distância inventar para afugentar aquele ser humano insistente.
Pior que ele são nosso amigos em comum, procurando paridades, mostrando o quanto o cara é legal, "ah, pobrezinho!", enquanto, no meu caso particular,eles dizem a entredentes o quanto eu (a megera) sou insuportável, que prefiro ficar sozinha a tentar ser feliz ao lado do "mala".
Mala= bagagem pesada a carregar; pessoa desagradável, fardo, enfadonho. É que tem que ser assim, explicadinho.
Por que ainda não inventaram repelente de maus pretendentes? não deveria ter?
Dizem que existe o estilo de moda "espanta-bofe", ou seja, umas roupas que afugentam os homens - basicamente aquela indumetária tipo Mc Hammer, com horrorosas calças sarouel ou boyfriend, cores no estilo disco-club ou clubber, sapatos plataforma com saltos pesados horríveis, tipo cavalgadura, bom, essas coisas aí. E deveria haver o spray repelente de homens que não nos interessam.
De vez em quando eu penso no caso dele, para ver se ele desgruda, se desiste. Mas não tem jeito não.
Isso os homens não entendem: mulheres são seletivas. Preferem ficar soinhas a ficar com quem não lhes agrada. É preciso muito desespero de causa para a gente tentar ficar com certos tipos.
O cara de quem eu falo é como o Johnny Bravo, do Cartoon: não tem quem faça ele se tocar de que ele deve desistir, que as mulheres não estão à disposição dele e que se houver quem esteja, não me inclua nesse rol.
No outro lado da história, cheguei em Feira após uma tarde burocrática em Salvador, à moda do "Carimbador Maluco" ("Tem que ser selado, registrado, carimbado,avaliado, rotulado...")e dei de cara com L. E., que me pegou numa ligação que, editada, confirmou as suspeitas dele sobre minha provável patricice.
Ora, meu Deus! eu odeio gente desleixada. Acho que mulher tem que usar batom, tem que usar esmalte, tem que ter acessórios e que qualquer simplicidade pode ser feminina, básica e feminina - e assim ele me pegou arrumadinha, de pasta personalizada, numa conversinha indignada ao telefone e, desta forma, tudo confluiu para ele corroborar o que eu sei que ele pensa.
Mas, eis ali um homem bonito - peça rara, muito rara na minha cidade.
Quando a gente se falou pela primeira vez eu me senti um anti-vírus fazendo varredura: escrutinei os arquivos dele que estavam à minha frente (linguagem postura, gestos), detectei algumas ameaças e, por fim, coloquei o sujeito em quarentena.
É que eu não gosto de problemas.
Problema quem deve ter é pesquisa e, ainda assim, com as hipóteses arrumadinhas para que o problema não dure.
Vi, diante dos meus olhos, um homem bonito e alguns problemas. Como tenho minhas tendências, preferi considerar os problemas em primeiro plano, de modo que ele continuará em quarentena, se é que eu já não o considere um arquivo corrompido.
Cléo, não: ela acha que eu tinha que ter ignorado a advertência e aproveitado tudo que tivesse para aproveitar - e ainda me deu dicas de vinho, traçou planos... eu nunca faria um jantar para ele.
Não sou gueixa: poderia ser até que eu fizesse alguma dança dos sete véus para um semi-desconhecido, em tom de brincadeira e de picardia, mas não gosto desse negócio de noites perfeitas.
Já tive uns namorados que entravam na brincadeira, que gostavam de todo tipo de fantasia e entravam no clima, mas também já dei de cara com uns casca-grossa tirados a pragmáticos que não gostavam de nada. Não fosse eu a admirar a inteligência de um tipo desse, mandaria ele pastar rapidinho.
Eu faria várias coisas para agradar a quem eu amo, mas com bom senso.
Tem gente que gosta de amor ostensivo: com cestas, faixas, outdoor, mensagens fonadas, gritos e tangos argentinos. Eu é que não faço e, aliás, já fiz por mera estratégia, na maior falsidade, confesso.
Mas, então, se eu não estou abrindo a guarda para o bonitão - e é bonito mesmo, plenamente - muito menos eu abriria precedentes para O Johnny Bravo ou para o Zé Bonitinho.
E tenho que ouvir as gracinhas das minhas amigas: "Está sozinha porque quer, falta de candidatos não é!". Ah, que castigo! se elas fossem inimigas nem sei o que seria de mim.
Mas, me cabe esclarecer o que eu considero problema, em geral, certo? não estou determinando o caso específico de ninguém. Então, problema é: morar com a mãe; ter filhos de outro casamento; ter uma ex-mulher a quem ele quer provar algo; ter baixo nível de escolaridade; ser dependente emocionalmente do pai, da mãe, do amigo; mudar de humor conforme o que bebe; morar longe demais de minha cidade; trabalhar demais;ser inseguro; questionar meu passado e bagunçar meu presente; não se desligar do próprio passado; ser infantil; ser grosso; ser pão-duro; ser medroso; fumar; não saber o que quer; ser convencido; ser viciado em qualquer coisa; amar o carro acima de todas as coisas; querer um menàge a trois que o favoreça;não ter ambições profissionais, culturais e intelectuais; não ter higiene adequada; ser violento; ser casado; questionar como eu imagino a minha vida daqui a 15 anos; desejar ter filhos comigo; insinuar que quer se enfiar em minha casa; colocar o futebol acima de todas as coisas e querer sempre ter a última palavra. Bem, a gente sempre se esquece de alguma coisa, mas basicamente é isso aí.
Eu odeio problemas!
E além de problemas eu tenho que aguentar as indiretas venenosas:

Linda como um neném
Que sexo tem?
Que sexo tem?
Namora sempre com gay
Que nexo faz?
Tão sexy gay...
Rock'n'roll
Prá ela é jazz!
Já transou
Hi-life, society
Bancando o jogo alto...
Esperta como ninguém
Só vai na boa,
Só se dá bem.
Na lua cheia tá doida
Apaixonada
Não sei por quem...
Agitou um broto a mais,
Nem pensou:
Curtiu! Já foi!
Foi só prá relaxar...
Totalmente Demaaaais!

Sabe sempre quem tem,
Faz avião, só se dá bem
Se pensa que tem problema,
Não tem problema,
Faz sexo bem...
-"Seu carro é do ano,
Seu broto é lindo,
Seu corpo é um tapete
Do tipo que voa.
É toda fina, modelito design
Se pinta, Hello!
Se não dá Bye Bye!
Seu cheque é novinho,
Ela adora gastar
Transou um Rolling Stone
No Canadá
Fazendo manha, bancando o jogo
Que mulher!"
Totalmente Demais!

(Totalmente demais - que Caetano Veloso, Perlla, Mr Einstein e um bando de gente canta).
P.S.: Ai, como as notícias correm

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Ah, a infância! (segunda versão)


Pois é, há coisas que realmente se revelam desde cedo...

Ah, a infância!


Há coisas que são evidentes desde cedo.
E ainda tem gente que perde tempo com ultrassonografia para descobrir o sexo dos bebês: ora, eles decidem isso depois.