Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Caos do acaso


Quando o acaso resolve não me favorecer, o que graças a Deus é raro, saí de baixo que o desfecho será tragicômico. Assim é que neste último sábado, por contingências aleatórias, deixei de pegar o ônibus executivo para Salvador e por isso peguei um convencional dez minutos depois.
Com tanto lugar no mundo, com tanta gente no mundo, com tantos rios, oceanos, rotas, montanhas, cercanias, vilarejos e opções infinitas de possibilidades, após sairmos da rodoviária o ser humano que eu namorei e com quem eu iniciei minha vida sexual inventou de entrar no ônibus, me viu no ônibus e se sentou ao meu lado – isso, como bem lembrado por ele, após uns 15 a 17 anos desde o fim de nosso contato.
Não citei o fator sexual à toa: o idiota ficou jogando a conversa, a todo momento, para o assunto. E assim foi que fiquei aturando insinuações sobre o meu hímem por cerca de uma hora e propostas de reencontros, por cem quilômetros, ao longo da BR 324.
Não vi graça na minha primeira vez – nem na segunda e nas demais com ele – Por isso não gosto de lembrar.
Até acreditei que o contato fosse por amizade, até começarem as lenga-lengas do clássico e banal “ a primeira vez a gente nunca esquece!” e eu retruquei, sem a menor preocupação com etiqueta: “Infelizmente! Mas é frustrante, horrível...”
Julgo que ele achou que eu apenas estivesse com vergonha dele ou incomodada por aqueles olhos, agora estranhos aos meus afetos, subindo pelos meus joelhos, detendo-se na minha boca, examinando curvas e insinuações no meu vestido.
Como coincidência é coisa que abunda em minha vida, à noite, quando eu fui à Boate Zen com meu amigo João, a primeira música que a banda Mil Milhas tocou foi It’s a mistake, do Men at work. E ponha mistake nisso!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Boys and girls


Não sei como as mulheres conseguem fazer despedidas de solteira tão sem-graça. Pelo amor de Deus, coloquem pimenta neste prato!!!
Fui a um chá de lingerie que estava mais para um "chá de calçolas", tudo besta, bem comportado, com risinhos bestas, piadinhas bestas, pior do que um convento do século XIII.
Interessante é que a melhor amiga da noiva, há uns cinco anos, num aniversário, aproveitou o gogo-boy que sacudiu a noite lá na Pituba. Escolheu o menino como quem escolhe carne no supermercado, devolvendo, inclusive , o primeiro rapaz que a agência mandou, porque não correspondeu às descrições...
Mas é isso: é para ver, não para comer. Quem está doida? garotos de programa e dançarinos servem ao público masculino, aos gays. Eventualmente, se a proposta for boa, pegam mulheres. Mas, eles são bem profissionais.
Já contei que num show que houve aqui em minha cidade, a boate ladies, que ocorre uma vez ao ano desde então, num restaurante acima de qualquer suspeita e em horário acima de qualquer suspeita também, isto é, enquanto namorados, maridos, amantes e afins pensam que a mulher está numa reunião de Tupperware, Tatiana 2 teve a sorte de um dançarino, após o show, ficar a fim de passar a noite com ela... aí, sim, nada a ver com trabalho...e o sujeito era bem bonito!remanescente direto da tribo Papachana...
Fica a dica: despedida de solteira é despedida de solteira, deve ser comemorada à exaustão porque liberdade igual só depois do divórcio.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Telegrama


De vez em quando a gente fala coisas que só a gente entende.
Usei o vestido azul claro, tomei o café gelado.
Ouvi Vander Lee:

Ando procurando pelo seu olhar
Clareou o dia você desapareceu
Na estrada, no vento ou qualquer outra rota estelar
Na ilha deserta ou no inverno do norte europeu

Mergulhando ruas, beijos ao luar
Velejando bocas, loucas para beijar
Mar e o oceano, e a onda que veio e bateu
Lembra a distância entre o seu mundo e o meu

O aluguel venceu
Meu time jogou
Tudo aqui é seu
E você não ligou
De manhã choveu
O carro enguiçou
O sinal fechou
O amor não percebeu

Passo todo dia e noites a vagar
Solto no descaso, preso em seu mirar
Na dança do tempo só você, meu bem, é que não viu
Durmo sabendo que você não vai voltar

O aluguel venceu
Meu time jogou
Tudo aqui é breu
E você não ligou
De manhã choveu
O carro enguiçou
O sinal fechou
O amor não percebeu

O aluguel venceu
Meu time jogou
Tudo aqui é breu
E você não ligou
De manhã choveu
O carro enguiçou
O sinal fechou
O amor não percebeu

(Breu, de Vander Lee)

Todas as mulheres se chamam Maria, II


Nota de esclarecimento: recebi meio mundo de telefonemas e e-mails à procura do rumo do meu livro Todas as mulheres se chamam Maria, porque publiquei um post, abaixo, com um título homônimo. Entretanto, não tem nada a ver com o meu livro, que é de contos, tudo devidamente ficcionalizado.
A Maria a quem me dirigi é uma amiga que não se chama Maria, mas que, por sinal, viu a "boneca" do livro, no ano passado, se identificou e eu lembrei disso, de algo que ela comentou sobre uma personagem. Disto, como as mulheres têm muita coisa em comum - as da ficção e as da vida real e estas entre si - coloquei lá Todas as mulheres se chamam Maria.
o livro não foi lançado: está engavetado, embora pronto, esperando o desenrolar de umas coisas da minha vida real, das quais o andamento do meu doutorado e umas poucas coisas burocráticas. Às vezes falo dele por aí, em alguma palestra ou situação informal e, por isso, já me perguntaram da influência do Dalton Trevisan, se tinha a ver o fato de ele nomear quase todas as personagens dele como Maria. Bem, não tem, apesar de eu gostar tanto da Guerra Conjugal e dos Continhos Galantes.
Livro, para mim, é uma questão psicanalítica. E livro toca essencialmente na vaidade de não querer ser como os outros - que pensam que escrevem, que se acham escritores, que se afogam nas vaidades... O que, também já expliquei em outra ocasião, determinou que eu doasse ao Domínio Público do MEC minha dissertação de mestrado, quando ela seria transformada em livro.
Eu, que tanto falo em ser adereço da vaidade dos outros, não queria que um livro fosse um adereço de minha vaidade. À medida em que avalio se devo ou não publicar e cogito quando publicar, ponho em xeque minha habilidade em escrever porque não há o que eu critique nos outros que antes eu não busque criticar em mim mesma.
Algum hipócrita me diria: você se cobra demais. E este mesmo hipócrita não aguentaria críticas, como convém a quem tem ego. E meu ego diz que talvez eu tenha escrito para mim mesma, como fiz com os meus diários. Como não busco dinheiro, poder e fama através de um livro - porque está difícil de um livro comum de um ser humano comum dar uma coisa dessas - engavetei.
Entre março e setembro eu decidirei o que fazer do que já existe. Quem sabe vira só um e-book, mas aos meus amigos curiosos,adianto: escolhi uma capa bem pop, que inclui um holograma com petit pois, porque achei que seria uma marca registrada minha; há dezesseis contos, de conteúdos variáveis e em nada as histórias lembram quem sou ou guardam a forma comum como escrevo. Só isso.
Não sei nada sobre tiragem, sobre coisas técnicas e práticas, nada sobre nada e deixo a cargo de um certo ex-professor meu, que é um amigo potencial,levantar essas coisas. Ele quem compilou e no dia em que eu der o start, pronto!
E como eu falei num outro post do ano passado, por enquanto, "the book is under table"! É, embaixo da mesa, viu?

Troféu de Cafajeste


Esta foto aqui é original de fábrica: eu tirei com o meu próprio celular quando fiquei sozinha na sala da direção de um certo lugar.
Vi e não acreditei, não porque se tratasse de uma instituição de ensino, mas porque o Diretor, possível cafajeste, ousou colocar sobre a mesa dele um Troféu de Maior Sucesso na Relação Sexual.
Claro que isso é feito por conta de algumas gracinhas e brincadeiras, mas a julgar pelo tamanho da caneta, ali havia "mais coisas do que sonha nossa vã filosofia", coisas do outro mundo que as mentes mais inocentes nem imaginam. E como eu me deixo impressionar por coisas deste tipo - coisas inocentes e não coisas relativas a tamanhos e desempenho sexual, porque sou inocente também - resolvi fotografar.
Tem gente que lê isso aqui e que vai reconhecer de onde é o objeto. Pelo menos não é de nenhum lugar em que eu trabalhei, senão eu estaria frita...

Cafajeste Motors


E por falar em cafaJestes, com J, não é, gente? O Kibeloco selecionou um cafajeste-móvel mal escrito para compor a série "Pracas do Brasil". Praca é Placa mesmo, escrita fora da ortografia oficial, vulgo, escrito errado.
O caso é que os cafajestes estão se profissionalizando. O cafajeste-móvel é multifuncional: você não tem ideia do que é possível fazer com um carro e um cafajeste. Aliás, ninguém tem ideia do que um cafajeste é capaz de fazer com um carro, num carro...

Todas as mulheres se chamam Maria


Eu, que tanto falo do óbvio, também sei que as lições mais óbvias são as mais difíceis de aprender. Assim, respondi sem pestanejar aos quesitos postos por minha amiga no tocante a seguir ou a desistir de um relacionamento.
Saber das coisas não quer dizer praticá-las ou estar a salvo delas: também vivi isso e me amarrei a relacionamentos falidos e a relacionamentos que nem existiam mais. Não há ponto final porque o mais comum é que os homens esperem até que a gente termine para que eles possam também dizer o óbvio: “Você é quem sabe o que é melhor para você”.
Não confundi não: é que aquelas outras frases, do tipo: “O problema não é com você, é comigo”; “Eu não estou preparado para nada sério agora”; “Você vai encontrar alguém que te mereça”; “Eu não tenho nada a acrescentar na vida de ninguém agora” e o ainda mais clássico “Eu preciso de um tempo” – sim, o mais clássicos dos clássicos foras que um homem pode dar numa mulher – tudo isso é dito quando eles têm a iniciativa do término.
Geralmente o término tem mais a ver com o “enjôo” da parceira do que, propriamente, do fim dos sentimentos, que na maioria das vezes nem existiam mesmo.
Mulher tem muita dificuldade em largar o osso: já passou todas as humilhações, vicissitudes e situações extremas que se possa passar em vida, mas ainda assim, insiste.
Há pessoas que desistem antes de tentar porque antevêem o fracasso. Deixam, portanto, de tentar, de concorrer e de experimentar porque sabem no que vai dar, mas estas o fazem numa perspectiva bem pessimista. Por outro lado há aquelas cujos sinais de fracasso estão piscando por todas as partes, mas elas insistem, achando que tudo vai mudar.
E mudam: elas mudam. Mudam a cor do cabelo, o corpo, as roupas, o gosto musical, a atitude sexual, aprendem dança do ventre, sexo tântrico, sexo intergaláctico e vão vivendo na esperança de que ao se renovarem apareçam como uma nova mulher para aquele mesmo velho homem, já que amor de mulher é estável, não tem tanta neurose de renovação.
Nunca vi um homem se esforçando para agradar a mulher nestes níveis: se vão à academia é para conquistar outras gatas, a secretária, a moça mais nova que chegou à repartição... Não vão aprender a dançar a dois, nem flexibilizam seus gostos em favor das parceiras.
Mas a minha amiga está num clássico dilema. Creio que ela não consiga enxergar claramente o óbvio: ele nunca responde aos e-mails dela; ele nunca retribuiu a um telefonema; ele nunca deu a entender qualquer reciprocidade além de uns poucos amassos numa festinha de fim de ano.
Todo mundo tem ego e alguns homens adoram é ser cortejados. Daí porque nem sempre o fora vem com clareza porque aquela mulher pode ser útil num futuro, quem sabe... Em noite bêbadas e solitárias pode ser um telefone a mais, uma opção.
Ainda há cavalheiros, apesar de seu número diminuto. Portanto, tem também o sujeito que fica constrangido em dar o fora, em dizer que ele não tenha interesse por aquela mulher, que procura fazer com que as atitudes dele sinalizem a melhor mensagem para por um ponto final nas ilusões da moça.
E há o caso extremo: os cafajestes. Nunca se meta com um cafajeste se você não tem estrutura para sobreviver sem bons antidepressivos ou se você se sente suscetível a um surto psicótico.
O cafajeste vive para o próprio ego, gosta de quantificar mulheres, nunca fala o seu nome e sim um apelido genérico que sirva para todas as outras, alicia os parentes para serem álibis que confirmem que ele estava onde ele nunca esteve, tem um repertório de desculpas esfarrapadas para os mais absurdos casos e se cansa das mulheres com uma velocidade que não ultrapassa uns quatro encontros.
Cafajestes têm autoconfiança e habilidades sexuais incontestes que eles sabem capitalizar para deixar as mulheres amarradas. E se ele for cafajeste profissional, é capaz de também ser poeta e parecer sensível o bastante para iludir, enredar e apaixonar a mais resignada das mulheres – entendo deste tipo porque sou PhD em Cafajestes e meu trabalho de campo começou em família, pois meu pai e os meus primos forneceram excelente material de pesquisa. Está certo que eu não escapei dos poetas cafajestes e ainda duvido que um termo não acompanhe o outro, porque cafajestes são poetas em termos de sedução e poetas são cafajestes, apesar de tanta palavra doce para descrever amadas impossíveis no alto das torres.
A resposta para a minha amiga já está mais do que clara: “Curtiu, já foi, foi só para relaxar”, como diz a letra de Totalmente Demais.
Nem há o que se possa dizer mais porque quem quer a gente fica com a gente. Ele pode até parar para pensar, levantar dados para a análise, chegar devagar, mas se o cara quer, o cara fica...
Contudo, eu sei que nenhuma resposta será suficiente porque ela gosta dele, ela passou a idealizar, a sonhar, a querer... E é mesmo muito difícil renunciar àquilo que se quer. Mas não falamos de aquilo e sim de aquele, ou seja, de um ser humano com capacidade de decisão. Então ele já decidiu que não a quer para si como namorada.
Resta a dignidade da desistência porque insistir demais é mal-educado. É bastante desagradável ter alguém pegando no seu pé, alguém que você não deseja, não quer, não corresponde, mas que fica forçando as coincidências, aparecendo, telefonando, insinuando...
Esta, sim, é uma lição dificílima: saber que é preciso desistir e procurar outro caminho.
A insistência por quem não quer a gente só nos transforma em objetos da vaidade do outro; um trunfo, alguém eternamente disponível, alguém que vai perdoar tudo e estar sempre à espera.
(Minha amiga * Maria, eu sei que você vai ler isto aqui daqui a pouco. Não são as palavras mais doces e mais fáceis de digerir, mas a sinceridade tem isso de nos parecer incômoda e dolorosa... Cair das nuvens ou do terceiro andar machuca do mesmo jeito – e nem para mim mesma eu teria antídoto ou anestesia se estivessem em seu lugar, este lugar que eu tanto conheço...)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O pão daquele dia


Ele sabe que eu adoro pão. Não sei como ele conseguiu reunir uma variedade tão interessante, incluindo os raríssimos pães de sete grãos e aquela manteiga, também dificil, que eu gosto tanto. Nunca, na vida, eu havia recebido uma cesta de pães (nem daria conta de consumí-los).
Vê-se bem porque comer o pão que o Diabo amassou não iria nunca matar a minha fome.
Ele sabe fazer café.
Ele sabe que eu gosto de banana com canela e que eu não sou muito favorável a excessos de açúcar.
Ele sabe que eu gosto do meio-amargo e do agri-doce.
Ele sabe onde as coisas estão.
Ele sabe andar pela minha casa sem parecer que está invadindo. Por sinal, meu cachorro gosta muito dele...
Acho que gosto de dormir com ele, porque ele sabe a hora de ir embora.
Acho que eu gosto de dormir com ele porque ele me deixa dormir; e porque lida com os instantes como se fossem despedidas (e sabe que são despedidas).
Acho que gosto de dormir com ele porque não fico com vergonha de que ele me veja com a cara amassada e porque ele sabe me acordar ternamente. Acho que ele perdoa os meus defeitos e faz questão de acordar primeiro porque gosta mesmo de me olhar dormir.
Ele aprendeu sobre o meu sono: da sensibilidade a qualquer som (digo que se uma pena cair no chão eu acordo); dos sobressaltos dos raros pesadelos que sempre giram em torno de alguém invadindo a minha privacidade (vendo minhas fotos, abrindo as minhas gavetas, lendo os meus diários - pesadelo que transfiro para a vida real); do sono cansado e do espreguiçar sonso que acabará num abraço...
Ontem eu saí para caminhar e passei em frente à casa dele, à casa que era dele na Kalilândia, e por onde eu sempre passava depois das festas para ir para minha própria casa, antes de morar onde moro.
Ele já foi embora há dois dias, o vôo foi à tarde e eu pensei que é muito bom sentir saudades - e se não for bom, não tenho nenhuma opção...
Pensei que seria uma leviandade ficar triste.
Pensei em Drummond e fui procurar o poema O que se passa na cama

O que se passa na cama

(O que se passa na cama
é segredo de quem ama.)
É segredo de quem ama
não conhecer pela rama
gozo que seja profundo,
elaborado na terra
e tão fora deste mundo
que o corpo, encontrando o corpo
e por ele navegando,
atinge a paz de outro horto,
noutro mundo: paz de morto,
nirvana, sono do pênis.

Ai, cama canção de cuna,
dorme, menina, nanana,
dorme onça suçuarana,
dorme cândida vagina,
dorme a última sirena
ou a penúltima… O pênis
dorme, puma, americana
fera exausta. Dorme, fulva
grinalda de tua vulva.

E silenciem os que amam,
entre lençol e cortina
ainda úmidos de sêmen,
estes segredos de cama.

Filosofia de banheiro


É a vida real comprovando que às vezes o tamanho do ego masculino não é proporcional ao tamanho de determinadas partes do corpo... (Ih, o cérebro, por exemplo, claro!).

No trânsito


(Imagem sorrateiramente furtada do Kibeloco,ousadamente dedicada à minha amiga C.)

domingo, 22 de janeiro de 2012

Deu branco!


A Central Louquética de Consultoria de moda adverte: No quesito Underwear Fashion, continuamos apostando no branco como tendência para várias estações ao longo deste ano...

Across the universe


Coincidentemente, quando eu acordei e liguei a televisão estava passando Across the universe. Eu odeio musicais, acho chatos, enfadonhos, melosos...mas um filme desses, com repertório dos Beatles, como é que eu poderia deixar de gostar?
E olha o que tinha lá:
Girl - (Jim Sturgess que interpreta)
Hold Me Tight - (Lisa Hogg, Jim Sturgess e Evan Rachel Wood)
All My Loving - (Jim Sturgess)
I Want To Hold Your Hand;
With A Little Help From My Friends;
It Won't Be Long...
Fora que tem ainda Let It Be; Come Together; Why Don't We Do It in the Road? If I Fell; Hey Jude; Don't Let Me Down; All You Need Is Love e um bando de outras músicas
Nunca havia assistido, apesar de ser de 2007. E como minhas melhores noites de sábado costumam ser dançando ao som de alguma banda cover dos Beatles em Salvador, ontem foi tudo diferente, por não ter Beatles, mas compensado devidamente pelo filme de hoje à tarde.
Adorei o repertório da festa de ontem, embora eu tivesse saído de casa na intenção de ouvir a Like a stone, do Audioslave, que na interpretação da banda de ontem é especial para mim, até já escrevi sobre isso: foi há uns 09 ou 11 anos, quando eu queria ter ido a um show desta mesma banda e não fui. Aí, duas ou três da madrugada o som de lá da festa veio até à minha casa e era justamente Like a Stone ; e eu acordei cantando junto. Na época eu namorava um pitbull opressor e só não fui à festa por causa dele e nossos problemas.
Ontem nós conversamos, em turma, após o show, sobre a permanência de alguns repertórios, da construção da trilha sonora pessoal. São as bandas que a gente nem conheceu, mas que tocava em casa ou no vizinho, ou nossos pais ouviam; eram as coisas do rádio; eram os cantores e bandas que a gente conhecia por causa dos amigos; eram as identificações com as letras; eram as trilhas dos filmes...era uma outra era.
P.S.: Meu amigo Jimmy,eu sei que a sua trilha sonora começa com: "ela sai de saia, de bicicletinha". Cada um na sua e a amizade continua, certo?

Last night (II)


Enfim, não é, gente?
P.S.: Foto tirada com celular é uma porcaria mesmo... mas eu não estou nem aí...eu estava um caco, às cinco da manhã.

Last night (I)


Tem dias que eu tenho tanta coisa para dizer, que resolvo não dizer nada. Mas hoje não se trata apenas disso: é que estou na maior ressaca de sono dos últimos tempos, porque estava numa festa ontem à noite. E por obra do acaso, dei a maior sorte do mundo ao atravessar a rua.
Pensei nisso: eu poderia atravessar a rua e cair num buraco; eu poderia atravessar a rua e ser atropelada; eu poderia atravessar a rua e quebrar o salto do sapato...Mas, eu simplesmente atravessei a rua e alguém me disse "Oi!". Tímida que sou, retribuí com outro "oi" e entrei cabisbaixa no Ville Gourmet, imaginando que minha ex-amiga talvez estivesse no Mariposas, àquela hora, com algumas outras amigas minhas para as quais eu não liguei, nem convidei para sair - mostra do meu desinteresse total.
Quando ele me disse "oi", eu só vi cabelos. Não vi quem era, nem nada mais. Vi a cara sonsa dos porteiros pré-julgando o flerte.
Fiquei lá, na frente da boate e, não mais que três minutos depois, lá vem ele: meu amigo que voltou dos Estados Unidos recentemente. Mas não sei se ele foi lá porque me reconheceu ou porque não me reconheceu e queria flertar. Este me conhece, sabe que eu não pego meus amigos e assim foi que eu adorei a companhia dele e as tantas histórias para contar.
Eu me senti o Geneton Morais Neto: toquei uma entrevista bem ao modo "tudo que eu queria saber, mas nunca tive a coragem de perguntar". Perguntei e soube tudo! E a partir daí, milagrosamente, fomos esbarrando naquele efeito dominó de conhecer quem conhece os conhecidos da gente e isso me deu um cartão de acesso a gente um pouco inacessível.
Ah, eu tinha tanto para falar...
Apesar da incontinência verbal que rege este blog, tenho que interromper a narrativa porque estou morta de sono - apesar das berrarias da fé do culto dominical não ter me afetado hoje de manhã, o que, por sua vez, sinaliza que às oito da noite sonoros e estridentes "aleluias" vão me impedir de dormir.

sábado, 21 de janeiro de 2012

O vendedor (ou, Terrorismo Delivery)



O terrorismo não se faz só de bombas, ameaças, conflitos e estados de tensão latente: ele se faz no dia-a-dia através das ameaças apocalípticas de Inferno, do estado de terror instaurado pelos Governos regidos pelo medo e pela intimidação, pelos profetas do terror que vigiam condutas e posturas morais, mas, em meu caso, o terrorismo veio pelas mãos do meu amigo que inventou de se aventurar pelo ramo das vendas.
É interessante passar credibilidade e acreditar na qualidade, eficiência e necessidade daquilo que se vende: uma pessoa de nossa confiança, quando nos oferece um produto agrega ao produto vendido aquela confiança que depositamos nele. Contudo, há um processo meio auto-ajuda, autoconvencimento e lavagem cerebral. Coisas, assim, numa onda Amyway e Lair Ribeiro.
Então o meu amigo disse que queria falar comigo. Este amigo é da era em que eu fui militar, isto é, já o conheço há muito tempo e simpatizo com ele. Se alguém me diz que quer falar comigo, imagino que seja algo importante, que seja pessoalmente e que seja sigiloso. Logo, não pergunto do que se trata, mas faço cá minhas conjecturas. Pensei se tratar de assuntos políticos, juro!
Lá vem ele, com um Sancho Pança qualquer: deixou a cargo do escudeiro a conversa enfadonha e terrorista. Começando pela ideia de importância da água, veio colocar sob suspeita a qualidade da água que eu consumo – péssima ideia, uma vez que tenho poço artesiano para o consumo da casa e água mineral para consumo alimentar. Para piorar ainda mais: não tenho família, aliás, minha família sou eu.
Desfilaram em minha frente, na tela do laptop, ratos, cadáveres, contaminações, fígados dissecados em estado lastimável supostamente por causa da água, vermes e nojeiras em geral e, como não poderia deixar de ser, o terrorismo ameaçador para pleno convencimento.
Já vi água contaminada causar mil e uma coisas, mas nunca vi ninguém, em condições normais "morrer de água" (nem de maconha – e olha que quem diz sou eu, que nem gosto da erva). Afogamento não vale!nem engasgos, tá? estou falando de outra coisa. Causa mortis: água. Nunca vi.
E se for para viver sem o que eu gosto, de modo a trocar um bom consumo de pães e doces por uns cinco ou dez anos a mais de vida, morro cedo e feliz. Vida sem graça não é vida, é uma pausa chata entre o berço e a sepultura, certo? É, está certo, sou radical: vida sem graça não é vida; sexo ruim não é sexo; comida sem sabor não é alimento... Problema de quem quer chatices supostamente saudáveis e saúde sem prazer.
Achei que o meu amigo transferiu sua oratória de evangélico pregador para o produto: ou compra ou vai para o Inferno. Depois vi que não, que aquilo poderia assustar aos desavisados e forçar a compra.
E tudo começa com a pergunta: “Quanto vale a sua saúde?”, para então, no final dos 50 minutos de blablablá vir o preço: dois mil reais. É muita cara de pau oferecer um purificador de água a dois mil reais. Sim, para os amigos, tipo eu, mil e quinhentos reais – talvez parcelados em três vezes, excepcionalmente, para mim.
O teste prático é um terrorismo triplamente qualificado, com intenção de matar a gente de indignação: ele acopla o aparelho na torneira da pia da cozinha, testa daqui e dali, acrescenta produtos químicos e reagentes e conclui que estamos tomando suco de bactérias. Não sei como ele não pegou minha água mineral naquele instante para fazer teste de coliformes. Presumo que soubesse que isso detonaria o trabalho dele.
Perplexa, tive que agüentar as perguntas práticas sobre meu cartão de crédito e sobre a necessidade real de adquirir aquilo lá. Só se eu estivesse louca: a tecnologia YXP mega-oxy-base-international, que não passa de pedrinhas de carvão ativado, ozônio e afins, não me convenceu. Não é que não filtre ou que não purifique a água: funciona, eu creio. Justamente isso: boa parte do que a gente consome se baseia em crenças - crença na idoneidade do fabricante, crença na propaganda, nos resultados, nos benefícios, na qualidade, na eficiência...
Num dia sei lá quando, o Dr. Dráuzio Varela examinava pulmões de fumantes e de não fumantes, na televisão. Aí o repórter notou umas manchinhas tipo as sardas de um peixe surubim no que era considerado o pulmão saudável e perguntou do que tratava: o médico disse que eram resíduos de poluição que foram respirados por ele e tal e tal. Isso, sim, assusta, mas sabemos que é real. E quem vai me oferecer um ar melhor? Um purificador de ar que se estenda por onde quer que eu vá? O problema continua sendo um problema coletivo, de ar, de água, de alimentos, de tudo que consumimos com impurezas... Mas, mesmo assim, vivemos.
O que observo, porém, é a forma como os terroristas do comércio fazem a aquisição de um produto parecer não apenas uma necessidade, mas uma questão de vida ou morte.
Perdi meu tempo, mas não perdi meus mil e quinhentos reais... ou dois mil reais (quem sabe se a amizade supera os juros, não é?).
Eu tenho vivido sem coisas essenciais, quanto mais sem purificador de água? Se alguém quiser me vender alguma coisa, se ligue: sou osso duro de roer. E mais: em breve, numa loja perto de você, finalmente você vai encontrar o Spray Repelente de Vendedores Terroristas. Na compra você ganha grátis um Spray Master Repelente de Vendedor da Hailiving, que foi o que me aterrorizou aqui em casa.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Até Luíza, que está no Canadá!


Eu não sou nem doida de dizer que eu não acho engraçadas as celebridades instantâneas. Sou ligada em tudo: me divirto e falo "Menos Luíza, que está no Canadá", porque nunca vi uma bobagem fazer tanto sucesso. Porém, se isso acontece é sinal de que estamos aprendendo a rir mais.
Falando nisso, vi umas montagens incríveis com os slogans oficiais do Governo. Num deles está escrito: "Brasil, um país de todos: menos de Luísa, que está no Canadá"; Vi nas cervejas: "Todo mundo tem um lado Devassa. Menos Luíza, que está no Canadá"; Também tem "Todo mundo odeio o Chris, menos Luíza, que está no Canadá"... e isso deve durar uns dez dias.
Rio com o alarido da mídia, em geral, que todo dia pega um vídeo de uma celebridade se masturbando em frente à webcam... ora,deixa o povo em paz! até parece eles não têm o direito de fazer o que muita gente faz... tá bom que sendo pessoas públicas deveriam ter mais cuidado com os malfeitores e oportunistas, mas desde quando ser ator, ser jogador de futebol traz imunidade contra desejos sexuais e trangressões libidinosas?
Eu nem veria nada disso se eu não vivesse neste planeta, mas vivo é nele e a carapuça do intelectualzinho que está acima do bem e do mal, que finge não ver novela nem Bigbrother também não dá imunidade contra os produtos da indústria cultural enlatada.
Não assisto novelas nem Big Brother, mas quem disse que eu não sei o conteúdo: está nas revistas dos supermercados a que vou, em frente ao caixa, acessível enquanto cozinho esperas nas filas; está nos intervalos do Multishow, no rádio, na casa do vizinho...
Quem morre ouvindo música clássica sabe muito bem o que significa o "Ai, se eu te pego",do Michel Teló; não há como fugir ou negligenciar.
Mas, então, resolvi perturbar dois amigos meus, mestres do Bom Gosto, como diria o Marcelo Nova do Camisa de Vênus, grande banda baiana semi-extinta "since 1900 e bolinhas". Depois deste blablablá de mídia e expoentes do apelo popular,vamos discutir a filosofia de Merleau Ponty.
E por que não? Escolhi uma passagem a respeito do pensamento e sua relação com o tempo. Não foi uma escolha aleatória, mas é que eu insisto que Literatura não sobrevive sem Filosofia e achei que no caso deste filósofo, a sentença se estruturou poeticamente, mostrando a poeticidade da Filosofia:

"Mas a primeira verdade só pode ser uma meia-verdade. Abre para outra coisa. Não haveria nada se não houvesse esse abismo do eu. Entretanto, um abismo não é nada, ele tem suas margens, suas imediações. Pensa-se sempre em algo, sobre, segundo, de acordo com algo, acerca, em sentido contrário de algo. Mesmo a ação de pensar é colhida no ímpeto do ser. Não posso pensar identicamente na mesma coisa por mais de um instante. Por princípio a abertura é imediatamente preenchida, como se o pensamento vivesse em estado nascente. Se se mantém, é através do – é pelo resvalamento que o lança no inatual. Pois há o inatual do esquecimento, mas também o do adquirido. É pelo tempo que meus pensamentos envelhecem, é também por ele que marcam época, que abrem um futuro de pensamento, um ciclo, um campo, que formam juntos um todo, que são um único pensamento, que são eu.
O pensamento não abre brechas no tempo, continua a esteira dos pensamentos precedentes, sem sequer exercer o poder – que presume – de traçá-la, de novo, assim como poderíamos, se quiséssemos, rever a outra encosta da colina: mas, para quê, uma vez que a colina está ali? Para quê me certificar que o meu pensamento de hoje abarca o meu pensamento de ontem? estou ciente disso, já que hoje vejo mais longe. Se penso, não é porque salto do tempo num mundo inteligível, nem porque recrio toda vez a significação a partir do nada; é porque a flecha do tempo arrasta tudo consigo, faz com que os meus pensamento sucessivos sejam, num sentido secundário, simultâneos, ou pelo menos que invadam legitimamente um ao outro. Funciono assim por construção. Estou instalado sobre a pirâmide de tempo que foi eu. Tomo distância, invento-me, mas não sem o meu equipamento temporal, como me movo no mundo, mas não sem a massa desconhecida do meu corpo. O tempo é esse “corpo do espírito” de que falava Valéry. Tempo e pensamento estão emaranhados um no outro. A noite do pensamento é habitada por um clarão do Ser."
(PONTY, Merleau Maurice. Signos. São Paulo: Martins Fontes, 1991, pp. 13-14)

Agora, devido à mistura de temas totalmente distintos, todo mundo vai querer me matar - até Luíza, que está no Canadá!

Direito ao ódio


Não estou mal humorada não, apesar dos queixumes: é que certas chateações encurtam minha paciência. Bem, a essa onda falsa de perdoar todo mundo, pelo menos socialmente, eu não aderi. Não vejo lógica em manter amizade com gente que me sacaneia, com pessoas que eu descobri serem falsas, com contatos inúteis com gente egoísta e ensimesmada, mas tenho que aguentar a torcida, a turma do "deixa disso".
Se eu erro, se tenho culpa no cartório, vou pedir desculpas: se eu puder, levo flores, levo um presentinho e expresso minhas desculpas.
Se a situação for duvidosa,se houver dúvidas, eu peço desculpas se couber desculpa, ainda que qualquer coisa em meu orgulho fique se remexendo. Se errei, reconheço. Se a amizade, porém,é muita cara a mim, se ela valer mais do que eventuais ofensas ou desavenças, olha Mara ali, tentando reatar...
Não é este o caso de agora.
Fico virada nas setecentas porque não permitem sentir ódio. Mas é um ódio sincero e honesto, porque eu nunca odiaria quem nunca me fez nada de mal. Sério: eu antipatizo com algumas pessoas, mas odiar, nunca odiei a um inocente.
As minhas amizades que se desfizeram foram porque, de fato,alguém fez algo contra mim, pelas minhas costas ou se mostrou omisso frente a alguma injustiça, alguma questão. Nunca odiei gratuitamente ninguém.
Sou rancorosa e nunca escondi isso de nenhum amigo meu: da mesma forma que jamais esqueço quem me favoreceu, quem ajudou, quem me acolheu, quem me amparou; duas vezes mais eu não esqueço uma mágoa que me causaram. As mágoas são causadas, não brotam do chão. Logo, são frutos da ação de alguém.
Todos nós temos escolhas. Por que escolher o mal? O que se ganha, necessariamente, ao fazer o mal ao outro? certamente algum tipo de satisfação. E quem se compraz com o mal alheio é porque não gosta do outro. Para quê eu alimentaria contato com gente assim?
Minha ex-amiga me cansou: eu era, para ela, funcional. Minha função era dar apoio, fazer companhia, ajudar a/para alguma coisa, coisa muito longe da gratuita cumplicidade das amizades reais. A cumplicidade pressupõe a predisposição à reciprocidade, não é um reduto de egolatria.
Diante de tudo isso, dizem que já faz dois meses que a gente não se fala, que caberia a mim ir lá, tentar reatar a amizade, porque ela perguntou por mim durante o reveillon e blablablá. E se ela perguntou por mim deve ter sido porque ela estava só, ou porque precisava de hospedagem na praia, ou porque levou um fora homérico, nunca seria por se importar comigo.
Quero o meu direito ao ódio, às mágoas, ao sentimentos sinceros. Sei que vou ouvir muitos hipócritas dizendo que isso faz mal a mim mesma, que é preciso perdoar, enfim, mil coisas do gênero. Deus me livre! para mim é assunto encerrado e sem possibilidades de recorrer da sentença.
Amigo falso é coisa para se guardar embaixo de sete palmos: para mim, está morto. Ali jaz, aqui jazz!

Família é a base que leva à Psicanálise


Que coisa maravilhosa é a família: primeiro grupo social ao qual pertencemos. E aí, mal se nasce vem a interação: as disputas entre irmãos mais velhos e mais novos; entre primos e primas; entre meninos e meninas e isso é só o começo.
Que coisa linda é família na hora do almoço, brigando por comida, fazendo barracos para ver quem vai pegar a coxa e o peito do frango, no caso dos mais pobres, embora não seja regra; humilhando a empregada, dando indiretas nos filhos desordeiros e na filha periguete, no caso dos mais ricos; discutindo quem tem o melhor emprego, quem ganha mais, quem se deu bem na vida, quem tem o carro mais caro, quem escolheu o melhor casamento, no caso dos ainda mais ricos...
Quando finalmente todo mundo envelhece, todo mundo está adulto encaminhado, é hora de brigar pela herança, lógico.
Já vi família quebrando o pau, com filho contra pai, irmão contra irmão e todos contra o cachorro, que sempre leva a pior. Família se une mesmo é na hora de brigar com o vizinho que falou duas palavras contra qualquer um dos seus membros, porque o direito de brigar, de fazer barraco, de xingar e de duvidar da conduta de pai, irmãos, mães, filhos, primos, tios, seja lá quem que for, é exclusividade do clã.
Família é uma coisa linda, mas é a coisa mais linda no comercial de margarina.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Travessia - para Tatiana


Ah, Tatiana, eu estou triste. Você ainda nem foi e eu já antecipo minhas saudades.
Sabe no post anterior, quando eu citei que "Amigo é coisa para se guardar embaixo de sete chaves"? eu errei. Na verdade, errei na música do Milton Nascimento, porque a música certa seria Travessia, a que está logo ali abaixo.
Digo sincera e tranquilamente: "Forte eu sou, mas não tem jeito: hoje eu tenho que chorar". Poxa, vou ficar mais triste quando o dia de sua ida chegar.
Como heterossexuais convictas, sabemos que o sujeito poético da música não vai se confundir com outra coisa senão com as saudades dos amigos, mas já demos boas risadas das colegas que visitaram a Ilha de Lesbos e por desespero, ficaram por lá... Vou torcer para que tenha muitos orientais no seu campus, na sua turma... Mas, se não tiver, em julho a gente vai à Liberdade, em São Paulo, compensar tão absurda falta... fica a imagem do post como homenagem a você e às suas preferências (também acho que eles são bonitos, mas, você sabe, os argentinos...)

Quando você foi embora fez-se noite em meu viver
Forte eu sou, mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho para falar

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar?
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu canto, vou querer me matar.

Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu canto, vou querer me matar

O ano em que fizemos contato


Não vou esquecer que o dia 06 de fevereiro vai ser uma terça-feira. No fundo, espero que até que este dia chegue, tenham se passado uns dois anos e que não seja a tão poucas semanas de agora. Minha amiga vai embora, cuidar da vida, refazer a vida, num doutorado lá na UFMG.
Eu que disse: “Largue tudo e vá. Qual é a dúvida?”, também sinto muito pela distância, pela amiga que vai literalmente de mala e cuia para outras paragens. E por mais que a gente fale que a distância é só geográfica, gosto de tê-la por perto e sei que também para ela há um misto de excitação pela novidade e dor pelos que ficam...
Tudo bem que não vai durar a vida toda e que um avião e uns vinténs resolvem a saudade, mas na vida prática isso não atenua nada.
Eu quis ir lá, ao aeroporto, no dia da viagem. Ela me disse que não, que não teria despedidas. E por conhecê-la, sei que é autodefesa.
Um dia ela me mostrou que já tínhamos quarenta anos tantos anos antes de fazer os quarenta anos que ainda não temos, porque tornamos isso muito importante, um divisor de águas, como bem diz nosso desgastado clichê. Ela pôs juízo em minha cabeça, quando eu poderia ter explodido; ela já me fez saltar do precipício e agüentar a queda, ela já me ouviu quando estive à beira do precipício; ela já me deu o mau conselho que o meu superego precisava para descansar e não há, não pode haver amizade sem cumplicidade...
Um capítulo especial para o estacionamento do Shopping Dom Pedro, em Campinas, quando em festa eu encerrei uma história – ela, minha amiga, me esperou e pegamos um temporal do outro mundo que quase não nos deixa sair do shopping até à meia-noite.
E por isso Tatiana é a melhor pessoa do mundo com quem se pode dividir uma viagem ou um segredo; ou as viagens e seus segredos.
Quem mais crítica e capaz de discernir as cidades do que Tatiana? Quem pode compartilhar de olhares tão complexos sobre os lugares em que estivemos e gerenciar minhas crises de impaciência? Aliás, quem mais seria tão paciente a ponto de entender que eu estava largando ali minhas obrigações com ela porque eu precisava dar uns amassos em que me esperava, num outro momento, num outro lugar, em outra situação?
Minha amiga é brilhante. Tenho orgulho do seu porte, de suas posturas, de sua coragem, do respeito conquistado... E sou grata pelo cuidado e pelo carinho que ela teve por mim, sempre... E eu , se pudesse, me agarrava a ela para que ela não fosse, não por não lhe desejar o bem, mas por saber que vou sentir falta de nossas horas de conversa.
“Amigo é coisa para se guardar embaixo de sete chaves” e, por mim, para se guardar numa cela de segurança máxima... O coração é pouco para guardar um amigo.
Ela me deu as pancadas que eu precisava, também: para acordar, para decidir, para fazer, parar arriscar, para tomar iniciativas... Mas, até hoje, Tatiana ainda diz que eu excluo os homens, que eu só gosto de um determinado tipo... Desconfio que ela me acha é chata para karalho em questões de namoro. Com ela aprendi a Lei do Carcará, isto é, "Carcará pega, mata e come!" e vou tentando ser menos chata e explicar melhor um item, por causa disso: Uma coisa é o cara com quem a gente está saindo; outra coisa é o cara com quem a gente está ficando. Não saio nem fico com ninguém, que fique claro. E é por isso que ela atesta para os devidos fins o quanto eu sou chata e excludente.
Dia 06 de fevereiro eu estarei sem rumo, porque tatiana sabe tudo sobre todos os metrôs do mundo e sei que a gente só vai se ver para ir a São Paulo, sob qualquer pretexto acadêmico.
A imagem do post é uma foto que ela tirou de mim, em São Paulo, no Museu da Língua Portuguesa, no ano em que fizemos contato.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Video games



Da primeira em vez que ouvi Video games, da Lana Del Rey, foi paixão imediata. Isso, sem contar o clipe, que é nostálgico e também apaixonante, por ser despretensioso. Fora o fato da cantora ser linda, com uma beleza bem distante da plasticidade chata da produção em série das caras femininas da mídia e ter uma incrível doçura na voz.

Swinging in the backyard
Pull up in your fast car
Whistling my name
Open up a beer
And you take it over here
And play a video game

I'm in his favorite sun dress
Watching me get undressed
Take that body downtown
I say you the bestest
Lean in for a big kiss
Put his favorite perfume on

Go play a video game

It's you, it's you, it's all for you
Everything I do, I tell you all the time
Heaven is a place on earth with you
Tell me all the things you want to do
I heard that you like the bad girls
Honey, is that true?
It's better than I ever even knew
They say that the world was built for two
Only worth living if somebody is loving you
Baby, now you do

Singing in the old bars
Swinging with the old stars
Living for the fame
Kissing in the blue dark
Playing pool and wild darts
Video games

He holds me in his big arms
Drunk and I am seeing stars
This is all I think of
Watching all our friends fall
In and out of Old Paul's
This is my idea of fun

Playing video games

It's you, it's you, it's all for you
Everything I do, I tell you all the time
Heaven is a place on earth with you
Tell me all the things you want to do
I heard that you like the bad girls
Honey, is that true?
It's better than I ever even knew
They say that the world was built for two
Only worth living if somebody is loving you
Baby, now you do

(Música especialmente didicada a um lindo amigo meu, de Oceanografia)

Escreveu, não leu


Somente ontem eu soube que um nosso professor bambambã que sempre citou James Joyce, jamais leu o Ulisses. Poxa, foi chocante! Sei que coloquei tudo no plano da falsidade ideológica, uma vez que o professor carregava bandeiras e defendia causas, mostrando a superioridade da palavra poética na estruturação daquela narrativa. Oh, como doeu! Ele veio admitir isso agora, por estes tempos... Mas não é vergonha não ter lido todos os livros do mundo.
Se o pensamento de Harold Bloom é elitista para a maioria das pessoas, conforme dizem acerca do que comporta O cânone Ocidental, não deixa de ser realidade que quem lê faz escolhas. As escolhas, acrescento eu, são permeadas pela recomendação, pela curiosidade, pela oportunidade, pela empatia e pelo fetiche do nome do autor ou da obra. Nem estou colocando aqui as escolhas compulsórias – ta, é contraditório – no sentido das obrigações escolares e das obrigações morais, mas muitas vezes se diz que é preciso escolher uma obra da literatura africana, da portuguesa, da brasileira... Ou se colocam dez títulos para que, dentre estes, as escolhas sejam feitas. Chamo de escolhas compulsórias, porque há a obrigação e as alternativas são circunscritas.
Argumenta Harold Bloom que quem lê tem que fazer escolhas porque não há tempo para ler tudo, para ler todos os livros do mundo. Portanto, cabe ler os melhores. E, assim, os problemas ficam em torno do conceito de bom e ruim, de melhor e de pior, em sua porção sócio-política, porque se depreende que os melhores são aqueles livros escritos ou indicados pela elite e que, por sua permanência ao longo do tempo, se tornaram canônico.
Entramos na lógica da perda do tempo: é terrível perder tempo com um livro ruim. O caso é que há livro ruim de autores bons, embora haver livros bons de autores ruins seja bem difícil. Falar de bom e de mau em termos de julgamentos, desconectado de discussões politicamente engajadas, é admitir que, sim, temos preferências e temos ideia do que é feio, do que é bonito, do que é bom e do que é ruim. Há distinções e nós temos noção disso.
Lembrei que a VH1 já fez mil tops sobre “bandas de um só hit”: é, elas existem. E há autores de um livro só, também... Até meu querido Millan Kundera eu desconfio que possa integrar essa lista. E olha que ele é o cara que escreveu o livro que eu mais admiro, aquele livro que posso chamar de livro da minha vida, que é A insustentável leveza do ser. Ou pode ser que o livro seja tão bom que nenhuma outra obra do mesmo autor pode se equiparar a ele.
Bem, recentemente uns amigos meus vieram passar uns dias aqui em casa e perguntaram se eu já li todos os livros que estão na minha estante. Sim, li quase todos, por completo, mas não daria para ler todos. E só fui capaz de ler tantos títulos porque, na verdade, o acervo é materialmente novo, mas li cada um deles em meu tempo de universitária de graduação – e naquela dureza, eu só tinha xérox ou livros da Biblioteca Central da UEFS.
Não invalida você dar um parecer sobre um livro que você não conhece. Temos nossos pré-conceitos, sim. E tanto é assim que até o “Não li e não gostei” dito por não sei quem, entrou para nossas máximas populares. O que acho condenável é a falta de idoneidade intelectual que faz com que a pessoa afirme ter lido o que não leu, que faça da obra não lida uma bandeira em causa própria ou que finja ser leitor dos grandes nomes consagrados apenas para fazer dessa suposta leitura um cartão de acesso a sei lá o quê que dá prestígio e confere um status de cultura ou de capital simbólico...
Orelhas de livros, resenhas e resumos são recursos que muitos picaretas usam. Sinopses, resenhas, resumos e orelhas de livros são meramente informativos, servem para guiar uma escolha, não substituem a leitura. Como meios auxiliares, serão sempre bem vindos e necessários, o problema é justamente o mau uso de tudo isso...ah, meu blablablá é porque eu admiro o cara, o professor bambambã e agora que ele não passou no teste de fidelidade de leitura, estou com a cara no chão... E o cara é um bruta escritor! Pois é, escreveu, não leu.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Oferendas


É cada tipo de oferenda que a gente vê por aí, não é? o que será que a pessoa mentalizou ao jogar isso no mar? ou será que alguém perdeu esse objeto íntimo e discreto na praia? Aliás, é o mar que anda poluído ou é a minha mente? ai, ai...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Socialismo Etílico e outras histórias


Héber acha que o remédio para a minha vida é o álcool. Eu concordo. Contudo, meu problema é não suportar um drink, não ter resistência fisiológica para 10 ml de qualquer coisa.
Sorte a minha que, das poucas vezes em que me arrisquei nas aventuras alcoólicas, tinha um parente, um primo por perto: daí ele explicava aos demais que aquele meu quadro não era brincadeira, mostrava que minha pressão arterial tinha caído e que, portanto, era verdade o meu queixume de que havia buracos no chão e que tudo rodava muito rápido, que eu ficava gelada e não era pelo poder refrescante da menta.
Mas todo mundo acha isso esquisito. Só Manoela entende, porque ela sofre sintomas idênticos com outras substâncias. Quem tem intolerância, já era.
Mas, por mim, eu beberia até confundir troglodita com poliglota; fuzileiro naval com funileiro nasal; e ficaria rindo de tudo, especialmente porque eu lembro muito bem que minhas pernas ficam anestesiadas e eu rio de mim.
Há uns amigos meus, de meu tempo de universidade, que ficavam falando que invejavam tanto barato, tanta sensação que me acometia e que eles consideram “uma viagem”.
Recentemente descobri que as meninas jogam buraco apostando copos de água. Pelo amor de Deus! Olha que tortura: cada rodada perdida vale uma jarra de um litro, a ser bebida de uma única vez. A ida ao banheiro fica proibida por uma hora... Pessoas assim precisam de álcool para fazer bobagens?
Agora à tarde estava passando um curta-metragem/documentário sobre boteco, bebidas e afins, e o sujeito declarou que acreditava no Socialismo Etílico.
Eu acredito também. O Socialismo Utópico, como era Utopia, isto é, “lugar que não existe”, é impossível. Mas o Socialismo Etílico ele garantiu que acabaria com a luta de classes, porque uma vez entupidos de álcool, o bêbado rico conversa com o bêbado pobre em pé de igualdade; e eu acrescentaria que c* de bêbado não tem dono, nem classe.
A assunção plena do Socialismo Etílico é essa: C* de bêbado não tem dono! Abaixo a propriedade privada! - privada, só se for para vomitar.
Vou repetir a velha lição em Latim, que o Professor Clodoaldo me ensinou, mas que atribuiu a uns alunos assanhadinhos de Direito: Anus beborum non dominum habet. Pode traduzir que vai dar na mesma expressão popular que eu citei poucas linhas acima.
Pensem bem na expressão: “C* de bêbado não tem dono”. Não é uma maravilha? Estando bêbado, você não pertence mais a si mesmo, está à toa na vida, socializou até o corpo e suas reentrâncias, orifícios e partes improdutivas em geral.
Dizia a minha tia, que álcool causava problemas nas pernas das mulheres: abriam a toda hora. Minha mega-amiga, um dia, tomou uma taça de vinho lá no apartamento da gente, quando eu tinha chamado um convidado que morava no Porto da Barra, para resolver uns problemas de ego ferido pelo amigo dele, meu ex-namorado. Minha amiga, então, depois de escolher os CDs adequados ao momento, me veio com uma de “eu não respondo por mim”... abafa o caso que eu não vou contar o que veio depois. Mas conto o que veio depois do depois: o namorado dela, o Cornivaldo Galheiras, resolveu fazer uma surpresa. Ele morava aqui em Feira e nós duas tínhamos alugado o apartamento no Farol porque detestávamos trabalhar em Camaçari e dormir por lá...
(PAUSA FILOSÓFICA: Rapaz, eu poderia ter dito que chamei o menino lá porque eu quis conhecer a vizinhança, né? Bom, fica então essa versão: chamei Ernesto para me entrosar com a vizinhança– se pensaram no Che Guevara, que também se chamava Ernesto, sugiro dividir as sílabas... KKK!!!)
Só sei que de repente o miserável do Cornivaldo telefonou dizendo que estava chegando, e este “chegando” era coisa de poucos minutos, e daí em diante a gente se comportou como baratas que fogem quando a luz acende. Convocar a naturalidade é fundamental nessas horas.
Alguma coisa se passou pela cabeça do Cornivaldo – deve ter sido o chifre mesmo. Devo dizer que não deu (ui!!!) para salvar a minha amiga desta vez porque eu já estava de saco cheio de inventar que os rolos dela eram casos meus. O Cornivaldo achava que eu era a maior periguete do pedaço.
Esta, sim, é uma mistura perigosa: álcool e corno não devem ocupar o mesmo espaço. Menino, o caso é sério e as conseqüências são irreversíveis. Tem esse negócio do efeito específico: uns ficam generosos, outros ficam sociáveis, tem que fique carinhoso, tem quem fique emotivo, mas corno que bebe tende a ganhar coragem. E corno valente risca faca e troca tapas.
Mas, se eu bebesse cerveja eu não pagava Psicanálise. Eu pagava mico, mas não pagaria psicanálise mesmo! E o melhor da bebedeira é essa noção de que se bebe para esquecer... Comigo deu tão certo, que até hoje eu me esqueci de beber.
Quem não bebe parece chato, ortodoxo, cristão ortodoxo ou paranóico naturalista. De todos os tipos, o que mais detesto é este último: povinho idiota que quer impedir a gente de comer pão, de comer carne, de comer açúcar, de comer o próximo, porque tudo isso faz mal e reduz a expectativa de vida. Ora, me mate hoje, mas não tire o sal, o açúcar e o pão da minha vida... E se o próximo for interessante, eu topo entrar num acordo. Onde já se viu? Para que porcaria eu iria querer viver 110 anos, 80, 70, 60, sem os prazeres da gula? Eu nem sou muito de comer carne, mas sou a favor dos prazeres da carne, sim. Vai dizer que não vale a pena a chuleta, a maminha, a picanha e bons músculos? E eu só não citei a lingüiça porque tem gente maldosa que lê esse blog e depois me telefona enxergando coisas que não existem.
Não beber reduz minha vida social, subtrai oportunidades amorosas, impede que eu seja convidada para certos lugares e me deixa embaraçada quando o cara me convida para um drink ou para um vinho. Geralmente, digo que não bebo e ele interpreta como rejeição... Teve um que falou com um amigo meu que não ia sair comigo se eu não bebesse, porque seria difícil que eu encarasse ficar com ele de cara limpa...E o inseguro era gato, inteligente e interessante...tudo bem que ele parecia saído do The BigBang Theory, mas eu não precisava de álcool para ficar com ele, eu precisava de pretexto.
Ah, uma dose de coragem!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Cumplicidade


Roubei esta imagem lá do blog de Júlio Ávila: achei o texto iconográfico apaixonante. Neste caso, sim, a imagem vale mais do que mil palavras.
E assumindo o roubo do conteúdo implícito da mensagem, agradeço a colaboração de todos os meus amigos, em especial aos que eu chamo de "chegados", que são os que conhecem o que há de bom e o que há de mal em mim.
Aproveitando o ensejo, também, agradeço aos meus cúmplices e aos encorajadores que sabem muito bem que eu sou tímida e sem iniciativa nos relacionamentos. A vocês que deram uma força em minha vida amorosa, aos que deram meu telefone e meu e-mail a quem me interessava,a os que tornaram possíveis algumas aproximações, aos que me disseram "Vá! e se não der certo, na volta a gente conserta tudo"; aos que já me meteram num avião para Campinas ou num ônibus até Porto Seguro, aos que me mostraram o caminho da Perdição e me desviaram da Rua da Amargura, muito obrigada!

Arqueologia dos prazeres: encantos e tormentos


“O menino completou a taça de Sócrates com o vinho temperado por Erixímaco. O filósofo verteu outra vez a mistura lentamente pela garganta, que ainda estava quente do discurso pronunciado. Do outro lado da sala, despontava Alcebíades, que chegava tarde ao banquete de Agatão. Retivera-o a festa dos atores e do coro, que também resolveram estender por mais um dia as comemorações pelo sucesso da sua tragédia. Um tanto distraído pelo que já bebera, Alcebíades demorou alguns instantes para encontrar o anfitrião e, reclinado ao seu lado, Sócrates. O ciúme acendeu-se no sangue já bem aquecido da bebida, mas o belo rapaz conteve o seu ânimo, estendendo-se no leito junto aos dois varões. Apenas inteirou-se das regras estabelecidas para as bebidas e as falas naquele convívio, e pediu a palavra para, por sua vez, fazer seu elogio ao Amor. No vinho apareceu a verdade.”
(Cf. Platão, Banquete, 217 IN: SANTORO, Fernando. Arqueologia dos Prazeres. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p. 15).
Acima está a parte introdutória das discussões propostas por Fernando Santoro em Arqueologia dos Prazeres.
Quem, a partir do título, deduziu aproximações e ressignificações dos postulados de Foucault, acertou: tanto vai à exploração filosófica da Arqueologia dos saberes quanto passa pela História da sexualidade. Logicamente, os prazeres que norteiam o assunto são de ordem variada, mas passam em maior proporção pelos prazeres do sexo. Há, portanto, o prazer da música e das artes, os prazeres do espírito, os falsos prazeres e muitos outros prazeres. Uma parte importante está no capítulo V, que trata da Catártica:
“O prazer, seja entre os que o defendiam ou entre os que o temiam, sempre contou com a questão da pureza entre os seus temas de reflexão e com a catarse entre as suas práticas mais intensas. Depurações, purificações, purgações, expurgações estão nos discursos filosóficos desde as mais remotas manifestações órficas, relacionando de modo íntimo as experiências do saber, da salvação, da saúde e do prazer. Não apenas no domínio da arte erótica é questão de prazer puro ou impuro. Também a arte poética produz um prazer depurativo característico na catarse do expectador. As religiões iniciáticas já buscavam o êxtase na purificação. E contrariamente, também, o discurso contra o prazer encontra sentido nas purificações dos desejos, nas expurgações das paixões. Textualmente, porém, a consideração acerca do puro (katharós), relacionada aos prazeres, vem a ganhar espaço decisivo na obra de Platão.” (Idem, pp. 143-144).
A descrição do Banquete aponta para as relações dos homens entre si, do Amor só possível, numa sociedade misógina como a da Grécia, entre os iguais, ou seja, entre os homens, de homem para homem. O caráter depreciativo que acompanha as visões da homossexualidade não imperava ali, diferentemente do que ocorre até os dias presentes.
Ao discutir a Catártica, acentua-se a necessidade do prazer e a forma como as sociedades trataram de traçar a condenação ao sexo ou a conceber e determinar a quem cabe ou não ter prazer. Os ideais de pureza, certo, errado, normativização e regras também estão sob o manto da discussão.
No caso das mulheres, nós já sabemos como se tratam e como se chamam àquelas que assumem desejos e vontades de prazeres sexuais.
Ontem a minha amiga mais íntima – no sentido de que conversamos pontos, vírgulas e reticências das nossas vidas – estava dizendo que a paixão erótica que ela sente pelo sujeito errado, há anos, se deve à sintonia sexual deles.
Em sua cara de pau extrema, ela disse que eu certamente sentiria o mesmo que ela, já que o sujeito, em sua competência sexual, degustava o corpo feminino como se fosse alguém que está comendo e que quer todos os sabores, cada detalhe, cada peculiaridade. E por me conhecer e entender quando eu digo que sexo ruim não é sexo e que odeio sexo genital, ela se convenceu do ponto de vista apresentado, porque, para mim, de fato, sexo é uma potencialidade porque o corpo é uma potencialidade.
Costumo postar imagens de homens nus por aqui: primeiro porque não existe este mercado de sexo para mulheres (é para gays e para homens heterossexuais); segundo porque acho interessante e bonito e, terceiro, porque acho incrível o corpo do homem. Portanto, um corpo de homem não se resume ao pênis, mas a tudo mais que ali está ao alcance dos cinco sentidos e de outros sentidos que, quiçá, nós nem detectamos ainda. Particularmente, acredito no sentido imaginativo, também. Deste modo, se pensando num homem e imaginando o que sequer conheço, ele desperta algo em mim, certamente ultrapassou os cinco sentidos.
Mas, então, adoro as mãos: gosto da leveza das mãos carinhosas do homem, da textura, do calor, do toque, da firmeza, da mão que aperta a minha mão e da mão que acaricia os meus cabelos ou que fica lendo o meu corpo procurando coisas e descobrindo coisas. Claro, não é qualquer homem que tem mãos hábeis. E não é qualquer mão que me (nos) interessa – infelizmente, na exclusão vão as mãos peludas, as de unhas pretas, as de unhas grandes ou as de ridículas unhas dos dedos mínimos grandes, as que portam anéis (oh, perdão, odeio homens que usam anéis!)...
Há homens que têm pescoços lindos, parecem príncipes, têm postura, têm uma altivez na sua simplicidade que, de longe, já são totalmente sexy. E há os que sussurram maravilhosamente bem e, então, a voz também faz parte do pacote avaliado.
E eu ficaria 5 anos aqui enumerando o que há de interessante e de potencialmente erótico no corpo de um homem. Isso, excluindo os fetiches porque se eu fosse incluí-los, teria que falar de tornozelos (que eu acho lindo, fofo, eu olho mesmo!) e de sardas (ah, sardas são meu ponto fraco) e cabelos (cabelos limpos, leves, cheirando a xampu... cabelos que a gente acaricia e os fios acariciam as mãos da gente)... Mas, sabendo que essa discussão é interminável, penso que os homens começaram a acreditar que sexo é só uma coisa genital. Por conta disso, deixaram de descobrir a si mesmos e deixaram as mulheres na mão (KKK! Nas mãos do deus Onam, porque é melhor um sexo bom consigo mesmo a um sexo compartilhado e ruim, sem sabor). Aí a máxima popular de que “Amor de p***, quando bate fica” se torna real.
Tem as exceções que percebem a dimensão plural de um corpo e não acatam os modelos deterministas do sexo falocêntrico, restrito, exclusivo...mas eles são exceções.
Já é tão difícil encontrar heterossexuais! E encontrar homens heterossexuais que sejam sábios com o prazer, que tenham o sexo como ars erótica, conforme propõe Foucault, aí é um achado, uma raridade.
Quando a gente diz que um homem é gostoso, é o nosso ato de comer com os olhos que fez com quem antevíssemos o sabor - aqueles que assim chamamos, nunca vamos lá dizer isso pessoalmente, fica tudo na imaginação mesmo. E acho incrível o homem que consegue ativar nossa imaginação.
Fantasias e estados de tensão sexual também compõem a sexualidade: flerte é uma delícia, esperas, insinuações, desejos e até as fantasias que nunca passarão de fantasias...
Não tenho nada contra fazer a coisa certa com a pessoa errada, fazer "coisas erradas " com a pessoa certa, assumir desejos, propor situações... o limite é o bem-estar e o respeito. E aí, mais uma vez vão os parabéns aos cafajestes - porque estes fazem as mulheres de gato-e-sapato porque conheceram muitas mulheres e fizeram do contato um aprendizado. Infelizmente, cafajeste é convencido e vaidoso, tende a se aproximar das mulheres para tê-las como adereço da vaidade, mas não dá para negar a competência dos cafajestes, porque eles percebem que as mulheres têm gostos plurais e nãos e furtam a considerar cada mulher como uma descoberta, assim como não inibem as mulheres que estão a fim de fazer descobertas no corpo deles. O resto é sexo de mídia, da indústria, da propaganda, da quantificação idiota, da mecanização de tudo que reduz nossa capacidade de sentir.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Uma noite com eles


Comer o pão que o Diabo amassou não vai matar a minha fome. E quando digo “Desta água não beberei”, é porque sei que terei que aturar a sede, portanto assumo as minhas escolhas e sou firme quanto a elas. E foi o que ficamos discutindo ontem à noite na casa de Héber. Na verdade, discutimos coisas pessoais e coisas coletivas que parecem pessoais...
Foi uma noite bastante feliz: ainda somos tão amigos quanto éramos no tempo em que nos preparávamos para o vestibular, estudando na Biblioteca Municipal daqui. Eu, ele, Renê, Nanno, Arquimedes e uma galera de gente que acabou se conhecendo e não se largando mais, nem largando mais os livros e as boas discussões... E passe quanto tempo for, vendo mais uns do que outros, nosso encontro é sempre profícuo.
Alguns se tornaram literalmente ricos porque fizeram os concursos certos, foram para longe, fizeram boas escolhas e são tão gente quanto eram antes, com a diferença da plena tranqüilidade financeira.
Considero a noite de ontem como um segundo réveillon, talvez mais verdadeiro do que aquele da noite do 31 de dezembro.
Gente de carne e osso, que pena, sofre, chora, ri, se regozija, sonha, investe e erra: faz tanto tempo que eu só vejo robôs em minha frente que, talvez, por isso, eu tenha me sentido tão bem com eles – nós, uns cafés, umas conversas, os pais de Héber – de quem nós gostamos muito – brincadeiras, histórias, memórias, bobagens e muita discussão consistente e sincera.
Acabamos na pauta sobre a felicidade. Todos nós já fomos felizes várias vezes e não estou falando daquela felicidade contida, da alegria calma das conquistas ou da paz de espírito por tudo estar bem, mas daquela felicidade que dá medo.
Pois é, a felicidade plena é assustadora. Não é só desejar e ter, não é só chegar ao objetivo é experimentar um troço que eu duvido que haja qualquer droga que reproduza ou que a sintetize.
Todos nós tivemos medo dessa felicidade, mas nosso medo era por saber que iria acabar. Colocar os pés no Paraíso é uma experiência que a gente sabe que tem dia, hora, cronômetro para acabar.
Até os médicos já disseram que seja qual for a felicidade – até mesmo as que vêm da paixão – precisam ser mesmo datadas porque nosso corpo não suportaria o prolongar de tanta endorfina, adrenalina, excitação, nervosismo, estado de atenção, dentre outras reações. A felicidade vicia, eu sei... Mas quem tem escudo contra ela? E quem vai querer desperdiçar felicidade? É impossível não ter medo da felicidade.
Agora foi que eu vi que, sei lá por que, nunca conheci mulheres na Biblioteca. KKK! E sei que elas estavam lá, mas os meninos estudavam Física e me interessavam, claro... Tudo mera coincidência, já que eu tinha amigas do colégio e lá eram só os amigos meninos que se aproximavam...
Namorei um deles,aqui não citado, como não poderia deixar de ser entre tanta gente desejante junto e antes de se instaurar o sentimento de amizade; e os demais se tornaram o que são até hoje: meus grandessíssimo e respeitáveis amigos.
Lembramos das roubadas em que já nos metemos, nos congressos, nas festas, nos programas de índios que já fizemos... E quem diria que aquela dureza toda um dia iria virar piada? E quem diria que todas as pindaíbas, crises e vicissitudes um dia seria risíveis? A cumplicidade permanece.
Falamos sobre as ilusões de hoje, onde “amigos” e seguidores quantificáveis criam ilusões de companhia e acabam revelando as outras tentativas de aproximar os seres humanos em comunidades: até o estabelecimento das comunidades virtuais (de qualquer tipo, incluindo as redes sociais), passamos por vilas,aldeias, sociedades alternativas, villages, condomínios e todo tipo de associação que pudesse dar a sensação de inclusão e acolhimento - Igrejas, congregações, torcidas organizadas... tanto faz!
Numa sociedade em que a iniciativa privada, a ação do indivíduo mostra que cada um é problema de si mesmo (daí a proliferação da auto-ajuda, porque ou você ajuda a si mesmo ou ninguém quer te ajudar) e até a Psicanálise mostra que é você quem deve tirar suas conclusões e aprender a ler seu texto interior, poucos de nós percebe que isso que parece particular e individual se multiplica nas pessoas, é numericamente expressivo, todo mundo tem, todo mundo sente. Logo, o que parece ser um problema individual é, na verdade, um problema coletivo.
Não somos amigos porque constituímos uma associação ou cooperativa para resolver problemas comuns. Aconteceu, porém, de sermos irmanados e cúmplices, até mesmo na hora de comer o pão que o Diabo amassou.
Tem uma água que eu digo que não beberei, mas não porque não mate a minha sede. Aliás,o problema é que a sede sempre se renova. Contudo, as fontes da água daqueles olhos cor de violeta às vezes me intoxicam, dão efeitos colaterais como: confusão mental, aceleração cardíaca, distúrbios da percepção, alterações do sono, ilusões, dentre outros efeitos, além de me viciar.
E por falar nele, que me perturbou o domingo inteiro e até o meio-dia desta segunda-feira me mandava torpedos SMS com aquele dom de iludir que eu conheço tão bem, meu amigo Abílio resolveu nomear o filho dele de Thales. Diante disso eu deveria ser mais crítica com as minhas amizades...Onde já se viu?

Promessas possíveis


Há coisas, há setores nos quais eu não sou firme, eu não me sinto ninguém, eu peso e me deixo abater pelo fardo da chantagem emocional que eu sei que virá. Dizem que nós, os neuróticos, sofremos bastante com as nossas faltas morais e é isso que nos faz neuróticos e normais, ao contrário dos psicopatas que não estão nem aí para ninguém.
Sempre relembro, com auto-ironia, que o carneiro que simboliza Áries bate a cabeça contra a parede, dá marradas, insiste, mesmo que isso vá lhe causar dores de cabeça – e se recorro à astrologia é porque humana e racionalmente certas coisas são inexplicáveis, certas repetições são imperdoáveis, certas inércias são incompatíveis com o que sou e é o tipo de coisa que contradiz quem eu sou e como eu sou. Melhor pensar que é porque sou de Áries.
Claro, resolver a vida dos outros é sempre mais fácil: sabemos o que deve ser feito e como deve ser feito. Esta frieza que dá a objetividade e a pronta resolução acontece porque nosso envolvimento emocional e psicológico com as coisas é parcial – afinal, é a vida dos outros, dos nossos amigos, de gente que amamos e que sabemos o que elas precisam e merecem. Mas tem um negócio chato nos problemas: quanto mais a gente convive com eles, quanto mais a gente arrasta cada problema ao longo da vida, mais a gente tende a criar uma casca de conformismo. Foi assim com este caso e é assim com a porcaria do tijolo do muro que eu tinha que destruir; destruí, mas fiquei até hoje catando coisas e fragmentos sob os escombros. E ali era outro caso.
Claro, quem fala que é possível vencer alguém pelo cansaço, não errou: como cansa convencer alguém de que você não o quer; que a relação não está certa, que nada está bem...
Eu já pensei em por, literalmente, um Oceano (Atlântico) de distância entre nós, mas acho que ele atravessaria a nado. Não faria isso por me amar, mas pela obsessão, pela teimosia, pelo desafio, porque tem sido assim ao longo dos anos e eu, claro, morro de pena, explodo em piedade do auto-flagelamento daquele ser humano.
Quando eu percebo que houve gente com muito maior importância emocional para mim e que eu sequer pronuncio o nome ou dou um telefonema, percebo também que a repetição e inércia a que me refiro devem ter bases patológicas. Talvez eu volte correndo neste mês para a Psicanálise, porque as coisas já se arrastaram demais.
Não entendo a outra parte de ironia da vida da gente: Por que quem quer a gente não é quem a gente quer? E onde vai parar a dignidade dessas pessoas?
Recentemente eu estive com um grande amigo – de outro núcleo, que não esse da Biblioteca - e a gente estava discutindo o fato de sermos tão amigos, tão “feitos um para o outro” e sermos, ainda assim, desde sempre, amigos fraternais.
Depois foi ele quem discutiu o comportamento de um outro amigo meu que se sentiu ofendido por eu ter por ele apenas sentimentos de amizade. E o exercício desse ser humano é interessante: num dia ele me conta que está tendo um tórrido caso com uma aluna; no outro, comenta que o pai dele me adora e como a mãe dele “sentiu” que havia algo entre nós; o quanto nos ajustamos nas discussões, nas preferências, nos destinos e como sempre fui presente na vida dele. Ora, meu Deus do Céu, do que será que ele pensa que uma amizade é feita? Companheirismo, solidariedade e cumplicidade a gente tem mesmo com os amigos... E ele acha que eu não vejo que somos pares perfeitos. Todos os esforços dele são para despertar meus ciúmes, meus supostos sentimentos que eu não vejo...
Então, como convém nos inícios de ano, lá vou eu traçar uma meta e fazer uma promessa a mim mesma: eu prometo varrer os últimos vestígios do muro que eu derrubei, limpando, inclusive, os escombros e os entulhos e prometo solucionar meu problema relativo ao ser humano que eu não quero – não quero como coisa alguma, porque nossa amizade sempre será manipulada por ele.
Não vou estabelecer um prazo, porque eu desejo resolver isso depois de amanhã, mas não vai ser possível. E não quero que seja algo reversível por lágrimas e lamentos, nem quero suportar a base aliada dele ligando para mim, suplicando, ajudando a dobrar os meus joelhos em conformismo. Como dizemos nos tribunais, na condição de testemunhas, “assim o prometo”!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Céu de Santo Amaro


Na segunda-feira, antes de eu ir à praia, começou a tocar Céu de Santo Amaro no rádio. Era a versão em que Caetano Veloso canta com Flávio Venturini: lindo, lindo, lindo! Mas vou confessar que esta, para mim, é a música mais triste do planeta terra.
É uma música bonita, que sensibiliza, mas que põe para fora todos os meus lutos: quando eu ouço eu me sinto em perda, eu sinto como se alguém que eu amo morreu ou está morrendo. Resumindo: é, literalmente, o tipo da beleza que dói.
Céu de Santo Amaro reverencia o céu da cidade do Recôncavo Baiano em que Caetano Veloso nasceu, mas a imagem que eu escolhi é do meu arquivo pessoal e traz o céu de Maraú, num pôr-do-sol.
Nunca coloquei os meus pés em Maraú: é que o Ex-Grande Amor da Minha Vida vai frequentemente para lá, para a casa da irmã dele, e acha que é o céu mais lindo do mundo. E aí ele disse, um dia, que esta era a forma que ele havia encontrado não para provar que estava certo, mas para me dar o céu, como eu merecia... - Deixa para lá a racionalidade que nós acionamos ante um apelo tão óbvio e barato: que valha o encantamento do efeito de verdade da gostosa ilusão de ter me sentido amada.
E a música nunca fez parte do nosso repertório juntos - livre associação mesmo.

Olho para o céu
Tantas estrelas dizendo da imensidão
Do universo em nós
A força desse amor
Nos invadiu...
Com ela veio a paz, toda beleza de sentir
Que para sempre uma estrela vai dizer
Simplesmente amo você...

Meu amor
Vou lhe dizer
Quero você
Com a alegria de um pássaro
Em busca de outro verão

Na noite do sertão
Meu coração só quer bater por ti
E eu me coloco em tuas mãos
Para sentir todo o carinho que sonhei
Nós somos rainha e rei

Na noite do sertão
Meu coração só quer bater por ti
E eu me coloco em tuas mãos
Pra sentir todo o carinho que sonhei
Nós somos rainha e rei

Olho para o céu
Tantas estrelas dizendo da imensidão
Do universo em nós
A força desse amor nos invadiu...
Então...
Veio a certeza de amar você...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sol, mar e encantamentos


Esqueci de dizer que vi de tudo no réveillon da Praia do Forte. Mágica e ilusoriamente, vi tudo de bom, mas especialmente eu vi muitos homens bonitos, de uma beleza cinematográfica, daqueles que é preciso chegar bem perto para saber que eles são de verdade e que eles existem.
Neste interregno (uma semana) me meti em Guarajuba vários dias e fiquei mega feliz pela segunda-feira ter praia cheia e sol favorável. Também passei em Arembepe, mais para matar a curiosidade dos meus acompanhantes do que por vontade própria, porque gosto de lá apenas para andar e para rir.
Interessante como as pessoas ainda sabem pouco sobre os antigos hippies e como a Aldeia ainda capta turistas, apesar de não convencerem mais ninguém acerca de uma maneira alternativa de vida: todos chupam os frutos do capitalismo, vendendo artesanato a preços de gente grande - qualquer aramezinho custa 80 reais, mano velho... - e cooptando simpatias que possam se converter em grana, mas não serei eu a negar a beleza do lugar.
Nas areias de Arembepe já tropecei num homem nu, nem queiram saber em que parte dele, porque ele estava deitado na areia e era da cor da areia; lá já andei com milhares de amigas e com uns dois namorados; lá já discuti filosofia existencial no tempo em que eu achava que sabia o que era isso; lá já tropecei na pessoa certa na hora errada e, sentindo a pressão da situação, larguei a praia e fui ao meu porto seguro e chato, onde atraquei por quase dez anos...e anos depois,quando encontrei o marinheiro em que tropecei, aí foram vários episódios interessantes que me fizeram perceber que, às vezes, a melhor estória é aquela que se faz por capítulos esparsos, com suspenses, com esperas e, quem sabe,com um final não declarado, mas presumido.
Já estou recarregada por ter ido onde eu queria ir, ter visto o que eu queria, ter comido o que eu queria, ter saboreado as praias que eu gosto,ter experimentado a área de jet de Barra do Jacuípe, que eu nem intentatva ir; por ter meus amigos comigo e encontrar os que nem estavam na lista do meu passeio - tudo valeu e agora que a carruagem se faz abóbora, pouco importa porque já vivi o que eu queria e, afinal, não tenho nada contra abóbora, desde que bem preparada.

Com- puta- dores


Dentre as coisas que mais me dão uma sensação de impotência estão as panes nos eletrodomésticos. Considero computador um eletrodoméstico. Ora, por essa nem mesmo eu esperava, porque assim como qualquer outro ser humano que tenha vivido em família, que tenha estado num lar, fica a noção de que o eletrodoméstico é apenas um utensílio (olha aí que carrega a ideia de útil desde o nome) para facilitar as tarefas da casa. Vão aí os liquidificadores, as geladeiras, as torradeiras, os ferros de passar roupa, enfim, qualquer coisa com uma utilidade prática, mas é prática na ação, sabe? Não é aquela prática simplesmente prática, mas algo que ajuda a tornar ágil a vida de uma casa.
Não estou nem um pouco interessada na classificação técnica ou tecnológica: computador é eletrodoméstico aqui em casa – e se eu trabalhasse fora, num escritório ou numa repartição, apenas iria somar mais uma função, agregar outro adjetivo que não deixaria que esse meu raciocínio parco e insistente deixasse de considerar a high-tech como eletrodoméstico.
Não tenho nenhum computador móvel, portátil – seja lá com o nome que você escolher nesses tempos de “the e-book is on the tablet”, conforme propaganda de cursinho de inglês. E podem matar e morrer por essas causas tecnológicas pois eu continuarei achando que lugar de computador é em minha casa. Lógico, o meu computador.
Acho que criam muitas necessidades tecnológicas falsas, também. Por causa disso, não serei eu a engordar o consumo marginal.
Mas chamar o computador de eletrodoméstico é construir uma relação afetiva com ele. E eu tenho: gosto do meu computador. Quer dizer, gosto dele quando ele não me dá trabalho; quando não interrompe meus papos no MSN com gente com que eu gosto de falar; quando ele não empaca como uma mula travada no meio da ladeira; quando meus arquivos não somem sem explicação, quando o HD não queima e detona junto tudo aquilo que é vital para minhas obrigações acadêmicas, enfim.
Mas então, de tanto ser surrupiada por gente com experiência técnica, gente que teoricamente é expert em computador, mas, que sempre dá a dica de que em três meses solicitaremos uma nova visita, passei a ter mais autonomia com tudo quanto posso, de modo a resolver sozinhas as situações.
Mas eu sou do tipo esquentadinha. Eu odeio dependência: troco lâmpada, troco botijão de gás, troco resistência de chuveiro, tenho olhos e ouvidos abertos com os carros (nunca um mecânico me enrolaria por causa de correia dentada, de pastilha de freio, de fios soltos e de supostas panes elétricas), de modo que eu tenho muita raiva de não saber o bastante para comandar o meu computador (ah, tá bom, e os meus eletrodomésticos em geral).
Eu me sinto tão impotente quando um problema se instala e eu não posso fazer nada! Chamo o técnico quando é o caso de chamar o técnico, seja lá técnico em que for, mas imaginar que eu vou me privar do eletrodoméstico e que eu não posso fazer nada para resolver o caso, estando, portanto, na mão da assistência técnica, me deixa louca, transtornada.
Como eu disse, eu odeio dependência – toda e qualquer dependência – mas eu preciso tanto dos recursos tecnológicos que seria uma hipocrisia ridícula ignorar que eu gosto, uso e aprovo tudo que facilita a vida.
No momento, meu computador anda me mordendo, travando, caindo...e é tudo junto: a conexão cai, a edição cai, o apagão se instala - me sinto irritada com isso, com a falta de obediência da tecnologia: juro, parece perseguição.
Se você tem prazos, compromissos e coisas importantes a fazer, o computador vai aprontar, com certeza. Se é Lei de Murphy, eu não sei, mas nunca aconteceu uma coincidência que favorecesse meus interesses - o computador me boicota, parece que está vivo e está se vingando.
O cérebro eletrônico definitivamente machuca o meu limitado cérebro humano e me faz perder a cabeça - tantas vezes, meu Deus, eu quis esmurrar o computador e quantos de nós não acha que se der umas pancadas na televisão ou no eletrodoméstico enguiçado vai fazê-lo funcionar? a violência reativa é prima-irmã do sentimento de impotência... e ao término do processo, eu é que fico com puta dores de cabeça!

Assim foi...


Não tem muito tempo que eu ouvi um palestrante do Café Filosófico – terá sido o Gykovate? Ou Renato Janine Ribeiro? – falando que a gente tem mania de fotografar tudo que vivemos, sob o risco de nem a gente mesmo acreditar. A ironia foi por conta das ilusões de lazer que todos nós experimentamos. Eis aí o meu registro do réveillon que excluí os momentos de blábláblá com Adriana, quando a gente lamentava o casamento dela, com o marido por perto; e recordávamos tantas doideiras em Porto Seguro, na Chapada Diamantina e em outras viagens que fizemos juntas, quando ela era solteira (e feliz!).
Registrei alguns vexames dos colegas e dos desconhecidos, passando a virada do ano com o estômago revirado, vomitando nos jardins da Vila dos Pescadores; minimizarei a narrativa do acidente cinematográfico sobre a ponte do Rio Pojuca, envolvendo quatro veículos, a quatro quilômetros da entrada da Praia do Forte, meia hora antes do réveillon, porque teria tanta coisa para falar...
Mas, enfim, apesar dos feridos não terem grandes problemas, foi interessante o comportamento de todos nós, no engarrafamento, que lamentávamos mais nosso atraso para a festa do que o acidente – seres humanos, oh, que incrível criação de Deus!!! Fosse nos dias de hoje, até Deus convocaria um recall para a Humanidade. Agora, estamos aí com nossos defeitos de fabricação.
Bom, criam-se ritos de passagem para tudo... Por mim, não estou aqui para protestar porque acredito na eficácia do simbólico e, assim, acho que tudo em que a gente acredita existe, porque tem seu aparato simbólico para isso. Logo, por menos lógico que seja – um vampiro, um lobisomem, um extraterrestre, uma alma penada, um Paraíso, uma vida eterna, um amor perfeito – a crença é que faz a existência imaterial das coisas. Ah, tá, parece contraditório...
Certamente, os corajosos ateus são odiados porque quebram as regras e enxergam a vida em sua crueza, sem ninguém para te salvar nas horas de aflição, sem vida após a morte, sem justiça divina, sem providência divina, sem intervenções, sem compensações, sem previsões - antes partilham da visão realista do “futuro de uma ilusão”.
Fala-se muito na intolerância religiosa e eu, particularmente, tenho visto é gente etnocêntrica e crenças etnocêntricas, mas é praticamente universal a perseguição aos ateus, que nem são tratados como gente ou são associados ao demônio... Basta discordar da maioria que o cara está julgado e condenado. Não quero dizer que esfacelando o lado simbólico das crenças os ateus não tenham lado simbólico. Não sou tão ignorante assim e se fosse estaria endossando os preconceitos contra eles.
Voltando aos ritos de passagem, o que seria de nós se não acreditássemos nas cerimônias de casamento? Ora, aquela assunção social de um compromisso pública e religiosamente compartilhado exerce força simbólica.
E os medos de morrer pagão, sem batismo? E como acreditamos, ao vestir becas e togas no cerimonial de formatura, que estamos realmente formados? E sem Defesa Pública de dissertação e de tese, em seus cerimoniais, réplicas, tréplicas e argüições, como seria ser mestre e doutor? E o que seria de nós, meu Deus do Céu, sem o apoio simbólico da crença no amanhã? E o amanhã é tão desconhecido, tão imprevisível, tão fora do determinismo do Destino que, ainda bem, nos abre as portas da esperança no que pode mudar.
Infelizmente, dentro do imprevisível está o improvável. Traduzo o improvável como impossível: embora tudo possa mudar, não vou acordar com a notícia de que ganhei um carro, uma grana maciça ou uma casa na praia. Tampouco o meu artista favorito vai aparecer à minha porta. Mas, sendo improvável, quem disse que não posso, simbolicamente, construir sonhos, voar imaginativamente até os meus desejos, querer, querer e querer? É nossa válvula e nosso combustível esse querer e esse desejo – os que conscientemente sabemos impossíveis e os que tornamos reais nos sonhos e nas fantasias. Infeliz de quem não sonha, triste de quem não deseja, porque já morreu e não sabe disso.
Quanto de verdade colocamos no coração para desejar o bem a quem amamos? Quão concretamente queremos que nossos amigos tenham o que merecem? Esse simbólico, sim, é válido, não carrega o vazio do lugar comum do repetido “palavra é força” e dos ineficazes e vagos “pensamentos positivos”. Dentro de nós há a verdade do voto dado, dos desejos em favor do Outro e é essa verdade que dá suporte ao que acreditamos.
Bem,acabou a festa que durou, para mim, uma semana e cá estou eu, de volta ao que me espera, aos livros para ler, às coisas para escrever, às obrigações em geral e aleluia que o sol tenha brilhado nestes dias de praia.