Louquética

Incontinência verbal

sábado, 30 de junho de 2012

Tecnofobias pessoais



São os meus mesmos velhos protestos: acesso o blog e vem aquele convite forçado, que é, na verdade, ameaça: "experimente a interface atualizada do Blogger" - acusando que dentro de alguns dias, eu queira ou não, isso vai acontecer.
Tem eras que eu não entro no MSN: sempre que tento acessar, me avisam de uma versão atualizada e me obrigam a fazer o download, que leva séculos a concluir e que nunca concluo porque tenho mais o que fazer.
Adoro os celulares da Motorola: duram infinitamente, ao contrário de outras marcas que a gente tira da loja e 10 ou 15 dias depois vão passar uma temporada na assistência técnica. Adoro os modelos V3, V7 e o que mais ocorrer. Porém, já não se vende por aí. Tive que me contentar com um celular "bolachão", horroroso com teclado QWERT, tipo teclado de computador, mas pelo menos, é Motorola. Todos os celulares atuais são feios, horrendos, sem flip, imensos...
Não me entendo bem com os supérfluos Ipad, Ipod, Iphone,Iphode, Inumphode nem sai de cima...Francamente, esse negócio de atualizar tecnologia merece é sonoros puta que o pariu! Poxa, se eu estou feliz com a cara do meu blog, deixa eu ter opção!
Se estou bem com um celular que seja pequeno e que receba e realize chamadas, para que me empanturrar com tecnologias infelizes?
No fundo, isso revela que tudo se transforma em lixo rapidamente. E quem quer ser arcaico? antiquado? fora de moda?
Não suporto cinema em 3D: inutilidade.
Não tenho microondas, nem nunca terei. Não tenho webcam, porque acho uma furada abrir o meu quarto para visitações e ter que me preocupar com o que é que estão vendo de minha intimidade; não tenho laptop nem similar, nem jamais terei. Já me basta esta internet em 3G, que sendo 5Gg teoricamente, é mais lenta do que o raciocínio do Ronaldinho ex-Fenômeno - cá entre nós, aquele homem me dá agonia! como ele é lento para responder!lento para entender...talvez por isso, na oportunidade em que ele saiu com os três travestis ele realmente tenha demorado a perceber, processar e concluir que "elas" não eram mulheres...
Tem tecnologia e tem engodo tecnológico, porque não vejo cremes com nanopartículas funcionarem melhor que os antigos, não.
Mas esta minha birra de não querer ter eletrodomésticos e peças inúteis é culpa do meu professor de Introdução à Economia, o Sr. Marco Antônio, que explicou à minha turma o que era CONSUMO MARGINAL,(aulas que tive nos idos de 1996, na graduação).
Nunca esqueci. Pior ainda: entendi de verdade. Deste modo, sou resistente a comprar coisas inúteis deste porte.
O consumo marginal ocorre, por exemplo, quando uma só televisão basta para um lar. Então, caberia reunir a família e assistir juntos, conforme as regras da casa, votação, acordo, etc. A partir do momento em que ponho uma televisão na cozinha ou outras nos quartos dos membros da família, ocorre o consumo marginal, porque não há a necessidade e nós criarmos ou aderirmos a um modelo de consumo que, alegando individualidade e privacidade, multiplica o mesmo aparelho pela casa.
Toda vez em que consumimos sem necessidade (os bens duráveis principalmente), há consumo marginal.
E eu não sou um exemplo de controle de gastos, não se trata disso.
O que eu faria com um microondas? pipoca! só se for pipoca! e como pipoca umas cinco vezes ao ano.
Pior que isso só se eu comprasse uma bicicleta ergométrica e seguisse o que todos fazem: usasse para pendurar roupas. Quero ver quem usa esteira e bicicleta em casa! mas todo mundo compra!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Tudo beleza!


Não vou engrossar o time dos desleixados: sou a favor do cuidado de si. Alguns chamam isso de vaidade - acho vaidade maior esse negócio de falsa simplicidade, dos realmente vaidosos que acham um absurdo retocar a suposta beleza com alguma coisa, julgam que não precisam de nada além "do que Deus lhes deu".
Certo, intervenção cirúrgica faz quem tem coragem ( e grana!). Mas acho o resto essencial.
Depois de tanta estrada e pouco sono, sei o sentido e a necessidade de passar por uma boa massagem, ativar a circulação, desfazer o cansaço das pernas e, de quebra, ajudar o corpo a funcionar melhor. Os efeitos na contenção da celulite são meros acessórios, benefícios colaterais.
Pobre de quem tem cabelo grande, como sonham a maioria da mulheres em também ter. Um cabelo grande e mal cuidado é triste! Qualquer cabelo, de qualquer textura, de qualquer cor, de qualquer tamanho, é feio se for mal cuidado.
Pobre dos que desconhecem a necessidade da hidratação. Que Deus os abençoe com Fiberceutic da L'Óreal, meu Pai! ou com uma plástica capilar da Ecos, ampolas, condicionadores e xampús detangling da Avlon/Keracare.
Bem-aventuradas sejam todas as criaturas que sabem que precisam de limpeza de pele com esteticistas e dermatologistas qualificadas. Que estas sejam agraciadas com poderosos hidratantes e protetores solares e que saibam escolher batons também hidratantes.
Coisa súperflua neste meio?creme para área dos olhos. Nada é mais inútil. É coisa bem brasileira isso de empurrar kits das coisas. No meio do kit sempre vão as inutilidades. Mas sabonete específico para a pele é essencial. Nesse meio sempre tem as coisas inúteis, é lógico. Pior é ser desleixado e jogar na natureza, no corpo, a responsabilidade em se defender sozinho contra as agressões do sol, do calor, do vento, da poluição. Lindo é se cuidar!o resto é opcional mesmo porque tem apelos de mercado demais para criar falsas necessidades.
Podemos ser pobres e bem cuidados, com Neutrox, óleo Johnson e leite de colônia. Nem tudo que é bom é caro...
Nas horas de tristeza, modificar a aparência ajuda a reforçar a vontade interior de buscar mudanças. Ainda tem isso, esse sentido auto-ajuda, no cuidado de si... Mas independentemente disso tudo, sempre vale a pena cuidar bem de si mesmo.
Penso como Zeca Baleiro, que há muitas formas de beleza. E quem vai negar que Linda Evangelista e Isabelle Adjani são lindas e belas? da vida real, tive uma colega de trabalho realmente linda, extraordinariamente linda, chamada L. E mesmo sendo linda, nunca deixou de cuidar de si...não serei eu, reles mortal, mal agraciada pela natureza que vou contrariar a regra.

Se ela se penteia,
Eu não sei!
Se ela usa maquilagem,
Eu não sei!
Se aquela mulher é vaidosa,
Eu não sei!
Eu não sei!
Eu não sei!...

Vem você me dizer
Que vai num salão de beleza
Fazer permanente,
Massagem, rinsagem, reflexo
E outras "cositas más"...

Oh! Baby você não precisa
De um salão de beleza
Há menos beleza
Num salão de beleza
A sua beleza é bem maior
Do que qualquer beleza
De qualquer salão...

Mundo velho,
E decadente mundo,
Ainda não aprendeu
A admirar a beleza
A verdadeira beleza,
A beleza que põe mesa
E que deita na cama,
A beleza de quem come,
A beleza de quem ama,
A beleza do erro,
Do engano,
Da imperfeição...

Belle, Belle,
Como Linda Evangelista!
Linda, Linda!
Como Isabelle Adjani...

Veja como vem,
Veja bem!
Veja como vem
Vai! Vai!
Vem! Veja bem!
Como vai! Vem!
Veja como vai!
Veja bem!
Veja bem como vem!
Vai! Vem!
Se ela vai também!

Ai, Bela Morena!
Aí, Morena Bela!
Quem foi que te fez tão formosa?
És mais linda que a rosa
Debruçada na janela...
(Zeca Baleiro, Salão de Beleza)

Exemplos reais

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A vida nas escolas da vida



As pessoas têm uma miopia social absurda: basta ver o que elas acham sobre os casos de violência nos ambientes escolares.
Em princípio vai aparecer um pedagogo ou psicopedagogo para explicar que os seres humanos chamados alunos não se sentem incluídos na escola. Por isso, esfaqueiam os colegas, os professores, praticam vandalismo, assassinatos e atentam contra a vida.
Depois virá um outro sujeito de algum posto legitimador, representante oficial de algum órgão, para dizer que os coitados malfeitores são vítimas da sociedade e não têm idade que os tornem imputáveis, pobrezinhos!
E os pais cúmplices, que aparecem a seguir, serão encarregados de acusar as vítimas de serem responsáveis por acionar a violência dos seus próprios filhos.
E se algo acontecer, recolhe-se o malfeitor à Fundação Casa, para uma curta temporada ou para uma mínima visita porque nada há que possa ser feito mediante nossa legislação que protege essas pessoas tão hábeis em ferir e em matar.
Nossos equívocos não ficam por aí: quando Geisy Arruda foi hostilizada no ambiente acadêmico da UNIBAN, todo mundo se desviou de constatar que aqueles adultos, de nível superior, consagrados pelo epíteto clichê de “formadores de opinião” estavam agindo com violência, agredindo, ameaçando e ofendendo uma mulher em sua liberdade de se vestir conforme a própria vontade.
A violência está em todos os ambientes escolares.
A vida escolar é vida social: há os que não são aptos para o convívio e isso precisa ser reconhecido.
Mas, claro, em tudo há um lado bom: por aqui jamais teríamos os problemas que certos Estados Norte Americanos têm. Se algum maluco inventar de querer fazer massacres, jogar bombas ou posar de atirador, o feitiço vai virar contra o feiticeiro, pois a galera da escola é bem capaz de acertar morteiros, bazucas, fuzil AR 15 ou simplesmente articular traquitanas para eliminar o sociopata. Não nem tudo é ruim, não. Não sejamos pessimistas com os ambientes de aprendizagem – a educação bélica também é educação.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Coisas da cama



Fui comprar um travesseiro hoje: dei uma grana bruta mesmo num travesseiro viscoelástico Duoflex Astronauta 16, com tecnologia da Nasa, cheio de frescuras.
Passei anos e anos perdendo o sono nas viagens noturnas para terras distantes, a fim de ganhar o pão e antes disso já colecionava olheiras nas ocorrências noturnas do Corpo de Bombeiros em meus tempos de militar.
Já perdi o sono por felicidade também, mas isso nem conta.
Dormir mal ou não dormir me fez valorizar o sono e ser exigente para dormir, por isso acho que dar R$ 50 ou 70 reais num travesseiro é um investimento em minha saúde e em meu bem-estar. Outrossim, um travesseiro comum dura mesmo dois anos e o meu tem dois anos de uso e de ácaros.
Gosto de chegar em casa e descansar a minha consciência num travesseiro bom, num colchão gostoso e, por causa do frio, num fofo e perfumado edredom. Há um trocadilho por aqui que diz que uma pessoa boa de cama é aquela que deita e dorme. Eu gosto de todos os prazeres do sono.
Minha amiga foi perguntar ao meu ex se eu era boa de cama. Para isso, não poupou palavras e perguntou diretamente: “Mara faz gostoso?”. Ele respondeu e riu, constrangido. E foi constrangido que ele me contou isso, acontecido há uns seis dias, mais ou menos.
Eu sei que a vida sexual das pessoas desperta curiosidade.
Também sei que pela minha natureza feminista, tem gente que pensa que eu faço misérias, que extrapolo todos os limites possíveis que a mais criativa das imaginações nem pode supor.
Todo mundo tem o direito de pensar o que quiser. Respeito muito a distância que existe entre o que eu digo e o que os outros entendem. Na verdade, não estou nem aí.
Contudo, em relação à minha amiga tem um porém: ela acha mesmo que eu , sendo tímida como sou, sou uma pessoa socialmente e outra no plano sexual.
Já contei aqui que já me confundiram com a personagem do Angeli, a Mara Tara, mas porque tinha a ver numas coisas bestas, relativamente inocentes.
Não gosto de misturar meus assuntos íntimos com a minha família, por exemplo: eu seria incapaz de beijar um namorado na frente do meu pai ou de qualquer outro familiar meu.
Não sustento olhares de flerte, sou cheia de protocolos em muitas coisas.
Ocorre que nestes finais de ano, nesses tempos de férias em que todo mundo dorme próximo na barraca de camping, na casa de praia, da casa da tia, a referida amiga chegou a observar o que eu estava fazendo com meu namorado, apesar de sermos discretos.
Viu e comentou comigo.
Ouvi os risos com parcimônia, mas fiquei pasma pelo fato de o menor suspiro não escapar às meninas. Vale dizer que eu estou falando é de Tella, minha amiga ninfomaníaca.
Num desses dias recentes ela veio até à minha casa e como eu estava na cozinha, num daqueles dias de inspiração gastronômica para macarrões e cheese-cakes, deixei-a na sala e joguei o controle remoto nas mãos dela.
Lá foi a bonita e acionou o canal 152 da Sky – para horror da irmã dela e para a minha surpresa.
Juntando uma coisa e outra, creio que ela concluiu que eu sou uma messalina, uma daquelas mulheres que fazem de tudo, conforme se diz por aí.
Acho tudo isso uma maluquice, ainda mais num estado de sexo performático, como é em nossa sociedade e que a mim não agrada.
Sinceramente, acho que sexo é aprendizado e descoberta e não tenho interesse em ser ignorante. Não tem mistério nisso. Assim, tem coisas que a gente acha que não vai gostar e acaba gostando, a depender do “professor” e da metodologia. Não sei dizer isso de outra maneira.
Tenho horror em pensar nas intimidades dos meus amigos: me dá uma bruta vergonha! E morro de vergonha por saber que Tella criou a curiosidade e que fez julgamentos a partir de situações particulares... Neste ínterim, há uma história que eu não posso contar aqui, mas que ao fim e ao cabo, foi apenas um equívoco interpretativo dela, no sentido de que ela julgou que foi preterida porque a pessoa teve razões impublicáveis para querer ficar comigo numa certa festa a que fomos há uns milênios atrás.
Bom, mas a única verdade é que sei escolher bons travesseiros. O resto é pura especulação!

Eu, hein!

sábado, 23 de junho de 2012

Céu de São João


Diz a canção junina: "Olha para o céu, meu amor: veja como ele está lindo". Olhando para o ceú,hoje, só vejo fumaça e prenúncio de chuva.
Hoje, então, me esquivei de atender ao telefone, com medo da insistência de minhas amigas para sair.
Sou antipática com o São João - não com o santo, claro, com quem simpatizo - porque detesto bomba, fumaça, licor, lama, chuva e afins. Nem sei como tirei os pés de casa na tarde de hoje e me aventurei pelo comércio.
O meu par fica abobalhado jogando bombas na rua: se junta aos moleques em correrias extemporâneas para se livrar das reclamações das casas alvejadas por bombas-canhão que assanham cachorros e abalam muros. Para ele, tudo é um misto de diversão e licor.
A única coisa de que gosto no São João é da culinária - bolos, queijos, comidas com milho e com aroma de canela.
É um período em que relembro a minha avó e as susperstições dela - muitas que ficaram impressas no meu imaginário. Quem tem avó, tem tudo: a minha era bastante cúmplice. Chamava-se Dona Luíza. Minha avó, mesmo depois de morta, nunca morreu em mim.
O melhor do São João, antigamente, era o que vinha antes dele: a Forrodência, o forró da residência universitária da UEFS.
Naqueles idos dos anos 90, forró na universidade não era forró universitário, não: não tinha dessas mercadologias de hoje, mas era muito bom.
A gente se planejava para ir e ia para se divertir, para tentar ficar com os caras que a gente paquerava na universidade, para dançar, namorar, conhecer gente, rir... E, sim, dava um lucro estupendo ao pessoal da Residência.
Mas então acabou.
Nunca entendo porque coisas de sucesso e que dão lucro acabam. Mistérios!
Na Forrodência conheci gente que se tornou minha amiga, que se tornou meu namorado, que se tornou colega de trabalho...
Estava aqui escrevendo a tese, como deve ser, nestes momentos finais que nunca se finalizam porque não se pode dizer que o último capítulo seja o fim - já disse, depois que acaba vem a revisão, o sumário, o abstract, as considerações finais, os protocolos todos. E agora, sim, vou ali na fogueira de minha casa, ficar um pouquinho a me aquecer até quando meus ouvidos suportarem as bombas da rua...Não sei se o pior será dormir ao som das bombas ou acordar com elas.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sem lenço, sem documento



Esta postagem vai aqui por outros motivos, ou seja, desde o meu apreço pela música até o fato de homenagear meio mundo de amigos meus que adoram Caetano Veloso. Contudo, a minha atual atenção passa pelo verso: "Eu tomo uma Coca-Cola/ela pensa em casamento...". Não sei: penso em amor, em política ou nas diferenças de gênero. Acho que penso em tudo porque, no fundo, essa forma particular de sentir as coisas, de se relacionar com as coisas, é o negócio mais besta do mundo, mas ao mesmo tempo é o mais fantástico.
Alegria, alegria passa um pouco de narrativa do cotidiano de um período, seus ídolos e seus ícones("Cardinales bonitas"," Coca-cola","espaçonaves, guerrilhas", " Bomba e Brigitte Bardot")e como diante das mesmas coisas as pessoas percebem tudo diferente ou nem percebem nada.
Pode ser que não ver o óbvio seja somente alienação e ignorância. E pode ser também que as pessoas interpretem as coisas conforme seus parâmetros pessoais, distorçam a realidade para serem mais felizes, repintando a paisagem. Cada um na sua e a vida continua...


Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou...

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou...

Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot...

O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não?

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento,
Eu vou...

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil...

Ela nem sabe, até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou...

Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou...

Por que não, por que não?
Por que não, por que não?
Por que não, por que não?
Por que não, por que não?

Gratidão


Às vezes a gente é meio inapto/inábil para agradecer aos amigos, mas não gosto de perder a oportunidade de dar a saber o quanto sou grata pelos amigos que tenho e pelo que meus amigos fazem por mim. É horrível ser negligente com os sentimentos e deixar passar a chance de dizer dos nossos afetos, carinhos, gratidões...
Faz um tempo que seguro um trocadilho infame com o nome do livro de um amigo meu cujo casamento acabou. Bate a maior síndrome de Rafinha Bastos dentro de mim e eu faço o cálculo moral entre perder o amigo e perder a piada...fico com o amigo, claro, porque é mais importante. Mas no fundo eu queria que ele pudesse rir de tudo.
Um dia eu me arrisco e digo a ele. Um dia em que ele beba e esteja alegre e que já não veja como perda o fim de um período de ditadura matrimonial... Tá bom, "É o estar-se preso por vontade", eu sei.
Mas cá estou eu pensando em quem devo agradecer na tese. Só vou agradecer a quem eu tenho gratidão. Não quero a formalidade de agradecer ao programa de Pós-graduação, que não me deu nada,a secretários, a gente que ensaiou me ajudar mas me deu um pontapé e desmanchou uma amizade minha, não quero nada disso. Porém, vou colocar nome e sobrenome daqueles a quem sou grata.
É preciso que a gratidão seja ostensiva porque sou assim na vida normal: agradeço muito a quem me ensinou o caminho até Xique-Xique (João Neto); a quem me mostrou outros caminhos (Marluce Santana, Ilmara Valois...), a quem me levou aos caminhos da Perdição (bom, neste caso, não posso publicar os nomes, mas então, C., E. e outras letras do alfabeto) a quem parou para conversar comigo quando eu estava perdida sem saber que caminho tomar (Osmando Brasileiro, por exemplo)e a quem me ensinou a olhar os perigos e riscos dos caminhos (Andréa Bethânia e Léo Bernardes por exemplo).
Declaro para os devidos fins que sou grata pelo pão, pela palavra, pelo carinho, pela reclamação, pelos tapas no ego, pelo senso de realidade, pela generosidade, por tantas coisas que quem me deu nem deve ter se dado conta de que me deu...
Mas essa coisa do agradecer é também um estímulo para seguir escrevendo. Ao contrário do que parece, a gente não escreve sozinho: ora arrola os fantasmas das teorias passadas, ora é acudido pela conversa com os amigos... ou somos agraciados com o afago subjetivo e outros acolhimentos nas horas de stress e de desespero... e aí nascem os parágrafos.
Mas eu vou deixar de lado os agradecimentos específicos porque ainda me faltam umas 25 páginas deste capítulo final, uma tantas de considerações finais - que, considerando bem, o que é que eu vou dizer?poderia ser apenas "The end"...
Não gosto de fogos nem de fumaça, por isso meu São João é aqui, quietinha, escondida em casa. Vou precisar mesmo deste tempo - e não é que acabei de pular uma fogueira?

terça-feira, 19 de junho de 2012

Assim falou...(Clarice Lispector)



"Procuro me manter isolada contra a agonia de viver dos outros, e essa agonia que lhes parece um jogo de vida e de morte mascara uma outra realidade, tão extraordinária essa verdade que os outros cairiam de espanto diante dela, como num escândalo. Enquanto isso, ora estudam, ora trabalham, oram amam, ora crescem, ora se afanam, ora se alegram, ora se entristecem. A vida com letra maiúscula nada pode me dar porque vou confessar que também eu devo ter entrado por um beco sem saída como o outros. Porque noto em mim não um bocado de fatos, e sim, procuro quase tragicamente ser. É uma questão de sobrevivência assim como a de comer carne humana quando não há alimento."
(LISPECTOR, Clarice. Um sopro de vida. São Paulo: Círculo do Livro, 1978, p.49)

Postagem especialmente dedicada às minhas duas amigas extraordinárias, que vão do " eu quero tchú/eu quero tchá..." às discussões mais profundas, profícuas, etílicas, seminais, viscerais, tontas, absurdas, nonsenses e inteligentes.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Por trás das coisas diárias


Começo por dizer que tenho estado muito, muito ocupada.
Deixar de escrever aqui é como me furtar a uma faxina. E eu sou muito de fazer faxina, de lavar a roupa, de ordenar a casa e desalojar as aranhas que fazem conjuntos habitacionais no que é largado ao tempo. Não saio de casa com a pia cheia de pratos. Não chego em casa com uma mala cheia a ser largada no canto.
Também é este estranhamento: rodo por outras vias. Depois de mais de quatro anos circulando em meio a aridez e ao ressequido dos caminhos que me levavam bem mais longe para trabalhar, agora passo pelas cidades das águas, penso como Vanessa da Mata: "Nessa nossa estrada só terá belas praias e cachoeiras".
A estrada toda tem mirantes para que se possa contemplar a Península.
Ainda não parei nelas, não tomei o rumo de Itacaré, tão pertinho...Nem sequer saí do atracadouro para ir ao outro lado do cais...Não vou às praias badaladas onde se topa com celebridades televisivas... Mas na cidade em que trabalho, todo político tem uma casa de praia e os donos de bancos também têm.
Tem uma dicoteca de gente de Ibiza que toca um som análogo ao de lá: finalmente abriu nesta sexta, mas eu já estava destruida de sono após a aula e perdi a chance de acabar na nignt!
Tanto faz o mar ou o sertão: eu gosto é da minha casa.
Certo, a paisagem é linda. O tempo da viagem é menor. As coisas são diferentes. Mas eu gosto é de minha casa mesmo. E se não curto tanto as maravilhas que me estão à mão, é por pressa de voltar.
Até disse a ele, brincando com o pára-choque do caminhão: "Viajo porque preciso, volto porque te amo!", numa alegria brega gargalhada conjuntamente.
Também meu orientador veio aqui, a Feira de Santana.
Meu orientador é um puta orientador: gente fina, competente, humano, justo, inteligente... E de novo, lá vai ele para Portugal na noite de hoje. Aproveitando o ensejo de um evento por aqui, me presenteou com duas horas e meia de orientação para que eu não ficasse órfã nesta reta quase final de tese.
Deu um bruta cansaço! deu uma baita responsabilidade e a certeza de que não adianta insistir em ter como orientador alguém com quem não somos afinados: meu trabalho mudou com ele.
Então, cheguei num dia e viajei para outro lugar no dia seguinte. Mal curti o aniversário do meu par, porque eu tinha que ir a outra cidade de onde acabei de voltar.
Viajo demais e acho que ando com pouco saco para pensar em viajar por lazer, uma vez que só viajo por obrigação profissional. E não se iludam: não recebo remuneração proporcional aos meus esforços, aos meus trabalhos e às minhas viagens. Pelo contrário, tenho que gastar por conta, para custear as viagens e um dia, sabe-se lá quando, obter meu salário - tempo indefinido, imemorial, sei lá...
Bom, tenho assunto demais: dos amores alheios, dos segredos alheios, das idiotices que fiz, de alguns arrependimentos, de certas agonias, de erros absurdos já engatilhados, enfim, tanta coisa...
P.S.: Foto meramente ilustrativa (dizem que este bumbum pertence ao jogador da seleção do Chile, Roberto Careceda - o que há por trás do futebol, hein?

terça-feira, 12 de junho de 2012

O amor nos tempos árduos


Nestes tempos árduos em que os problemas amorosos são resolvidos com facas Tramontina e algumas malas, não serei eu a cair no clichê de que o Dia dos Namorados é só uma data comercial.
E que seja! Para muita gente o amor é comercial mesmo, é negócio, é arranjo...
Mas para os que acreditam no amor, com suas cicatrizes, angústias, desencontros, afagos, cumplicidades, afetos, com o que há de Bom e o que há de Mal, aproveitem a data como pretexto para festejar a sorte de ter alguém a quem chamar namorado.
E que sejamos clichês, bregas, românticos, melosos, melodramáticos, paspalhões, abobalhados, como convém aos apaixonados, deslumbrados e fora de si.
Amor é sorte. Parabéns aos que têm "a sorte de um amor tranquilo" e aos corajosos que enfrentam a honestidade de uma solidão idônea quando poderiam ficar com qualquer pessoa para fingir que têm companhia.
E parabéns aos que não se cansam de procurar e de esperar por uma grande experiência amorosa.
Bem disse Lulu Santos, em Certas coisas:

Não existiria som
Se não houvesse o silêncio
Não haveria luz
Se não fosse a escuridão
A vida é mesmo assim,
Dia e noite, não e sim...

Cada voz que canta o amor não diz
Tudo o que quer dizer,
Tudo o que cala fala
Mais alto ao coração.
Silenciosamente eu te falo com paixão...

Eu te amo calado,
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz.
Nós somos medo e desejo,
Somos feitos de silêncio e som,
Tem certas coisas que eu não sei dizer...

A vida é mesmo assim,
Dia e noite, não e sim...

Cada voz que canta o amor não diz
Tudo o que quer dizer,
Tudo o que cala fala
Mais alto ao coração.
Silenciosamente eu te falo com paixão...

Eu te amo calado,
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz,
Nós somos medo e desejo,
Somos feitos de silêncio e som,
Tem certas coisas que eu não sei dizer...

sábado, 9 de junho de 2012

Enquanto isso...


Nestes dias em que sou compelida a levar a vida um pouco mais a sério, mistura-se tudo:
Um pouco de paz e um pouco de desespero; um pouco de revolta e um pouco de resignação; um pouco de espera e um pouco de desistência; um pouco de conclusão e um muito de dúvidas; um pouco de ócio e um infinito de ocupação; um pouco de deixa estar, let it be, a aceitação das muitas angústias...
De vez em quando, aquela olhada cruel no espelho: "E quem sou eu para não ter angústia, mesmo quando tudo parece bem?"; "E quem sou eu para não ter felicidade mesmo quando tudo parece permanentemente mal?".
De vez em quando, cumpro a obrigação e aproveito o mar, já que ele está tão perto.
De vez em quando, não quero partilhar nada, apenas viver. Viver calada, me esconder um pouco das festas, porque achei coisa melhor.
Calma!Calma! Depois passa.
De vez em quando me cansa o traseiro e a memória para escrever a tese. Mas ela sai. Fico olhado isso: ela sai de mim. É, a tese é um filho - eu nunca quis ter um filho. Algumas alianças são construídas sob o medo e a desconfiança ou sob obrigações. Será que eu fiz alguma aliança sem saber?
Li tudo que eu já havia lido. Constatei que esqueci tudo que li. Preciso das bênçãos de Mnemosyne!
Os dias estão frios por aqui... Estou fria com as minhas amigas, que não entendem a relação entre tempo e obrigação, que não perdoam minhas escolhas atuais, pois o calendário acena para mim a hora de fechar um ciclo.
Quem foi o idiota que disse que "tudo que a gente joga no universo volta para nós?". Não volta nada! não volta nada de bom... talvez não volte nada de ruim, porque eu não vejo gente ruim levando o troco da vida. Tá aí, resolvi falar disso: um caso específico meu, caso enroscado, difícil, não pode ser resolvido nem por santo nem por orixá. Aí lembrei que há o Ministério Público e seus deuses falhos e imperfeitos. Resolvi apelar por milagres justos.
E enquanto eu escrevia, lembrei do meu hábito de intercalar a escrita com alguma atividade qualquer que exija movimento. Lembrei da Mamãe coragem, de Caetano Veloso e Gal Costa,"Mamãe, mamãe, não chore/pegue uns panos pra lavar, leia um romance". E sou desse tipo: gosto de passar pano na casa, de lavar minha roupa... higiene mental, cada um com a sua!

Mamãe, mamãe, não chore
A vida é assim mesmo
Eu fui embora
Mamãe, mamãe, não chore
Eu nunca mais vou voltar por aí
Mamãe, mamãe, não chore
A vida é assim mesmo
Eu quero mesmo é isto aqui

Mamãe, mamãe, não chore
Pegue uns panos pra lavar
Leia um romance
Veja as contas do mercado

Pague as prestações
Ser mãe
É desdobrar fibra por fibra
Os corações dos filhos
Seja feliz
Seja feliz

Mamãe, mamãe, não chore
Eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz
Mamãe, seja feliz
Mamãe, mamãe, não chore
Não chore nunca mais, não adianta
Eu tenho um beijo preso na garganta

Eu tenho um jeito de quem não se espanta
(Braço de ouro vale 10 milhões)
Eu tenho corações fora peito
Mamãe, não chore
Não tem jeito
Pegue uns panos pra lavar
Leia um romance
Leia "Alzira morta virgem"
"O grande industrial"

Eu por aqui vou indo muito bem
De vez em quando brinco Carnaval

E vou vivendo assim: felicidade
Na cidade que eu plantei pra mim
E que não tem mais fim
Não tem mais fim
Não tem mais fim

Das correntezas


Um pouco disto, um pouco daquilo... E de repente, não há mais tempo livre para escrever

terça-feira, 5 de junho de 2012

Das coisas ordinárias


Acho que não me importo quando o Amor vem a prestação. Neste domingo, o Amor veio em duas parcelas de dois: é que minha amigas vieram me visitar. A primeira dupla, veio sem aviso prévio,de manhã, e eu fiquei mega feliz pela surpresa, pelo Amor de amigo, inopinado que nunca seria inoportuno.
A segunda parcela foi no começo da tarde, com duas queridíssimas amigas, situadas na linha tênue que separa o Amor de amigo do Amor de família.
Então tive uma tarde de macarrão, conversa, discussões fúteis, psicológicas, intelectuais, sexuais...Ora, havia muito tema para blablablar e assim o fizemos. E tudo só não acabou em pizza porque cometi uma pequena traição: íamos sair para comer uma pizza, mas vi que logo começaria o último episódio da série Desperate Housewives. Bom, depois de tantos anos, tanto com a série quanto com as minhas amigas, seria difícil declinar de uma ou de outra. Traí minhas amigas da vida real e propus esperar acabar o episódio, mas lá foram elas argumentar que já era tarde, a contabilizar a saída e os cronômetros da vida doméstica...
Mas foi um excelente domingo!
As coisas mais valiosas, embora sejam simples, não estão ao alcance de qualquer pessoa. Quem tem precisa reconhecer seu tesouro. Reconheço o meu!
Já repeti aqui que o que a gente mais pede a Deus é amor, saúde, trabalho, tranquilidade. Logo, essas coisas que não são nada extraordinárias é que são os milagres - e muitas vezes nós não temos nada disso.
Vi que outro tesouro são as nossas recordações em comum, um dia na praia, o reveillon que colocou todo mundo a dormir lado a lado na casa da minha tia, os namoros e as frustrações, as armações que já fizemos, os vexames que demos e nossa assumida pindaíba financeira.
Ah, devo dizer no mais pleno tom de PAUSA DRAMÁTICA: Nunca estivemos tão lisas, duras, sem um tostão. Nós, em geral, estamos sem dinheiro. Eu, em particular, estou no fundo do poço... Estou tão lisa que não estou sequer pagando vexame, porque não posso pagar nada!
Lembro sempre do Camisa de Vênus cantando: "Deus, me dê grana! Deus, por favor...!"
E como eu sou da seita Djavaniana e o Djavan diz que "É pedindo que Deus dá", já implorei ao Senhor que cutuque quem me deve e adiante um honorário.
Trabalhei sexta e sábado, caí de cara na tese, finalmente no último capítulo, mas fiquei pensando no catado de formigas que a vida é: a fila do supermercado; o dinheiro que nunca vem; as coisas que atrasam; a vida que fica lenta; as burocracias, os tratados rasgados de que se vendem as cinzas; a vida pessoal que a gente enrola, boceja, espreguiça e deixa para amanhã, mas o que realmente me deixou nervosa foi pensar que quando finalmente acabar o último capítulo da tese, seja lá quando isso for, terei que fazer as considerações finais; terei que mentir nos agradecimentos; terei que rever o sumário; terei que imprimir....Poxa, imprimir! tem coisa pior? Sete cópias. Imprimir sete cópias!!! E depois do trabalho feito, notar os muitos erros - fazer errata, errar de novo e perder a paciência, que nunca tive.
Ainda bem que eu tenho minhas amigas para fazer um macarrão em minha casa, rir das misérias do cotidiano e ainda fazer planos - por que o que mais se falou naquele meu sofá foi sobre o reveillon. Putz, o reveillon: assunto que só me incomoda em setembro! se eu existir no reveillon, vou querer estar com quem eu estive neste, no mesmo lugar, na mesma praia, porque já aprendi o que gosto.
Já falei que gosto do meio amargo e do agridoce. Gosto também do alho e óleo. Acho que é isso: as duplas mais simples, os efeitos mais básico nos sabores... é disso que eu gosto.