Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Infinito nonsense



Acabei de receber a devolutiva do meu orientador, após correção da minha tese.
Ri bastante de apenas um período em que eu escrevi tanto QUE que ele grifou em verde glitter.
Graças a Deus não tem lá muitas coisas a consertar, mas as pequenas coisas são trabalhosas... E ele me diz das considerações finais; "Tire as repetições e acrescente isso e aquilo, de modo que resulte em 06 páginas concisas".
Aí, já sabe, né? apertou meu juízo, eu fico um pouco mais que louca. Minha reação é rir, porque acho engraçada a enrascada em que me meti. Acho tudo insolúvel! penso tudo nonsense. Aliás, penso do modo como Lobo Antunes escreve: sem nenhuma fidelidade à pontuação, intercalando coisas, cruzando narrativas, dados, histórias, coisas e coisas. Na minha cabeça agora, fica algo assim:
"Mundo, mundo, vasto mundo!" Oh, Drummond, me salve!o que é que eu vou fazer agora? por que isso nunca acaba? que banca eu terei? por que sei que vão me perguntar somente o que eu não sei?"Mãe Senhora do Perpétuo socorrei!" Por que eu não tenho um namorado inteligente, do ramo da Literatura, para discutir verossimilhança comigo antes de dormir? por que o meu namorado gosta de novela? e por que reclama que eu estou no computador agora? Por que meu pai não sabe teoria? Ah, como me sinto só. Depois vem um filho da puta questionar por que esse monte de fresco afirma que a escrita é um ato solitário...experimenta chamar tua família para te ajudar a escrever uma tese, um livro, a discutir literatura portuguesa no almoço...Pensa aí, besta (e a besta aqui sou eu), que você vai dançar com um cara, na festa de sábado, que é PhD em Literatura dos anos 90... "Nossa!Nossa!Assim você me mata! Mal li o meu horóscopo hoje e descobri muito recentemente que a Clarice Lispector frequentava a cartomante...assim falou Nélida Piñon...ora, pois, a Clarice ia à cartomante e disse à Nélida, quando estava doente (a Clarice, gente, não a Nélida, que continua viva, forte e poderosa): "Ela não previu isso, Nélida, essa doença!" Putz, só eu não acredito em cartomantes, é? eu e o Machado...mas agora estou com medo de pagar caro.
Olha, a entrevista passou na Globonews, tá?
Pensei numa aluna minha de Xique-Xique dizendo na sala: "Santo anjo do Senhor/meu zeloso guardador..." só sei isso.
Bom, depois que eu estouro em nonsenses, volto à programação normal.
Daqui a pouco eu volto ao normal, com problemas normais, com a loucura normal, aquela que faz sentido...Daqui a pouco pode levar uma hora...Acho que daqui a pouco vai durar até eu corrigir cada página e catar cada formiga...Ah, caramba, como demora!
Sabe essa foto que eu pus aí na imagem? ela é de um dia terrível, da mais extrema dor-de-cotovelo. Foi dia 07 de julho deste ano, aniversário de minha amiga Cléo. Que chique isso de nascer em 07/07.
Esta sou eu, desolada, na Praia do Forte, em dupla dor-de-cotovelo, sem namorado e sem amante, que preferiu voltar para Ilhéus mais cedo a ir à praia me encontrar depois da aula de pós. Essa sou eu: sem namorado e sem amante, porque um somado ao outro era igual a ninguém. Estou com dor-de-cotovelo pela tese, agora. Já expliquei o termo: dor-de-cotovelo é o período em que a gente fica com os cotovelos apoiando a cara, pensando na vida, nos chifres dados e tomados, nas perdas, nas decepções, na maior desolação. Pois é, agora que vi que quem mais me apoia nos momentos de dores são os meus cotovelos!
E eu já fui tão feliz aí na Praia do Forte, no castelo García D'Ávila...ah, como as coisas mudam!

Liquidou-se!



Seria imprudente negar, ou mesmo subestimar, a profunda mudança que o advento da “modernidade fluida” produziu na condição humana. O fato de que a estrutura sistêmica seja remota e inalcançável, aliado ao estado fluido e não-estruturado do cenário imediato da política-vida, muda aquela condição de um modo radical e requer que repensemos os velhos conceitos que costumavam cercar suas narrativas. Como zumbis, esses conceitos são hoje mortos-vivos. A questão prática consiste em saber se sua ressurreição, ainda que em nova forma ou encarnação, é possível; ou – se não for – como fazer com que eles tenham um enterro decente e eficaz. (BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001)

Da discussão de Bauman depreende-se que não é o tempo cronológico que inscreve a modernidade, mas um conjunto de transformações no âmbito da política e da cultura, além da vivência subjetiva destes fatores: “A modernidade começa quando o espaço e o tempo são separados da prática da vida e entre si, e assim podem ser teorizados como categorias distintas e mutuamente independentes da estratégia e da ação” (p.15). Isso explica porque há tanto atraso na modernidade: ela é mista, admite o convívio de velho e novo, atravessa o tempo convencional, movimenta-se pelos espaços sem se ater a nenhum.
E se parece que nada disso nos diz respeito porque é teórico demais, basta ver como somos ou mesmo basta esticar o olhar até o “retrô”, que nada mais é do que a volta do que já foi e que, portanto, passa a ser de novo porque revivesceu na moda, nos costumes, nas sobrevidas que a cultura dá ao que já passou e que é reeditado. Esta reedição se estende até o cult e ao clássico.
Ser leve e líquido, colocado como questão por Bauman, no prefácio de Modernidade líquida, sintetiza todas as querelas com que a gente se defronta no cotidiano, em que é comum reclamar de uma certa “falta de chão”. Nada mais é igual como era antes, porque é igual com muitas diferenças e não há firmeza, não há esteio, não há base nem segurança em nada. Isso é posto na forma de análise dos efeitos para a sociedade, mas pessoalmente, vejo que o impacto de tudo nos indivíduos é bem mais instigante: essa solidão coletiva e a busca por qualquer coisa para fugir da realidade, a obrigatoriedade da felicidade no Facebook e a emergência dos discursos de sucesso na vida pessoal, o conhecimento como mosaico de copiar e colar do Google, a adolescência prolongada ao pós-divórcio, o emprego perdendo área para a ocupação, a necessidade de aceitação social em confronto com a ditadura do alto número de seguidores e "amigos" em redes sociais, a medicamentalização das angústias; o deslocamento das funções de pais e professores e a incongruência entre discurso teórico-profissional e a vida prática seriam, no meu ponto de vista particular, arestas da mesma questão. Acabou-se o que era sólido!
Porém, como esse blog não é dado a filosofias nem a sociologias, só busquei este livro ali na estante como pretexto para dizer à minha amiga E. que procure sobreviver ao término do relacionamento porque é isso mesmo: os laços humanos são frágeis e, aliás, ninguém quer laço com medo de que vire nó.
Geralmente, quando a coisa aperta, quando o laço aperta, os homens caem fora com medo de se amarrarem. E se amarrar a uma mulher é ter com ela compromissos que podem levar a renunciar a outras oportunidades de experimentar outras relações instantâneas e fluidas. Assim é a vida nos tempos modernos, minha amiga. E Bauman escreveu o Amor Líquido também, que já discuti aqui em outra ocasião.Se é fluido, escorre pelas mãos, passa...vai passar...O que era sólido, liquidou-se!

sábado, 25 de agosto de 2012

Nudez real



Ri muito do burburinho dos tablóides sobre o fato de o príncipe Harry ser fotografado nu, numa noitada de esbórnias por aí. Ah, se até "o rei está nu", porque o príncipe não poderia?
Nos bancos das melhores e das piores escolas brasileiras a gente aprende cedo acerca da nação britânica: "o rei, reina. O parlamento governa". Realeza perfeita é impossível não só por ser ela já anacrônica, mas porque assim são os seres humanos: imperfeitos.
O príncipe perfeito, no cavalo branco, gentil, educado, protetor, salvador, é coisa de conto infantil, onde bem cabem as hipérboles da imaginação. Os príncipes da vida real dão uns bons cutucos com o consentimento das moças, bebem, dão vexame, vivem as coisas próprias da idade.
Não vai ser por falta de escândalos que o reino vai desabar: acontece nas melhores famílias, até mesmo na família real.
P.S.: Presumo que devido ao fato de que O RATO ROEU A ROUPA DO REI DE ROMA E A RAINHA RUIM RESOLVEU REMENDAR, enquanto se costurava, o rei ficou nu. Também é provável que o príncipe Harry tenha uma explicação bem pessoal para o caso de ter sido fotografado de bunda ao vento. Se as desculpas forem esfarrapadas, costura-se também. Salve o assessor de imprensa!!!!

Onde mora a questão...



Já falei aqui, repetindo Sônia Coutinho, que a "liberdade é um tesouro duvidoso". Hoje constato o quanto abdicamos da liberdade em troca de segurança.
No casamento é assim, na segurança pessoal é assim, nessa vida nossa em que toda hora lemos por aí: "sorria, você está sendo filmado!' e que mostra que todo mundo é suspeito de ser capaz de cometer qualquer atrocidade, aí está nossa eterna negociação de liberdade e segurança e de uma pela outra.
Estávamos conversando sobre isso, nesses dias: o deslumbramento que as pessoas tem por morar em prédios e em condomínios. Essa falsa construção de retorno a uma condição antiga, da vida em aldeias,vem se mostrando uma grande decepção.
Não vejo graça nessa verticalidade de moradias, onde uma parede separa a intimidade de uma casa da outra; onde se tem que dar satisfações a síndicos e porteiros acerca de quem nos visita, nos burburinhos das coisas depreendidas até mesmo para quem não recebe ninguém em casa - sujeito esquisito, solitário, sonso... - tudo passa a ser passível de observação.
Talvez a vida sem quintal e sem terra por perto seja o sonho de muita gente, por parecer prático, higiênico, elegante...
Eu é que não queria submeter a adoção ou permanência de um bicho meu ao síndico, mas lembro muito bem do meu cunhadovsky dizendo que resolveu morar em condomínio exatamente por tudo isso que me parece aborrecedor: o excesso de regras e de partilhamentos, pois, para ele, o mundo só funciona bem mediante disciplina, regras e leis. A liberdade, segundo ele, só cria vândalos. Talvez ele esteja certo: condomínio, com o domínio.

Armários e arco-íris



Tive sonhos esquisitos com o Léo Áquila ( vê se pode?) que se transmutava em homem e em mulher e ficava me cantando. Mas tudo tem uma razão: antes de dormir eu estava pensando no meu amigo Wesley, que eu não vejo há muito tempo. Na verdade, eu ia colocar só a inicial do nome dele, mas poderia sobrar para outro sujeito, inocente das constatações que aqui faço.
Pensei num dia em que perguntei um negócio meio impróprio a ele, porque fiquei meio desconfiada de que ele segurava forte a porta do armário da identidade sexual. E ele confirmou minhas suspeitas.
Wesley já foi casado. E quem de nós não tem um amigo gay que foi casado e teve filhos apenas para calar a boca dos familiares? E quem não testemunhou, quando da maturidade do sujeito – já quando pai e mãe estavam mortos – que este mesmo amigo foi morar com outro homem? Mas isso é bem banal. Ah, até Léo Áquila tem um filho. Não trato disso: trato do mesmo desprendimento que uma amiga minha teve, quando resolveu ser lésbica.
Isso me incomoda: tratar da sexualidade como se fosse uma roupa que você troca conforme a moda. Acho que a sexualidade é pré-figurada, configurada para além da cultura. Peça a um gay para ser heterossexual por um dia, por exemplo! Nos dois casos dos amigos citados, a coisa funcionou assim: eles queriam amor. Queriam amor e não importava a embalagem.
Aconteceu de o amor vir em embalagem espelhada, ou seja, meu amigo homem encontrou o amor num homem; minha amiga mulher encontrou amor numa amiga mulher. Não procuraram protocolo: o amor estva ali, do jeito que cada um sonhava e o resto era detalhe. Pronto!
Mas para os que como eu defendem os direitos civis dos homossexuais e o pleno acesso à cidadania, para a gente que é cercada de gay, que tematiza, que discute, é certa a batalha para conviver com quem concebe que só se pode defender uma causa se você se incluir nela. Logo, só gay defende gay. Se você os defender, você é gay. Prova disso é a perseguição aos outrora chamados Simpatizantes.
Devo intuir que os Simpatizantes eram simpatizantes com a causa e não eram simpatizantes no sentido de que eram indecisos e curiosos para fazer experimentos sexuais com gente do mesmo gênero.
Igualmente, é uma batalha explicar para uma mulher que a gente que se sabe heterossexual, agora respondendo por mim, não tem a menor atração, interesse ou curiosidade sexual por uma pessoa do mesmo sexo que nós.
Não há nada que uma mulher possa me proporcionar sexualmente. Nada! Continuo achando que uma mulher é bonita ou interessante, assim como qualquer outro ser humano pode ser bonito ou interessante. Faz um tempo que as opiniões estéticas passam pelo filtro maldito dos interesses...
Por causa de uma coisa assim dois amigos se afastaram de certas conhecidas: depreendemos que o par da moça achava que ela era irresistível, linda, poderosa e desejável, pois a qualquer olhar de homem ou de mulher, a qualquer elogio social (do tipo: “Você está bonita de azul!”; “essa calça ficou linda em você!”, etc.) e coisas do gênero, a referida pessoa atribuía valores de flerte, de maldades, de desejos não confessados. Daí que a nossa amiga em comum nunca mais quis conversa, temendo que se coincidisse de olhar para esquerda e lá estar a invejável moça, a companheira fosse construir juízos de ciúme. O amigo também passou pelo mesmo e concluiu pela mesma decisão.
Esta maldade é terrível porque presume interesses inexistentes, é ofensiva e descarta a tendência individual das pessoas, pois todo mundo é tratado como se fosse lésbica ou gay e, portanto, passível de avançar em cima da carne dos amigos. Francamente!!!
Seria engraçado se nós, os heterossexuais, duvidássemos da homossexualidade alheia da mesma forma como ocorre o oposto. Certo que tem aqueles caras ridículos que insinuam para as moças lésbicas que a identidade sexual delas é essa porque não encontraram um homem capaz de satisfazê-las plenamente, porque não acharam pênis competente. Esses merecem ser execrados, mas ao mesmo tempo, perdoados devido à prova inconteste de ignorância.
Enfim, ao lembrar de Wesley também lembrei do desbunde que ele quis viver, para compensar o tempo perdido para seguir as regras sociais impostas pela família. Tem gente que diz que o importante é ser feliz. Eu diria o mesmo se soubesse onde está felicidade de cada um. Não sei, mas certamente não está na mentira, independentemente dos cadeados que guardam as portas dos armários onde muitos se escondem.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Bad girl!


Pura analogia!kkkkkkkkk!!!!

Eu, hein?! (XI)


Para quem não entende direito o que significa investir em fundos!

Eu, hein?! (X)


Postagem especialmente dedicada à minha amiga Jau, que tanto queria saber onde fica a casa do... (b?), (K?)...aralho!

Debaixo do pano


Sem tempo para escrever, só me resta deixar que as imagens falem por si mesmas...É, eis aí a foto antiga de um remanescente da tribo Papachana, povo heterossexual masculino que deixou saudades...

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Por água abaixo!



Envolvida como estou em escrever as considerações finais da tese, agregando atividades diferentes e problemas diversos para resolver, nem tratei do resultado das ambições de entretenimento da sexta-feira passada. De lá para cá, tantas outras histórias para contar, mas, enfim, o tempo vai devorando as possibilidades de narrativa e aí, tal como acontece nos jornais, a gente faz um processo de edição - apesar de que, até o fechamento deste texto, recebi um telefonema de minha amiga que eu creio que vá deixar de fora deste post, apesar de engraçado. Bom, mas lá vou eu satisfazer a curiosidade dos meus amigos próximos que querem matar a curiosidade sobre o que houve e no que deu meu ímpeto de pegar a balsa e ir à Primeira, à Segunda e à Terceira praia de Morro de São Paulo, que é o jardim do lugar em que eu trabalho.
Eu estava sonhando com um gostoso fim de semana em Morro de São Paulo! Já me via na Toca do Morcego, aproveitando a noite e o pôr-do-sol; já havia mapeado tudo que havia de interessante no Centro, onde eu ficaria hospedada, assim como na Primeira, na Segunda e na Terceira praia; e já havia batido o maior papo com a Dona América, dona da pousada.
Na sexta-feira de manhã, ainda aqui em Feira de Santana, despencou o maior dilúvio. Tanto tempo para chover e a chuva só vem quando planejo por os pés na praia. Choveu daqui até todas as cidades até Valença. E depois de chegar onde dou aula, a chuva me acompanhou. Resultado: dei as minhas aulas e voltei humilhada para casa – porque esse é o lado ruim de trabalhar a dois passos do paraíso: está tudo ali bem perto, mas nunca há tempo para usufruir ou deixamos de usufruir devido a um detalhe qualquer, tipo o sol ou meios de transporte ausentes,insuficientes ou inadequados, ou por qualquer acidente de percurso que tornam as coisas impossíveis.
Minha amiga Jau, eu, Tella e Ninno costumamos falar assim das coisas que não se concretizam: fomos humilhados. Então, houve um dia em que combinamos de ir a uma Cafetière. Lá fomos nós. Ao chegar o lugar estava fechado. Assim, a gente diz: “Voltamos humilhados!”.
Dia primeiro de janeiro de todos os anos do resto de nossas vidas, a gente vai atrás de supermercado aberto. Não adianta: não há. Resultado? Voltamos humilhados para casa. Apesar de sabermos que nenhum supermercado, nem os que se intitulam 24 horas, abre no dia primeiro do ano, todos os anos apostamos e perdemos, humilhados.
Então, no caso de Morro de São Paulo, voltei humilhada para casa por causa da chuva, do clima frio e da minha decisão de nem sequer arriscar a travesseia e ver se o domingo seria diferente. Não vou à praia com chuva de jeito nenhum. Neste caso, era a praia e a discoteca,a possibilidade de dançar à noite, de ver um luau besta, com provável gente besta cantando laiá-laiá, com uns maconheiros tatuados tirando onda de gostoso e duas ou três oferecetes se oferecendo, baseados, cerveja e gente com sotaque se achando dona do pedaço, porque este é o clichê e esta é a regra - aliás, é um clássico.
E meu sábado tinha tudo para dar errado, apesar do que, decepcionada eu estava, mas não estava triste. Acabou que o erro deu certo no final: o ser humano da imprecisão afetiva foi me buscar quando eu cheguei, cheio de argumentos, de mentiras agradáveis, de alternativas... e assim a noite foi ótima.
Eu já tinha mudado muita coisa em minha vida desde a quinta-feira. Repito muita coisa, também. Repito ideias e opiniões e repito erros indefinidamente. Mas quando digo aos outros que a “vida da gente só muda quando a gente muda a vida da gente”, depois de muito errar eu aplico a mim.
E por falar em repetição, sou o meu signo. “Sou ariano torto, vivo de amor profundo”, mas dou marradas como um carneiro, bato a testa na parede, insisto, quebro a cabeça, quebro a cara. PAUSA DRAMÁTICA: VI UM OUTDOOR PERTO DO BOULEVARD SHOPPING, ANUNCIANDO QUE O HOSPITAL EMEC AGORA TEM UM CENTRO DE TRATAMENTO DE TRAUMATISMOS DA FACE E PENSEI: SE EU QUEBRAR A CARA, É LÁ QUE EU VOU!”
Voltamos agora à nossa programação normal: repito coisas, mas quando decido romper, implodo as coisas, explodo as relações e faço tudo diferente. Acho que ele viu isso e foi lá tentar consertar as coisas.
O que vejo nele é o que vejo num outro grande amigo meu: a dificuldade em admitir que tem problemas existenciais, que não entende o que falta para ser feliz, que não vê sentido em nada...Se eu pudesse, pagaria umas vinte sessões de análise para cada um.
E nessa de fazer diferente, acionei o pessoal da lista de espera. Mas eu ia me dar muito mal: desmanchado o meu namoro, ao constituir uma dada pessoa como amante, sabia que ele viria com cobranças e com ciúmes absurdos. Se fosse para esclarecer as regras das relações imprecisas, eu diria que um bom amante deve, necessariamente saber a hora de ir embora e saber avaliar o limite dos próprios direitos. Ele, o da lista de espera, não atende a estes requisitos mínimos. Agora vou ter que acionar o meu repertório de desculpas esfarrapadas para explicar a desistência...

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Eu, hein?! (IX)


Quem gosta de cerveja é capaz de tomar em qualquer lugar, inclusive nesse aí!

Eu, hein?! (VIII)


Para quem queria saber sobre a linguiça do Harry Potter, aqui está...

Eu, hein?! (VII)


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Vale a pena ouvir direito



Poxa, se não fosse por uma propaganda de carro a música Young Folks, relativamente velhinha, não ganharia o menor destaque.E olha que por aqui ficamos apenas no refrão.
Adoro o clipe, com a animação e o assobio e acho que gosto da parte meio transgressora da letra, que passa despercebida, sufocada pelo ritmo agradável. E em homenagem aos meus amigos chegadíssimos, especialmente para Héber e Du, vai aí abaixo a letra, para quem sabe a gente cantar num dia de sol, no caminho para a Praia do Forte:

If I told you things I did before
Told you how I used to be
Would you go along with someone like me?
If you knew my story word for word
Had all of my history
Would you go along with someone like me?

I did before and had my share
It didn't lead nowhere
I would go along with someone like you
It doesn't matter what you did
Who you were hanging with
We could stick around and see this night through

And we don't care about the young folks
Talkin' 'bout the young style
And we don't care about the old folks
Talkin' 'bout the old style too
And we don't care about their own faults
Talkin' 'bout our own style
All we care 'bout is talking
Talking only me and you

Usually when things has gone this far
People tend to disappear
No one will surprise me unless you do

I can tell there's something goin' on
Hours seem to disappear
Everyone is leaving I'm still with you

It doesn't matter what we do
Where we are going to
We can stick around and see this night through

And we don't care about the young folks
Talkin' 'bout the young style
And we don't care about the old folks
Talkin' 'bout the old style too
And we don't care about their own faults
Talkin' 'bout our own style
All we care 'bout is talking
Talking only me and you

And we don't care about the young folks
Talkin' 'bout the young style
And we don't care about the old folks
Talkin' 'bout the old style too
And we don't care about their own faults
Talkin' 'bout our own style
All we care 'bout is talking
Talking only me and you
Talking only me and you


(Young Folks, cantando por Peter Bjorn And John)

Letras e músicas



Eu estava vendo sei lá aonde um daqueles programas de bastidores, mostrando a vida de alguns cantores e duplas sertanejas, quando comecei a prestar um pouco mais de atenção àquilo, talvez por estar focalizando a Cláudia Leitte, cantora carioca da música baiana.
Passei a pensar não somente nela, mas na Ivete Sangalo e num bando de gente que, ao subir no palco, tem por obrigação deixar as pessoas alegres e envoltas naquelas ordens de “mãozinha para cima”, “sai do chão”, “mão na cabeça”, “descendo até o chão” e etc.
Coisa de louco isso de você deixar os outros alegres, quando, na verdade, nem sempre é possível estar suficientemente alegre para trazer alegria para os outros, apesar de toda tônica comercial deste ofício.
Logicamente, tem os rituais, tem o lado de ator e todo um estudo e gestos premeditados para lidar com isso, para lidar com as expectativas de quem paga caro por uns minutos de alegria. Mas, depois de ver os bastidores daquele povo subindo e descendo de jatinho, com as neuras de estar cercado por uma equipe que vai do segurança ao supervisor alimentar e outros membros de um séquito interminável, depois de pressupor o stress dos voos e das noites mal dormidas, constatei que os milhões que eles ganham não são à toa. Aquilo é trabalho. Pode não ser um trabalho comum, porque é muito bem remunerado e cheio de glamour, mas o negócio é trabalhoso.
Por falar nessas coisas, sou uma daquelas pessoas a engrossar o caldo dos que confundem grupos musicais como o Boca Livre, o Quarteto em Cy e o 14 bis, ressalvando que só não os confundo com o A cor do som, como é mais comum acontecer, porque destes eu sou fã a ponto de ter mil e um CDs.
Não é coisa de se envergonhar tal confusão: eles se parecem na forma esmerada e melodiosa de cantar. São lindos cantando, são eufônicos, simples e perfeitos. E como não poderia deixar de ser, confundem Beto Guedes e Flávio Venturini, não na voz, mas na figura.
Quando eu disse que ouvia as músicas desses grupos citados desde os 10, 11 anos, ele, o Outro, comentou comigo: “você teve educação musical.”.
Eu não tive não, pelo menos no lado formal da coisa. Mas acho que eu já sabia fazer escolhas e por esta época ouvia muito rock baiano e muito Clube da Esquina. Nunca tive tendências à música brega, do tipo do Fernando Mendes ou do Amado Batista. Mas eu os ouvia, conhecia, porque quando fui morar com a minha madrasta era isso que tocava lá e nas cercanias. Eu sempre achei aquilo tristonho, de uma tristeza musical diferente e ruim. Se for preconceito, pelo menos este brotou voluntariamente, sem influência alguma, porque eu achava realmente ruim a música dos dois citados. Por isso ponho na conta das minhas escolhas pessoais, até por que, pelo lado brega da coisa, já falei dos forrós que ouvi e memorizei ao longo da vida.
Mas eu achava lindo ouvir: “Sempre assim/cai o dia e é assim/Cai a noite e é assim,/Essa lua sobre mim,/ essa fruta sobre o meu paladar.../Nunca mais quero ver você chorar,/ sem me entender em mim/ eu preciso lhe falar,/eu preciso, tenho que lhe contar: te amo, espanhola! te amo espanhola!/Para quê chorar? Te amo...”, naquela voz tão doce de Flávio Venturini, uma voz que sozinha já é um carinho. Acho que por isso vejo um potencial erótico imenso nas vozes masculinas, adoro sussurros (como adorava os sussurros de C.).
E lembro muito bem de ouvir, quando eu voltava da escola, na quarta série, esse mesmo Flávio Venturini cantando, sim, uma música triste, chamada Princesa: “Sim, princesa/sou quem vai chegar/na chuva da montanha, vem se molhar/Sempre, para sempre sou por seu querer/ estrela cintilante, vem me valer...”, que é a coisa mais linda do mundo de se ouvir na voz de um homem, cantada também tão docemente.
Daí, desde cedo se desenhava em mim a predileção pela trilha sonora, extensiva ao gosto do sexo com trilha sonora, com músicas que também podem ser do Red Hot Chilli Peppers, do U2, dos Beatles, do Gogo Dolls, enfim. Ah, um dia eu conto tudo sobre minha paixão pelos Beatles – capítulo à parte.
Interessante como a personalidade da gente se forma, como os gostos se anunciam. Pois é, a mesma criança que ouvia os forrós maliciosos e se divertia, sabia escolher outras opções. E como eu achava bonito ouvir de manhã o Boca Livre cantando Toada:

Vem morena ouvir comigo essa cantiga
Sair por essa vida aventureira
Tanta toada eu trago na viola
Para ver você mais feliz
Escuta o trem de ferro alegre a cantar
Na reta da chegada para descansar
No coração sereno da toada, bem querer.
Tanta saudade eu já senti, morena
Mas foi coisa tão bonita
Da vida, nunca vou me arrepender.
Morena, ouve comigo essa cantiga
Sair por essa vida aventureira
Tanta toada eu trago na viola
Para ver você mais feliz
Escuta o trem de ferro alegre a cantar
Na reta da chegada para descansar
No coração sereno da toada, bem querer
Tanta saudade eu já senti, morena
Mas foi coisa tão bonita
Da vida, nunca vou me arrepender.

Acho que não consigo sustentar a pose politicamente correta de que não existe bom e ruim. A gente diz isso para não passar por preconceituoso, por ignorante, quando isso é conveniente.
As músicas bregas que eu gosto não são essas da exploração vulgar das dores humanas, “no hospital, na sala de cirurgia”, nem de uma menina numa cadeira de rodas, nem daquela que “lê colunas sociais,/sonha com seu nome nos jornais/espera um convite para ser atriz/e pede a Deus para ser feliz”. O conteúdo desta última continua atual, reconheço.
Eu sei, eu ouvi e justamente por isso tenho a legitimidade da minha escolha. O brega que vai em minha vida é do Wando, do “passarinho na gaiola/feito gente na prisão”.
Creio que me canso do vale-tudo politicamente correto. Sinto muito, mas minha liberdade de escolha e de opinião me diz que posso gostar disso ou daquilo. E simplesmente, gosto de outras coisas. Juízo de valor aplica exatamente valores, pesos, medidas.
Pode ser que bom e ruim seja questão de gosto, de preferência, de ponto de vista... Pode ser. Mas eu não consigo colocar no mesmo cesto os cantores que eu citei sem que a balança venha a pender para o lado que me parece mais agradável e que para alguns será o lado mais elitista. Mas, vejam aí meu entorno e o contexto em que gestei minhas preferências musicais, que desmentem, creio eu, a sentença presumida.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

De novo e sempre!



Negro Amor (Gal Costa)

Vá, se mande, junte tudo que você puder levar
Ande, tudo que parece seu é bom que agarre já
Seu filho feio e louco ficou só
chorando feito fogo à luz do sol
Os alquimistas já estão no corredor
e não tem mais nada negro amor

A estrada é para você e o jogo é a indecência
junte tudo que você conseguiu por coincidência
e o pintor de rua que anda só
desenha maluquice em seu lençol
sob seus pés o céu também rachou
e não tem mais nada negro amor

Seus marinheiros mareados abandonam o mar
seus guerreiros desarmados não vão mais lutar
seu namorado já vai dando o fora
levando os cobertores? E agora?
até o tapete sem você voou
e não tem mais nada negro amor
e não tem mais nada...

As pedras do caminho deixe para trás
esqueça os mortos que não levantam mais
o vagabundo esmola pela rua
vestindo a mesma roupa que foi sua
risque outro fósforo, outra vida, outra luz, outra cor
e não tem mais nada negro amor
e não tem mais nada negro amor
e não tem mais nada negro amor
e não tem mais nada negro amor

[Composição: Bob Dylan / Versão Péricles Cavalcante e Caetano Veloso]

Mistérios profundos na mente rasa



Nestes meus poucos dias de adesão ao Facebook só tenho a louvar a oportunidade de falar pelo bate-papo com os meus amigos e catar umas fotos perdidas de carnavais passados.
E foto me dá a maior paranoia porque geralmente a peste do amigo coloca lá a foto em que ele está bonito, pouco importando se os coadjuvantes – eu e outros amigos – estão com olhos vermelhos de maconheiro, de boca aberta, de olhos vesgos, de pernas trocadas... Mas ainda bem que nem todos eles são assim.
Outra coisa interessante é que tem lá uma caixinha de diálogo contendo o seguinte: “Em que você está pensando?”. Então pensei que se eu postasse o que eu tenho pensado, as coisas não iriam acabar bem para mim. Fico pensando, por exemplo, nos dilemas filosóficos que atormentam os seres humanos. Não se trata apenas de desvendar mistérios como a resposta que melhor dê conta do esclarecimento sobre “É de babaixá ou de balacobaca?”, mas de coisas mais profundas, do tipo, “Por que as costas coçam onde as mãos não alcançam?”. Fora que se há um estímulo para que eu pense coisas sérias, se me perguntam no que estou pensando, sobrevêm os pensamentos mais absurdos, que passam pela minha cabeça tipo versos de música de duplo sentido ou forrós maldosos de antigamente. Fico lá pensando “Quem não conhece Severina Xique-Xique-/ Que comprou uma boutique para a vida melhorar?/Pedro caroço, filho de Zeca Gamela/Passa o dia na esquina fazendo aceno para ela/Ele tá de olho é na boutique dela!”
Juro! Nas horas mais impróprias me vem um Genival Lacerda, uma Cremilda, um Sandro Becker na cabeça. E falando nele: “O meu avião não cai/o meu barco não afunda/menina, eu quero ver o balançar da sua... saia!”.
Mas hoje aconteceu foi um troço absurdo quando eu estava no salão de beleza. Para começar, já estava tudo errado: ao invés de chegar lá e catar minha revistinha de futilidades, beleza, celebridades e boa forma, levei o meu Raízes do Brasil, porque nestas últimas cinco páginas que restam escrever, veio a ser uma exigência.
De repente, não se sabe de onde saiu a pólvora, o tema existencial pegou fogo, tomou conta dos secadores.
Vou ali para mexerem no meu cabelo, não para dar trabalho à minha cabeça. Sei que dialoguei explicando uma grosseria que cometi ontem, ao falar a um amigo meu: “E que motivo você tem para ficar triste”?.
Daí que eu disse um absurdo desse e as meninas lá acompanharam o meu raciocínio, porque a gente tem angústia e tristeza não é porque há algum motivo claro.
Ter saúde, ter companhia, dinheiros, casa para morar e etc. não é sinônimo de que a gente não sinta angústia, porque é um fenômeno humano. Embora a gente precise de muito pouco para estar bem, não significa que ter tudo vá causa a extinção das dores, das decepções, das tristezas. A diferença é que quem é rico já tem suas conquistas materiais e aí, pior ainda, fica livre para questionar a existência e reclamar outras faltas.
Nós, os pobres, na labuta diária, entre aulas para dar, comida para fazer, contas para pagar,cachorro para dar banho, família insuportável para lidar e etc., a gente, pois, é que se entretém com isso e descura de coisas mais profundas que talvez boa parte de nós desconheça carecer.
Tem uns seres humanos iluminados que afirmam que escrevem melhor quando estão mal, na fossa, no fundo do poço. Não se aplica a mim esta máxima. Se estou mal, tudo vai mal e nada anda.
Bom, o povo do salão reconheceu que ter filhos e inventar um cotidiano ajuda a dar sentido à vida, porque a gente, graças a Deus, pode jogar as questões mal respondidas de nossa existência para cima da existência dos outros. Aí tem filhos para criar, gente para cuidar e faz de conta que existe porque eles precisam de nós.
Não sei o sentido da vida. Sentido obrigatório, porque suicídio não é bem-vindo.
Talvez seja sempre à direita; talvez seja siga em frente - bem que podia ter placas! - mas sei que qualquer que seja o sentido, ele não existe por si só e cada um cria o seu. No meu caso particular, o sentido da vida é existir. Depois a gente morre. Ponto final.
Ah, sim, explico este ponto final: quando num ano aí o Bigbrother dos professores do campus em que eu ensinava foi infestado por fantasmas, fazendo com que cada um tenha uma história para contar sobre isso, muitas delas compartilhadas, descobri que não é todo fantasma que atravessa portas. Graças a Deus! Eu, que não acredito em cartomantes, fui obrigada a engolir em seco os espectros da casa, trazidos, claro, pela paranormalidade mal cuidada e negligenciada de uma das pessoas que trabalhava conosco. De todo modo, me perturba pensar na pós-existência e eu fico aqui acreditando em Morte após a Vida, que é o caminho mais fácil para encurtar dilemas.
Agora que resolvi aproveitar o entorno da cidade em que dou aula, fiquei com medo de enfrentar águas profundas de novo – como quando tive que ir de balsa a Niterói.
Não bastasse o eterno medo, tive advertência de dois amigos, dizendo que a entidade das águas iria me levar. Nem precisava dizer isso: eu morro de medo de águas profundas, eu odeio ferry-boat, eu nunca iria a um cruzeiro, eu não gosto mesmo...
Se eu ficasse na Península de Maraú, nem precisava disso. Mas a minha existência clama por um final de semana na praia badalada, bem naquela que necessita da balsa ou da lancha. Então não sei se isso é medo da morte, se é medo da vida ou é medo do pós-vida, porque está aí uma reposta que eu não quero ter. Minha mente rasa não se precipita sobre os mistérios profundos.
Já não me aguento com esta vida, quanto mais uma outra vida? Já disse: se alguém aí quiser a Eternidade, pode levar minha parte.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

70 vezes Caetano Veloso



"Meu coração galinha de leão não quer mais amarrar frustração", diz meu querido, amado, estimado e admirável Caetano Veloso, que talvez nem tenha um coração tão galinha assim, mas é um leonino na plenitude astral do seu signo. Nem acredito que ele completou 70 anos!
Tem esse povo careta e inconformado que vive repetindo o clichê ridículo de que " a idade está na cabeça" - só isso tiver a ver com os cabelos brancos. Aí, sim, a idade está na cabeça! - mas devo dizer que o Caetano, por fora e por dentro, não parece envelhecer.
Claro, quem não quiser ficar velho, que morra jovem, conforme me disse meu clínico geral, o doutor Hilarião - hilário ele é por vida! - e é lógico que há pessoas envelhecidas desde os 15 anos e outras tantas que envelhecem sem amadurecer, assim como muitos novos apodrecem, pois o tempo age sobre todos nós e quanto a isso não há jeito que dê jeito.
Mas olha o Caetano! 70 anos de vida! e é vida mesmo, não esta existenciazinha que eu e você temos, não: é existência de quem fincou seu nome na História, quem viveu intensamente afetos e revoluções, quem se exilou e sentiu medo, que tristemente cantou que "Embaixo dos caracóis dos seus cabelos (há) uma história para contar, de um mundo tão distante", numa composição triste, no Exílio, e que cantou tudo que está ali no LP/CD Transa.
É a vida de quem diz: "Vida, doce mistério" e ainda reforça, cantando em homenagem ao filho recém-nascido: "Eu digo que ela é gostosa!" e é da vida que se está falando.
Caetano Veloso reinventa tudo, reinterpreta tudo, mas acima de tudo ele é um homem que cria. Criativo, cria arte e cria problemas porque, como leonino, ele também gosta de exibir a juba sob o sol, de aparecer.
Consciente, diz ele em Soy loco por ti, América: " Estou aqui de passagem, Sei que adiante, um dia, vou morrer de susto, de bala ou vício"
Caetano é uma paixão, para mim. Por mim, faço como Adriana Calcanhoto e convido: "Vamos comer Caetano, vamos degustá-lo" (...pela frente, pelo verso, vamos comê-lo cru").
O cantor que consegue confundir a música com a poesia, diluindo fronteiras,atravessando barreiras, é mais que completo. Não dá para escolher uma música de autoria dele que seja a minha preferida, porque gosto de muitas músicas. Eu ficaria tentada, pelo contexto, a citar Vaca Profana porque acho que é uma música profunda e quando ele diz: "Respeito muito minhas lágrimas/ mas ainda mais minha risada", acho que diz tudo o que eu mesma gostaria de saber dizer. Desejar "La mala leche para los puretas", nesta terra de caretas e hipócritas é bem representativo para mim...
"Mas eu também sei ser careta", afirmo pegando de empréstimo o verso. E sem conseguir sair da identificação com a música, "sou tímido, espalhafatoso". "De perto, ninguém é normal". Eis-me aqui, louquética!
Parabéns, Caetano!


Respeito muito minhas lágrimas
Mas ainda mais minha risada
Inscrevo, assim, minhas palavras
Na voz de uma mulher sagrada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da manada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da manada.
Dona das divinas tetas
Derrama o leite bom na minha cara
E o leite mau na cara dos caretas

Segue a "movida Madrileña"
Também te mata Barcelona
Napoli, Pino, Pi, Paus, Punks
Picassos movem-se por Londres
Bahia, onipresentemente
Rio e belíssimo horizonte
Bahia, onipresentemente
Rio e belíssimo horizonte!
Vaca de divinas tetas
La leche buena toda en mi garganta
La mala leche para los "puretas"

Quero que pinte um amor Bethânia
Stevie Wonder, andaluz
Como o que tive em Tel Aviv
Perto do mar, longe da cruz
Mas em composição cubista
Meu mundo Thelonius Monk`s blues
Mas em composição cubista
Meu mundo Thelonius Monk`s...

Vaca das divinas tetas
Teu bom só para o oco, minha falta
E o resto inunde as almas dos caretas

Sou tímido e espalhafatoso
Torre traçada por Gaudi
São Paulo é como o mundo todo
No mundo, um grande amor perdi
Caretas de Paris e New York
Sem mágoas, estamos aí
Caretas de Paris e New York
Sem mágoas estamos aí
Dona das divinas tetas
Quero teu leite todo em minha alma
Nada de leite mau para os caretas

Mas eu também sei ser careta
De perto, ninguém é normal
Às vezes, segue em linha reta
A vida, que é "meu bem, meu mal"
No mais, as "ramblas" do planeta
"Orchta de chufa, si us plau"
No mais, as "ramblas" do planeta
"Orchta de chufa, si us...
Deusa de assombrosas tetas
Gotas de leite bom na minha cara
Chuva do mesmo bom sobre os caretas...

domingo, 5 de agosto de 2012

Fez-se o problema: Facebook, Poker Face!



Sempre relutei em ter conta no Facebook. Primeiro, por não ter uma vida glamourosa - e no Facebook não caberia nada fora do contexto do maravilhoso mundo das pessoas que têm uma vida maravilhosa -; segundo, por não ter o menor saco para estar escrevendo, cutucando, opinando, enquanto minha vida real pede a minha presença e tem outras urgências.
Acabo de ser incluida no Facebook, porque duas amigas minhas fizeram a porcaria da conta.Isso foi há poucas horas atrás, nesta tarde de domingo. Outra amiga acabou de me ligar, pirando geral porque lá não consta que eu sou formada pela UEFS e que a UFBA é apenas a instituição onde curso doutorado. Ela ficou irada, como se eu quisesse desfazer de minha estada na UEFS.
Ora, mas não fui eu que criei o meu perfil. E eu adoro a UEFS, nunca negligenciaria a universidade em que cursei tudo que veio antes do doutorado. E, de quebra, ganhei uns puxões de orelha por não ter convidado a amiga que me ligou e uns três ou quatro elementos de nosso convívo comum. Fora os que já pensam que eu sou uma tremenda de uma falsa, porque disse não ter perfil e agora todo mundo vê. E não poderei corrigir nada, já que não tenho a senha.
Onde é que eu vou inventar narrativas pessoais para alimentar aquilo lá? e a roupa para lavar? e o cachorro para dar banho? e a tese para escrever?desde o Orkut eu aprendi muito bem o que há de anti-social nas redes sociais. e, sinceramente, não vejo a menor graça. Entretanto, melhor contrariar uma opinião pessoal a perder uns tantos amigos.
Que graça deve ter o perfil de "uma pessoa comum, um filho de Deus" como eu, que almoça, janta e se espanta, sem grandes feitos, sem grandes pensamentos, sem férias perfeitas, sem se dar bem em tudo, sem momentos incríveis e sem a melhor existência possível?
Ninguém espere me ver por lá, salvo, é claro para fazer alguma edição de perfil ou pescar alguma foto, já que as meninas só devolvem a foto que a gente tira na câmera delas mediante conta no Facebook. E para mim tanto faz Assbook, Facebook, Falsebook (é o tipo mais comum) ou o que quer que seja.
Se alguém souber o nome da santa que é padroeira da Paciência, por favor, indique para mim: vou fazer trezena!

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Gênios bestiais



Uma das grandes dificuldades que as pessoas têm nesta vida, e lá vou me incluir dentre elas,é admitir que há pessoas geniais que são, ao mesmo tempo, deploráveis moralmente.
É o tipo de coisa que eu enfrentei quando descobri, há um tempo, o que todos já sabiam: Martin Heidegger foi um grande defensor do nazismo. E começo por ele, cuja obra Mundo, finitude e solidão foi a espinha dorsal de minha dissertação de mestrado que tratou justamente sobre as imagens da solidão na poesia de um autor feirense.
Muito se fala de Drummond e de não poucos outros poetas e artistas que, no Brasil, levantaram a bandeira da Ditadura, se aliando aqui e ali, nem sempre de forma declarada.
No filme Um homem bom, vê-se que, realmente, aquele professor que é protagonista realmente apoia o nazismo por acreditar na doutrina: pensa ele que é o melhor, que é assim mesmo, e sinceramente se envolve no processo.
Falei de minha decepção com uns escritores brasileiros ( em especial com um, baiano, que se apresentou no Xirê das Letras, a quem eu muito admirava) que vim a conhecer pessoalmente: pessoas execráveis, arrogantes, desumanas, enfim, tipos que mais uma vez demonstraram que a capacidade criativa ficcional deles nada têm a ver com as pessoas que são. Se eles têm algo de bom em si,com certeza fica circunscrito a esse mundo criado em páginas, mas não praticados ou comungados interiormente.
Não seria, assim, uma grande decepção ou novidade tudo isso, haja vista o quanto vários conhecidos, chegados e amigos meus e professores que tive, defendem tanta igualdade nas relações entre brancos e negros, entre pobres e ricos, entre iletrados e acadêmicos, entre homens e mulheres e que, na vida real, na vida extra-congressos e palestras contradizem o que defendem, humilhando empregados, sendo exibicionistas e hierárquicos em todas as relações travadas em seu dia a dia (entenda-se aí a forma como tratam os servidores das universidades, como contrapõem seus títulos aos colegas que ainda não os têm, nos exercícios de força retórica para subjugar um aluno, nos argumentos de força quando contestados, na força dos argumentos quando põem o conhecimento a favor de causas pessoais que buscam, arrogantemente,confirmar seu pedestal).
Certo que ninguém é de todo mau ou bom. Mas temos que admitir a contradição das coisas. E até a não contradição de quem optou por usar os seus poderes para o mal.
Há quem vá dizer que bem e mal é questão de ponto de vista: não é não. A medida pode ser um número de mortes causadas, as perdas de populações nativas, uma estatística qualquer que expresse prejuízos, perdas, doenças e elementos deletérios... Pode não ser um bom parâmetro, mas é um parâmetro: pensemos nos direitos humanos - não aqueles, das iniciais maiúsculas, mas o que sabemos estar codificado em nós - e vejamos o que compõe ou não uma agressão, uma supressão de direitos, um processo de usurpação, de privações variadas...
Um dia eu disse aqui mesmo , neste blog, repetindo algo que ouvi e que era o seguinte: "Enquanto uns choram, outros vendem lenços!". Sentença mais óbvia, mas pouco percebida. Claro,por analogia, enquanto uns adoecem, outros vendem remédios; enquanto uns vão para a guerra, outros vendem armas; enquanto uns lucram, outros perdem...e daí em diante, conforme se queira traçar o paralelo.
Pessoas geniais podem fazer coisas ruins: para certas pessoas, não há vacina contra o deslumbramento ideológico. Finalmente posso discordar parcialmente dos Engenheiros do Hawaii,em Toda forma de poder, não porque o verso esteja errado, mas porque isso não é aplicável apenas aos ignorantes (a não ser que o Gessinger tenha se referido aos ignorantes políticos, claro!), quando eles dizem que "O fascismo é fascinante, deixa a gente ignorante fascinada".


Toda Forma De Poder (Engenheiros do Hawaii)

Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada.
Fidel e Pinochet tiram sarro de você que não faz nada.
E eu começo a achar normal que algum
boçal atire bombas na embaixada.

Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer...

Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada.
Toda forma de conduta se transforma numa luta armada.
A história se repete mas a força deixa a história
mal contada...

Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer...

E o fascismo é fascinante, deixa a gente ignorante e fascinada.
É tão fácil ir adiante e se esquecer que a coisa toda tá errada.
Eu presto atenção no que eles dizem mas eles não dizem nada.

Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer...

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

"Preparas uma mesa para mim..."



Acabei de abrir meu e-mail e, muito feliz, encontrar lá um convite para jantar. Ora, como não poderia deixar de ser, o convite ficava a R$ 60,00. Quem poderia ser tão cara-de-pau a tal ponto? muito bem, agora vou fazer almoços de domingo e convidar a galera a, sei lá, R$ 50,00 por pessoa, com buffet livre.
Acreditei no convite porque veio em nome de um estabelecimento conhecido, que eu frequento. Julguei até que fosse estratégia de marketing para promover algum produto novo.
Lembrei logo do versículo do Salmo 23: "preparas uma mesa para mim na presença dos meus inimigos: o meu cálice transborda".
Na mesma página em que tenho e-mail, vi a manchete a respeito do oferecimento de serviços de carinhos não-sexuais, por cerca de R$ 122,00 reais, se convertidos na nossa moeda, mas que lá, em Nova York, onde fica o estabelecimento, custa US$60,00 a hora.
Intrigante: lá se pode obter carinhos, alisadinhas, afagos, abraços e carícias de mesma ordem. Eu acho é bom! Hoje em dia as pessoas têm vergonha de dar e pedir carinhos, seja porque já não somos tão livres para expressar afetos (sabe-se lá se a amiga que o recebe pensa que a gente é da Ilha de Lesbos? se o cara acha que é assédio ou que somos tarados?), seja porque dá vergonha de admitir que carinho é bom, que todo mundo precisa. E o sexo se desvinculou tanto do carinho nos últimos tempos, para não parecer amor-romântico, para parecer que é só carne (mas a carne também gosta de agrado, de delicadeza, de calor de abraços, de mãos nos cabelos).
Sintomático haver a oferta desses serviços, porque de fato é algo que está em falta. Para parecer que não somos seres afetivos, é preciso ser frio e direto. Se um cara acaricia uma mulher, o medo dele será o apego - e os temíveis telefonemas insistentes, as coincidências forjadas, o grude.
Sim, está aí: o grude! alguem que cola em alguém e a todo momento liga para perguntar: "Você está aonde?" ; "Você está com quem?"; "Você está fazendo o que?". Grude é tão chato quanto as pessoas mecânicas.
Falando em pessoas mecânicas, J.P. até hoje não soube que nosso namoro foi para o beleléu porque eu não aguentava os gestos robóticos dele, nem o sexo artificial Cirque de Soleil , nem outras coisas forjadas para afugentar interpretações de sentimentos... Eu nunca disse, mas dei lá as minhas indiretas, que , pelo visto, nestes quase dois anos não foram entendidas.Infeliz de quem não sabe conciliar o carinho e o sexo, a amizade e o carinho, os pares melhores e mais temidos.
Quantas vezes a gente quer colo, quer companhia para dormir de luz apagada e quer apenas a pessoa perto?!
Eu estava conversando com Tella sobre a forma como eu e Jau negociávamos nossa solidão com os nossos namorados. Melhor suportar os chifres, as desfeitas e as negligências e ir aprendendo a se distanciar emocionalmente até ter total fortaleza para aplicar o kick, é, o chute, que a gente não é besta de ficar prolongando sofrimentos, não é?
E se pode negociar solidões ficando com a pessoa errada, aquela pessoa que não tem nada a ver conosco, mas que está disponível e vale o "pouco com Deus é muito", numa fantástica relação doentia e de eternas e recíprocas carências, até que se possa tranquilamente ficar sozinha, desfazer o equívoco e esparar os duzentos anos até que pinte coisa melhor. KKK! eu sou mesmo irônica!
E um dia ela, Jau (Tella é fã de longa data) começou com esse negócio de sala de bate-papo.
Entrei numa, recentemente, conforme eu havia prometido. Eis ai outro engodo: segui as orientações, procurei as cidades, as idades e os assuntos. Mesmo a sala de Literatura só tem sexo, mal discutido e mal expressado, que a mim não incita a menor voluptuosidade. Tem um negócio no erótico: o erótico evoca o sexo, mesmo sem ter sexo; o sensual traz a sensação mesmo sem efetuar o toque. Porém, a vulgaridade gratuita e mal expressa, olha, sinto muito, é tão excitante quanto ouvir o horário político.
O povo deveria aprender com a literatura.
Literatura que é Literatura, não tem palavrão gratuito, tudo tem uma lógica, um ordenamento, um sistema de comunicação metafórica interna e externa e mobiliza cadeias associativas extremamente significantes. Palavrão em literatura não é palavrão.
Ora, se eu tropeço na pedra eu não digo "Glória a Deus!". Entretanto, o meu provável "Putakiupariu!" será honesto e proporcional ao dissabor da topada.
Evito palavrões na escrita, algumas vezes,por censura velada, porque ela existe sim: já não somos livres, se é que um dia fomos,como pensamos.
Mas, vá lá, se o palavrão está ali é por uma função e até por idoneidade textual. Todavia,esse negócio dos chats não terem o menor nível me arrasa.
Eu achava que quem quer sexo procura a sala em que ele será assunto; o mesmo para paqueras, encontros, amizades e etc. Será que se abrirem uma sala para Física Quântica vão se reproduzir os perfis e conversa que hoje existem?
Eu nunca iria entrar numa sala de Literatura esperando um convite para sexo grupal. Logo,os assuntos certamente nunca existiram porque desde logo o assunto era um só. Mas, ai de mim, que acreditei nas placas das ruas para encontrar um endereço perdido.