Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 30 de maio de 2012

"Voar, voar, subir, subir": Sonho de Ícaro em versão nonsense



Tive uma noite atípica que não vou poder explicar em detalhes, cheia de altos e baixos - pelo menos, sem baixarias.
Acordei e voltei a dormir. E foi aí que as coisas se complicaram nos meus sonhos nonsense (neste caso, devo dizer que o sonho imita a vida , pois a minha é nonsense e se houver sentido, é o sentido obrigatório das placas de trânsito, porque não vejo sentido em nada): sonhei que eu estava num avião bi-motor com Djavan e Oswaldo Montenegro, indo para não sei aonde, dar aulas de não sei o quê.
A gente conversa pacas! - eu e o Djavan. Aí eu vi que o avião ia pousar de repente e perguntei se Djavan não tinha medo daquilo.
Ele me dizia que não, que estava acostumado.
E lá vai o avião pousando numa estrada de chão, que evoluía para uma estrada semi-urbanizada, com uns bodinhos no caminho e estudantes vestidas de jeans e camisetas brancas, a passar para os lados como quem desviava de um carro. Visão de caos e terremotos, mas os demais passageiros não se desesperavam.
De repente descemos do avião, já estávamos na cidade certa, eu vi meu orientador com um pedaço de bolo na mão e fui lá comprar um também.
De repente,parte II, eu estava em Vitória da Conquista, querendo comprar coisas e me perdia de todo mundo. Horas depois, me encontravam.
Daí emendava num outro sonho que era o de um balão sobrevoando o quintal de minha casa e perdendo altitude.
Eu, querendo ir lá socorrer o povo, joguei um short por baixo do baby dool mas, aí, o balão já estava voltando para a atmosfera.
Tudo tem uma razão apesar de ser nonsense: todo dia, 09h da manhã e mais duas vezes, à tarde, um bi-motor de propriedade de um circo que está aqui em Feira de Santana, sobrevoa a minha casa - e região - com um sistema de autofalantes estereofônicos.
Pelo menos isso, está explicado.
Djavan, contudo, me intriga por causa da letra da música que eu coloquei logo abaixo, porque não me sai da cabeça esse negócio de "viajar entre pernas e delícias", porque no mundo intelectual safadeza vira erotismo. Mas eu gosto dos dois - não tenho o menor preconceito. Falo aqui só por manobra semântica mesmo, para encher o saco.
Bom, acompanhem:

Cigano (Djavan)

Te querer,
Viver mais pra ser exato
Te seguir
E poder chegar
Onde tudo é só meu
Te encontrar
Dar a cara pro teu beijo
Correr atrás de ti
Feito cigano, cigano, cigano
Me jogar sem medir

Viajar
Entre pernas e delícias
Conhecer pra notícias dar
Devassar sua vida
Resistir
Ao que pode o pensamento
Saber chegar no seu melhor
Momento, momento, momento
Pra ficar e ficar

Juntos, dentro, horas
Tudo ali às claras
Deixar crescer
Até romper
A manhã
Como o mar está sereno
Olha lá
As gaivotas já
Vão deixar suas ilhas
Veja o sol
É demais essa cidade!
A gente vai ter
Um dia de calor...

Assim falou... (O Anjo Pornográfico)


Eu estava aqui gastando os dedos e o meu parco raciocínio para terminar um capítulo de minha tese quando, dentre os livros correlatos ao assunto, encontrei este maravilhoso depoimento de Nelson Rodrigues a respeito do comportamento do público frente à encenação de Perdoa-me por me traíres:
“Explodiu uma vaia jamais concebida. Senhoras grã-finérrimas subiam nas cadeiras e assoviavam como apaches. Meu texto não tinha um mísero palavrão. Quem dizia os palavrões era a platéia. No camarote, o então vereador Wilson leite Passos puxou um revólver. E, como um Tom Mix, queria, de certo, fuzilar o meu texto. Em suma: eu, simples autor dramático, fui tratado como no filme de bangue-bangue se trata ladrão de cavalos. A platéia só faltou me enforcar num galho de árvore. A princípio, deu-me uma fúria [...]. Naquele momento, teria descido para brigar, fisicamente, com 1500 bárbaros ululantes. Graças a Deus, quase todo o elenco pendurou-se no meu pescoço. Mas o que insisto em dizer é que estava isento, sim, imaculado de medo. Lembro-me de uma santa senhora, trepada numa cadeira. A esganiçar-se: “Tarado! Tarado!”. E ,então, comecei a ver tudo maravilhosamente claro. Ali, não se tratava de gostar ou não gostar. Quem não gosta simplesmente não gosta, vai para casa mais cedo, sai no primeiro intervalo. Mas se as damas subiam pelas paredes como lagartixas profissionais; se outras sapateavam como bailarinas espanholas; e se cavalheiros queriam invadir a cena – aquilo tinha que ser algo de mais profundo, inexorável e vital. Perdoa-me por te traíres forçara na platéia um pavoroso fluxo de consciência. E eu posso dizer, sem nenhuma pose, que, para minha sensibilidade autoral. A verdadeira apoteose é a vaia [...]. Confesso que, ao ser vaiado em pleno Municipal, fui, por um momento fulminante e eterno, um dramaturgo realizado, da cabeça aos sapatos.”
(RODRIGUES, Nelson. O Reacionário: memórias e confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1995,pp. 277-278)
P.S.: Anjo pornográfico foi um dos epítetos recebidos por Nelson Rodrigues e que nomeia uma das biografias mais conhecidas do teatrólogo.

domingo, 27 de maio de 2012

O coração da menina


A minha amiga R ontem estava me contando que tem três namorados que não são namorados, tudo bom e complicado como tem que ser.
Esses namorados têm outras namoradas (e esposas) e assim se dá o enredamento, num pacto de silenciosas esperas.
Ter todo mundo e não ter ninguém, esperar ser o alguém especial para alguém, ficar à espera da segurança mas, no fundo constatar que se está sozinho assim como todo mundo.
As esposas e namoradas estão sozinhas porque pensam que o título respectivo dá segurança e estabilidade - ambas desmentidas pelas traições dos seus pares.
Os homens se pensam em vantagem, apesar de precisarem ter outras, apesar da companhia oficial não bastar, apesar de saberem que há coisas que acontecem no apagar da luzes que também desmentem o ideal da vantagem, porque os preços são altos.
E quanto à minha amiga, as companhias esporádicas, se juntas, não resultam sequer num mínimo exigível para que se possa dizer que se tem alguém. Incrível mesmo é o pacto entre eles, para não serem descobertos pelas companhias oficiais, para não ultrapassarem os limites daqueles que não têm direito de namorados (as) e de esposos (as). Vai-se vivendo.
Difícil é encontrar gente descomplicada. Acho é que está mesmo todo mundo só.
O futuro do amor líquido talvez seja uma nova assunção cultural do amor, que apague a exigibilidade de improváveis atitudes fiéis, que flexibilize, que caia no teorema de Caetano Veloso: "Não importa com quem você se deite/que você se deleite seja com quem for".
Novas formas de amar que não magoem quem se sentem preterido ou traido. Já ensaiam coisas assim, mas a gente sabe que não tem funcionado: todos querem ser amados, todos querem ser únicos, especiais, todos querem ser o bastante para o Outro de modo que não caiba mais ninguém na relação além do par. E todos têm vaidade.
Quando vi com lentes de aumento a capacidade de mentira que minhas outras duas amigas têm, fiquei pasma! Mentiras gratuitas, sem razão de ser, mentiras cínicas... Então entendi que as coisas estão mais apocalípticas do que se possa imaginar.
Discutir novas sociabilidades não leva a resolver nossos problemas mais imediatos, é só uma constatação ridícula e óbvia de que está todo mundo perto sem estar junto, que as pessoas vivem acessando o Facebook e outras ferramentas, mesmo tendo um interlocutor por perto, que os pais já não amam os filhos como outrora, que tudo mudou. É, tudo mudou e as carências são as mesmas.
Apesar de tantos dizerem que não querem compromisso,continua sendo doloroso não contar com a despedida ou com gestos cordiais de despedida após sexo casual, ficadas descomprometidas, rolos e pegações de festa. Educação e etiqueta fazem falta em qualquer ocasião. Presumo, entretanto, que quando isso não ocorre, ou seja, a educação e a cordialidade para com o outro é suprimida,é para evitar uma má interpretação. Desta forma, é preciso ser ríspido, árido e prático para que o Outro não se sinta convidado a telefonar ou a imaginar que dali vai resultar algo mais.
Tempos difíceis, os nossos.
Faço parte deste tempo: pratico e sofro a ação, excetuando aquelas que batem diretamente contra as minhas caretices, porque não sei partilhar meu corpo com quem eu nunca vi na vida. No resto, não pareço destoar da maioria.
Falei disso tudo, também , porque lá vem o Dia dos Namorados. Dia em que muitas mulheres enviam flores para si mesmas, a fim de simular um namoro... Dia preocupante para algumas pessoas... Mas depois o calendário anda e a vida segue seu curso normal.
Minha amiga R se magoou ao descobrir que o ex-dela, que ainda é casado com Outra, mantinha vários outros relacionamentos paralelos ao deles dois (que eram três).
Minha amiga R parece a Sophia Loren quando jovem e é cheia de qualidades. Por isso eu me magoei junto com ela:solidariedade de quem não entende por que ela não bastou para ele.
Solidariedade de quem vê a companheira de gênero ser tratada como objeto de consumo, quantificável. Eis de onde ela tirou esta capacidade de ter três namorados que não são namorados: efeito dominó - e para muitos, fim de jogo!Quantas partidas, ainda, no coração da menina?

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Para a aniversariante do dia!



There is freedom within, there is freedom without
Try to catch the deluge in a paper cup
There's a battle ahead, many battles are lost
But you'll never see the end of the road
While you're travelling with me

Hey now, hey now
Don't dream it's over
Hey now, hey now
When the world comes in
They come, they come
To build a wall between us
We know they won't win

Now I'm towing my car, there's a hole in the roof
My possessions are causing me suspicion but there's no proof
In the paper today tales of war and of waste
But you turn right over to the T.V. page

Hey now, hey now
Don't dream it's over
Hey now, hey now
When the world comes in
They come, they come
To build a wall between us
We know they won't win

Now I'm walking again to the beat of a drum
And I'm counting the steps to the door of your heart
Only the shadows ahead barely clearing the roof
Get to know the feeling of liberation and relief

Hey now, hey now
Don't dream it's over
Hey now, hey now
When the world comes in
They come, they come
To build a wall between us
Don't ever let them win

(Don't Dream It's Over - Crowded House)

Para iluminar as tardes sombrias


"Transformar o tédio em melodia", transformar pedra em ouro, "Santo Antônio, que a pena que me aflige hoje se transforme em alegria", diz a trezena... transformar o ruim em bom... "Há males que vêm para o Bem"... Enfim, a gente gosta mesmo de fantasiar, de distorcer a realidade para favorecer a sobrevivência. E como eu queria saber fazer mágica!
Mas o tempo, que não tem grandes truques, transforma as coisas: transforma o novo em velho; o jovem em idoso; o verde no maduro; o imaturo em mais imaturo, o irresponsável em mais irresponsável, porque transformar não implica sempre em ocasionar mudanças substanciais.
Já vi cachorro velho aprender truque novo e já vi pau que nasceu torto jamais se endireitar. Por isso, ainda me pergunto se as nossas escolhas determinam quem somos. Sou inclinada a pensar que sim - salvo, é claro, quando os adultos decidem por nós ou em raríssimas exceções do mesmo gênero, em que não temos autonomia. Mas sempre se pode fugir de casa.
Apesar de tudo, às vezes esperamos que as coisas mudem radicalmente.
O tempo que desgasta é o mesmo tempo que aglutina experiências que traz maturidade...
O tempo que gera saudades é o mesmo tempo que nos faz esquecer. E quando esquecemos alguém isso significa a anulação daquela pessoa, que já não exerce efeito de saudade, de amor, de bem querer, de amizade.
Acho que a grande inimiga do tempo é a esperança: ela desafia o provável, ela se impõe, ela persiste mesmo quando sabe que não triunfará. Acho que ao lado da paciência, que tanto me faz falta, está a esperança. São interdependentes, mas eu não tenho um bom estoque de nenhuma das duas.
Também acredito que é necessário ter coragem para viver sem elas.
Esperança, para mim, é a irmã gêmea da ilusão. Ah, quem não precisa de ilusão? uma ilusãozinha pequena, que atenue uma dor, que ajude a dormir, que dê a "esperança" de um dia melhor... Talvez por isso eu tenha alimentado carinho pelos homens que me iludiram um pouquinho, que me fizeram sonhar - mentira é outra coisa, é comprometimento moral no meio das coisas, mas "pequenas porções de ilusão" ajudam a seguir em frente.
E quando acaba, a gente sempre sabe que foi apenas um sonho.
Por falar em sonho, andei sonhando com o Gabriel Braga Nunes - sonhos deliciosos para a carne e para o espírito, o que muito contraria o que penso do ator na vida real, já que não foram pequenos os escândalos com o nome dele e uns travestis há uns anos. Mas na ilusão do sonho, tudo pode acontecer.
Quantas vezes, mesmo sabendo que "o cinema é só ilusão", como cantou Lobão, eu fui assistir alguma bobagem que me comovesse? quantas vezes juntei as amigas da escola para ver Tom Cruiser em Trovão Azul e Top Gun, quando a gente só tinha mesmo ilusão pré-adolescente na cabeça?
Mas o que eu queria mesmo nesta sexta-feira era encontrar uma lâmpada maravilhosa e poder fazer três pedidos.
Bom, isso é ilusão.
O que eu posso encontrar é a lâmpada maravilhosa da boate The House e fazer três pedidos num fast-food, para dividir com as amigas, já que hoje é aniversário de uma delas... Que pena a realidade! Mas a noite ainda pode ser mágica ( e genial, apesar da chuva!)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Nas brechas da minha vida


Quando narrei aqui os desesperos que senti em 2006, quando os ladrões que assaltaram o ônibus em que eu estava voltando de Aracaju levaram os meus pertences e dentre estes estava a minha agenda, cheia de segredos, é claro, achei que não passaria mais por coisas similares.
Perder os pertences, tudo bem: a gente trabalha e compra de novo – em meu caso, antes de comprar roguei meio mundo de pragas contra os ladrões, porque não gosto de ladrão e gosto menos ainda daqueles que levam o que e é meu. Porém, levar os meus segredos, sabe-se lá para onde, para as mãos de quem, para fazer sabe-se lá o quê, ah, isso é imperdoável.
Também expliquei que foi a partir desse meu desespero específico que Thales, vítima do mesmo assalto, se aproximou de mim. Não obstante, sempre deixou no ar a ideia do quanto se interessava pelos meus segredos e deduziu que eram segredos de teor sexual. Acertou, óbvio! Não teria outros tipos de segredo, já que não roubo nada de ninguém, não uso drogas, não cometo traições nem tenho predisposição ao homicídio.
Eu deveria saber o quanto as pessoas são loucas pelos segredos sexuais dos outros. Não me incluo nessa: tenho é vergonha de imaginar as caras e as bocas de amigos e amigas transando por aí. Creio que, ao dizer que “família é aquela que o coração escolhe”, concebo os amigos como parentes. Assim, não quero saber de posições e de gemidos dos parentes – basta os que já testemunhei de minha tia, quando eu era criança e imaginei que ela estivesse apanhando do namorado, pois para mim, “ai” era interjeição de dor.
Hoje o Energúmeno olhou para a minha cara e narrou duas situações íntimas, minhas, acontecidas em 2010.
Eu nem acreditei no que eu ouvi.
Parei.
Pensei.
Fiquei perplexa e então me veio aquele “Ôpa!” que me levou a “se eu nunca contei isso a ninguém, ele leu na minha agenda"! (e agenda significa diário, pois é um transformado em outro). Além de ficar com ódio, tive que admitir o ocorrido – coisas que eram do interesse apenas das partes envolvidas. E se alguém aí tiver curiosidade, quero dizer das três partes envolvidas.
Mas fiquei perplexa mesmo.
Ele, o Energúmeno, disse que me desmascarou. Ora, como é que pode? Dou confiança à pessoa e, como muitas outras pessoas, basta que eu dê as costas para que adentrem às minhas gavetas. Takiupariu!!!
Escrevo quando, onde, como, por que e de que forma. Tudo, tudo em meus diários.
Meus diários já me trouxeram muitos problemas. A vida inteira foi assim, desde a casa de minha madrasta. Nunca deixei de escrever por isso: inventava códigos, cifrava, suprimia, mas mantive a escrita. Agora reavalio.
Acho que isso é podar minhas necessidades e meus desejos, mas e aí como é que eu fico tendo que escutar os desaforos do Energúmeno sobre umas histórias de Campinas e uma tarde alegre de domingo num agosto de 2010?
Segunda dura lição: ninguém tem fantasias sexuais. Não são fantasias: são desejos. Inventamos que são fantasias porque tememos os julgamentos das pessoas. Eu tenho fantasias, apenas para usar os termos socialmente aceitáveis, e, na verdade, tenho desejos, sim. Se houver oportunidade e eu tiver coragem, une-se o apetite e a vontade de comer. E devo dizer que um não é sinônimo do outro, porque às vezes a barriga ronca de fome, mas não temos ânimo para a alimentação.
Inútil é fingir que não estou irada e envergonhada.
Tem coisas que desnudam a gente mais que um strip-tease ou uns Raios-X de aeroporto: o miserável do Energúmeno me pôs em pêlo.
Fiquei nua e no frio, como no pior pesadelo que alguém possa ter – eu, como mais 99,9% das pessoas, já sonhei estar nua, andando por aí, numa multidão ou pela cidade a fora.
Queria ter a liberdade de dividir meus segredos com quem eu escolhesse. Ora, se alguém quer saber que posições eu gosto, tanto posso ser sonsa e dizer que centro-esquerda, fazendo de conta que entendi que se trata de posições políticas, quanto posso dizer explicitamente: missionary and dogway. Não entendo é que raio de curiosidade é essa! Por que é importante saber o que eu já fiz, sexualmente? Não entendo mesmo isso!
Fiquei abatida, infeliz, irada mesmo! Penso se o melhor será incendiar os mais de 15 diários que tenho... Não sei o que fazer deles, se devo mantê-los... Um dia é uma tia, em outro, os ex, e daqui a pouco é babado e confusão para o resto da vida.
Mas não ter como registrar as ocorrências do dia é doloroso: escrevo antegozando uma situação ou rememorando alguma coisa boa; escrevo o que não devo esquecer, mas também escrevo das decepções que eu não quero contar a ninguém, dos fracassos, das interpretações mais sinceras sobre os que eu amo, as visões verdadeiras sobre os colegas de trabalho e as impressões que a boa educação nos faz calarem... Escrevo os segredos do outros também, de onde presumo que guardo verdadeiras ogivas nucleares nos armários desta casa.
Mas, então, se tenho uma dúvida, vou lá, abro os arquivos e reencontro uma situação, uma data... Ter um cofre de segurança máxima apenas porque preciso guardar minha própria história é supérfluo. Estar como está, não poderá mais ser: sempre alguém procura os meus diários, lê e cria confusão.

“Toda noite é a mesma noite
A vida é tão estreita
Nada de novo ao luar
Todo mundo quer saber
Com quem você se deita
Nada pode prosperar...”

P.S.: Mesmo morando sozinha há sempre os bisbilhoteiros que procuram grandes emoções nos capítulos da minha vida... Esta minha vidinha besta, comum, que a eles parece fabulosa.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Ah, se eu fosse homem!



Ah, se eu fosse homem de ouvir meu coração e dar vazão
não à razão, mas à vontade de mudar a situação
e me arriscar, me machucar mas mandar tudo para o ar
só pra ficar com uma mulher ou pra fazer o que eu quiser
abrir meu peito, é meu direito, se eu tivesse peito
Ah, se eu fosse homem...
Ah, se eu fosse homem de aguentar que uma mulher é como um homem
e também pensa como um homem e quer sair com outros homens
e, apesar de todas as explicações antropológicas,
na prática não tem explicação para o tesão
e ai, meu chapa, 'cê só pode reclamar pro bispo
Ah, se eu fosse homem...
Ah, se eu fosse homem...
Ah, se eu fosse homem...
Ah, se eu fosse homem de parar de me portar feito um rochedo
indestrutível e infalível, inabalável e imutável
previsível e impossível, um computador com músculos,
um chefe, um pai, um homem com H maiúsculo
eu seria o homem certo pra você
Ah, se eu fosse homem...
Ah, se eu fosse homem...
Ah, se eu fosse homem...

(Ultraje a Rigor: Ah, se eu fosse homem!)

Ah, se eu pudesse! (II)



"Não sei como isso foi acontecer!", era o que eu gostaria de dizer, como bem cabe dizer em qualquer situação clichê em que a gente comete aquela mancada, mancada que leva o dedão do pé junto. É, mancada, pancada, topada, tropeço, tudo dá na mesma na hora dos acidentes de percurso - a queda e/ou os estragos dão no mesmo.
Tá, mas não sei como isso foi acontecer: segundo alegação do meu orientador - e posterior comprovação dos meus olhos -, a primeira parte do meu novo capítulo está em dissonância qualitativa com a segunda. Traduzindo: comecei fazendo tudo certo e terminei cometendo mancadas.
Se sei exatamente o que é um mau aluno, significa que sei o que é ser o oposto. Portanto, também sei que tipo de aluna eu sou: CDF. CDF graças a Deus, que eu nunca seria feliz sendo fútil, sendo uma representante da Lei do Menor Esforço e do CTRL+V/CTRL+C, uma associada dos "Amigos do Google". Aí, se meus brios de aluna são atingidos, fico murcha e infeliz.
Mas, enfim, o estrago não era grande, era caso de desatenção com as citações do livro brasileiro.
Fiquei pensando, então, se isso também não é porque a balança se desequilibrou e pendeu para um maior apreço meu à literatura portuguesa. Será? meus erros foram crassos...
Então concluí, desse bafafá todo, de minha dupla função de professora e de aluna, que melhor seria se professor usasse um taxímetro.
Na tal da era da Informação, poderíamos ser objetivos e dar respostas prontas, conceituais, diretas, sem análise, sem circunstâncias, sem entorno, sem elos associativos.
Desde que atuamos fora da universidade é assim: o que se espera é um monte de informação que seja útil no vestibular. Daí que ninguém quer Conhecimento, quer apenas Informação....Bem, posso abrir um balcão de informações.
Ah, se eu pudesse!
E faria como o motorista ai da imagem, deixando tudo a preços módicos...
Resolveria até o problema de frequência e quem sabe abriria um call center para informações de minhas disciplinas...
Penso como o Cosme Fernandes, de Terra Papagalli, ao citar um suposto provérbio que diz que "Aos que os deuses odeiam, tornam-no professor!". E tive pena do meu orientador, a quem torturei com umas páginas mal escritas.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ah, se eu pudesse!


Ah, se eu tivesse coragem, se eu tivesse um acesso de sinceridade ou um surto de perda temporária da noção para dizer bem no focinho do meu aluno: "Mas você não tem vergonha de ser tão cara-de-pau e desonesto? assume teu pepino, cara!"; e de dizer às minhas amigas: "Vale a pena tanto esforço e veemência com uma mentira inútil? Ora, todo mundo sabe da verdade"; e se eu pudesse dizer à turma toda: " Tchau! vocês não precisam mais vir aqui vender AVON na minha aula e contar de intrigas de vizinhos. Nosso contato será à distância"; e se eu pudesse dizer àquela proposta: "Querer, eu não quero...Mas não pintou nada melhor mesmo!"; e se eu pudesse dizer a uns outros: "Que tipo de família vocês são que não internam esse cara?Cuidem dele!". Bem, eu diria. Diria se eu pudesse, mas por enquanto eu só quero.
Mas, vamos aos fatos: de tudo quanto possa ser dito em tom real ou ficcional, fiquei de cabelo em pé diante da profusão de mentiras que as minhas amigas disseram a uma terceira pessoa que, aliás, é quarta - já que eu era testemunha da conversa.
Já não dou conta de minhas próprias mentiras, que detesto e só mantenho por questões éticas ou por educação, e de repente tenho que ser cúmplice num espetáculo de cara-de-pau explícita.
Mantiram o que podiam mentir, subtraindo anos na idade e acrescentando fatos inexistentes, metendo hipérboles morais e a veemência dos megalomaníacos. Nessas horas a gente entende o que é a vergonha alheia, porque é tão vergonhoso que a gente sente vergonha no lugar da parte a quem caberia o pudor.
E do trabalho, eis um troço interessante: mais uma turma de Pedagogia. Mais uma turma fora do eixo, que mescla os que querem entrar no pacto do conhecimento e os que já fizeram o pacto da mediocridade, apesar de não constar a minha assinatura.
A gente sempre sofre, claro. Mas acho que eu já sofri mais, antes, quando sonhadora eu media o mundo a partir de minha fita métrica.
Outras coisas eu ainda estou aprendendo, o caminho é longo. Também aprendo coisas a respeito de mim mesma, aquela parte irremovível que eu pensava ser flexível e não é.
De novo a velha pauta: está bem que é moda citar que as identidades são fluidas, líquidas, híbridas, múltiplas e mutáveis. Acontece!
Porém, realmente ninguém espere que eu, que não gosto de álcool, passe a gostar; que sendo uma mulher heterossexual eu vá visitar a Ilha de Lesbos; que sendo católica simpatizante com o Espiritismo e com a Umbanda eu vá entrar numa ou noutra religião; que detestando música brega eu vá ouvir certas doideiras... É, mas eu pensei que eu fosse mais flexível. Não sou. Sinal de que a identidade tem lá suas cascas rígidas, seus engessamentos. Caso contrário eu não teria personalidade.
O que me faz pessoa é o que me faz ser como eu sou.
Uma coisa é mudar uma opinião mediante Xis ou ipsilon ponto de vista, argumentos, aspectos analisados e etc. Mudar de opinião, desde que haja um novo enfoque, pode ser. Mudar quem eu sou, não dá, porque já sou e me constituí.
E aí, gente boa, sinto muito, está difícil, aliás, impossível.
Se na universidade a gente tem aqueles colegas que no primeiro semestre são marxistas; no segundo, são leninistas; no terceiro, são hippies e no quarto se tornaram neo-liberais, tudo bem, porque cada um tem suas fases. Mas garanto que todo mundo tem um limite, tem um ponto em que se nota algo como um "eu jamais faria isto".
Tem coisas que me incomodam e que eu gostaria de mudar, até... Queria ser mais flexível, por exemplo, com esse negócio de considerar que amigo é amigo, não é objeto de consumo sexual - tá certo que não tenho amigos heterossexuais em número que exceda três, mas bem que eu poderia ser menos carola. No entento, não sou.
Queria também ter esse acesso de sinceridade de dizer o que certas pessoas merecem ouvir.
Acho que um momento de intensa sinceridade nunca viria sem uma boa dose de sonoros palavrões - eles aliviam a indignação e devem constar na proporção direta da ira ou do absurdo da situação.
Ah, que pena que a gente tenha que ser flexível para evitar conflitos e processos, mas seu pudesse... Ah, se eu pudesse!

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Na ditadura do tempo


O cansaço quando bate, bate feroz.
Tudo anda em círculos, menos o relógio, meu vigilante constante.
Aleluia e glória Deus, passei da escrita de 151º página e tenho mais problemas do que um livro de Matemática. Não são problemas com a escrita, são com a vida!
Sou uma pessoa idiota do tipo que repete atitudes. Repetindo atitudes repetimos resultados. Repito atitudes idiotas, obtenho resultados idiotas de novo. Bem feito!tudo em círculos.
Por outro lado, depois que a minha paciência foi embora, criei uns alvoroços por tudo novo, por sair, por viajar e daí que na aflição de me sentir livre, dei umas corridinhas na escrita da tese...
Enquanto isso meu futuro está cozinhando: no segundo semestre eu vou ter mesmo que ir embora. Pode ser um ir embora parcial, mas é a velha vida nômade de novo. Não falo dessa, que sexta me pega, porque ir ali na fronteira da casa da porra com a casa do karalho não é tão mal porque a cidade é litorânea, é bonitinha, tem um bom fluxo migratório por causa da Costa do Dendê...não é isso. Lá é ruim de acesso, apenas. Mas essa experiência não conta como trânsito. Penso e me refiro à outra cidade turística em cujo concurso passei. Aí eu sei que vou.
No fundo tenho medo de cair na bagaceira como fiz durante o concurso: tem sempre festa, tem sempre amigos, tem lugares para ir, tem entretenimento e tem heterossexuais com iniciativa...
Mas adoro a minha casa.
Vivi muito isso de ter uma dupla moradia, às vezes duplamente só, às vezes parcialmente compartilhando, coabitando.
Acho que o tempo ferrou de vez a minha paciência e acabou o que já era pouco.
Não sei se me influencio cada vez mais por António lobo Antunes, mas estou bem ranzinza... e nem sou mal humorada, mas estou ficando. E chata, claro, e antipática! Isso o meu espelho já me diz.
Bem, mas o relógio, que é o grande ditador da minha vida, me diz que está de olho em mim, que tudo está no prazo que eu determinei para mim.
Como besta repito o velho clichê: poxa, o ano passou rápido! já vai terminar o primeiro semestre! estabeleci prazos para mim e tento cumprir, mas que a vida anda mais enrolada do que cabelo de rastafári, ah, anda!
P.S.: Confirmei minha opção, todas as minhas opções de vida: nada de ter filhos, nada de casamento, nada de álcool, nada de perdoar gente escrota. Tudo igual a antes. O delírio já passou.

Homicídio Literário



E você aí, preocupado em ler O Quinze...

domingo, 13 de maio de 2012

Dois pesos, duas medidas (II)



É inútil chorar
Noites enveredar
Ruir por nada assim
Minha vida é sua
Como um marinheiro do mar
Sofrer? não há porque

Desencana, meu amor
Tudo seu é muita dor
Vive!
Deixa o tempo resolver
O que tem que acontecer
Livre

Tanto que eu sonhei
Nos amar a pleno vapor
Tanto que eu quis
Fazê-la estrela
Da sagração de um ser feliz

Desinflama, meu amor
Do seu jeito é muita dor:
Vive
Deixa o tempo resolver,
Se tiver que acontecer:
Vive

Desencana, meu amor
Tudo seu é muita dor
Vive!
Deixa o tempo resolver
O que tem que acontecer
Livre.

(Vive - Maria Bethania)

Dois pesos, duas medidas (I)



Quem quer viver um amor
Mas não quer suas marcas, qualquer cicatriz
A ilusão do amor
Não é risco na areia, é desenho de giz
Eu sei que vocês vão dizer:
"A questão é querer desejar, decidir"...
Aí, diz o meu coração:
"Que prazer tem bater se ela não vai ouvir?"
Aí minha boca me diz:
"Que prazer tem sorrir
Se ela não me sorri também?"
Quem pode querer ser feliz
Se não for por um grande amor?

Eu sei que vocês vão dizer:
"A questão é querer desejar, decidir".
Aí, diz o meu coração:
" Que prazer tem bater se ela não vai ouvir?"
Cantar mas me diga prá quê? aí aí, aí
E o que vou sonhar
Só querendo escapar à dor?
Quem pode querer ser feliz
Se não for por amor?
Quem pode querer ser feliz
Se não for por amor?
Quem pode querer ser feliz?

Música de João Bosco, um dos cantores que eu mais gosto e que ilustra esta postagem, especialmente dedicada a quem me trouxe importantes e novos ensinamentos. Constatei que não sei nada, nada.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Daquele tipo (IV)


Para você lembrar, viu, Celeste? ainda lembra? Pois é, eles existem!

Daquele tipo (III)



Como diria aquela Patricinha fútil, "tipo assim..."

Daquele tipo (II)


Entendeu, Celeste? pode ser magrelo e moreno, desde que seja sensual na acepção da gente... é o vocalista do Maroon 5 mesmo, você não se enganou.. é, amiga, meu blog não é Igreja, aqui as imagens não são de santos, mas servem para suscitar seus pensamentos pecaminosos. Vamos fazer uma trezena?

Daquele tipo (I)


Preconceito de cor às avessas, eu não tenho, mas preciso explicar que não prefiro os loiros. Preferencial é uma coisa e exclusivo é outra. Então, a depender do conjuto da obra e do contexto geral, é possível chegar a um acordo. Contudo, eu gosto dos claros, preferencialmente, de cabelos pretos e pele clara, com extremidades rosadas e se tiver sardas, muito bem, muito melhor.
Postagem especialmente dedicada a Celeste, a quem desejo que encontre um rapaz honesto, trabalhador e bom de cama.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Post Mortem



Eu não poderia deixar de registrar a relativa contradição em nomear uma postagem como o "eco dos mortos', ao passo que tanto citei em várias postagens um verso da poesia do meu amigo Marcos que dizia "O silêncio frio das coisas mortas". Acho que os meus mortos não são silenciosos, se remexem nas covas, assombram e puxam meus pés às vezes. Mas estão mortos.

O eco dos mortos


Alguém sempre fala – e devo concordar – que tudo que havia para ser dito, já foi dito.
Arrematando essa ideia, acho que releitura é engodo para breguices e plágios, remixagens, ressignificações, "ré" qualquer coisa que pegue o que já exista e travista-o de novidade.
Acredito, porém no intertexto, na intertextualidade. Sim todas as palavras já foram ditas e todas as histórias já foram contadas. Mas há quem saiba dizer o mesmo de sempre de uma maneira totalmente própria e encantadora. Acho que isso é sintoma de criatividade.
Encontramos a Odisséia dentro de Os Lusíadas e assistimos o encontro de Camões com Petrarca, da Carta de São Paulo e da Legião Urbana: todo mundo junto, intertextualizado, diferente, criativo, igualmente encantadores e totalmente particularizados apesar das intersecções.
No tempo da gente ouço falar que existe “agitador cultural” e que há “ intervenções urbanas”... Nós, seres urbanos! Quem pode agitar a cultura? Quem tem tal pretensão artificiosa? O que não seria uma intervenção urbana se o mundo urbano existe por obra, graça, meio e intervenção do homem? Como é que se explica esse negócio? Vai aí integrar o rol dos sintagmas indevidos.
Estive lembrando de uma música de Fagner, Revelação, que diz o seguinte:

Um dia vestido
De saudade viva
Faz ressuscitar
Casas mal vividas
Camas repartidas
Faz se revelar
Quando a gente tenta
De toda maneira
Dele se guardar
Sentimento ilhado
Morto, amordaçado
Volta a incomodar

E tenho visto que às vezes é possível ressuscitar os mortos, pelo menos no plano dos sentimentos. Já me aconteceu por duas vezes e me deu tanto medo dessa remixagem sentimental.
Demoramos muito para ter a atitude de procurar mecanismos de esquecer alguém e para colocar pontos finais em relacionamentos. Não basta dizer que se quer esquecer e sair para a noite viver novas experiências. Infelizmente, é preciso viver o luto. Infelizmente, é preciso processar emocionalmente as perdas e as rupturas e encarar a angústia para que as coisas sejam realmente bem resolvidas. Devo ter, neste blog, muitas testemunhas das várias vezes em que implorei à analista uma receita, um remédio para aplacar a dor de uma perda amorosa. O caso é que não há receita nem remédio. Tempo e distância podem ajudar, mas podem dissimular e não resolver. Quem resolve é a gente.
Fagner fala da saudade viva que muito revela e do modo como a gente tenta se guardar dos sentimentos, se preservar, porque a experiência de amor é sempre uma experiência de morte, com um lado destrutivo e desintegrador. Experiência de morte não é morrer. Antes fosse. Falo com a audácia e a petulância de quem já amou muito e de quem já morreu várias vezes. E cá estou, de novo, viva.
A experiência de morte é o constante risco de que tudo acabe: um luto; é a possibilidade do abandono; das rupturas, da dor do fim... Eu ainda não sei como é que a gente sobrevive, mas entendo perfeitamente aqueles que cedem e morrem ( minha amiga tomava remédios para dormir e nunca mais acordar, a fim de não encarar a realidade; outras amigas enlouqueceram com o fim do casamento e muitas morrem de outras formas).
Mas a verdade de todas essas coisas contadas e que me despertou a lembrança e o tema, foi que ontem à tarde eu tinha saído para correr e ao chegar em casa, meu celular tinha 08 ligações registradas como perdidas e mais duas de número desconhecido.
Vi que o prefixo era de Sergipe e pensei que fosse meu amigo, que concorria a uma vaga por lá, quem houvesse usado o telefone de terceiros para me dar a boa notícia de sua aprovação. Não era: era Carla, disfarçada de Isabela, quem queria saber se eu estava em Sergipe.
Desmascarada, confessou que pensou que eu estava com o Ex-Grande Amor da Minha Vida ( e atual amor não correspondido da vida dela), porque somente por mim ele seria capaz de fazer as loucuras que ela presumia que ele fizesse...
Meu namorado me perguntou a esse respeito, se eu voltaria a gostar dele, do Ex, e eu disse com toda a convicção que não. Não voltaria mesmo porque os tempos são outros, os contextos são outros... Mas de outro modo, talvez fosse possível. Achei engraçado eu ser suspeita, numa história tão enterrada quanto os mais velhos fósseis sob a terra.
Mas um dia combinamos um encontro e vivemos a tensão da espera. Até que chegou a véspera e reciprocamente confessamos, usando, inclusive, a mesma música de Fagner, que aquilo poderia ser um perigoso retrocesso. Desistimos. “Sentimento ilhado, morto, amordaçado, volta a incomodar”. E nunca mais eu quis saber de incômodos.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Fiat Lux!


Acho que Lei de Murphy se aplica plenamente à minha vida e foi baseada nela que foi formulada.
Ontem à noite, inexplicavelmente, só faltou luz na minha casa. Eram 20 horas, eu estava terminando meu banho e, de repente, pluft! apagou geral!
Pensei que fosse coisa da corrente elétrica ter sido forçada pelo chuveiro, pensei em curto-circuito, pensei em coisas e causas possíveis e improváveis.
Senti raiva e fracasso!
Se tem algo que me corta os pulsos são as coisas contra as quais eu não possa fazer nada!
Domingo à noite. Domingo. Noite. O que fazer?
Tentei dormir à luz de velas, mas acabei com tanto ódio de tudo, afinal eu não estava com sono e provavelmente, se eu dormisse, iria acordar às 04 da manhã e iria me sentir fracassada por não pode acender a luz.
Fui dormir no sofá dos outros.
Oh, Deus, como eu te agradeço porque os meus amigos me amam! só mesmo me amando para se dispor a atravessar a cidade, me buscar em casa e ainda ouvir que " eu não durmo em colchão de molas", arrematado por "eu só durmo com o meu travesseiro" e, pior foi ouvir de mim, quando indagada se eu aceitava um café, que "sim, claro que sim!" e segundos depois: "É Nescafé? não, obrigada!pensei que fosse café!". Donde eu venho a complementar: "Deus, perdoa-me por ser chata!"
Demorei a dormir, remoendo os meus problemas.
Sempre lembro do Dr. House dizendo que uma das maiores bases do casamento, em especial, e dos relacionamentos, em geral, é a mentira.
Mal acostumada, meus familiares premiavam a coragem das crianças que assumiam a autoria de suas travessuras e desastres. Eu me acostumei. Melhor a verdade que dói, que a mentira que destrói, é o que mais ou menos eu penso.
Então, as pequenas e idiotas lições da vida: "Se não couber, não force" - Ih, já sei que pensaram besteiras!
Ah, minha cabeça cheia de blablablá... E por que levo a vida a sério? e por que não fazer o jogo das conveniências? E se for possível ser verdadeiramente feliz na mentira? E se eu largar os fardos no caminho? E se eu desafiar minhas convicções de terminar o que comecei? E se eu arrastar o fardo? E se eu for leve e o vento me levar? O que será que vale a pena? Depois de tudo isso, sim, preciso de minha analista...
Acordei cedo e no caminho para casa, viemos ouvindo, por uma dessas falsas coincidências da vida, a música Eu te amo, do Chico Buarque:

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

P.S.: Uns vinte minutos após minha chegada à minha casa, a luz voltou. Faça-se a luz! A vida tem mesmo metáforas!

sábado, 5 de maio de 2012

No Paraíso duvidoso


A necessidade faz a gente tomar decisões loucas e desesperadas. O problema é que após uma decisão sempre vem outra, num efeito seqüencial.
Lembrei de minha amiga que enlouqueceu, me explicando que viu a vida como um final de novela, em que os pares eram formados, os mistérios eram solucionados, os finais felizes e a justiça prevaleciam, mas que, no caso dela, se viu sozinha e resolveu escrever um final para si.
Eu não sabia que ela tinha visão assim determinista, em que “ o que é, é; e o que não é, não é, nem pode vir a ser”, como diria Parmênides. Tenho medo do final da novela da minha vida.
Vivem fazendo umas compilações loucas com os contos de fada, explorando o Day after da Branca de Neve, da Bela Adormecida, quando finalmente o convívio transforma o Príncipe num fardo e as princesas colecionam celulites, gorduras e decepções com a vida matrimonial.
Gosto de ver lá o “foram felizes para sempre.”
Ora, quem conseguiria ser feliz para sempre?
E que sempre é esse?
Certamente é um sempre sem angústias, sem conflitos, sem brigas, sem decepções, sem tristeza, sem essa sensação que me acompanha desde já e que se relaciona ao fato de que questiono se tomo as decisões certas.
Meu amigo Fabrício estava se lastimando há poucos dias sobre uma decisão errada que ele tomou.
No caso, ele havia passado para professor de nível superior na UNEB, para uma carga horária de 20 horas. Simultaneamente, passou num Instituto Federal de Educação, para uma vaga de 40 horas.
Para efetuar a escolha, ele pesou as necessidades pessoais e os salários: venceu o Instituto Federal.
Lá foi ele.
Foi, entrou, viveu, conheceu e se arrependeu. E até então não consegue superar a maratona das provas dos concursos da UNEB que, surpreendentemente, reprovam meu talentoso e competente amigo a pretextos frágeis.
Ele se arrependeu da escolha.
Parou, pensou e concluiu que depois poderia vir a ter 40 horas num emprego em que ele não seria sub-aproveitado... E a vida vai indo tão prazerosa quanto uma estada no Inferno!
Se eu for trabalhar no outro lugar em que passei, vou com o coração na mão, vou por dinheiro, mas penso em não ir porque o preço a ser pago é muito maior que o salário a receber. A lição do meu amigo muito me serve.
Mas vêm outras angústias e conflitos, de outra ordem... E agora que minha relação afetiva é uma relação ( e, logo, troca), fico abobalhada com o desespero biológico dele, que parece que vai morrer depois de amanhã se não constituir família, se não tiver um filho. Desconfio que ele deposite na paternidade a esperança de ser alguém mais responsável...
Eu tenho é medo!
Tenho medo de casamento, nunca desejei ter filhos, não sei negociar condições e tenho medo do futuro, porque eu reclamo tanto de certas coisas, mas adoro minha liberdade, adoro ser responsável somente por mim mesma, adoro poder dar a louca na cabeça, arrumar uma mala e cair na estrada... Se for para escolher entre o peso e a leveza, vou contrariar Millan Kundera, porque prefiro a leveza.
Sei que a leveza deixa a gente solto, vulnerável a qualquer vento, mas estar preso sob um peso não me agrada, parece me sufocar... Não sou pássaro para gaiolas, eu acho!
“O mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sob ele, nos esmaga contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o peso do corpo masculino. O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.
Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes.
Então, o que escolher? O peso ou a leveza?”
KUNDERA, Milan. A insustentável leveza do ser. Rio: Record, 1983, p.11)

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Queixumes



Por que mudaram o Blogger?
Sei lá quem é o louco que propõe mudanças tecnológicas e de formatações, mas ainda acredito que os interessados diretos deveriam ser consultados pelo menos no caso do Blogger.
Odiei tudo: não é só o estranhamento ao fazer um texto que não sei como justificar, nem onde encontrar as ferramentas de que preciso, nem é somente quanto à dificuldade em já não conseguir fazer o básico num blog que teoricamente é meu - é que tudo ficou feio; ou mudo; ou morto...
Poderiam me dar uma alternativa que não esta, paliativa, de temporariamente poder voltar ao modelo anterior.
Fica tudo cinza, tudo errado, tudo feio... Não reconheço mais a cara da minha casa.
Poderiam, pelo menos, inventar uma alternativa retrô. Pois é, poderiam deixar a versão anterior sob o pseudônimo de versão retrô, se o problema for enquadramentos e nomenclaturas...Retrô é cult.

Nas teias da tese



“Ai da curiosidade fatal, prossegue Nietzsche, que em determinado momento pudesse espiar por uma fenda além da salinha da consciência (criadora das ficções) e, penetrando no íntimo, chegasse a pressentir que o homem repousa, na indiferença da sua ignorância, montado por assim dizer no dorso de um tigre, por sobre um fundo impiedoso, ávido, insaciável, assassino.”
É Anatol Rosenfeld, em Texto/Contexto I, quem retoma Nietzsche para discutir o disfarce e a máscara, transitando da Filosofia à Psicanálise, do Teatro à Literatura e, finalmente, resvalando na discussão do real e do ficcional.
Quando eu falo em tessitura eu não tenho em vista textos, mas teias. É assim que construo a minha tese, num labor que parece coisa de aranha, porque enovela daqui, lança teia dali e liga uma coisa à outra em fios finos, mas resistentes. E dá um trabalho...
Então vejo o Anatol Rosenfeld, brilhante, poderoso intelectualmente e constato que eu tenho que “suar’ os meus neurônios para fazer jus ao uso do nome dele em minha tese, às referências dele e, principalmente, para não repeti-lo apenas.
Coisa de aranha, entrelaçar o texto literário ao texto teórico e me lançar entre eles, porque senão não há tese, não há ideia, não há nada de diferente de uma constatação vazia. Por isso é difícil escrever, apesar de em tantos momentos as coisas serem mais fluentes e a escrita correr como água de cachoeira – de vez em quando, me afogo.
De alguma maneira e apesar de todas as máscaras, apareço naquilo que escrevo.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Dando trabalho



Achei esta imagem num blog daqui de Feira e achei muito interessante, porque afinal estamos no dia 1º de maio, internacionalmene dedicado ao Trabalhador... e aí, nós, que empregamos os políticos, nunca percebemos que gratuitamente colocamos nas mãos de um sujeito o poder, o dinheiro, a influência e a fama. Gratuitamente, porque ele usufrui e não retribui.Na lei de causa e efeito, o Bem que fazemos não reverbera até nós.
Eis aí o prefeito de Feira de Santana, Tarcísio Pimenta, em sua mórbida semelhança com o personagem do político cínico e ladrão do programa humorístico A praça é nossa!
Vale o velho e desgastado trocadilho de que "Pimenta nos olhos dos feirenses é refresco!" para alguns, pimenta é um condimento agradável, mas para muitos...
E passando de pimentas, especiarias e afins para caso similar, apesar de meu encantamento com o Espiritismo, faz tempo que a Lei de causa e efeito não surte efeito em mim.
Não vejo as coisas boas retornarem a quem as pratica, vejo gente boa sofrer o mal sem, entretanto ter causado mal a outrem e hoje em dia eu ouço muito mais àquelas que indagam "Por que isto aconteceu comigo?". Pensamos sempre: para tudo há uma explicação. E isso não é mais do que uma maneira de provar que certamente cada um cava a sua própria miséria - não é não: o mal vem gratuitamente mesmo.
Acho que estou sisuda. Também estou cansada, porque voltei a escrever a tese e aí esse negócio de articular o pensamento dá muito cansaço, desgasta... Minha vida está me dando trabalho e está me cansando, está séria demais... em tão pouco tempo tudo muda!
Da mesma maneira como 48 horas em Lençóis viraram as coisas de cabeça para baixo - ou puseram de volta a cabeça no lugar - ultimamente tenho experimentado muitas reviravoltas.
Ouço os bons conselhos. Às vezes ouço os maus também, porque sei que sou uma pessoa difícil em vários aspectos, mas então Manoela me puxou a orelha para eu voltar a escrever, para adiantar a vida... E não sei que bicho me mordeu porque eu parei, fui pegar carona na vida do Outro Lá, dei acesso à minha vida e de repente fiquei remoendo as decisões a tomar, remoendo as angústias chatas que me pegavam até no momento de lazer e fiquei sobrecarregada de angústias.
Não sei escrever quando estou angustiada.
Tem gente que só escreve quando está na fossa. Não é meu caso: se o meu cachorro me morder; se minha avó me roubar; se meu affair me trair; se meu dinheiro acabar; se o cano entupir, se a luz faltar, olha,se tudo der errado, não consigo escrever uma linha sequer. Fico empacada como uma mula. E ainda tem a questão moral: não gosto de escrever sob pressão de prazos.
No momento o melhor é escrever, é o certo. Mas tem horas em que a análise parece que não sai do lugar. Tem horas em que eu me apago no que estou afirmando ou me perco numa citação e tudo isso por causa de alguns conflitos a resolver, coisas externas, problemas, antecipação de problemas, somatório de problemas e esta minha eterna pouca paciência.
Meu primeiro de maio foi isso: olhar a trabalheira que dá completar a sétima página do novo capítulo! isso é que é trabalho!

Assim Falou... (Alberto Caeiro)



Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples
Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras,
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.

Um dia deu-me sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi
Além disso, fui o único poeta da Natureza.

(Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa)