Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Eu, hein?! (XXVIII)

Ônibus:melhor não estar por dentro!

Eu, hein?! (XXVII)

Educação para o trânsito: a gente vê por aqui!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Antes que o mundo acabe

Vai que o calendário maia esteja certo e o mundo acabe? o mundo já acabou, para mim, várias vezes. Depois se recompôs e voltou a ser mesma bosta coisa, nesta minha singela existência.
Semana passada,João puxou a galera do Reconcâvo para cá, no feriado do 15 de novembro, para fazermos algumas coisas antes que o mundo acabe. Feriado político, diga-se de passagem, da Proclamação da República, essa grande coisa!
Deu no que deu: passeio, jantar, piadas, boliches, gargalhadas, lamentos, gulodices e uma noite inesquecível.
Aproveito a oportunidade para dizer que acho legal o Estado brasileiro ser laico, pelo menos em teoria. Contudo, se a moda pegar e eu deixar de ser beneficiada pelos feriados santos, vou protestar, porque acho que o feriado santo, tipo o dia da Padroeira, um corpus christi, um natal, favorece a ateus, católicos, umbandistas,evangélicos, kardecistas, os de krishna e quem mais for.Por mim democratiza e inclui mais opções, desde que resultem em feriado, para a gente ficar por aí, refletindo no bar sobre o espírito. Então, deixo aqui meu voto em favor de feriados de qualquer ordem, especialmente dos que terminem em festa.
Na foto,Liz, João, eu,Adriana e Lidiane, em cerimônia gastronômica no feriado (da esquerda para a direita da tela, viu, Carlinha? É, a esquerda é aí no braço onde você usa o relógio, amiga!E esta no meio sou eu. A do meio sou eu,seja da esquerda para a direita ou da direita para esquerda. O meio você sabe onde fica, certo? Haja GPS!)
Antes que o mundo acabe eu ainda tenho uma porção de coisas para fazer. Será que dá tempo?

Ciranda da Bailarina

Eu adoro a Ciranda da Bailarina, do Chico Buarque, mas prefiro com a banda Penélope cantando. Lembrei da música por causa da minha inimiga Carol, que está sempre dando um jeito de se fazer presente em minha vida, mesmo que seja esbarrando em mim numa festa onde eu jamais esperava encontrá-la ou interrompendo meu flerte, como ocorreu na saída da The House em janeiro deste ano.
Eu e Rita, na especialização, vivíamos cantando trechos da Ciranda, primeiro porque nossa inimiga em comum (e colega de classe)se dizia bailarina; segundo porque se achava perfeita, infalível e etc. E acho engraçada a Ciranda, porque a bailarina é toda comedida, mas ao mesmo tempo, a perfeição é superficial é a casca da aparência...
Em Cisne Negro, é assim também. E na cena final, em meio ao delírio esquizóide da protagonista interpretada por Natalie Portman, ela diz: "Foi perfeito!". E para fazer jus ao título, este se torna o canto do cisne - pois dizem que o cisne tem um canto próprio para quando vai morrer.

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Verruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem

Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem

Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem?

Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem

O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho*
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem?

Procurando bem
Todo mundo tem...

(Composição: Edu Lobo / Chico Buarque)

Tranquila

Gosto tanto dessa música, Tranquilo. Mas gosto tanto que tanto faz se é Bebel Gilberto cantando ou se é Talma de Freitas - acho que não tem como a música não dar certo... - fora o fato de que as cantoras são excepcionais.
Tem gente muito preocupada com sotaque. Claro, as diferenças na linguagem são sempre usadas para depreciar, raramente para enaltecer. Mas defendo que palavra é música. E se não fosse, não teria um tom - tonicidade,tonalidade, intensidade, sílabas fortes - e nem se diria que é átona ou que há sílaba tônica. Tem um tom, sim. E toda voz tem um tom, tem modulações. Se uso a voz para expressar palavras, isso que chama de sotaque vai se manifestar.
Porque para gaúcho, MAS é MÂAs e para baiano MAS é MAis. E o que é que tem? é só diferença.
Já disse isso antes: o ser humano é tão louco que acha que passarinho canta. A voz do passarinho, o som emitido, é aquilo ali, singularizado por cada espécie. Mas o ser humano acha que é um canto. Já as palavras humanas, mesmo cantadas, para muito são so palavras.
Mas a música está aqui hoje porque estou tranquila. Até falei sobre isso com um amigo. Tranquila não porque nada me falte, mas porque aceitei a paz que me sobreveio - consegui arrancar a verdade de alguém e isso me ajudou. Objetivamente, não era uma verdade que me favorecesse, mas sempre me favorece saber da verdade. E daí que depois de muito ponderar concluí que não estou nem aí. Talvez eu esteja tranquila não por isso, que me ocorreu há dois dias, talvez eu tenha receio de que minha tranquilidade seja também nonsense e eu não tenha motivo algum para isso.
Também meu orientador voltou e disse: "Estés tranquila" - não, ele me disse simplesmente para eu ficar tranquila até à defesa; quem me dizia "Estés tranquila"era meu namorado uruguaio, S. Fraschini, e eu ria e me tranquilizava. Lembrei que todo dia tinha isso no namorinho da gente: "Estás lista?" (não sei como colocar a interrogação de cabeça para baixo como no espanhol); e "Estoy tranquillo" ou "Estés tranquila!"
Ah, estou em paz e é só isso. Não vou ficar aqui catando motivos metafísicos para meu bem-estar.

Tranqüilo

Tranqüilo
Levo a vida tranqüilo
Não tenho medo do mundo
Não tenho medo do mundo
Não vou me preocupar
Não vou me preocupar

Tranqüilo
Levo a vida tranqüilo
Não tenho medo da morte
Não tenho medo da morte
Não vou me preocupar
Não vou me preocupar

Que passe por mim a doença
Que passe por mim a pobreza
Que passe por mim a maldade, a mentira e a falta de crença
Que passe por mim olho grande
Que passe por mim a má sorte
Que passe por mim a inveja, a discórdia e a ignorância

Tranqüilo
Levo a vida tranqüilo

Que me passe
A doença que me passe
A pobreza que me passe
A maldade que me passe
Que me passe
Olho grande que me passe
A má sorte que me passe
A inveja que me passe
A tristeza da guerra

Tranqüilo
Levo a vida tão tranqüila
Não tenho medo da morte
Não tenho medo da morte
Não vou me preocupar
Não vou me preocupar

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Para Luísa, III


Já pensou se um desses aí, te diz: "Vem cá, Luísa, me dá tua mão"? eu não daria apenas a mão, e você?

Rua,
Espada nua
Bóia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda, amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração
Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Me dá tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar Luiza
Luiza
Luiza.

Para Luísa, II

Tomou chá de sumiço, hein?

Para Luísa (I)

Luísa, minha amiga, não consegui encontrar aqui no meu blog esta postagem completa - tive que copiar e colar dos outros, coisa que não gosto porque mutila o texto e eu sequer posso dar os créditos devidos.
Espero que lhe baste e as postagens a seguir são manifestações de saudades.
Olha, volta! um dia a gente se encontra e resolve as coisas em alguma noitada de boates e inconsequências - dança e homens interessantes, quem sabe? Depois de março tudpo é possível! Psiu, feliz aniversário!

A Mulher e Seu Passado,de Rubem Braga

(…)“Benditos teu pai e tua mãe; benditos os que te amaram e os que te maltrataram; bendito o artista que te adorou e te possuiu, e o pintor que te pintou nua, e o bêbedo de rua que te assustou, e o mendigo que disse uma palavra obscena; bendita a amiga que te salvou e bendita a amiga que te traiu; e o amigo de teu pai que te fitava com concupiscência quando ainda eras menina; e a corrente do mar que te ia arrastando; e o cão que uivava a noite inteira e não te deixou dormir; e o pássaro que amanheceu cantando em tua janela; e a insensata atriz inglesa que de repente te beijou na boca; e o desconhecido que passou em um trem e te acenou adeus; e teu medo e teu remorso e a primeira vez que traíste alguém; e a volúpia com que o fizeste; e a firme determinação, e o cinismo tranquilo, e o tédio; e a mulher anônima que te vociferou insultos pelo telefone; e a conquista de ti por ti mesma, para ti mesma; e os intrigantes do bairro que tentaram te envolver em suas teias escuras; e a porta que se abriu de repente sobre o mar; e a velhinha de preto que ao te ver passar disse: ‘moça linda…’; bendita a chuva que tombou de súbito em teu caminho, e bendito o raio que fez saltar teu cavalo, e o mormaço que te fez inquieta e aborrecida, e a lua que te surpreendeu nos braços de um homem escuro entre as grandes árvores azuis. Bendito seja todo o teu passado, porque ele te fez como tu és e te trouxe até mim. Bendita sejas tu.”

Dose de Amor

Foi o comentário geral do momento a morte daquele noivo, seis horas após a cerimônia do casamento, ainda na festa. Falo do rapaz que colocou a taça de cristal no bolso, como quem coloca uma caneta atrás da orelha, e num tropeço qualquer, eis a artéria femural perfurada e a consequente morte, após se esvair em sangue.
Deixou os meus amigos consternados. Fiquei consternada também e lembro de Cléo me perguntando, pelo telefone, como aquilo se explicava, se eu achava que a pessoa só morre no dia em que tem que morrer. Sim, acho isso: a única coisa determinada pelo sobrenatural é o dia da morte. Você pode fazer misérias, desafiar o perigo e etc., mas se não for seu dia, “nenhum mal te sucederá nem praga alguma chegará à tua tenda”. Quanto a isso, é uma convicção para mim. Porém, eu falei que uma inveja monstruosa poderia, sim, talvez determinar ou influenciar tragédias, porque a força do mal é insuperável: a dor de um invejoso, um ódio mobilizado, quem sabe, varre a sorte das pessoas?
Mas, objetivamente, foi um acidente. E ninguém mereceria aquilo: festejar a união com alguém, estar entre amigos e familiares, ter planos, começar uma família nuclear e, no auge da felicidade, passar por isso. A noiva está em estado de choque. E quem não ficaria? Impossível não se comover. Nenhuma história de amor merece um final infeliz, muito menos, trágico. Mas, sendo a mais velha das rimas, Amor e Dor são parceiros inseparáveis. Tão difícil encontrar a sorte de um amor tranquilo, de gente bem resolvida que sabe o que quer...
E a noiva? Se Lacan estiver certo, “o melhor destino de uma mulher, é ser a mulher de um homem”. Se Gal Costa estiver certa, “Mulher nascida para amar, tenho que obedecer ao que o Destino quis,/ e satisfeita dizer que sofrer de amor só me deixa feliz.” O amor da mulher é diferente, é estruturalmente diferente e ainda mais cheio de dor – perfil do neurótico histérico, que é clássico e mal entendido. A noiva era a taça em cacos. É o caco. Não se sabe como se cola o que resta. Como se reconstituir depois de ser escolhida, ser eleita e ver o noivo, sequer marido, morrer? Parece um daqueles mitos gregos em que mortal e deus se encontram: o final é sempre trágico.
Como já citei o mito de Cupido e Psiquê várias vezes aqui no blog, cito agora Apolo e Dafne, igualmente revelador:
“Dafne foi o primeiro amor de Apolo. E esse amor não surgiu por acidente, mas pela malícia de Cupido. Apolo viu o menino brincando com seu arco e suas flechas, e, envaidecido com a sua recente vitória sobre Píton, disse ele: ‘O que fazes tu com armas de guerra, garoto atrevido? Deixa-as para as mãos que sejam dignas delas. Vê a vitória que com elas obtive sobre a grande serpente que estendeu o seu corpo venenoso sobre muitos acres de planícies! Contenta-te com a tua tocha, criança, e inflama as tuas chamas, como dizes, e, contudo, não te intrometas com minhas armas’. O filho de Vênus ouviu estas palavras e respondeu: ‘ Tuas setas podem atingir todas as outras coisas, Apolo, mas a minha há de atingir-te’. Assim dizendo, ele se posicionou sobre uma rocha do monte Parnaso e tirou de sua aljava duas flechas confeccionadas diferentemente: uma para despertar o amor e outra para repeli-lo. A primeira era de ouro e tinha uma ponta fiada; a segunda tinha ponta arredondada de chumbo. Com a seta de chumbo atingiu a ninfa Dafne, a filha do rio-deus Peneu, e com a de ouro atingiu Apolo bem no coração. Logo, o deus foi tomado de amor pela donzela, enquanto esta se sentiu horrorizada com a ideia de amar. Sua satisfação estava nas caminhadas pela floresta e no resultado da caça. Muitos amantes a procuraram, mas ela a todos tratava com desdém, vagueando em meio à natureza, sem pensar em Cupido ou Himeneu.
Seu pai sempre lhe dizia: ‘Filha, tu me deves um genro; tu me deves netos’. Ela, odiando a possibilidade do casamento como se fosse um crime, com sua linda face rosada, lançava seus braços em torno do pescoço do pai, e dizia; ‘Querido pai, permite que eu permaneça solteira para sempre, tal como Diana’. O pai aceitou o pedido da filha, mas fez esta observação: ‘ O teu próprio rosto impede que tua vontade se concretize. ’
Apolo amou-a, e por muito tempo procurou conquista-la; e aquele que era o oráculo de todo o mundo não teve sabedoria suficiente para encontrar a própria felicidade. Vendo os cabelos de Dafne desgrenhados e caindo sobre os ombros, declarou: ‘ Se são tão encantadores quando desordenados, como seriam quando arranjados?’ Ele mirou seus olhos tão brilhantes quanto as estrelas; viu os seus lábios, e não estava satisfeito em apenas os ver. Admirava suas mãos e seus braços, nus até à altura dos ombros, e tudo o que não podia ver em seu corpo ele imaginou que seria ainda mais belo.
Ele a seguiu; ela fugiu, mais rápido que o vento, e não teve paciência para com as súplicas de Apolo. ‘Fica’, disse ele, “Filha de Peneu; não sou um adversário. Não fujas de mim como um cordeiro foge do lobo, ou uma pomba do falcão. É por amor que te persigo. Fazes que me sinta um miserável: movida pelo medo, podes cair e te machucar nestas pedras, e eu terei sido a causa. Presa minha, corre menos que, e eu hei de desacelerar também meu passo. Não sou um rude aldeão, Júpiter é o meu pai e eu sou o senhor de Delfos e de Tenedos, e conheço todas as coisas, do presente e do futuro. Sou o deus da canção e da lira. Minhas flechas voam direto ao alvo; Contudo, ai de mim! Uma seta mais letal que as minhas perfurou meu coração! Sou o deus da medicina, e sofro de uma enfermidade que bálsamo algum pode curar”!
(BUFFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia. Tradução de Luciano Alves Meira. São Paulo: Martin Claret, 2006).
Bem, o resto da narrativa mitológica todo mundo sabe: Dafne, vendo-se perseguida, chama pelo pai, o rio-deus, pedindo para que ele abrisse a terra para nela se esconder, enfim, irá se transformar numa árvore – donde as folhas enfeitarão a cabeça de Apolo: são os louros. Mas o que fica é o senso de tragédia.
Pessoalmente, acho que se o Cupido desperta o amor, é sinal de que ele é o que é: uma criança. Daí porque a gente fica infantil quando ama. E se amor vem de flecha, é porque dói e fere. Não obstante, vejam que Cupido manipula o amor e aversão, ou seja, amor e ódio, repulsa, têm mesma origem. Ah, eu queria dizer muitos blablablás, mas tenho que sair.
Com a nossa consternação coletiva, pelo menos vi que tem gente que torce pelo amor: coitados deles, dos noivos recém-casados: mereciam um final feliz.

Ira!

Um coração tomado de ira, realmente, desumaniza a gente. Estou assim, agora: num ódio tão grande contra uma pessoa que é desumana, que a única possibilidade de fazê-la entender a própria crueldade foi ser, também, irascível.
Não fosse isso se tratar de uma pessoa, também larguei o verbo com todos os esses e erres cabíveis para explicar ao meu orientador que a má vontade administrativa era uma coisa, a burocracia era outra e que confiar em e-mails, em justiça, em bom senso e na idoneidade dos colegas de trabalho dele não iria resolver nada, pois passado mais de um ano, nada se resolveu mesmo com tantas palavras empenhadas. Não se diz isso sem receio a um homem como ele, que é honrado e idôneo. Não obstante, ele mede o mundo pela régua dele – e ignora as pilantragens, coerções, corporativismos e total falta de ética dos coleguinhas sagrados, amados e titulados. Essa é minha maneira grossa de dizer que ele não merecia estar no meio daquele povo!
Bem, mas mais boba sou eu: tantas vezes o incompetente, o burro e o desonesto ocupam cargos superiores na hierarquia e a gente tem que aturar absurdos e interpretar relinchos como verdades? Deus, Pai Todo-Poderoso, faça qualquer coisa comigo, mas não me deixe à mercê de um chefe burro ou subordinada aos similares da espécie – sem nenhuma ofensa aos burros, respeitáveis animais trabalhadores e explorados...
Bem, mas deixa eu colocar minha INDIGNAÇÃO na sacola e seguir em frente.

domingo, 18 de novembro de 2012

No mundo da fantasia


Desta vez fui eu a perguntar qual era a fantasia que ele ainda não tinha realizado. Ele me disse que não tinha fantasia alguma. Duvido, mas entendo que a recusa a falar das fantasias dele seja o subterfúgio para não encarar as minhas. Bem, tenho mais fantasias do que barracão de escola de samba e do que festa de Halloween. Tenho muitas ainda, mas em sua maior parte, impossíveis, por depender da aquiescência e colaboração do parceiro.
O Ex-Grande Amor da Minha Vida um dia me perguntou de minhas fantasias e não aguentou a resposta. Quem pergunta deve estar preparado para a resposta. Ele, porém, entendeu como ofensa, ficou surpreso e decepcionado. Para os curiosos, só posso adiantar uma coisa: não tenho nenhuma fantasia que envolva outra mulher – para má sorte dos homens, que têm fantasias desta ordem.
Lembrei de Felipe, lá de Campinas: pelo menos comigo ele ficou livre e à vontade para contar das fantasias dele. Levou um tempo até este dia, e olha que para alguém que correu atrás de mim em assumido fetiche por saltos altos, demorou até às confissões, das quais duas não tinham nada a ver com sapatos. Mas, cá para nós, não me senti chocada. Uma destas fantasias, sim, era pesada e talvez inviável... Moralmente inviável, neste mundo de chantagens e vigilâncias morais.
Não gosto de gente com taras esdrúxulas, mas fico contente quando encontro gente que viaja na proposta, participa, curte, vivencia e se predispõe ao que ocorrer... Terrível é encontrar um cara reprimido que nunca queira nada, que faça julgamentos e não assuma o quer experimentar.
Está bem que já dei umas chineladas em masoquistas convictos e queimei vela de canela nas sardas de quem eu tanto gostei, mas o resto, tudo para mim está na ordem da normalidade, - talvez com alguns involuntários e pequenos atentados ao pudor.
Todo mundo tem limite e os meus têm mais a ver com os ouvidos do que propriamente com todo o resto. Não ouço certas coisas. Se eu ouvir, grito: “Pare o mundo, que quero descer!”.
Adoro sussurros, acho a palavra tremendamente sedutora, erótica, afrodisíaca. Mas não é qualquer palavra, palavras de boteco e repertório de peão da construção civil não funcionam comigo. Ah, e música, trilha sonora... Uma coisa tão simples e boa parte dos meus namorados não é chegada, dizem que tira a concentração. As coisas mais simples às vezes são bem complicadas de realizar... Já outras, palavra de quem já usou farda e foi militar, delicadas, complicadas tecnicamente, na vida real são mais acessíveis do que ouvir música. Acho que eu gosto de todo tipo de fantasia, desde que não ameace minha integridade física ou cause preocupação ou apreensão: fundamentalmente gosto de criatividade, segurança e tranquilidade.
Sei que meus amigos tarados estão pensando em aglomerações sexuais – e minhoca cega acha que macarrão é suruba, já disse o filósofo Zé – e em mil perversões, porque basta a gente levantar o tema que as conjecturas mais picantes são tecidas, o que acho uma injustiça, porque sou tímida e quieta. Aliás, fiquei pensando nestas coisas devido à vida careta que eu levo e por causa de minha consternação ao ouvir do ser humano que tenho por namorado me dizer que não tem fantasias. Não pode ser! Por outro lado, pode ser, porque ele tem umas ortodoxias e machismos que não admitem certas coisas... E sorte a dele ter boas compensações.
Fantasias, pelo jeito, só nas minhas próprias fantasias...

Loucas de Amor

“O golpe que acabo de sofrer, essa derrota sentimental ou profissional, essa dificuldade ou esse luto que afetam minhas relações com meus próximos são em geral o gatilho, facilmente localizável, do meu desespero. Uma traição, uma doença fatal, um acidente ou uma desvantagem que, de forma brusca, me arrancam dessa categoria que me parecia normal, das pessoas normais, ou que se abatem com o mesmo efeito radical sobre um ser querido, ou ainda...quem sabe? A lista das desgraças que nos oprimem todos os dias é infinita...Tudo isto, bruscamente, me dá uma outra vida. Uma vida impossível de ser vivida, carregada de aflições cotidianas, de lágrimas contidas ou derramadas, de desespero sem partilha, às vezes abrasador, às vezes incolor e vazio. Em suma, uma existência desvitalizada que, embora às vezes exaltada pelo esforço que faço para continua-la, a cada instante está prestes a oscilar para a morte. Morte vingança ou morte liberação, doravante ela é o limite interno de meu abatimento, o sentido impossível dessa vida, cujo fardo, a cada instante, me parece insustentável, salvo nos momentos em que me mobilizo para enfrentar o desastre. Vivo uma morte viva, carne cortada, sangrante, tornada cadáver, ritmo diminuído ou suspenso, tempo apagado ou dilatado, incorporado na aflição...Ausente do sentido dos outros, estrangeira, acidental à felicidade ingênua, eu tenho de minha depressão uma lucidez suprema, metafísica. Nas fronteiras da vida e da morte, às vezes tenho o sentimento orgulhosos de ser a testemunha da insensatez do Ser, de revelar o absurdo dos laços e dos seres.
Minha dor é a face escondida de minha filosofia, sua irmã muda. Paralelamente, o “filosofar é aprender a morrer” não poderia ser concebido sem a coletânea melancólica da aflição ou do ódio – que culminará na preocupação de Heidegger e na revelação de nosso ‘ser-para-a-morte’. Sem uma disposição para a melancolia, não há psiquismo, mas atuação em jogo.
Contudo, o poder dos acontecimentos que suscitam minha depressão, geralmente, é desproporcional em relação ao desastre que, de forma brusca, me submerge. Mais ainda, examinando o desencanto, mesmo cruel, que sofro aqui e agora, este parece entrar em ressonância com traumas antigos, a partir dos quais me apercebo que jamais soube realizar o luto. Posso assim encontrar antecedentes do meu desmoronamento atual numa perda, numa morte ou num luto de alguém ou de alguma coisa que amei outrora. O desaparecimento desse ser indispensável continua a me privar da parte mais válida de mim mesmo: eu o vivo como um golpe ou uma privação, para, contudo descobrir que minha aflição é apenas o adiamento do ódio ou do desejo de domínio que nutro por aquele ou aquela que me traíram ou abandonaram. Minha depressão assinala que não sei perder: talvez não tenha sabido encontrar contrapartida válida para a perda? Como resultado, qualquer perda acarreta a perda do meu ser – e do próprio Ser. O deprimido é um ateu radical e soturno.” (KRISTEVA, Julia. Sol negro: depressão e melancolia. Tradução de Carlota Gomes. – Rio de Janeiro: Rocco, 1989, pp.11-12).
Ganhei este livro de um professor meu da UEFS, pelo qual nutro especial admiração, em 2003. E foi um acaso: eu tinha ido à casa dele, no bairro da Graça, pegar outras referências. Por esta época flertava a poesia que se tornaria tema de meu mestrado e aconteceu de cairmos em cima deste livro e meu professor apenas disse: Leve! “Fique para você”. Fiquei. É um volume amarelado com muita, muita Literatura e não menos psicanálise.
Aconteceu de ontem eu estar no shopping e encontrar uma amiga a me informar do estado de outra amiga: teve um novo acesso de loucura, estava saindo do hospital àquela hora, aproximadamente.
Minha amiga mais que irmã também enlouqueceu pela mesma causa. Aliás, não é causa, é agente, porque não enlouquece quem quer, é preciso ter estruturas já desenhadas no perfil psicológico, coisa que está feita até os dois anos de idade. Posteriormente, um agente desencadeador detona o fio que conduz à loucura. No caso de todas essas meninas, que são da mesma família (esta que enlouqueceu de novo é irmã da minha amiga que citei), o elemento que detona a loucura é homem. Basta um homem e um amor não correspondido e a crise histérica se transmuta em depressão e loucura ou em loucura depressiva. Por isso não aceito que mediante qualquer tristezinha própria a quem está vivo, venha um ou outro alegar depressão, só porque está na moda e dá IBOPE.
As situações de perda acometem todos nós. Há lutos, inclusive, pela beleza que passou, pela saúde que se perdeu, pelas coisas de que declinamos menos por vontade do que por apego às leis morais – como nos casos em que se declina de viver um amor porque a pessoa é socialmente inviável para os parâmetros socioculturais vigentes, seja por classe, cor, escolaridade, estética, religião, etc. – e daí que às vezes as pessoas se perdem de si e perdem o juízo, como aconteceu às minhas amigas.
Claro que há a predisposição genética agravada pelo perfil da família hipócrita adventista que vive a dupla moral. E claro que cada uma dessas pessoas tem suas particularidades e até oposições, como no caso de minha amiga-irmã ser preocupada em dizer a verdade e outra ser mentirosa compulsiva. Falando nisso, até a mentirosa compulsiva ficou chocada quando tratávamos de uma terceira amiga (e respectiva companheira) que certa feita disse ter ido visitá-la e almoçar por lá. Era mentira: ela e a namorada estavam indo para outro lugar e, para não falarem abertamente que não queriam que eu fosse, inventaram o almoço inexistente porque, aliás, a que enlouqueceu novamente não é chegada à cozinha nem gosta de gente na casa dela.
Saias justas mais bobas que detonam amizades, não é? Eu adoto o preceito: "Não convidem para a mesma mesa X e Y”, ou seja, colocar gente que não se gosta em proximidade é deveras desagradável. Mas lugares a que quero ir sozinha ou turmas que não incluem dadas pessoas, eu falo abertamente: nós vamos! Quem eu convido, convido. Quem não é desejado, não precisa desculpas escapatórias. Ponto final. Até os pirados tem código de ética.
Bom, mas minhas amigas se esbagaçam por homens que não valem a pena. Entendo isso e não estou isenta deste mal. Acredito, porém, que a gente realmente pensa que não vá conseguir viver sem a pessoa, sem o tal homem e diante da abstinência, perdemos o chão, o equilíbrio. Então o conveniente é o afastamento emocional gradativo. Come-se hoje, amanhã e depois o pão-que-o-Diabo-amassou e vai-se procurando subterfúgios para sair deste círculo.
Quando a gente gosta de alguém, a última coisa que a gente quer é distância. Não dá para se renunciar aos desejos sem pagar um preço de enlouquecer qualquer um. Mas aí cito abertamente a minha amiga Magna: ela colocou um Oceano de distância entre ela e o objeto amoroso – e posso dizer que tal como a maioria de nós, mulheres, ela estava tratando caco de vidro como se fosse diamante – e, é aquilo de sofrer muito hoje, amanhã sofrer menos e ir sofrendo até que tudo passa. A gente se vicia em quem ama. Quando ocorre comigo, pior ainda: sou insistente, bato a cabeça na parede até vir à consciência de que daquele mato não vai sair coelho.
A conversa toda de Kristeva é para mostrar esta desproporcionalidade, o quanto a gente sofre pelo que a olhos nus, não vale o sofrimento. Mas então ela associa, mostrando que a gente agrega sentidos e confere e transfere valores e sentimentos de outras experiências para o objeto do sofrimento que estão por trás da ‘hipnose amorosa’ porque, sim, ela existe. Vale a pena ponderar sobre isso, especialmente num tempo em que as mulheres estão topando qualquer coisa por um homem; e amor e fidelidade são artigos de luxo, escassos e caros no mercado dos afetos e que, por conseguinte, levam os homens a dizer: “Se você me deixar por causa de uma traição, vai pegar outro que irá trair muito mais”. Muito particularmente, não sou apocalíptica nem fatalista: diante dessas crises e do perfil predominantemente histérico das mulheres (lembro-me dos Titãs: “Todo mundo quer amor/todo mundo quer amor de verdade/uma pessoa boa quer amor, /uma pessoa má quer amor,/quer amor de verdade...”) acho que vai chegar um momento em que a monogamia será sepultada explicitamente. Explicitamente mesmo, não é essa coisa que a gente tem hoje em dia e que vê que a colega finge não ter ciúmes, que todos fingem não querer estabilidade emocional, relações estáveis, mas sofrem diante do vazio ou da ameaça de perda.
Deixa o tempo passar que as respostas virão.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O tamanho do problema (II)

"Uma pesquisa da revista Journal of Sexual Medicine confirmou um dos maiores temores masculinos: o tamanho do pênis faz diferença na hora de satisfazer a mulher na cama. Essa é a conclusão de uma pesquisa realizada na Universidade do Oeste da Escócia.

Coordenada pelo psicólogo Stuart Brody, a pesquisa consultou cerca de 323 mulheres. Elas foram perguntadas sobre diversos aspectos da vida sexual e se elas consideram que o comprimento do órgão sexual masculino influi no prazer delas.

Para sorte - ou azar - masculino, as moças com mais ocorrências de orgasmos vaginais dizem que isso ocorria mais facilmente se o parceiro tinha um pênis maior. Isso porque um pênis mais longo consegue estimular toda a extensão da vagina e também o colo uterino. (vi no jornal espanhol ABC)".

Isso estava numa página da Web. Li hoje de manhã e não consegui detectar qual é a novidade. Por aqui, já havia cantado esta pedra antes.
Não é incrível que a ciência perca seu tempo para constatar o óbvio?
Ah, a novidade deve ser que as mulheres finalmente resolveram falar a verdade. Ah, parabéns, colegas!A sinceridade também é um caminho para preencher o vazio existencial - ou outros vazios, sabe-se lá!
Vejam o problema da falta de leitura: tivessem tais cientistas lido Tenda dos Milagres, de Jorge Amado, teriam o devido embasamento e a comprovação da hipótese inicial:
"Depois foi tomar o banho de folhas, escolhidas uma a uma por Ossain. No mel e na água de pitanga, no sal e na pimenta malagueta preparou a arma e a viu crescer, descomunal bordão de caminhante. No bolso escondeu o kelê, o xaôro e o coração da pomba, a conta vermelha e branca de Xangô. Na porta da Tenda dos Milagres, ele a esperou chegar.
Apenas surgiu na esquina e começaram, não houve fuleragem nem fricotes: mal a iaba apareceu e a estrovenga foi ao seu encontro e lhe subiu as saias engomadas, ali mesmo metendo, na extata medida do xibiu: fogo com fogo, mel com mel, sal com sal, pimenta com pimenta e malagueta. Contar essa batalha, essa guerra das duas competências, o assalto da égua e do cavalo, o miar da gata em desvario, o uivo do lobo, o ronco do javali selvagem, o soluço da donzela na hora de mulher, o arrulho do pombo, o marulho das ondas, contar, amor, quem poderia?
Rolaram pela ladeira, penetrados, foram parar no areal do porto e atravessaram a noite. A maré cresceu e os levou; no fundo do mar prosseguiram em louca cavalgada, na metida insana.
A iaba com tal resistência não contara; a cada desmaio de Archanjo, a excomungada pensava com esperança e raiva: agora o possante vai pururucar, esmolambado! Muito ao contrário, em vez de fenecer, crescia o ferro em brasa e em carícia.
Tampouco imaginara gostosura assim, chibata de mel, pimenta e sal, delícia das delícias, fenômeno de circo, maravilha. Ai, gemeu a iaba em desespero, se ao menos eu pudesse...Não podia.
Durou três dias e três noites o grão embate, o sumo pagode, sem intervalo: dez mil trepadas e uma só metida, e a iaba tanto entesou-se em seu furor sem termo que, de repente, deu-lhe um tangolomango e em gozo ela se abriu como se rompe o céu em chuva. Irrigado o deserto, rota a ridez, vencida a maldição, hosana e aleluia!."
(AMADO. Jorge. Tenda dos Milagres. 42. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 125)

P.S.: Desejo um bom feriado aos meus amigos e leitores. A uns poucos, recomendo higiene mental para limpar as mentes sujas. kkk!)

Vampiros na tela

Se bem me lembro, semana passada teria sido o aniversário do Bram Stocker, escritor base de toda saga vampiresca de que se tem notícia até hoje. Coincidentemente (ou nem tanto) os Telecines estavam exibindo Crepúsculos e infinitas Luas Novas, porque não gravo muito bem os nomes de filmes de vampiros contemporâneos – chatos, ranzinzas e chifrudos... Bem, vampiro com chifres vira unicórnio?
Não falo mal dos livros da saga, tampouco dos filmes em si. No fundo, acho o máximo que haja uma horda de adolescentes – alguns extemporâneos, porque hoje em dia a gente é adolescente até um pouco depois dos quarenta anos tipo o Supla ou a Xuxa – que ainda procure fantasia. Especialmente num país como o Brasil, de poucos leitores e em que a leitura é mesmo capital cultural, haja vista que leitura e classe social, por aqui, estão atreladas. Isso não garante, claro, proteção contra a futilidade dos ricos ou garante que não sejam eles maus leitores, mas a pobreza é agravante da falta de leitura – há quem afirme a ordem oposta: a falta de leitura agrava a pobreza. Bom, não entro nesta querela. Entro na querela de sempre: há uma parcela de gente ávida por realidade, pela verdade parcial dos documentários e a verdade inconsistente dos reality-shows (Ih, não sei fazer este plural. Não seriam Realities? Bah!); e outro povo sonhador-adorador de novelas e suas justiças duvidosas.
Em contrapartida, “nossos sonhos são os mesmo há muito tempo/mas não há mais muito tempo para sonhar”, como cantaram os Engenheiros do Hawaii. Mas o povo também tem sede de sonho. Apenas já não se pode admitir isso.
As meninas que deliram pelo vampiro pálido, sonham com um para si, com um homem que as amem, com amor, com carinho... Só não dá para admitir, porque admitir a necessidade de amor é admitir uma fraqueza inadmissível para os dias de hoje. Acho que há uma geração viajando numa fantasia de amor e de aventura. E quem não quer final feliz?
Nessa coisa de vampiros, pela primeira vez na vida assisti a Um drink no inferno. Vampiros com Quentin Tarantino pelo meio significam que violência e vingança estarão em pauta. Está aí, já discuti isso antes: os dois Vês de Tarantino (de vingança e de violência) são para matar a fome do povo, por isso tendem a ser hiperbólicos.
Por indicação do meu namorado, comecei a ver o filme: violência na cara! A violência do desajustado interpretado pelo próprio Tarantino, que procura pretextos para matar suas vítimas, ouve vozes que o impelem à violência; e não tem piedade de ninguém, vai ocupando mais da metade do filme, na fuga enlouquecida da personagem de Tarantino (Richard Gecko) e do irmão dele (Seth), interpretado por George Clooney, para chegar ao México.
Até aí, tudo bem realista. E nada mais realista do que gente desajustada nos Estados Unidos, a abrir fogo contra qualquer um, preferencialmente, em escolas. Neste caso, a culpa é da realidade, por andar imitando a ficção.
Daí em diante, além da trilha sonora maravilhosa, o filme começa a parecer um delírio de drogados, com cobras, seres humanos monstruosos, mais violência e profusão de vampiros.
O resto são as metáforas sociais dos que não têm fé, dos que são pastores, das dúvidas humanas, enfim...
Gostei do filme. Do gênero de vampiros, para mim, nenhum supera Entrevista com o vampiro. Ah, sim, gosto de vampiros – só não gosto de uns vampiros de qualidade duvidosa. Os de Anne Rice são ótimos. Vampiros em ritmo de ação e aventura besta, eu não gosto não. Nem dos vampiros meio molengas, vegetarianos. Talvez seja antiquado o meu conceito, mas acho que já não se fazem mais vampiros como antigamente.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Eu, hein?! (XXVI)

Postagens especialmente dedicadas aos meus amigos da Irmandade e para os recém-saídos dos armários blindados!

Eu, hein?! (XXV)


Eu, hein?! (XXIV)

Já viu este filme?

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

"Desejo: necessidade e vontade!"

Os desejos são mesmo problemas e meu inconsciente não ajuda em nada na resolução deles: antes de dormir fiquei pensando no sósia do Daddo Dolabela que, há anos, não desiste de mim. Neste caso tem o agravante de eu achar o cara bonito, mas costumar focalizar a questão nas possíveis consequências: ele é problemático. Então, se o desejo é um problema, o desejo envolvendo um sujeito problemático é um duplo problema.
Dormi pensando nisso ontem e acabei sonhando com quem nem estava sendo lembrado há tempos: o delicioso coleguinha das aulas de Antropologia – na verdade, a aula era de outra disciplina, mas para resguardar relativamente à privacidade das partes, fica isso aí. É que na UEFS funciona assim: se você entra, por exemplo, em uma turma, esta sua turma de primeiro semestre vai manter contato com as outras que vão entrando ao longo dos seus quatro anos de graduação. Isso significa até duas turmas diferentes por ano, referentes a cada semestre de vestibular.
Convivem, portanto, os que entram depois de nós e os que já estão, de modo que é muito difícil que as pessoas não se conheçam entre si. Eu tranquei um ano de curso de graduação, para estar na porcaria do recrutamento do tempo em que fui militar, e na volta, conheci o cara da turma nova, o tal da turma de Antropologia. Acho até que fizemos uma viagem juntos, como turma, sei lá, pouco lembro... Mas como não tínhamos a mínima intimidade, ficou o desejo latente, sem muita certeza de ambas as partes.
Desde sempre eu achei o sujeito muito bonito. Somos preconceituosos com as pessoas bonitas e, com os homens, pior ainda. Bonito é sinônimo de convencido, antipático, cheio de si, dentre outras coisas. Nas experiências que tive, nada disso se confirmou: eram bonitos e gente fina, educados, inteligentes e a exceção foi só aquele poeta cretino, porque é típico da classe dos cafajestes certos hábitos e posturas.
Bem, mas no meu sonho foi tudo bem: desejo realizado, tão bem realizado que acordei balbuciando as coisas que eu estava dizendo ao coleguinha interessante. Faz um tempo que eu não o vejo e, para ser sincera, acho que só percebi que era correspondida quando passei na seleção para professora da UNEB e, num semestre posterior, fui tirar as xérox que comporiam o módulo de minha disciplina. Ele estava lá. Quer dizer, ele veio depois e eu já estava. Atarefada, troquei duas palavras com ele, escondendo o brilho de felicidade nos olhos pela feliz coincidência.
Neuroticamente, eu estava em duas xérox ao mesmo tempo – vizinhas. Ia de lá para cá para seguir a cópia dos meus livros e aí, como ele não sabia disso, começou a fazer perguntas sobre mim à moça da xérox. Começou perguntando de meus livros, depois da minha disciplina, seguiu perguntando se ela sabia onde eu morava e blablablá e, como era inevitável, cheguei lá e interrompi a conversa bem na hora em que ele pediu o meu módulo para ver o que havia dentro. Acho que respondi algumas coisas eu mesma. Acho que ele disse umas poucas coisas sobre si, das quais que estava no mestrado de História da UEFS.
Depois a gente ainda se viu mais vezes no shopping – sempre uma deixa, uma coisa recíproca que um não consegue dissimular para o outro. Sou tímida, não sou de ir lá e tomar a iniciativa. Quem me vir cantando alguém, pode apostar que é brincadeira ou que a pessoa não me interessa. Costumo atacar os que são mais tímidos que eu, só para perturbar... Mas, devo dizer que o meu primo sabe do flerte e não gosta nem um pouco – foram colegas em outras disciplinas, se é que não entraram no mesmo semestre, porque nunca examinei o caso a fundo.
E aí, do nada, sonho com o rapaz. Sonho bom, passado aqui perto de casa e, depois, a gente vinha para minha casa que era nossa casa, a julgar pela intimidade dele por aqui.Intimidade boa comigo, na valsa bem executada da coreografia do sexo...
Incrível como o sonho pode realizar os desejos, como o imaginário sacia todas as fomes – e se falo fome é porque acho que ele é gostoso. Porém, ainda bem que comigo realizar o desejo não mata o desejo, apenas alivia a fome.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Eu, hein?! (XXIII)

Agora todo mundo vai entender perfeitamente por que uma imagem vale mais que mil palavras: com umas imagens dessas no meu bolso, nem preciso dizer nada!

Eu, hein?! (XXII)

Resta saber: Que cookie você quer?

Eu, hein?! (XXI)

É, dizem que o amor custa caro!

domingo, 4 de novembro de 2012

Adendo ( que mala!)


Olha, por falar nisso de nem parecer que fui eu que escrevi, olha ali abaixo o que eu falo, na dissertação, sobre o poema que citei no outro post! Caramba, eu li Hegel um dia! eu li mesmo! Olha, eu até pensava!e eu tinha uns 5 neurônio nesse tempo! e isso foi há seis anos atrás...

Por fim, a viagem de que fala o poema parece também representar a vida (curta), em suas dificuldades mais relevantes (caminhos estreitos). Deste modo, o poeta, diante da veracidade e da certeza da morte (uma outra viagem), reclama uma leveza – a ser alcançada na solidão - para aliviar todos os fardos da existência. Há uma aproximação entre as palavras do poeta e as considerações de Hegel no prefácio da obra Fenomenologia do espírito, conforme podemos observar:

"De um lado, é preciso suportar a extensão do caminho, pois cada momento é necessário, de outro é preciso parar em cada momento e demorar-se nele, pois cada qual é em si mesmo uma figura, uma totalidade individual..." (HEGEL. Fenomenologia do espírito. Prefácio)

Ainda nessa direção, vimos que em DIÁRIO DE BORDO exprime-se um pouco desta afirmação de Hegel no tocante às noções de temporalidade, vida e individualidade. As perguntas ontológicas/metafísicas mostram-se enquanto princípio histórico na passagem efêmera do homem pela vida e no sempre presente limiar entre a vida e a morte. Parar em cada momento dessa trajetória é tomar consciência da singularidade de cada um deles, pois não há repetição possível e o devir se afirma.

Pois é. Doei a dissertação ao MEC, ao site Domínio Público - meia dúzia de loucos já leram isso: "De só a sós: imagens da solidão na poesia de Iderval Miranda". Fosse lá meu ego grande e a dissertação compatível com o meu ego, não teria dado de graça, né?

A viagem e os caminhos

Já que acabei minha tese de doutorado - a defesa ainda é em dezembro e a ansiedade só virá de véspera - resolvi olhar minha dissertação de mestrado.
Depois de escrito, às vezes nem parece que foi a gente quem escreveu. Mas fui lá num ponto determinado, num poema de Iderval Miranda chamado Diário de Bordo (do livro Oficina estrela):

em nossas amizades
algum dia,
invariavelmente,
defrontamo-nos
com questões tipo
a que se deve?
com que propósito?
para que serve?

nesses casos,
há que se perguntar
por que carregar grandes malas
se a viagem é curta
e os caminhos estreitos?


E meu orientador de mestrado, que é amigo pessoal do poeta, disse tristemente: "Isso é com a gente! isso é com a gente, que é amigo dele. Ele acha a gente um rebanho de mala!".
PAUSA PARA COMENTÁRIO QUE NÃO TEM NADA A VER: 'Rebanho de mala" só me lembra o personagem Antônio Biá, no filme Narradores de Javé, dizendo que "Bovil é um canil de bois" - kkkkkkkkkk! desculpa aí, foi mais forte que eu!
Mas trouxe essas malas do poema à baila porque esqueci um nome importantíssimo nos agradecimentos de minha tese: o nome de Marluce. E Marluce é, assim, figura e gente fina, muito legal comigo, boa mãe, boa e jovem avó, batalhadora, politizada... Ficou a dívida. Marluce não é mala: é uma mulher de bagagem!
Contudo, agradeci a uns amigos malas. São malas, mas são meus amigos - gente que nem vai ler o agradecimento, gente que não vejo nem falo sempre, mas que são presentes.
Tem amizade que, realmente, requer distância. Dá um negócio, um tédio, uma chateação...e outros seres humanos que a gente quer grudar como se fosse irmão.
A viagem é curta e os caminhos, estreitos. Que pena! mas não percamos tempo.
Não vejo Léo Bernardes todo dia, mas se escrevo ele é prestativo, conhece tudo de mim, opina, não tem medo nem frescura - não se esconde da verdade também, porque certas amizades só se conservam conforme nossa capacidade de mentir e fingir que não viu, não ouviu e não sabe da pisada de bola.
Tenho uma série de amigas que nunca erram. Lógico que isso é mentira: erram feio e não têm coragem de admitir. Preferem perder a amizade a admitir o erro. Não sabem pedir desculpas.
Outras são ofensivas: pensam que a gente, mortal, é cidadão Facebookeano, isto é, habitantes da Ilha Feliz do Facebook, onde todo mundo é superstar, bem sucedido, rico, inteligente e frequentador dos melhores lugares. Daí que se você diz qualquer coisa que soe como vantagem pessoal, tais criaturas dirão: "Quem tem boca fala o que quer!", porque afinal tudo referente às declarações alheias são apenas mentiras.
Ah, meu Deus, eu que tenho contas a pagar, pouco dinheiro, como, durmo e me lamento, posso dizer o que?
Já fui uma pessoa "Terceiro Piso", porque perco dinheiro mas não perco o bom gosto, mas só não como macarrão instantâneo porque pelo menos me sobrou isso, o bom gosto. E macarrão instantâneo não tem gosto algum.
Aí não me dou bem com estas pessoas que, embora amigas, são bem diferentes de mim.
Também encho meu saco de sair em programa furado, em que a gente senta na mesa e fica com cara de paisagem ou em viagens com brigas e bafafás.
Na minha vida, as pesadas malas são aquelas amigas que só aparecem quando a casa delas caiu. Tem problemas? então meu telefone não pára. Ah, pior: se eu tenho vida própria e não atendo o telefone - em minha casa, tomo banho, compro pão, vou varrer a garagem, vou ao supermercado, à farmácia -, bem, se não atendo ao telefone ouço despropósitos e indiretas. Estas são as minhas malas: as que pedem dedicação exclusiva, as que dizem "Pare seu mundo que eu tenho um problema!". Mas, aí, se a casa não cai nem o dinheiro acaba, não serei lembrada. E justamente porque o caminho é estreito, olha, estou fora! joguei as malas fora!afinal, se for eu a estar com problemas, que mala me servirá? quem escuta? quem ajuda? quem liga para saber se eu estou precisando de alguma coisa? amizade unilateral não é amizade.
Mas meus amigos constantes, em termos afetivos, estes fizeram os meus caminhos, me ajudaram a carregar as malas, coloriram a paisagem,ajudaram a encontrar a direção e, tal como Marluce, têm bagagem. Obrigada, viu, gente? Gente!Vocês são mesmo gente (acertam, erram, amam, odeiam,enfim, não são robôs de simpatia plástica)...Amo meus amigos!

sábado, 3 de novembro de 2012

Aos pedaços

Vi na televisão que existe um Museu do Coração Partido, acho que na Croácia, porque não peguei a reportagem do começo, deixei a televisão ligada e acho até que se tratava de uma reprise do Globo Repórter, a julgar pela hora.
Não fosse o óbvio, a saber: as cartas de amor, os ursinhos e presentinhos e vários objetos com uma história; me chamou a atenção, em princípio um anão feito de gesso, grande, até. E a História? O anão foi arremessado contra o carro do par amoroso de alguém, acho que a moça arremessou no carro do sujeito que a desprezou. Bom, daí que o Museu do Coração Partido tem muitas histórias de violência, violência justificada pela indignação.
Aí vem o machado: para a sorte dos mais fracos, não foi usado para matar ninguém. É que o par, tendo terminado, combinou com a outra pessoa para que ela viesse retirar a mobília que lhe pertencera. E o machado? Bem, o machado foi usado para destruir a mobília.Quando a pessoa chegou para buscar os móveis, já estavam compactados.
Dá para se relevar: móveis partidos em pedaços não são nada perto de um coração partido. Amor desfeito é sempre violento. Seja a violência simbólica, das pragas que rogamos para quem nos deixou, para que pague caro, quebre a cara, se arrependa, chore o que perdeu (ora, achamos que ficar sem nós em uma perda...); seja a violência física de meter a mão na cara, sem a menor civilidade; ou declinar do ato físico e, como está lá no Museu, depredar um bem material de outrem.
A propósito, lá estava um retrovisor. A moça destruiu o retrovisor quando viu o carro do ex estacionado em frente à casa daquela que a substituiu. Lembro sempre de Minha Super Ex-namorada e me pergunto por que somos assim, vingativos. Mulheres sim, são vingativas. Eu já sou vingativa por natureza, imagine no plano afetivo?
Mas não acho que quem deixou de gostar de mim mereça porrada. Acho que a gente tem que ser comunicada sem muita lengalenga. Quem aguenta ouvir os clássicos, “não é com você, o problema é comigo!”; “você vai encontrar alguém melhor do que eu, alguém que te mereça!” e o mais clássico dentre os clássicos: “Não estou preparado para nada sério!”. Glória a Deus e aleluia, tem um par de anos que não escuto isso. Entretanto, escutei uma coisa assustadora: Desde que aquele meu ex que gostava de apanhar começou a dar pinta de que se descobriu gay, terminei e mantive relativamente a amizade.
Recentemente, lá vem ele: escancarou uma proposta clara de casamento comigo e para mim, a pretexto de que é mais fácil para ele pegar homem quando se diz casado. Segundo ele, atrair homem alegando que “somos um casal”, é infalível.
De acordo com ele, gays são muito desinteressantes, desmunhecam, dão pintam, são caricatos, escandalosos e parecem mulher. E ele não gosta de mulher. Logo, o pior que pode aparecer é um gay com trejeito feminino, que lhe arranca fora o desejo sexual.
Penso: Jesus, o que fiz para merecer isso? Gay, antes do tarde do que mais tarde, ponham já os armários blindados na liquidação! mas me propor um casamento para poder pegar gente foi, sem dúvidas a coisa mais inescrupulosa que me aconteceu. Bom, se bem que ele disse que gosta do mesmo tipo de homem que eu gosto e fez de tudo para conhecer meu atual... – Ah, é, olha que boba que eu sou: ele ficou com nosso vizinho em comum, do tempo que morei na mesma cidade que ele. Nosso vizinho advogado, branquinho, fofo, para quem ele insinuava mais que amizade... até que tantos anos depois, o vizinho concretizou os sonhos do meu ex e nunca mais lhe olhou na cara! É, até caberia uma vingança, mas eu não me importei não. Acho que a mentira me atinge muito mais, saber que o cara mentiu, escondeu...
Bem, mas certo estava Caetano Veloso: “um amor assim violento/quando torna-se mágoa/ É o avesso de um sentimento,/Oceano sem água.” Oceano sem água é seco, vazio, é o deserto...
Quem cola coração partido só outro Amor, não é Ivan Lins? “O amor junta os pedaços/quando um coração se quebra/mesmo que seja de aço/mesmo que seja de pedra.../Fica tão cicatrizado, que ninguém diz que é colado”. Amor bom é sempre iluminado. Eu acredito em todo amor, nos que só duram uma noite, nos de carnaval, nos que nos dão nomes falsos, nos que não ligam no outro dia... Nem ligo, com tanto que me faça feliz, felicidade instantânea e volátil é sempre felicidade.