Louquética

Incontinência verbal

sábado, 29 de dezembro de 2012

Rito de passagem

Passei o dia a me desviar das filas. Com isso, estou aqui sem ter comprado nada do que eu precisava.
Sinceramente, detesto filas. Se o preço a pagar por algo que preciso é estar à espera, numa fila, declino, reordeno as minhas necessidades.
Até na noite de Reveillon há filas para descer para a praia, filas de gente paralelas a mim, para pular as sete ondinhas das simpatias de todos os anos. Hoje até brinquei com minha amiga pelo telefone: "Num princípio era a fila" e depois Deus criou as outras coisas.
Estou de saída para o reveillon na Praia - fila no pedágio daqui a pouco! - e desde já antevejo o dissabor que é aturar a gritaria idiota e os idiotas propriamente ditos, que acham que todo mundo quer se sentir num podium de fórmula 1 e tomar banho de champagne. Imagine se eu vou querer me arrumar sabendo que vou demorar na rua, nas festas e desejar ser molha da champagne só pelo prazer de permanecer untada, melecada e desconfortável, possivelmente dizendo: "Faz parte!". Não, não autorizo ninguém a me molhar de bebidas. E que coisa mais sem sentido!quem gosta de champagne que beba! Esta é uma interpretação errada dos princípios da doutrina do Socialismo Etílico, viu?
Mas apesar de tudo, isso não estraga a minha festa.
A vida está difícil, os tempos são árduos, mas nestes momentos finais do ano vigente entro no clima do rito de passagem, aceito as ilusões, rezo para os deuses que sempre falham e para os que sempre vem em meu socorro, agradeço pelas graças e fico feliz só por um dia de sol na praia e pelas melancolias do caminho que eu tanto gosto.
Neste ano não pressionei os meus amigos a virem atrás de mim, nem para que procurassem as melhores festas de Salvador: já cresci e envelheci o bastante para saber que o melhor lugar do mundo é onde a gente se sente bem, onde não há a preocupação em voltar a tempo hábil para os compromisso que seguem à data comemorativa e mais que isso, aprendi que o dia 1º de janeiro é o dia mais triste do ano porque tudo está fechado, não há onde ir nem o que fazer. Já me planejei, já sei o que farei e, também, não me faltam livros nem CDs.
Preparo-me para as numerologias ilusórias e as previsões apocaliptícas que sempre acontecem no virar do calendário. Mas meu Deus é até mais forte que minha fé e sempre cuida de tudo. E daquilo que me cabe, cuido eu, em erros e acertos nas escolhas que faço e que determinam meu destino. O destino se faz por nossas escolhas.
Desejo aos meus amigos, leitores, aliados e correligionários um 2013 de decisões lúcidas e autônomas, de luz, paz, alegria, sorte e força e que tenhamos muitas histórias para contar.
Hasta la vista, baby




Onde os lobos se escondem

Interessante a forma como a gente se relaciona com certos tipos dissimulados com que nos deparamos. De minha parte, se todo mundo gosta de uma pessoa ou a tem acima de todas as críticas, penso que há algo errado comigo se não concordo ou não me afeiçoo por ela. Examino as possibilidades de ciúmes e de invejas, vejo se realmente não sou o problema.
Conversando há alguns dias com uma amiga, para a minha surpresa, soube que uma outra conhecida com quem não me dou bem praticou crocodilagens com esta com quem eu conversava. Quem lê uma coisa dessas deve pensar: "Mulher é mesmo bicho falso; juntas, um ninho de cobras". Mas o fato me surpreendeu porque nos caso dessa criatura e de mais uma outra, eu gostava da amizade ou do que eu pensava que era amizade.
Talvez o problema seja este: a gente gostava delas. E tanto minha amiga quanto eu, cada uma a seu tempo,descobriu as falsidades, os leva-e-traz. E quem deixaria de acreditar em pessoas tão dignas, pacíficas, sensíveis e conciliadoras para creditar em gente como eu e minha amiga, que jogamos o vatapá no ventilador?nós que subimos nas tamancas! Nem eu acreditei em minhas desconfianças.
Aos poucos estou vendo que a gente se deixa iludir e se permite seduzir pelas posturas frágeis, delicadas, amistosas e aparentemente prestativas das amigas ideais que só poderiam ser ilusão já que o lugar do ideal é na ideia e no abstrato. Gente de carne e osso perde a cabeça, diz verdades, se descontrola, além de ser amiga, solidária, companheira...Gente d everdade tem defeitos e qualidades; então, só poderia ser uma flor de plástico com suas verdades parciais e doçura de aspartame, tipo de pessoa que muda cara conforme o cenário e as conveniências.
Depois que li umas linhas de um conto de Lygia Fagundes Telles, O espartilho, contido no livro A estrutura da Bolha de Sabão, encontrei não somente estas duas mulheres falsas com que minha amiga e eu nos deparamos, mas as outras que estão a se desenhar nas fendas das conveniências da vida acadêmica, que requer amizades como trampolins nas horas de decisão (coisa que sempre me faz lembrar os Paralamas do Sucesso cantando um verso de Perplexo: "...E o espanto está nos olhos de quem vê um grande monstro a se criar").
Eis o trecho do conto:
“Tão segura eu me sentia sendo simpática, cordial. Fácil a hipocrisia. Tão fácil a vida. Com que naturalidade me empenhava em conquistar as pessoas, fortalecida no meu instinto de fazer sucesso naquela roda fechada. Como era rendoso o cálculo que vinha mascarado de improvisação. Envelhecer é calcular, aprendi mais tarde. E agora, uma menina ainda — mas como se desenvolvera tanto esse cálculo em mim? Dizer o que as pessoas esperam ouvir, fazer (ou fingir que fazia) o que as pessoas queriam que eu fizesse. Já nem sabia mais quando era sincera ou quando dissimulava, de tal modo me adaptava às conveniências.”
Qualquer semelhança tera sido acerto da ficção!

domingo, 23 de dezembro de 2012

Noite feliz!

Isso ia para a série Eu, hein?! mas aí pensei que nos improvisos da noite de natal, quando o astro da noite é o peru e todos querem comer noz (castanhas, passas, panetone, queijo e etc), a criatividade transforma as coisas... E vai que os desejos se realizem e o presente é tudo que você queria no tamanho que você merece? Quem não tem Camaro amarelo, vai de kombi; Quem não tem metamorfose ambulante, vai de motel ambulante. IMPROVISO: A gente vê por aqui!
Natal: noite feliz!

Mensagem natalina

Desejo que neste natal todos possam se despir de preconceitos e agir com caridade: cada um dá o que pode e só recebe aquilo que aguenta!o importante é não ignorar a possibilidade de ser feliz e de fazer alguém feliz.
Feliz natal a todos!

O show do palhaço velho

Bem-aventurada seja a vida dos outros, para a qual a gente sempre olha com olhos críticos. Assim é que encontrei subsídios para narrar o episódio e as aprendizagens com o show do palhaço velho. Antes, porém, preciso explicar que estou mega-mal-dormida como há muito não tenho estado: saldo da festa de ontem à noite e das berrarias da fé daquela igreja que fica em meu quintal, que interromperam meu sono.
Passei a tarde de ontem na piscina, num lugar bem longe e entocado nas brenhas de Oliveira dos Campinhos, cidade aqui perto. O longe não é longe em distância direta: é o difícil acesso. O nome do lugar é engraçado: Pedra da Égua. Brincadeira aí com a represa de Pedra do cavalo, mas meio mundo de doido se mete por lá para fazer trilhas, ver cachoeiras, desfrutar das frescuras ecológico-esportivas da moda. Lá fui eu. Fiquei até às seis da tarde, parando aqui e ali para roubar caju e mesmo para apenas derrubar as frutas e jogar para os bois das fazendas que margeiam a estrada. Não nego que me diverti, mas queria mais.
Ao chegar em casa liguei para amiga 01, aquela que nunca quer ir a lugar algum. Esta, por sua vez, falou que a amiga 02 – amiga de minha amiga – estava com fogo no espírito para sair. Juntamos a questão, amealhamos mais uma amiga 03, que é irmã da zero dois e combinamos de ir ao Antiquário que elas pensavam ter show do Nil Beatles. Segundo minha agenda cultural, não teria.
Enquanto não chegava o horário de sair, isto é, 22 horas, vai o sujeito que supostamente namora a zero dois e diz que quer vê-la. Ela propôs levá-lo. Por mim, tudo bem.
Cheguei depois delas. Fiquei feliz: era show da banda 80 na pista e ninguém sabia. Surpresa boa. Casa cheia. Diversão garantida.
Olhei a mesa, o terceiro elemento: o palhaço velho. Bateu um monte de interrogações na minha cabeça: “Como?”; “Hein?”; “Será?” e, finalmente, “Por que, meu Deus? Por quê?”.
O velho palhaço já passou dos sessenta anos. E não, ele não é sexy: é somente sexagenário e é a cara do Ronald Golias, subtraído o ar pitoresco do falecido humorista.
Pensamento de gente é a terra do capeta: pensei muito mal da zero dois. Concluí que aquilo ali só tinha uma resposta possível: dinheiro. A outra alternativa é o velho conhecido das mulheres: desespero de causa. Depois pedi perdão silenciosa e interiormente por tal absurdo, já que preço nenhum pagaria o vexame explícito.
Posso dizer que o palhaço velho berrava, fazia vergonha, gritava e cantava no meio do bar, que, para piorar, ainda não tinha som rolando. Um espetáculo de horror. Mas não sou monstruosa, atenuei a situação com a amiga zero dois.
Ela contou que ele chegou à casa dela já dopado de álcool, trôpego e com o carro fumaçando e que ela preferiu arrastá-lo e evitar que ele dirigisse naquele estado. Coitada: apostou na noite e no homem. Ele, quando eu cheguei, estava tomando um gim-tônica. Vez por outra, relinchava coisas. Nas ironias da vida, ela dizia para nós que ele era o cowboy, sabe-se lá por que. E eu saio da Pedra da Égua para conhecer o cowboy, que mais poderia ser o clownboy (clown=palhaço; boy=garoto... fica só o trocadilho raso porque de garoto ele não tinha nada a não ser o comportamento infantil).
Minha amiga zero dois é uma lady: educada, independente, elegante, de bom gosto. Ficava lá, num comportamento de mãe, ralhando o mau comportamento do velho palhaço, ameaçando ir embora... E a coisa foi a tal ponto que ela chamou o táxi e encerrou a festa ali. Coitada: partner improvisando o número do desaparecimento! Deixou a zero dois comigo e voltou para casa carregando seu fardo, um homem velho e ridículo, sem atrativos subjetivos, sem noção.
Poderia ter sido uma exceção, coisa de má impressão que tive porque só houve esse contato entre nós. Mas sei que não é só isso. Há bêbados engraçados, quietos, tristes, agitados e agradáveis... Aquele era só um palhaço velho e desrespeitoso, querendo aparecer. Eu só consegui ver um ser humano fracassado que continua com comportamento infantilizado, que não sabe o que fazer de si: espetáculo triste.
Respeitável público, ele gritou, cantou, foi indiscreto, pediu beijos de despedida da garçonete e, não obstante, deixou um legado desabonador: logo que ele saiu e fechou a própria conta, abrimos os pedidos meus e da zero três.
Esta mesma garçonete nos serviu e perguntou o que queríamos. Quando me ouviu pedir um cocktail sem álcool, perguntou em assombro: “Sem álcool?!" e eu disse: “Sim, sem álcool. E não bebo bebidas alcoólicas. Sei que você deve ter se influenciado por causa do homem que acabou de sair desta mesa!”.
Meu telhado é de vidro: o ser humano, com quem sou enrolada, bebe e dá vexames vez por outra. São vexames contidos, normais para bêbados e sob controle. Daí porque tenho conhecimento de causa, sei dos bêbados e olhando a vida alheia mais vi da minha vida. E que espetáculo triste, lastimável! Olha, a vida da gente é uma coisa que se os laços certos não são cortados, a gente se arrasta no que é desagradável, a gente arrasta o que é desagradável a vida toda e vende barato o que não tem preço, ou até fica de graça...
E como coincidência é o que não falta em minha vida, estava eu curtindo a festa, na loucura natural de quem gosta de dançar, quando de repente uma presença que eu já havia percebido de relance há um tempo, chegou mais perto, forjou uma trombada (de drink na mão e tudo), e eu pedi desculpas ao mesmo tempo em que ele. Não satisfeito, acariciou meu braço, apertou firme e levemente meu ombro esquerdo. Não foi qualquer contato: meu vestido tinha uma só alça, de modo que o apertinho foi gostoso mesmo. Trocamos gentilezas e, de repente, eu ainda dançando, lá vem uma figura sem-graça, presumível companhia do rapaz. E qual foi a coincidência: ele estava bêbado e insistiu em ficar me olhando dançar, procurando pretexto para estar perto... Sou ética, não pego gente acompanhada. E ele estava acompanhado pela coitada da sem-graça, por um drink e por um esquadrão de cervejas prévias. Era o bêbado mais bonito do lugar! Para quem acredita em destino, está claro... E para mim, que curto as coincidências, nada está escrito em lugar algum: a gente é quem cria o texto da vida da gente, com muitas co-autorias, autorizadas ou não, lógico. Tim-Tim!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Depois que o fim do mundo acabou!

O homem é um ser de angústias. Assumo aqui a paráfrase de Heidegger para quem o “homem é um ser para a morte”. Lógico: em momento nenhum nós nos pertencemos. Pertencemos a quem nos devora, isto é, ao tempo. E com o passar do tempo a nos devorar, vem a mais clara evidência da finitude, como quer o filósofo.
Gente que é gente – e não uma ostra fútil, vazia e sem pérolas – tem angústia. Claro que tem o bando de sacanas tarja-preta que a qualquer turbulência existencial está aí chantageando a mãe, o pai, os irmãos, responsabilizando o primeiro amor ou a professora negligente que tiveram, tudo a pretexto de não cuidar de si mesmo. E como eu costumo afirmar, remédio controla sintomas, não cura causas. Logo, a vida e suas angústias são para a gente resolver. E as que são insolúveis e mais fortes que nós, merecem uma trégua e o reconhecimento que vamos conviver até o último suspiro com elas.Tomar remédio controlado para não perder o controle deveria ser exclusividade dos esquizofrênicos
Bem, o caso é que o mundo não acabou e eu estou com a conta da televisão por assinatura atrasada porque todo dia em que chego à lotérica, as filas estão um pandemônio, o retrato do fim do mundo. E isso me dá uma angústia filha da puta tremenda porque toda hora a Sky mete uma tarjeta pedindo para eu ligar, o que se traduz por: “Porra, você tem que pagar a gente!”.
Não tenho nada contra o natal, não. É igual ao período junino: me entoco em casa. Vez por outra, as festas vêm até mim e tal e coisa e coisa e tal. O que me aflige é que o azeite de oliva acabou e até ir à padaria me dá angústia porque é gente demais.
Olha, quando o IBGE divulga que o Brasil é habitado por duzentos milhões de habitantes (dados meramente ilustrativos porque parei de contar quando atingimos os 160 que não sei se bilhões ou milhões), a gente entende isso de forma muito abstrata e imprecisa. É na hora da fila, é na hora do natal que a gente vê o que isso significa. A rua fica cheia de pés, cotovelos, joelhos, cabelos, barulhos, numa massa também abstrata que nem parece gente. Quem diz que a multidão traz o anonimato, descurou de que junto com o anonimato vem uma anamorfia, uma desfiguração, sabe? Uma massa de gente.
Ironizo minha amiga que diz que vai sair: “Ah,é?”, digo eu, “Vai se divertir mergulhando nas multidões das lojas, das ruas, das filas?”... Isso é porque aqui em Feira de Santana o Feiraguay está para a cidade assim como a 25 de março está para São Paulo. Não existe natal, do rico ou do pobre, sem Feiraguay.
Aviso aos caras-pálidas: Feiraguay é lugar onde se revendem contrabandos não somente provenientes do Paraguai, mas de diversas partes do mundo. No Feiraguai é possível conseguir roupas, perfumes, peças para carros, objetos de decoração, eletroeletrônicos e até órgãos para transplante.
Hoje a muamba vem mais da China, mas o nome prevaleceu. Daí o nome Feira Guai, obviamente. E como eu sou inimiga declarada da Receita Federal, também declaro que não considero contrabando como crime e já expliquei isso aqui antes: a mercadoria é comprada, é paga com dinheiro em outro país. Portanto, o comerciante não roubou. Para entrar no Brasil, teria que passar pela alfândega e sofrer as tarifas absurdas que a União estipula, a fim de comer sua parte de lucros... Na minha lógica, se alguém está fora da lei é exatamente o representante do governo que quer morder o coitado do sacoleiro ou seja quem for que pagou pelo que está levando. Mas isso é problema velho e a julgar pelo que fez Gérard Depardieu para escapar à tributação francesa – ou seja, ele rejeitou a cidadania francesa e picou a mula para a Bélgica – essas gulas dos impostos não são exclusividades do Brasil. Se já disse que a tribo dos Papachanas tem poucos remanescentes e que os índios Aquidaoânus se multiplicam, acrescento aos estudos étnico-indígenas que fiz, que a Tribo Tação vai dizimar os pobres e ameaçar os ricos, apesar destes últimos sempre se livrarem das armadilhas e entrar em conchavos e negociatas para escapar.
E eu não estaria escrevendo agora se não fossem outras angústias – ah, está bom, vou confessar: estou com uma PUTA bruta enxaqueca e a angústia é toda movida pela TPM – e porque estou de passagem aérea comprada bem para perto de uma fronteira (a quatro horas da fronteira), para ir trabalhar. É que a pressa é inimiga da paciência e como estou financeiramente quebrada, topei de cara a proposta de emprego no fim do mundo porque é como se eu assinasse o cheque do fim das minhas pindaíbas. Se afirmo que é próprio ao ser humano ter angústias, admito que sou desesperada para resolver as minhas. Sentir angústias e não ter dinheiro eleva em 198% a sensação depressiva e tudo de ruim que a angústia tem. Na verdade é um agravante potente.
Então, sofro porque gosto da minha casa, gosto do ser humano com quem sou enrolada afetivamente, gosto dos meus bichos e constituo laços com tudo que há em meu entorno, até mesmo com a ingrata cidade em que vivo.Não troco isso por nada, não troco minha vida de angústias por certos ouros, mas cá está o eixo da angústia.
E tudo isso é culpa do mundo que não chegou ao fim. Se chegasse, resolveria essas porcariazinhas dessa minha existenciazinha medíocre. Agora, tenho que pegar filas!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Eu, hein?! (XXXII)

Futebol:o adversário deve ser encarado com humildade.

Eu, hein?! (XXXI)

Futebol:uma mão amiga sempre cai bem!

Caixa preta

Não é todo mundo que sabe que eu tenho um blog. Há certas pessoas para as quais é fundamental nem desconfiarem que eu tenha um blog, até porque, se lerem vão encontrar o que eu realmente penso sobre elas. Os exemplos vão longe, desde os meus ex-colegas de farda até os meus familiares e muita gente que socialmente faz parte de minha vida. Coisa estratégica.
Acho que coisas deste tipo estão por trás da minha resistência a ter página no Facebook – não somente porque eu não vivo a glamourosa vida como também por não gosto de compartilhar certos capítulos de minha existência. Aliás, vê se pode? Tem cabimento se colocar numa rede social onde você trabalha ou trabalhou? E o rastro deixado pelos lugares e pessoas que compõe e compuseram nosso dia-a-dia?
Da mesma forma que há acesso restrito para certas coisas e conteúdos, acho que vale a identidade secreta nos blogs. Sou Mara mesmo. Moro onde digo que moro e sou muito mais verdadeira aqui do que seria numa rede social, basicamente pela possibilidade do anonimato. Semianonimato, para ser exata, mas de alguma forma não permito que certas pessoas vejam o que escrevo e se vejam aqui. O que mais acontece é o oposto: a pessoa mantém contato, me liga, achando que eu estava falando dela.
Hoje um amigo que um dia não foi apenas amigo – porque eu não sabia que gostava dele apenas como amigo, já que o contato começou com um flerte há 06 anos e eu só vi que ali só daria amizade depois de concretizados amassos e intimidades eróticas que me frustraram – veio aqui ver um caso com minha impressora.
Após instalar isso e aquilo, ele inventou de abrir meus arquivos e imprimir qualquer coisa para testar. Deu de cara com um texto do blog, bem aquele em que declaro ter mais fantasias do que barracão de escola de samba e festa de Halloween juntas. Não obstante o meu constrangimento, e hoje que a amizade é sólida e ele casou, tendo trazido a esposa para minha sala, inventou ele de perguntar se a pessoa para que eu disse que pagaria 20 sessões de psicanálise se me sobrasse dinheiro, era ele.
O caso é que respondi que não era, mas não sei não. É que não lembro!
Quando o Pitbull Problemático leu todos os meus diários eu pirei! Que constrangimento! É como se a pessoa lesse nossa mente.
Quando minha tia escrutinou gavetas, armários e fotos, eu entrei em coma psicológico, de tanta raiva. Mas decidi que era melhor revelar a verdade, admitir o que escrevi, o que fiz, o que penso, a estar com a constante ameaça na minha cara. E foi o que fiz.
No dia em que quebrei a cara e escondi as pancadas emotivas que levei, admiti para os próximos muito próximos; e quando desmascarada, depois de muito resistir admiti e acabei logo com aquilo. Acho que quem cata nossos segredos se desarma quando a gente escancara as coisas.
Há um gozo embutido em quem descobre nossos segredos e um jogo implícito de chantagens. Por coisas assim eu aconselho meus amigos íntimos a saírem do armário logo que podem. Deixa de ser segredo, deixa de ser tabu e o outro finalmente vê que a gente não esconde porque não se envergonha daquilo.
Meus segredos são diferentes: fui militar e tinha coisas que eu não poderia fazer devido à hierarquia. Será segredo eternamente e não está escrito em lugar algum; os outros são as intimidades, os pensamentos íntimos e as coisas íntimas que muito me preocuparam quando em 2006, durante o assalto em que conheci Thales, meu diário foi roubado junto com todos os meus pertences.
E tem coisa que é segredo devido à profissão: não vou querer chefes, diretores e alunos sabendo quais são minhas fantasia, quais foram realizadas, o que penso de temas que são tabus e etc., porque a intimidade e a privacidade não são apenas aquilo que a gente institui por lei ou por convenção, mas o que internamente a gente delimita como fronteira do público e do privado.
Tenho sempre que repetir que não tomo bebidas alcoólicas, que sou solteira, que não tenho filhos nem devo satisfações a ninguém para que as pessoas se toquem que por mais que eu tenha segredos, não abalam em nada a vida de ninguém: são meus.
Tem gente cujo segredo é estar fazendo concurso, porque têm vergonha do que vão dizer caso percam no certame. Outros segredos, como é o meu caso, têm a ver com as dúvidas, aceitar ou não aceitar, ir ou ficar, perdoar ou rejeitar, este ou aquele, isto ou aquilo.
De resto, carrego os segredos que não são meus: amigos de meus amigos que não são tão amigos quanto parecem, eu não entrego não. Salvo se a punhalada for resultar em prejuízo. Imagine só a minha cara numa situação dessas? Tem inimigo meu que é amigo de meu amigo. Aceito e não faço inferno.
Mas se alguém diz: não leia, não pegue, não veja, não conte, é melhor ouvir. Nem sempre é nada demais, mas é coisa que traz desconforto. Hoje meu amigo me desrespeitou e leu algo que ele não deveria, independentemente de aquele ser um texto em que há referências a ele... Nem sei se é ele.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Previsões

Meus amigos, chegados, correligionários e demais companheiros estão como baratas dedetizadas, sem saber para onde ir no réveillon. No auge dos desvarios, propõem sair à toa e ver no que dá. Aviso aos navegantes: não é preciso ser vidente para ver no que dá. Dá em fila, espera, desespero, cansaço, stress e raiva.
Imaginem que o réveillon vai cair numa segunda-feira para terça. Durante o final de semana as praias já estarão povoadas (e poluídas), as estradas já estarão cheias e as cidades estarão num movimento além do previsível. Movimento, gente, é nome educado que uso para muvuca. Muvuca mesmo, com um bando de doidos bebendo cerveja e dirigindo, com o som do carro no último volume, tocando, claro, pérolas da música brasileira como arrocha, axé do Chiclete e Sertanejo. Tudo estará cheio no fim de ano – do pedágio ao caixa eletrônico. Eu já estou é cheia dessas coisas.
Bom mesmo é o pós-natal. Eu, que não tenho labaredas saindo do meu espírito, fico quietinha em casa no natal; não gosto de confraternização que me obrigada a saudar os desafetos, nem de ceias para olhar os parentes omissos. Mas quando vem o dia 26 e o dia 27/12, tudo está mais barato (exceto roupas brancas!) e o supermercado já não tem tantas filas.
Todos os itens da ceia caem cerca de 30 a 50% e o inferno só volta a imperar do dia 29 em diante.
Partes dos meus amigos acharam proposta para ir a Porto Seguro. Eu recomendo: o réveillon lá é bom até no meio da rua. Porém, o melhor réveillon ainda depende de bons repertórios. Mas, se você é uma múmia que já morreu e ninguém avisou de sua morte, pode ficar quieto e contemplativo num canto qualquer, encostado e bebendo.
Em Porto Seguro a ‘pegação’ é geral, tem sexo, drogas e axé para todos os gostos, bolsos e crenças, e o que se faz por lá, lá mesmo fica desde que você não dê o número do telefone nem leve testemunhas. Para as meninas heterossexuais, tem uns manos de Brasília e uns tantos de Minas Gerais que são excelentes em aulas de canto (canto de muro, canto de boate e até canto de praia, encostado no coqueiro). Para o pessoal de outra orientação, sempre rolam diversões, mas já não sei dar meu aval sobre o caso.
A viagem é que é longa. Se for de avião, a passagem é uma fortuna. Mas, uma vez em Porto Seguro, tudo é possível.
Para quem prefere, como eu, ficar mais perto, Guarajuba e Praia do Forte são excelentes no réveillon, além de serem lugares organizados. Lá tem praia boa, som legal, gente bonita, gente conhecida, várias coisas para fazer e basta não se reduzir à praia que as opções aparecem: cachoeiras, trilhas, voos panorâmicos, shoppings, praia de nudismo e, em certos trechos, gente esnobe e antipática. Contudo, em cima da hora não dá certo: a Linha Verde fica congestionada e após a ponte do Rio Sonrisal, toda hora rola batida e não é de limão - o povo dá trabalho para a Via Bahia.
Mais um aviso aos iludidos: uma coisa é a Costa do Sauípe e outra coisa é o Porto de Sauípe. A Costa é toda tomada pelo complexo hoteleiro, a preços de fortuna, mas é mega-divertido, tem festas boas, hotéis maravilhosos e vale a pena. O Porto tem só preços altos e serviços abaixo do esperado.
Salvador está morta faz tempo: não me iludo com mais nenhum réveillon de lá. Já experimentei tudo e não vi graça alguma porque sem festa boa, não dá.
Enquanto o mundo gira, meus outros amigos estão mais confusos do que noiva traída e devem acabar no Beco da Off, tomando cerveja quente e esperando o Por-do-Som com Daniela Mercury no domingo, se é que vai haver.
E eu devo ir pular sete ondinhas, pedir bênçãos que não virão, receber uns torpedos de quem gosta de mim, tropeçar nuns amigos na Vila dos Pescadores, rir das pessoas que vomitam depois de tanto beberem, dançar na festa e voltar quebrada para dormir na Reserva da Sapiranga, sabendo que vão me acordar cedo para ir para a lagoa Aruá, andar de caiaque e ouvir gritos de crianças mal-educadas. Tudo previsível. Não preciso de videntes.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Zero Grau

Ontem o mundo não acabou. Não será dia 21 que ele vai acabar. Aliás, já cansei dessas conversas de fim do mundo e não sei como alguém pode perder seu tempo acreditando nisso. Mas, quem somos nós se não acreditarmos em nada?
Isso é também um contrassenso se a gente limitar esta pauta aos aspectos da credulidade espiritual, pois há os que não acreditam em Deus mas acreditam na Humanidade.
Niemeyer morreu recentemente e, sendo ateu, com certeza está mais próximo dos preceitos divinos do que muita gente que se pensa crente. É absurda a perseguição aos ateus, a discriminação e a intolerância – li até um relato pessoal lá no blog do Júlio Ávila, o que me faz presumir que a intolerância é em escala mundial e não exclusividade da América católica que, aliás, é América Evangélica Protestante há muito.
Sei que o nosso mais famoso arquiteto era generoso, dividia seus bens, seus tostões não apenas com os partidários políticos como com qualquer um que precisasse de ajuda. Comunismo praticante é coisa rara, pois em geral prega-se uma coisa e vive-se outra. Bem conhecemos aquela máxima que diz que “A política é como um violino: Toma-se com a esquerda, toca-se com a Direita”, para os bons entendedores.
Mas estou aqui porque ontem, cerca de duas da manhã, um corno torcedor do São Paulo (e olha que este é o time pelo qual torço também), empolgado com a vitória do time, inventou de colocar o som do carro a dois mil decibéis na minha porta. Acordei e como não conseguia dormir, resolvi ler. Agora, compartilho a última crônica que li antes de dormir e de que gosto muito:
Zero grau de Libra (Caio Fernando Abreu)
O Sol entrou em Libra. E porque tudo é ritual, porque fé, quando não se tem, se inventa, porque Libra é a regência máxima de Vênus, o afeto, porque Libra é o outro (quando se olha e se vê o outro, e de alguma forma tenta-se entrar em alguma espécie de harmonia com ele), e principalmente porque Deus, se é que existe, anda distraído demais, resolvi chamar a atenção dele para algumas coisas. Não que isso possa acordá-lo de seu imenso sono divino, enfastiado de humanos, mas para exercitar o ritual e a fé – e para pedir, mesmo em vão, porque pedir não só é bom, mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal.
Neste zero grau de Libra, queria pedir a isso que chamamos Deus um olho bom sobre o planeta Terra, e especialmente sobre a cidade de São Paulo. Um olho quente sobre o mendigo gelado que acabei de ver sob a marquise do cine Majestic; um olho generoso para a noiva radiosa mais acima. Eu queria o olho bom de Deus derramado sobre as loiras oxigenadas, falsíssimas, o olho cúmplice de Deus sobre as jóias douradas, as cores vibrantes. O olho piedoso de Deus para esses casais que, aos fins de semana, comem pizza com fanta e guaranás pelos restaurantes, e mal se olham enquanto falam coisas como “ você acha que eu devia ter dado o telefone de Catarina à Eliete?” – e o outro grunhe uma resposta.
Deus, põe teu olho amoroso sobre todos os que já tiveram um amor sem nojo nem medo, e de alguma forma insana esperam a volta dele: que os telefones toquem, que as cartas finalmente cheguem. Derrama teu olho amável sobre as criancinhas demônias criadas em edifícios, brincando aos berros em playgrounds de cimento. Ilumina o cotidiano dos funcionários públicos ou daqueles que, como funcionários públicos, cruzam-se em corredores sem ao menos se verem – nesses lugares onde um outro ser humano vai-se tornando aos poucos tão humano quanto uma mesa.
Passeia teu olhar fatigado pela cidade suja, Deus, e pousa devagar tua mão na cabeça daquele que, na noite, liga para o CVV. Olha bem pelo rapaz que, absolutamente só, dez vezes repete Moon over Bourbon Street, na voz de Sting, e chora. Coloca um spot bem brilhante no caminho das garotas performáticas que para pagar o aluguel dão duro como garçonetes nos bares. Olha também pela multidão sob a marquise do Mappin, enquanto cai a chuva de granizo, pelo motorista de táxi que confessa não ter mais esperança alguma. Cuida do pintor que queria pintar, mas gasta seu talento pelas redações, pelas agências publicitárias, e joga tua luz no caminho dos escritores que precisam vender barato seu texto – olha por todos aqueles que queriam ser outra coisa qualquer que não a que são, e viver outra vida que não a que vivem.
Não esquece do rapaz que viajando de ônibus com seus teclados para fazer show na capital, deita teu perdão sobre os grupos de terapia e suas elaborações da vida, sobre as moças desempregadas em seus pequenos apartamentos na Bela Vista, sobre os homossexuais tontos de amor não dados, sobre as prostitutas seminuas, sobre os travestis da República do Líbano, sobre os porteiros dos prédios comendo sua comida fria nas ruas dos Jardins. Sobre o descaramento, a sede e a humildade, sobre todos os que de alguma forma não derma certo (porque, nesse esquema, é sujo dar-certo), sobre todos que continuam tentando por razão nenhuma – sobre esses que sobrevivem a cada dia ao naufrágio de uma por uma das ilusões.
Sobre as antas poderosas, ávidas de matar o sonho alheio – Não.
Derrama sobre elas o teu olhar mais impiedoso, Deus, e afia tua espada. Que no zero grau de Libra, a balança pese exata na medida do aço frio da espada da justiça. Mas para nós, que nos esforçamos tanto e sangramos todo o dia sem desistir, envia o teu Sol mais luminoso, esse do zero grau de Libra. Sorri, abençoa nossa amorosa miséria atarantada.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

À amiga que um dia foi

Quando éramos próximas sempre nos comparávamos a Thelma and Louise, seja para brincar com nossas próprias aventuras que, tal como no filme, acabariam em tragédia;seja porque discutíamos as coisas que não tinham retrocesso, mas que valiam o preço a pagar. Era coisa de devolvermos as traições que sofríamos ou de lançarmos um amparo recíproco nas horas difíceis.
Foi falando em Beth que eu lembrei de minha amiga-mais-que-irmã, de que também tratamos na conversa desta tarde. Sinto a falta dela. Posso discordar , me exasperar, me revoltar com certas opções, com certos desvarios, posso me irmanar na indignação expressa por outra amiga quando a viu no supermercado e, feliz foi cumprimentá-la, obtendo em troca um desdenhoso "oi!" seguido de um virar de rosto, mas sempre vou lembrar dela como a amiga que ela foi. Minhas saudades são devido àquela pessoa que ela foi e que em meu coração permanecerá inalterada, amada.
É para ela o poema de Alberto Caeiro (heterônimo de Fernado Pessoa) e foi por ela que escolhi para este post a imagem do filme Thelma and Louise. Mas minha amiga, ali jaz!

Segue teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
de árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Troca de segredos

Tua frieza aumenta meu desejo:
Fecho os meus olhos para te esquecer,
Mas quanto mais procuro não te ver,
Quanto mais fecho os olhos mais te vejo.

Humildemente, atrás de ti rastejo,
Humildemente, sem te convencer,
Antes sentindo em mim crescer
Dos teus desdéns o frígido cortejo.

Sei que jamais hei de possuir-te, sei
Que outro, feliz, ditoso como um rei,
Enlaçará teu virgem corpo em flor.

Meu coração no entanto não se cansa:
Amam metade os que amam com esp’rança,
Amar sem esp’rança é o verdadeiro amor.

Viva Eugênio de Castro e seus versos doces e tristes!
Nem sempre os homens vivem o que escrevem, mas os poetas nos iludem porque lhes cabe nos iludir. De outro modo, seriam apenas cafajestes.
Ah, os cafajestes: “Pegue e não se apegue”, eu diria àquelas que gostam do tipo. Eis uma frase de para-choque de caminhão que a gente deveria levar a cabo: “Pegue e não se apegue”!
Num mundo frio, os homens estão cada vez mais frios e não fazem sonhar...
Cheguei tarde em casa porque, passando pelo comércio, fui à loja, vi Beth e ficamos lá, horas conversando, mais sobre ela do que sobre mim e acho que isso se tornou um lugar comum. Sem queixumes: gosto de saber sobre ela.
Beth não tem a menor consciência de sua beleza. Ela é linda, parece uma aeromoça, uma modelo. É linda de rosto, de corpo, de modos, de coração... Mas só ela não sabe disso.
Vi também no Yahoo uns tópicos sobre “O amor é cego”, em que as celebridades formavam par com gente sem a menor beleza. Que não fossem bonitos, tudo bem; mas a distância estética ali já era aberração.
Acho que as mulheres se encantam por outras coisas nos homens, que não é necessariamente a beleza – não falo da beleza financeira, nem da sexual – mas reconheço que certas opções são desespero. Às vezes o cara é feioso, mas oferece estabilidade emocional... Às vezes as mulheres querem apenas companhia, seja com que cara for.
Quando um gato que trabalha perto de minha casa entrou na loja, dei um toque em Beth: “Quem é?”. E muito discretamente, ela disse rindo, feliz: “Gaaaato!”. E na conversa descobri que ela não conhecia ele, mas que via sempre o acompanhante, o amigo que estava com ele.
Concordamos em nossos gostos por homem, na aparência física deles. Ela disse, sobre o “gato” que ele passava um ar de segurança e de estabilidade. Depois, olhando mais, deu risada desconsertada: A aliança dele reluziu. E eu, que adoro mãos, jamais olhei as mãos dele. Nunca reparei.
Via aquele cara todos os dias, num horário determinado: 17h15min, quando eu ia à academia ou quando ia correr. Lá estava ele, no meu caminho... Lindo! Gato! Tão bom de olhar discretamente. E por ser tímida, olho discretamente e aposto que ele jamais desconfiaria de minha admiração, nem jamais cogitaria que havia duas mulheres tecendo comentários, desejando, comparando ele, bonito de frente e de costas, sob medida para nossos gostos.
Lindo, alto, esbelto, proporcional, com um cabelo lindo porque harmonioso com o rosto. Até as olheiras dele são lindas!
Saudades de minha amiga! Saudades devidamente suprimida em nosso blablablá íntimo e confidencial: contei-lhe meu maior segredo, talvez o único que eu tinha. Aliás, hoje eu derramei meu segredo para ela, procurando uma opinião, e para outra pessoa, como ameaça ou chantagem emocional, não sei. Hoje o meu segredo me incomodou.
Não contei a ela por incômodo, mas por confiança. Já não sei há quanto tempo conheço Beth. Deve ser uns 12, 14 anos...
Ela voltou para a faculdade, está no segundo semestre de Serviço Social e está insegura num relacionamento com um cara 15 anos mais novo que ela. Ela parece ter a mesma idade que ele.
Beth se preocupa com os vasinhos de veias nas pernas: o namorado pergunta se eles doem. É, pois, cuidadoso! Duas preocupações tão diferentes, mas complementares: ela quer ser bonita para ele; ele se preocupa com o bem-estar dela e aceita o que vier no pacote. Começo a gostar dele: um homem!
Ela é linda e não é nenhum favor amar, namorar e desejar uma pessoa como Beth, mas nos relacionamentos, ela sempre foi subestimada pelos companheiros até o dia em que ela terminava e eles voltavam dóceis e arrependidos.
Enfim, conversamos como adolescentes bobas com velhos sonhos em comum.
Dei maus conselhos: esqueça sua família, largue o barco à deriva e fique dez dias com seu novo namorado na praia. Se jogue! Se quebrar a cara, a gente faz o curativo – e para quem não sabe, em Feira de Santana já tem clínica exclusiva para reconstituição facial. Caso quebre a cara, vá lá!
Irene Ravache estava dizendo em entrevista à Globonews que se algo oferece risco, oferece também compensações. É isso! Eu concordo!
Falando na Irene, eu a acho linda. Vivo numa sociedade idiota em que as mulheres mais velhas não podem ser chamadas de lindas ou reconhecidas como bonitas. Logo, as que têm 60 não podem se sentir bonitas, nem as de 70, nem as de 80, porque daí em diante acham tudo ainda mais feio.
Por aqui, as mulheres mais velhas são obrigadas a ter cabelos curtos, não podem nada, não tem liberdade estética. Que pena!
Bem, vou dormir pensando nas brincadeiras confidenciais que fizeram Beth brincar: “Duas mulheres e um novo segredo!”. O namoro dela é segredo. O meu segredo nem conta!

sábado, 8 de dezembro de 2012

Eu, hein?! (XXX)

Orientação pediátrico-proctológica: a gente vê por aqui!

Eu, hein?! (XIX)

Orientação médica: a gente vê por aqui!

Ampla defesa (II)

Minha banca foi composta por gente educada e segura, do tipo que não precisa arrotar título, status e presumíveis superioridades na hora da arguição. Eis aí o pessoal que me apertou na Inquisição acadêmica; e meu sempre presente, constante, solícito e ético orientador.
Na foto: à minha direita os professores Antônio Eduardo e Gal Meirelles; à esquerda os professores Carla Patrícia, Marlene e meu orientador.
P.S.: Sim, tem alguém alcoolizado, de braços cruzados, após o meu orientador. Viva o Socialismo Etílico!

Ampla defesa


A gente às vezes diz: “Amigo a gente vê quem é nas horas difíceis!”. É verdade.
Não falo das horas em que a gente precisa de um empréstimo, de um socorro, de uma companhia, de uma mão na roda para resolver as coisas práticas ou de um consolo para as ocasiões de choro. As horas difíceis, às vezes, são as horas que são importantes para nós, para a nossa vida, é a escolha do nome do filho ou o imóvel para comprar, é a mão amiga que nos ajuda a levantar e diz: “segue!”, “segue-me!”; é quem nos acompanha mesmo sabendo que o percurso é árduo, é duro, é demorado. Assim foi que em minha cerimônia de defesa de doutorado vi que os que ali estavam eram parte de minha força, eram um apoio fundamental para que as coisas sucedessem bem, como ocorreu.
Fique muito feliz pelo meu amigo Leonardo Bernardes, por Janna, por Andréa, por João Neto, por Ilmara... E se não fiquei feliz de todo pela presença de Ninno, foi porque ele não estava tão presente quanto poderia parecer, pois saía sempre para se abastecer de álcool. Bom, defesa é um porre, não precisa beber!
Apoio é isso. E mesmo Osmando e Nanno, que não vieram, respectivamente por morar em outro Estado e por estar com a mãe em situação médica delicada, se fizeram presentes, torceram, escreveram, mandaram torpedo... E para um outro tanto de gente, certamente não valeria o desperdício de R$ 0,25 (é, vinte e cinco centavos) para dar uma força ou para me parabenizar.
Sou triplamente grata aos que foram.
Não é fácil encarar uma banca de quatro pessoas, quatro perspectivas diferentes e mil perguntas a responder. Eu contra quatro. A meu favor, a torcida.
Todos ali tinham o que fazer: os trabalhos, os afazeres, a distância (que João Neto encarou, saindo da comemoração direto para a rodoviária), os gastos de tempo e de dinheiro para comparecer e, principalmente, a ajuda técnica de Andréia, para resolver problemas de conexão do computador e água para a banca, pois a universidade é desleixada o bastante para deixar ao Deus dará os convidados. Mas, tudo funcionou!
Cumpri meu doutorado antes do prazo e com a devida responsabilidade, com direito à saia justa de, no intervalo da defesa, deparar com minha bruxíssima ex-orientadora a quem caberia ao Diabo carregar, mas creio que ele estivesse de férias nesta quinta à tarde. Sei é que passei por cima dela, sem boas-tardes ou olá. Acho isso uma vitória: há um tempo eu ainda tinha a deferência com os meus desafetos, nos sentido da saudação civilizada – apesar de muito querer mandar ao inferno e, depois, ter por tais desafetos, suma indiferença.
No íntimo, o riso da vitória: Não adiantou atravancar os meus caminhos! Escrevi, concluí e passei com nota máxima e, de quebra, referendei a impropriedade da perseguição empreendida por ela, pois nada fluiu a favor da calúnia e da injúria. Eu escrevi e o fiz com honestidade intelectual e moral.
Quem é amigo, sabe disso. Sabe que tudo isso agrega outros sentidos de importância ao momento da defesa, quando já nos sentimos bastante sós, em desamparo. Como eu disse antes, só vai mesmo quem gosta da gente; quem é amigo e sabe o sentido do momento.
Demais amigos, exclusos desses momentos, são amigos de férias, de reggae, de festas, a quem prezo a companhia nos momentos alegres, mas daí não passa. E como não poderia deixar de ser, tem os egoístas, cuja única coisa importante para si são suas próprias coisas: não se solidarizam, mas esperam e contam com nossa (minha) presença nos momentos em que somos úteis ou convenientes. Reconheço, porém, que excluí um bando de gente, principalmente de minha família. Deixemos, porém, disso: missão cumprida! E que Deus abra os meus caminhos para outras conquistas que pretendo dividir com os amigos reais.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Correu do pau!

Olha, acabei de ver esta notícia ali no Kibeloco!
Gente, toda profissão tem riscos e dissabores e o que uns querem tanto, outros rejeitam.
PAUSA PARA COISAS BESTAS: Uma das perguntas mais engenhosas que já vi na vida foi feita no programa novo do Sérgio Mallandro, cujo nome eu esqueci. Mas ele perguntou o seguinte para Péricles, ex-vocalista de uma banda que eu não sei o nome também (poxa, gente, não ouço pagode, né? só a fórceps, quando ando pela cidade): "Se você pudesse aumentar uma parte do seu corpo, e se pudesse diminuir uma outra parte, quais seriam elas?"
A platéia riu, o apresentador riu, instaurou-se um clima de que todo mundo já sabia o que para cada pergunta, mas ele foi bastante esperto.
Bem, ele está sendo lembrado aqui, assim como a pergunta, porque frente à recusa da prostituta em atender ao avantajado cliente, penso no paradoxo que isso representa para os tantos homens que se atraem pelos anúncios que dizem: "Aumente seu pênis em 15 centímetros". Na vida real, só com lupa - é, propaganda enganosa uma coisa dessas.
Aqui no Brasil tem aquela expressão: "Correu do pau!", para os que fogem das situações de riscos, os ditos "arregões". Agora, o sentido pode ser outro - quem tem fuleco, tem medo!
Mas, eis a vida: uns com tanto, outros sem nada!

Legítima defesa

Pois é, chegou a véspera da defesa da tese. Véspera que não significa o dia imediatamente anterior, mas é tal como se fosse.
Chegam os telefonemas, os parabéns, as saudações... E hoje eu ouvi uma bastante interessante, quando alguém me disse que considerava a cerimônia como se considera um matrimônio. Com a ressalva de ser mais importante, porque para casar basta que as duas pessoas queiram; mas para obter o doutorado são quatro anos de esforços e investimentos emocionais para os quais o querer conta pouco ou nada. Independentemente disso, acho que devido ao momento e ao percurso longo, cansativo, desafiador, é análogo à importância que se dá ao casamento de alguém. Entendi perfeitamente as circunstâncias pessoais dos amigos ocupados, bem como outros contextos específicos, mas quem gosta de mim vai estar lá. Quem tem estima e consideração vai também, me ver exposta, ouvindo desaforos, sendo cobrada dos lapsos mais bobos e compreensíveis como a letra não digitada ou a sílaba trocada; a concordância que foi esquecida porque engoli um “m” diferencial que tornam um “compreende” e um “compreendem” e vice-versa, de modo a prejudicar a formação da frase e me tornar tão vulnerável quanto qualquer outra pessoa.
É preciso ter coração para gostar de mim e assistir à exposição das falhas, os erros de raciocínio, os lapsos gramaticais, a obra que se deixou de falar, a referência imprescindível de que prescindi por escolha ou por ignorância, os erros, só os erros são lembrados. E serei somente eu contra quatro arguidores em seu papel de extrair de mim a resposta acerca de que eu venha a merecer ou não obter o título de doutora. Logicamente, quem torce, sofre. É como uma partida de futebol: quem acompanha o jogo desfruta das angústias e das satisfações da disputa; ao contrário de quem só sabe do resultado.
Só convidei quem eu queria que fosse e se alguém ficou de fora deve ter sido por lapso também. Mas, os convocados foram as pessoas que realmente significam para mim. E nem sempre a recíproca é verdadeira: tem os que não dão a menor importância e não se esforçarão em comparecer nem mesmo por uma questão de apoio e consideração. E é claro que eu me importo: apesar das tensões, é bom olhar em volta e ver caras amigas; é um gesto de carinho.
E vou me virar nas “setecentas” com as pessoas chegadas que minimizarem a importância deste momento para mim; vou fechar a cara um bom tempo para os que já vieram a uma festa de aniversário meu, mas não foram a um momento importante. A importância não está no título, mas no final de um ciclo difícil, no último passo de um caminho longo e árduo. E por isso tudo, também fico feliz pelos amigos verdadeiros, leais, legais, solidários, que desde já se movimentam para me amparar e aos poucos que vão comparecer, sem se importar que para isso percam um dia de trabalho, já que a cerimônia é em Salvador e não aqui. Acho um grande presente. Aguentar prováveis quatro horas de blábláblá sobre literatura, nacionalidade, ironia, humor e verossimilhança, realmente, exige paciência e extrema consideração. Quem não tem, não vai.
Depois, só sei que estarei cansada. Já ando cansada: meu texto de apresentação anda em círculos. Nem soube escolher a roupa, nem venho escrevendo nada por aqui pelo blog, nem arrumei as coisas ainda como deveria, mas o melhor é contar com os abraços certos depois de tudo isso. E sempre vem uma crise, uma dose de perplexidade até que a vida volte ao normal... Mas aí, tudo já terá terminado. Enfim, acabou-se a tortura!
Chama-se defesa porque as pessoas atacam a gente. Quem for, leve band-aid para mim!