Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Manchas do passado

Quem não gosta de sol só pode ser uma pessoa taciturna, triste, uma múmia... Como por aqui nem sempre verão é sinal de sol e vice-versa, é preciso estar preparado para conviver com ele de maneira pacífica e harmônica.
Acredito que a maioria dos seres humanos tem aversão a qualquer ideia de disciplina. Lógico: ser disciplinado significa ter uma rotina, ter certos hábitos, praticar sempre uma determinada coisa e daí que isso se aplica ao que a gente faz com a saúde e com os cuidados com a pele.
Sou cheia de espinhas e as manchas do meu passado se expressam em meu rosto: por um pouco de sol, até mesmo indireto, as manchas voltam. Isso é uma coisa geral que as pessoas têm que saber: manchas na pele deixam uma memória que, sob qualquer incidência solar, é acionada.
Faz um tempo que a dermatologista me passou o protetor solar Anthelius XL, de fator 60, fabricado pela La Roche-Posay e as pomadas anti-manchas, Triderm, Triluma, Vitacid Plus, dentre outras de composição similar.
Deixo aqui o meu testemunho:creme com ácido kójico, comigo não funcionou. Hidroquinona sozinha não resolve nada. Dá aquela animação ver a mancha regredir, ficar rosada, clarear... Mas isso não vai muito longe. Todas as pomadas citadas associam a hidroquinona a outros compostos. Vale a pena, inclusive, fazer o que faço agora: uso a genérica dessas citadas, composta por Hidroquinona (4%), Tretinoína (0,05%) e Fluocinolona acetonida (0,01%). É exatamente a mesma coisa que uma pomada com nome e marca, variando somente que custa 1/3 do preço ou ainda menos, pois se 15 gramas de Triluma vai a R$130 reais, o genérico não chega a R$ 40,00. Psiu, 15 gramas dão para três meses.
Mas aí vem meu dilema pessoal: após menos de um mês, as manchas regrediram. E o verão continua, e a praia me chama. Ocorre que a pele não tem áreas bloqueadas: quem queima o corpo, queima o rosto, mesmo que pense que passou protetor fator mil no rosto e 15 no corpo. O corpo não interpreta assim: quem faz tratamento de manchas, mesmo ficando exposta só de costas ao sol, vai sentir o novo escurecimento da pele do rosto.
Pior que isso: acho que ninguém gosta de tomar ou usar remédios ad infinitum. Os esquizofrênicos, ao menor sinal de melhora, suspendem seus remédios, os que têm afecções que requerem manutenção contínua, idem. Entretanto, para estes citados, o uso do remédio é para a vida inteira. Torna-se comum a gente suspender o uso do medicamento mediante a melhora – e isso é um erro absurdo. Portanto, quem tem manchas do passado deve utilizar os cremes receitados ao longo dos três meses. Minha pele já está clara, as manchas não são mais que 25% do que já foram, mas tenho que manter o uso. Mais que isso: a dermatologista, aquela mesma que disse que para eu ir à praia, nem usando burca, mandou escolher entre o sol e a pele. Ou um ou outro. Realmente, tenho intolerância solar, mas quem resiste a ter uma marquinha de biquíni? A uma cor diferenciada e saudável pós-sol (tá, meu primo diz que fico parecendo uma ‘lagosta dourada’, mas para minha sorte muitos gostam de lagosta)?
De igual modo, falo dos cabelos: crescimento é coisa determinada geneticamente. Com alterações hormonais, do tipo gravidez ou menopausa, eles podem crescer estupidamente ou diminuir e cair. Nenhum produto ‘afina’ os cabelos, apenas abaixam o volume, a exemplo daquele pó da L’oréal, chamado Cataplasme. Maravilhoso para quem tem juba e para as mulheres que não estão na fase Vanessa da Mata. Corte químico, entupimento do bulbo, caspa e outras afecções podem, sim, derivar da química, mas isso de engrossar ou afinar cabelos, é balela e impressão. E falo de cabelos porque já me perguntaram do Pantogar, se funciona e tal.
Sim, funciona. E é uma aposta de paciência e disciplina porque os comprimidos devem ser tomados direitinho, três vezes ao dia, durante três meses. Acontece que não cresce em seguida, leva de quatro a seis meses para se notar que cresceu. Mas, aposte: faz crescer mesmo – embora não vá alterar as determinações genéticas, dá uma significativa melhorada e posso dizer que faz crescer até uns 30% a mais do que o normal. Já Hair Intern dá um resultado pífio, mais lento, mas deixa os cabelos bem fortes. Pantogar não engorda, mas em mim altera o ciclo menstrual, me deixa mais chorosa.
Mais um serviço de futilidade pública, para os que me disseram que perguntar não ofende (responder também não!):
1) Escova agressiva, progressiva, inteligente,definitiva, burra, seja lá qual for a escolha da gente: a melhor marca ainda é a Avlon – empresa que não economiza em pesquisas, uso excelente ingredientes e está no mercado há décadas; e a Uberliss é imbatível.
(2) Hidratação para hidratar e não para deixar cabelo cheiroso é a simples e barata Máscara Hidratante da Salon Line, a Cholesterol Avocado Oil. A Bioextratus também tem máscaras que funcionam, como a de Tutano e silicone. Apesar da marca ser boa, nem todas da AlphaParf dão resultados, assim como o Repositor de Massa Nativa da Floresta, da E cosmetics não funciona conforme se propõe, pois dá oleosidade sem conferir maleabilidade. Traduzindo: lavou, usou, retirou, o cabelo vira uma bucha oleosa. Nada mais.
(3) Reconstrutores: Entendo os reconstrutores como repositores de queratina. Todos deixam os cabelos ásperos e pesados após o uso, por isso é sempre adequado um bom condicionador para desembaraçar o que vem depois. Salvo o 5 em 1 da Avlon, nenhum manifestou resultados efetivos em meus cabelos.
(4)Anti-resíduos: xampu anti-resíduo leva tudo que há na cabeça (um pouco dele e é capaz de levar até as ideias da gente) e tem efeito detergente, por isso, após o uso o cabelo vai estar seco e poroso. É o tipo de produto a ser usado com moderação, somente se não houver jeito.
(5) Ampolas: ampolas de vitaminas e compostos realmente concentram princípios ativos que dão resultado no cabelo. Comigo, por exemplo, óleo de semente de linho não dá certo, porque é alcoólica e ressaca tudo. Porém, Power dose da L’Oréal e as de queratina da Acqua Flora são excelentes. Uma ampola Acqua Flora vai de 5,30 a 6 reais e eu assino embaixo: dá certo, a marca cumpre o que promete.
(6) Por dentro e por fora: acertou quem faz tratamento de manchas na pele e toma vitamina C e cápsulas de colágeno. Uma coisa complementa a outra e colágeno sem vitamina C não é sintetizado pelo organismo. Por ser antioxidante, a vitamina C atua na redução das manchas, ajuda a renovar as células e só tem a contribuir com nosso bem-estar geral.
(7) Por água abaixo: Tomar água é bom, mas atribuir à água o papel milagroso de dar beleza às pessoas, é um pouco demais, é o texto preferido de modelos e atrizes, mas pura mentira. Hidratar o organismo é apenas uma obrigação funcional que não interfere diretamente na hidratação de coisa nenhuma em termos de cabelos e pele.
(8) Nutrição: aqui o ponto é verdadeiro e sempre negligenciado - o povo fala em reeducação alimentar e em sintagmas parecidos. A verdade porém, é que precisamos estar bem nutridos. Nutrir, de nutrientes mesmo, sabe? Se a pessoa está anêmica, sem ferratina, o cabelo não cresce, quebra com facilidade; se vitaminas B6 e B12 são mínimas no organismo, então a aparência geral de cabelo e pele vão refletir isso.
Meti esses meus pareceres aqui com base na minha vida prática, o que uso, o que experimento, o que faço e o que conheço. Não sou especialista na área, não me formei médica e escrevo aqui atendendo a Thalita, especialmente, e uma parte de minhas amigas que insistem que a experiência socializada, por seu valor prático, ajuda mais que as informações dos rótulos dos produtos. Eis a forma que encontrei de salvar a minha pele!

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Em outra direção

Que negócio esquisito é retroceder à adolescência de forma tão extemporânea. E se, pelo menos, não me incluo no rol das aberrações, estou inquieta como um adolescente que quer sair de casa. Pior: não sei para onde ir, porque estou inquieta.
Se Saturno baixou de vez na minha vida, foi para colocar as coisas fora do lugar. E está aqui alguém que assume que tem fogo no espírito, que é um ser urbano, que não gosta de comida fria nem de relações sem graça... E acho que este é o xis da questão: “sou ariano torto,/vivo de amor profundo” e não quero reatar velhos laços desgastados, sabe? E na minha cidade a frota amorosa não se renova não. Já foi o tempo em que os amigos apresentavam outros amigos entre si e as coisas fluíam, tudo se movimentava. Creio que me acostumei a ser turista e como estou com o pé na cidade turística litorânea por causa de trabalho e na outra cidade também turística pelo mesmo motivo, é capaz de eu me dispersar entre as duas.
Eu sempre levei o trabalho a sério. Mas um sério chato, de obrigações, de reputação a zelar, de cumprir as coisas. Até que não me arrependo disso, mas me arrependo de sempre voltar para casa após as obrigações. Eu não poderia ficar largada na noite, nas praias badaladíssimas dos lugares onde dou aula? Eu não podia ter negociado o meu sono na véspera do concurso da outra cidade turística e ter perdido a cabeça, a vergonha na cara e a noção na companhia que por lá descolei? Mas acho que esta é a perturbação porque F.J. foi embora e a realidade bate à minha porta: foi bom e acabou. E cá estou a repetir: a felicidade só existe para virar saudades.
Saudade é bicho arredio: se a gente alimenta, nos devora. Daí que preciso acionar o ‘moving on’ senão eu piro.
Não sei se foi simplesmente a presença do F.J., mas depois que ele se foi, vi que não amava mais o meu outro namorado mesmo. Perdeu a graça o negócio, me deu um cansaço da relação e acho que me livrei daquele medo idiota de ficar só, como se eu já não estivesse só. Infeliz é quem é sozinho e não sabe, fica aí, tapando o sol com a peneira rasgada, nos eternos quebra-galhos de falências mal assumidas.
Tem dias que a gente não ama e se sente livre, feliz da vida por não ter que chorar angústias, por não se desgastar em ciúmes e inseguranças de todo tipo...E tem dias que comemora cada lágrima derramada por alguém, por ter sido capaz de amar, por ter pago os preços dessa força grandiosa que oprime, destrói e também nos realiza. O que seria de mim se não tivesse amado? Mas o que sou depois que amei?
Acho que o ano novo está acontecendo dentro de mim, é lá que as coisas se renovam, se inquietam, reclamam mudanças...Quem diria!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Interdito

Depois da estada em tão longínquas paragens, tenho muito o que contar. Incrível como uma semana pode comportar tantos eventos e situações que nem caibam em poucas linhas, nem em muitas.
Vou me amparar neste meu momento pós-crise de rinite e suspeita de asma em que ainda respiro as reverberações das injeções de Decadron e do gosto constante do Koid D com o Alenia, isto é, o coquetel dos alérgicos, das alergias respiratórias que, e meu caso, foi agravado pelas exposições ao ar condicionado e a infinita chuva que cai no Amapá.
Disse dona Clarice Lispectos,em A paixão segundo G.H.(Rio de Janeiro: Rocco,1998, pp.148,149,150):
E seu reino, meu amor, também é deste mundo. Eu não tinha coragem de deixar de ser uma promessa, e eu me prometia, assim como um adulto que não tem coragem de ver que já é adulto e continua a se prometer a maturidade.
E eis que eu estava sabendo que a promessa divina de vida já está se cumprindo, e que se cumpriu. Anteriormente, só de vez em quando, eu era lembrada, numa visão instantânea e logo afastada, de que a promessa não é somente para o futuro, é ontem e é permanentemente hoje: mas isso me era chocante. Eu preferia continuar pedindo sem ter a coragem de já ter.
E tenho. Eu sempre terei. É só precisar, que eu tenho. Precisar não acaba nunca pois precisar é inerente de meu neutro. Aquilo que eu fizer do pedido e da carência - esta será a vida que terei feito de minha vida. Não se colocar em face da esperança não é a destruição do pedido! e não é abster-se da carência. Ah, é aumentá-la, é aumentar infinitamente o pedido que nasce da carência.
Aumentar o pedido que nasce da carência.
Não é para nós que o leite da vaca brota, mas nós o bebemos. A flor não foi feita para ser olhada por nós nem para que sintamos o seu cheiro, e nós a olhamos e cheiramos. A Via-Láctea não existe para que saibamos da existência dela, mas nós sabemos. E nós sabemos de Deus. E o que precisamos Dele, extraímos. (Não sei o que chamo de Deus, mas assim pode ser chamado). Se só sabemos muito pouco de Deus, é porque precisamos pouco: só temos Dele o que fatalmente nos basta, só temos de Deus o que cabe em nós. (A nostalgia não é do Deus que nos falta, é a nostalgia de nós mesmos que não somos bastante; sentimos falta de nossa grandeza impossível - minha atualidade inalcançável é o meu paraíso perdido).

Eu, hein?! (XXXIII)

Os ritmos do futebol: parece tango.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Viagens pela casa

Tenho uma relação amorosa com a minha casa. Não é que eu julgue que ela seja a mais bonita, a mais rica, a mais completa...Ora, nada mais longe disso. É amor, sem o menor interesse, porque na verdade, agora que levantei da cama nessa madrugada para escrever porque não consigo dormir, fiquei me despedindo da casa. Antes, me despedi da cama mesmo prometendo voltar para ela daqui a pouco: minha almofada preferida, meus travesseiros amados, com meu cheiro, com marcas de outra presença que compartilhou esta cama comigo recentemente... Cama gostosa, colchão gostoso, que me deixaram sempre pensando, no trajeto para as mais inóspitas paragem onde já trabalhei, que meu cansaço seria acolhido por ela, que valia o sacrifício empreendido porque, no final, no final feliz, ela estaria ali.
Minha cama é minha história: conta das noites perdidas nas festas e em esperanças vãs por quem nunca me ligaria; é testemunha de lágrimas de dor e de insônias de ansiedade para encontrar quem eu desejava; a cama é tudo, é lençol, é travesseiro, é cheiro, é cor e estampa...Vou sentir saudades, sou fiel a ela.
Confesso que amava a anterior, de que me desvencilhei somente por desgaste do móvel. Assim eu pensava. Mentira: mudei de cama porque por mais de dez anos só me deitei nela com uma única pessoa. Houve rupturas, outros namoros e outras reconciliações, mas naquela cama só havia um outro partner, de modo que quis espantar a lembrança, iniciar um rito de passagem e seguir em frente.
Meu papel de parede azul com citações de O pequeno Príncipe eu comprei na Tok & Stock de Niterói, em 2010 e compõe o cenário do meu quarto. Poxa, como eu gosto daqui. Gosto da minha salinha onde ficam os livros e de me esparramar num sofá que é personalizado, escolhi tamanho, cor e modelo na Asteca. Tudo é meu. Não em termos esgoístas, mas no sentido particular, eu escolhi, eu tempero os cheiros da casa também.
Vou sentir falta de tudo isso.
Por outro lado,eu sei que vou sofrer, 'mas cada volta tua/há de apagar/o que esta sua ausência me causou.'
Não sei se suporto dois meses sem a minha cama. E até a geladeira, com quem tenho uma relação fria, vai fazer falta, com aquela borracha sem aderência e os enfeites que coloquei em cima.
Hoje uma amiga veio aqui em casa, à tarde. Duas horas depois que ela saiu, uma conjuntivite se manifestou em mim. O que será?talvez os olhos querendo dizer para não se cansar em lágrimas, porque desde que o avião não caia, voltarei para a casa.E vou enchê-la de regalos e carinhos.
Ontem eu estava vendo o festival de Verão pelo Multishow e, de novo,lembrei que só vi um único show do Capital Inicial. Dinho Ouro Preto era magro, lindo e elegante quando o vi, no começo da carreira. Envelheceu, ganhou músculos e continua gato (Banda de Brasília, amanhã estarei lá). Quando eu sintonizei estava tocando uma música relativamente mais recente, Algum dia - e eu gosto muito dessa música. Simples,mas traduz muito do meu estado de espírito.
Evitei as despedidas e só comuniquei o fato a um grande amigo de perto depois muitos rodeios e desvios de rotas para não tocar no assunto. Preferi assim.Também sinto saudades de quem se foi, de FJ.
'Tudo se divide/todos se separam", dizem os Engenheiros do Hawaii mas ainda posso ser beneficiada pela força do acaso.
Da mesma forma como Emma Bovary repetia para si: "Eu tenho um amante! Eu tenho um amante!", repito: "Eu estou indo embora". Temporariamente fora, mas nunca nesta vida fiquei mais de quinze dias longe de minha casa, fosse para onde fosse. Vou morrer de saudades.

Algum Dia (Capital Inicial)

Ninguém nunca te disse
Como um ser tão imperfeito
Você tem tão pouca chance
De alcançar o seu destino
É fácil fazer parte
De um mundo tão pequeno
Onde amigos invisíveis
Nunca ligam outra vez
Talvez até porque
Ninguém ligue pra você

Se você quer
Que eu feche os olhos
Pra alguém que foi viver
Algum dia lá fora
E nesse dia
Se o mundo acabar
Não vou ligar
Pra aquilo que eu não fiz

Faz muito pouco tempo
Aprendi a aceitar
Quem é dono da verdade
Não é dono de ninguém
Só não se esqueça que atrás
Do veneno das palavras
Sobra só o desespero
De ver tudo mudar
Talvez até porque
Ninguém mude por você

Se você quer
Que eu feche os olhos
Pra alguém que foi viver
Algum dia lá fora
E nesse dia
Se o mundo acabar
Não vou ligar
Pra aquilo que eu não fiz

Talvez até porque
Ninguém mude por você

Se você quer
Que eu feche os olhos
Pra alguém que foi viver
Algum dia lá fora
E nesse dia
Se o mundo acabar
Não vou ligar
Pra aquilo que eu não fiz

domingo, 20 de janeiro de 2013

Saturno e eu

Não sou de isopor, nem de lata, nem de metal, por isso não vejo problema em me envolver com aquilo com que trabalho ou estudo. Envolvo-me com os temas, com as páginas, com tudo, de modo que, de minha tese, uma passagem em que o narrador criado por António Lobo Antunes traz os pensamentos de Pedro Álvares Cabral em seu retorno da África para Lisboa nunca sai de minha cabeça: “E agora que o avião se fazia à pista em Lixboa espantou-se com os edifícios da Encarnação, os baldios em que se ossificavam pianos despedaçados e carcaças rupestres de automóvel, e os cemitérios e quartéis cujo nome ignorava como se arribasse a uma cidade estrangeira a que faltavam, para reconhecer como sua, os notários e as ambulâncias de dezoito anos antes” (ANTUNES, 1988, pp. 11-12).
“E agora que o avião se fazia à pista”... Isso não me saiu jamais da cabeça porque eu acho que é este o momento em que as coisas se mostram claramente para nós, em nossa solidão de transeunte aéreo. Ali, da janelinha pequena é que avistamos ao que fica para trás e o que se mostra como destino.
Vejo esse imenso frisson com Kerouac, com Bukowsky, recrudescendo agora com a velha temática do ‘on the road’... Certo, não obstante o Walter Salles ser um homem bonito, charmoso e criativo, retomou o tema, pôs no cinema e está arrasando. Mas estas literaturas, as do Henry Miller (Sexus, Nexus, Plexus e etc.) e as do Carlos Castañeda eram leitura obrigatória no curso de História aqui da UEFS, autores da dita geração beatnik toda... Extraclasse, lógico, mas quem não lia se ferrava, até porque o predomínio de maconheiros e herdeiros ideológicos dos hippies e outros mal adaptados punks nordestinos era total. Boa forma de se entrosar...
Mas, então, se houve uns on the road; se se fala tanto em diásporas, em retirâncias e outros termos para os fluxos migratórios, o que dizer de nós? Somos ‘on the air’? Mudam-se as estradas, não as rotas. E meu blábláblá é forma de me preparar para minha viagem de amanhã, para a árida cidade.
Todo mundo se manda. Olha, as pessoas mudam de cidade por causa de emprego, deixam muitas coisas para trás, vivem até onde não lhes agrada porque viver com tostões contados (ou sem eles), ninguém quer. O profissional tem que ir onde a oportunidade está. E lá vamos nós.
Se relativamente perto e não dispendioso, a gente vai e vem. A gente vive em duas cidades, em três, tipo eu, que tinha apartamento em Aracaju, casa em Feira e república de professores em Xique-Xique. E o lado bom disso? A vida pessoal faz sofrer menos. E disso certa amiga minha se dá conta agora: exceto nos intervalos dos deslocamentos (isso para os que, como eu, não dormem no trajeto) não resta tempo para pensar em nada. Não dá tempo para sofrer, nem para lamentar... E depois de tudo, no dia do descanso, a gente descansa, vai a uma festa e a vida segue passando sem incomodar muito. Se esta rotina parar, todas as faltas se revelam.
Entendo os workaholics e também entendo meu orgulho de quem já sofreu muito e pode dizer: “Desta água não beberei”. Não bebi mesmo: agora que o pote está secando de vez e que a proposta se mostrou mais atraente, disse ao povo que vou. E irei. Dar um refresco nessa minha vida sufocada.
Amanhã baterei a porta da minha casa e só retorno dentre de quase dois meses. Depois de ficar uma semana aqui entre março e abril, volto para lá, mas lá não será Brasília e sim a cidade perto da fronteira. Fiquei pasma, ontem, quando soube que para entrar na Guiana Francesa precisa visto. Ora, mas o que tem lá para haver tanto protocolo? Ah, tá: Governo francês.
Fico olhando o mapa: avisto o outro país. A alma treme de medo do Cartel de Cali e de estar tão perto da rota do contrabando de cocaína... Depois penso: e daí? Dane-se: vou dar aula, não consumo nada, nem álcool, quanto mais pó? Estou fora!
Ontem eu disse a Rosana – que também se propôs a ir para qualquer dos extremos daqui a meses, conforme o trabalho solicite; ela que já deixou Feira há um mês para ir para Lençóis – que minha tia astróloga sempre me adverte sobre a presença de Saturno neste ano. Disse no mais claro português: “Planeta mal humorado! Não permite retrocesso: escolheu, não há volta!”. E pior que a tia me falou que a conjunção para o meu signo diz que Saturno vai predominar na minha casa profissional. Daí que se eu optei por ir trabalhar na casa do caralho longe, problema meu!
Não reclamo: tomei um bando de decisões de uma vez só, tudo no pacote 2013 e vou pagar o preço. Aliás, vou liquidar a dívida, porque não é fácil sair fechando portas atrás de si. Como no tocante ao velho relacionamento eu precisava não voltar nunca mais, tudo veio a calhar. Falo do velho relacionamento e não de FJ, que continua atencioso e mais presente do que os que são próximos... Distâncias geográficas, proximidades emocionais, fronteiras morais:haja cartografia!Vale o mapa astral, vale o mapa da vida.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Tudo que tocou

Não é que eu não soubesse que ele foi embora, já que ficamos juntos até antes do vôo. É que quando ele me ligou, hoje, quando eu senti a voz, a intimidade, a cumplicidade...Quando eu senti que era ele concretamente, bateu uma saudade imensa!
Ali tocou!
Sou inapta para lidar com a saudade: querer uma presença impossível pela distância ou pelas circunstâncias é tão terrível quanto se apegar a quem guarda distância emocional de nós.
É tão bom falar com ele. Melhor seria abraçar!!!E ele tem dessas delicadezas que me conquistam, esse cuidado em manter contato quando poderia reforçar a distância próprias às coisas impossíveis, quando poderia ser distante como os que estão próximos, como aquele que era meu namorado e não fazia a menor questão de estar perto de mim, mesmo morando ali.
É comparando que se descobre que os homens não são iguais. Parecidos em suas cafajestices, sim, num ou noutro aspecto generalizável,também;mas a diferença existe.
Comparo e vejo a péssima relação anterior. Com FJ não escondo nada: se não acredito, digo que não acredito. Se há um mal-entendido, conversamos...
A pessoa certa está no lugar errado: longe.
Os piores defeitos dos arianos se acentuam com o tempo:sou cada vez mais indecisa, sou cada vez incapaz de manter a palavra no tocante aos relacionamentos que termino e volto - fila que anda em círculos.
Sempre há uma voz de Djavan me dizendo: "Lambada de serpente/a traição me enfeitiçou./Quem tem amor ausente/já sentiu a minha dor".
Volto atrás nas decisões, penso que como estou é melhor pegar o vôo das 16h32 que me deixará em Brasília nesta segunda-feira - eu lá, na cidade árida, para uma futura conexão para perto da fronteira, achando que a vida está desarrumada, tudo fora do lugar e eu me apegando ao meu lugar, ao meu lar, sem saber o que fazer, querendo aceitar que "pouco com Deus é muito" e é mesmo; querendo aceitar a voz dos meus amigos dizendo que a felicidade se constrói por etapas, que os desejos são conquistados aos poucos, que tudo é tijolo por tijolo nessa mistura de felicidade e dor.
Finalmente, hoje, agradeci a Deus com a maior sinceridade que eu poderia agradecer, por tudo que vivi com FJ, porque um grande amor, dure quanto durar, sempre prova que vale a pena viver, que a felicidade existe apesar de ser dada em doses homeopáticas...
Eu disse a FJ na madrugada em que ficamos juntos pela última vez: "Queria ficar com você até ter motivos para te odiar", numa contradição absurda, testemunha do quanto seria difícil esquecer - ainda mais esquecer quem já era e quem já estava, previamente, em minha história. Pois é, a felicidade existe apenas para virar saudades. Que pena!
Ele tinha cortado os cabelos antes de ir embora. Terá felicidade maior que tocar os cabelos de quem desejo, que, quanto mais os acaricio, mais eles me acariciam?

Vem (Vanessa da Mata)

Vem
Que eu sei que você tem vontade
Que eu sei que você tem saudade de mim
Antes que haja enfermidade
Que eu não me recupere

Mas,
Se decidir fazer surpresa
Deixei as chaves embaixo do xaxim
Comprei os doces que devora
Acho que agora não vai resistir

Um espelho pra sua vaidade
Dossel, pena de ganso
É quase um romance
Desligue nossos celulares
Três dias pra um começo, vem

Vem!
Eu sei que você tem vontade
Eu sei que você tem saudade de mim
Antes que haja enfermidade
Que eu me desespere

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Vide o verso

Tá bom, minha amiga, você merece um desses!

De parar o trânsito!

Postagem especialmente à minha amiga Leda, que merece um homem de parar o trânsito. kkk!

Foi Mal!

Acho que localizei minha questão neurótica com relação às cartomantes: para quê saber do futuro e acabar com a surpresa? – aqui é mera desculpa esfarrapada: não acredito em cartomantes porque o ser humano é imprevisível, tudo é imprevisível e o máximo que a gente pode descobrir é algum indício de causa e consequência, consultando aos poucos que dispõem de poderes arquetípicos que nada tem a ver com o mercado esotérico que manipula crenças, esperanças e desesperos.
Cometi uma calhordice e confessei à minha amiga. É que todo mundo sabe que sou simpatizante do Espiritismo porque é uma doutrina que propõe explicações e respostas plausíveis para o Divino e o Humano. Mas não acredito que tudo está escrito, nem que haja Destino e etc., mas leis de causa e efeito, para mim, fazem sentido. Acredito até que o ser humano deva evoluir moral e espiritualmente, mas também creio que se somos fruto da criação Divina, o Capeta pegou a gente sob empréstimo consignado, pois somos seres do Mal, guiados pelo mal, sempre a fim de fazer o mal e, por isso, precisamos ser controlados para não ceder a ele.
Definitivamente, não somos gente boa. Havendo a oportunidade, a gente faz fofoca, a gente é invejoso, violento, maldoso, cruel, egoísta, mal-agradecido, ruim, a gente é negligente e omisso quando poderia não ser, a gente declina de ajudar o outro, a gente usa os problemas e defeitos dos outros nas horas de raiva, em favor próprio... Bom, a lista é longa.
Assim sendo, tanto Thales quanto F.J., (espíritas kardecistas), não acreditam em acaso. Pensam, portanto, que houve uma razão para a gente se conhecer, pois “nada acontece por acaso”. Eu acredito em sorte e em acaso. Porém, como é confortável para mim que eles pensem que tinham que me conhecer, nunca discuto este ponto. Eis a minha calhordice: aceito qualquer sentença da crença alheia desde que ela me favoreça. Religião não se discute – pelo menos quando o ponto de discussão está a nosso favor (aqui ironia minha porque não há assunto que não possa e não deva ser discutido respeitosamente).
Lembrei, neste mesmo rol de discussões, do dia em que conheci Thales, naquele assalto que sofremos, em 2006.
Um dos assaltantes o tempo inteiro estava tentando me acalmar. Disse, então: “Fique calma, moça, nenhum de nós vai lhe estuprar. Se uma coisa dessas acontecesse ninguém aqui ia apoiar não, ele ia se ver com a gente!”. Ele pediu até para pegarem uma água para mim.
Vejam: ali eu vi que ele pensou que eu seria uma vítima “estuprável” para qualquer ladrão. Ali, sim, me assustei, porque eu não estava nervosa conforme ele pensava. Meu suposto nervoso era fruto da vida militar que nos previne que jamais se deve olhar nos olhos do assaltante. Eu baixei minha cabeça o tempo inteiro. Estava era preocupada que eles achassem a cópia de minha carteira militar que ainda estava comigo e que fizessem mau uso do meu diário, roubado naquele momento, com tantas intimidades e opiniões.
Quando passou a ação, lá vêm dois passageiros assanhados me dar abraços calmantes me apalpando. Como é que pode? E um outro, dito advogado, querendo se oferecer a me acompanhar em casa, pois se minha agenda continha meu endereço, os assaltantes iriam lá – típico aproveitamento e exploração dos medos pós-traumáticos.
Posteriormente ao registro em Delegacia e etc., na continuidade da viagem, Thales se sentou ao meu lado, me deu o número dele e etc. e quando a gente se encontrou devido à mera coincidência, ele disse que viu uns e outros ‘cantando’ as vítimas femininas. Eu disse: “Num momento como aquele, como a pessoa ainda consegue pensar nessas coisas?”. E daí concluí que o ser humano é encapetado. Tanto assim que correspondi às investidas de Thales mesmo posterior ao assalto.
Já que tinham levado tudo meu – das chaves de casa às muitas calcinhas, roupas, perfume, sandálias e etc. – pelo menos teríamos o ganho subjetivo da amizade – é, primeiro fomos amigos porque eu namorava outro sujeito naquele tempo...
Mas, então, ser uma pessoa do Bem exige demais do ser humano. Não quero dizer que conhecer alguém em circunstâncias adversas é ser calhorda. Pelo contrário: se sai algo de Bom do que é traumático, ruim, violento, significa que a gente pode reverter o Mal, ressignificar a experiência traumatizante.
Acredito realmente na necessidade de ser caridoso e de ter compaixão. Multiplicar as graças alcançadas através da ação da caridade – que pode ser através de um consolo, um amparo, um conselho, um pão, atenção – é a melhor maneira de ser grato a Deus. Dê a vela, se quiser firmar seu ritual de pedido ou agradecimento, mas multiplique o Bem, divida seu bem-estar, espalhe o bem... Isso a gente aprende quando percebe o que há de mal em nós. Ninguém gosta de admitir o que tem de mau e diabólico e si, mas é preciso enxergar os próprios demônios. Todo mundo tem: o padre, o pastor, o guru, a empregada doméstica, a socialite...
A história da Humanidade é permeada pelo mal: por qualquer coisa, por interesse capital e pelas diferenças, se faz a guerra; por qualquer motivo fabricado se persegue homossexuais, negros, judeus, índios,mulheres, pobres, idosos, curdos, vietnamitas, nordestinos, suburbanos, emos, tanto faz...
Os games violentos, os filmes violentos e as lutas do UFC tão em voga em nosso tempo não teriam plateia se não fôssemos violentos e maus – vai gostar de sangue e porrada assim no Inferno!!!
O Mal sempre edifica o motivo para se fazer presente porque ele é fácil, forte e sedutor, ainda mais num mundo em que se é ensinado a não ter pena, piedade e compaixão, considerados sentimentos feios, sinônimos de fraqueza. Bem disse Frejat: “Eu quero calor/e o mundo é frio”.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Hoje

Ponto final.

Ontem (noite)

Eu tinha muito a dizer. Sou prolixa mesmo, a incontinência verbal não é mera expressão.
Queria contar as coisas, queria dizer que a história que eu tenho para contar aconteceu com uma amiga minha, quem sabe...Mas não dá, até porque mesmo quando a história é ruim, eu gosto da minha história, gosto de ser dona de minhas histórias...Poxa, tanta história que a censura moral dos conhecidos me impede de contar. Aliás, ele, o FJ,bisbilhotou duas linhas do que escrevi. Pedi para ele não ler e fui atendida...Mas não sei por quanto tempo.
Bem, sobre ontem fica assim:

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
(O meu amor - Chico Buarque)

P.S.: Na foto, nós dois - e os cabelos dele, que eu amo, bem perto dos meus!

Ontem (tarde)

Sou sua noite, sou seu quarto
Se você quiser dormir
Eu me despeço,
Eu em pedaços,
Como um silêncio ao contrário
Enquanto espero
Escrevo uns versos,
Depois rasgo
Sou seu fado, sou seu bardo
Se você quiser ouvir.
O seu eunuco, o seu soprano
Um seu arauto
Eu sou o sol da sua noite em claro,
Um rádio;
Eu sou pelo avesso a sua pele,
O seu casaco,
Se você vai sair.
O seu asfalto,
Se você vai sair.
Eu chovo
Sobre o seu cabelo,
Pelo seu itinerário
Sou eu o seu paradeiro
Em uns versos que eu escrevo
Depois rasgo

(Uns Versos - Adriana Calcanhoto)

sábado, 12 de janeiro de 2013

Anteontem

Anteontem não tocou Elis Regina. Tocou muita música boa e divertida. A gente até riu por ouvir Shakira cantando: "Loca, loca, loca!", mas fica assim: gostosa trilha incidental, porque não somos mal humorados!

Quando caminho pela rua lado a lado com você
Me deixas louca
E quando escuto o som alegre do teu riso
Que me dá tanta alegria
Me deixas louca

Me deixas louca quando vejo mais um dia
Pouco a pouco entardecer
E chega a hora de ir pro quarto escutar
As coisas lindas que começas a dizer
Me deixas louca

Quando me pedes por favor que nossa lâmpada se apague
Me deixas louca
Quando transmites o calor de tuas mãos
Pro meu corpo que te espera
Me deixas louca

E quando sinto que teus braços se cruzaram em minhas costas
Desaparecem as palavras
Outros sons enchem o espaço
Você me abraça, a noite passa
E me deixas louca
(Elis Regina, Me deixas louca)

Depois de amanhã

O maior afrodisíaco que existe é o desejo. Desejar e ter o que se deseja é o suprassumo do prazer e da felicidade – embora, conforme eu disse em outro texto, felicidade deixa saudade porque não dura para sempre. Em meu caso, tinha dia e hora para acabar porque o voo dele, de FJ, de volta para São Paulo será na manhã desta segunda-feira.
Vão ficar saudades dos momentos e dos cabelos, da boca e das palavras, do toque e da voz de tudo que foi feito para ser efêmero, belo e efêmero, intenso e fugaz...Tudo acaba depois de amanhã.
Queria dizer tudo, em pontos, vírgulas, supressões e suspiros – tantos! – mas não dá.
Que digam, então, por mim, da maneira mais brega, mais intensa, mais real:

Amo tua voz e tua cor
E teu jeito de fazer amor
Revirando os olhos e o tapete,
Suspirando em falsete
Coisas que eu nem sei contar.

Ser feliz é tudo que se quer!
Ah! Esse maldito fecheclair!...
De repente, a gente rasga a roupa
E uma febre muito louca
Faz o corpo arrepiar.

Depois do terceiro ou quarto copo
Tudo que vier eu topo.
Tudo que vier, vem bem.
Quando bebo perco o juízo.
Não me responsabilizo
Nem por mim, nem por ninguém.

Não quero ficar na tua vida
Como uma paixão mal resolvida
Dessas que a gente tem ciúme
E se encharca de perfume,
Faz que tenta se matar.

Vou ficar até o fim do dia
Decorando tua geografia
E essa aventura
Em carne e osso
Deixa marcas no pescoço.
Faz a gente levitar.

Tens um não sei que de paraíso
E o corpo mais preciso
Que o mais lindo dos mortais.
Tens uma beleza infinita
E a boca mais bonita
Que a minha já tocou.

( "Paixão", Composição de Kleiton & Kledir)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Freud explica

Ah, olha que horas são: quase onze e meia da noite. E eu estou aqui, na internet. Agitada, feliz, e pela primeira vez na vida não vou maldizer o Facebook, porque interpretei Freud à minha maneira e fui atrás de resolver minhas perturbações, assumir meus desejos.
Por muito tempo estive na psicanálise e se agora não estou é por falta de tempo e de dinheiro. Mas fiquei desde 2003 até bem recentemente, de modo que sei algumas coisas sobre mim mesma e sobre o que desejo, o que quero; e nisso entendi que meu caso com FJ tinha que ser resolvido. Acabei achando o meu fofíssimo no Facebook. Não sei por que nunca procurei antes...
No meio do caminho teve apenas o problema de muitos amigos de infância em comum. Daí para as futuras fofocas, é um passo.
Mas FJ me contou que me procurou em toda parte possível. Que foi à casa em que eu ficava, na Cidade Nova; que procurou o Corpo de Bombeiros, que perguntou ao meu namorado da época, mas nada, em nenhum desses anos... Parece que ele não sabe o ciúme do sucessor dele.
E reciprocamente a gente assumiu a vontade de se ver, com o agravante de que amanhã eu passo o dia em Salvador e que ele volta para São Paulo nesta segunda-feira. Mas agora acho que mais nenhum terremoto vai abalar a situação estabelecida e não vou negar que estou tão feliz que esqueci meus mil e um problemas, esqueci meus afazeres, pirei geral...
Ele ainda gosta das mesmas coisas e como eu, adora ouvir Los Hermanos... Prometeu que vai deixar que eu afague e bagunce os cabelos dele, falou das birras da adolescência, ficou constrangido com meu destino CDF, de doutora em Letras, achando que fico observando lapsos gramaticais que ele nem tem...
Talvez eu sonhe de novo, mas pelo menos tomei a iniciativa de não ceder à frustração. Quero ir namorar na praça e conversar bobagens, sem ter hora para nada... Putz, ele gosta de mim! Ele gostou de mim tanto quanto eu gostei dele também, que bom!
Freud explica e traz a pessoa amada em 03 horas, com a ajuda da tecnologia - porém, não aceita devolução.
Bendito seja Freud.

Saudade e sonhos

O lado ruim das coisas boas da vida é que todas passarão a ser lembranças. Por que a felicidade é ímpar? Por que é tão fugaz? Talvez porque a função última das coisas boas é deixar saudades. Mas não vou ser ingrata: melhor sentir saudades do que fazer lamentos. Se bem que lamento muito algumas saudades.
Fiquei tocada pelo desfecho do namoro de minha amiga. Ainda mais por que ela é o tipo de pessoa de quem de fato se pode dizer que merece ser feliz. Faz tempo que os homens só se ocupam em quantificar, em trair. Porém, quem quer ser livre deveria se manter livre, deixando livre também o seu par. Pior é iludir os outros e não arcar com os prejuízos emocionais.
Fica muito fácil presumir que as mulheres acham que todos os homens são iguais. Mas o caso é que eles agem de forma igual e se torna muito difícil acreditar que eles tenham sentimentos além do egoísmo. Nunca vivi tempos assim como hoje, em que esbarramos em homens sem coração, sem consideração, sem respeito a nada ou a ninguém. E olha que não estou falando de qualquer pessoa, mas de mulheres dignas que passam maus bocados nessas mãos torturadoras. Pelo menos o miserável do par da minha amiga confessou o delito e despachou o serviço logo. Exceção, porque os homens enrolam demais.
Talvez por pensar na vida dela e arvorar o desespero biológico que, graças a Deus, não me atingiu, mas que nela se insinua, eu tenha sonhado com um bando de gente que me deixou saudades – Quase como cantou Amelinha: “...Fez até o anonimato dos afetos escondidos/e a saudade dos amores que já foram destruídos”. Daí que sonhei com W., mas nos sonhos, sempre há Ângela e aliada dela, e o meu ex pelo meio. Sempre: até nos sonhos! E hoje eu me sinto tremendamente constrangida quando encontro com ele. Pusemos uma pedra no assunto sem sequer resolvê-lo: não achei que pudesse discutir o acontecido, não achei que ele fosse deixar de acreditar nos outros para acreditar em mim e até me reconciliei com Ângela.
Da aliada dela, o ‘destino’ se encarregou da vingança: até no jornal escrito e televisivo da minha cidade a situação foi noticiada. Eu é que nem acredito nisso: tomou o próprio veneno e se o relacionamento dela não foi desfeito, foi por obra e graça de uma providencial gravidez – que não a poupou do escândalo público.
Sonhei com F.J. Ao longo desses dias. Mas com razão concreta: soube que ele está em Feira, andei pelo bairro dele, lembrei o que ele dizia das coincidências, lembrei das noites perfeitas e do dia em que larguei ele de mão, quando ele apareceu todo quebrado de um acidente movido por irresponsabilidade. Dali carimbei o passaporte dele para o passado e dei o bilhetinho azul, porque não fui suficientemente compreensiva com o monte de confissões que ele me fez neste mesmo dia. Mas ele era excelente na horizontal, ele foi um namorado legal de um namorinho começado em minha rua, com passeio no parque e roda-gigante, com idas e vindas de quando moramos fora. Seja com influência da situação da amiga ou não, ando perturbada com a lembrança desses dois. Talvez seja Freud me dizendo: assuma seus desejos, vá em frente!
E por falar em F.J., ele tem sérios problemas com o pai até hoje e sei que ele não é feliz porque não consegue ir lá, encarar, assumir que tem raiva do que o pai fez à mãe dele, mas que ainda assim o ama. Gosto muito dele. Quando a relação é boa, até a saudade é boa.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Go back!

Depois de muita praia e não menos manchas no rosto devido à exposição ao sol (mesmo com protetor fator 60), eis-me aqui de regresso às caretices da vida normal.
O réveillon, em si, foi besta. Mas como ele estava no meu roteiro pelo litoral, acabou tudo dando certo, de modo que da Praia do Forte – esticando pela Gamboa, pelo Aruá e tudo que havia na Reserva da Sapiranga – arranquei o carro para Imbassaí, Barra do Jacuípe e Guarajuba e só voltei para Feira de Santana quando o sol resolveu faltar à festa.
Mas a vida continua e cá estou eu me preparando para por os pés em terra estrangeira. Terra estrangeira sempre me lembra Tatiana, em suas lições para que eu suportasse com placidez a estada no Rio de Janeiro... Falando sobre essas coisas, ontem a minha amiga falou: “Seria tão bom se a gente pudesse saber com certeza, consultar um oráculo, obter uma resposta clara sobre qual decisão tomar...”.
Pois é, seria mesmo.
Mas não acredito em cartomantes. Não tem jeito! Consultando a minha memória, lembrei que certa vez, mediante o convite de um colega de trabalho do Corpo de Bombeiros, ele já um senhor de idade, babalorixá de origem congolesa, aceitei ver os búzios. Deu tudo certo! Da minha infância aos dias da consulta, ele acertou tudo. Mas não é isso que acho: acho que era ele em si quem detinha o poder da leitura. Por isso advirto aos incautos: só procure jogo de Ifá, búzios, com gente extremamente recomendada. Não faltam charlatães. Mas foi só isso, nunca procurei outro e aquele me fez revelações incríveis, impossíveis de saber.
Como os que leem as porcarias que aqui escrevo bem sabem, tenho tia astróloga. Também só sei falar sobre o que ela diz de minha vida e assumo que acredito porque é dela que vem a credibilidade, está na minha cultura familiar. Daí que ela me disse que 2013 será regido por Saturno e, neste caso, acho que o conselho é válido para todos: quem encara o retorno de Saturno, no sentido de estar chegando aos 30 anos – o que pode ser evidente tanto nos 29 anos quanto aos 31, pois esta ligeira imprecisão é subjetiva, são ciclos que terminam – sabe que é período de turbulências. Na verdade, Saturno pede cautela com as decisões, porque não há retrocessos: escolheu errado, paga-se a consequência.
2013 sob o comando de Saturno requer maturidade e convicção a respeito do caminho que se quer seguir. Certamente, o que minha tia quis me dizer foi que tudo que eu escolhesse não teria volta. Poxa, que coisa! Estou toda confusa! As outras coisas que ela previu, como são de cunho pessoal, não vou contar, já que só servem para mim. Aquele horóscopo genérico é panorâmico, dá uma visão geral... quando tudo se personaliza, cada caso é um caso e o que posso adiantar é que meu caso é complicado.
Creio que Saturno não gosta de mim: de cara, tive que tomar três decisões. Duas já estão feitas. A pior ficará por último... E o resto não muda: ariana bate a cabeça contra a parede, insiste até quebrar a cara de vez – é o outro lado de ser o primeiro signo do zodíaco, de ter apego às atividades intelectuais, de ser regido por Marte e viver de guerras... Na boa, a vida para mim é guerra, é batalha; mas sendo de elemento fogo, devasto as coisas rapidamente, incendeio, vivo com intensidade destruidora as coisas, talvez de forma desmedida. E adoro o meu signo e suas contradições, porque o mesmo elemento fogo tem a calma do carneiro que o representa, é manso, morre em silêncio, acolhe afagos e dá a pele para aquecer o outro. Gosto muito das metáforas do meu signo. Também creio que após o retorno de Saturno as pessoas, em todas elas, os signos se personificam, isto é, as características zodiacais se tornam mais claras. Pelo menos foi assim comigo e com parte de minha turma.
Outra parte de mim diz: somos seres simbólicos, sempre em busca de respostas impossíveis.