Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Na rota do carnaval

Até que eu estava quietinha e conformada, pensando em livros e em aulas públicas até aparecer o terceiro convite para eu ir ao carnaval dar uns pulinhos. Já brinquei com isso, disse que eu sou a Mulher-pipoca: se eu der uns pulinhos, caio na boca do povo, conforme assertiva de Chuck, meu amigo e sábio.
Este seria meu primeiro ano, desde que sou independente e mando no meu nariz, que eu não iria ao carnaval. Não havia conflito, era decisão tomada com base na realidade das responsabilidades e das restrições orçamentárias. Mas aí vem o primeiro convite, os jeitinhos e as sugestões. E eu paro e penso. Depois, vem o segundo convite e a consciência começa a jogar confetes na situação. Finalmente vem o terceiro convite e dane-se a prudência, digo ao povo que vou.
Dia 19/02 eu tenho compromisso aqui em Feira. Dia 20 a 22, em outro Estado. Dia 25, concurso. Não me falta o que fazer. Mas, vamos à pausa nas coisas sérias e impreteríveis.
O melhor do carnaval são os homens argentinos. Mas já não há muitos deles desde uns quatro anos atrás: que pena! são lindos e objetivos, têm iniciativa e ego de pavão... Mas e daí, se abraçam tão bem e beijam com profissionalismo cinematográfico?
Vou à Avenida Oceânica ver o mesmo de sempre, passar pelo mesmo de sempre e concluir que sendo o mesmo de sempre, a festa não envelhece.
Interessante como as pessoas são convocadas a sentir felicidade instantânea, como a diferença cultural se desenha no momento em que para muitos de nós é incompreensível tanto frisson em torno de uma Escola de Samba, tão incompatível com a falsa democracia do espaço carnavalesco baiano, dos trios elétricos, em que todos se misturam em busca de diversão, trabalho e carteiras de gente desavisada.
No Brasil o carnaval é plural, varia de acordo a configuração cultural de cada região, donde minha indisposição para, por exemplo, dançar um frevo no carnaval de Olinda ou entender direito o que faz um DJ como Bob Sinclair no meio da axé músic.
Como num script previsível, após um pouco de festa e alguns flertes, vai a madrugada passando e a gente caminhando para o ISBA, tomar coco na barraca do Lula, reclamar dos pés doloridos e andar dois ou três quilômetros para voltar para o cafofo residence, pois os táxis não fazem corridas para perto. Lá, tirar o tênis emporcalhado na porta de casa, entrar meio tonto, pegar a fila para tomar banho, roer uma fruta antes de dormir, revirar da esquerda para a direita umas 20 vezes e finalmente dormir para ser acordado quatro ou seis horas depois pelo pagode alheio.
No dia seguinte sempre há histórias.
Ah, tenho que explicar o dia seguinte: expliquei em outras postagens que o tempo é contado, por exemplo, como hoje até que amanheça. Hoje só é amanhã depois que amanhece e, preferenciamente, depois que a gente dormir. Nada de achar que meia-noite de hoje já é amanhã. Não é. Nem duas horas da madrugada, nem três, nem quatro, nem cinco...Se eu sair hoje, até que eu volte da festa eu continuo no hoje.
E me dá uma má vontade de voltar para casa, para a minha casa: fico pensando no retorno sonolento a Feira de Santana; na chateação toda da volta, na indisposição e tudo mais - acordo com olheiras de panda, com a cara inchada, os pés inchados, um calor miserável, uma preguiça sobrenatural, os cabelos detonados, os tênis emporcalhados em tempo de sofrerem confisco pela Vigilância Sanitária ( sim, amigos, os tênis ficam podres por fora - na higiene pessoal eu me garanto, mas no pisa-pisa da avenida, o tênis vira pano-de-chão) e eu ter que pagar uns 2.500 dias/multa pelo espetáculo de lama e sujeira.
Os apertos para fazer xixi são um capítulo à parte e rendem uma pauta própria.
Comer algo no carnaval? só fora do circuito porque também a alimentação é instantânea: basta comer que voce passa mal no mesmo instante! e do hospital ao necrotério a rota é rapidinha...experimente!
Carnaval, para mim, só vai até o domingo. Os demais dias são um porre, sem atração: não faço questão, não vou e neste ano cansei de sair no mesmo bloco chato de todos os anos que, por sinal, era o unico motivo de eu por os pésna rua na segunda-feira indigesta. E por falar em coisa indigesta, de onde será que saiu esse negócio de almoçar feijoada no carnaval? loucura pura comer uma bomba de efeito devastador no organismo, sob alegação de ser comida forte. Este é mais um capítulo à parte: o almoço do dia seguinte às badalações na avenida.
Como eu já disse por aqui que tenho mais fantasias do que barracão de Escola de Samba e não estava me referindo ao carnaval, vou ver o que invento de fantasia neste ano porque isso o carnaval tem de bom: a liberdade para a gente se vestir de forma ridícula e parecer normal...Pelo menos eu visto - e os outros que tiram a roupa, que dizer deles?!

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