Louquética

Incontinência verbal

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Preços e apreços

Por aqui se fala no aumento da gasolina como se fosse uma novidade que redefiniria os rumos da economia doméstica, da economia pessoal,a saber, o nosso pão de cada dia - que é croissant para uns poucos endinheirados.
Em Feira de Santana o preço sempre esteve nas alturas, mas o que me fez prestar atenção ao surto geral de reclamações foi uma postagem de uma amiga, que reproduzia o vídeo de um programa sensacionalista daquelas loiras da tarde da TV aberta, segundo o qual, "Com o aumento da gasolina, dizer 'te pego em casa' é quase uma declaração de amor'. Que grosseria!
Ter um carro não é só sofrer com gasolina, mas se dispor à manutenção, aos impostos, aos gastos de estacionamento. Resumindo: quem adquire sabe o que vem pela frente.
Deus me livre que meçam minha amizade por litro.
Aliás, com um litro o meu velhinho bibi-fonfon faz 14 quilômetros. Se for para cobrar dos amigos, melhor ser taxista ou assumir que quero colaboração. O fato é que fiquei estarrecida, mas aqui pode ser que pese muito minha indisposição pessoal porque no cômputo geral das coisas já não perco tempo discutindo coisas dadas, nem esperando que cachorro velho aprenda truque novo e esta incapacidade que as pessoas têm de me surpreender é o que tem me surpreendido.
Carrego algumas pesadas malas, mas outras eu me desfaço pelo caminho. E assim falei para minha outra amiga, bem claramente, que eu já não tinha interesse em manter amizade com gente que só queria ser lembrada e que isso se referia a ela; que na hora em que estava tudo bem, não dava sinal de vida, mas que mediante o desabamento dos seus sonhos,lembravam do meu endereço e do meu telefone. Ora, danem-se! Tem mesmo um grande número de pessoas cuja resposta é sempre não: "Não vou!", "Não posso!" e "Não tenho!" e para as quais não aprendi a dizer não, mas a ignorar completamente.
Falando nisso,a elite da pobreza existe em qualquer parte do mundo. Basta uma pessoa pobre suburbana ter uma casa de dois andares para ser considerada rica, dona do palácio - comparativamente, ela é mesmo!se o entorno é de barracos, a casa é a expressão da riqueza. Mas aqui no Brasil em geral, e na Bahia em especial, esta distorção é gritante.
Não sei qual o conceito de rico que se tem por aí, mas particularmente, rico para ser rico tem que ter dinheiro em abundância, devendo usufruir do que a capacidade financeira pode dar. Não precisa ostentar feito um idiota exibicionista, mas também não vai queimar neurônios com contas a pagar, com o cartão de crédito, com os gastos.
Por aqui, basta que se tenha onde morar, ainda que financiado em 15 ou 30 anos, um carro igualmente financiado (certo que para míseras 24, 48 vezes) e um tanto de pompa para se autopromover, que o sujeito já se pensa rico.
Declaro para os devidos fins minha pobreza. Sem mistério e sem alarde: não sou dona dos meios de produção, passo mais apertos que sardinha enlatada e o capital simbólico que eu tenho, isto é, a escolaridade, não se traduz em capital dinheiro. Portanto,se sei o que é ser pobre, devo saber exatamente o que é ser rico - e por enquanto, não vejo nenhum à minha frente, nem por perto.
E como uma coisa puxa a outra, olha que saia-justa: uma das pessoas que compuseram minha banca de doutorado está concorrendo à mesma vaga que eu, numa instituição. Nunca vivi isso, que muito me apavora, mas disso concluo que os tempos não estão bons para ninguém...O resto é pose e salários com efeito lifting: bem esticado, para manter a aparência.

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