Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Nada se cria, tudo se muda...


Minha amiga mudou: picou-se de mala, cuia e coragem para o outro país, onde estava sua paixão e, lá chegando, as coisas foram diferentes. Ela também. Feliz de quem se adapta e não desafia as leis da sobrevivência: isso, sim, é inteligência.
Agora, vive o possível com a Paixão que tem. Aderiu à lei do macaco ("Não se larga de um galho antes de se estar preso a outro") e já picou a mula com um flerte firme engatado por aqui.
Disse-lhe eu: "Vai! E se quebrar a cara, pago a plástica de reconstituição facial". Sei que ela não vai ficar irreconhecível, nem desfigurada, mas repaginada, reorientando suas necessidades. No fim, só isso: viveu um grande amor, com todas as vicissitudes possíveis. Viveu. E voltará viva para cá.

Coisas de Eros




Coisa bonita é o sexo: carne que deseja carne, e abraço, e afagos, e palavras cúmplices, e também esperas. Sei que por muito tempo meu coração acelerou de ansiedade por ele e eu achei bonito e interessante, mesmo frente a um jogo de esperas. Chegou, pois, o dia do xeque-mate. Quem pode?
Ele tem um jeito sonso de roçar o rosto no meu, no meio da festa, a fim de me contar coisas boas e nada extraordinárias. Ele sempre espera por mim. Resolvi me confessar tímida, porque é o que sou.
Num dia em que os anjos embaralharam meus pretendentes, aliaram presente e passado, também foram prudentes em estabelecer um tempo que me permitisse me safar da saia justa. O tempo inteiro eu sabia quem eu queria. O problema estava em haver o tempo certo e isso não houve, me deixando suscetível ao mau conselho das amigas: “Se não aparecer a pessoa certa, vá se divertindo com a errada mesmo!”. Não é que a pessoa errada fosse errada: apenas não era minha melhor alternativa. Assinalei errado, perdi a questão. Fazer uma escolha é eliminar alternativas. Assim foi.
Toda vez que a gente se fala é assim como uma concorrência para ver quem primeiro quebrará o gelo da timidez. Às vezes ele me beija para me explicar o que os tímidos não sabem dizer. Ele procura a oportunidade e me beija, porque sou tímida profissional e dou trabalho. Outras vezes, digo: “Já fiz a minha parte!”. E rimos.
Bom, vamos aos fatos, sem muita poeticidade: ele passa três semanas em outros Estados. Ficamos de fevereiro até este sábado sem uma só coincidência que pusesse nós dois no mesmo caminho.
Quando eu disse a Tella que iria ao show, ela me disse: “O menino vai estar lá”. Espírito quente: o menino estava. Acertamos as contas: por que não me pediu o número do telefone? Por que não me seguiu quando aleguei ir àquele outro show, por ser lá a comemoração do aniversário do meu primo? Por que dar outra chance ao “Feitiço de Áquila”? Coisas, claras, cartas na mesa e um telefone que liga para o outro, imediatamente, para não haver enganos interpretativos frente ao som da banda.
Um pouco de silêncio, só entre nós. E uns beijos intensos e medrosos ainda (a hora de ir embora, as pessoas esperando, os compromissos de logo mais e umas ansiedades). Era sábado de show de rock and roll no memso bar em que a gente se encontrou há nove meses.
Domingo de dúvidas e sono. Não liguei. Zero dois me ligou e eu pensei duas vezes. Depois, concebi que o passado passou bem passado e que o que foi enterrado já está morto, sem chances de ressurreição. Enrolei. Também não liguei. Saí. Vi o jogo que não me interessava, só pelas companhias interessantes. Voltei. Escrevi, convidando para vermos um filme determinado, que comprei, mas não assisti. Ficou para hoje.
Hoje sofri na dentista, apesar de dar graças a Deus por ser UMA dentista, já que costumava namorar todos os meus dentistas ou me meter em rolos com eles. Juro que a culpa não é minha e que eles que me deixam de boca aberta! Coisa mais esquisita era aquele meu rolo com Rafael, que conhece minhas sensibilidades gengivais! Vish! – passei o dia ocupada.Ah, é bom que se lembre: passei dois anos sem nenhum gracejo, flerte, namoro ou rolo, só solteira e sozinha, curtindo dor de cotovelo por chifres recebidos, provenientes de um Zé Fubuia a quem eu me prendi mais por fraqueza e desespero do que por amor. Ou era amor e dos burros, bem burros.
Meu tio é aliado dos meus piores pretendentes: Justo hoje, que eu iria receber o menino aqui, para ver o filme, que eu tinha o pretexto perfeito no momento sonhado, que arrumei cabelo e lingerie exclusivas, meu tio inventou de me berrar a toda hora, atravessando meus telefonemas, minha privacidade, toda hora me pedindo favores e indagando coisas, de modo que não era preciso ser um gênio para perceber que não teríamos privacidade já que divido o muro de casa com o meu tio.
Acho que ele, o Menino (que não é menino na idade, diga-se de passagem), pensou que não seria justo viver as coisas atropeladas, que merecíamos mais, especialmente privacidade e paz. Ele falou como eu: “A gente planeja melhor depois”. Venceu o depois. Tive medo do depois ficar perto do nunca. Pensei numa fala da avó no filme Avassaladoras: “Foda adiada é foda perdida”. Mas entendi e concordei. Gosto do que temos. E gosto das coincidências: excedendo essas coisas do desejo, ele me contou que foi ao mesmo lugar que eu, sábado passado, procurar o filme de que falei, mas lá não havia. Conversamos sobre o filme, mas não vimos o filme. Tudo bem! Depois pode acontecer. O depois pode acontecer.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

As mentes que gritam




Minha amiga, Mais-Que-Irmã, veio à minha casa ontem à noite, dizendo que queria se suicidar, mas que não queria morrer agonizante, com dor ou aos poucos. Disse que eu era a única pessoa que poderia compreendê-la.
Jogou-me à cara os pactos adolescentes que fizemos, de dar um jeito de libertar da vida qualquer uma de nós duas que se visse presa a uma cama, a uma doença, a uma enfermidade que limitasse nossa existência a um estado vegetativo. Disse-me, depois, que ela era tetraplégica do juízo, que sabia que a esquizofrenia tinha controle, mas não tinha cura e que já estava cansada de dez anos de psicanálise, dez anos de psiquiatria e dez anos de remédios que lhe deixavam gorda e parada, com um sono que não dá descanso.
Ela me pediu para apelar a Thales por um opiáceo, ou que eu procurasse Marcel com o mesmo fim. Ela deve lembrar-se das visões românticas que os nossos amigos drogados da universidade nos falava, de ‘morrer de prazer’ na codeína, na morfina, em qualquer coisa do gênero.
E eu ouvi tudo.
Ela fez questão de vir aqui a pé, tendo percorrido uns seis quilômetros, coisa que eu, que me julgo normal, tento fazer na academia em tempos de TPM exacerbada, porque preciso refrear a ansiedade causada pelos hormônios.
Foram horas angustiantes.
Ela dizia que ouvia vozes do mesmo jeito, há dez anos, que era como ter um rádio na cabeça, eternamente ligado num mesmo programa. Digo, de passagem, que o programa que ela ouve é de violência e gira em torno da morte do pai, da mãe e dos dilemas morais. Os pais dela estão vivos, donde há que se deduzir o medo do luto.
Depois de um tempo ela disse que as vozes silenciaram.
Ela estava indecisa: foi à cozinha, escolheu uns alimentos, depois me viu servir o jantar ao meu tio e quis experimentar. Pediu pimenta calabresa e experimentou o prazer da comida com uma taça de vinho que lhe deixou em torpor. Pronto: silêncio na cabeça.
Conversamos mais: entendi que ela busca um esteio, que vem à minha casa porque lhe passo segurança e não vou abandoná-la à própria sorte, como muitas vezes eu já provei. Também não faço observações dolorosas e sei que na análise (assim como eu) transferimos para a analista a amiga que fomos uma da outra. Temos a mesma analista, aliás, tivemos, porque estou longe há mais de um ano.
A doença psíquica de minha amiga me cansa.
Os vícios dos meus amigos me cansam.
A covardia e teimosia de outros amigos me cansam também.
Porém, muito raramente algum deles acolhe o meu cansaço. Não sou mais forte que eles, também tenho angústias. Fico feliz, porém, por atenuar os problemas que eles carregam, apesar dos cansaços; e tenho profundo respeito pelas coisas boas que vivemos juntos.
Para viver é preciso coragem mesmo. Aceitar a missão da existência não é para fracos. E todos somos frágeis, mas não fracos.
Ouvi, também, sem jeito, o telefonema de F.J., que se disse arrependido de protestar contra meu ritmo metódico: “Sua vida é organizada. A minha é um caos”, disse-me ele. E depois falou das escolhas que fizemos e disse isso como se fosse possível apagar as mágoas construídas nesses dias de desentendimento, quando também fiz outras escolhas no coração e na vida. Os homens e sua eterna falta de cuidado com as mulheres... Quem pode com isso?
Minha vida não é organizada, eu é que tento organizar as coisas. Porém, se tenho algo a cumprir, eu cumpro. Tenho que organizar a vida e as coisas e, por isso, não vejo a vida sem organização e método porque não sei viver no caos. O resto é casca, é aparência, é coisa do julgamento alheio sempre tendencioso a crer que sou mais do que sou, que posso mais do que posso, que tenho mais do que tenho... De vez em quando, me despedaço.

domingo, 17 de novembro de 2013

15 de novembro, um feriado.




Se os políticos brasileiros são, em maioria, uns filhos da puta outra, uma parcela dos cidadãos são os pais. Entre os oprimidos sempre paira a sombra da aquiescência muda.
Depois de tantas embromations processuais no Julgamento do Mensalão, agora que dois ou três puseram os pés nos cárcere – coisa que não deve perdurar senão umas poucas semanas – não faltaram os que os defenderam publicamente. Vi, no Facebook, uma página em que os papeis são invertidos e Joaquim Barbosa é pintado como ditador, em oposição aos condenados (as vítimas). Imagino que se houvesse algum lapso moral do Joaquim Barbosa ou qualquer outro fato que pudesse ser adequadamente manipulado, teríamos uma terrível distorção da realidade histórica.
Declaro minha simpatia ao Joaquim Barbosa, um cara que procurou fazer o que ninguém antes dele fez: Justiça.
Os políticos sempre escapam das condenações. Há sempre o cerco corporativista, que faz semlhante defender semelhante.
Acho que quem vota tem sonhos, que torce por um país mais justo. Eu, a meu tempo, também acreditava em Lindeberg Faria, como um dia já acreditei em PT e outras coisas imaginárias que nos põe a sonhar que alguém um dia levará a sério as aspirações coletivas do povo.
Em minhas aulas, todo dia sou obrigada a discutir o conceito de povo, uma modalidade móvel e imprecisa. Também discuto a suposta Classe Média, que, como não é difícil concluir, é um termo elástico que os Governantes de todos os cantos do planeta manipulam, de modo a minimizar a interpretação da pobreza. Explico: uns acham que o que determina a pertença à classe média é a renda; outros, o estudo e demais capitais simbólicos. Ocorre que há uma flexibilidade no estabelecimento das rendas que limitam as classes, variáveis de país para país, mas que a gente pode até simplificar este raciocínio e depreender as manipulações que vão erar a impressão de justiça social e crescimento da Classe Média e conseguinte diminuição da pobreza.
Do meu tempo de criança para cá o Brasil mudou. É verdade: telefone era para poucos, carro era artigo de luxo; televisão e geladeira eram itens básicos conquistados a duras penas e infinitas prestações e, sim, havia mais pessoas passando fome. Parte das conquistas que temos deveu-se a alguma pequena mudança na política, outra é responsabilidade de ações externas que forçam certas medidas na economia interna com vistas a fomentar o comércio e escoar mercadorias. Daí por diante, a concessão de crédito sob juros sempre pesados confluiu com a redução de custos na produção de alguns artigos eletrônicos que, por seu turno, também reduziu seu tempo de vida útil.
Acho uma estratégia incrível que o poder político não se ocupe em melhorar o transporte público, a saúde e a educação, mas que até certo ponto seja concessivo para que os pobres comprem motos e carros financiados; adquiram planos de saúde e possa aderir a programas de custeio do curso superior na faculdade particular. É assim que se faz o país... Não li sobre isso, mas deduzi a partir da observação dos contextos que vivi e do quanto trabalho porque sou pobre, mas preciso dar conta do que é básico para minha vida, como cidadã.
Neste fim de semana o povo se esbaldou frente ao feriado de Proclamação da República que, coincidentemente, culminou na prisão destes dois ou três que totalizam oito, já que o nono, o Sr. Ricardo Pezzolato, valendo-se de sua dupla cidadania, fugiu para a Itália e deu um tremendo 'olé' em que o buscava para cumprir mandado de prisão.
Sei, pelo menos, que a República jamais cumpriu suas promessas e fez com que o nosso 15 de novembro se consubstanciasse em mais um feriado nacional, sem o menor valor de realidade na vida dos brasileiros.

sábado, 16 de novembro de 2013

Os embalos de outras noites




Nem ligo para o fato de hoje ser sábado de feriadão e eu não sair. Saí no sábado anterior, fui à Groove ver a gravação do DVD da banda cover dos Beatles, a Night Forever, me diverti, dancei e ainda dei uns pegas num Babacantropus Erectus de Neanderthal, um tipo primitivo que é primo da minha amiga Lu. Como eu queria mesmo aliviar as tensões, apostei e cedi às cantadas. Não tive ressaca moral, mas fiquei irada ao descobrir as páginas a que ele se associa no Facebook – tudo antifeminista, babacas, abobalhadas, fúteis e infantilóides.
O problema é também outro: O Babacantropus parece que pega mulher para provar a si mesmo que não é gay. Chato performático, Cirque du soleil, que aguentei muito mais pelo desafio e ousadia de ultrapassar minhas barreiras moralistas do que por opção consciente. E a prima dele, que é minha amiga, é gente fina. Vamos fazer de conta que eu não tive culpa: ela disse “fica!” e eu fiquei com o espécime primitivo. Não obstante, casa cheia, sala cheia, quarto cheio, após as quatro da manhã eu não tinha nem juízo nem discernimento e estava mais interessada em ocupar um lugar ‘ ao sol’. Bom, tudo isso é mentira: respondi aos apelos de minha carne. No entendimento da minha carne com a Outra carne, digamos que se não deu um filé caprichado, pelo menos o prato foi digno para matar a fome com seu tempero básico. E haja metáfora!
Ah, sim, o espécime era branquinho, musculoso by academia e prováveis anabolizantes moderados, sem repertório intelectual, estudante de Direito, 26 anos e ainda dependente de papai. Ponto final neste assunto, que entra na conta das diversões do sábado à noite, pois que eu andava cansada por estar carregando os fardos da existência etílica de outro ser humano que se instalou aqui em casa devido a um luto e uma crise.
No domingo fomos à praia do Flamengo. Para quem não dormiu nem três horas, até que resisti bem ao sol e à cadeira, mas depois que chegamos em casa, dormi às 19 horas e quase nem aguento comer ou tomar banho antes. Estive dopada de sono. Por estes antecedentes, perdoo meu feriadão atual em que reina a monotonia, o tempo nublado e um sono besta e persistente. Ainda penso em me abalar até à The House hoje à noite para dançar.
Vou ficar lendo um livro excelente que me devo a leitura e corrigindo chateações da universidade, textos, trabalhos e etc. Roupas para lavar, livros para ler e um coração meio esvaziado porque não pinta nada que mexa realmente com meus sentimentos ultimamente. Reajo ligeiro em casos de decepção. E se a fila não anda, também não empaca sempre. No resto, vivo as pequenas felicidades que me batem à porta e tenho o que fazer – o texto do Colóquio, o artigo da revista, as coisas para arrumar, os planejamentos, nada que não se misture à felicidade geral de estar em casa e na ativa. É divertido existir e isso às vezes basta!

sábado, 9 de novembro de 2013

Novos Capítulos de uma Velha História




O Ex-Grande Amor da Minha Vida, assim com iniciais maiúsculas de nome próprio, de experiência singular que se esvai no clichê de ser o Grande Amor da Minha Vida, como dizem os tolos todos, veio à Bahia nesta terça-feira.
Agora ele é superintendente e pode encontrar pretextos para fazer o que eu jamais acreditei que ele faria: vir para cá, para o estado onde moro. Sempre achei que fosse balela, quando ele me dizia para eu arranjar um curso, um evento, um pretexto acadêmico-empresarial para que ele pusesse os pés onde moro ou o mais próximo disso possível. Mas ele veio. E até ele vir, não acredite: deixei na conta das incertezas sem a menor importância.
E quando ele chegou ao hotel onde eu estava – porque fico lá independentemente dele, após as aulas noturnas que dou na universidade pública em Salvador – a camareira foi me acordar a pedido dele, pois eu estava num quarto single. Isso me lembra da passagem descrita por Milan Kundera, em A insustentável leveza do ser, em que Tomas lamenta que Tereza, antes de vir oferecer a vida dela a ele, deixou as malas guardadas na estação, ou seja...
Tomei banho e desci. Fui ao quarto dele (que seria o nosso). Meu coração não acelerou – amor morto – mas o dele me surpreendeu. Não obstante, após beijos e abraços (esses, sim, intensos como há seis anos), ele me perguntou se eu estava com frio... Se eu estava com frio num lado só do corpo. Então pensei que ele era bastante convencido por me deixar arrepiada e resolvi que estava bom o fato dos corpos da gente se entenderem.
Depois de F.J, passei a gostar de tatuagens masculinas. Ou talvez já gostasse sem me dar conta disso, porque fiquei hipnotizada com o “Santo Forte” tatuado no abdômen lindo do Tico Santa Cruz. O Ex-Grande Amor da Minha Vida fez uma tatuagem bem parecida com a de F.J.
Na abstinência da semana passada, vi um sujeito com tatuagem... nem vi o sujeito, só vi a tatuagem e morri de saudades de F.J – é, estamos separados e a culpa é minha... mas também tem coisas neste caso a se discutir.
Vou admitir de novo: afinidade sexual me conquista. Posso dizer que por um bom sexo, me vendo fácil, parcelo em cinco vezes e ainda dou troco. Decerto, não foi só isso: foi bom estar com ele, conversar com ele, sair com ele, dormir com ele...
Por falar em dormir com ele, que coisa chata é o convívio com quem ama ar condicionado. De manhã ele reclamou porque eu estive com frio a noite inteira. Morro de frio por qualquer coisa. Achei que um abraço quente compensaria para as duas partes: nada feito.
Ele enrolou um pouco, mas depois perguntou: “Você está malhando?” E eu respondi que sim, sem me atentar ao ato que faz apenas um mês e meio que voltei à academia. Isso não foi só uma pergunta. Acho que foi estranho, mas lisonjeiro, constatar que meu corpo talvez não apresente sinais evidentes das mudanças dos últimos seis anos em que ele não vê intimamente. Talvez ele julgasse que a esta hora eu já estaria acabada, despencada, flácida, sei lá... E ele falou que também voltou a se exercitar na academia.
Achei todas as descrições da vida dele um saco. Continua workaholic, mas não se dá conta disso. No caso dele, sinal evidente de que a vida doméstica lhe enche o saco: Disse-me que odeia o fim de semana, que já não sai para dançar, que algumas vezes chama os amigos para beber cerveja na varanda do apartamento e que reza pela volta da segunda-feira. Eu já vi este filme, não querendo, pois dizer, que acho ruim trabalhar.
Para confirmar as piores suspeitas dele (sei que ele me acha bem acima do que sou), numa daquelas incríveis piruetas feitas pelas coincidências e coisas improváveis, uma desconhecida ligou para meu celular. Resolvi atender, estranhando o número: era um convite para uma palestra, numa universidade pública – sei lá, mas a moça que me contactou assistiu a uma apresentação minha, em dezembro de 2010 e quando surgiu o evento, ela lembrou de mim, procurou o Programa de mestrado que cursei e catou meu contato. O Ex-Grande Amor da Minha Vida ficou fazendo gracinhas e sugerindo que iria rir do quanto eu cobraria. Ora, não sabe que é gratuito? Não sabe que não vendo minha presença? Não sabe que o ganho é simbólico? Bom, ele obteve , então, o certificado de minha fictícia vida glamorosa.
Foi muito bom passear e fazer coisas que não fizemos na primeira versão do nosso namoro. Mas houve algo de saudade e angústia também. Finalmente ele me provou que era verdade tudo que ele apontou como elemento responsável por nossa separação. Mas este será outro capítulo.