Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 29 de abril de 2013

"Mais louco é quem me diz..."




Na minha segunda aula, aliás, no meu segundo dia de aula na universidade, minhas alunas me cercaram no corredor do módulo para me advertir sobre a colega: “Professora, não sei se a senhora já percebeu, mas X é bipolar. Ela está no auge da crise hoje, por isso ignore se ela sair do controle, se fugir à normalidade”.
Surpresa: eu não sabia não. “De perto ninguém é normal”. Eu já disse aqui que minha amiga mais que Irmã é esquizofrênica, mas a crise só veio aos 30 anos; que na minha turma de graduação, na UEFS, eu tive duas colegas esquizofrênicas e que já desconfiei de amigos e alunos meus, mas daí a olhar para a cara e acertar no diagnóstico, nem Freud!
A gente faz loucuras e diz besteiras e se acha no direito de chamar louca, louquética, o que for. Mas no caso de minhas colegas de classe, era assim: uma delas, C., era apenas descontrolada e ansiosa, com alguns episódios de hipocondria. No trato das relações humanas, gostava de fazer vergonha moral às pessoas, do tipo que procura esfregar na cara dos outros os favores feitos, as coisas ou quantias emprestadas, desfazer do conhecimento alheio, enfim, um perfil que pode facilmente se confundir com o de qualquer pessoa normal, arrogante e sem noção. Depois de muito tempo, quando forcei que ela fosse ver minha analista, soube do diagnóstico: esquizofrenia.
A outra colega, M., era arredia: não suportava que tocassem na carteira que ela ocupava na sala, era comedida nos modos, mas alterava a voz por qualquer coisa. Passados dois anos desde nossa formatura, ela alegava a perseguição do Presidente da República, atrás dela, pelo campus, no ponto de ônibus e etc.
Minha amiga mais que Irmã desencadeou sua crise por causa de um amor contrariado: ela já delirava, fazendo de um maconheiro, vagabundo (jamais trabalhou, nesses seus 42 anos de vida), que levou 11 anos para se formar, um artista plástico. Ele cursava História, comigo. Ele levou 11 anos para se formar, só para não deixar de ser estudante e ter que provavelmente trabalhar. Para ela, ele é um artista plástico: este é o primeiro delírio. Daí a dizer que implantaram um chip nela, que o Governador a persegue, que os artistas da TV a procuram e a ouvir mais vozes do que se ouve em micaretas, foi um pulo.
Nesta noite passada, porém, meu primo e todo mundo da casa dele não conseguiu dormir. Ele me contou que a mãe dele, que já tem episódios senis, achou que ele fosse mata-la por estrangulamento. Tudo isso porque ele foi acompanhar a mãe da sala até o quarto, sentou-se ao lado dela na cama e começou a conversar coisas amenas, para ativar a memória dela. O gesto de arrumar o travesseiro e pegar nos cabelos da mãe, fez com que ela acendesse o delírio. Neste caso, é coisa mesmo da senilidade, quadro específico que eu não sei dizer o nome, mas que redunda na paranoia.
Ela quis fugir da casa dele, gritou por socorro, falou barbaridades e, assim como eu, o filho do meu primo se pipocou em risos. Contando, a gente ri, porque não faz o menor sentido, é engraçado. Porém, ela não dormiu e fez barulho para que ninguém dormisse, com medo de ser morta pelo filho único – e até disse que os bens dela já eram todos deles, para quê mata-la? Sei é que o que nos fez rir, deixou meu primo exausto e entristecido. Ao perder o juízo, a pessoa que a gente ama já não está mais ali. É só um corpo, sem as memórias, sem o reconhecimento, sem a sanidade...
Minha aluna, porém, me chamou também ao canto, me explicou da bipolaridade, me preveniu do ocorrido, checou o que eu sabia e mostrou que ser bipolar não é viver apenas oscilações de humor e os altos e baixo que decorrem disso: a realidade é distorcida, a vida corre ao contrário, há pesadelos enquanto se está acordado, mil coisas...
Sei lá, acho que nossa época é propensa ao desequilíbrio.
Pode parecer cinismo e ironia, mas acho meio abiloladas, piradas e malucas essas pessoas que distorcem a realidade social, sabe? Porque a humanidade não erra em favor do próximo.
Então fica esse povo noticiando as atrocidades cometidas por bandidos em geral, e por bandidos menores de idade em especial. Mas aí atenuam a situação, querendo pôr sobre a vítima a responsabilidade da violência sofrida: o coitado do bandido não teve oportunidade na vida, é pobre, tem desejos de consumo não saciados, é esquecido pelo Governo, é excluído. Por isso mata, violenta, assalta, queima as pessoas vivas, estupra e etc. E aí eu olho para mim e para meus amigos que não tiveram oportunidades na vida, que somos pobres, que temos desejos de consumo não saciados, somos esquecidos pelo Governo e excluídos, e a gente se vira, estuda em escola pública, trabalha, lê, se vira ainda mais, se sacrifica e não mata ninguém.
Até Tati pensa assim: todo marginal tem razão de ser marginal porque a sociedade cria neles desejos de consumo aquém de suas capacidades aquisitivas.
E os defensores dos menores de idade jamais percebem que eles sabem o certo e o errado e que se têm astúcia para matar, roubar, estuprar, mutilar e torturar devem responder criminalmente pelo que fizeram. No modo de pensar desses aí, a vítima que se lasque, pois vítima maior é o coitadinho infrator, que é vítima do sistema. Responsabilidade, zero.
Tantas vezes o menor infrator monstruoso atinge um menor de idade e o povo fica romantizando, invertendo a lógica para favorecer o assassino!
Estes aí, sim, para mim, perderam o juízo: já não atinam entre a realidade e a fantasia, talvez porque nunca sentiram na pele a mão pesada do assassino, acham que tudo é exagero e responsabilizam o Estado pelo que é ato e responsabilidade pessoal. Todos nós temos escolhas: podemos fazer o bem ou o mal. Quem não tem sanidade mental e se desequilibra, não responde por si. Que pena que as pessoas perderam a noção dessas fronteiras.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

José Saramago e os Canibais


Na noite de segunda-feira eu assisti parte do documentário sobre José Saramago, que passava na série "É tudo verdade", do Canal Brasil (quem puder, acompanhe porque os programas são ótimos!). Nele, chama menos atenção a genialidade do escritor que a empáfia, tirania e antipatia da esposa dele, Pilar.
Há um trecho em que ela está defendendo a Hillary Clinton e afirma que a senhora estadunidense a representa. José Saramago a retruca, dizendo que aquela senhora sequer sabe que ela existe e que muito o espanta que Pilar diga se representar por uma mulher daquela.
Frente a isso, Pilar argumenta a magnitude e superioridade moral da Hillary em comparação ao marido, que se deixou flagrar em caso extraconjugal com a estagiária Mônica Lewinsky.
Para Saramago, Hillary fora movida pela ambição, não por superioridade moral. Hillary queria ter sua fatia de poder, tinha planos e ambições. Pilar concordou, que é precioso ter ambição; as mulheres precisam ter ambição. Na mesa de conversas, mais alguém diz à tirana Pilar: "Mas tu és feminista demais, além da conta!". Ela diz que é assim para compensar as mulheres que não são.
Depois, quando se torna presidente da Fundação, diz ao entrevistador: "Só os ignorantes me chamam presidente. Os inteligentes me chamam Presidenta".
Isso é um resumo pífio do que se vê no documentário, além, logicamente, da grande declaração de amor que o escritor faz a esta mulher antipática e tirana como poucas que se possa ter notícias no planeta terra.
Que não defendamos as simpatias burras dos sorrisos plásticos para cativar a mídia, mas esta senhora é, sem dúvidas, um ser humano desprovido de um mínimo de atributo de sociabilidade.
Para uma pessoa que se intitula feminista, a ignorância política é, também assustadora: confundir as necessidades de ambição política das mulheres com as ambições de poder de uma senhora norte-americana é, pois, uma exemplificação incontestável de estupidez.
Há, porém, momentos de uma lucidez esclarecedora: comentam o quanto as obras de José Saramago  são discutidas no Brasil. Pilar, diz, então, que 'Portugal acha as universidades brasileiras uma merda!'. Acham mesmo e desqualificam nossa capacidade intelectual.
Não obstante, somos nós a fazer piadas com eles.
Mas o colonizador sempre subestima o colonizado. Vejam os esforços dos teóricos latino-americanos no sentido de refletir sobre a própria intelectualidade de nossos países.
Hugo Achúgar, em Planetas sem boca: escritos efêmeros sobre Arte, Cultura e Literatura (UFMG, 2006) trata disso muito bem, colocando lá em questão o Balbucio Teórico latino-Americano - retomada irônica das afirmações europeias de que não falamos, mas balbuciamos.
Entre Própero e Caliban (anagrama de canibal, né, cara pálida?), ainda supõem um estado tal de selvageria na América Latina e correspondente incapacidade de traçar pensamentos coerentes que daqui se presume a incapacidade de pensar.
Nem falo dos demais teóricos que não somente contestam o estereótipo da baixa intelectualidade latino-americana, como mostram que se há desenvolvimento desta ordem no mundo europeu, ele se fez alimentado pela política extrativa, que pode tirar as riquezas dos países colonizados e usá-las a favor do crescimento material e intelectual das Metrópoles colonizadoras. Por aqui e por outros países e continentes colonizados, as pessoas estavam ocupadas tentando sobreviver, buscando independência, buscando centralizar Estados e Governos... E nisso não se neguem as alianças dos Governos ou representantes dos oprimidos com os opressores e os aspectos facilitadores da dominação e da conquista.
Em 2010 falei disso na UFF, na JALLA, porque questões Latino-Americanas nem sempre são questões Ibero-Latino-Americanas - porque o distanciamento linguístico é extensão do distanciamento cultural do Brasil frente aos seus vizinhos; de que ele também se valeu para explorar, pois também o Brasil vestiu o capuz de algoz... Mas este é outro papo, deixa para lá, que fique apenas a pertinência da observação de Pilar quanto ao que esperam das universidade brasileiras.
Logicamente, ninguém por aqui é incentivado a pensar. A atividade intelectual é desestimulada mesmo e a vida anda dura demais para que as pessoas se desviem da função de ganhar o pão-de-cada-dia ou vão abdicar de suas micaretas e cervejas para pensar sistemas de Governo, contextos históricos e coisas paradoxais. Mas sempre tem quem faça isso. Pode não ser uma coisa estatisticamente significativa, mas tem, sim, quem se encarregue de desvelar os elos das cadeias de exploração, de reprodução, de estereotipificação e etc.
Pensamos e sabemos fazer pesquisa. E mesmo se assim não fosse, lemos e nos apropriamos antropofagicamente de muito do que vem de fora, como bons canibais que somos!
Falando nisso, quando dei ao meu livro o título de Todas as mulheres se chamam Maria, teve ali o palimpsesto, a canibalização de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago, creio que por influência desta passagem: " De certeza que a mulher ajoelhada se chama Maria, pois de antemão sabíamos que todas quanto aqui vieram juntar-se usam esse nome..." (p. 08).
E no momento, coincidiu de eu estar escrevendo um artigo sobre este escritor português - engaveto minhas ficções e já prometi que o livro só sai a público quando os restinhos do muro/parede que tenho a derrubar caírem; da produção intelectual, não tenho a menor vergonha, nem receio e tanto assim que doei minha dissertação ao Domínio Público, meus artigos estão todos disponíveis pela internet, nos sites da UNICAMP, da UNEB, da UFF, com a ressalva de que lá está meu nome completo; e porque Mara Vieira é parte do nome. Não tenho medo de ser canibal. Quem não é, não sobrevive!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

So far away in sofá!


Até que me adapto bem à solidão. Gosto de estar só. Não gosto é de estar só todo tempo... Creio que tenho receio em dizer que gosto de companhias de fim de semana. Parece ortodoxo dizer isso, parece metódico também, como se houvesse dia e hora para as coisas, para as pessoas.
Neste sábado fui mesmo ao show da 80 na pista. Fui acompanhada, com a pessoa errada, porque afinal era sábado, chovia e eu estava a fim.
Antes, porém, meu Deus do Céu, que esforço eu fiz para o Zé Bonitinho entender que eu queria ficar sozinha em minha casa, à tarde. O cara passou dos limites: me ligou na hora do almoço, eu disse que estava almoçando, ele perguntou o que eu estava comendo, ele se ofereceu para vir almoçar comigo, ele ignorou meu desejo de ficar sozinha e quando finalmente eu disse "Não venha!Eu não quero!", foi necessário reforçar e dizer que eu estava de má vontade. Traduzindo: "Porra, moleque, se toca!eu não quero ver você, eu não te quero em minha casa, eu não estou a fim, eu nunca estive, vê se vai para o inferno e fica por lá!". Eu não disse conforme a tradução, mas acho que deu para traduzir, né? e olha que minha indignação e falta de paciência é tamanha que eu sequer usei aquela marquinha que eu uso nos textos para camuflar os palavrões ou o que eu realmente quero dizer, isto é, "Porra, Caramba, moleque!" - recurso de censura sonsa e inútil que eu uso por aqui porque sei que tem um bando de gente certinha, vigilante da moral, dos bons costumes e do politicamente correto que lê esta porra este blog.
Voltando à questão, eu não ando a fim de papo furado com gente previsível  e suas respostas prontas. Para quê convidar que não vai à festa? para quê esperar por quem não vai chegar? para quê perder tempo com expectativas que não irão se cumprir? Por isso, peguei minha companhia pela mão, fui à festa e lá encontrei Suzane, já reatada com o pilantra cafajeste traidor. Acrescento que aquela loira fica tão feliz quando o whisky entra, que paro por aqui qualquer comentário sobre a péssima decisão da moça.
Olha que coisa revoltante: chovia, teve pouco público e, excepcionalmente, só porque eu estava acompanhada, "It's raining man!". É, choveu homem! Parece que soltaram todos os heterossexuais de Feira de Santana na noite do sábado. E eu, claro, levei a marmita para o banquete surpresa. Fiquei lá, olhando o emo oferecido se esfregando em mim na hora da dança, todo fofinho, branquinho, gostosinho, com cabelinho do Beatles e etc., mas olhei, desejei e fiquei quietinha.
Nunca na história da República apareceu homem heterossexual livre nas festas da banda 80 na pista. Takiupariu!!! Tinha um idiota lindo, cheio de álcool  e felicidade, sozinho e à procura.
Lembrei de minha Amiga Mais que Irmã, quando dizia: "pelo menos agora o povo sabe que a gente não é sapatão!", porque a gente nunca namorava na festa, quando a gente ia ao extinto Santana, no Rio vermelho, assistir ao Beatles in Senna e The Cents. Como a gente não pega qualquer coisa (pior para mim que além de não pegar qualquer coisa, só pego quem me pega!), era comum ficar sozinhas. E nestes tempos pós-modernos em que todo mundo é alternativo e pansexual, era bem capaz de acharem que a gente era do babado.
Vim, vi e voltei para casa na madrugada e tomei o cuidado de desligar meu telefone durante a manhã de domingo, para dormir o sono dos justos. Dormi e fui feliz. Aproveitei a companhia da pessoa errada porque era a coisa mais certa a fazer. Ponto final.
Não telefonei para ninguém. Já imagino os contatos chatos, a necessidade de mentir para manter as amizades, porque afinal, quem aguenta  a verdade? E a verdade é que ando de saco cheio de má vontade, de corpo mole, de enrolação, de planejamentos sem ação efetiva, de esperar, de desentendimentos, de gente sempre certa, de contar centavos, da banca dos que eventualmente fazem a gentileza de dar a carona da volta e se acham os salvadores do mundo, como se consumisse um litro de gasolina - graças a Deus baixou por aqui o preço! - a cortesia... Ah, que saco! E os papos delirantes com gente que não admite os erros nem enganos próprios...Ah, me cansei disso. E quando me canso, fico em silêncio.
Gosto de Micareta, devo ir me divertir sexta, sábado e domingo, me perder pelos barracões da UEFS e ponto final!Não pego carona na caretice, não. E sei fazer a festa!
Não tenho o menor constrangimento de fazer como os Los Hermanos e sair no Bloco do eu sozinho: Companhia pode ser opção nossa.
Como hipocrisia não é meu sobrenome, aproveitei a companhia errada, amassei, abracei, beijei na festa, arrastei para o meu sofá e matei minhas carências...
E como gosto de música e de instituir trilhas sonoras, a deste sábado foi a cara bem flashback, be retrô de Hurts to be in love:


More and more
Your kiss is like a half opened door
I can't get in
You stop me just before I begin

And it hurts to be in love
When you never ever get enough
Oh it hurts to be in love

This endless urge
Keeps my body right on the verge
We touch and then
I wanna do it all over again

And it hurts to be in love
When you only want me half as much
I tell you it hurts to be in love

I'm always worried you think I'm pushing
too hard
Oh baby it hurts me when you tell me I'm going
to far
We touch and then
I wanna do it all over again
And it hurts to be in love
When you only want me half as much
I tell you it hurts to be in love
It hurts
Baby it hurts



sábado, 20 de abril de 2013

"A estrada é longa, o caminho é deserto..."


Eu estava conversando com a minha amiga loira e toda poderosa a respeito dos relacionamentos esquisitos, dos pares descombinados, dos casais formados a partir do desespero de causa e dos que são mantidos por desenganos mútuos. Estes últimos, então, imperam: o povo se separa, experimenta sentar em novos galhos, mas acabam retornando à relação anterior porque não acharam coisa melhor.
Apesar das falhas, yes, precisamos de homens!
Lembrei de Tati, me dizendo que nem a pior solidão do mundo a faria namorar uma mulher. Endosso esta afirmação, até porque, já temos amigas. Além disso, não há nada que eu queira num homem e uma mulher possa me dar. Estamos vendo um bando de gente se reinventando e outras se repetindo. E como eu já me repeti! 
Mas falamos das exceções também: nossa amiga C., que após muito chororô e antidepressivo, se lançou num outro relacionamento, constituiu um novo casamento e é visivelmente feliz. Este 'ser feliz' não é aquela felicidade feita de plástico, de família de comercial de margarina: é felicidade humana mesmo, com altos e baixos, sorrisos e problemas, como cabe a ser humano de verdade.
E posso falar de Leila, que teve quase que exatamente as mesmas experiências que eu, com a diferença de ter sido casada. Com o marido, após a paixão do início, tudo era uma chateação constante. Com o zero dois, isto é, o sucessor, nosso colega de trabalho, chifres e chateações; com o zero três, o convívio com o machismo e o ciúme patológico; no zero quatro, pegou um avião para São Paulo e lá ficou com ele até perceber as loucuras do cotidiano de trabalho dele, em correrias, perdas e ganhos de deixar qualquer pessoa pirada. Pequenas dízimas escandalosas depois, em casos fortuitos e finalmente, o zero cinco com quem está em paz até hoje.
Amor é sorte. Diga de novo tia Rita Lee: "Sexo é escolha, amor é sorte". E não falo em sorte sem citar a minha outra amiga loira e toda poderosa, a única na história da humanidade a encontrar marido na balada. Ela estava triste, infeliz, no fundo do poço, porque o ogro gorducho desmanchou a relação e disse que estava "dando um tempo". Ninguém é burro o suficiente para não saber que o 'tempo' é o fim e na melhor das hipóteses, é deixar o outro em stand by para o caso do novo relacionamento não dar certo. Velha teoria aprendida com os homens, na Lei do macaco: "Não se larga de um galho antes de se estar firmemente agarrado a outro". Mas a belíssima loira conheceu o atual marido três meses depois de levar um kick ass, vulgo pé na bunda.
Hoje ela é humanamente feliz e o ogro gordo já deve ter visto o que perdeu. Perdeu, mano!
Mas no quadro geral das coisas, as pessoas até querem chutar longe as insatisfações. Porém, recuam por saber que a maré não está para peixe.
Chato isso: fica um bando de gente legal atada às pessoas erradas. Deste modo, as pessoas legais nunca vão circular entre si.
E ninguém aí seja ingênuo suficiente para achar que os feios estão sozinhos. Os ogros pegam geral, as mulheres perdoam barrigas, carequices, feiuras crônicas, narizes estranhos e cabelos esquisitos e isso vem de longa data.Vale notar que apesar de nós, mulheres, buscarmos o devido cuidado com a apresentação pessoal, a feias estão arrasando. Já disse isso antes: se vemos tantas mulheres feias grávidas, é porque alguém faz sexo com elas. Se há gente feia circulando no planeta, é porque veio da genética de gente feia - seja o pai ou a mãe. Logo, gente feia pega gente e não está sozinha.
Depois de relacionamentos que dão "dor-de-cabeça", é natural a gente comemorar a solidão - e quantas vezes eu disse aqui, que não há solidão pior do que a companhia de um homem sacana? disse e creio nisso.
Mas a gente quer, sim, um relacionamento. Um que preste. Se for para ser ruim, a solidão causa menos estragos.
Com o aperfeiçoamento dos vibradores, então, melhor se divertir com um artefato erótico inanimado que se move mais dos que certos seres humanos parados ou incompetentes, que mexem num clitóris como quem quer tirar mancha de tinta do sofá. Daí porque, em muitos casos, melhor ficar sozinha. Mas se puder aparecer alguém que tenha afinidade sexual, melhor ainda. Os complementos, como abraço, calor humano e interação realmente fazem falta - a longo prazo.
"A estrada é longa, o caminho é deserto" - e tomara que haja um lobo interessante por perto!
Mas o que concluo disso tudo é que as mulheres sabem se virar sozinhas. E em muitos casos, vale a espera pacientemente por alguém que valha a pena e, 'enquanto seu Lobo não vem', dá para se divertir. E se ele não vier, tem o caçador e outros personagens nessa história...

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Dia do Índio: memória das tribos


Hoje é dia do índio. Repito o clichê: antes, todo dia era dia de índio. Hoje eles nem têm terra e só têm um dia.
Os índios, hoje, estão muito miscigenados, mas nem por isso são menos índios. É que causa espécie encontrar índios fenotipicamente negros, mas na Bahia e no Amapá, eles existem, já com os pudores civilizados, integrados à lógica capitalista que construíram para eles.
Lembremos meu querido, grande e fenomenal Antônio Torres, em Meu querido canibal:
"Até eles chegarem, os índios não sabiam que eram índios. Ou antes: não  eram índios nem nada. Eram só um outro povo. Foi o primeiro branco que pôs os pés na América ( o famoso genovês de tanta glória e triste história) que os chamou assim. Tudo começou com um equívoco ou uma sucessão de acasos, como as professorinhas primárias sempre nos ensinaram." (TORRES,2004, p. 19).
E somos condicionados, pela cultura, a acreditar que índio é burro, selvagem, indolente...Ideias que nunca vingaram para mim, porque sempre desconfiei das receitas prontas, da história ensinada na escola e do senso comum.
Aqui brinco com a tribo dos Papachanas, os índios imaginários que adoram mulher, que são heterossexuais, canibais sexualmente falando...Tribo boa, em fase de extinção... 
E cito os Índios Aquidaoânus, tribo imaginária de gays aborígenes. Só brincadeiras porque da história real dos índios brasileiros, o final é trágico.
 A ficção de Antônio Torres dá conta do verossímel e da história da Confederação dos Tamoios, dos Tupinambás:
"Morreram todos.
Todos os que já sabiam que iam morrer.
Potira morreu romanticamente ao lado do seu louro Ernesto.
Morreu o papagaio francês, que resistiu tanto quanto pôde como um autêntico confederado.
E Pindobaçu, o velho Grão Palmeira.
Morreu Iguassu, a amada de Aimberê.
Foi uma carnificina.
Aimberê morreu de pé, como Cunhambebe, o terror dos perós, achava honrado morrer.
E era uma vez os grandes índios.
Não tiveram escolha: escravidão ou morte."
(TORRES,2004, p. 95)
Esta é a história. A história mesmo, quem dá conta é a ficção.
Mas aqui em meu país, idolatram e louvam os brancos, os europeus. Caso surpreendente de simpatia pelo algoz e de desprezo pelas vítimas.
 Isso tudo de luta, coragem, algoz e vítima me fez lembrar a primeira briga real que eu tive, briga de colégio, durante uma partida de handball: a verdade é que a moça de 21 ou eram 23 anos, avançou em mim por saber que o namorado dela me beijou na micareta - eles separados, eu livre - tinha eu 14 anos, o jogo foi só o pretexto. Sei que essa moça era puro músculo. Sei, também, que levei uns três tapas na cara, perdi um dos brincos de ouro que minha tia havia me dado. Mas ainda assim não conseguia desgrudar minhas unhas da pele dela: e levei bons pedaços da pele do braço. Sem arranhões: eram pedaços mesmo: fiz buracos com as unhas, cravei com um ódio intenso as unhas na pele de quem perturbou meu sossego. Apanhei, mas não caí, nem morri. E enquanto há vida,há porrada mesmo!
Tudo foi surpresa: eu estava na beira da quadra, tinha jogado um tempo regulamentar.
Lembro de décadas depois, quando tive medo de fantasmas na casa dos professores. Não tenho medo de gente, neste sentido. Acho que sou belicosa, embora eu não seja violenta. Mas creio que o ser humano tenha uma certa sede de violência. tem gente que não sabe conversar, que não chama o outro para dirimir a divergência, que fala mal pelas costas, que faz o inferno... Isso passaria no embate físico que alivia os ódios. É, herdei esse orgulho de não ser covarde. não sou.
Enfrento a vida, já é prova de coragem.
Não tenho medo, nunca tive, de gente maior de que eu, mais alta, mais forte, mais musculosa: na adrenalina da briga, a gente cresce.
Talvez seja herança da raiz indígena de minha bisavó, apesar de puxarem a brasa para o sangue quente italiano do meu bisavô, Michellangelo.
Penso como um indígena confederado: se a luta está posta, vamos a ela, mesmo sabendo da morte provável.
Nem sempre impera a sabedoria paciente dos meus antepassados negros ("Espere com paciência, aja com rapidez").
 É preciso nunca esquecer a história, apesar da história contada e escrita apagar os vencidos, os dizimados, os desaparecidos, os trucidados. Louvemos à memória dos corajosos, cujo legado foi e é constantamente distorcido em favor da criação de um consenso sempre favorável ao mais forte.
Hoje é dia 19 de abril!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Tente! (Gotta get up and try, try, try! )


Eu estava ouvindo Try, da Pink e aconteceu de à noite eu conhecer o clip: adorei. Acho que nunca havia visto a expressão corporal de Pink com tamanha maestria, num clip realmente bem feito, insinuando dança, interpretação, amor e brigas quase numa outra versão de tango, uma coisa pop e ao mesmo tempo clássica, se é que o comparativo é justo.
Gosto da letra, lógico, até porque concordo que onde a chama do desejo arde, alguém sempre acaba se queimando. A letra toda é interessante, a sonoridade é ótima também.
Acho que neste sábado eu não irei ao show da 80 na pista. Sei lá, bateu um troço interior em mim de bicho recluso - é que tenho que pensar numas coisas, decidir umas coisas... Ou é porque não gosto do Botekim; ou porque me canso de alguns rituais chatos. Não é a festa que é um ritual chato, não: são outras coisas.
Bom, mas devo dizer que hoje Deus esteve de bom humor comigo. Primeiro, porque fiz um pedido e Ele atendeu por SEDEX, delivery.
Segundo porque agora à noite Ele brincou comigo: fui atender a um telefonema, de número que eu desconhecia. A voz diferente, o número diferente e eu de coração feliz, achando que era Rodrigo. Pensei logo: será que o meu primo Nanno deu meu número a ele?Depois, ouvi o riso do meu amigo (aquele do café da postagem anterior).
Brincadeira mesmo foi o que Deus fez há pouco: o miserável do Zé Bonitinho me ligando, me rastreando... E eu mentindo de novo, inventando ocupações que em teoria encheriam minha agenda até 2015.
Bom, mas obrigada, Senhor, porque escapei.
Olhando a letra da música de Pink, em sua narrativa de um amor contrariado, das dores-de-cotovelo de quem se apaixona, dos ciúmes e do comportamento traiçoeiro dos homens, até que meu sonho de um sábado bom seria diferente: um edredom, uma boa companhia masculina, música boa para ouvir a dois, sei lá, uma reprise do dia 13 de janeiro deste ano seria perfeito!
Não sei como podem haver múmias que não querem nada num fim de semana, não saem, não planejam, não existem, não sonham... Se reclamo da vida, é porque estou viva, consciente e viva.

Ever wonder ‘bout what he’s doing?
How it all turned to lies?
Sometimes I think that it’s better to never ask why

Where there is desire there is gonna be a flame
Where there is a flame someone’s bound to get burned
But just because it burns doesn’t mean you’re gonna die
You gotta get up and try, try, try
Gotta get up and try, try, try
Gotta get up and try, try, try

Funny how the heart can be deceiving
More than just a couple times
Why do we fall in love so easy?
Even when it’s not right

Where there is desire there is gonna be a flame
Where there is a flame someone’s bound to get burned
But just because it burns doesn’t mean you’re gonna die
You gotta get up and try, try, try
Gotta get up and try, try, try
Gotta get up and try, try, try

Every worry that it might be ruined?
Does it make you wanna cry?
When you’re out there doin’ what you’re doin’
Are you just getting by?
Tell me are you just getting by, by, by

Where there is desire there is gonna be a flame
Where there is a flame someone’s bound to get burned
But just because it burns doesn’t mean you’re gonna die
You gotta get up and try, try, try
Gotta get up and try, try, try

O café de amanhã


Tomei café com ele ontem, ao sair do shopping. Café bom e feliz, sabor de reencontro com o meu amigo. Às vezes ele interpreta mal nossas afinidades, supondo que elas sustentariam um bom relacionamento amoroso. No fundo, eu queria saber isso: será mesmo que essas pessoas que são nossas amigas, que são afins conosco, que têm paridade cultural, intelectual e política, será que seriam bons pares amorosos?
E se não forem bons pares amorosos esses sujeitos com os quais tenho afinidades, sei que a distância cultural me afasta dos candidatos. Difícil namorar um sujeito bronco! Diferenças socioeconômicas a gente negocia... Diferenças intelectuais são difíceis de superar.
A gente se parece mesmo: da aversão ao álcool, ao gosto por cinema, por literatura, por trilhas sonoras da vida real. Se esta fosse a tampa da minha panela, tudo fecharia direito, mas não seria esteticamente adequado: aconteceu de eu gostar dele como amigo. Aí a gente muda os planos divinos ou eterniza a afinidade porque a amizade é bem mais durável que o amor.
Nunca reparei, porém, se ele tem o coração cheio de mágoas como eu. Nesses dias recente em que estive com Ilmara, ela relembrou o que eu disse ao chegar ao campus: “Se alguém tiver algo a me dizer, me diga, porque prefiro a verdade. E não costumo perdoar quem me magoa!”, que ela interpretou como se eu estivesse a dizer para tomarem cuidado comigo, para não me magoarem... Com o tempo ela viu que não era uma escolha minha: eu sou assim, não consigo costurar laços e vínculos com que foi falso, com quem me magoou. Para ser bem sincera, geralmente eu ‘apago’ essa pessoa de minha história, isto é, não escrevo, não mando lembranças, ignoro tudo, sepulto a pessoa. E fico constrangida se me perguntam por alguém que caiu no meu rol de esquecimento.
Há um esforço em criar consensos, em determinar que todo mundo deve perdoar, fazer por viver, trocar sorrisos... Para mim, não dá: por vezes até sigo gostando do amigo falso ou do colega de trabalho que fez infernos contra mim, mas aquele amor de amigo com traços de mágoa, da certeza de que naquele lá eu nunca confiaria, ou que não vale a pena a aproximação. Por isso digo que realmente, não perdoo. Se houver situação social que force o convívio, sou cortês, mas distante – também não mando convites de amizade pelo Facebook e muito me preocupa que a máquina tecnológica fique a sugerir amizades com gente que já é inimiga, mas amiga dos meus amigos; e oxalá teria o programa enviado convites em meu nome a gente já excluída de minha vida?
Juro: nunca abri uma página de Facebook de inimigos meus ou de gente já eliminada de minha vida. Não tenho o menor interesse, se casou, se separou, se morreu, se se deprimiu, se ganhou na loto ou se foi homenageado pelo governo norte-americano. Para mim, morreu e nunca mandarei flores.
Queria que a recíproca fosse verdadeira. Mas o que poderia ser verdadeiro num inimigo meu, se todos que assim eu classifiquei foi por motivo de flagrante delito de falsidade contra mim?
Namorei homens diferentes de mim. Já são diferentes de mim por serem homens. Mas eram diferenças boas, não eram distâncias insuportáveis, distância ideológicas como as que haviam entre mim e Lee, por exemplo; coisas inegociáveis como as que cercaram minha vida com C.
Preciso tomar mais café...

terça-feira, 16 de abril de 2013

Levando um bolo (tragédias de aniversário)


Meu aniversário, neste ano, foi superior a qualquer expectativa de tragédia. Sabe quando o Caetano Veloso está cantando assim: "Tipo de amor que não pode dar certo na luz da manhã/e desperdiçamos o blues de Djavan"? Pois é, não podia dar certo.
Deu certo tudo, o tempo todo, no plano das ideias.
Uma coisa é o que os amigos planejam, outra coisa é o que eles executam.
Desperdicei meu tempo, meu dinheiro e minhas expectativas viajando no planejamento das amigas.
Fico quieta em minha casa: vem a primeira proposta com Salvador,Guarajuba, praia, sol, shopping e etc que, claro, pela magnanimidade da coisa não poderia ser levada a sério.
Reduzo a proposta recebida a uma possibilidade realista: um bolo e algumas conversas no Bar dos Fracassados (nome real do Jeca). Ok, combinado!
Estou quietinha, calma e calada e me vem a proposta número dois: encontrar a turma do Corpo de Bombeiros para conversa e bolo no Seu Zé Lounge Bar - um Lounge longe de minha casa.
Bateu o recalque eu eu resolvi que teria mesmo bolo em meu aniversário. Fiz a encomenda com a minha amiga Girafa (Márcia).Fui lá buscar, conversei, comprei bobagens, conversei bobagens e voltei para casa.Ela me deu o bolo de presente!
Estou lá, meio ansiosa e me vem a terceira proposta: Zé Bonitinho queria sair. Dei-lhe a resposta sem rodeios: "Não!'. Dei satisfações de minha vida além do necessário, respondi, insisti que a gente não combina, blablablá e ou ele se cansou ou se compreendeu.
Saio do banho, mais ansiosa, vejo a hora passar, a amiga recebe torpedos bem claro,responde de maneira genérica e vem a quarta proposta, do meu ex.
PAUSA: Meu ex é ex porque cansei dos chifres. Até recentemente,imaginei que a amante dele fosse atriz da novela das oito. Com o acidente (causado por ele)que espatifou um muro, um portão e uma moto,justamente o povo do Corpo de Bombeiros foi registrar a ocorrência. Entre um passo e outro - isto porque a amante do meu ex, diante do acidente, mui sabiamente, picou a mula para bem longe deixando o circo pegar fogo - as meninas reconheceram a nossa manicure. Descobri que quem eu supunha a atriz da novela das oito é simplesmente Aninha, a manicure. Esteticamente, ela é negra, gorda (semi-analfabeta é detalhe cultural) e tem 38 anos.Gorda é gorda, não é despeito nem distorção. Ela tinha vergonha de mim e ele (meu ex) tinha vergonha dela.Para quem ama, se ama, não há apelo estético que desminta um grande amor. Tá bom: mexeu com meu ego. A gente sempre espera ter sido traída devido ao peso da tentação. Não foi o caso: o peso era outro.
VOLTAMOS À PROGRAMAÇÃO NORMAL
Meu ex queria ir comigo ao Seu Zé, comemorar meu aniversário. Eu disse-lhe um não convicto!
E assim, as dez da noite bateram no relógio, fui me comunicando com este povo das propostas Um e Dois e o que eu soube é que a amiga da proposta nababesca disse não ter combinado ir me buscar em casa com bolo e tudo e o povo do Corpo de Bombeiros se picou antes de começarem a cobrar o couvert da banda que lá estava.
Não fui avisada que ficariam por tempo tão determinado, embora soubesse que elas lá estariam a partir das oito da noite.
Chorei uns vinte minutos, esperei pela amiga que disse que não disse que iria me buscar, pois novamente o tempo passou e ela não vinha nunca. Peguei um táxi, peguei meu bolo e fui encontrar Paty no Seu Zé.
Em casa é que eu não ficaria.
Depois apareceram as meninas - a saber, a amiga que me deixou à deriva e a acompanhante.
Foi uma noite esquisita, com clima de desentendimento, desconfianças mútuas e a certeza de que eu não acatarei propostas, promessas ou seja lá o que for de ninguém, especialmente para o meu aniversário.
O dia foi ótimo e a noite foi assim.
Recebi telefonemas de gente que me considera e a expressão sincera delas foi bem mais significativa do que a formalidade fria e hostil dos aparentemente amigos.
A promessa está feita e, aliás, nisso eu deveria seguir Ilmara, que não gosta de glamouramas, festejos e chatices no aniversário dela.
Onde falta sinceridade, só pode exceder contrariedade: Deus me livre de dar ouvidos a este povo nunca mais!
Levei o bolo para festa, tomei bolos no sentido figurado...
Vamos ver se o que saiu estilhaçado pode se recuperar, mas creio que há uma sinceridade gostosa na solidão e realmente estar sozinha me traz menos problemas do que acreditar no potencial de companhias incertas.
Paty e Márcia foram excepcionais: podem literalmente dizer que salvaram a minha noite. E do meu aniversário deste ano,digo apenas que estaria melhor se não tivesse escutado proposta alguma. Parabéns para mim, que sobrevivi.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

um dia de segunda


Nesta minha segunda-feira, sinto como se eu tivesse defendido o castelo de Grayskull, houvesse matado uns cinquenta zumbis do Walking Dead, ajudado o Capitão Nascimento a subir o morro e matar Baiano, o traficante; ouvido por três horas os lamentos chatos da amiga ninfomaníaca (gente, o psicólogo disse que ela transa com um bando de gente porque é carente. Que Beleza!), como se eu tivesse escrito oito relatórios, doze pareceres, vinte planejamentos, preparado uma feijoada e após tudo isso tivesse voltado para casa de ônibus lotado, sob um sol tão forte que frita os ovos da galinha ainda dentro delas.
Metade disso tudo por culpa minha, que li errado um oficio recebido; ou li só um, sem ler a retificação...Ora, sei lá: errei e me dei mal. Mas, salvo isso, meu ex, bêbado, derrubou um muro ontem à noite e o povo liga é para mim...Agora percebo que minha segunda-feira começou no domingo à noite.
Há pouco recebi um e-mail em que um cara interessante, potencial candidato a amassos,dizia jamais conseguir falar comigo ao telefone. Verifiquei o nome dele: devido ao prefixo, bloqueei o cara, coloquei na lista negra do telefone, por confundir, achar que fosse Carla, a perseguidora, no meu encalço... Isso tem meses e eu só soube agora.
Enquanto uns lamentam terem tido um dia de cão, eu reclamo do meu dia de caos. Pelo menos, já passou!

domingo, 7 de abril de 2013

Tomando uma posição!


Que tenhamos uma semana menos hipócrita, mais feliz, mais animada... e quem sabe até seja possível reproduzir na vida real as coisas boas que condenamos moralmente nesta imagem?
Graças a Deus, Foucault teorizou sobre a ars erótica - mas, cá para nós, teorizando nas mesas de bares, concluí que a procura por mil e uma posições sexuais não deveria mesmo servir ao malabrismo e aos testes de flexibilidade, mas servir ao prazer. Infelizmente, todo mundo só quer ganhar concurso de contorcionismo, fazer demonstrações de força física, de capacidade aeróbica e quantificação/estatística de sexo...
Tem quem goste de cinquenta golpes de cinta, de cinquenta tons de cinza e quem sabe dar um colorido saudável ao sexo, né? mas, que dificuldade é encontrar estes últimos, viu?

Outras faces da festa


Se há uma coisa que, mesmo passados tantos anos, ainda me deixa consternada e estarrecida, é a postura de múmia das minhas amigas de Feira de Santana. Nenhuma delas nunca sai. Ontem, então, foi Raquelle que me deixou surpresa porque após me perturbar com telefonemas, torpedos SMS, recados no Facebook e etc., no maior fogo para ir ao Antiquário comigo, ver o show da 80 na pista, articulando, negociando e afirmando a ida, esperou que lá eu chegasse para me mandar um torpedo, dizendo: ‘Poxa, amiga, amoleci’.
Fiquei sozinha na festa, mas não fiquei sozinha na pista porque a gente acaba formando um bando que vai aos mesmos shows, é o mesmo público ou que é fã da banda ou que é frequentador do lugar. Assim é que sem um falar com outro, a gente se conhece. Para minha pouca sorte, mais uma vez acabei conhecendo foi mulheres.
Ela, Suzanne, estava na mesa ao lado da minha, foi solidária e ainda falou: “Isso! Você é igual a mim: se quer sair, sai – com ou sem amigas!”. E daí que eu já havia reparado que no show lá do Botekim o rapaz que ela namorava, estava com outra. Neste show, a história se repetiu e ela me falou da dor-de-cotovelo, que ele era cheio de mulheres e que ela resolveu dar basta.
Disse também que não tinha nada para provar para ele, por isso ia ficar exatamente onde estava, que era até bom vê-lo com outra, porque assim espantava os últimos laivos do afeto do amor contrariado.
Na aula de sábado minhas alunas queixavam-se aos montes da cafajestagem dos homens. Dizem preferir o rótulo de encalhadas ao de cornudas, traídas – ao que eu complementei com meu relato próprio: “Não há solidão pior que a companhia de um homem escroto”. E é o que eu continuo achando.
Parece que há uma massa de mulheres assumindo o peso de estar só. Preferem isso às noites mal dormidas à espera de quem não vem, pois foi dormir com outra; preferem os custos da solidão a ter que viver relações insuficientes. E disso concluo que é parecido com o magistério: em gente que alcança a nota mínima, apenas para constar, para passar de ano... Porém, não reteve conteúdo, não gerou conhecimento e não alcançou proveito real de aprendizagem. Há relacionamentos assim, mantidos para constar, para evitar o momento de encarar a solidão.
Se uma mulher heterossexual chega até outra, por solidariedade frente à solidão aparente e coisas afins, por que os homens já não têm iniciativa alguma? Eu já disse que se você não é loira e linda, dificilmente vai encontrar um marido na balada. Porém, nem companhia se acha mais, os homens não convidam para dançar, não flertam, não arriscam, não investem. E eu, que não quero namorar maconheiros sem futuro e sem bom gosto; eu, que não quero garotos-problemas em minha vida; eu, que não quero homem inseguro psicologicamente dependente da mamãe e nem estou disposta a negociar o resto dos meus dias ao lado de quem não tem competência sexual, vou ficar sozinha até o dia do Juízo Final. Não adianta pegar o quebra-galho.
Porém, aqueles sujeitos para os quais as mulheres voltam olhares sexualizados, os que são desejados para sexo e nada mais, estão desenvolvendo a percepção de que é possível constituir um respeitável pacto de ‘sexo e amizade’. E disso todas elas falam (e eu endosso): companhia sexual é necessária e faz falta.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

No seu lugar


"Coloque-se em meu lugar!" Quantas vezes ouvimos isso, fazendo ouvido de mercador, desdenhando da expressão, mas a verdade é que só é possível calcular atitudes, sofrimentos e angústias alheias quando trocamos imaginariamente de lugar com essa pessoa. É o único recurso já que cada um vive sua vida, tem sua individualidade e há sentimentos e sensações que nenhuma expressão consegue dar conta e exemplificar a contento.
Coloco-me no lugar de todas as minhas amigas que partilham experiências comigo. Coloco-me no lugar delas porque ali também já estive, no mesmo contexto com outras personagens; em outros contextos com mesmas personagens, cenários, enredos... Não tenho medo nem vergonha de ser de carne e osso. Aliás, não me lembro de eu ter incorporando ideais de perfeição e felicidade continua prolongada. Tudo passa! Decerto, umas coisas demoram mais que outras, mas todas passam. E se não passassem, reclamaríamos da rotina.
Sou pouco tolerante com os que se dizem depressivos porque, com raríssimas exceções, tudo não passa de gente com preguiça de viver, que quer crer ser possível um spray repelente de angústias, que quer um céu azul num dia e um céu cor-de-rosa quando lhe aprouver; gente egoísta que quer ser amado, idolatrado e tomar o lugar dos irmãos preferidos na família, ou mesmo marcar a eterna disputa com a irmã mais bonita e mais bem-sucedida, numa alternância de inveja e egolatria, sob o manto do sofrimento – coitadinhos! – porque eles, sim, não podem ser contrariados pela vida.
Quem é meu amigo me suporta porque sabe que eu também suporto a pancadaria moral quando me atiram as coisas à minha cara. Se a gente pergunta, deve aguentar a resposta. Sei que o mundo não existe para me agradar nem para me fazer feliz. Lógico que eu não vou atirar a pá de cal sobre o corpo da amiga morta de desdém porque foi trocada pelo marido por uma mais nova, ou por outro homem... Mas me dizem tantas verdades quanto eu lhes digo. E acho verdadeira esta amizade que não se faz só de afagos e elogios.
Entendo a necessidade de esconder nossas derrotas frente aos outros: é recado que chega rápido aos inimigos e aos despeitados. Mas esconder de si mesmo não resolve nada: o problema existe, não adianta olhar para o outro lado porque ele cutuca seu ombro e mostra que está ali. Assim é que aconselhei a minha amiga a saltar do barco fora de rota e perfurado que é o relacionamento de que falei na outra postagem.
Toda dor que é nossa parece insuportável e interminável, mas se a gente não puser coragem na pauta do dia, não sai do lugar.
Olhar para trás e pensar no tempo perdido, nas frustrações, no que teria sido se assim fosse, apenas amarra a pessoa ao presente, a um presente contínuo, apesar de que o futuro, se é que ele existe, se faz de sobreposições de ‘hojes’. O que a gente tem como futuro é o porvir, é o depois, como se fosse sinônimo de mudança ou de concretização de planos – qual o futuro da relação falida, senão a falência múltipla e total?

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sob outro ângulo...


Entender as coisas a partir de um novo ângulo às vezes pressupõe colocar-se de cabeça para baixo. Eu não sei se fiquei de cabeça para baixo para entender a minha amiga ou se foi ela quem pôs as coisas invertidas: ela me explicou que sempre volta para o idiota cafajeste (que nem repara nela, que a deixa esperando noites e noites, que se aproveita da generosidade dela e que nada oferece em troca) porque quer. Ela volta porque quer. Ela se deixa iludir porque quer. Logo, desconfio que a ilusão não seja, assim, eficaz – e se há consciência da situação, não se pode alegar engodo ou estelionato afetivo da outra parte.
Na versão por ela oferecida, é assim: ela não valoriza o sujeito cafajeste e por isso, usa a companhia dele como atenuante da carência. Disso resulta que ela não se magoa com as traições dele, porque não são traições, pois ela sabe e não vai brigar por algo que não tem valor; ela sabe que ele a subestima, mas não se importa porque a opinião subjetiva dele é que é subestimada por ela e, enfim, se até hoje a relação não é séria no sentido do compromisso e das trocas recíprocas que deveriam nortear qualquer espécie de casal, para ela, tanto faz: por questões de consciência, ela diz que nunca seria feliz com ele caso se casassem e tivessem filhos, pois sabe quem ele é, sabe o quanto ele é omisso e irresponsável.
Mas apesar disso tudo, meu conselho foi o de sempre: que ela ficasse sozinha, pois iria apenas oficializar para si mesma esta solidão, uma vez que o cara de que se fala aqui é ausente, é egoísta e, para piorar, sexualmente preguiçoso. Se não cortar o vínculo, ela vai comer migalhas conscientemente e declinar de perseguir a meta de um banquete.
A gente critica os casais que não tem nada a ver porque geralmente é a soma de dois mundos diferentes e igualmente carentes, por isso, desigual: não são só meras diferenças – de idade, de aparência, de nível cultural, social ou econômico -; tem alguém ali negociando, propondo a troca do ‘tome isto e me dê aquilo’. Quase sempre se somam as carências – do menino feio com a mulher mais velha; da mulher bonita com o homem velho rico; da mulher jovem, bonita, carente e independente com o homem confortavelmente casado; do rapaz bonito, pobre e sem autoestima com a mulher mais velha e dominadora; até às mais complexas combinações que aos olhos da gente não combinam em nada e que maldosamente nos faz pensar que há alguma coisa errada por ali.
No caso da minha amiga, tem mesmo – mulher jovem, bonita, inteligente, independente e carente – acha que nunca vai achar um homem que preste, que todos os homens que já passaram pela vida dela nunca a escolheram como esposa, nunca valorizaram nada nela e apenas ficaram o tempo suficiente para se aproveitarem do amor desmedido que só as pessoas carentes sabem dar, na esperança de receber um retorno proporcional. Falei de uma, lembrei de outra (a lindíssima Ana Paula) e enquanto findo este texto, mais e mais mulheres conhecidas minhas me vem à mente, pela igualdade de condições, pela falta de percepção sobre si mesmas, pelos desesperos de causa que vivem, loucas para casar e ter filho antes dos quarenta anos, custe o que custar; loucas por uma companhia, mesmo uma má companhia... E quem sou eu para falar de tantas e não olhar para mim mesma? Claro que quero uma boa companhia, mas não consigo mesmo pensar em casamento, filhos e coisas do gênero. Continuo temendo as coisas eternas, até que a morte os separe, as traições nos separem, sempre querendo o gosto doce do namoro, da novidade e da espera que justificam arrumações e surpresas, planos e histórias construídas a dois nas paisagens diferentes de cada encontro... Acho que ninguém nunca deveria ficar sozinho a ponto de se desiludir, porque sonhar é preciso, é um gás a mais na vida...Desejo que minha amiga, que é consciente, saía deste enlace chato e sem futuro. Não se sai de uma dessas sem os hematomas das saudades, da sensação de perda e dos sentimentos normais que acompanham uma ruptura. Porém, não me furto de sustentar a opinião de que não há solidão pior do que a companhia de um homem cafajeste – e disso, eu entendo com conhecimento empírico da questão.