Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sobre rolos e tecnologias


Não sou louca por tecnologia.
Para mim, telefone celular é para falar; calculadora, para calcular, micro-ondas para infernizar e o resto é somente para tirar onda de ter o que muitos desejam e poucos têm. Não tenho. E também não me penduro no Facebook nem deixo por lá dados pessoais acerca de onde trabalho e sobre meu estado civil.
Aqui a tecnologia vai me mordendo: é assim com todos! se der um problema no blog, o mais comum é que o blog seja abandonado pelo dono porque ninguém aguenta abrir uma página que sequer deixa o campo específico para fazer o Login.
Consertar os erros de grafia ou as postagens duplicadas é missão para super-herói. Quando a gente consegue, já cansou, já desistiu.
E por falar em cansar e em desistir, preciso admitir que eu não acredito na melhora nem na mudança de seres humanos moralmente tortos. Se for homem, pior ainda: sem chances de se regenerar. Cito, porém, isso, mas já não me importo. Bem que deveria haver um meio tecnológico de reprogramar os seres humanos e seus hábitos.
Pior é que aprendo com quem já me manipulou. Disso levo o saldo: os cafajestes que já passaram por minha vida deixaram ensinamentos importantes. como estratégia de defesa,uso contra eles o que aprendi com eles. Com base nisso, vou dar uma 'sumidinha' neste final de semana, já com o pretexto devidamente engatado, porque não acredito em qualquer história que ouço e exijo que quem pretende me enrolar seja caprichoso nas desculpas esfarrapadas.
Fico feliz em revidar o que sofri. Perdoo um monte de deslizes, mas não os esqueço. É de brincadeira e de verdade que digo que Perdoar é divino e superior, mas se vingar tem um gosto que só os bem feridos sabem qual é.
Espero tão somente que os bons deuses estejam ao meu lado e mande um sol gostoso e intenso neste final de semana, para que ao sair do trabalho eu vá à praia e ainda me perca em alguma festa. Vou pensar se o celular ficará desligado ou se somente vou deixar de atender... A verdade ainda cabe nesta história, é uma alternativa.
E toda esta vingança é porque FJ prometeu sair comigo hoje e sumiu, atrás de futebol e seus desdobramentos (cerveja, periguetes, festas), embora eu já esperasse desde ontem, enquanto estávamos juntos,que o day-after teria das suas...
Quanto ao pretexto, é isso: vamos desapegar um pouquinho porque é bom para todo mundo. Vamos exercitar a administração das inseguranças e da individualidade... Pode não ser lá esta tecnologia toda, mas o meu Sensor de Armações captou atividade suspeita na noite de hoje.
Amanhã é um novo dia: dia de desculpas esfarrapadas e criatividade para colar as rachaduras do edifício da confiança. Se ele soubesse o que vou fazer, daria um salto duplo twist carpado (talvez com mortal na segunda pirueta porque é melhor isso que cair para trás)... Ah, eu vou dar trabalho a ele. Se para mentir ele faz ginástica, que seja artística, pelo menos, né?E que venha o fim de semana!

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Para tudo há remédio!




Sou uma pessoa cheia de angústias, mas a maioria delas eu administro com estratégia e boa vontade, a fim de não criar pedras imóveis no universo psíquico ou acomodações prejudiciais, do tipo de ir deixando para amanhã ou para terceiros a resolução do que me aflige. Também aprendi cedo que eu nunca seria uma pessoa de remédios tarja-preta, porque esta conveniência de engolir um fármaco para provocar bem-estar, atenuando efeitos para fugir da resolução com as causas, definitivamente não estava em meus planos nem seria uma opção. Lógico que entendo e até concordo que se a pessoa passou por um trauma grave, uma perda irreparável ou foi afetada emocionalmente de tal forma que paralisou, não come, nem dorme, precisa mesmo se entupir de remédios, dormir e ir recobrando a independência posteriormente. Não sou médica, mas penso que isso é coisa que pode se sustentar por três dias a três ou quatro semanas. Passou disso, vira dependência. Entendo que a pessoa vai ganhando tempo frente ao trauma, amadurecendo a emoção (neste mundo horroroso a gente lida com violência, assassinato, roubo, tortura, estupro, humilhações, lutos afetivos e muita coisa ruim mesmo!), de modo a se fortalecer para cair na realidade e admitir que perdeu, que passou por aquilo, mas, justamente, é necessário ter a consciência de que já passou e ir sepultando o vivido – o que não equivale a esquecer, mas seguir em frente ‘apesar de’.
Assim tento viver o meu hoje, que contém, lógico, os saldos emocionais das coisas vividas que convive, em contrapartida, com minha forma de administrar a vida.
Hoje tenho uma reunião a que não vou. Não vou porque não quero ir e tenho outras coisas mais úteis a fazer, no meu outro lugar de ensino. Por incrível que pareça, não falto a reuniões para vagabundar: vou a outra reunião às três, vou fazer novas xérox para reconstituir os módulos de disciplinas levados pelos ladrões do assalto de que fui vítima na terça-feira passada.
Mas não quero ir e dizer não é uma tarefa difícil. As segundas-feiras são meu único dia de folga na semana. Daí que a reunião será às 16 horas, em Salvador. Lá eu não vou. Mas como neurótica que sou, não tenho muita criatividade e cara-de-pau para lançar mão de desculpas. Penso, porém, nelas, para não ‘me queimar’ com quem pode mais que eu. Preferia ser sincera: não deu. Vou ser estratégica – e, por conseguinte, mentirosa. E está aí um rótulo que não me cabe, porque prefiro multiplicar inimigos a ter que viver o faz-de-conta.
Falando nas mentiras ou na ocultação da vida privada, não sou uma pessoa de assumir relacionamentos. Acho que é porque não me sinto namorada de X ou de Y e vejo como uma bruta responsabilidade vincular o nome de alguém ao meu nome, naquela pertença que muito me persegue: “Mara de Ninno”, por exemplo, como um dia foi.
Mas, sim, me enrolei toda: não obstante me meter na casa de FJ para esperar que ele se arrumasse para nossa saída, lá vem a família cada vez mais entrando em minha intimidade, ou seja, me incluindo como a namorada dele. E vem sobrinha, irmã, mãe, primos... Decerto, me tratam com deferência e naturalidade, mas fica confirmado o que eu não admito e não assumo. Vejo que sou covarde para isso.
Na manhã do domingo, contrariando minhas expectativas, meu pai veio à minha casa e não houve como deixar de ver o carro de FJ na garagem. Respondi à bateria de perguntas do meu pai, tendo ir atendê-lo deixando meu par no sofá sob a recomendação de que não saísse dali de jeito nenhum.
Quantas vezes usei a provável visita do meu pai nas manhãs de sábado e de domingo para fazer com que FJ fosse embora bem cedo? E isso se devia ao fato de que eu queria dormir só e que sempre aparece alguma coisa, pessoa ou vizinho que põe em risco meus segredos da vida particular que me impelem a não dar mole com gente em casa. Além disso, não gosto de namorados e afins em minha casa. Mas dancei: respondi ao meu pai, encarei os ciúmes e curiosidades dele: “Quem é? Faz o que? Mora onde? Estudou o que? É filho de quem? Tem futuro? E Zero Um, como vai ficar?” e etc...
Pior seria se eu inventasse uma desculpa para não ir à reunião e desse de cara com outros colegas passeando pelo shopping. Fui obrigada a assumir uma situação, uma relação, mesmo sem mudar o status no Facebook – que não mudarei mesmo. Minha relação assume, cada vez mais, o status de ‘relacionamento sério’ e FJ vai deduzindo que pode assumir os ciúmes dele – paranoia tão grande que ele inventa desculpas para ‘dar boa-noite’ às minhas amigas no telefone, durante minhas ligações, para confirmar que estou falando mesmo com elas. Também andou questionando meus prováveis flertes na academia – não, eu não os tenho. Mas, sim, eu encontro quem queira flertar comigo – e insinuou o interesse do Amigo dele por mim. Já vi que tudo se confunde e sei que estou enrolada num relacionamento enrolado, na berlinda da angústia das decisões. Vou fazer como os viciados quando em tratamento e tentar viver ‘só por hoje’ o que houver para viver – quem sabe eu deixo de tentar prever e controlar o futuro? Mas para isso não há remédio nem receitas também.


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Que roubada!




No Dia do Professor, fui assaltada no ônibus intermunicipal que me levava para Salvador, para o exercício do meu trabalho, às 15 horas, já em solo soteropolitano.
Era um casal padrão de assaltantes. Daí, já disse tudo, para deleite do politicamente correto. Creio, porém, que a mulher assaltante, desejou muito tudo que eu tinha, inclusive a minha cara, a minha postura e a minha vida. Levou o que pode: livros, apostilas, xérox, maquiagens, perfumes importados – pois para a sorte dos ladrões, houve greve dos correios e o aviso de chegada dos produtos chegou a um dia de expirar o prazo de devolução ao país de origem; finalmente a classe G teve acesso a Cacharel, Stila, DKN e outros. Logicamente, meu prejuízo foi grande e eu tive que ouvir os hipócritas dizendo que ‘ainda bem que não levaram a vida da gente’, donde posso deduzir que recomendam a gratidão aos assaltantes.
Outros tantos ficaram de cabelo em pé e me recriminaram porque baixei meu repertório de pragas – e de fato eu desejo a eles uma vida longa, dolorosa, de preferência com enfermidades e sofrimentos físicos.
Fico feliz, porém, porém, porque para os muitos que creditam a violência e o roubo à falta de acesso à educação e à cultura, pelo farto dos ladrões terem levado meus livros, cadernos, xérox e apostilas, finalmente este problema será resolvido e eles se tornarão pessoas melhores.
Certo: a gente se vira, rala, trabalha e compra tudo de novo. Mas, cá para nós, o que é meu me pertence de modo muito lícito, é fruto de meu trabalho e não comprei nada para presentear ladrões.
E como diante de uma arma somos impotentes, assumo meu lugar, pois se assim não fosse, nada me daria mais prazer do que descer a mão na ladra escrota e desclassificada que levou meus pertences e, logicamente, devolver as gentilezas ao senhor Ladrão que aterrorizou nossa viagem. Mas, como nada posso, entrego a Deus e espero que ele protocole o meu pedido e dê andamento ao processo.
Ainda bem que eu sou humana e tenho o direito de me revoltar. E assim sendo, desejo que eles se lasquem o quanto antes, mas que vivam muito e muito tempo a condição de sua infelicidade, aplacada pelo prazer temporário de levar o Mal aos outros, retirando-lhes os bens.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

As (per) versões do sexo




Já ouvi muitas esquisitices sexuais na minha vida. Ouvi, não as pratiquei, infelizmente, seja por falta de coragem, parcerias ou álcool mesmo. Digo, porém, que uma das coisas mais esquisitas que já ouvi na vida, foi num evento na Universidade Católica de Salvador, com o povo do meu curso, quando um cara que conheci lá, chamado Eliseu, falou: “Poxa, fiquei tão a fim de você e do seu namorado!” – coisa que Washington tinha insinuado, também, mas assim, com todas as letras, foi a primeira vez.
Imagine só, por menor que seja nosso preconceito e o peso do cerceamento moral na nossa vida, não é sem surpresa que a gente escuta que alguém nos quer e ao nosso namorado simultaneamente.
No sábado o maior amigo do meu namorado atual insinuou que queria ver a intimidade da gente. Depois disse claramente, pediu e propôs ficar de voyeur e eu disse que não. Ele pediu para que pensássemos por um tempo. Repeti o não e esclareci que sexo entre pessoas apaixonadas não conquista plateia nenhuma.
O amigo do meu namorado disse que esperava alguma coisa diferente, um sexo selvagem.
Bem, agora eu quero saber: o que é sexo selvagem? sexo na selva? Sexo como animais? Se for, não me interessa porque não sou um animal e gosto da ars erótica de que fala a História da Sexualidade de Michel Foucault.
Vamos trocar em miúdos? Esse suposto sexo selvagem é o sexo mecânico dos filmes pornográficos, é o sexo sem sensação para os pares, feito de demonstrações e malabarismos para o deleite de terceiros, é o sexo da submissão da mulher, onde o homem não faz nada pelo prazer dela, onde tudo é plástico e chato, previsível, padronizado. Acho que os animais fazem melhor que isso, seja em que selva for.
Ele, o amigo do meu namorado, deve ter se deixado levar pelas narrativas dele, porque somos bons parceiros mesmo e vivemos coisas incríveis, temos uma sintonia sexual admirável e temos muitas histórias para contar (logicamente, não vou contar aqui). E no sentido dos nossos sentidos, na exploração das potencialidades eróticas que o corpo permite, reciprocamente somos loucos um pelo outro, donde já declarei que ele me domina pelo sexo. Minha amiga me advertiu: “Cuidado: vicia, é pior que droga, dá mesmo uma dependência!”.
Alguém, em algum tempo e em algum lugar, separou o sexo do amor. Para mim, se um acompanha o outro, melhora ainda mais. Mas para os outros isso é entediante. Sexo com intensidade e carinho, com visível paixão, certamente é decepcionante para os tarados.
Penso, porém, de onde sai tamanha coragem para um amigo pedir ao outro para presenciar suas intimidades? E eu, que sou tímida, será que não deixo transparecer que está fora de cogitação me exibir para terceiros?
E por falar em timidez, coisas esquisitas e tensões eróticas descabidas, conto a novidades deste semestre: Com a vida profissional, perdi também a prática de conviver com seres heterossexuais masculinos, conforme também já disse antes. Nesta semana que passou, por exemplo, perdi o ar quando fui cercada por alunos que procuravam flerte, a pretexto de me pedir indicações de livros, ficarem sozinhos comigo e me olharem mais de perto. O primeiro me pediu as indicações dos livros, e lá estava eu, dando-lhe as referências, quando o outro interrompeu: “– E esses seus olhos, são seus mesmo?”. Nem respondi, porque o terceiro disse: “– Se os olhos não forem, as pernas, com certeza, são!”.
Como qualquer pessoa, tenho ego. Lógico que me senti lisonjeada. Mas me senti muito mais constrangida e envergonhada... Não dou aula a heterossexuais, não sei como é isso. E desde o semestre anterior tem sido um aprendizado.
O menino mais ‘atirado’ é muito bonitinho mesmo, mas de onde é que eles tiram que a gente, profissional, vai se desmoralizar na instituição para pegar aluno? Eu perderia o rebolado no dia seguinte, viveria a certeza de que todo mundo sabia, nem pensar! Aceito o flerte como parte integrante das relações do conhecimento, da universidade, do contexto... Mas, olha, o mundo está esquisito mesmo. E as pessoas, ainda mais!

Os erros do Cupido





Às vezes eu paro e fico olhando o retrato dele, em busca de alguma certeza, ou para me chamar novamente à realidade e dizer a mim mesma que ele é somente um ser humano como outro qualquer e que o amor, a paixão, tudo não passa de uma construção maluca e idealizada que as mentes vulneráveis criam e atribuem ao coração.
Ele não se sente seguro comigo, nem eu com ele: por isso não me decido, deixo a água rolar, mas temo que tudo vire uma enchente. E essa nossa atordoante sinceridade, onde vai parar? Porque falo o que penso e o que faço e ele também. Como se minha vida fosse somente isso! E a sempre presente afirmação dele de que não há espaço para ele em minha vida. Não entendo isso. Não entendo a briga porque digo ao nosso amigo em comum, quando indagada, na frente dele, que quero o namoro por tempo indeterminado porque gosto de minha liberdade, de fechar a porta e ouvir música ou estudar; de ter segredos; de ter escolhas; de dormir até morrer... de esperar por ele, de buscar por ele, de sentir a falta e as ansiedades.
Somos ciumentos: após o aniversário dele, fiquei sem dormir, como sempre. No dia seguinte estávamos loucos para nos encontrar, mas havia o sono, o cansaço e as urgências da vida prática. Decidimos que ficaríamos em casa, cada um na sua. Não telefonei mais depois das oito da noite. E no domingo passei o dia evitando ligar, talvez esperando que ele ligasse... Até que ele ligou, perguntando o que  eu estava fazendo. Eu disse que estava assistindo ao primeiro episódio da terceira temporada de Revenge, no Canal Sony, e que estava jogada no sofá, sonolenta, isso era cerca de 15 ou 16 horas... Em bom idioma baianês ele disse: “Então, ontem o reggae foi bom!”, indicando que meu sono era o saldo da festa que eu supostamente fui. Não fui à festa alguma sem ele e confessei que também achei que ele não ficou em casa coisa nenhuma. No fim, li tudo isso como desconfiança e ciúmes recíprocos. Depois achei bonita a nossa humanidade expressa nesses defeitos.
Na noite anterior, ele, que vive me falando de medo, reclamou porque eu disse ter medo de me envolver ainda mais: “Com as outras pessoas você não teve medo. Por que só comigo precisa ter?”. De onde será que ele tirou que eu não tive medo de gostar de alguém além dele?
Errei muito, porém coloquei a culpa no Cupido.
Perdi o jeito de viver histórias de amor. E esta era somente uma história de paixão sexual, de sintonia sexual... E talvez ainda seja e a intensidade tenha feito a gente confundir tudo. Se 'quando bate fica', está ficando mesmo!