Louquética

Incontinência verbal

domingo, 19 de outubro de 2014

Empurrando com a barriga


Tenho a solução para  a vida de todos os meus amigos, assim como eles têm a solução para a minha vida. Basta dizer não ao que precisa ser rejeitado, sim ao que precisa ser incorporado, tomar umas iniciativas, mudar uns rumos, esperar um tempo. Pronto! Claro! Ciência de precisão a gente aplica à vida dos outros. Na nossa tem afeto. A gente se afeta. Ora há um apego, ora há uma dúvida, ora fazer a coisa certa não fornece a segurança do melhor resultado. E vivemos.
Estou aqui a contar os centavos, fazendo conta porque vou perder cinquenta reais para uma semi-amiga. Dinheiro que vai e não voltará e que eu penso que seria melhor aplicado num parente pobre, num conhecido pobre, num pai de família pedinte, em compras para doação em lares carentes ou instituições deste teor. Mas vou dar a ela, lamentando.
Ela é uma mulher acomodada, dependente dos pais e que engravidou de propósito de um senhor de 46 anos, militar, com três filhos e muitas ex-esposas e Pensões Judiciais a pagar.
Eles se conheceram num sábado, há cerca de cinco semanas, quando ela desistiu de um festa, porque as amigas sugeririam que ela arrumasse o cabelo no salão de beleza. Ela julgou isso uma afronta: futilidade e discriminação. Preferiu ver um amigo, que a apresentou ao referido senhor e, em seguida, ela ficou na casa dele por quatro dias. Depois, apareceu em casa, pegou coisinhas pessoais e passou a viver a vida dele, sempre jogando com a possibilidade de engravidar, sem nenhuma proteção, claro.
Deu certo: engravidou.
O futuro pai deixou-a na segunda semana de relacionamento, após ela encher a cara e dar vexame público, escandalizar a troco de nada e chorar pitangas e perdões, pois o álcool a deixa irreconhecível, fora de si. Excelente álibi.
Ela não termina nada do que começa.
A universidade vai aos poucos, tranca aqui, abandona ali...E recomeça, em paralelo, na particular...
Queixa-se dos pais, a rogar que ela conclua o curso, que arranje um emprego, que eles não querem sustentar mais um.
Espanta-se o senhor-futuro-pai, vítima de fome sexual e golpe tradicional: como pode ele se entregar tão rapidamente a uma mulher, abrir-lhe as portas de casa, se jogar na relação naquela intensidade? ele, com três filhos no currículo, casamentos e pensões?
Irresponsável, se colocou nas mãos de minha semi-amiga: o quer der, deu.
Ela, um poço de dramas e carências, louca por alguém que possa vir a amá-la, tipo um filho; alguém que lhe provenha, tipo um filho; alguém que lhe faça companhia, tipo um filho.
Aí ficou doente. Mais manha do que verdade, desculpa clássica como dizia minha avó: "Fingir-se de doente para ser visitada'. Ninguém visitou. A mãe não deu dinheiro. Sobrou para mim.
Não quer fazer nada de útil. Gasta o tempo em vinganças, armações cibernéticas contra ex-namorados, filhas e esposas deste senhor e outros aplicativos que lhe provenham a gana de viver.
Não queria alimentar este monstro.
Vou dar o dinheiro porque ela sabe que eu tenho e não poderia mentir sem dar a lição de moral junto.
Não haverá segunda vez devido a esta primeira: terei, pois, a desculpa ideal. Penso que estou pagando cinquenta reais para não ser mais importunada. Relativamente, preço alto. Depois me desvencilho, porque odeio gente grudada em meu karma.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Para quem tem fé


Acho que andei mentindo. E foi para mim mesma: meu diário está largado há um tempo e isso não foi necessariamente uma escolha, mas uma decisão tomada inconsciente, por conta da eterna vigilância das pessoas em geral, quando veem à minha casa, e por causa do outro lá, com quem tenho um rolo mal resolvido que se arrasta há umas três encarnações.
Pior é que me fez falta: escrever, desabafar, constatar que o escritor (qual mesmo) estava certo ao dizer que cada pessoa tem a vida pública, a vida privada e a vida secreta, e ver que os meus segredos pairam na minha cabeça, por medo que o registro deles seja compartilhado.
A triagem espiritual, um verdadeiro CSI das vidas anteriores e da vida presente me encanam: poxa, a gente luta para segurar um segredo, guarda a sete chaves, desvia de testemunhas, compra alguns silêncios...E vai um médium e plaft! toca no assunto e te dá indiretas. Eis o preço de estar me tornando espírita.
Descobri muito sobre religiões nestes meses passados. Mais ainda quando estive em Porto Alegre: havia um tempo que eu via a insuficiência de algumas explicações, que me conformava pouco com a lógica radical da causa e do efeito, num circuito de vinganças e compensações pós-mortem até à dita evolução, que preconizam os espíritas kardecistas; também me senti desconfortável na Umbanda e se aceito a construção arquetípica dos orixás (sim, eles me ensinam muito), não me me articulo com outras obrigações e ideias; da vida católica, então, ficou o saldo do marianismo, em que creio; os aprendizados de Jesus, de Deus, do Espírito Santo, em sua força explicativa que alimenta a minha fé.
Caí, portanto, no lugar comum, vindo a afirmar: A gente não escolhe a religião. A religião é que escolhe a gente. E a religião da gente deve ser aquela que nos faz sentir bem, que se permite entender e que nos entende.
Pois é. Fiquei surpresa com a forma como os Espíritas Universalistas aceita o corpo e as aflições do corpo, como entendem o sexo, como entendem a vida e as Encarnações e como deixam claro o que se pode fazer numa existência para consertar certas coisas e romper com outras, que estão impressas em nossa alma e que repetimos, inconscientemente.
Na noite que passou ate sonhei com isso: por que temos tantos complexos com o sexo? É só sexo. É só o corpo pedindo prazer. Por que é sujo? Por que é feio? Por que tem que ser escondido? Por que tem que ser negado? Por que incorporamos as coisas mais negativas sobre ele?
Sim, temos responsabilidades e moralidade. Temos instintos e temos escolhas.
E daí? Por que acreditamos que o mundo espiritual nos condena por  causa do sexo? por que ele se relaciona imaginariamente com a expulsão do Paraíso?
Pensei nisso tudo à medida que sonhava.
Por meu perfil espiritual, sou tímida e auto-repressora agora, porque já usei e abusei do corpo, em outras Encarnações, para fins de moeda de troca, ascensão, dinheiro, poder...Ai radicalizei: vim nesta vida, como professora, tímida e pudica.
Certeza eu não tenho de nada. Mas aceito a lógica proposta, os pactos e os preços.
Recebi cartas psicografadas e desenhos feitos por médiuns do Centro Espírita de Porto Alegre. Aceitei. Encontrei outros irmãos de caminhada nos amigos que lá fiz. Medo eu tenho. Acho que tenho que cuidar de minha vida e cada um tem que cuidar de sua própria morte, não viver enchendo o saco da gente que tem medo de dormir no escuro.
Outras coisas não me convencem, porque desafiam a Inteligência que Deus tem: uma pessoa morrer criança e vagar no mundo espiritual com a mesma idade em que morreu não seria justo. O que uma criança, na conformação mental de criança, pode entender acerca do que houve? acerca de que passos dará? sim, todas as religiões têm falhas e insuficiências, umas, então, têm explicações ridículas e inverossímeis. A maioria é inverossímil. Estou me tornando...para ser, tenho que estudar e me formar espírita, em termos de compreensão.
Vamos la. Estou aqui para aprender.