Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Para um bom ano novo


Agora, formalmente, encerrando 2015...E dele posso dizer que cumpri o possível dentre aquilo que prometi a mim mesma. O que ficou sem cumprir foram coias conjunturais que não dependiam de mim.
Adorei janeiro de 2015, apesar das tensões: viajei para ótimos lugares, passei dez dias com Victor...Voltei direto para o carnaval. Pronto. De meados de fevereiro a junho, pura crise de amores por Vinícius. Depois, acabou. O amor e a crise. Depois, vieram outras histórias...e um pouquinho só da mesma história.
Bom, mas vamos lá, vou me meter a dar conselhos que ninguém pediu. Quer um ano novo? renove suas atitudes.
Temos tendência a nos repetir, pois que isso é traço de nossa identidade. Experimente fazer diferente, desafiar a compulsão e o automatismo de responder como sempre às circunstâncias,
Crie condições para mudar. Se que se separar, construa reforços emocionais tanto para romper, quanto para sobreviver bem à ruptura.
Quer uma novo emprego? Um salário melhor? crie condições, trace metas, separe duas horas por dia para estudar e não entregue os bons resultados apenas à responsabilidade de Deus: faça a sua parte.
Vai fazer concurso? Se situe. Ninguém come essa ideia de 'fazer por experiência'. ora, quem está inscrito, está concorrendo. E gastar cem reais ou mais de inscrição, ter despesas de deslocamentos, passagens, hospedagens, apenas 'por experiência', não convence ninguém.
Tendo, nós todos, clara noção da realidade, sabemos da deslealdade subjacente à quase totalidade dos processos seletivos que permeiam nossa vida prática (do concurso, da seleção de mestrado, doutorado, do acesso a cargos e serviços) o que, por lógica, nos leva a desacreditar da idoneidade, da seriedade e da validade de tais processos, já que se tornam óbvias as duas grandes classes de seres humanos: os PREFERIDOS (favorecidos) e os PRETERIDOS (deixados para trás).
Aconselho, porém, que ainda assim, não deixem de concorrer a nada. Não desistam antes de começar porque o favorito (preferido) já preencheu a vaga. É preciso que você faça a sua parte, se prepare, seja o quanto melhor possível pois, no mínimo, estará dando trabalho a quem escolhe e seleciona, estará mexendo com os desonestos, ajudará a tornar explícitos os mecanismos da falta de lisura de quem tem o poder de selecionar.

É preciso exercitar o mergulho interior e reconhecer qual a nossa parcela de responsabilidade em nossas derrotas. Nem tudo é obra e graça da ação ilícita de outrem: a gente também falha, seja por negligência, por despreparo ou por desconhecimento e falta de domínio de certos conteúdos... E a depender da falha, não julgue sua competência, construída por anos, por quatro horas de um processo seletivo. Ademais, se quem venceu o fez por merecimento, perder para o melhor não constitui humilhação.
Para amores novos, porém, sorte. E, acima de tudo, que a boa sorte prevaleça em nossa vida em 2016!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Medos


Sim, estamos juntos.
Sim, temos medo.
Dois medrosos, juntos, com medo de fazer perguntas, com medo do amanhã, com medo de ser bom e acabar, com medo do sofrimento, com medo do apego crescer, com medo de ficar sério dentro de nós, com medo do tédio aparecer, com medo de passar essa aceleração gostosa do coração em paixão adolescente...Com medo da vida real sufocar, com medo do desgaste futuro, com medo do futuro, seja ele qual for...
Às vezes, damos um tempo. Cada um na sua. Com seus medos. Daí a saudade nos junta. Juntamos os medos e calamos. Seja o que Deus quiser!

O bolso e a vida


Isso foi há pouco e suponho que tenha acontecido justamente para compor meu especial de natal bagaceira 2015: O guri disse que quer comprar uma moto. O guri é um aluno que se tornou meu amigo.
Há que se frisar, se tornou meu amigo depois de constatar que eu era muito mais velha que ele para os fins que ele queria, a saber, namoro, casamento e filhos.
Não é o que pode parecer: ele apenas me achava bonita e inteligente. Como tinha na cabeça muitas paranoias, achava que iria morrer cedo, se sentia preterido pela vida e claramente confundiu minha atenção com alguma espécie de compaixão sexual (não, eu não daria por pena!) e transferiu a imagem da mãe para  mim - de fato, a gente se parece - a coisa ficou nesse pé.
Mas o guri disse que quer comprar uma moto e me pediu dinheiro para isso. Ora, deduziu o meu não, só pronunciado minutos após eu me restabelecer da minha perplexidade, lamentando que estava querendo uma ajuda para dar a entrada e que mais ninguém daria, pois o pai dele o ignora, o padrasto tem dois filhos com a mãe dele e outros dois avulsos, os tios não dão nada, os avós são negligentes e a coisa estava a este ponto sem uma palavra minha, pois que eu pensei: "Que falta de noção é essa!".
Expliquei que eu seria solidária e caridosa, com quem tem necessidades sérias, desde que eu pudesse colaborar. Veja só: mesmo que fossem 500 reais de ajuda, eu nunca daria dez centavos a um marmanjo; com tanta gente precisando de comida, de dinheiro para pagar taxa de concurso, para comprar remédio, para pagar aluguel, para comprar uma roupa para procurar emprego...Eu ia dar dinheiro a um guri que não contribui em nada para o bem-estar da sociedade, nada fez em prol desse mimo e, enfim, quer curtir uma motoquinha?
Ah, ele achou tudo uma injustiça, um absurdo, 'que mundo, meu Deus, de gente insensível!".
Logo que me viu online, me chamou para Salvador...Para aproveitar a cidade deserta no natal e ensiná-lo a dirigir um carro, no meu carro. E eu fiquei pensando em quanta fala de noção é essa!
O idiotíssimo do Geovane, meu ex-ficante, já tinha me chamado para ir a Salvador nesses dias, apenas para ficar com ele. Ora, veja: ia ser preciso um desejo e uma paixão significativas e intensas para tal. E eu não o vejo desde abril...Talvez por culpa minha, que não disse com todas as letras que o lance acabou, somente anteontem ele percebeu que terminou. Essa gente dá muito trabalho! Essa gente se julga importante demais. Mais uma vez, digo: Que falta de noção!
Poxa, quem quer a gente, fica com a gente. Se desde abril eu não faço nenhum esforço para falar com ele, para estar com ele, o que isso quer dizer? Que u estou há oito meses sem tempo, é?
E o guri pedinte de moto, acha o que? Que por bondade gratuita eu daria ajuda financeira para a moto dele, so para apoiar um sonho? Ora, tenha dó!
Minha aluna pilantra, que levou meus 50 reais, além de grávida, fez a armadilha pública para pegar emprestado o que nunca seria devolvido.
Recentemente, tentou aplicar o mesmo golpe, apesar de ter perdido os bebês, em cima de outro trouxa e não teve vergonha de me contar o resultado: "Nooooossa!!!Eu fui pedir um dinheiro para um tratamento dentário, que é caro...O cara me disse para eu ir vender trufas, pois a vida estava difícil para todos!". Bem feito! Quer dinheiro? Faça seu caminho, escolha seus meios, o meu eu não dou nunca mais...Foi sob coerção que ela obteve meu dinheiro, como sempre obtinha almoço grátis por colar em mim em situação pública nas cantinas...Tanta gente precisando de um pão, um abrigo, um dinheiro qualquer...Vagabundagem não tem limites, viu?
O guri trabalha, está em fins e estágio...
A outra, de tanto tomar 'olé', fez estágio também.
Ambos adoram vida boa, desde que patrocinada pelos outros.
Aqui em Feira, uma chegada, cheia de usufrutos e posses herdados, tem sempre a cara de pau de esperar que eu pague as contas; dá indiretas de suas necessidades materiais, para ver se tira algum centavo de mim. Pura falta de vergonha e de noção!
Meu primo N também, eternamente pão-duro, aceitaria agrado até de um mendigo. Eu digo sempre que ele é a segunda pessoa mais pão-duro que eu conheço nessa vida. Geralmente, esse povo gosta muito de seu próprio dinheiro, para dar algo a alguém; e gosta mais ainda do dinheiro dos outros que, segundo eles, estaria melhor no bolso deles.
Vou até pular a parte das trocas de presentes em geral (natal, aniversários) em que as pessoas querem levar vantagem sempre e ficam calculando quanto ganharam sob cada presente. Não há bom presente por menos de 50 reais. Lógico, isso é uma média, porque até sandálias boas, Havaianas, vão a 35 reais...O resto é lembrancinha, sabonetinho de grife, colônia splash ou arranjo de flores.
Viver custa caro!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Futuros fartos de dúvidas


Volto ao mesmo ponto que, para mim, é bem interessante: Minha amiga, me dizendo que o namoro dela à distância, não tem futuro. E está namorando há dois anos...O que pode ser futuro, então, se eles já têm dois anos de passado?
Tenho amigas - e amigos - que só sabem casar. Não sabem namorar e paquerar: conhecem hoje, casam amanhã. E se for preciso se separar, em dois meses tudo se resolve e se parte para outra.
O que será que faz com que as pessoas casem? Não pode ser amor, porque amor é bicho mais tranquilo, ponderado...é desvairado no começo, mas quem ama não faz essas coisas, apenas deseja estar perto do outro. Porém, um perto bem perto que não seja o perto todo dia, que leva à exaustão.
Contratos e causas administrativas é o que me parece mais crível: certamente que as pessoas se gostam, tenham simpatias e interesses recíprocos...Daí pensam em administrar uma vida em comum, com papeis definidos e supostas garantias contratuais. Eu queria muito que qualquer relação pudesse ser chamada de relação estável. Mas nenhuma tem garantias.
Tenho um caso particular próximo, de casamento feito para agradar a uma das partes; com o clássico filho na hora certa da crise; com contratos financeiros que prendem um ao outro, nos financiamentos a perder de vista e a ficar de olho no desenrolar disso tudo. Dois seres tristes ligados por um hífen, que é o filho de onze anos.
Também meu amigo suicida e depressivo casou: achou um par em quem se apoiar para carregar o fardo da existência. Fez duas descendentes, para ser âncora e prendê-lo à terra firme, sempre que bater a tentação de não querer existir.
Um terceiro amigo fez o mesmo: segurou a angústia depois da vida em comum.
Para mim, isso são constatações apenas. Por mais que soe doloroso, condoído...É que não testemunhei casamentos saudáveis. Tenho, na verdade, três exceções a esse respeito, mas são aqueles amores ímpares, movidos por impulsos, por acordos tácitos e uma certa calma interior de quem fez a escolha madura ainda na juventude. São, pois pessoas lindas, com capacidade plena de escolha: um escolheu ao outro.
Mas, o que será que incomoda tanto {a minha amiga, na perspectiva de futuro? Futuro é isso? escolher o outro e aturá-lo até que a morte os separe?
Isso parece muito com os amores eternos que temos aos 14 anos...Um eterno que dura três meses...
Por que tanta ânsia de futuro, quando o futuro já se faz, revelado no transcurso do passado?
Tem coisas boas em casar. Minhas amigas dizem: "Casar é bom, mas ser solteira é melhor".
Gosto e tive relações duráveis. Nem sempre vivi a vida louca de então. Casar, eu nunca quis. Porém, quis ter quem eu amo perto de mim. Cada um com a sua vida; cada vida próxima uma da outra...
Tatiana está solteira. Mal me arranjo com a ideia. Tatiana solteira, adjetivo improvável. Mas ela, após década com o mesmo ser humano, terminou e sentiu o luto. justo agora, no fim do doutorado. Na minha cabeça, ela nunca mais terá alguém. Porque não se abrirá para nada que possa ocorrer.
Se houvesse garantia de alguma coisa; se não fossemos ansiosos por fidelidades impossíveis, se não fossemos seres de carência...Bom, tudo seria diferente.
Também me espanto  com minha própria frieza: se der certo, ótimo. se não der certo, tchau...E não demora muito para o amor recente virar asco ou ser alvo de atitudes de orgulho, desprezo ou omissão. Mas eu não era assim. Ainda sou sensível, afetuosa e sentimental...Será isso o desapego?
O que me irrita é o desrespeito. Não dar certo, romper, terminar, ignorar, ok...Mas desrespeito, nunca! Não quero nunca ter esse ímpeto.
Também desacelero: não cogito o futuro. Não bateu ainda essa vontade de pensar para além dos dias presentes...O futuro se desenha e, por enquanto, não tem contornos nítidos.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Longe do meu domínio


Ele é dominador. Gosta que as coisas aconteçam naturalmente: naturalmente do jeito dele. Finge não jogar, mas joga, induzindo minha aquiescência para algo previamente decidido, estipulado e determinado...
As mãos mais gostosas do planeta Terra são as dele: doces, quentes, firmes, lisas, macias, sábias...Têm o mapa do meu corpo e a doçura certa para acalmar desesperos e medos...
Mas, que pena: o preço da boca de beijos perfeitos e dos abraços mais felizes e acolhedores é a eterna submissão. Ele pensa que é 'terna' a submissão...Não para mim!
No nosso encontro recente, ele julgou que eu fosse uma patricinha patrocinada por papai. Tanta aliteração em P e, puta que o pariu!Passou longe.
Aproximando o caso de uma análise justa, a verdade é que eu nunca havia namorado um homem tão maduro. São trinta e uns anos muito mais potenciais que os quarenta e outros de outro cara. Com Ele, preciso sempre estar atenta e me esforçar intelectualmente para que ele não anule minhas sentenças.
Devo admitir, sem riscos de jogar vinho sobre a cara de outrem, que ando namoradeira. Ter um Valete de Copas no coração, como qualquer vivente sabe, como volto a admitir que qualquer insinuação de amor e dor de cotovelo nas redes sociais é, pois, para o naipe citado, não impede que eu viva outras experiências.
Não escondi que gostava de outra pessoa. Nunca faria isso. Mas escondo todo o resto. Qualquer ligação, rolo, envolvimentos outros, escondo, sim. Porém, jogo limpo: o que acho, sinceramente, é que não vivemos época em que seja possível namorar. Exceto se a pessoa tem jogo de cintura para lidar com a traição ou se resolveu abrir a relação. Salvo isso, os homens nunca deixarão de ter vida dupla, Namoram uma pessoa até às 22h, mas às 22h30 estão com outra pessoa, ao vivo ou virtualmente. Têm o namoro socialmente assumido e uma meia dúzia ocultos.
Dr. House já disse: "Bons casamentos são mantidos mediante boas mentiras". Acertou.
Daí que Ele ouviu chocado eu declarar que não quero namoro. Quero estar. Deixe estar.
Nossa primeira briga foi domingo, por isso: ele percebeu que eu não acreditei numa desculpa recebida. Já estou velha e sei reconhecer uma desculpa clássica. Mas ele se ofendeu seriamente, quebrou o pau, se impôs e notou que foi por conveniência que eu 'acreditei', a fim de poupar delongas naquela pauta.
Dele eu teria terríveis ciúmes; e não gosto de ciúmes:nem de ter, nem de causar.
Ele parecia num tribunal: arrolou provas, me levou aonde eu não queria ir, contou o que eu não queria saber, me fez entrar na casa dele, na vida dele...
Meu coração, aqui, excitadíssimo com o show da quinta (Teatro Mágico, de graça, em Feira de Santana, na praça da Matriz, perto de minha casa); ansioso pela festa à fantasia do sábado; desesperada de excitação pela viagem de réveillon...Ora, que não sou Djavan "Ah, quanto querer cabe em meu coração!"), eu lá vou me importar com as falhas de credibilidade de um relacionamento fortuito, bom e fortuito?
Ele sabe que eu gosto de outro. Deve saber que eu gosto de outro além dele, porque ele tem ego, dos grandes. Mas é dominador: mais um a querer me trancar na gaiola; mais um a dizer 'seja feita a minha vontade': coisas que não se diz para uma ariana.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A boca do poeta, parte III


Disse eu, em postagem anterior, que o ano já acabou. Sim, já acabou. Como novela que se finda, sempre os últimos capítulos podem incluir personagens novos ou embaralhar as probabilidades e mistérios do final. Assim foi comigo: "estava à toa na vida", tentando me distrair de uns fracassos causados por minhas más escolhas, e então Ele me apareceu.
Devo dizer que Ele me encontrou e que eu jamais O busquei nem dei por Sua existência, apesar de estar geograficamente perto de mim, mediada por um séquito de amigos em comum. Nunca O vi na vida e, Dele, jamais ouvi falar.
Ele se aproximou. Só achei estranha a atenção demasiada por mim, a curiosidade sobre meus passos e o fato de que Ele estava sempre invisível para os outros, no Facebook, mas sempre disponível para mim.
Ele é bonito, escreve maravilhosamente bem, tem poemas bons e outros, nem tanto. Porém, vai ao nível dos demais da geração dele.
Nos dias anteriores ao contato físico, eu pensava: se é bonito, inteligente e criativo, deve ter algum defeito bravo. Deve ser baixinho. Deve ser feio ao vivo. Deve ter alguma coisa ali de errado. E caso não tenha diretamente, posso esperar um distúrbio psíquico, um traço terrível de (mau) caráter...E se assim não for, eu que me prepare para disputar espaço com as tantas outras do harém do poeta, porque eles são assim. Eu já disse aqui que os poetas sempre me enganam e que eu nunca mais cairia nos enlaces líricos laudatórios de nenhum outro, pois já me bastavam os que eu já tinha ficado - que suponho que desconfiem, mas eu nunca contei nem ao meu amigo mais confiável. Destes, um em especial se tornou segredo ultrassecreto porque descobri que minha amiga era louca por ele. Deus me livre que ela saiba: iria causar uma mágoa desnecessária. Mas quando se é poeta e lindo, ainda que medíocre, não tem jeito: é fascínio puro.
Voltando ao meu caso de agora, ficamos conversando sobre poesias e ele me desafiou em algo. Eu disse que se a vitória fosse minha, ele me pagaria em chocolates; ele disse que para ele, pagamento em café.
Troquei as respostas em ato falho: PAGAR um café, no contexto, virou TE PEGAR num café. Ato falho freudianamente captado e ele enlouqueceu para a gene se ver, na noite da terça,
Protestei apenas quanto à indisposição, porque eu estava com uma cólica infeliz. Elegante, ele disse que me daria um Advil e carinhos, porque não queria adiar o prazer de minha companhia.
Eu fui. Fui armada de cinismo até os dentes, pensando que, na verdade, eu tenho uma pessoa no coração, mas que dali não passa. Fui por ser corrompida pela beleza Dele e pela sutil promessa dos prazeres do encontro. Fui tão dissimulada, que fui no carro dos outros e não no meu...
Mas eu não traria ele à minha casa. Não iria à casa dele. Tenho péssima impressão sobre a casa dos homens, abatedouros de reputação duvidosa, que sempre estragam o clima, por conterem o palimpsesto das damas passadas, de outros gozos, de outras mulheres, de outros encontros...E nada pior do que uma mulher se sentir mais uma na lista das tantas. Eu nunca faria isso com um homem.
Trazê-Lo à minha casa, seria incluí-lo em minha vida...E isso, não.
Ao vivo ele é tão lindo (ou mais) que na vida virtual. Se posso me queixar de algo, é tão somente do perfume que ele usa, porque sou sensível e entendida sobre perfumes. O dele tinha péssima qualidade - não péssimo cheiro - mas a péssima qualidade de um perfume masculino me faz ficar com a impressão olfativa das notas de saída e não com as de fundo...é como se a pessoa usasse álcool diluído em perfume. Um cheiro horroroso qualitativamente. Gosto tanto de perfumes que sonhei recentemente com o cheiro de Vezzo, da L'ácqua di Fiori, num homem atraente. Vezzo significa vício, é um cheiro forte, marcante, para quem pode. Nos demais, cabe cheirar a Armani, desde que não seja o Code, que é adocicado demais; ou adotar cheiros masculinos como os do Lapidus. Pronto! Se usar Malbec, Kaiak ou outros cheiros comerciais do dia-a-dia, está lascado comigo - cheiros comuns, vulgares, impessoais.
Conversamos na praça, muito, muito...Depois, claro, a boca do poeta: sempre encantadora. E como ele beija bem!
Dei um bocado de voltas, de carro com ele, depois, discutindo a cidade e a poesia; os lugares, a vida...E paramos no Ville gourmet, na área mais suspeita do estacionamento para conversas, análise e namoro.
Ótimo o poeta. Excelente abraço também. Desde sempre, ele cita meu nome; ele fala meu nome: homem experiente sabe que a mulher adora ouvir seu próprio nome, mantra agradável que nos personifica.
Ele tem abraço acolhedor e mente criativa.
Ele tem boca criativa e é cativante. Em todos os sentido, foi um prazer estar naquela companhia...
Fui levá-lo em casa, já de madrugada, invertendo os papeis: pois é, não ofereço minha vida a ninguém; não quero compromisso, nem rolo...episódios bons, sempre!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

No fim...


Não por pessimismo, mas por senso de realidade, considero que o ano acabou. Nada de novo, surpreendente ou efetivamente modificador pode ocorrer nos próximos 27 dias que faltam até o completar do ano de 2015.
O ano, para mim, só ficou efetivamente ruim depois de julho. Antes, tudo bem...Como se fosse uma continuação de 2014. Aliás, de 2014, a única coisa que continuou mesmo foi meu jeito de errar.
A gente quer mudança, novidade, outras cenas, mas repete os erros, as atitudes, as escolhas. Nada mais difícil de mudar do que um interior psicológico repetitivo, de atitudes repetitivas, de vícios repetitivos, de repetição de si mesmo.
Talvez eu devesse levar a sério a ideia de me renovar assim como a de renascer.
Dos 18 para os 24 eu renasci.
Dos 31 aos 33, eu renasci.
Faz somente dois anos que eu parei.
A gente não tem que trocar a casca todo dia. Muda-se aquilo que não funciona, ou troca-se por coisa melhor.
Incorporei umas coisas à minha vida, fiz mudanças importantes, inclusive devido a descobertas espirituais e indicações de que há formas diferentes de encarar situações e lugares.
Deste ano, posso dizer que o melhor que fiz foi parar uma amizade movida a desrespeito. Vi que, de fato, eu não precisava passar por aquilo. Andava de mãos dadas com uma amiga sovina, pão-duro, intransigente e desrespeitosa. Era desrespeitosa comigo, sempre. E eu atenuava e perdoava, julgando que eu era impaciente e intolerante...Até chegar a um extremo, numa noite no teatro. Decididamente, não saio da minha casa para ser desrespeitada. E ganhei uma série de coisas com a ruptura, além da paz: só em não ter que ouvir pagode; não ter que 'rever os meus conceitos', porque afinal, eram os conceitos dela que eram os certos; não suportar ser um acessório das horas difíceis e não ter que acatar programas unilaterais, já foi um ganho extremo. Aqui é o resumo. Mas, então, certo estará quem me disser "e se era tão ruim, por que durou tanto?" - por minha burrice e falta de avaliação.
A outra amiga, que ocupa um lugar VIP em cima do muro, deixa ela lá...Também basta a distância.
Das coisas internas que mudaram, acho que o senso de carência mudou, está quase extinto.
Hoje, olho com pavor e nojo certos relacionamentos sustentados por minha carência. Era carência, vingança do ex e algum traço de autodestruição...Só pode ter sido.
Se eu encontrasse F.J. hoje, por aí - coisa que evito a ponto de nem frequentar mais os mesmos lugares - e iria ter ânsia de vômito. Se até hoje lembro dele, coisa que ficou lá em 2013, é porque ainda tenho pavor e arrependimento...E porque ele me aparece à porta, tentando voltar.
Neste ano, mudou minha relação com o meu pai. Não, não dá. Não sou uma pessoa de tranquilamente usar aqueles perdões sociais. Na vida social, todo mundo diz perdoar, ter sentimentos nobres, etc. Não quero essa hipocrisia para mim. Contudo, queria que espiritualmente tivéssemos resolvido nossas diferenças, para não correr o risco de ter que me encontrar com ele em ouro capítulo da existência, conforme preconiza o Espiritismo, doutrina que adotei e em que parcialmente eu acredito.
Outra descoberta, nesse ano, foi o quão panfletários os cursos da área de Educação têm ficado.
Vi amigos e ex-professores numa postura delirante de deslumbramento ideológico, sem a menor noção de realidade...É que as teorias são proposições que, muitas vezes, não dão conta de realidades plurais, não são aplicáveis dentro da lógica do possível e, sobretudo, são bonitas. Teorias são bonitas. Nem sempre, porém, lógicas. Talvez, teorias sejam somente teorias. E só. Mas tem gente que precisa delas para viver, para desviar do vazio comum da vida...É assim. E o que eu vi em dadas avaliações foi que ao coitado do aluno ou candidato a professor, não basta dar as respostas certas: tem que abraçar a causa, sindicalizar, vestir a camisa, se engajar...E isso de ter pacto com as causas não precisa necessariamente corresponder ao que esperam, de tirar a carteirinha do sindicato. A seriedade profissional ou ideológica pode se fazer silenciosamente no dia-a-dia das práticas responsáveis.
Bom, também com o menino que fiquei em setembro, aprendi que se a gente evita pensar, esquece mesmo. Porque esta foi a receita que ele me deu, para que a gente não criasse apegos inviáveis de relações inviáveis. Não foi difícil adotar a ideia. Constatei que pode funcionar conforme varie a importância do Outro para nós. Ao descartável, o descarte. E daí por diante.
Vi que dar a centésima segunda chance nunca adianta nada. Pode parecer impiedoso e radical, mas nunca deveríamos dar a segunda chance a ninguém. De minha parte, encerrou-se a concessão de segundas chances.
No mais, tudo de bom para 2016 é plantado em 2015. Não plantei nada de novo. Do pouco que plantei um pouco antes, nada frutificou. Deste modo, espero um péssimo 2016 e esta previsão só pode ser revogada se algo excepcional acontecer nos próximos 60 dias a partir do ano que vem. Mas é algo na faixa entre o milagre e o improvável.
Apesar de tudo, a vida continua e não sou muito de lamentar sem agir. Carrego meus fardos e tenho orgulho disso: minha vida é minha e eu não resolvo problemas tomando comprimidos. Fé em Deus e bola para a frente, mesmo quando a gente já está derrotado e tem que cumprir tabela até o fim do campeonato.
Embora tudo esteja dito e feito, ainda tenho o poder de tomar decisões diferentes, mudar de rumo e de direção...Isso, sim, pode ser. E alteraria tudo para o bem ou para o mal. A vida se compõe de apostas.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Reviravoltas...


Nem tive a intenção de 'vender meu peixe', nem de, através de minha ausência, fazê-lo valorizar a falta...Mas do mesmo jeito que eu pensei com saudades nos antigos escritos trocados entre nós - claro, de forma desproporcional, porque eu escrevo mais - ele também sentiu. Eu achava que ele não sentia nada, que ele apenas ' se sentia'. Admito: sou do tipo que acha que homem é uma espécie que consegue viver sem coração, tanto quanto eu, quando apaixonada, consigo viver sem cérebro. Mas, sim, ele colocou as cartas na mesa e apresentou o Arcano da Saudade.
Veio timidamente, com um 'oi', a que eu só respondi no dia seguinte, menos por revide e vingança do que por ter dormido cedo e desapegar do smartphone.
E trocamos monossílabos.
Esperamos, desconfiados, as reações um do outro.
Pensei nos meus erros com ele, por não entrar no jogo e detestar o jogo, até ser convencida de que havia o jogo e ele era imperativo. Para sair do jogo, dei um W.O., não compareci a mais nenhuma partida. E se houvesse partida, seria somente a minha alma, partida em cacos.
Lá se foram três meses de meu silêncio, do isolamento virtual dele, inclusive pois, ouso aqui recomendar e aconselhar: se você quer mesmo esquecer alguém, não vá atrás de notícias, não busque a página, não queira saber.
Assim foi.
Pensei que foi o ego dele que sentiu minha falta, querendo afagos...E pode ser. Por outro lado, ele viu que acabou e quis recuperar, pelo menos, algo do que ficou.
Quando eu derramei as palavras, ele vibrou, renovou o ânimo...Também pensei muito nele, no fundo, avaliando e medindo as circunstâncias.
Ele me disse o mesmo que F.J."Você me faz bem!". Isso me deixou desconfiada. Qualquer coisa que me lembra F.J. me deixa desconfiada de catástrofe porque, dentre os meus erros, o maior foi estar com aquela criatura por mais tempo do que devido - adiando o término para não ficar socialmente mal, porque não gosto de gerar ódios. F.J., sim, me causa nojo e ódio de outra espécie, que pode ser ódio de mim mesma por ter tido tamanho desespero de causa. Onde já se viu? Achei que ele era o mesmo namoradinho meu de adolescência. Nem quero lembrar, mas tenho que admitir que ele existiu.
E meu problema com Vini é apenas saber que ora, sim, passo muito bem sem ele. Com ele, tenho um bom interlocutor, mas não sei...instável...Ou sou eu quem é bastante desconfiada.
Mas, tudo bem. Tem muitas coisas nele que favorecem meus afetos...E é uma boa companhia...Por enquanto, estou cheia de receios, avaliando, não tao disposta a reatar essa história...mas ele é criativo, sabe reinventar histórias...

domingo, 25 de outubro de 2015

Finado


Longe de qualquer saudosismo lamurioso, li dois e-mails que V. escreveu para mim, no começo do romance platônico. Era outra pessoa. No fundo, o que eu lamento é isso: dizem que a gente idealiza quem a gente ama, que projeta o que nem há...Tudo bem! Entretanto, se o interesse nasceu, teve suas causas. Sinto muito por ele ter mudado, por ter perdido o que me encantava...A tal ponto que nem foi o amor que acabou mesmo, primeiro: é que eu olhei e vi que a pessoa que eu amei já não estava ali. Ele era outro.
O que eu amei?Finado. Morto, deposto, enterrado...só um pó nas lembranças.
Do mesmo modo como critico os maridos infiéis, que reservam o melhor sexo para as amantes, critico aos que não se fazem mais amar. Acho que esses caras mostram apenas o lado Bom, controlam o que têm de defeito e, num dia, começam a deixar escapar o que têm de ruim e não se esmeram em manter o lado bom.
Mas, lendo as palavras dele, vi porque me apaixonei e como ele era uma pessoa boa.
Creio, ainda, que não foi somente a falta de cuidado dele, comigo, mas o fato dele ter mudado mesmo. Não é um clichê à toa: uns amadurecem, outros apodrecem.
Independentemente do amor que já não nutro, gostaria que ele fosse o mesmo cara que era quando eu o conheci. O luto amoroso não é exatamente pelo fim do amor, mas pela morte simbólica de quem a gente amou - eu gostava tanto dele.
Sou assim, muito fiel ao que eu sinto: ao amar, amo mesmo. Ao deixar de amar, pouco importa a pessoa, quando o término é conturbado; quando acaba e o amado é pessoa boa, a gente dá um jeito de manter a pessoa em nossa vida - é o que eu faço, tornando-o amigo.
Causa uma tristeza sim, olhar e ver que aquele ser amado por mim, já não existe. Queria que, pelo menos, ele fosse gente boa, bem humorado, respeitador, humano... Vou sentir falta do que ele já foi.
Coloquei o excerto do Leminski, porque o clichê seria o outro poema, aquele do "Amor, então,  acaba? Não que eu saiba..."Este, pelo jeito, 'vira mágoa'

A paz de ser como sou


Quando a gente alcança a paz de não amar homem nenhum e pouco se interessa em constituir novos relacionamentos amorosos, sempre tem que vir algo para quebrar essa paz.
Faz uns meses que eu vi ( e não poderia deixar de ver), estampado na cara do meu amigo de mais de uma década, o súbito interesse por mim.
Ele era amigo do meu ex-namorado R., e namorava minha amiga C. Nós nos acostumamos a passar os sábados juntos, ouvindo música que presta - desculpa aí aos ecléticos e aos que fingem que qualificativos como Bom e Mau são construções pessoais, classistas e discriminatória. Posso mentir e ser politicamente correta, mas como o blog é meu e lê quem quer, vou pular essa parte - e em muitas vezes eu apenas vislumbrava o machismo deles, embora todos nós tivéssemos um bom convívio.
Ele gostou do que viu em mim, recentemente. Foi um entusiasmo só. Quando a gente se viu, faltavam horas para o filho dele nascer; e a esposa estava junto, na mesma festa.
Trocamos gentilezas e meios de contato nas redes sociais, sem que eu desse meu telefone. Também por sinceridade, odeio visitas. Só as pessoas que eu visito é que gosto que me visitem. A paz também se constitui disso, de não ter gente ao portão, de não interferir em minha rotina e me exigir atenção em conversas e demais lances do social - misantropia controlada.
Ele fez umas declarações escancaradas, tão escancaradas que eu e fiz de desentendida, desviei o foco, coloquei panos quentes mas o provável é que alguém viu, a mulher viu - era público - e também andou um convite para mim, ao qual aceitei.
Não devo nada, não flertei...
Por esses dias, procurei os dois. Cada perfil constou como 'conta desativada'. Excluí o contato. Horas depois ele me mandou um convite e das mensagens, pedindo meu telefone, buscando visitas.
Não dei até hoje. Não vejo sentido nisso. Amigo é amigo - não vou abrir precedentes, nem vou abrir as portas da minha casa, porque ele achou minhas coxas bonitas ou porque pareço uma opção à provável crise conjugal dele.
Estou, de novo, na fase de não querer ninguém. Quero apenas estar em paz. Estudo, leio, saio...Não me sinto só por estar sozinha: pelo contrário, gosto que minha casa seja minha, gosto de não ter que conversar...Gosto de mim suficientemente para curtir minha própria companhia. Essa é paz.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Para terminar


Não sei por que é difícil terminar, declaradamente com alguém, se previamente sabemos que arrastar o corpo do morto só tornará desfigurado o que, por si só, já não existe. O fato é que eu gostaria de sair devagarinho; eu não gostaria de dar o golpe de misericórdia, mas o discreto beijo frio da morte e fazer com que ele percebesse que ali jaz o que outrora houve.
Até meu ficante, diante de minha distância, meu silêncio e minhas maneiras vagas de declinar de oportunidades de encontros, não se tocou que acabou o caso...E como sequer era namoro,  a ausência de empolgação e disposição em vê-lo, também eram coisas sintomáticas, eram palavras mudas e sérias.
Acho que esse negócio de terminar é similar àqueles lances da amizade que a gente não assume, quando tem problemas, por temer perder o amigo, despertar raiva, criar contendas...Mas as coisas ali estão, em estado latente. Isso, por sua vez, reporta a que também que termina, quem dá a palavra do término, sofre. Sofre porque não gostaria de fazer sofrer; sofre porque se põe no lugar do outro; sofre porque percebe que o amor acabou, ou o interesse, ou qualquer razão que sustente o relacionamento, mas aquela pessoa irá fazer falta; sofre por tudo de bom que até ali sustentou a relação e por tudo o que se foi. Mesmo quando o outro é, para nós, um fardo...Sempre tememos ser maus, exercer vilania, parecer louco ou monstruoso...É um luto. Eu, contudo, luto para que tudo acabe bem, mas acabe - sem gritos, sem apelações, sem muitas perguntas...Contanto que acabe com poucas palavras e muita compreensão, sem que o outro se sinta rejeitado...O interesse acabou. Acabou. Acabou-se!

domingo, 11 de outubro de 2015

Terceira Pessoa



Nunca seremos donos do outro. Nunca! Vigiar um telefone, investigar atitudes e contatos suspeitos, velar pelas redes sociais, nada disso garante a fidelidade e não passam de exercícios ridículos para dar a ilusão de controle. Se não estamos a salvo do ciúme, a verdade é que a ameaça da traição sempre rondará, sempre estará à espreita, em olhares furtivos, em pensamentos, em desejos nunca suspeitados, nas viagens mentais do outro...Não adianta vigiar. Vigiar, na verdade, serve apenas como um alerta para que o outro seja cuidadoso.
A ilusão da união estável não traz a estabilidade que as pessoas querem, seja no matrimônio formal, seja nas declarações análogas...Talvez, sim, a burocracia de um divórcio, os desgastes da partilha dos bens, os dissabores administrativos de uma separação segure os mais cômodos no enlace. A verdade é que não há garantias.
Tenho assistido aos programas que mostram relacionamentos fora do convencional e, em alguns casos, está evidente que as pessoas se machucam, que não estão preparadas para suportar às claras aquilo que é, pois, desde sempre, um comportamento velado.
Mas em outros casos, tudo bem: os casais se amam, se gostam, se respeitam...E por uma questão de sinceridade levam seus pares para onde todos possam se divertir sexualmente, sem mentiras. Em muitos casos as pessoas querem apenas sexo com outra pessoa que não seja o seu parceiro habitual..Em outros, o sujeito comprometido busca viver romances, se envolver, ter paixões, viver as adrenalinas dos relacionamentos em começo...Por isso falam tanto em tédio, em cansaço...Nem sempre é o cansaço da pessoa com quem se está, mas o cansaço da repetição e da falta de aventuras.
Machado de Assis, em sua Literatura - tal como tantos outros, tal como Flaubert - expunha em traços a vulnerabilidade dos afetos, a traição...Ora em Missa do Galo, quando o marido e Conceição saía nas noites de terça, a pretexto de ir ao teatro, quando até mesmo 'as escravas riam à socapa' por saber que teatro era eufemismo para a pulada de cerca do personagem com uma viúva. Mas, é isso: bons casamentos e boas relações são, em muito, movidos a teatros.
Gente fiel, cuja fidelidade não advenha dos terrorismo religiosos e coisas afins, são quase inexistentes. A sinceridade funciona melhor que a fidelidade...
Mas o que se quer é isso: que sejam cuidadosos no trato com seus casos; que aprendam a ter segredos, que não deixem pistas.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A mão do pai


O fardo sobre o ser humano é grande. Ainda mais por ser saber humano, falho, imperfeito, inacabado e tendente ao erro - coisas que todas as religiões reforçam. Ai de nós, ensinados a não guardar mágoas, a amar a todos, a desculpar, a perdoar, a ser superior mediante a sublimação de nossos sentimentos mais originais...E volto a repetir: nunca criei inimizade com quem quer que fosse gratuitamente; não há em mim um só ódio ou mágoa sem justa causa. No seio da família, então, é talvez onde a gente mais sofra ou, pelo menos em meu caso. Não me vejo neles, não me entendo com eles, embora isso não signifique necessariamente a falta de amor. Mas é amor pisoteado, magoado, cheio de recordações de dores...É amor daqueles que a gente chega perto já com a caixa de curativos, porque sabe que não vai sair ileso, sem feridas, sem cortes, sem dores. Umas feridas virão por palavras, outras pelo comportamento e muitas pelo estranhamento.
Não sei o que eu fui fazer ali, naquela família.
Tento negociar com Deus, zerar as contas, implorar para que nenhuma futura encarnação aproxime a gente de novo.
Tentei fazer com que tudo fosse diferente, mas a verdade é que estamos bem quando estamos distantes. Sábio é quem diz que família é ótima, na fotografia. E cedinho, a filha mais velha de minha madrasta falou e explicou: "Parente é carne no dente, ou seja, incomoda!".
Especialmente com meu pai, que se tornou um grande vigia do meu comportamento no Facebook, a relação piorou a olhos vistos.
Nós havíamos nos reaproximado há uns anos, porque também Andréia me convenceu de que, se agora meu pai era presente e interessado, que eu aceitasse a nova configuração dele, porque esta era a forma de incentivar a ser melhor e que eu considerasse o esforço envidado.
Agora ele me acha metida a besta. Ele vê, na minha página, onde vou e o que eu publico e deve lembrar muito bem que eu sou doutora, que escrevo coisas que ele não entende, que somos muito diferentes, eu e minha família fútil, acostumada a ser milionária há cinco décadas e desprezar o estudo; hoje, miseráveis ainda que com alguma pompa, falam, em seu português lamentável e desapegado de flexões, sobre passado e sobre a inutilidade prática do meu conhecimento, pois que doutor, para eles, é como nas novelas da rede Globo: epíteto de quem tem dinheiro. Todo doutor de novela Global é apenas alguém com poder financeiro.
Meu pai acha um absurdo eu não ser mais militar. Critica minhas escolhas, comemora minhas derrotas como se elas fossem uma confirmação da razão dele sobre as opiniões que tem.
Ele gosta de carros caros e os tem e mede a vida a partir dos bens. Sempre foi assim...
Decidi aceitar que não tenho pai. Não quero conta, nem farei mais os teatros comemorativos do natal, do aniversário, do dia dos pais.
Ele foi meu pai até os meus sete anos. Depois, não. A figura que escolhi para ilustrar esta postagem, lembra o dia em que el me levou para a escola, em meu primeiro dia de aula...Depois, foi pai por episódios, em curtas temporadas.
Vou também repetir o que eu aprendi com o Stuart Hall, em Da diáspora:identidades e mediações culturais, porque, para mim, o teórico que só teoriza no abstrato, geralmente está fazendo ciência de gabinete, isto é, nunca foi a campo, nunca acompanhou nem vivenciou o que descreve e analisa. Hall, no entanto, , na parte 5 de seu livro, em que concede uma entrevista transcrita nesta parte, fala a Kuan-Hsing Chen, que o entrevista formulando uma interessante pergunta, dentre tantas, sobre fragmentos da própria experiência pessoal de Hall frente aos seus objetos de discussão.
Depois de tratar da trajetória biográfica inicial e explicar que ele era diferente da família dele, seja pela cor, seja pela configuração psíquica e social, ele diz: " Por causa disso, fui sempre identificado em minha família como alguém de fora, aquele que não se adequava, o que era mais negro que os outros, o 'pequeno coolie', etc. E desempenhei esse papel o tempo todo. Meus amigos da escola, muitos dos quais provinham de famílias de classe média respeitáveis, porém mais escuros que eu, não eram aceitos em minha casa. Meus pais não achavam que eu estivesse fazendo amizade com as pessoas certas. Eles sempre me encorajavam a  relacionar-me mais com amigos da classe média, de cor mais clara, o que eu não fazia. Em vez disso, me afastei emocionalmente da minha família e fiz amizades em outros lugares. Passei minha adolescência negociando esses espaços culturais. "(HALL, 2006, p. 386(
Apenas confirmo meu afastamento emocional, já de longa data, a ponto de não sentir saudades de um ou outro senão após anos...ou por sublimar a possibilidade de sentir saudades. Mas não era isso que eu queria para mim, nem para eles. O desejável era uma relação boa que nunca terei. O desejável era que também eu não pensasse sobre meu pai aquilo que penso, pois o que penso é que ele é corrupto, desonesto, submisso na família da mulher dele e omisso na minha família. Penso que ele é covarde, que nunca enfrentou uma conversa comigo e que preferiu assim fazer, para não se deixar afetar pelas verdades de sua negligência paterna e da mediocridade explícita daquele caráter vicioso de quem eu ainda reluto em admitir que possa ter me transmitido o DNA, porque somos diferentes, estranhos...E porque psicanaliticamente, processei a morte do pai.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Fogo amigo


Era uma pergunta simples, que exigia uma resposta simples e, fosse meu interlocutor humano e solidário, mereceria uma resposta leve e pitoresca. Mas, não: ele foi esnobe e tripudiou sobre mim, dando a entender que pessoas 'como ele' não precisavam comprar ou pagar pelo que eu perguntava, que isso era serviço de terceiros a favor dele.
Imaginem aí, a simplicidade da pergunta? Era algo tipo: "Você, que vai ao supermercado toda semana, poderia me dizer que sessão ficam os produtos X, e a média dos preços?". Mas ele inventou todos os subterfúgios para ser esnobe, para dizer que ele nem teria como saber e, não sendo esta a pergunta feita, ressaltando que aqui dou uma exemplo similar, seria impossível alguém comprar algo, pagar por algo e nunca se ocupar de saber o custo, ainda mais neste caso, em que é exigido o porte de determinado comprovante de pagamento. por mais que terceiros comprem ou paguem para ele, há apresentação obrigatória do comprovante, onde consta também obrigatoriamente o valor do que eu perguntara.
Perguntei por necessidade e em vista de nossa extensa intimidade...Não me importo com a resposta, mas com o desamor. Ele foi pouco amável, idiota mesmo. E para quê ele precisava da arrogância em cia de mim?
Acho que, no fundo, ele nunca teve humildade mesmo. Tem suas razões para isso, mas é essa falta de solidariedade que me assusta. Acho que nem para um inimigo eu dispensaria essa aspereza de arrogância.
Deixo meus inimigos em paz. Todos. E se por acaso se lascarem, que se lasquem; Se forem vitoriosos, desejo-lhes justiça. E isso foi uma construção lenta e até certo ponto atemorizante, pois eu era vingativa, até perceber que diante de algumas injustiças sofridas, não sendo eu a única a ser vitimada, aquelas pessoas inimigas, que tinha a mais que eu, invejavam meu lugar, meu entorno, minha vida e que, na verdade, eu incomodava a felicidade deles.
É assim: sou da batalha. Jogo, aposto alto, pago o preço, viro a mesa, mas jogo limpo e não mudo as regras no meio da partida, ao contrário de muita gente sensível e frágil que empregou seu tempo em fofocas, intrigas e que esperavam eu sair da sala, para poder articular contra mim. Isso, é lógico, amparado na simpatia geral e no perfil da fragilidade e sensibilidades estratégicas, regadas a boas doses de drama, autocomiseração e apelos aos sempre alimentados eventos depressivos. Isso, sim, não é coisa de amigo. Mal de mi que, conscientemente, nunca fiz mal a esse grupo de gente e se desejos de vingança se mostraram presentes, eram antes por meu ódio frente a tantas injustiças, já que eu deixo as pessoas em paz.
Talvez seja a ação de meus inimigos, que são amigos dele, a influenciar a pessoa a ser aquilo que ela vem se tornando. Nós que éramos grudes, parceiros, cúmplices e que eu gosto de verdade. 
Agora, sim, tudo mudou. Mudou dentro de mim, estilhaçou, quebrou e eu quebrei a cara...Por que tripudiar sobre mim?qual a necessidade? auto-afirmação sobre mim, partindo de gente amiga?Fogo amigo, já que eu não estou em batalha contra ele, não estamos em campos opostos ou, pelo menos, assim eu pensava. Saí ferida da batalha que ele criou..E era só uma pergunta simples, de quem queria informação;

sábado, 26 de setembro de 2015

Deixe o amor passar


Ela, tão experiente e inteligente, ainda não entendeu que o amor é uma instância psicológica. Fica lá, besta, dando indiretas ao ser amado que a rejeitou, indicando que está tão bem, que está tão feliz sem ele, como se isso convencesse a alguém. Quando o amor passa, nem necessidade de indireta há, a indiferença se torna verdadeira.
Eu sempre duvidei de Drummond, com aquele verso "amar se aprende amando". Defendo que amar não se aprende nunca. Cada amor é um aprendizado novo, cujo conhecimento anterior na causa jamais serve, Olha lá, ela, experiente, com vários amores sólidos no currículo, reduzida a uma infantilidade indescritível. Ela, que passou por maus bocados em casamento, namoros...Deveria ser expert no assunto...mas não é: é frágil como uma criança e pouco suporta o peso esmagador que ele, o ser amado, exerce sobre seu ego.
Eu também passei por isso. Eu também insisti no que não dava, sofri, sonhei, fiquei sem entender...e eu não procurei, foi ele quem começou o flerte nunca concretizado, numa dessas minhas histórias assumidamente reais.
Ela se sente humilhada por amar um cafajeste, alguém que não sacrificou um pouco sequer dos seus impulsos de infidelidade para ficar com ela. Não, ele era sincero. Ele viveu as aventuras do troféu da novidade sexual que ela representava, depois deixou claro que não havia nada nela de especial ante as outras de que ele não iria abdicar.
Nesse caso, não adianta a distância, nem as  aventuras em outras paisagens:  ele está ali, na instância mental dela...onde quer que se vá. Ajuda muito ter iniciativa, ter vida própria, ter outras metas...Mas o tempo e a iniciativa de desviar o pensamento, cortar os hábitos, parar de concorrer com o cara, na ânsia de lhe provar o quanto se está bem, ou seja, deixá-lo na desimportância, são atitudes que aceleram o fim do sentimento.
Desconstruir na mente significa mudar os próprios hábitos:  parar de visitar a página dele, de incluir o contato diário na rotina, deixar de stalkear e de fazer perguntas sobre ele a outras pessoas ou, mesmo, abstrair se as informações aparecem de graça e, acima de tudo, apostar no tempo, aí sim, não garante resolver mas contribui demais para o esquecimento.
Mudar a si mesma, adotar outros modos de agir e , literalmente, não querer mais saber do ser amado, só isso, já representa,  no meu particular modo de ver, 75% de chances de esquecer o amado.
Enquanto há sentimentos, há insistência. Porém, quando passa e vem a sobriedade, a pessoa sempre se pergunta como foi capaz de amar aquela outra pessoa.
Nos amores correspondidos, uma vez estabelecida a relação, todo sacrifício é pouco para desfrutar da presença de quem se ama; os defeitos são detalhes interessantes; a feiura nem existe, é puro charme, tudo parece eterno...Aí o tempo transforma tudo em chateação, mal amparada pela necessidade de não estar só, vai se empurrando anos a fio a relação que já não satisfaz...Tudo passa! Vem a preguiça de ir ver a pessoa e a ausência dessa pessoa, ao invés de trazer saudades, traz alívio...E ainda assim, dificilmente alguém toma a iniciativa do término - eis o ser humano, É aí que se mede a coragem e é aí também que a pessoa nota que amores passam mesmo...se o saldo for bom, ficará a amizade; se a covardia for grande, fica-se para sempre com quem já não satisfaz, instaura-se o cansaço que somente os episódios de traição conseguem dar algum alívio. Nada disso nunca foi fácil. E tende a se repetir, porque sorte no amor é coisa difícil e se assim não fosse, é do ser humano o tédio...é o preço da ilusão de segurança e estabilidade.
Mas amor se alimenta de sonhos - os meus duram o quanto podem me fazer sonhar. Amor e pés no chão nunca formaram par...Já amor e pé na bunda, formam uma dupla inseparável.
Saia do caminho:  deixe o amor passar.
   

Dois homens e um segredo


Ele me deu uma versão e meu amigo me deu outra. Ambos estão mentindo. Por que será? Fiz uma pergunta simples: "Certo, vocês se encontraram porque um de vocês trocou de turno. Mas como foi que chegaram ao meu nome?" O mistério continua.
O que há de errado numa resposta sobre isso? Meu amigo inventou uma versão fantasiosa e espalhafatosa: "Eu abri o notebook, fui fazer um trabalho...Acabei abrindo o Facebook e ele te viu lá. Em seguida, vieram as perguntas de praxe".
Na versão dele, aconteceu de estarem conversando sobre as pessoas inteligentes e loucas, os melhores amigos que se pode ter. Meu amigo teria citado o meu nome e ele perguntou se se tratava de uma professora, doutora em Literatura, blablablá...E após as intersecções de descrição e consequente confirmação, meu amigo perguntou se a gente já havia ficado.
Por que o desencontro das versões? Meu amigo está claramente mentindo, porque titubeou para responder, jogou aquele 'não me lembro direito'...E o meu ficante também mentiu. Qual a necessidade disso? O que será que eu não sei e por que será que eles precisam esconder de mim a droga de uma informação que me diz respeito? Na versão de um, isso tudo de se conhecer e chegar ao meu nome, foi há um mês; na do outro, foi há uma semana.
Deveriam prever que uma cabeça criativa de mulher dá altos giros na direção de conjecturas, hipóteses, ilações...já criei tanta versão! uma mais perigosa que a outra...Mas sempre volto ao mesmo ponto: Por que eles precisam mentir?
 

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Na real...


Ai, coitada da pessoa! Acabei de receber um telefonema de uma amiga que frequenta meu blog e que entrecruzou umas histórias daqui a uns tantos homônimos, confundindo tanto que chegou ao ponto de me pedir o esclarecimento devido, já que parte do que foi escrito não bate com a pessoa. Pois é, outras amigas que escrevem em blogs, defendem a ficcionalidade do que escrevem, dizem ser tudo invenção, criatividade pura, vivências imaginárias...Entretanto, quando é no blog alheio, tipo o meu, querem saber 'quem é mesmo aquela pessoa que você falou?". E na minha vida tem pelo menos três de cada Ana, Ângela, Adriano, Beth, Carol, Chico, Fernando, Marcelo, Rafael, Ricardo, Vítor, Vinícius e etc. e isso nem é para complicar a identificação, é que a gente escolhe o que será segredo. Tem muito de verdade por aqui, mas é por dose mesmo, porque sou solteira, livre, independente, desimpedida e posso assumir opiniões, deslizes... E costumo esconder mais os meus ganhos, o sucesso, as vitórias...Porém, por mais que se conte, que se fale, que haja o tom confessional, a gente sabe ocultar o que quer e se isso não é feito com extremo cuidado, é que de vez em quando é interessante deixar a dúvida, deixar que pensem personagens, fatos e lugares...Se os leitores nem sempre percebem as margens entre realidade e ficção, não há nada de mal nisso: é parte do jogo da escrita. O que há de mais real, por aqui, é a pessoa que escreve - eu existo.

"Disciplina é liberdade..."


De vez em quando eu não sei onde vai parar minha disciplina.
O meu ex-namorado mais sem-noção,  o FJ, um dia me chamou de metódica, com a intenção de me ofender, queixando-se que eu adoro um planejamento, que estipulo horários, datas, ocasiões...Sou mesmo! Pior ainda: sou daquelas pessoas 'e se...' e quando se é este tipo de pessoa, você se torna a rainha dos cálculos de probabilidade. Logo, funciona assim: No meu carro há um guarda-chuva permanente e acessível; além de um kit com sapato e produtos pessoais básicos e uma manta; minha bolsa tem miniaturas de pronto-socorro cosmético e higiênico e por mais que eu não tenha dinheiro, há sempre uma reservinha simbólica suficiente para pagar o pão ou a gasolina. Ah, jamais viajo sem estar com o celular carregado e com créditos para ligações e tudo mais. E, se trabalho, faço a programação diária de minhas atividades, inclusive prevendo os momentos de ócio.
Nada disso garante um bom dia ou o cumprimento das tarefas. Agora,imagine sem isso? Não tenho script rígido, mas não deixo o barco correr ao sabor das águas. Não gosto da vida sem roteiros, não. Já basta de imprevistos, a vida é cheia deles...Minha cabeça é um eterno 'vai que...'
Claro que tudo isso era mais que absurdo para FJ, um cara que dizia 'viver o momento', na mais ampla inconsequência, no extremo total que resultou no fracassado que ele é hoje...Mas, de repente, me vejo sem disciplina. Eu, orgulhosa de ter defendido meu doutorado com antecedência e sem abrir mão da qualidade e do esmero...
Os espíritas mais respeitáveis afirmam sempre o valor da disciplina. Têm razão nisso: somos humanos, inclinados a comodidade, inclinados a procrastinar, a postergar o que há para fazer, sempre trabalhando com prazos no limite, apelando para a última hora - meus alunos são experts nisso de procrastinar e em querer salvar a própria pele na última hora, chegando ao ponto de achar que se aparecerem na sala, no último minuto da aula de encerramento do semestre, irão obter aprovação mediante as desculpas esfarrapadas, previsíveis e clichês...Ah, não vão mesmo!
Ter disciplina é chato, mas é necessário.
Quem não tem nenhuma disciplina está sempre alegando que gostaria de frequentar a academia, mas não tem tempo; ou de fazer um curso, mas não tem tempo; ou de mudar alguma coisa, para o que não tem tempo...Mentira! Ocupado todo mundo é...Mas olhem os portadores dessas desculpas, há quanto tempo o fazem? a vida inteira! na adolescência não faziam as atividades que ora relatam coo desejáveis mas impossíveis face ao tempo exíguo...No fundo, pura preguiça, desinteresse e indisciplina.
O interesse  é a maior motivação. Precisamos estar interessados. Ter foco é focalizar a meta, é correr para alcançar o objetivo...Nem sempre a necessidade é o maior estímulo, infelizmente. Creio ser esse meu contexto atual, pois preciso, tenho necessidade, mas estou relaxando na disciplina. Contudo, se consigo enxergar isso, se me toco da situação, é que não estou assim tão mal e hei de melhorar. Já dizia a Legião Urbana: "Disciplina é liberdade (compaixão e fortaleza!"

sábado, 19 de setembro de 2015

Tímido destemido


Há que se perguntar o que dá nas pessoas para se encherem assim de coragem e derramarem, sem nenhuma preliminar, o quanto nos desejam. Vou ficar a me perguntar - porque a ele eu perguntei e obtive uma resposta insuficiente - o que deu nele. Ora, vai saber por que o cara acorda e, de repente, aciona os meios digitais disponíveis e...Pluft! Joga ladeira a baixo a conversa toda. Isso levando-se em conta que nossa conversa nunca excedeu a Literatura, as construções textuais e os temas da atualidade, embora eu não seja professora dele e, ressalto sem a menor sombra de mentira ou hipocrisia: Nunca peguei, fiquei, namorei, transei ou dei amasso em alunos meus. Flertar, já flertei - nunca passou de conversa; me interessar, já me interessei - nunca passou de idealização...
Sei é que o cara, como bom heterossexual praticante, um macho jurubeba no estilo descrito por Xico Sá, mandou logo, com todas as letras que queria ficar comigo ontem.
Como não poderíamos mudar da água para o vinho, ainda questionei se ele não confundiu meu número com outra mulher homônima, já que ele é também homônimo de outro querido meu e esta seria uma coisa possível.
Não! ele me deu um ultimatum, falou, blablablou o que podia e me jogou na berlinda ética porque ele é muito mais novo que eu e isso conta para mim. Desde o aniversário da mãe dele, em maio, em que eu estava com mais uma amiga - e ele, com a então namorada -, para mim estávamos congraçando como família e, ao notar o traquejo social entre todas as partes, achei que ele estava feliz pelo nosso entendimento geral, pelas compatibilidades...Sabia que ele via em mim coisas que via também na namorada, mas isso foi uma observação sem a menor malícia. Eu deveria saber que isso significava não apenas intersecções entre mim e Laura, a namorada dele, mas o fato de haver um padrão de preferências dele.
Este, sim, embora eu não seja um objeto vendável, declarou por outros meios que eu era um desejo de consumo. Só pude ficar chocada, petrificada, sem reação...E a pergunta interior saiu de mim, indaguei, também com todas as letras, o que deu nele? que precedente eu abri, para que ele se sentisse confortável para declarações tão ousadas? agi dentro do arquétipo da mãe e falei mesmo: "Oh, moleque, que tom é esse? Que palavras são essas?"...E ele naturalizou a coisa, falou que o surto de coragem veio por acaso, porque concluiu que fazia tempo que havia a admiração por mim e que ele achava aquela admiração falsa, não por não existir, não por não reconhecer como admiráveis minhas 'coisas' de intelectual, mas porque me achava desejável, fazia tocaias com o olhar, nutria simpatia de longa data e queria mesmo me pegar, me beijar e etc. E o 'et coetera', então, tinha tudo que um etc. pode ter.
Pasma, pedi para pensar, para entender, para me recompor do choque. Ele disse que não! que se eu fosse pensar, iria ponderar, pensar demais e ser consequente, com medo de sentir culpa. E que se fosse para pensar, que eu pensasse em frente a ele, dali a duas horas, porque ele também se resolveria.
Fui. Ele chegou. Saí do meu carro e entrei no dele. Tentamos começar a conversa, mas não renderam palavras muito suficientes. Aceitei o beijo. Aceitei o abraço e o carinho. Devolvi uma parte, depois, já gelada de nervosismo e vergonha. Ficamos. Ficamos juntos, Poucas palavras de duas pessoas tímidas...O coração dele estava mais acelerado que os meus pensamentos... Mas o que será que deu nele?

sábado, 12 de setembro de 2015

Além do pão nosso


Eu não sei se com o passar do tempo a gente vai ficando mais maduro, ou descarado mesmo. Como só posso responder por mim, creio que há as duas coisas. Ou, melhor, esse ser 'descarado' é, na verdade, o cinismo inerente a quem assume as coisas pouco ortodoxas que tem em si e larga de mão o politicamente correto, abrindo-se ao risco do apedrejamento moral dos outros. Bom, lá vai: adoro pão.
Até aqui, não há pecado aparente. Porém, a ortorexia de todos deverá se sentir afetada. Não, eu não corro do glúten, eu não vejo graça em certos pães integrais, com gosto de areia ou de isopor e se ser saudável é adotar uma vida sem sabor, que sabor terá a vida?
Eu não tomo bebidas alcoólicas, porque odeio o sabor; eu não tomo Coca-Cola, porque odeio o sabor e fui agraciada, na visão de muitos, por não me apetecer das coisas não-saudáveis que para muitos são irresistíveis.
O outro lado disso, é a minha cara sem graça diante dos convites gerais e dos comentários sobre determinadas iguarias que eu odeio, mas que tal aversão é sempre interpretada como sinônima de metidez. Mas, não, eu não como buchada, mocofato, sarapatel, cozido, tutano, galinha cozida e coisas afins...Que constrangimento almoçar em casa de terceiros, a convite coletivo, e lá declinar e comer um arroz branco com couve, apenas. Traduzindo o sabor do nada com coisa nenhuma. Tudo para não fazer a desfeita.
Também não ponho catchup, maionese, mostarda e similares em pizzas e em coisa alguma...Mas pão, ah, pão eu gosto de todos. Pão francês com manteiga e e mais nada uma delícia. Cabe apenas um café. Café com açúcar. Nada de café com leite!
Mas o pior mesmo é que eu nunca seria feliz com uma vida alimentar restrita.
Uma coisa é certa com o passar dos anos, já depois dos 25 anos, nosso metabolismo começa a desacelerar. Isso significa que o que comemos, as calorias, são gastas a menos. O excedente vira gordura. Pode observar como a idade deixa as pessoas gordas - om anticoncepcional, nem se fala.
Assim, deveríamos comer menos e isso não ocorre.
Porém, para mim, se me coagissem a ingerir menos ou nenhum açúcar, sal, gordura, pães, carnes, em troca de uns anos a mais de vida, olha, eu morreria com sabor.
Tem muita gente que não sabe disso ainda mas todos nós vamos morrer um dia. Uns correm do assunto, outros ignoram completamente. Eu prefiro conviver saudavelmente com a ideia. E até que chegue esse dia, que eu ache a vida gostosa e consuma seus sabores.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Afogar-se em mágoas


Menos por subestima que por postura pessoal, nunca vou aceitar bem que uma pessoa queira resolver problemas existenciais tomando Rivotril; nem concebo que alguém possa resolver suas crises existenciais com veneno para matar ratos e, mesmo, procure resolver problemas de relacionamento amoroso mediante facas e armas de fogo. Eu sei que o beijo de certos casais já tem gosto de pólvora, mas também acho que chega um momento em que as pessoas vão ser confrontadas com a necessidade de parar de camuflar as dores e tomar uma atitude - quando não tomam atitudes, tomam tarja-pretas, venenos, cerveja...
Nunca falei dessas coisas me colocando acima das situações mas, sim, vislumbrando que 'inútil dormir, que a dor não passa". E se algo incomoda, tomar o analgésica vai somente adiar a dor, mas não eliminar nem a dor, nem a causa. Mas como as pessoas conseguem adiar tanto?
E se têm tanto medo de viver, porque vivem como vivem?
Vamos ao segundo plano das questões, indagar porque alguém muito escroto instituiu que não se pode sentir mágoa? Por que julgar ilícito um sentimento verdadeiro? Para quê uma campanha tão intensiva contra o honesto sentimento de mágoa, quando ela é uma constante e este mundo - que não existe para agradar a mim ou a você - traz tantos elementos que causam mágoa?
Vejo meus íntimos nessa falsa vibração, alardeando que a mágoa é um sentimento negativo, que é beber veneno esperando que o outro morra...Mas mediante a primeira vacilação na vigilância psíquica, expõem as dores contra amigos, namorados, pai, irmãos, professores...Eles, estas pessoas superiores o bastante para não assumirem publicamente as suas mágoas.
A mágoa é a mancha roxa da pancada sofrida; é o sinal da dor de ontem; é o sentimento de perplexidade e indignação ante uma injustiça sofrida ou uma calúnia ardilosamente construída; é a lembrança dolorosa de uma ingratidão, da indiferença de quem nos era caro. E o que há de errado nisso? ser superior é fazer de conta que tudo isso não foi nada? é ignorar as próprias dores?
Particularmente, já entrei nessa. Pensei que nem havia mágoa. Mas ela estava ali sempre na lembrança do que aquela pessoa já havia me feito; sempre na desconfiança latente do trauma, da possibilidade de tudo se repetir...O que há de errado com a mágoa é isso ela deixa uma memória que nos faz lembrar do que o outro é capaz de nos fazer. E a gente se protege, claro.
"Eu sei o que vocês [me] fizeram no verão passado" ou em qualquer tempo. Saber o que passamos gera um aprendizado, um cuidado, uma desconfiança...E só depois eu vi que não perdoei, porque no meu íntimo eu queria perguntar, 03, 05, 10 anos depois do ocorrido; "por que você fez aquilo comigo?apenas me explique". Mas como eu estava imbuída em também ser superior e não expor a mágoa conservada, fiquei calada e me limitei a não dar espaço ao 'outro'.
Minha mágoa me protege. Ela é legítima, ela me mostra onde não pisar e único mal que vejo nisso, é o fato de eu não abrir as portas de casa ou da vida para tais pessoas.
Quem estava ao lado de quem, quem articulou, quem fez, quem fez...Eu prefiro lembrar.
Dessas covardias de transferir para um remédio ou para um veneno algo que precisa ser resolvido por mim, eu não sou chegada. Odeio a dor, a perda, a frustração, o desprezo, o amor que não deu certo, as derrotas, os sofrimentos...Mas se eles existem, do que adianta dormir de luz acesa?

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Meu lugar preferido


Morar só é uma delícia. E quanto mais possam me aparecer pessoas a se instalar demoradamente em minha casa, tanto mais reafirmo como é bom estar sozinha. Bem se diz [DOIS PONTOS ]"minha casa, meu reino"...Ou, conforme Barack Obama, "Minha casa, minhas regras".
Há mais de uma década, uma amiga equivocada, daquelas que sofrem o pão que o capeta amassou no casamento mas ainda assim se acham as tais, dizia, - aliás, replicava, -  ao meu pensamento de morar sozinha e ser feliz por isso; "Morar só é ter a certeza de que será você a lavar os pratos!". Ora, ela sempre lavava os pratos, porque era casada com um ogro machista e tinha dois filhos do sexo masculino. Para mim, lavar os pratos é um preço baixo para a paz de estar só. Mais ainda para a paz de saber que foram sujados por mim ou com minha tácita permissão.
Nunca confiei minha casa a terceiros.
Em tempos de viagens longas e casa fechada, muito eventualmente, paguei a diaristas. E fizeram muito mal o serviço.
Igualmente com as minhas roupas, lavanderia detona as peças, os tecidos, as cores - tal como o faria, embora em menor proporção, uma lavadeira...e ainda resolveria manchas impossíveis com água sanitária.
Faxina cansa, enche o saco! cozinhar, também. Mas as vezes escolho fazê-los, de bom grado.
Gosto de tomar banho ouvindo rock and roll ou MB bem alto.
Gosto de acender incenso e ler meus livros.
Com gente aportada em minha casa, tudo isso se torna impossível.
Adorei ter trabalhado fora e poder morar sozinha também nessas ocasiões, Gosto de fechar a minha porta e ficar em paz.
Facebook tem quem quer...Aparece quem quer...Dou as caras, hoje, mais do que outrora- é uma forma de trazer para perto quem não quero trazer para casa...Gosto de tudo com limitação...Tenho pouca paciência...Gente demais, não dá. Gente de menos, todo dia, não dá.
Olha, mas deixa eu comentar uma coisa que não tem nada a ver (meu teclado está com defeito e os dois pontos sumiram!OS parênteses não fecham!
Agora vou ter que esperar a grana aparecer, para comprar outro computador. Poxa!

domingo, 23 de agosto de 2015

Contatos descartáveis


Se o desespero é um péssimo conselheiro, a carência é bem mais. Foi pensando nisso que questionei como fui capaz de ficar de rolo com um cara apenas para aplacar as agonias da carne e, hoje em dia, chego a esquecer a cortesia que eu deveria ter, para com ele, por questões de respeito!
A gente costuma dizer que precisa esquecer alguém. No entanto, há pessoas que, para a gente esquecer, não é necessário o menor esforço; aliás, a gente só percebe que esqueceu além da conta, nesses momentos em que examina a consciência.
Pois é. Coitado! Não porque um serial fucker como ele vá dar bola a uma mulher a menos no cardápio, mas porque eu sei que comigo era diferente. Um dia ele me disse: "O que uma mulher como você poderia querer com um cara como eu?". E eu tenho vergonha de confirmar estereótipos, mas, vá lá, ia querer me divertir.
Ao passo que a gente presume uma espontaneidade para o amor, não sei de onde vem essa convicção, certeza e verdade interior que nos capacita a dizer: "Esse eu nunca iria amar!". E, como foi entre mim e ele, assim se deu.
O máximo que eu já pensei nele, foi durante a ansiedade que antecede ao primeiro encontro; Depois eu pensei com medo dele ter gravado nossas intimidades sem que eu percebesse; Depois, pensei que alguém poderia saber... E continuo livre, solteira, independente. Logo, se quero o segredo da pegação é porque ele não é um artigo de orgulho, nem quero minha privacidade nas mesas e conversas alheias.
Um dia ele me perguntou sobre um poema horroroso e óbvio que ele escreveu. Enrolei, dei voltas, me disse inapta para julgar...fiz o possível para não ter a sincera indelicadeza de lhe dizer que aquela porcaria nunca chegaria a ser poema...E disse alguma coisa que o consolou. Ah, o suposto poema se chamava 'Poeminha".
Ele continua se achando sábio e aspirante a escritor.
Largou mais uma vez o terceiro curso universitário que começou. Ao menos admitiu: "Não gosto desse negócio de estudar".
Em compensação, sabe tudo sobe "Velozes e furiosos", odeia Gregório de Matos, que segundo ele diz muita pornografia; ama musculação e se um dia a massa cerebral dele se equiparasse à muscular, eu diria 'aleluia". Eis mais um estereótipo: " Bombado e fútil", tipo Johnny Bravo.
Ele não seria uma homem fino nem se tivesse um bilhão de dólares, mas tem certo convencimento sexual que às vezes o trai...Ele questiona tamanho, diâmetro...apesar de 'se achar'. Mas, no meu desespero, serviu muito bem, apesar de silenciosamente eu confirmar todas as desconfianças dele...Na carência, foi bom instrumento de vingança...Aplacou a fome, consolou...E tenho que admitir que talvez tenha sido isso: foi instrumento. Pelo menos, não perdeu nada comigo.
Eu só queria ter sido cortês...Agora ele já deve ter descoberto que se nessa história tem um cafajeste, eu não sou diferente dele...Que pena! Eu queria ter disfarçado! Acho que respeito e gratidão são coisas imprescindíveis que devem ser deferidas a quem já nos deu sexo.
Aí, ontem, ouvindo a banda tocar a música Garoto de Aluguel, do Zé Ramalho, só pensei nele, apesar de ele não ser profissional da área sexual, nem garoto de programa. Vai o trecho:

Baby!
Nossa relação
Acaba-se assim
Como um caramelo
Que chega-se ao fim
Na boca vermelha
De uma dama louca
Pague meu dinheiro
E vista sua roupa

Deixe a porta aberta
Quando for saindo
Você vai chorando
E eu fico sorrindo
Conte pras amigas
Que tudo foi mal (tudo foi mal!)
Nada me preocupa de um marginal...

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Eu, tu, eles e os nós


À parte todas as superstições para o mês de agosto, vos digo: realmente, o negócio está difícil! E eu já ando cansada de acudir aos meus desesperos e aos de meus amigos. Mas assim, olha os meus amigos: eu realmente gosto deles. Os amigos mesmo, aqueles com quem a gente compartilha coisas boas e más da vida.
Às vezes penso, também, no ex-amigos. Juro: se há uma conta que eu não vou levar para o além é a de ter contraído inimizades sem justa-causa ou por tê-la iniciado por simples e especial antipatia ou implicância.
Mesmo ex-amigas de quem já não gosto, tipo aquela lá, que me acolheu por uns dias, há tantos anos, de vez em quando eu penso sobre elas, imaginando o que terá motivado uma campanha tão intensa de ódios, a semeadura dos germes da inimizade, como aquele que a escritora escrota regou para que Lise se tornasse minha inimiga, por exemplo...E no quanto ela era ocupada em falar dos defeitos físicos das demais colegas de campus...Falsa é pouco! Figura amarga que quer multiplicar seu inferno particular nas vidas alheias...e assim permanece até à presente data.
Eu gostava dela. Gostava dos poemas dela, torcia por ela no amor e na vida...E ela se mostrou uma escrota de primeira classe! Aliás, uma professora sem classe! Mas, se ela foi cruel até com quem lhe deu a mão para tocar a vida profissional, fornecendo-lhe amparo emocional, régua e compasso, quanto mais a mim?!
E a outra amizade desfeita recentemente, foi somente o caso do desrespeito ter extrapolado os limites do suportável mesmo. Daí que a vida fica mais leve à medida que a gente não se predispõe a carregar certas malas.
Ah, nisso ela tinha razão eu passei um grande tempo sem querer viajar com ela e com a outra porque eram mesmo malas: nunca faziam uma concessão; inventavam viagens em grupo mas as decisões eram impositivas, o repertório do caminho, igualmente impositivo e, assim como nas demais áreas da vida, as coisas eram medidas segundo a circunferência do umbigo dela. Então, eu cansei e pensei: não preciso mais disso!
Pelo bem-estar que me sobrevém de ter abreviado a chatice do contato, a previsibilidade das respostas, o deparar com a velha constatação de que aquela figura era uma egoísta chata que só queria o benefício próprio e fazia da amizade um negócio articulado para cumprir a vontade dela, olha, só posso dizer que sinto alívio. Sério: não tenho o menor interesse em futuras reconciliações.
Tem aqueles outros amigos, claro: os que são falsos e aproveitadores e acham que a gente não descobriu nada, não soube de nada...Esses nos batem à porta e é com algum esforço que se tocam de que a gente não é o mesmo imbecil de antes e que a visita, o contato, não nos interessam.
Mas os demais, não: são meus amigos queridos, amados, desejados, confidentes...Gente que me suporta, que resiste aos atritos inevitáveis e que negociam o bem-estar da relação...Esses perduram, esses eu amo, esses ficam...Esses, se eu pudesse, trazia sempre comigo...

domingo, 9 de agosto de 2015

Se a vida pesa...



Eu até entendo que, de vez em quando, nos dê certa vontade de pedir a alguém que carregue nossos fardos da existência. Isso como um evento esporádico, que mal pode ser lido literalmente, mas que a maioria de nós chega a pronunciar, face ao cansaço e ao acúmulo das responsabilidades. Porém, só há poucos dias ouvi um psicólogo (da Rede Amigo Espírita) classificar isso como obesidade mental.
Obviamente, ele se referia às pessoas que transferem suas responsabilidades para terceiros. Deste modo, desde aquela senhora que se acha a melhor mãe do mundo, mas que larga o filho com a avó; assim como a outra, que não resolve nada e tendo um problema com o filho diz a um terceiro elemento: "Fale com ele! tente resolver isso por mim!", até às tantas vezes em que as pessoas se escondem atrás de suas depressões estratégicas, porque querem fugir de assumir a própria vida, querem correr do espelho e admitir suas invejas, intrigas, baixezas, desejos, sentimentos de inferioridade...E, com esse sedentarismo, delegam a um remédio a tarefa de resolver por elas os sintomas e seguem ocultando as causas.
Em alguns casos, há ganhos secundários evidentes: ser o coitadinho, a coitadinha, ganhar atenção e piedade, ser referência de esforço e e sofrimento.. E o melhor de ser vítima é não ser responsável por nada! tudo, simplesmente, ocorre, acomete, confortavelmente, involuntariamente.
Quantas vezes, ao passar por uma injustiça, mais do que desejos de vingança, a gente desejou que a máscara de quem armou contra nós caísse?
Quantas vezes houve a vontade de esclarecer, olhos nos olhos, quais as causas do mal a nós feito gratuitamente?! Mas, então, os covardes querem ser amados, nunca iriam se mostrar, nem assumir ódios, rancores, armações, injustiças...Porém, este é o mundo em que vivemos e que nos deixa passíveis de dar de cara com situações assim. E o mal gratuito, sim, é força fortuita, é um evento, embora eu, particularmente, não acredito ser perdoável que alguém possa ser tão baixo e monstruoso a ponto de retirar o que por direito seria de outro, apenas por não nutrir simpatia por tal pessoa. Isto porque, usando a mim mesma como parâmetro, antipatia por gente que eu nunca vi, eu já senti; desconfiança, também...Mas ninguém que hoje eu tenha por inimigo ou ex-amigo, foi assim classificado sem motivos. Nunca eu iria romper o contato com alguém sem uma causa, sem que esta pessoa tivesse me feito algo.
Tudo isso eu passo, nós passamos e corrobora a ideia de que o mundo não existe para nos agradar. Mas, e daí? vem alguém e tenta nos usurpar algo ou destruir nossas bases...Isso determina que eu, ao me saber vitimada pela situação, me ajuste ao lugar de vítima e nele permaneça?
Toda queda merece ser processada - com choro, com luta, com palavras más da indignação sofrida, com tristeza..E isso constitui uma fase.
Um candidato meu me chamou de estoica. Eu tinha perdido num concurso nesta ocasião. Olha: perdi! Nem sempre a gente ganha. Nem todo dia a gente ri. E eu saí do concurso com naturalidade, enquanto ele chorou por mim, sentiu dores de cabeça, lamentou...E me chamou de estoica.
Ora, se me inscrevi, investi tempo e dinheiro, eu queria passar.
Essa é uma coisa que todo ser humano precisa saber: quer passar num concurso? construa as condições para isso. Quais? estudar com afinco e qualidade; Quer ser milionário? construa as condições; Quer ganhar na loteria? construa a condição mínima, que e jogar...Para isso, só depende de sorte.
Bom, eu fiz a minha parte. Devo ter feito menos do que era necessário. Perdi. Mas eu vou invalidar minha carreira, desprezar os textos publicados e questionar minha seriedade e competência constituída honestamente com leituras que eu realmente fiz, com raciocínios que eu realmente tracei, enfim, vou medir minha capacidade profissional e intelectual por um evento? por uma prova? por 50 minutos de aula pública, em condições artificiais e inóspitas, sob pressão psicológica? Ora, nunca! Não sou vítima. E, sim, já fiz aquém do que eu deveria, já errei, tenho falhas...Isso porque eu sou gente e não vou permitir que a vaidade me pinte como imune às vicissitudes, aos erros, às perdas...Mas, sendo a vida minha e sob a minha responsabilidade, cabe a mim conduzi-la,
Se nós criamos redes de apoio, ou seja, os afetos de todos os tipos, isto significa apenas um esteio. A vida da gente é pertença da gente: cada um que cuide da sua.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Os pecados da opinião


Costumo esconder minha forma particular de pensar as coisas, às vezes por medo de explicá-la mal, às vezes para evitar o desgaste das discussões intermináveis. Mas eis que me tornei espírita, feliz pela escolha.
Lugar comum é isso de dizer que as pessoas só vão para as religiões, em geral, e para o Espiritismo, em especial, movidas pela dor. Meu amigo íntimo até suscitou isso comigo. Eu, contudo, disse o que aqui volto a afirmar: não. Eu nunca iria a para qualquer religião mediante desespero. Foi por isso que flutuei. Tem que ser uma escolha, não uma tábua de salvação porque a vida vai mal.
O que seríamos nós? cópia das atrizes, atores, celebridades e afins, que detonam a vida nas drogas, no sexo, na promiscuidade moral e para fazer a reabilitação social, afirmam ter se convertido a uma religião ortodoxa para, em seguida, galgar uma carreira como apresentadora infantil, cantora gospel, comentarista esportivo, ou deputado e deputada?
No meu caso, minha vida já esteve péssima e o lugar da fé era um; o da religião, outro. Por isso fiquei sem templo e sem vínculo exclusivo.
Mas no tocante ao fato de me tornar espírita e me esquivar de uma opinião - esta opinião pode mudar conforme eu siga estudando, obtendo outros dados e outros acessos a ângulos então ignorados -  minha turma de estudos kardecistas estava discutindo a origem do mal. Para 90% deles, o mal foi criação do homem, escolha dele.
Dos outros que manifestaram a opinião contrária, certo é que não tinha argumentos. Era aquele velho "não, porque não!".
Eu fui omissa.
A discussão pegando fogo...quem iria se lembrar de mim?
Mas na minha opinião, sim, Deus criou o Mal, tal como a figura arquetípica do fruto proibido no Paraíso. Criou o mal para que tivéssemos escolha entre ele e o seu oposto. E também porque o mal pode ser dosificado. Deste modo, o egoísmo pertence ao quadro do Mal; entretanto, se você não se servir dele na dose necessária, ficará sem amor próprio e sem senso de preservação. Veja: há quem julgue que a auto-estima consiste em se aceitar tal como se é. Mas se aceitar como se é não significa não procurar melhorar. Assim, se sou gordo, aceito que há beleza em mim e que eu não vou acatar maus comentários nem me inferiorizar por fugir a um padrão estético. Se, porém, eu cuido de mim e da minha saúde, se sou desleixado em vários aspectos, isso não significa ter auto-estima alguma. Aí, o cuidar de si, colocando o eu (ego) em primeiro plano, vai oscilar do mal para o bem conforme a dose e a aplicação;
Outros elementos creditados ao Mal, cuja lista escaparia às possibilidades de discutir adequadamente numa página de blog, poderiam se arrolados agora. Mas,  em suma, é isso: talvez o Mal, para ser considerado enquanto Mal, advenha do uso e da proporção com que é empregado pela humanidade. Talvez a função última não tenha sido causar danos, mas aí, sim, entrariam a intervenção humana degradante, que apaga os limites entre coragem e violência; entre egoísmo e autopreservação; entre independência e individualismo maléfico; entre alheamento e privacidade, dentre ouros pares possíveis.
Mas isso é como que uma tese particular e insipiente, que não se pretende eterna e por sua falibilidade, ficou guardada e quieta no cantinho das opiniões veladas...

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Contos de qualquer canto


Ela se queixou comigo, dizendo que não quer mais ser romântica. E eu doida para dizer que não temos tal poder de decisão: a gente simplesmente é porque veio a se tornar. O mais, seria casca, falsidade para aparecer socialmente como durona ou realista.
Não quero esconder de mim que tenho expectativas. Tenho que ter, mesmo que estas venham a se tornar frustrações: onde estariam meus estímulos? Como viver sem sonhos? Deus me livre!Isso, sim, seria um amor sem futuro. E se o futuro se faz de vários dia-a-dia, vamos projetando o melhor possível. Aliás, acho isso de conter as expectativas (ou exterminá-las), um contrasenso de nossa época: Ora, se dizem tanto que o pensamento positivo é importante, que ele é o primeiro passo para concretizar as coisas boas, por que frustrar o desejo de esperar o melhor, de ter expectativas?
Mas a citada amiga tem dois problemas graves: joga a própria vida para ser resolvida por outrem, joga para os homens a responsabilidade de preencher tudo que lhe falta - e é um tudo mesmo, já que ela vive com os pais e um irmão drogado, num subúrbio de Salvador, não tem emprego nem estrutura alguma familiar ou social. Deste modo, está sempre errando: literalmente, conhece o cara hoje e na mesma semana vai morar na casa dele.
O passo seguinte é esperar um mês ou dois ( o máximo foram três meses) e tudo acabar da pior forma possível.
O problema decai para outro fator altamente preocupante: ela nunca termina aquilo que começa.
Ora, até desistir presume um trabalho; presume olhar para trás e ver o tempo perdido, por exemplo; ou o tempo que transcorre em que nada saia do lugar, uma vez que a pessoa, ao declinar de concluir o que começou, não vai apresentar nenhuma contribuição nova para si mesma, ou seja, nada fará em benefício de alguma mudança.
E assim a vida segue, com duas graduações começadas e nunca concluídas, no eterno retorno para o lar intranquilo e hostil, para as nulidades e futilidades dela, que talvez não note que chegará aos 30 anos sem nada. E esse nada não se reporta ao meramente material: é aquele nada que nos mostra que nem sequer a segurança interior, o fortalecimento psíquico, a maturidade, a amplificação da capacidade de escolha ou mesmo a melhora do poder de escolha, nada, nada veio.
Digo a ela o que eu diria a qualquer um: está no fundo do poço? Faça um concurso. Crie disciplina e estude duas horas por dia. Se não tem dinheiro, peça isenção de taxa; se não tem livros, vá às bibliotecas públicas, leia e PDF numa Lan house; veja uma vídeo-aula, crie as condições favoráveis à sua aprovação. E não tenha vergonha de começar de baixo: faça concurso para auxiliar de serviços gerais, se esta for a alternativa possível. Passou? use seu salário e vá se preparando para ser secretária ou seja lá o que for e de patamar a patamar, com humildade para dar o primeiro passo, corra atrás do cargo que você quer e merece. Inerte é que nada vai contribuir para mudar.
Digo par ela exatamente isso: A sua vida é sua. Você é quem tem que cuidar. Cuide! Todos os demais seres são coadjuvantes, participação especial, figurantes...Mas a sua vida é sua. Ajuda sempre é bem vinda; carinho, apoio, opiniões, auxílios emocionais, esteios psicológicos, maravilha! Mas a responsabilidade sobre sua vida nunca poderá ser terceirizada.
E creio que é por tudo isso que ela boceja, com preguiça de viver.