Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Unindo o fútil ao agradável


Olha que loucura: em todos os noticiários do dia, que andei acompanhando, não se fala em outra coisa senão na percepção cromática das pessoas sobre o vestido besta que uns dizem ser branco e dourado; e outros que o julgam azul e preto. Mais nada importa!
O lugar da futilidade mesclada às noções vagas da física tomou o dia e o espaço de muita discussão de peso. Mas às vezes o lugar da leitura é esse: do descaso preguiçoso dos neurônios, de quem quer fazer higiene mental examinando conteúdos leves ou ocos.
Há dias em que um blog serve exatamente a isso: às confissões da banalidade da vida, dos lugares-comuns, das coisas ordinárias...
Lembro, nesses momentos, do Ultraje a Rigor:

Eu tô sentindo que a galera anda entendiada
Não tô ouvindo nada, não tô dando risada
E aê, qual é? Vamô lá, moçada!
Vamô mexe, vamô dá uma agitada!

Esse nosso papo anda tão furado
É baixaria, dor de corno e bunda pra todo lado
Eu quero me esbaldar, quero lavar a alma
Quem sabe, sabe; quem não sabe bate palma
E pra celebrar a nossa falta de assunto
Vamo todo mundo cantá junto 

Eu não tenho nada pra dizer
Também não tenho mais o que fazer
Só pra garantir esse refrão
Eu vou enfiar um palavrão (Ah..Cu)
E para ser apelativa, vou ainda colocar foto de homem semi-nu, porque a julgar pela sede de sadomasoquismo no Multiplex da vida, as receitas podem se repetir sem risco de fracasso.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

"Não vou tirar meus pés do chão!"


A extinta banda baiana de rock and roll, Camisa de Vênus, já repetia: "Falta de cultura para cuspir na estrutura!", revelando que face à ignorância cultural, a maioria das pessoas não tinham qualquer condição de argumentar contra nada, nem mesmo de perceber o que havia de errado.
E como corre o risco de alguém que acredita em estereótipos vir a crer não somente que baiano é preguiçoso como também é alienado, a banda baiana Scambo tem a música abaixo transcrita ( e como pode-se supor, o clip foi censurado há anos -  creio que em 2012), mas é preciso dizer que Caetano Veloso e Moraes Moreira também já detonavam os sistemas alienatórios do carnaval ("E a nossa dor balança o chão da praça"); assim como Gilberto Gil (seja em Toda menina baiana - "primeiro carnaval, primeiro Pelourinho também, que Deus deu"; e em A novidade - "De um lado esse carnaval;/ de outro, a fome total, que os Paralamas tornaram hit). Mas, diz a banda baiana Scambo:
Festa bacana
Feita pra gente bacana
Clube de porta fechada
Que virou corda e camarote
O povo barrado no clube
Também foi barrado na rua
Não vou tirar meus pés
Meus pés do chão
Festa sacana
Feita por gente com grana
Que ganha muito mais grana
Manipulando a cultura
Muitos artistas aceitam esses senhores
Pra não ficarem tão longe dos refletores
Não vou tirar meus pés
Meus pés do chão
Ié ié ié...
Uh!
Festa sacana
Feita por gente com grana
Que ganha muito mais grana
Manipulando a cultura
Muitos artistas aceitam esses senhores
Pra não ficarem tão longe dos refletores
Não vou tirar meus pés
Meus pés do chão...

O lado B do estereótipo


Não será surpresa constatarmos o imenso número de pessoas a lamentar, na nossa época, a ascensão da idiotia. Pena é notar que ela não se faz apenas de "lepo,lepos", "gordinhos gostosos" e "muriçocas que picam" a disputar terrenos sonoros com funks aeróbicos ("eu vou, eu vou, sentar agora eu vou"), só para citar exemplos da indústria cultural contemporânea.
E é claro que todo mundo sabe do que se trata: como evento comercial, está em toda parte, toca em todo canto e é partilhado independentemente da vontade de cada um. No meu caso, na academia, no camarote e no comércio é o onde se socializam tais músicas. Mas a gente que tem escolha e sabe o que faz, seja porque se ancorou no pedestal da boa formação escolar; seja porque optou por entrar na brincadeira apenas para brincar e driblar a angústia de ser racional e comedido sempre, é bem diferente do pobre alienadinho para o qual a música é empurrada ouvido "adentro" e ele se sente identificado.
Perdoa-se sempre uns mais que outros.
Não perdoo gente letrada ignorante. Gente letrada ignorante adora se apegar a estereótipos e acredita neles, sejam quais forem.
Já trabalhei em terras que eu detestei. Todavia, procurei não ser desrespeitosa com o lugar, É assim até hoje: sou paulistana; e se tem uma coisa que eu respeito é a terra onde moro e os lugares de onde tiro o meu pão.
Já fui a cidades em que o cliente que aparece no estabelecimento é incômodo, porque o comerciante preferia dormir a ser incomodado por um consumidor; já vi malandragens no troco dado; já vi gente chata e preguiçosa em muitos cantos da terra, mas devo dizer que me deixa estarrecida ouvir ou ver alguém repetir e acreditar que o povo baiano é preguiçoso.
Num só carnaval você pode ver um bando de gente pulando nos blocos; na corda dos blocos, os chamados cordeiros, isto é, gente que trabalha no corpo-a-corpo com a multidão interna e externa ao espaço do bloco, a fim de fazer o bloco passar, seguir; quem tem olhos vê os pobres catando latinhas e outros vendendo cervejas, churrasco, queijo...uns tantos catando o que se possa reciclar;
Quem está no camarote vê gente limpando banheiros, outros consertando coisas, cozinhando coisas... E nos patamares mais alto da escala social, o empresário controlando coisas e fechando acordo; e em cima do trio, tem cantores, trabalhando. Todo trio elétrico tem motorista e pessoal de apoio. E do lado de fora de tudo tem um bando de folião que, em sua maioria, trabalhou para ter dinheiro para usufruir da festa.
Nem sempre existiu Bolsa-Não-Sei-O-Quê para nordestinos, para baianos, para brasileiros...e por aqui, eles sempre se viraram.
Herança escravista persistente isso de acreditar que determinados lugares sociais precisam permanecer os mesmos: aos negros, a cozinha; aos pobres, a subalternidade.
Sou daquelas que acham que não existe classe C coisa nenhuma. O acesso a determinados bens não significa mudança real no patamar socioeconômico; tudo é balela estatística. Mas sei que algo mudou para melhor, em algum grau.
Não na consciência do brasileiro em geral, que adora um pretexto para discriminar.
Você já foi à Bahia?Não? Então vá e se decepcione: aqui se trabalha, e muito.
E se você vir rebolations nessas ruas, é isso mesmo: baiano rebola para ganhar seu pão. Tire suas próprias conclusões ou repita as frases estereotipadas...vai que dê preguiça de pensar?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

(Des) Amor in a flash


Mudei de perfume. Tem mulher que, para operar uma mudança, corta o cabelo, como se mudasse a própria cabeça, ou como se quisesse mudar de fisionomia para tentar ser outra, se renovar, ser outra mulher - aí é mais comum em casos de separação.
Sempre usei Éden, da Cacharel,  Resolvi trocar para Amor in a flash, também da Cacharel. Acho que o perfume veste a gente - Marilyn Monroe não estava errada ao dormir usando apenas um Chanel número 5.
Amor in flash quer dizer 'amor à primeira vista'. Há quem acredite que isso exista. Porém, desamor à primeira decepção, poucos dizem existir. Aconteceu, porém, comigo!
Desde que eu li, na página do meu ex-amado Vinícius, um texto feito pelo amigo dele, que falava de mim indiretamente, sob o pseudônimo de 'ser pragmático', contando algo assim, aproximadamente: Vini era tratado como amigo pelas mulheres que ele queria, até o dia em que um 'ser pragmático' elogiou o diferencial dele, ou seja, o bom gosto musical e a escrita. Á moda de Drummond e o poema "Quadrilha", desenrolou-se a história. Ele, então, absorveu estrategicamente o lado bom de uns e toques ruins de outros amigos próximos, se conscientizou que quem come calado, come várias vezes e até a presente data, saiu da friend zone em que o colocavam, vive passando o rodo nas moças, ora descritas como 'ar negas',
Pode não ter sido em um flash, mas posso afirmar que desde então meus sentimentos não são os mesmo. Posso afirmar categoricamente que, se hoje, ele propusesse me ver, a resposta seria um não tão redondo quanto o maior círculo que um compasso possa descrever.
Ele passou a integrar o lugar comum. Saiu do diferencial, virou um cafajeste vulgar, comum, uma pessoa como qualquer outra, sem nada de especial.
Em princípio eu tive ódio, devido à exposição de minha história com ele. Depois vi que ele faz parte dessa história e tem o direito de partilhar com os chegados dele. Mas dentro de mim, sinceramente, algo mudou e a chama feneceu.
Nunca tive nada com ele que excedesse o abstrato. Projetei nele o ideal de uma boa parceria intelectual, desses companheirismos de ouvir músicas e partilhar opiniões, discutir coisas...Diferente da relação que nem é relação, com G., algo realmente para acalmar as exigências do corpo.
Para mim, Vinicius jaz.
Lembro é com tristeza e pesar do tempo que perdi com essa história besta. Na verdade, nunca houve nada.
Andei meio perdida porque tive um sonho com ele, bem freudiano, antes de voltar do Ceará: ele me encontrava numa casa imaginariamente minha. reclamava de uns descasos do quintal. Meu pai chegava e a gente passava pelo lado da casa.
Ele enfrentava o meu pai, falando normalmente com ele. Meu pai entrava aparentemente em minha casa. Vinícius me beijava tão intensamente que me sufocava. Eu tomava ar. Ele me beijava sufocando de novo. Daí acordei e tive medo de dormir de novo.
Fragilizada, atordoada e idiota, mandei uma mensagem para ele e de manhã a gente se falou.
Toquei, dias depois, no assunto do texto que está na página dele. Sugeri mesmo que ele estava em estado embrionário de cafajestagem.
Neste mesmo dia, falei a ele parecer favorável que eu obtive numa revista Qualis A em relação a um artigo meu.
Nada.
Nunca me respondeu.
E como sou adulta e não perco meu tempo excluindo de what's app ou de redes sociais a quem eu previamente já excluí de minha vida nunca mais dei notícias, nem darei. Ao contrário, estou orgulhosa de mim por ter percebido que insistências tolas não valiam o possível prêmio. Não amo cafajestes.
Gosto de namoro por tempo indeterminado, aceito ligações e conexões de outra natureza com os homens, mas, acima de tudo, se deixou de ser especial para mim, não destino sentimentos especiais a este tipo. Acabou. Game over.
Um dia eu disse que ele tinha defeitos respeitáveis. Acho que ele me desrespeitou, depois, em muitas circunstâncias.
O problema do desamor in a flash é que a gente fica com a visão turva, sem saber se amou tanto quanto pensava, ou sei lá mais o quê. Passou. Ou a mágoa se tornou maior que o suposto amor.
Não falo de fidelidade, que é artigo de luxo dado a poucos merecedores e, particularmente, desde 14 de abril do ano passado tenho um affair com G., meu canalha particular para consumo instintivo...Logo, não é a questão da vida amorosa do rapaz, mas do modo como isso se processa.
Talvez eu fale 'nunca mais' além da conta. Mas é isso: Vinícius, nunca mais! E tal como diz Manuel Bandeira, "Amor - chama, e, depois, fumaça..."

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Doces doses de ser


Tem épocas em que é preciso espantar a tristeza às vassouradas e o medo a pontapés. A vida não está um mar de rosas, nem tudo está em ordem, mas não posso reclamar de infelicidade e de coisas mais profundas a demandar chateações.
Desta vez, consegui domar minha agonia: acabou o compromisso, a coisa séria a fazer, e as passagens aéreas foram compradas prevendo uma permanência maior por aqui. Ocorreu de tudo ser compactado e sobrar tempo...Fazer o quê, se tentar remarcar uma passagem aérea gera um prejuízo absurdo e majorado pelo período de carnaval, chega a cifras estratosféricas?! E eis que fiquei. Creio que aprendi aquela dura lição em Campinas, quando tudo deu errado e eu tinha hotel e passagens reservados para cinco dias depois de minha chegada. Desesperada, fiz tudo errado: esvaziei minhas reservas, antecipei minha vinda, cometi desvarios para voltar para casa. Não, nunca mais faço isso.
Fiquei e adorei conhecer Fortaleza.
A Praia do Futuro foi a melhor praia que eu conheci - em água, em beleza, em estrutura...Um show! maravilha!
O Centro Cultural Dragão do Mar, outra maravilha. A vida cultural, convidativa como um todo! então, valeu!
De vez em quando penso em que ficou por lá, num cantinho de minha lembrança: Vinícius. Não tem jeito: gosto dele. Sinto a falta dele e temos alternado o estar-bem e o estar em guerra...E minha sempre pouca paciência a ditar; " Mara, desiste e segue!". Sigo e penso que desisto. Que menino complicado e cruel...História circular.
Vou deixando de me importar com outras coisas, amortizo os desesperos, deixo o tempo passar e tenho medo das saudades que levarei. No fundo, em alguma medida, a gente se acostuma aos novos contextos, aos cenários, ao convívio.
Na vida, aperto um "off" e desligo os desesperos - é preciso aceitar que se pode estar tranquilo, que há remédio para nossa mania de ser sempre do mesmo jeito ante o que parece não ter jeito.