Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Meu lugar preferido


Morar só é uma delícia. E quanto mais possam me aparecer pessoas a se instalar demoradamente em minha casa, tanto mais reafirmo como é bom estar sozinha. Bem se diz [DOIS PONTOS ]"minha casa, meu reino"...Ou, conforme Barack Obama, "Minha casa, minhas regras".
Há mais de uma década, uma amiga equivocada, daquelas que sofrem o pão que o capeta amassou no casamento mas ainda assim se acham as tais, dizia, - aliás, replicava, -  ao meu pensamento de morar sozinha e ser feliz por isso; "Morar só é ter a certeza de que será você a lavar os pratos!". Ora, ela sempre lavava os pratos, porque era casada com um ogro machista e tinha dois filhos do sexo masculino. Para mim, lavar os pratos é um preço baixo para a paz de estar só. Mais ainda para a paz de saber que foram sujados por mim ou com minha tácita permissão.
Nunca confiei minha casa a terceiros.
Em tempos de viagens longas e casa fechada, muito eventualmente, paguei a diaristas. E fizeram muito mal o serviço.
Igualmente com as minhas roupas, lavanderia detona as peças, os tecidos, as cores - tal como o faria, embora em menor proporção, uma lavadeira...e ainda resolveria manchas impossíveis com água sanitária.
Faxina cansa, enche o saco! cozinhar, também. Mas as vezes escolho fazê-los, de bom grado.
Gosto de tomar banho ouvindo rock and roll ou MB bem alto.
Gosto de acender incenso e ler meus livros.
Com gente aportada em minha casa, tudo isso se torna impossível.
Adorei ter trabalhado fora e poder morar sozinha também nessas ocasiões, Gosto de fechar a minha porta e ficar em paz.
Facebook tem quem quer...Aparece quem quer...Dou as caras, hoje, mais do que outrora- é uma forma de trazer para perto quem não quero trazer para casa...Gosto de tudo com limitação...Tenho pouca paciência...Gente demais, não dá. Gente de menos, todo dia, não dá.
Olha, mas deixa eu comentar uma coisa que não tem nada a ver (meu teclado está com defeito e os dois pontos sumiram!OS parênteses não fecham!
Agora vou ter que esperar a grana aparecer, para comprar outro computador. Poxa!

domingo, 23 de agosto de 2015

Contatos descartáveis


Se o desespero é um péssimo conselheiro, a carência é bem mais. Foi pensando nisso que questionei como fui capaz de ficar de rolo com um cara apenas para aplacar as agonias da carne e, hoje em dia, chego a esquecer a cortesia que eu deveria ter, para com ele, por questões de respeito!
A gente costuma dizer que precisa esquecer alguém. No entanto, há pessoas que, para a gente esquecer, não é necessário o menor esforço; aliás, a gente só percebe que esqueceu além da conta, nesses momentos em que examina a consciência.
Pois é. Coitado! Não porque um serial fucker como ele vá dar bola a uma mulher a menos no cardápio, mas porque eu sei que comigo era diferente. Um dia ele me disse: "O que uma mulher como você poderia querer com um cara como eu?". E eu tenho vergonha de confirmar estereótipos, mas, vá lá, ia querer me divertir.
Ao passo que a gente presume uma espontaneidade para o amor, não sei de onde vem essa convicção, certeza e verdade interior que nos capacita a dizer: "Esse eu nunca iria amar!". E, como foi entre mim e ele, assim se deu.
O máximo que eu já pensei nele, foi durante a ansiedade que antecede ao primeiro encontro; Depois eu pensei com medo dele ter gravado nossas intimidades sem que eu percebesse; Depois, pensei que alguém poderia saber... E continuo livre, solteira, independente. Logo, se quero o segredo da pegação é porque ele não é um artigo de orgulho, nem quero minha privacidade nas mesas e conversas alheias.
Um dia ele me perguntou sobre um poema horroroso e óbvio que ele escreveu. Enrolei, dei voltas, me disse inapta para julgar...fiz o possível para não ter a sincera indelicadeza de lhe dizer que aquela porcaria nunca chegaria a ser poema...E disse alguma coisa que o consolou. Ah, o suposto poema se chamava 'Poeminha".
Ele continua se achando sábio e aspirante a escritor.
Largou mais uma vez o terceiro curso universitário que começou. Ao menos admitiu: "Não gosto desse negócio de estudar".
Em compensação, sabe tudo sobe "Velozes e furiosos", odeia Gregório de Matos, que segundo ele diz muita pornografia; ama musculação e se um dia a massa cerebral dele se equiparasse à muscular, eu diria 'aleluia". Eis mais um estereótipo: " Bombado e fútil", tipo Johnny Bravo.
Ele não seria uma homem fino nem se tivesse um bilhão de dólares, mas tem certo convencimento sexual que às vezes o trai...Ele questiona tamanho, diâmetro...apesar de 'se achar'. Mas, no meu desespero, serviu muito bem, apesar de silenciosamente eu confirmar todas as desconfianças dele...Na carência, foi bom instrumento de vingança...Aplacou a fome, consolou...E tenho que admitir que talvez tenha sido isso: foi instrumento. Pelo menos, não perdeu nada comigo.
Eu só queria ter sido cortês...Agora ele já deve ter descoberto que se nessa história tem um cafajeste, eu não sou diferente dele...Que pena! Eu queria ter disfarçado! Acho que respeito e gratidão são coisas imprescindíveis que devem ser deferidas a quem já nos deu sexo.
Aí, ontem, ouvindo a banda tocar a música Garoto de Aluguel, do Zé Ramalho, só pensei nele, apesar de ele não ser profissional da área sexual, nem garoto de programa. Vai o trecho:

Baby!
Nossa relação
Acaba-se assim
Como um caramelo
Que chega-se ao fim
Na boca vermelha
De uma dama louca
Pague meu dinheiro
E vista sua roupa

Deixe a porta aberta
Quando for saindo
Você vai chorando
E eu fico sorrindo
Conte pras amigas
Que tudo foi mal (tudo foi mal!)
Nada me preocupa de um marginal...

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Eu, tu, eles e os nós


À parte todas as superstições para o mês de agosto, vos digo: realmente, o negócio está difícil! E eu já ando cansada de acudir aos meus desesperos e aos de meus amigos. Mas assim, olha os meus amigos: eu realmente gosto deles. Os amigos mesmo, aqueles com quem a gente compartilha coisas boas e más da vida.
Às vezes penso, também, no ex-amigos. Juro: se há uma conta que eu não vou levar para o além é a de ter contraído inimizades sem justa-causa ou por tê-la iniciado por simples e especial antipatia ou implicância.
Mesmo ex-amigas de quem já não gosto, tipo aquela lá, que me acolheu por uns dias, há tantos anos, de vez em quando eu penso sobre elas, imaginando o que terá motivado uma campanha tão intensa de ódios, a semeadura dos germes da inimizade, como aquele que a escritora escrota regou para que Lise se tornasse minha inimiga, por exemplo...E no quanto ela era ocupada em falar dos defeitos físicos das demais colegas de campus...Falsa é pouco! Figura amarga que quer multiplicar seu inferno particular nas vidas alheias...e assim permanece até à presente data.
Eu gostava dela. Gostava dos poemas dela, torcia por ela no amor e na vida...E ela se mostrou uma escrota de primeira classe! Aliás, uma professora sem classe! Mas, se ela foi cruel até com quem lhe deu a mão para tocar a vida profissional, fornecendo-lhe amparo emocional, régua e compasso, quanto mais a mim?!
E a outra amizade desfeita recentemente, foi somente o caso do desrespeito ter extrapolado os limites do suportável mesmo. Daí que a vida fica mais leve à medida que a gente não se predispõe a carregar certas malas.
Ah, nisso ela tinha razão eu passei um grande tempo sem querer viajar com ela e com a outra porque eram mesmo malas: nunca faziam uma concessão; inventavam viagens em grupo mas as decisões eram impositivas, o repertório do caminho, igualmente impositivo e, assim como nas demais áreas da vida, as coisas eram medidas segundo a circunferência do umbigo dela. Então, eu cansei e pensei: não preciso mais disso!
Pelo bem-estar que me sobrevém de ter abreviado a chatice do contato, a previsibilidade das respostas, o deparar com a velha constatação de que aquela figura era uma egoísta chata que só queria o benefício próprio e fazia da amizade um negócio articulado para cumprir a vontade dela, olha, só posso dizer que sinto alívio. Sério: não tenho o menor interesse em futuras reconciliações.
Tem aqueles outros amigos, claro: os que são falsos e aproveitadores e acham que a gente não descobriu nada, não soube de nada...Esses nos batem à porta e é com algum esforço que se tocam de que a gente não é o mesmo imbecil de antes e que a visita, o contato, não nos interessam.
Mas os demais, não: são meus amigos queridos, amados, desejados, confidentes...Gente que me suporta, que resiste aos atritos inevitáveis e que negociam o bem-estar da relação...Esses perduram, esses eu amo, esses ficam...Esses, se eu pudesse, trazia sempre comigo...

domingo, 9 de agosto de 2015

Se a vida pesa...



Eu até entendo que, de vez em quando, nos dê certa vontade de pedir a alguém que carregue nossos fardos da existência. Isso como um evento esporádico, que mal pode ser lido literalmente, mas que a maioria de nós chega a pronunciar, face ao cansaço e ao acúmulo das responsabilidades. Porém, só há poucos dias ouvi um psicólogo (da Rede Amigo Espírita) classificar isso como obesidade mental.
Obviamente, ele se referia às pessoas que transferem suas responsabilidades para terceiros. Deste modo, desde aquela senhora que se acha a melhor mãe do mundo, mas que larga o filho com a avó; assim como a outra, que não resolve nada e tendo um problema com o filho diz a um terceiro elemento: "Fale com ele! tente resolver isso por mim!", até às tantas vezes em que as pessoas se escondem atrás de suas depressões estratégicas, porque querem fugir de assumir a própria vida, querem correr do espelho e admitir suas invejas, intrigas, baixezas, desejos, sentimentos de inferioridade...E, com esse sedentarismo, delegam a um remédio a tarefa de resolver por elas os sintomas e seguem ocultando as causas.
Em alguns casos, há ganhos secundários evidentes: ser o coitadinho, a coitadinha, ganhar atenção e piedade, ser referência de esforço e e sofrimento.. E o melhor de ser vítima é não ser responsável por nada! tudo, simplesmente, ocorre, acomete, confortavelmente, involuntariamente.
Quantas vezes, ao passar por uma injustiça, mais do que desejos de vingança, a gente desejou que a máscara de quem armou contra nós caísse?
Quantas vezes houve a vontade de esclarecer, olhos nos olhos, quais as causas do mal a nós feito gratuitamente?! Mas, então, os covardes querem ser amados, nunca iriam se mostrar, nem assumir ódios, rancores, armações, injustiças...Porém, este é o mundo em que vivemos e que nos deixa passíveis de dar de cara com situações assim. E o mal gratuito, sim, é força fortuita, é um evento, embora eu, particularmente, não acredito ser perdoável que alguém possa ser tão baixo e monstruoso a ponto de retirar o que por direito seria de outro, apenas por não nutrir simpatia por tal pessoa. Isto porque, usando a mim mesma como parâmetro, antipatia por gente que eu nunca vi, eu já senti; desconfiança, também...Mas ninguém que hoje eu tenha por inimigo ou ex-amigo, foi assim classificado sem motivos. Nunca eu iria romper o contato com alguém sem uma causa, sem que esta pessoa tivesse me feito algo.
Tudo isso eu passo, nós passamos e corrobora a ideia de que o mundo não existe para nos agradar. Mas, e daí? vem alguém e tenta nos usurpar algo ou destruir nossas bases...Isso determina que eu, ao me saber vitimada pela situação, me ajuste ao lugar de vítima e nele permaneça?
Toda queda merece ser processada - com choro, com luta, com palavras más da indignação sofrida, com tristeza..E isso constitui uma fase.
Um candidato meu me chamou de estoica. Eu tinha perdido num concurso nesta ocasião. Olha: perdi! Nem sempre a gente ganha. Nem todo dia a gente ri. E eu saí do concurso com naturalidade, enquanto ele chorou por mim, sentiu dores de cabeça, lamentou...E me chamou de estoica.
Ora, se me inscrevi, investi tempo e dinheiro, eu queria passar.
Essa é uma coisa que todo ser humano precisa saber: quer passar num concurso? construa as condições para isso. Quais? estudar com afinco e qualidade; Quer ser milionário? construa as condições; Quer ganhar na loteria? construa a condição mínima, que e jogar...Para isso, só depende de sorte.
Bom, eu fiz a minha parte. Devo ter feito menos do que era necessário. Perdi. Mas eu vou invalidar minha carreira, desprezar os textos publicados e questionar minha seriedade e competência constituída honestamente com leituras que eu realmente fiz, com raciocínios que eu realmente tracei, enfim, vou medir minha capacidade profissional e intelectual por um evento? por uma prova? por 50 minutos de aula pública, em condições artificiais e inóspitas, sob pressão psicológica? Ora, nunca! Não sou vítima. E, sim, já fiz aquém do que eu deveria, já errei, tenho falhas...Isso porque eu sou gente e não vou permitir que a vaidade me pinte como imune às vicissitudes, aos erros, às perdas...Mas, sendo a vida minha e sob a minha responsabilidade, cabe a mim conduzi-la,
Se nós criamos redes de apoio, ou seja, os afetos de todos os tipos, isto significa apenas um esteio. A vida da gente é pertença da gente: cada um que cuide da sua.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Os pecados da opinião


Costumo esconder minha forma particular de pensar as coisas, às vezes por medo de explicá-la mal, às vezes para evitar o desgaste das discussões intermináveis. Mas eis que me tornei espírita, feliz pela escolha.
Lugar comum é isso de dizer que as pessoas só vão para as religiões, em geral, e para o Espiritismo, em especial, movidas pela dor. Meu amigo íntimo até suscitou isso comigo. Eu, contudo, disse o que aqui volto a afirmar: não. Eu nunca iria a para qualquer religião mediante desespero. Foi por isso que flutuei. Tem que ser uma escolha, não uma tábua de salvação porque a vida vai mal.
O que seríamos nós? cópia das atrizes, atores, celebridades e afins, que detonam a vida nas drogas, no sexo, na promiscuidade moral e para fazer a reabilitação social, afirmam ter se convertido a uma religião ortodoxa para, em seguida, galgar uma carreira como apresentadora infantil, cantora gospel, comentarista esportivo, ou deputado e deputada?
No meu caso, minha vida já esteve péssima e o lugar da fé era um; o da religião, outro. Por isso fiquei sem templo e sem vínculo exclusivo.
Mas no tocante ao fato de me tornar espírita e me esquivar de uma opinião - esta opinião pode mudar conforme eu siga estudando, obtendo outros dados e outros acessos a ângulos então ignorados -  minha turma de estudos kardecistas estava discutindo a origem do mal. Para 90% deles, o mal foi criação do homem, escolha dele.
Dos outros que manifestaram a opinião contrária, certo é que não tinha argumentos. Era aquele velho "não, porque não!".
Eu fui omissa.
A discussão pegando fogo...quem iria se lembrar de mim?
Mas na minha opinião, sim, Deus criou o Mal, tal como a figura arquetípica do fruto proibido no Paraíso. Criou o mal para que tivéssemos escolha entre ele e o seu oposto. E também porque o mal pode ser dosificado. Deste modo, o egoísmo pertence ao quadro do Mal; entretanto, se você não se servir dele na dose necessária, ficará sem amor próprio e sem senso de preservação. Veja: há quem julgue que a auto-estima consiste em se aceitar tal como se é. Mas se aceitar como se é não significa não procurar melhorar. Assim, se sou gordo, aceito que há beleza em mim e que eu não vou acatar maus comentários nem me inferiorizar por fugir a um padrão estético. Se, porém, eu cuido de mim e da minha saúde, se sou desleixado em vários aspectos, isso não significa ter auto-estima alguma. Aí, o cuidar de si, colocando o eu (ego) em primeiro plano, vai oscilar do mal para o bem conforme a dose e a aplicação;
Outros elementos creditados ao Mal, cuja lista escaparia às possibilidades de discutir adequadamente numa página de blog, poderiam se arrolados agora. Mas,  em suma, é isso: talvez o Mal, para ser considerado enquanto Mal, advenha do uso e da proporção com que é empregado pela humanidade. Talvez a função última não tenha sido causar danos, mas aí, sim, entrariam a intervenção humana degradante, que apaga os limites entre coragem e violência; entre egoísmo e autopreservação; entre independência e individualismo maléfico; entre alheamento e privacidade, dentre ouros pares possíveis.
Mas isso é como que uma tese particular e insipiente, que não se pretende eterna e por sua falibilidade, ficou guardada e quieta no cantinho das opiniões veladas...