Louquética

Incontinência verbal

domingo, 25 de outubro de 2015

Finado


Longe de qualquer saudosismo lamurioso, li dois e-mails que V. escreveu para mim, no começo do romance platônico. Era outra pessoa. No fundo, o que eu lamento é isso: dizem que a gente idealiza quem a gente ama, que projeta o que nem há...Tudo bem! Entretanto, se o interesse nasceu, teve suas causas. Sinto muito por ele ter mudado, por ter perdido o que me encantava...A tal ponto que nem foi o amor que acabou mesmo, primeiro: é que eu olhei e vi que a pessoa que eu amei já não estava ali. Ele era outro.
O que eu amei?Finado. Morto, deposto, enterrado...só um pó nas lembranças.
Do mesmo modo como critico os maridos infiéis, que reservam o melhor sexo para as amantes, critico aos que não se fazem mais amar. Acho que esses caras mostram apenas o lado Bom, controlam o que têm de defeito e, num dia, começam a deixar escapar o que têm de ruim e não se esmeram em manter o lado bom.
Mas, lendo as palavras dele, vi porque me apaixonei e como ele era uma pessoa boa.
Creio, ainda, que não foi somente a falta de cuidado dele, comigo, mas o fato dele ter mudado mesmo. Não é um clichê à toa: uns amadurecem, outros apodrecem.
Independentemente do amor que já não nutro, gostaria que ele fosse o mesmo cara que era quando eu o conheci. O luto amoroso não é exatamente pelo fim do amor, mas pela morte simbólica de quem a gente amou - eu gostava tanto dele.
Sou assim, muito fiel ao que eu sinto: ao amar, amo mesmo. Ao deixar de amar, pouco importa a pessoa, quando o término é conturbado; quando acaba e o amado é pessoa boa, a gente dá um jeito de manter a pessoa em nossa vida - é o que eu faço, tornando-o amigo.
Causa uma tristeza sim, olhar e ver que aquele ser amado por mim, já não existe. Queria que, pelo menos, ele fosse gente boa, bem humorado, respeitador, humano... Vou sentir falta do que ele já foi.
Coloquei o excerto do Leminski, porque o clichê seria o outro poema, aquele do "Amor, então,  acaba? Não que eu saiba..."Este, pelo jeito, 'vira mágoa'

A paz de ser como sou


Quando a gente alcança a paz de não amar homem nenhum e pouco se interessa em constituir novos relacionamentos amorosos, sempre tem que vir algo para quebrar essa paz.
Faz uns meses que eu vi ( e não poderia deixar de ver), estampado na cara do meu amigo de mais de uma década, o súbito interesse por mim.
Ele era amigo do meu ex-namorado R., e namorava minha amiga C. Nós nos acostumamos a passar os sábados juntos, ouvindo música que presta - desculpa aí aos ecléticos e aos que fingem que qualificativos como Bom e Mau são construções pessoais, classistas e discriminatória. Posso mentir e ser politicamente correta, mas como o blog é meu e lê quem quer, vou pular essa parte - e em muitas vezes eu apenas vislumbrava o machismo deles, embora todos nós tivéssemos um bom convívio.
Ele gostou do que viu em mim, recentemente. Foi um entusiasmo só. Quando a gente se viu, faltavam horas para o filho dele nascer; e a esposa estava junto, na mesma festa.
Trocamos gentilezas e meios de contato nas redes sociais, sem que eu desse meu telefone. Também por sinceridade, odeio visitas. Só as pessoas que eu visito é que gosto que me visitem. A paz também se constitui disso, de não ter gente ao portão, de não interferir em minha rotina e me exigir atenção em conversas e demais lances do social - misantropia controlada.
Ele fez umas declarações escancaradas, tão escancaradas que eu e fiz de desentendida, desviei o foco, coloquei panos quentes mas o provável é que alguém viu, a mulher viu - era público - e também andou um convite para mim, ao qual aceitei.
Não devo nada, não flertei...
Por esses dias, procurei os dois. Cada perfil constou como 'conta desativada'. Excluí o contato. Horas depois ele me mandou um convite e das mensagens, pedindo meu telefone, buscando visitas.
Não dei até hoje. Não vejo sentido nisso. Amigo é amigo - não vou abrir precedentes, nem vou abrir as portas da minha casa, porque ele achou minhas coxas bonitas ou porque pareço uma opção à provável crise conjugal dele.
Estou, de novo, na fase de não querer ninguém. Quero apenas estar em paz. Estudo, leio, saio...Não me sinto só por estar sozinha: pelo contrário, gosto que minha casa seja minha, gosto de não ter que conversar...Gosto de mim suficientemente para curtir minha própria companhia. Essa é paz.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Para terminar


Não sei por que é difícil terminar, declaradamente com alguém, se previamente sabemos que arrastar o corpo do morto só tornará desfigurado o que, por si só, já não existe. O fato é que eu gostaria de sair devagarinho; eu não gostaria de dar o golpe de misericórdia, mas o discreto beijo frio da morte e fazer com que ele percebesse que ali jaz o que outrora houve.
Até meu ficante, diante de minha distância, meu silêncio e minhas maneiras vagas de declinar de oportunidades de encontros, não se tocou que acabou o caso...E como sequer era namoro,  a ausência de empolgação e disposição em vê-lo, também eram coisas sintomáticas, eram palavras mudas e sérias.
Acho que esse negócio de terminar é similar àqueles lances da amizade que a gente não assume, quando tem problemas, por temer perder o amigo, despertar raiva, criar contendas...Mas as coisas ali estão, em estado latente. Isso, por sua vez, reporta a que também que termina, quem dá a palavra do término, sofre. Sofre porque não gostaria de fazer sofrer; sofre porque se põe no lugar do outro; sofre porque percebe que o amor acabou, ou o interesse, ou qualquer razão que sustente o relacionamento, mas aquela pessoa irá fazer falta; sofre por tudo de bom que até ali sustentou a relação e por tudo o que se foi. Mesmo quando o outro é, para nós, um fardo...Sempre tememos ser maus, exercer vilania, parecer louco ou monstruoso...É um luto. Eu, contudo, luto para que tudo acabe bem, mas acabe - sem gritos, sem apelações, sem muitas perguntas...Contanto que acabe com poucas palavras e muita compreensão, sem que o outro se sinta rejeitado...O interesse acabou. Acabou. Acabou-se!

domingo, 11 de outubro de 2015

Terceira Pessoa



Nunca seremos donos do outro. Nunca! Vigiar um telefone, investigar atitudes e contatos suspeitos, velar pelas redes sociais, nada disso garante a fidelidade e não passam de exercícios ridículos para dar a ilusão de controle. Se não estamos a salvo do ciúme, a verdade é que a ameaça da traição sempre rondará, sempre estará à espreita, em olhares furtivos, em pensamentos, em desejos nunca suspeitados, nas viagens mentais do outro...Não adianta vigiar. Vigiar, na verdade, serve apenas como um alerta para que o outro seja cuidadoso.
A ilusão da união estável não traz a estabilidade que as pessoas querem, seja no matrimônio formal, seja nas declarações análogas...Talvez, sim, a burocracia de um divórcio, os desgastes da partilha dos bens, os dissabores administrativos de uma separação segure os mais cômodos no enlace. A verdade é que não há garantias.
Tenho assistido aos programas que mostram relacionamentos fora do convencional e, em alguns casos, está evidente que as pessoas se machucam, que não estão preparadas para suportar às claras aquilo que é, pois, desde sempre, um comportamento velado.
Mas em outros casos, tudo bem: os casais se amam, se gostam, se respeitam...E por uma questão de sinceridade levam seus pares para onde todos possam se divertir sexualmente, sem mentiras. Em muitos casos as pessoas querem apenas sexo com outra pessoa que não seja o seu parceiro habitual..Em outros, o sujeito comprometido busca viver romances, se envolver, ter paixões, viver as adrenalinas dos relacionamentos em começo...Por isso falam tanto em tédio, em cansaço...Nem sempre é o cansaço da pessoa com quem se está, mas o cansaço da repetição e da falta de aventuras.
Machado de Assis, em sua Literatura - tal como tantos outros, tal como Flaubert - expunha em traços a vulnerabilidade dos afetos, a traição...Ora em Missa do Galo, quando o marido e Conceição saía nas noites de terça, a pretexto de ir ao teatro, quando até mesmo 'as escravas riam à socapa' por saber que teatro era eufemismo para a pulada de cerca do personagem com uma viúva. Mas, é isso: bons casamentos e boas relações são, em muito, movidos a teatros.
Gente fiel, cuja fidelidade não advenha dos terrorismo religiosos e coisas afins, são quase inexistentes. A sinceridade funciona melhor que a fidelidade...
Mas o que se quer é isso: que sejam cuidadosos no trato com seus casos; que aprendam a ter segredos, que não deixem pistas.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A mão do pai


O fardo sobre o ser humano é grande. Ainda mais por ser saber humano, falho, imperfeito, inacabado e tendente ao erro - coisas que todas as religiões reforçam. Ai de nós, ensinados a não guardar mágoas, a amar a todos, a desculpar, a perdoar, a ser superior mediante a sublimação de nossos sentimentos mais originais...E volto a repetir: nunca criei inimizade com quem quer que fosse gratuitamente; não há em mim um só ódio ou mágoa sem justa causa. No seio da família, então, é talvez onde a gente mais sofra ou, pelo menos em meu caso. Não me vejo neles, não me entendo com eles, embora isso não signifique necessariamente a falta de amor. Mas é amor pisoteado, magoado, cheio de recordações de dores...É amor daqueles que a gente chega perto já com a caixa de curativos, porque sabe que não vai sair ileso, sem feridas, sem cortes, sem dores. Umas feridas virão por palavras, outras pelo comportamento e muitas pelo estranhamento.
Não sei o que eu fui fazer ali, naquela família.
Tento negociar com Deus, zerar as contas, implorar para que nenhuma futura encarnação aproxime a gente de novo.
Tentei fazer com que tudo fosse diferente, mas a verdade é que estamos bem quando estamos distantes. Sábio é quem diz que família é ótima, na fotografia. E cedinho, a filha mais velha de minha madrasta falou e explicou: "Parente é carne no dente, ou seja, incomoda!".
Especialmente com meu pai, que se tornou um grande vigia do meu comportamento no Facebook, a relação piorou a olhos vistos.
Nós havíamos nos reaproximado há uns anos, porque também Andréia me convenceu de que, se agora meu pai era presente e interessado, que eu aceitasse a nova configuração dele, porque esta era a forma de incentivar a ser melhor e que eu considerasse o esforço envidado.
Agora ele me acha metida a besta. Ele vê, na minha página, onde vou e o que eu publico e deve lembrar muito bem que eu sou doutora, que escrevo coisas que ele não entende, que somos muito diferentes, eu e minha família fútil, acostumada a ser milionária há cinco décadas e desprezar o estudo; hoje, miseráveis ainda que com alguma pompa, falam, em seu português lamentável e desapegado de flexões, sobre passado e sobre a inutilidade prática do meu conhecimento, pois que doutor, para eles, é como nas novelas da rede Globo: epíteto de quem tem dinheiro. Todo doutor de novela Global é apenas alguém com poder financeiro.
Meu pai acha um absurdo eu não ser mais militar. Critica minhas escolhas, comemora minhas derrotas como se elas fossem uma confirmação da razão dele sobre as opiniões que tem.
Ele gosta de carros caros e os tem e mede a vida a partir dos bens. Sempre foi assim...
Decidi aceitar que não tenho pai. Não quero conta, nem farei mais os teatros comemorativos do natal, do aniversário, do dia dos pais.
Ele foi meu pai até os meus sete anos. Depois, não. A figura que escolhi para ilustrar esta postagem, lembra o dia em que el me levou para a escola, em meu primeiro dia de aula...Depois, foi pai por episódios, em curtas temporadas.
Vou também repetir o que eu aprendi com o Stuart Hall, em Da diáspora:identidades e mediações culturais, porque, para mim, o teórico que só teoriza no abstrato, geralmente está fazendo ciência de gabinete, isto é, nunca foi a campo, nunca acompanhou nem vivenciou o que descreve e analisa. Hall, no entanto, , na parte 5 de seu livro, em que concede uma entrevista transcrita nesta parte, fala a Kuan-Hsing Chen, que o entrevista formulando uma interessante pergunta, dentre tantas, sobre fragmentos da própria experiência pessoal de Hall frente aos seus objetos de discussão.
Depois de tratar da trajetória biográfica inicial e explicar que ele era diferente da família dele, seja pela cor, seja pela configuração psíquica e social, ele diz: " Por causa disso, fui sempre identificado em minha família como alguém de fora, aquele que não se adequava, o que era mais negro que os outros, o 'pequeno coolie', etc. E desempenhei esse papel o tempo todo. Meus amigos da escola, muitos dos quais provinham de famílias de classe média respeitáveis, porém mais escuros que eu, não eram aceitos em minha casa. Meus pais não achavam que eu estivesse fazendo amizade com as pessoas certas. Eles sempre me encorajavam a  relacionar-me mais com amigos da classe média, de cor mais clara, o que eu não fazia. Em vez disso, me afastei emocionalmente da minha família e fiz amizades em outros lugares. Passei minha adolescência negociando esses espaços culturais. "(HALL, 2006, p. 386(
Apenas confirmo meu afastamento emocional, já de longa data, a ponto de não sentir saudades de um ou outro senão após anos...ou por sublimar a possibilidade de sentir saudades. Mas não era isso que eu queria para mim, nem para eles. O desejável era uma relação boa que nunca terei. O desejável era que também eu não pensasse sobre meu pai aquilo que penso, pois o que penso é que ele é corrupto, desonesto, submisso na família da mulher dele e omisso na minha família. Penso que ele é covarde, que nunca enfrentou uma conversa comigo e que preferiu assim fazer, para não se deixar afetar pelas verdades de sua negligência paterna e da mediocridade explícita daquele caráter vicioso de quem eu ainda reluto em admitir que possa ter me transmitido o DNA, porque somos diferentes, estranhos...E porque psicanaliticamente, processei a morte do pai.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Fogo amigo


Era uma pergunta simples, que exigia uma resposta simples e, fosse meu interlocutor humano e solidário, mereceria uma resposta leve e pitoresca. Mas, não: ele foi esnobe e tripudiou sobre mim, dando a entender que pessoas 'como ele' não precisavam comprar ou pagar pelo que eu perguntava, que isso era serviço de terceiros a favor dele.
Imaginem aí, a simplicidade da pergunta? Era algo tipo: "Você, que vai ao supermercado toda semana, poderia me dizer que sessão ficam os produtos X, e a média dos preços?". Mas ele inventou todos os subterfúgios para ser esnobe, para dizer que ele nem teria como saber e, não sendo esta a pergunta feita, ressaltando que aqui dou uma exemplo similar, seria impossível alguém comprar algo, pagar por algo e nunca se ocupar de saber o custo, ainda mais neste caso, em que é exigido o porte de determinado comprovante de pagamento. por mais que terceiros comprem ou paguem para ele, há apresentação obrigatória do comprovante, onde consta também obrigatoriamente o valor do que eu perguntara.
Perguntei por necessidade e em vista de nossa extensa intimidade...Não me importo com a resposta, mas com o desamor. Ele foi pouco amável, idiota mesmo. E para quê ele precisava da arrogância em cia de mim?
Acho que, no fundo, ele nunca teve humildade mesmo. Tem suas razões para isso, mas é essa falta de solidariedade que me assusta. Acho que nem para um inimigo eu dispensaria essa aspereza de arrogância.
Deixo meus inimigos em paz. Todos. E se por acaso se lascarem, que se lasquem; Se forem vitoriosos, desejo-lhes justiça. E isso foi uma construção lenta e até certo ponto atemorizante, pois eu era vingativa, até perceber que diante de algumas injustiças sofridas, não sendo eu a única a ser vitimada, aquelas pessoas inimigas, que tinha a mais que eu, invejavam meu lugar, meu entorno, minha vida e que, na verdade, eu incomodava a felicidade deles.
É assim: sou da batalha. Jogo, aposto alto, pago o preço, viro a mesa, mas jogo limpo e não mudo as regras no meio da partida, ao contrário de muita gente sensível e frágil que empregou seu tempo em fofocas, intrigas e que esperavam eu sair da sala, para poder articular contra mim. Isso, é lógico, amparado na simpatia geral e no perfil da fragilidade e sensibilidades estratégicas, regadas a boas doses de drama, autocomiseração e apelos aos sempre alimentados eventos depressivos. Isso, sim, não é coisa de amigo. Mal de mi que, conscientemente, nunca fiz mal a esse grupo de gente e se desejos de vingança se mostraram presentes, eram antes por meu ódio frente a tantas injustiças, já que eu deixo as pessoas em paz.
Talvez seja a ação de meus inimigos, que são amigos dele, a influenciar a pessoa a ser aquilo que ela vem se tornando. Nós que éramos grudes, parceiros, cúmplices e que eu gosto de verdade. 
Agora, sim, tudo mudou. Mudou dentro de mim, estilhaçou, quebrou e eu quebrei a cara...Por que tripudiar sobre mim?qual a necessidade? auto-afirmação sobre mim, partindo de gente amiga?Fogo amigo, já que eu não estou em batalha contra ele, não estamos em campos opostos ou, pelo menos, assim eu pensava. Saí ferida da batalha que ele criou..E era só uma pergunta simples, de quem queria informação;