Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

As marés da vida


Eu nunca quis sair da minha casa para ir ganhar ouro e fortuna há milhas do meu lar. Porém, nunca nascem editais no meu jardim, com vagas no meu quintal.
Ir para longe tem lá suas compensações. Talvez compense mais para quem vive fugindo ou sofra por solidão, o que não é o meu caso. Porém, quem quer estabilidade ou paz financeira, faz desses pactos.
O concurso que seria daqui a eras, resolveu ser na semana que vem.
Neste fim de semana passado, encarei meu medo do mar e das embarcações, enfrentei o oceano e fui a Morro de São Paulo, uma ilha que eu não conhecia.
O caso não foi ir: foi ir e relaxar, prevendo uma data para meus compromissos e que agora se antecipou.
Tenho medo de passar e tenho medo de perder.
Se eu passar, vou me desdobrar para viver aqui, ali e acolá: é que a vaga é num interior acerca de 60 km da capital, onde tecnicamente, se deve morar; par a cada 15 ou 30 dias vir para cá, o meu lar.
Não sei onde eu estava com a cabeça quando me meti nessa.
Na verdade sei: minha vida estava leve demais, no sentido de me faltarem amarras afetivas. Andei viajando com meu ex-orientador de doutorado, que contou de suas peregrinações na região Norte do país, no começo da carreira; medi os sacrifícios dos meus amigos e inimigos, indo morar em cidades amarguradas, onde a internet é à base de lenha e a diversão é morrer para evitar o suicídio - sem shopping, sem livrarias, sem café gelado, sem Multiplex, sem badalações e mesmo sem as frescuras gastronômicas que preferimos. Pelo menos eles se entopem de dinheiro. Mas, uma vez entupidos de dinheiro, ficam lá, marcam passo, querendo sempre mais dinheiro ou tendo medo que o dinheiro acabe - o que é uma contradição frente a lugares sem apelos de consumo.
Gosto de dinheiro. Preciso de dinheiro. Não tenho nada contra dinheiro. o problema é o preço que se paga, em termos gerais, para se ter dinheiro - dinheiro nunca se ganha, se conquista mediante vários meios. ganhar, seria se fosse gratuito.
Eu, claro, uso a teoria do macaco: não se deve largar de um galho sem antes estar-se preso a outro...Do contrário, o macaco cai.
Assim sendo, já engatilhei outros ramos e utras ramificações, estas, sim, realmente, desejadas. Por essas, lutarei sem angústias.
No meio do caminho tem outro elemento: eu o conheci num Congresso. Obra do acaso. E desde que me tornei Espírita, tenho sido compelida a concordar que o acaso é Deus, quando não quer assinar a obra.
Ora, não era para ele ter ido. Nem eu.
Não era para ele ter ido sentar ao meu lado, mas sentou.
E como estivesse de camiseta de partido político, julguei que ele fosse o motorista que nos levaria daqui para lá.
Encetamos a conversa. Cara inteligente, simpático, humano, carinhoso e cortês.
Descubro depois; formado em Direito, Letras e Filosofia.
No meio do caminho, um edital, na cidade dele. nem ele nem eu sabíamos. Soubemos: fez-se o problemas, que talvez nem seja.
Legal isso das pessoas ainda julgarem o blog como uma esfera confessional.Às vezes é. Às vezes não é. Hoje tudo isso aqui é.
Meu rolos amorosos sempre são confessionais.
É Vinícius no coração, as águas rolando, a gente se aproximando, ele brigando porque não gosta que eu saia...Enfim. E aí vem o outro personagem. No fim da questão, também confessional, nunca fiquei com nenhum dos dois. Gosto de um cara com quem nunca fiquei, mas que me namora à distância. Por outro lado, o que está mais distante exige esforço de mim, para que eu passe num concurso, v´para perto e a gente amarre as alianças coronárias. Que fique bem claro: alianças do coração. Eu nunca me casaria - só conheço dois casamentos felizes; o resto é cansaço e conveniência afetiva.
Bom, mas a sorte está lançada: vou lutar. A vitória me assusta, a derrota me destrói. Qualquer resultado me afeta, mas é sempre melhor ganhar que perder. Bom mesmo é ter escolhas.
P.S.: Na foto, eu...aproveitando os ventos que sopraram a favor, nesta sexta-feira passada.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Por onde andei enquanto o tempo passava


Eis que a gente deposita muita expectativa no ano novo, no espetáculo de passagem de tempo, no tempo em si. No fim, somos apenas uns doidos comemorando o que ainda é projeção, torcendo e rezando por novidades boas.
Passei o réveillon em Lençóis, só para fazer diferente. De diferente mesmo, só a ausência das ondas. No mais, tudo terminou cedo e eu vinha de uma experiência horrenda numa trilha até à Cachoeira do Sossego.
Se alguém lhe falar em trilha, saiba: a melhor ainda é a trilha sonora. Do contrário, prepare-se: se um guia te disser que leva duas horas, acrescente cinquenta por cento a mais, mesmo que você seja atleta. Assim como, a depender, há situações em que é preciso lutar pela sobrevivência, já que é necessário, abaixar, agachar, rastejar, rezar para não cair; há momentos em que sua vida fica literalmente em suas mãos: se soltar da rocha, despenca sobre outras rochas pontiagudas.
Não é á toa que em Lençóis, a Amsterdã baiana, todo mundo usa maconha, porque se o cara não estiver viajando numa droga, não suporta aquilo. Até à Cachoeira do Sossego, caminhamos cinco horas, nos maiores perigos. Escute, cara pálida: trilha não significa apenas fazer um caminho a pé, subir ladeiras, descer corredeiras, avançar por rios: é um exercício de desafio dos medos, seja ele de altura, de animais ou insetos nativos, é encarar fome e sede, calor, riscos, desafios, correntezas e , no caso da gente, no final de tanta luta, encontrar uma cachoeira coo qualquer outra, cuja água e cor de Coca-Cola, é fria e não tem lá nada que justifique o sacrifício, exceto, é claro a ignorância ou uma grande labareda no orifício anal. No meu caso foi ignorância.
Lá deixei um pedaço de mim: do joelho, do dedão do pé, da coxa. Paciência: bom é sair de lá.
No Morro do Pai Inácio, sim: legal, apesar de pequenos riscos.
Lençóis estava péssima para qualquer espécie de pegação. Nada acontece: o povo faz trilhas, fuma maconha, bebe álcool, come e dorme. Um saco!
Fui de turma e foi o que salvou a viagem.
Gosto de lá.
No sábado fomos ao Refúgio, dançamos, enfim, encerrei ali meu tour.
De volta ao lar, tempo chuvoso que me fez desistir da praia...Voltar à vida comum e às obrigações.
Preciso me concentrar, ler, escrever, criar.
No amor, tudo só perspectivas. E aquela certeza de que esquecer alguém presume um trabalho cansativo de desconstrução. Mas, como para tudo na vida, gosto de respostas claras. Gostaria de saber tanta coisa sob e sobre a decisão dele, sobre outras infinitas coisas que merecem respostas. Mas aceito o rei posto, deposto e a vida segue nestes trezentos e tantos dias a seguir, se vivermos.
P.S.: Na foto sou eu, no Morro do Pai Inácio, durante a viagem de réveillon de 2014 para 2015.