Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Velhos problemas do Ano Novo



Não tenho mensagens para o ano novo que, aliás, poderiam se resumir a apenas duas: livre-se do que não lhe agrada e busque conquistar o que lhe faz falta. Mas esses binarismos pouco se sustentam, pois,  bem disse Caetano Veloso, "...a vida é real e de viés", costurada em muitos ângulos e descosida em muitas direções - quando não, rota e desfiada, no Prêt-a-porter da existência que, no meu caso, me fez desfilar de saia justa.
Nessa temporada, desconfio que minha amiga não sabe ser feliz ou teme assumir a felicidade e arcar com a inveja e a crítica...Pode até ser que seja meramente porque o sucesso em uma área não atrai o sucesso em todas - estou falando de Tatiana, lógico.
Ela não está errada: a vida tem muitos compartimentos mesmo.
Todo santo dia me deparo com essa indagação entre trabalho, distância, dinheiro e meu amor pelo poeta. Como eu queria ser como os outros, que cortam laços e desatam nós como se nunca tivessem se amarrado a nada ou a ninguém. Se tem significado real para mim, não me desligo assim.
Continuo pensando o mesmo sobre as mesmas coisas... Mas esse tempo que a gente conta, para contabilizar a passagem das coisas, nós aproveitamos muito mal.
Um dia o tempo nos diz que ainda é cedo; no outro, nos diz que já estamos velhos..,Vamos passando, encolhendo nossa existência.
Excepcionalmente, acho que neste réveillon não irei à Praia do Forte nem a Guarajuba: culpa do tempo, nos dois sentido, pois que minhas companhias trabalham na segunda-feira ; quanto o prognóstico é de chuva. E desde 1998 eu não passo um Ano Novo em casa ou perto de casa. A esta altura, não planejamos nada de alternativo, salvo um possível jantar e festa temática do Anos 80. E não sou do improviso.
Olha que me deixei contagiar pelo discurso de todos, até do meu pai, dizendo que na praia iria faltar água, que teríamos engarrafamentos para ir e para voltar, num trânsito perigoso, com tudo com preços nas alturas, com pedágio caro e filas para tudo. Sim, como costumo dizer: todo mundo, ao mesmo tempo, no mesmo lugar, para fazer a mesma coisa, só pode dar em filas.
Pensei nessas agonias.
Pesadelos até para estacionar o carro na praia; ou para entrar na Aldeia dos pescadores e na cidade, após às 18 horas, porque o carro fica na frente da guarita e todos caminhamos 3 quilômetros, até na volta, sob sono...E , depois, as disputas na areia, na praia escura, com um bando de doidos gritando e jogando champanhe e cerveja para cima, batizando minhas vestes brancas e novas...para, então, voltarmos e dormimos...E acordarmos cedo porque o último idiota chegou fazendo zoada ou outro idiota acordou cedo para ir à praia. Aliás, no réveillon o número de idiotas à solta cresce vertiginosamente, na ordem de até 35% - talvez eu não queira engrossar a estatística.
Tudo está fechado e a praia está suja, cheia de oferendas e garrafas e há entulhos de vestígios da alegria alcoólica do povo na areia.
Fome: sair para ir tomar café em Guarajuba. Fila. Comida que acaba cedo. Café frio. Sol. Todo um script que talvez os infortúnios que antevemos possam me libertar nesse ano.
Não vou lamentar a viagem que não farei: vou fazer diferente.
Réveillon bom é aquele em que posso dançar. Por tal constatação, desejo que em 2017 o ritmo da minha vida seja bem alegre...Chega de ritmo lento.
Happy new year!


sábado, 17 de dezembro de 2016

Corpo inteiro


A moça da mercearia, uma jovem de menos de 20 anos, perguntou se eu ainda estava indo à academia. Respondi-lhe que, sim, que não podemos parar. Ela concordou. Vi que por dois motivos: porque me admira e faz cálculos entre minha provável idade e o estado de meu corpo; e porque ela própria adivinha a tendência genética a repetir o padrão corporal da mãe dela, que apesar de ativa é obesa.
Também sinto preguiça. Também a mim o sofá é cômodo. Mas é a velha história: quando a gente vê os resultados no espelho; e na opinião geral das pessoas, esse outro espelho que pode ser positivo e estimulante, não há como preferir a preguiça ao prazer.
Não sou dessas que desistem de um prazer, por conta de preguiça.
A gente envelhece e o metabolismo fica preguiçoso, também, Talvez seja cansado, metabolismo cansado...
Quando comecei meus treinos com um novo treinador na mesma academia, há cerca de um ano e meio, eu olhava as mulheres mais velhas que eu, fazendo exercícios no legpress com 150 quilos. Acho que, então, eu fazia 110. Pensava que nunca chegaria aos 140, sequer...Hoje, são 160 quilos. E de braços, sempre magros mas fortes, puxo pesos que superam o das moças mais preparadas. Mas isso não se faz por disputa: meu treinador é profissionalíssimo e gradativo nos pesos. Porém, nunca me subestimou.
Conselho meu: nunca, de modo algum, faça musculação ou ginástica em horário de congestionamento de gente, horário de pico.
Como eu digo, também: vá à academia sem celular e, de preferência, sem amigas, para não se desviar e se perder em conversas que degastam seu ar, sua atenção e podem esperar 80 minutos para acontecer.
A alimentação não precisa mudar: pode ser a mesma, com porções menores para quem quer emagrecer. Não adianta querer viver de coisas que não apetecem e achar que qualquer cardápio é tentação. Isso é ilusão pura. Assim como certos aparelhos são ilusões. Já disse: aliar musculação com massagens, criolipólise, drenagem, aquele gel redutor simples, mas que refresca, que pode ser baratinho mesmo, isso, sim, dá resultado. Sozinhos, cada um desses recursos podem pouco e duram menos ainda. Não há milagres: é esforço mesmo.
Caminhada sozinha, nada feito. Corrida, tudo bem, ajuda muito, em tudo. Só não vai delinear, nem tornear, mas adianta.
Reitero: não tenho corpo de madrinha de bateria de Escola de Samba, mas sou muito feliz com o corpo que tenho. E a musculação faz a diferença na forma do corpo.
Meu gosto alimentar realmente comporta sucos de beterraba, cenoura, limão, couve, acrescidos de gengibre e hortelã, portanto não é sacrifício consumir isso, em meu caso.
Para a minha sorte, odeio me sentir parada e procuro o que fazer, sempre. Mesmo que seja apenas dançar.
Quando eu for trabalhar bem longe, ano que vem, vou sentir falta de minha academia.
Estou com o coração miudinho, minúsculo, por causa disso, por mais que futuramente eu venha a ter rios de dinheiro para pagar uma boa academia lá longe onde eu for estar.
Meu poeta não sabe disso. Não sabe nada disso. Nem eu quero que saiba que eu vou para longe, por tempo indeterminado...A menos que algo mude, que coisa melhor aconteça...A esta altura da relação não-assumida reciprocamente da gente, não sei como será a vida, como será não estar disponível para os abraços, para o sexo bom, para as conversas cúmplices, para aquela pele branca que eu gosto de alisar, para os abraços bobos, para os medos dele, que às vezes escapam e o deixam inseguro sobre o fato de eu ter percebido.
Cuido do corpo antes de conhecê-lo...Ele também é desses, fitness.
Acho que o corpo dele me faz amar mais ao meu, quando perto do dele.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Presente!


Hoje eu dei alguns abraços em pessoas desconhecidas, por recomendação do palestrante do Centro Espírita (kardecista) que frequento. Estranho, isso. Não que não seja bom, nem que não seja necessário: há os mais efusivos, os frios, os tímidos, os chocados...Quisera eu que a espontaneidade prevalecesse. Acho que o aperto de mão, sincero, abrevia os desconfortos.
Falei disso porque fujo de visitas e de participar de amigo secreto, coisa que se multiplica nessa época do ano.
Odeio almoços e encontros de confraternização, seja com quem for: acho artificial, esquisito, recurso impessoal travestido de bom momento de fraternidade e amizade. Nunca fui dessas coisas de dar beijos no rosto do inimigo e cumprimentar desafetos. Por mim, troco de calçada. Entretanto, eu jamais seria indelicada a ponto de não responder a um cumprimento, a um aperto de mão, apesar de que quanto mais eu tenha respeitado e gostado de uma pessoa, menos eu tenha condições de perdoar e reatar uma relação com ela. Até meu amigo mais puro em termos de coração, JN, é assim.
O tempo foi me corrompendo. A maturidade também: observem bem que, conforme ouvi de um depoente do AA (eu não bebo álcool, mas fui acompanhar um dependente, para incentivá-lo a se tratar), há coisas que a gente não faz a um inimigo e que, todavia, faz a um ente próximo ou a um amigo. Então, se alguém gosta da gente, nos tem amor de amigo e ofendemos essa pessoa seja por palavras, injúrias, descaso, negligência, nossa ofensa será sempre maior, porque somos amigos.
Aos inimigos, toda ofensa seria compreensível, já que há ali um desamor.
Assim sendo, quem é nosso amigo se ofende e se fere se a gente faz algo cujo prejuízo será nosso. Não gosto de que meus amigos maltratem a si mesmos com vícios, maus hábitos, tendências ruins, escolhas irresponsáveis – e posso dizer que, respeitando as escolhas particulares, se eu pudesse, faria minhas amigas se casarem com gente melhor do que as atuais companhias; faria minhas amigas lerem e serem mais dadas aos livros do que ao Facebook; eu varreria o discurso derrotista fantasiado de superioridade daquelas que dizem que não querem cursar mestrado e doutorado (sabemos que isso é medo de perder, é preguiça de estudar e medo de passar e medo de passar e não conseguir escrever); eu diria para irem à academia e serem mais fortes que a preguiça e certamente ouviria coisa parecida delas para mim - claro que não no tocante ao doutorado, pois já tenho; nem à academia, que já frequento...
Eu deveria ter ouvido meus amigos em várias circunstâncias em que sucumbi a certos relacionamentos ruins que eu tive; assim como deveria ter feito muitas coisas que abreviassem meus sofrimentos, mas não fiz.
Falei dessas coisas todas também observando o quanto não temos atitudes gratuitas: esperamos que alguém nos peça, para então darmos (do abraço ao presente; do conselho à ajuda financeira àquele que está em dificuldade, porque mesmo quem ganha mil reais, pode tirar 50 e dar a um amigo gratuitamente, para que ele não se sinta constrangido em pedir, nem humilhado em aceitar; do chocolate à caixinha de chá, passando por aquelas músicas que você sabe que ele gosta e que pode baixar e dar em arquivo...No meu modo de ver, todo mundo pode, de alguma forma, presentear). Podemos dar a dica do concurso ao desempregado e dar o estímulo para que estude; podemos indicar caminhos e alegrar o outro, ou simplesmente ouvir...Ou simplesmente calar.
Já falei desta minha amiga e vou repetir: Conceição recebia minhas dores, quando eu caía. Quase sempre ela me dizia: “Você já sabe que fez o errado. Agora vamos ver o que fazer para resolver”. Isso era na adolescência. Ela não me dava lição de moral: via que eu já tinha a lição. Como amiga, oferecia o reparo. Presente lindo.

Mesmo de longe, presenteie com coisas silenciosas, sem exibições ou ostentações com orações, mensagens,  dicas ou um convite para dançar. Não somos tão pobres. Sempre que nossa vergonha ou timidez inibe o encontro ou a ação, cabe pensar porque nosso receio é maior do que a vontade. Desta resposta vira uma avaliação do quanto o outro importa para nós.

sábado, 26 de novembro de 2016

Poesia em essência...


Ontem ele estava na casa do irmão, longe para caramba, perto da universidade. Bateu a loucura e ele me mandou uma mensagem, já uma e meia da manhã. Tomei um susto com o barulho do telefone...Enrolei para responder uns minutos. Ele ligou em seguida, na ansiedade, na precipitação sagitariana, que me parece pior que a de um ariano apressado, só para colocar sobre os astros o peso de sermos como somos.
Talvez ele tenha me ligado meramente por loucura, rompante e arroubo; talvez por insônia, se bem que o bairro é boêmio e, numa sexta à noite, tudo estava em movimento; talvez por vontade, por saber que eu gosto da aventura.
Ele sabe que somente a ele é dado o poder de me acordar. Para todo os demais seres do planeta, eu piro, brigo, quebro o pau.
Tomei banho e fui. Cheguei rapidamente, com medo de que a manhã fosse mais rápida que eu, que o tempo passasse, que o sono batesse...
E do encontro, vi como eu gosto de sentir o cheiro do meu perfume no corpo dele. Eu não sei dizer se isso é um delírio narcísico, de me ver refletida no espelho olfativo daquele corpo; se é posse, como bicho que marca território...Mas, no fundo, sei que é um duplo prazer, por amar os perfumes que uso, por poder melhor sentir aquele cheiro e o quanto ele fica bem naquela pele.
Quando eu estava indo embora, vi que as marcas de batom persistiam na pele dele, mesmo após o banho: achei lindas! Sempre ficam fotogênicas, porque a pele dele é clara, parece uma tela a ser pintada mesmo...Ficou a marca do beijo no tórax, no pescoço...Ele deve ter cuidado da que ficou no canto da boca, no beijo de boa noite.
Adoro perfumes. Como eu já disse, o perfume veste a pessoa – Marilyn Monroe declarou que dormia usando Channel nº 5. Muito bem!
Sei escolher perfumes. Também acho que dormir com um bom cheiro é maravilhoso.
Ele gosta dos meus sapatos de salto. Gosta do barulho, da postura que eles exigem, dos saltos finos, das cores...Um fetiche.
Gosto de lembrar do cheiro do meu perfume no corpo dele...Gosto de me lembrar no corpo dele.
P.S.: Na imagem, meus perfumes preferidos, de uso constante.


sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Casos de Família (e outros traumas)


Minha amiga afirmou: “Parece que você nunca esteve lá, que o Corpo de Bombeiros nunca existiu, que a escola nunca existiu”. Aí eu vi que sim, que tomo decisões definitivas e ai de mim quando o ‘nunca mais’ impera.
Tantas vezes decidi e voltei atrás num amor e quantas vezes adiei a saída de um emprego? Infinitas.
Sabe quando a gente pensa que o relacionamento dos outro acabou e um dos dois saiu ileso? É tudo mentira: é que esse que parece inabalável realizou o luto de separação antes de tomar a iniciativa de se separar. Acontece. Acaba primeiro para uma das partes. E sabe por que as pessoas voltam? Porque não estão preparadas para se separar, seja do que for... Querem se separar sem dor, deixar o emprego e pronto! Não há como pular etapas. A intempestividade de um preço altíssimo.
Não sei se a idade me deixou pior, porque não me acho uma pessoa fria, mas o que passou, passou mesmo. Nem consigo corresponder às gentilezas de ex-colegas de trabalho ou de ex-namorados, porque quebrou-se o vínculo imediato e eles se tornaram uma imagem desbotada nos quadros de minhas vivências.
Os homens que amei perderam a importância, as cidades se transformaram em recordações e pouco lembro de episódios que as pessoas vivificam ao me encontrarem nas festas. Talvez seja só velhice, seja somente o fato de eu estar passando.
Ultimamente estou com uma coragem triste, com uma coragem revoltada, com a cabeça aturdida porque há também o que eu não esqueci, das coisas da madrasta, dos muros que foram ao chão e da influência dessa gente chata que impõe que perdoemos tudo, Assim pensei ter perdoado e superado. Até que vi uma foto de minha madrasta, com as filhas, netas e meu pai, numa postagem de uma das filhas, que meu pai obrigou reciprocamente a uma relação no Facebook.
Olhei os elogios àqueles olhos cruéis, àquela fisionomia tão fria quanto ruim. Não reagi. Na curti. Não comentei. Compartilhei o choque comigo mesma e concluí que trauma é trauma e não há educação ou moral cristã que consiga derrubar os sentimentos espontâneos, ainda que o verniz da polidez me faça sustentar o ‘convívio social’. Quero distância deles, de todos eles. Nunca forma minha família. Nunca foram dos meus afetos bons, senão pelo convívio saudável para evitar a histeria de meu pai e o burburinho deles, de que sou metida, nada humilde, arrogante e enfatiotada.
Nunca nos parecemos. Sequer pareço com minha família consanguínea, oxalá poderia ter qualquer paridade com a família de minha madrasta, apesar das investidas de meu pai irem (pasmem, não é piada) em forçar meu exame de glaucoma porque se minha madrasta tinha, eu poderia ter.   
Disse-lhe eu: “não sou filha de minha madrasta”. Mas ele retrucou. Dez anos depois, arranjou uma alta pressão ocular para si mesmo, para não deixar minha madrasta sozinha com a enfermidade.
Nunca me pareci em nada com nenhum deles: somos tão diferentes e opostos quanto se possa imaginar e polarizar.
Esses tempos têm sido traumáticos, em termos de me trazerem lembranças psicanalíticas. Até com o poeta: juntei as pontas discursivas de um comentário meu a um confidente, com um momento libertador posterior. É que falei, após a primeira vez em que eu e o poeta tivemos relações sexuais, que no dia seguinte eu me senti como se tivesse sido estuprada – não por qualquer forma de imposição ou violência físicas, mas por certa emanação de ódio e machismo, de misoginia mesmo, que os gestos dele emanavam e que o contexto firmava. Ainda bem que passou e por causa dele e de tudo isso eu pude sepultar um trauma muito pesado.
Anteontem conheci alguém igual ao poeta. Sim, também poeta, também dos sonetos, também do ocultismo, do budismo, do ego imenso...Graças a Deus que sem a mesma beleza, para não me subornar.
Talvez eu esteja numa fase de atrair certos tipos de lembranças, de situações, de pessoas...Fase crescente.




quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Isso dá um trabalho!!!


Tenho em mim, às vezes, a convicção de que todos os meus erros foram certos, foram o meu possível para aquele momento. E se hoje me questiono porque escolhi isto e não aquilo, é por pensar que, de alguma maneira, o nosso livre-arbítrio se direciona para o que cabe escolher. Isso nem sempre significa o melhor. Às vezes indica a escolha do que nos é necessário, ainda que isso signifique que no bojo das questões, foi necessário quebrar a cara.
Um amigo bem íntimo acha que eu deveria ter fica no Corpo de Bombeiros até morrer. Eu também já achei. E tanto achei, que quase morro. Desenvolvi doenças psíquicas e taquicardias, quando ia me arrumar para trabalhar.
Fora preciso sete anos para eu me desvencilhar.
Isso é terrível: as pessoas alimentam em nós a ideia de que tudo é válido para se ter um emprego; que qualquer preço que se pague é ainda baixo frente à satisfação das contas pagas. Não é, não: tão terrível quanto a falta de perspectivas de trabalho, é um trabalho que lhe consome, que lhe mata, que te leva à velha querela de como será morrer para ganhar o pão, morrer por aquilo que sustentava sua vida.
Vejo meu ex, que continuou lá, aplicando dois anos de atestado, caindo nas malhas da Junta Médica. Há que se perguntar a esse povo todo, militar, professor, funcionário público, as razões porque as pessoas fogem do trabalho, quando não são preguiçosas profissionais.
Eu me senti feliz trabalhando 500 km de casa, numa cidade quente e de poucos atrativos.
A única coisa de que me arrependo, isso porque eu não tive parâmetro e escolhi errado mesmo, foi não ter tomado posse em Lençóis, com medo de não aguentar morar ali a longo prazo. Mas, olha só: fiz um concurso em 2011, quando meu contexto particular era um; e só me convocaram em 2014, quando eu já estava apaixonada pela UFBA e experimentando outra fase profissional.
Eu deveria ter escutado Ilmara.
Eu sei o quanto é difícil abandonar a tenda sedutora da estabilidade: casamentos são assim; relacionamentos são assim; empregos são assim. Mas vale a pena. Só não dá para sair de um e ir para o outro sem passar por perdas.
Recentemente vi que vou passar novamente por um dilema dessa natureza: até fevereiro serei indagada sobre ficar onde estou, na cidade em que moro e gosto de morar, vivendo as vicissitudes da ocupação daqui e dos empregos temporários que advém a seguir, ou ir para longe cerca de 750km daqui e viver minha estabilidade numa vaga federal.
Desta vez vou para onde não quero. Vou rezar por uma futura transferência.
Hoje uma universidade do exterior, onde fiz uma inscrição, me contactou. Resolvi não seguir no processo, menos por orgulho do que pelo desgaste e tensão que isso iria me gerar, fosse por eu ter que afiar um idioma inglês que não pratico desde 2013, seja por não aguentar ir até o final e correr o risco de vencer e ter que decidir.
Deixa eu falar de outra coisa: estou com o juízo coçando porque um certo homem, acho eu, presume que eu queira um relacionamento com ele. Essas ideias a gente nunca sabe de onde saem, mas o que me espanta é que, então, ele deve achar que eu acho que ele gosta de mim. Ou será que acha que eu quero um namoro sério a qualquer preço?
De vez em quando me aparecem esses loucos, essa gente que quer me provar que é claro que eu os amo, apenas não me dei conta disso. É muito ego na causa. Só achei engraçado. Tão engraçado quanto o idiota do G.P. me perguntar se eu sentia saudades dele e nunca ter obtido resposta minha. Daí meu medo de que ele supusesse que quem cala consente e seguisse sentenciando que ‘quem sou eu para não amar uma pessoa daquelas?!”. Mas é cada uma!!!
Voltando ao emprego, eu acho que, do ponto de vista espiritual, tudo conspira para ser e estar onde quer que estejamos. Como disse a Drª Gilka, a gente demora num lugar o quanto somos úteis ali. Porém, acho que se seu contexto não lhe ajuda, mas ainda assim você se qualifica, é porque você precisa e tem que ser.
Mas se fosse para escolher um outro rumo na vida, ou se eu pudesse ter um romo paralelo eu faria duas coisas, aqui ditas por desvario e não pela razão causal:
1) Eu seria DJ ou teria um espaço para dançar, onde tocassem músicas para dançar mesmo e não esse som de corno que toca por aí.
2) Ah, eu teria uma loja de biquínis artesanais, feitos realmente para mulheres, sabe?Uma lojinha itinerante, que funcionaria no meu furgão ou num carro off-road, com temporadas em Guarajuba, Praia do Forte e Farol da Barra, com preço módicos, mas biquínis assim com estampas femininas, com laços, bolinhas, pequenos arranjos, conforto, cortes como se fossem cintas, parte traseira bem delineada, bojo bem recortado e mesmo trançado de alças para gerar um bom bronzeado. Imagino cada peça. porque o sonho é meu e não tem censura.
Mas não sei vender nada.
Não vendo nem meu peixe.
E se penso nessas duas coisas é porque sino falta dessas duas coisas para meu consumo próprio.
Se um dia eu tivesse a chance de falar com um fabricante de sapatos femininos, igualmente eu pediria conforto, proteção nos calcanhares, solado sempre antiderrapante, designers femininos, cores femininas, detalhes e estampas e que nunca fosse um castigo estar elegante, de modo que estar em cia do salto não gerasse calos...
Tá. Isso é sonho. Deixa eu acordar e ir cuidar dos trabalhos.


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Corpos e delitos


Eu não julgo o que cada um faz de sua identidade sexual, mas preciso dizer que um certo ex-namorado meu me surpreende.
A esta altura da vida, já quarentando, lá vem ele com crise de identidade sexual, se agarrando a pretextos para terminar com a namorada pela qual ele, assumidamente, não tem desejo sexual e da qual foge.
Para piorar, a moça quer forçar o casamento e, apesar de reclamar da falta de sexo, nem desconfia que o inimigo dela é outro e não outra.
Depois de ter tido longas relações sexuais com dois ou três homens diferentes, ele, que se acha heterossexual, vem me dizer que, na verdade, tem apenas curiosidade pelo sexo com homens.
Se a curiosidade não é satisfeita depois de seis a oito anos de sexo passivo com outros homens, eu que pergunto que curiosidade é essa.
Então, ele veio me perguntar como saber. Ora, quem sabe é ele. Eu só pude responder por mim, porque, de fato, eu nunca tive curiosidade sexual por mulheres nem vivi qualquer coisa que me fizesse questionar minhas tendências e preferências. Eu não sei ao certo onde e quando isso se cria, mas sei que se um homem transa com outros homens, gosta e prefere, heterossexual ele não pode ser.
Pulemos as classificações: como é difícil para um ser humano lidar com a própria sexualidade.
Pior ainda é se perceber diferente, contrariando o machismo, a orientação da família, os ditames da religião, a ordem estabelecida para os papéis de homem e de mulher...
Desde os 13 anos eu sabia que não queria ser mãe. Desde que me percebi um ser sexuado, nunca tive dúvidas de ser heterossexual – se foi a força da cultura, da família ou da sociedade quem determinou, eu acho que não. Se assim fosse, não haveria tanto padre gay, tanto evangélico gay, tanto gay casado, tantas lésbicas enrustidas em casamentos formais. Acho que a pessoa pode blindar o próprio armário como for, mas um dia algo escapa e deixa entrever o que há de verdade lá dentro.
Assumir que é gay iria causar muito rebuliço na vida dele. Mais para ele do que para a família: desde já me dá pena. Poxa, coitado, não se aceita! Acho que se olha e não se vê.
Recentemente eu mandei um meme para ele. Ele admitiu que ficou excitado ao olhar o volumoso pau do sujeito da imagem. E ainda assim, não sabe que é gay.
Agora, invocou que quer tirar a dúvida ( e que eu apresentasse um dos meus muitos e tantos amigos gays). Ele quer é tirar a roupa.
Tati e eu, certa vez, falávamos que nem a pior solidão do mundo nos faria ter um relacionamento com uma mulher. E repito: se não tenho desejo, nem curiosidade, muito menos o desespero me faria forçar essa barra. Não dá. Seria uma agressão tão grande contra mim mesma quanto é uma agressão um ser humano gay se forçar a uma relação heterossexual.
Sem essa de normatividade: a gente percebe, sim, o que quer e do que gosta. Viver a verdade de sua sexualidade também é um exercício de amor próprio.
Fico pensando no que me prende ao poeta e vejo que realmente o corpo do homem me atrai e me excita. Nunca houve dúvidas. Nunca. A menor atração por uma mulher, eu jamais tive. Adoro corpo de homem, sexo com homem e coisas que só vejo neles. Claro que há outras coisas, mas o corpo responde melhor as questões intrínsecas à sexualidade.
Quando eu escrevo aqui o quanto tenho sintonia sexual com o poeta. de um modo implícito teço louvores ao que me atrai num homem. Se reparo na delícia que é o meu vizinho, é meu corpo quem deseja com os olhos, quem atribui gostosuras e sabores ao que é desejado. Adoro mesmo a pele, a boca, a temperatura, o toque, o corpo inteiro do homem. Sei claramente isso.
Decerto que há mulheres que gostam de homens, mesmo sem nunca gozar com eles. Ainda assim, são heterossexuais e sabem disso. Por mais que a pessoa relute, ela sabe.

Mas me causa certa compaixão essa dor psíquica de quem não se reconhece e não se aceita...Se não se reconhece, está perdido, perdeu-se de si. Tomara que ele não desista da busca e, finalmente, se encontre.

Mortos Ao vivo


Viver é sempre uma surpresa, mesmo que os dias não nos traga grandes novidades.
Sou uma pessoa alegre, o que não significa que sou feliz todos os dias, nem que não me faltem problemas.
Hoje é dia dos Finados e eu sempre brinquei com meus amigos apagados, aqueles que cheiram a naftalina, que nunca querem sair, ou, se querem, é mais para ter o que exibir no Facebook do que propriamente para aproveitar a vida; aqueles outros, que querem viajar para o mundo ver e não para ver o mundo, graças a Deus, são poucos. Mas é interessante isso de quem tem uma infelicidade intrínseca crônica...Ah, para esses, não tem tempo bom.
Pessoas desse tipo estão tristes mesmo que tudo dê certo e que nada lhes falte; não sabem agradecer por nada que têm, nem reconhecer o que há de melhor me si: vivem sempre suas faltas, convertem algumas em inveja e todas em depressão.
Há coisas, tendência e hábitos que são uma morte. Por isso, todos os dias tento corrigir meus ciúmes. Hoje, já me entendo bem com ele, pois que está aí algo que detonava meu humor.
Sinceramente, se me olho e reconheço que meu desejos não giram exclusivamente em torno de um homem, quem sou eu para exigir que ele deseje apenas a mim? E não seria uma mentira? E se a fidelidade for proporcional à vigilância, ela existe? E se eu me preocupar em vigiar e o outro desenvolver verdadeiras técnicas de disfarce da infidelidade, isso seria ser fiel?
Não, os meus olhos percorrem corpos; sonham contatos, imaginam, desejam. Sou humana e sou normal. Os olhos dele também são humanos.
Decerto que acho ele lindo, lindo, lindo o bastante para concentrar meus olhos deslumbrados e fixar meus sentidos, outros há que os meus olhos buscam.
Sou tranquila: olho disfarçadamente. E sei quem eu quero. Minha fidelidade depende, também, de minha satisfação – seja com o homem com quem estou, seja a de meus instintos.
Não sou tolerante com os ciumentos: acho feio. Não vejo graça em escândalos, em supostas brigas de amor...Já aprontei, outrora, por vingança e ódio da desfaçatez do cara, mas não repetiria isso jamais.
Quantas vezes pensei que amei, mas era apenas histeria doentia? Mas eu não sabia. Hoje eu sei que só amei duas vezes. Se o resto foi amor, duvido: me parecem arestas de uma tendência doentia. Ora foram experiências profundas, ora foram frutos de meus desesperos, tipo eu e FJ. E que bom que tudo se transforma.
Perdi a capacidade de sair com certas amigas: nem mais convido, porque não gosto de andar com gente morta, que vai à festa morrer de sono, querer voltar cedo ou se encher de álcool.
Gosto de gente com fogo no espírito. Gente que gosta de sol, de música e de movimento. Não gosto de arrastar mortos atrás de mim, nem de gente que sai junto e não tem fairplay, que viaja para brigar, que nunca tem flexibilidade. Deus me livre! Por isso, saio cada vez mais só; ou com pares repetidos, daqueles que agitam e têm uma luz de boate na aura.
Deus abençoe aos mortos e os tenha em santa paz.
Os que, para mim, morreram, que o Pai afaste sempre de mim, em igual santa paz.
Os que são vivos-mortos, que nossos caminhos nunca se cruzem, porque não sou múmia, não sou contemplativa, sou viva, me movimento e não me entendo bem com esse tipo de ser, antagônico ao meu jeito. Deixa cada um no seu jazigo, no sepulcro e suas estabilidades mal escolhidas...Ali jazem.


sábado, 22 de outubro de 2016

É fogo!


Eu não sei por que me metem em histórias alheias à minha história, mas o tempo me ensinou a calar a boca. Para isso temos ouvidos. Ouço e me calo.
Já vão três vezes seguidas em que terceiros me procuram para comentar coisas a respeito de gente que nem mais é minha amiga...Posso deduzir que querem que o recado chegue ou que a notícia se espalhe. Comigo não cola: não comento. O que chega aos ouvidos, morre nos ouvidos.
Ainda no tocante ao concurso, minha amiga passou em primeiro ugar. Passou e não sossegou, pois que reconhece que esta vitória foi patenteada pela simpatia étnica da presidente da banca, nossa ex-professora e que havia gente muito melhor qualificada ali.
Sim. Na verdade, nem ela, nem eu merecíamos a vitória. Mas entendo o cálculo moral que a presidente fez, face ao fato de nosso país ser como é.
Minha amiga é muito competente e inteligente, foi premiada por seu trabalho acadêmico de mestrado. Mas os demais pareceram burgueses em busca de emprego. E em maioria, era isso mesmo.
Então, me perguntei se nas situações limite deve-se dar o prêmio a quem merece ou a quem precisa. Esse tema me traz certa angústia, porque eu não gostaria de ser (novamente) subtraída em meus direitos por questões de simpatia ideológica ou de qualquer ordem.
Mas entendo que, para o contexto, foi a melhor decisão, sim.
Nem sempre a justiça é, por assim dizer, justa.
Nem minha amiga acreditou no desfecho do processo. E sente muito pelas manchas morais advindas da referida simpatia da presidente claramente tendenciosa. Agora, é comemorar o prêmio e não reproduzir o que a gente condena.
Deus me livre disso.
Deus me livre de reclamar da injustiça e praticar deliberadamente a injustiça.
Bem, sou inquieta e hoje tomei uma cutucada de um amigo maravilhoso: perguntando a mim acerca dos amigos que estavam no exterior, respondi. Respondi a ele e a mim mesma, em paralelo. É que pedi exoneração três vezes, de empregos estáveis, públicos. Porque também não sou feliz ao preço da estabilidade. Esta estabilidade que cheira a naftalina, que faz você repetir seus dias num serviço que se incorpora às chatices da existência, em que as pessoas vão ficando e fazendo a contagem regressiva para a aposentadoria.
Um dia, uma médium me perguntou qual era o meu talento. Eu não sabia. Ela disse que era a busca.
Daí que, ao responder ao meu amigo, eu disse que meus amigos estavam de volta ao Brasil, cada qual em paz, no seu emprego estável. Mas meu amigo me perguntou: "E é isso que você quer? Paz?"...
Ele me conhece demais, sabe que a paz é uma pasmaceira sem graça, que a gente quer paz porque quer descanso e que quando eu falo em estar em paz é sempre uma abstração, do estar quieta, mas não na quietude do sepulcro.
Quando eu digo que tenho fogo no espírito, digo além da visão óbvia e engraçadinha: eu não sei ficar quieta, 'esperando, parada, pregada na pedra do porto". Eu, ao contrário, 'quero correr mundo, correr perigo'. As estabilidades que eu gosto é da rotina boa, à base de disciplina, tipo: saber que vou à academia, ao centro espírita, que vou ler, que vou sair, tudo com horário e planejamento, porque não vivo sem planejamento, organização e método. Admito. Odeio coisas aos 44 do segundo tempo; odeio efeito-surpresa. Sou uma pessoa 'e se...", ou seja, sempre tenho um plano B e mil planos preventivos e antevisão sobre o que fazer caso algo saia do eixo.
Mas eu gosto de praia e de festa. Gosto de ser desafiada e de ter o que fazer. Não sei mofar, quietinha, sob a ação do tempo.
Tenho medo da velhice por isso: quando minha mobilidade ficar reduzida, como vou me virar, se o fogo é no espírito e não somente no corpo?
Coisa que queima meu juízo é pensar nisso.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Dos dias turvos


Por que nem todo dia nós somos felizes, nem todo dia há o que comemorar. Hoje, por exemplo, estou bem triste, aquela tristeza que pega a vida inteira, em todos os aspectos, embora, na verdade, eu só tenha dois problemas.
Acho que isso é tipo aquelas dores que a gente tem numa parte do corpo, mas que se irradia para outras.
A dor também irradia sobre minha relação com o meu pai. Eu queria mesmo saber se eu o perdoei ou se me engano, porque sempre a mágoa volta. É uma mágoa assim tipo algo perto da decepção.
Para entender a mim mesma, me coloco no lugar dos que me amam e não são correspondidos e que, por isso, têm atitudes de ódio contra mim: como se eu fosse obrigada a amar, como se eu devesse amar por gratidão e reconhecimento a certas qualidades, como se eu, necessariamente tivesse escolha consciente e deliberada, como se eu escolhesse um amor tal como se eu entrasse no supermercado e escolhesse o melhor produto.
Até que eu queria. Assim, não amava gente errada, não me gastava em relações destrutivas e tóxicas, como outrora.
No caso, sou filha única. Meu pai acha um desgosto eu ter estudado tanto, pois que fiquei imprestável para casamento. Para ele, os livros tomaram o lugar dos filhos (netos) e a orgulhosa pertença a mim mesma, isto é, o celibato, me deixou desprotegida, sem um homem, sem um amor.
Meu pai acha que eu nunca deveria ter deixado de ser militar. Que a vida é isso: a gente perde prazeres, perde tempo, mas ganha dinheiro. O mais importante é ganhar dinheiro. Segundo meu pai, toda a insatisfação cala frente ao fato de que no fim do mês o Estado me pagaria. Estabilidade é isso: tem tédios, mas tem segurança...como os casamentos...ou nem sempre.
Eu, assim como os meus mal-amados, acho que merecia ser amada. Mas meu pai nem sabe se estou viva ou morta. Às vezes, ele traz as angústias dele para conversarem comigo: ele sabe que eu sou compreensiva e tem em alta conta minha clareza com a vida.
Hoje, também, perdi num concurso importante. Importante para mim, porque era onde eu queria, no que eu queria. Não tenho vergonha de fracassar, nem invento palavras consoladoras: perdi por bem pouco. Perdi. Perdi tempo, dinheiro, sonhos e um bocado de disposição.
Não faço concurso por experiência. Faço para passar. Experiência com alto custo, com inscrição a R$ 200,00 e mais R$ 80,00 em postagens, documentos e xérox, fora os preços de hospedagem, alimentação e transporte, eu não quero. Não gasto tanto por uma experiência. Tem gente que é cara de pau, faz, perde e fica com cara de gostoso dizendo que concorreu por experiência. Ora, tem formas mais honestas de perdoar a si mesmo.
Bom, essa sou eu. Sou meio radical, íntegra nas emoções. Se amo, amo...Mas no dia em que digo ‘nunca mais’, sempre temo, porque ergue-se, ali, um muro na fronteira do orgulho e da honradez pessoal, pois que é minha palavra. E muita mais é um tempo tão longo quanto o para sempre. Ou um é o mesmo que o outro. Sei que eu disse ‘nunca mais’, anteontem. E sei muito bem o que eu disse.
Minha amiga, hoje, derramou razão sobre mim: falou que um affair de tempos atrás deixou uma chamada no Skype, à qual ela não deu retorno. E me disse: “Ele é baixinho, tem uma boca horrível, é todo feio...como eu pude me dizer apaixonada por ele? Onde eu estava com a cabeça? O que foi aquilo? Bem que você me disse!”.
Eu disse que não era paixão nem poderia ser, porque nem houve tempo. Nunca vi o “sultão carinhoso’ e, portanto, nunca o critiquei fisicamente. Mas olha o que dá quando a Bela Adormecida acorda?
Acordou do pesadelo e não reconheceu a si mesma de outrora.
A gente deveria ouvir mais os conselhos dos amigos e seus pareceres.
Nem estou nessa mesma condição, mas aprendi a não querer mais certos flertes. Deixa para lá. Deu muito trabalho esquecer Vini, fazer F., G.P. e FJ me deixarem em paz...Sai caro, emocionalmente falando, investir em se livrar de gente que a gente não quer.
É, como a tristeza está aqui, vou levá-la a um passeio amanhã, vamos ficar a sós, vamos nos entender...Quando ela quiser ir embora, eu vá. Nesse caso, é uma visita esperada. Mas é uma visita: vai embora. Nem preciso espantá-la a vassouradas;


sábado, 1 de outubro de 2016

Futuro do presente


Há pouco eu falava a respeito de uma declaração de uma amiga a um canal de TV, em que ela dizia que no trabalho artesanal do bordado, se ela se propõe a fazer um trabalho para presentear alguém, está dando de si. Por isso, não vale fazer comercialmente, nem ter visão do tempo comum, do prazo...É lazer, é higiene mental e é um gesto amoroso.
Ela é minha amiga Déa, doutora e professora do ensino superior. Mas, na tela, a tarja a identifica como ‘bordadeira’, porque ali, no contexto, ela era. Não era espaço para hierarquizar e esfregar  na tela títulos acadêmicos, anexando-os à função de que se fala. Não é depreciativo nem humilhante ser bordadeira.
Entendi perfeitamente e me identifiquei.
Você pensa numa pessoa e projeta um bordado, um presente para ela. Há uma elaboração mental e afetiva nisso. Sou assim para comprar presentes. Também para recebe-los. Com muito orgulho e amor, guardo coisas confeccionadas para mim.
Isso de personalizar um presente, para mim, é mais que dar uma cara a ele.
Projeto sempre o que dar de presente. Penso na pessoa a quem darei. Certamente que me dou junto, porque não sou de dar presentes para ‘cumprir tabela’: eu penso na pessoa, no que ficaria bem para ela, cogito, elaboro...Nunca daria porcaria a ninguém – e aqui não falo de preços, mas de qualidade afetiva no que escolho.
Já dei presente sem alma a gente sem alma, gente que se importava mais com o status da marca do que com o valor agregado do peso simbólico emocional que ali eu punha. Muita gente, das quais o meu pai.
Presenteio por amor. Não sinto a falta monetária do dinheiro investido. Não é este o caso. O presente é quase um totem que diz o quanto me importo com aquela pessoa. Tivesse eu muito dinheiro, talvez desse coisas proporcionais às minhas posses, mas afetivamente nunca seria mais do que é agora.
Já penso no presente para meu maior amigo. Maior, não melhor. Todos são melhores, pois são melhores que eu em muitos aspectos e não os vejo com essas diferenças entre si, não faço hierarquia de afetos. O ‘maior’ é porque vivemos muitas coisas juntos. Segredos, crises, alegrias...E a amizade tem tempo demais, proporcional às vivências conjuntas, inúmeras.
Sem fazer média, cada amigo tem especificidades.
O mais difícil e presentear namorados, ficantes e afins. Terei problemas em presentear meu poeta favorito, que aliás, vem incorporado meu discurso e meu pensamento, sem se dar por isso. E ainda bem que ele disse que me acha bruxa...um pouco mais bruxa que as outras mulheres: pensa que manipulo elementos, atuo e ajo sobre o destino das coisas, manipulando, também, a consciência dele. Imagine...
Estou feliz por quatro coisas: consegui falar e ser ouvida e entendida pelo cara de Salvador, eterno insistente, aquele com quem fiquei no carnaval, que entendeu que não ficaremos nunca mais e que eu não estou interessada; o mesmo se aplicando ao idiota do GP, que ainda teve que me ouvir dizer que ‘não me falta nada’, ou seja, ‘’não te quero mesmo’; também o ‘Zé Bonitinho’ tomou um bem entendido fora (fala sério: rebanho de homem descompreendido, que não se toca de que não quero nada com eles) e, acima de tudo, rompi a amizade e excluí do Facebook e da vida uma amiga forçada, de quem eu era amiga por obrigação moral e paciente piedade, depois de 23 anos de opressão, intercalada por distâncias geográficas esporádicas.
Escrevo sobre isso porque se eu pudesse diria a cada um que tem um amigo mala, uma relação obrigatória: chute o balde. Rompa!
Eu deixei de frequentar lugares, de estudar no cento espírita neste ano, para não aturar a referida mala, para não dar carona e aturar 15 minutos de tortura, com assuntos ridículo e perguntas do tipo FUVEST, em que ela avaliava meu conhecimento sobre Literatura e cultura geral.
Pessoa terrível, vingativa e descontrolada esta de quem falo. Não aconselho ninguém a esperar 23 anos para se livrar de gente assim.
Não se demore no que não te faz feliz (emprego, namoro, amizade, país, curso): apenas elabore e projete a ruptura que pretende. Pode levar tempo, mas antes levar tempo e se efetivar, a romper num átimo e voltar atrás.

Voltando ao caso, adoro presentear meus amigos. É minha forma de agradecer a Deus por cada um deles, que são meus presentes maiores nesta existência.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Papo retrô


Não gosto de machismo. Gosto de homem. Achei linda a foto do Paulo Zulu, nu, nos nudes que vazaram. Não vou anexar a foto aqui porque certamente vai ter repercussão judicial o desenrolar dessa trama.
Um corpo bonito de um homem bonito é um espetáculo e não um escândalo.
Escrevi para o meu poeta o que minha timidez não me permite verbalizar: eu amo aquele corpo. Amo nas partes que o compõem: na pele, na fronte que adoro beijar, nos cabelos que acaricio com amor e prazer; amo as texturas e as temperaturas, amo a maciez daquelas mãos e aqueles lábios deliciosos como fruta doce;amo o abraço e a forma como ele me comanda nos carinhos e no tom de voz que usa quando quer me dominar ou ser perdoado...Aliás, quando ele cresce intelectualmente, ele reconhece os próprios erros e precisa da minha mão, que ele chama para junto de si.
Eu queria nunca ficar longe daquelas mãos e sei o quanto ele gosta das minhas: eu disse que amava os pulsos dele, que parecem patas de tigre, de uma robustez macia e doce...Mas a fera ronrona e mia nas minhas mãos; mansa, se deixa domesticar.
Tive uma experiência interessante no reiki, hoje: senti o meu coração. Não é esse sentir besta, de pulsação e batimento, que nos damos conta para confirmar que estamos vivos. Foi uma percepção diferente...
E me deixei ir...aí a energia tomou minhas costas. com coluna e tudo. Tive aquela mesma sensação que se tem quando se está numa montanha russa, aquilo que nem é arrepio nem é medo, mas se parece com ambos.
Eu tenho um coração.
Porque a gente responsabiliza o coração por tudo aquilo que o cérebro negligente faz de errado, mas não sente o coração...
Eu sinto o coração dele sempre que o abraço e beijo bem de leve perto da orelha: nessa posição, o coração dele se apoia todo em frente ao meio seio direito...pulsa carinhoso, medroso, talvez desejando o silêncio de si...E o poeta diz que meu corpo pesa como uma pluma...acho engraçada a desproporção, mas entendo que, se ele é uma muralha de bem traçados músculos, não deve mesmo perceber meu peso.
No mais recente livro dele, ele escreveu metaforicamente sobre isso, dizendo do peso do meu coração de seda em abraços metálicos que eu furtei dele...ele não me deu o abraço: eu roubei.
Somos assim: seres de uma vivência ímpar, nas imprecisões dos afetos, nas impermanências que a vida traz. Mas amo aquele corpo. Não amo o homem, mas nisso não vai nenhuma subestima. Meu coração é meio medroso.
Sou muito tranquila e quieta quando as emoções estão domadas e as relações se estabilizam.
Geralmente, se há mais alguém em minha vida, isso se faz por vingança, revide ou ausência de laços emocionais.
Não me digo fiel, mas seria por quem vale a pena. Porém, se estou bem com uma pessoa, não há razão para pular em outros galhos.
Muito recentemente, Vini me pediu para a gente tentar de novo. Ficamos uns dias nos falando...Não tive como retroceder num amor que não mais existe - ele mexe comigo, sim, mas por conta de significados construídos e já elaborados e passados. Não acredito mais que possamos ficar juntos.
Meu crush de Seabra também deu as caras...talvez,um dia, quem sabe.
E, como o Cupido tem senso de humor aguçado, GP, aquele meu affair de Salvador, veio atrás, procurou, escreveu, ligou e quando finalmente eu respondi, ele ficou irado. Disse-lhe eu, no tom mais clichê e brega, em resposta à indagação dele sobre se eu tinha saudades:"São águas passadas no lindo rio de nossas vidas. Não vamos mexer nisso". E ele disse que eu não precisava procurar palavras bonitinhas para dar um fora.
Na terceira tentativa dele eu só faltei mandar uma foto do poeta e dizer que estava com um homem lindo, inteligente, criativo e gostoso, mas disse apenas que nada me faltava. Encerrei o assunto e não sei mais com quantos 'nãos' se faz um fora para um cara persistente ou mal-entendedor, porque outro candidato está na mesma.
E sou sincera com minhas emoções: quem eu gosto, gosto mesmo...

domingo, 4 de setembro de 2016

Separar e superar


O ser humano adora uma magia. Não é à toa que acredita em tudo quanto é coisa que lhe apareça e que pareça feita sob medida ao seu próprio desespero.
É uma tal de autoajuda daqui, para trazer a felicidade em 120 páginas; é uma ginástica passiva dali, para fazer emagrecer sem esforços; é um remédio de lá, para resolver traumas, medos, insônias e angústias, é uma simpatia, reza ou magia para atrair o que é bom sem fazer por onde...
Aí, hoje em dia, falando em fórmulas prontas, é que entendo quando uma amiga me disse ter passado 2 anos se preparando para romper um noivado.
Se querem uma receita para uma boa separação, ela não há. Mas, pelo menos, tem aquelas medidas que a pessoa toma para fazer possível alcançar a meta. Não dá para vencer a angústia sem assumir as rédeas da própria vida e se submeter a algum processo de exploração/viagem psicológica; não dá para emagrecer sem condicionar o metabolismo; não dá solucionar problemas reais com soluções surreais. O mesmo caminho se aplica à separação. O que se pode fazer?
1) Tentar fazer sozinho (a) coisas que costumeiramente só se faz a dois. Então, veja seu filme, faça a sua viagem, compre o que for, enfim, faça sem a presença do parceiro. Isso lhe dará um parâmetro muito importante acerca de sua dependência dele (a).
2) Permita que a pessoa faça algo sem você e, de preferência, que ela se ausente por alguns dias. Assim, se o ciúme e a carência não corroerem seu coração, você poderá avaliar esta ausência enquanto sinônimo de alívio ou de saudade;
3) Pense muito acerca de como era a sua vida antes dessa pessoa e desse convívio. Atribua uma nota a isso.
4) Observe fatores específicos do convívio: a) o que melhora com esta pessoa  b) o que piora com essa pessoa; c) que alternativas eu tenho para viver sem essa pessoa; d) a que coisas renunciei para estar com essa pessoa; e) o que perdi para ou com essa pessoa.
5) Um relacionamento é feito por duas (ou mais) pessoas. Logo, se não dá certo, você também tem responsabilidade no caso. Avalie o que você fez e de que forma contribuiu para que as coisas chegassem a esse ponto.
6) Mentalmente, planeje sua vida - metas, sonhos, perspectivas - sem a pessoa em questão. Aqui você verá se sabe ou não viver sem ela. Racionalmente, sabemos que viverá, sim. Porém, aqui se mede a capacidade de suportar uma angústia de separação.
7) Esta pessoa de quem você deseja se separar possui que elementos positivos? As coisas que determinaram a entrada dela em sua vida ainda existem? Se não existem, a que se deve o fim?
8) Como você realmente se sente ao estar com essa pessoa? Se notar que se sente mal, não acredite em sua avó. Não é melhor viver mal acompanhada do que só, mas ao contrário: antes só do que mal acompanhado. Você tem a si mesmo (a), aos amigos, familiares...Amor a gente tem espalhado em vários segmentos de nossa vida. Amor romântico é que é difícil. Mas olhe se não foi você quem deixou de amar ou quem se permitiu cair no tédio. Seja honesto (a) consigo, caia fora da relação. No começo, a pessoa chora muito; depois chora menos; depois não chora mais. O coração aperta, todos os sintomas a gente conhece, mas vale a pena atravessá-los e chegar a um vazio fértil, que é onde a gente nota a falta, o vazio, mas suporta por saber que ali é um lugar vago que não pode ser preenchido por qualquer pessoa, só para tapar um buraco.
9) Se não tem jeito, se é o outro que quer a separação, não insista: a pessoa não lhe tem amor. Poderá ter pena. Você aceita migalhas? Não matam a fome. Podem até matar você...Então, viaje, ponha um oceano de distância, se mude, faça um afastamento geográfico que lhe ajude no afastamento emocional. Largue a vida da pessoa e o faça respeitosamente. Aliás, brigue; ponha os demônios para fora, lave a roupa suja; ou peça perdão, peça desculpas, mas resolva as pendências emocionais, para não ter recaídas. Deixe a pessoa em paz. Largou, largou. Esqueça as investigações.
10) O passado em comum sempre vai existir. Se você rasgar a fotografia ou destruir os presentes ganhos, nada mudará o que já foi vivido. Equilibre a memória a dois. Imponha a si a disciplina de não alimentar a saudade. No começo, sim, a gente lê novamente as coisas, exuma o passado, chora...Mas isso tem prazo certo.
11) Saia...se você quiser. Não deixe de ir a um show porque o seu par não vai ou porque a relação acabou. Sua tristeza vai estar com você aqui ou em Nova Iorque; seu cenário interior, turvado por tristezas, será o mesmo aqui ou em Paris. Porém, sair te expõe a novas situações, deixa menor lugar para recolhimentos chorosos e, seja como for, dispersa a fixação do pensamento no fato.
12) A melhor resposta é gostar de si. Esta tal de autoestima não é cuidar do corpo e da cara: é cuidar bem de si mesmo (a). Esse cuidado diz que não se deve delongar uma infelicidade, um mal-estar. Se a relação te intoxica, saia logo dessa. E fique bonito (a), para encarar a bad  com ar de vencedor (a). Se a gente estiver acabado por dentro, não precisa externalizar isso.
13) Prepare-se para eventuais repetições de padrão: o normal é que você vá, aos poucos, procurando substituto (a) para o parceiro (a) que tenha coisas em comum com  pessoa de quem se quer se separar. Pode ser semelhança física, de hábitos, de preferências...E você tenderá, também, a repetir seus atos e seus erros. Hora muito importante de avaliar a si mesmo.
14) Meça suas fraquezas. Pode ser a fraqueza jurídica, de não aguentar uma separação formal e seus trâmites; o medo de dormir só; a usura pelo dinheiro e pela qualidade de vida; a dificuldade para dividir; o egoísmo que não permite deixar o outro em paz, seguindo um rumo próprio; ou as dores de cotovelo por se sentir substituído (a). Seja franco (a) consigo mesmo (a). Localize sua fraqueza e vá resolvê-la.
15) Aceite suas fraquezas: avaliou, viu que não aguenta se separar? então não se separe. Aguente. Engula sapos e se aceite. Procure sua forma particular de baixar a temperatura do inferno e toque a sua vida sem reclamações.
16) Não aceite conselhos como verdades absolutas: a vida é sua, é você quem sabe de si. Assuma a responsabilidade por suas escolhas e faça o máximo para ser feliz.
17) Saiba escrever novos capítulos, ainda que seja na mesma história. E no mais, boa sorte!

sábado, 3 de setembro de 2016

Da Justiça, a clava forte



Mas, que tipo de ser ignorante e fútil seria eu, se passasse incólume ao impeachment da Dilma e a toda trama política por que passa o Brasil? É que achei que não valia a pena encetar tais discussões. No fundo, a gente já sabe: debater, discutir, lutar, para quê, se o desfecho já tem fisionomia certa? Trocando em miúdos: era preciso um pretexto para expulsar a presidente. Pronto! Já está feito. O caso nem é esse. O caso aqui não é tanto o triunfo dos maus, mas a omissão dos bons.
Tive pena de Chico Buarque. Tive pena dele por ele ver que precisa ter pena de nós, de nossa geração inerte...Aqueles que enfrentaram um Ditadura devem ter extrema piedade de nós, que nos conformamos a uma. De todos os argumentos de defesa da presidente, acho que o mais forte foi um presente à ignorância coletiva: a afirmação de que cumprir um rito, seguir um cerimonial não desfaz o golpe.
Não estou dizendo que o Partido dos Trabalhadores não errou, não furtou e não se envolveu nas corrupções de que participou. Uma coisa é o Partido, outra coisa são os seus integrantes. E contra Dilma nada consta que desabone sua vida financeira e sua conduta como cidadã.
Irada eu fico: sou trabalhadora. O partido usou o santo nome da minha classe trabalhadora, forçou uma identificação a partir disso. Aqui no Brasil, o trabalhador é o oposto do ladrão, do vagabundo. Apostamos na identificação positiva e nos vimos traídos.
O Partido dos Trabalhadores se apegou ao poder. Usou a mesma desculpa que os chefes de Departamento das Universidades usam: a clássica história de que precisam ficar mais no poder, a fim de concluir trabalhos a longo prazo, de reformar, de melhorar, de dar seguimento a um plano qualquer. E da mesma maneira que os diretores de Departamento, alegam que fazem isso pela coletividade, não pelo dinheiro, pois que este nunca vale a pena.
Mas todo mundo quer ser Diretor e todo mundo quer ser Presidente.
Dilma deveria ter se tocado já nas eleições, cuja aprovação foi por um índice apertado. Isso é um indicativo considerável do que vem pela frente.
Aqui nós não reparamos nos vices. Olha no que deu. Isso , menos para nós, eleitores, que para a própria presidente.
Aqui, vão-se os anéis e ficam as alianças (políticas).
Mas demos vergonha ao Chico Buarque. Nosso silêncio de perdedores foi além da conta, foi a conta da inércia...Um corpo tende a permanecer em repouso mesmo que forças poderosas ajam sobre ele. Mudamos as leis da Física. Se algo poderia mudar, né?
Vão atribuir os barulhos de protestos ínfimos aos professores universitários, à esquerda radical e outros gatos pingados,,,Eu estou com o Chico Buarque: "Esse silêncio todo me atordoa/ Atordoado eu permaneço atento"...
Só sei que o feijão anda caro e a vida não anda valendo nada.
Talvez a vida esteja melhor para os que odiavam Dilma e para os quais tanto faz a figura substituta, seja Temer, seja o Demônio. Contanto que não seja a Dilma... E para esses, talvez a vida esteja mais feliz - normal haver a dissidência, mesmo que seja uma dissidência néscia.
Nunca falo dessas coisas a não ser em companhias específicas, as que têm argumento, seja pró ou contra.
Junto-me aos outros, focalizo a minha vida, percebo que o único lugar em que minha opinião vale alguma coisa é em minha própria vida. E esta, então, sempre cheia de coisas a resolver, a decidir, a fazer...Esqueço Dilma: tenho que presidir minhas misérias e minhas glórias; tenho que governar minha vida.



quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Pulso



No fundo, acho engraçadas as tentativas infantis dele, de me persuadir...O esforço para obter minha concordância, minha aquiescência a respeito de algum ponto de vista a meu respeito, como se houvesse uma necessidade substantiva de me enquadrar em algum modelo prévio de ser, em alguma classificação razoável, em alguma coisa definível e exata, que lhe poupasse as surpresas.
Fui postar fotos de um vocalista de banda, uma banda baiana que eu gosto muito e em cujo show eu estava, sábado passado...E ele resolveu voltar à academia, depois de anos afastado...
Nunca ele ira admitir a relação entre as coisas. Ele, assim, como GP (oh triste coincidência), tem ânsia por encontrar meus significados...Uma forma de dominar é conhecer; uma forma de conhecer é classificar.
Esperam de mim comportamentos padrão que não me interessam. E eu dou muito trabalho...
Já fui de impulsos. Hoje, sou de pulso...Arrogantemente forte - literalmente forte, arrancando olhares surpresos na academia, frente aos pesos que manipulo nos meus exercícios, com naturalidade, mas desproporcional ao meu peso e ao meu perfil físico. E não é por arrogância: tenho braços fortes. Magrelos e fortes. Suaves, porém para abraços...E quando me ponho sobre Ele, ele diz: "uma pluma". À leveza de meu corpo não corresponde uma leveza no resto.
Ele teme o meu tédio. E eu sou um poço de tédio...Incapaz de ver mais de duas vezes um filme muito amado, exceto se se impuser um intervalo de muitos anos para isso. Ele se assusta com os meus tédios e promete aderir às minhas sugestões ou às incursões que minha pedante independência faz.
À parte isso, cá estamos, com nossas existência, observando o mundo e o mundo dos outros; as relações dos outros, arrastadas mais por medos e temores de litígios em cartórios e instâncias jurídicas, do que por amor. Amor sempre acaba. Onde quer que se saiba, onde quer que caiba, o Amor sempre acaba...Ele sabe disso. Eu sei, também. Resta torcer para que o lado a ser contemplado com o fim nos favoreça.
Ele esconde de mim todas as fraquezas, por isso persegue às minhas. Eu guardo elas direitinho, porque são minhas. O amor de hoje sempre pode se converter em inimigo, de qualquer das partes. E se um inimigo sabe nossas fraquezas...ai!lascou-se tudo. Terrível isso: dividir o leito, uns sonhos, uns prazeres, uns segredos...dar ao outro parte do seu tempo (não se engane: nosso tempo é nossa vida; 30 minutos com alguém são 30 minutos de nossa vida que estamos dando a ela...Damos, perdemos...Raramente dividimos, pois que o ser humano não é propenso a equidades. Não obstante, a presença física nem sempre corresponde a uma presença real. Pode ser tudo figurativo)...Depois, converte-se essa pessoa num inimigo odiável.
Amor metaforizado em seu oposto. Nossa Senhora me defenda!
Não sei por que confundem o Realista com o Pessimista, mas aqui sou eu advogando em causa própria.
Às vezes, Ele (o poeta) é bem chato. Fico como bicho na jaula, só olhando o movimento externo às minhas grades, num sufoco de atacar ou de fugir...Mas faço o jogo sonso com as coisas, uso o tempo para pensar melhor no que quero...Fico analisando ele, mais do que dou a perceber...Às vezes concluo que perco tempo nisso e, realmente, declino e ficar procurando coisas, respostas, compreensões...Mas quando isso acontece, é sinal de indiferença, de desinteresse, é sinal de que no mercado dos valores simbólicos, as ações dele estão em queda...
Valem, ainda, para mim...Mas estão em queda,,. Será que ele não vê? Miopia afetiva, nesse mundo em que sentenciam que o amor é cego...

sábado, 20 de agosto de 2016

Grandiosas batalhas


Estou feliz, agora que sei o nome dos meus inimigos. Não necessariamente porque sejam inimigos no sentido literal, mas adversários de pontos de vista.
Sei o que vou combater, que tipo de raciocínio os move...E eu me movo por boas batalhas. Acho que gosto de brigar e tenho respeito pelos meus inimigos. Nada melhor, para motivar a vida, do que o desafio de um adversário respeitável.
Quanto aos ex-amigos, duas amigas e um amigo, juro: não lhes desejo mal, nem os considero na mesma estirpe que estes tais anteriormente citados. Mas são gente de que quero distância. Quando eu falo de minhas mágoas pessoais, não é nada assim do tipo que fiquei profundamente ofendida. Isso é no começo. Depois, vira decepção. E quando eu quebro a cara, tudo em mim se parte e a amizade se estilhaça. E se a amizade me traz problemas e gera em mim queixumes, não quero nunca mais reatar. Contudo, deixo lá quieto, e que a vida deles não encoste na minha.
Bem, lá vou eu enfrentar uma grande e poderosa inimiga. Tenho respeito por ela, mas á tive temor: ela tinha armas para me destruir sumariamente.
Agora, não: conheço essas armas. Tenho as minhas. A vida nos obrigou a dar as mãos, certa feita, por coisas que estavam acima de nossa inimizade. E é por isso que eu a respeito.
Há coisas acima de nossa particular e recíproca antipatia. Ela sabe que eu sou ética. Isso me basta.
Se há algo que me destruiria, seria ver que um desafeto meu me acha injuriosa, antiética, trapaceira, mentirosa, baixa. Não: que me ache monstruosa e fria, dura, inflexível, burra, malcriada, irônica, impiedosa, miserável e todos os maus adjetivos que couber no rol das ofensas. Pois, que ache. Mas que jamais ache que luto trapaceando e uso armas desiguais.
Tenho orgulho da batalha limpa. E nunca esqueço um aliado.
Mesmo um inimigo, se se portou dignamente, se suscitou minha gratidão, não nego o agradecimento, o reconhecimento e a gratidão. Coisa feia, para mim, seria assim não proceder.
Bem, estou feliz.
Tenho ocupações, já falei delas; tenho rolos afetivos; tenho algumas dores pelo destino de um dos meus ex-namorados viciado em álcool, que nunca se emenda, a que sempre acolho; tenho problemas comuns de gente comum que almoça, janta e se espanta, mas estou feliz, bem feliz.
Hoje é um daqueles dias em que preciso dar graças a Deus. Eis meu dia particular de ação de bênçãos, porque me sinto protegida e abençoada e não preciso ganhar carro e fortunas para agradecer a Deus: os tesouros do cotidiano me deixam feliz. Agradeço por me sentir feliz, num tempo em que há tanta tristeza e depressão, em que nada basta até a quem tem tudo. Somente pelo espírito de alegria, força e luta, eu agradeço a Deus e a seus enviados.

Não temo a batalha. Fácil não é. Não se entra em campo com a ideia de matar sem se ferir ou de vencer sem contar com baixas no seu exército. Mas o que me move é a luta. Já disse: vou ao front. Enfrento. Em frente! 

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Climas e instabilidades


Sempre vou admirar quem tem o coração tranquilo o bastante para casar – casar é se unir, independentemente do documento de oficialização.
Que relação pode ser estável se o ser humano é cheio de instabilidades?
Mas, no meu caso, quando digo que o amor, para mim, é constância – e esta foi uma resposta que dei a FJ sem a menor elaboração. Saiu, foi espontâneo, não pensei em teorias, detalhes, causas, respondi com a mais absoluta (e talvez irresponsável) espontaneidade -, digo que constância é diferente de estabilidade. Impossível ter estabilidade num relacionamento, porque não há garantias, não há terra firme, ainda que as pessoas nem sempre vivam sob terremotos e por mais que abundem os ‘para sempre’.
Sou um ser de tédios. Tenho tédios assumidos, me movo por paixões e por intensidades. Se estou com alguém que me satisfaz, estabilizo a busca, retribuo ao que me proporcionam, inclusive costumo ser fiel. Mas logo vem o tédio. E olha que sou alegre por natureza. Talvez, por isso mesmo, a mesmice me entedie e o que parece estabilidade para uns, pode ser a completa falta de aventuras, emoções e novidades para mim.
A sorte de um amor tranquilo é desejável. Um amor entediante, não. Eu olho para os lados sem virar a cara, sem fixar os olhos...Mas, olho: vejo meu vizinho delicioso criar barriguinha; vejo que o menino de certo lugar que frequento (que de menino não tem nada, isso aqui é meu modo hipocorístico de falar, de me expressar) espera a minha chegada. Também espero a dele. Tenho medo que ele não vá. Crio rituais para que ele veja e saiba onde me encontrar, onde meu carro vai estar, quero que ele me perceba sozinha...Quero que ele note que saio por último, para que possamos sair juntos, para que ele tome uma iniciativa. Mas ali meus olhos baixos já viram tudo que ele nem deve supor. Mulher tem disso, do olhar atento e disfarçado.
Imagino quem casa e aposta que seus desejos vão girar sempre em torno daquela pessoa escolhida. Imagino que essas pessoas não sabem que uma hora os desejos pulam à cara, dizem que ali estão...E, então, a fidelidade será obra e graça da vigilância moral da pessoa consigo mesma, da falta de oportunidade ou de coragem; do medo de trocar o certo pelo duvidoso...E eu vos direi que isso não é fidelidade e será pior se a pessoa trair a si mesma, como eu mesma já fiz, ao renunciar a quem eu desejava, por achar que o cara que estava comigo não merecia passar por uma traição. Mas eu merecia realizar meu desejo. Não com culpa.
Queria mesmo ser dessas pessoas que escolhem um lar, filhos, casa e cachorro, emprego estável e ritos de passagem, com tudo determinado.
Minha vida, não: cheia de maremotos e indecisões, mescladas à base de decisões erradas, dúvidas e um orgulho que pode ser medido em hectares. Olha, se me ofendo em defesa de um amigo que amo, imagine em defesa de mim mesma? Eu, que tanto amo a mim, lá vou ser condescendente com quem me magoa? Vou lá baixar a cabeça para alguém que feriu meu orgulho, meu ego? Vou lá me submeter a perdoar uma calúnia ou uma negligência pesada? Não tem jeito: tenho um orgulho imenso, proporcional às mágoas que vivi.
Não me ofendo por tudo, porque tem coisas e pessoas que não têm a menor relevância e cuja opinião a meu respeito é tão importante em minha vida quanto os rumos da economia da Antuérpia ou a coloração do Mar Vermelho... Mas tem gente que incomoda a minha paz.
Bem, acho que gosto de flertes e de namoros.
Toda vez que o nó aperta, numa relação, eu fico na berlinda. O orgulho e a vaidade (oh, ego!) me dizem que, sim, eu quero ser a escolhida. Que lindo, que bom contar com a certeza de um amor, de alguém que dentre tantas outras pessoas me olha à cara e diz de um futuro infinito ao meu lado, por gostar de mim. Lindo isso de escolher uma pessoa de quem nunca se quer se separar e para a qual a gente dedica especial atenção a ponto de destinar o resto de nossa vida a uma vida compartilhada, com todos os riscos dessa empreitada.
Mas, que pena que isso signifique abdicar de minha perigosa liberdade.
O que seria de mim sem o pleno domínio de meus passos? Sem a minha liberdade? Sem poder isso ou aquilo, atropelando meus desejos, renunciando ao que desejo, pois que nem tudo é desejo por homem, mas as muitas vontades de que se reveste a alma humana comum?
E o tempo, esse vilão malvado, a desfigurar a beleza do amor, a atacar a fisionomia do amado e do amor, porque com o passar dos dias tudo pode ser oxidado e a ferrugem vai corroendo o que fazia o lado bom das coisas...
Depois, as conveniências: medo de ficar só. Nunca vou entender isso: ficar só seria pior que ficar com quem não se quer? Que preços horríveis e altos, esses de um amor supostamente estável.
Passei muitos apertos profissionais e sempre temi o emprego estável. Por três vezes, pedi exoneração de empregos públicos. Sofri. Pindaíba e dívidas. Inseguranças e privações. Valeu a pena. Sempre valerá. Pior é se enterrar num emprego, num casamento, numa relação, esperando que a aposentadoria coloque um fim no calvário; que a morte os separe...E tanto tempo perdido para se conformar às conveniências.
Há casamentos felizes. Poucos. Mas há. Isso depende dos outros. Aqui, o problema sou eu. Eu tenho a alma inquieta...Eu aceito a alma que tenho. Não sei se ele sabe que tudo que posso dar não está à altura das necessidades que eu sei que ele tem. Por isso me vigio e vou devagar...Se ele me faltar, será exatamente uma falta, será muito mais que uma ausência...Também temo que a verdade dele seja mais forte que a minha...Mas, no fundo, admiro o homem que me convence de verdades contrárias àquelas que carrego.

O problema sou eu.