Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Do que me arrependo



Um ser humano se compõe daquilo que experiencia, do que experimenta, das escolhas que faz e das coisas de que não se orgulha.
Também erro. Também me arrependo. Também tenho crises: tenho vontade de matar JP, de dizer desaforos por ele ter contado a todo mundo de nosso affair de outrora.
JP deve achar que sou um troféu, pois não fica um amigo em comum para o qual ele não busque uma brecha para dizer que já tivemos um rolo.
Olha, faço a lista dos meus arrependimentos:
1)      Eu me arrependo de ter ficado com JP, porque foi por vingança e carência. Na época, meu então namorado me traía com uma manicure (esteticamente desprivilegiada), com quem estabeleci comparações absurdas e indevidas;
2)      Eu me arrependo ainda mais ou tanto quanto de ter ficado com FJ pelo mesmo motivo. Se eu pudesse voltar no tempo, passaria corretivo, apagaria, arrancaria a página.
3)      Eu me arrependo de ter dado tanto espaço a Vini, a ponto de amar aquele ser humano, num deslumbramento adolescente idiota que amarrou meu coração por dois anos;
4)      Eu me arrependo de ter ficado com GP para tentar esquecer Vini, para curtir a vida e me vingar. Não dá certo. Ainda lembro da cara dele me perguntando sobre os poemas horrendos dele, que nem eram poema (favor não confundir com meu poeta atual, que é gato e competente no que faz)
5)      Eu me arrependo pelo que aturei de humilhações vindas de uma amiga. Humilhação de ser deixada no meio do caminho, para economizar a gasolina que seria gasta até minha casa ou para que ela ganhasse tempo; humilhação de ouvir repreensões e despropósitos, de me meter em programas e viagens furadas, com benefícios unilaterais, de ter me deixado subjugar, enfim.
6)      Eu me arrependo de ter me deixado demorar onde eu já não era necessária
7)      Eu me arrependo de não ter me declarado para quem valeria a pena e por não ter namorado uma pessoa porque a referida criatura era mais nova que eu
8)      Eu me arrependo de não ter ido trabalhar em Lençóis, quando fui convocada;
9)      Eu me arrependo de ter interferido no namoro do meu ex com a manicure gorda. Muito!

10)   Eu me arrependo de ter piedade de quem não merecia, mas não ter piedade de mim mesma e de não ter dito o que eu deveria dizer a quem merecia ouvir.

Aos pares




Diz a voz da sabedoria que, quando estamos felizes, não devemos clamar a felicidade, a fim de que ela se demore ao nosso lado. Concordo. Como não estou na plenitude da felicidade, mas apenas muito feliz, vou clamar minha alegria no tocante ao trabalho.
Decerto, o trabalho a que eu me refiro é fora da esfera direta do magistério, é o meu trabalho com os livros. Dá um cansaço bom cansar a vista entre os livros, com os livros, nos livros. Caem em minhas mãos muitas obras em espanhol, o que aumenta meu labor, já que tenho que traduzir direto e não é fácil lembrar dos gêneros em espanhol, pois que é muito diferente do que ocorre em português. Por exemplo, o leite é la leche, ou seja, feminino e daí em diante não espere encontrar correspondência entre as partes.
De quebra, no meu trabalho, além da remuneração, fico com o conteúdo, porque aprendo e apreendo o que leio. Gosto do que faço e procuro fazer da melhor forma possível. Não entrei nessa procurando carreira. Achei que seria apenas uma exceção. Ocorreu de ir ficando, desde maio até agora...Embora seja freelancer, ajuda muito em minha vida.
Uma coisa que poucas pessoas entendem é que certas atividades são secretas. A gente assina termos de sigilo e se alguém aí duvida, basta consultar o que ocorre com quem trabalho no ENEM, por exemplo, com quem elabora questões para concursos e seleções no âmbito federal, com quem revisa livros e quem atua em várias outras faixas de trabalho que precisam guardar segredo a fim de evitar implicações éticas, acusações e desconfianças. No meu caso também há o dispositivo do sigilo. Ainda assim, reservo-me o direito de clamar a felicidade pela atividade que desempenho.
Tenho outras crises paralelas a essa felicidade parcial. Embarco nas crises de meu primo, que enfrenta a crise pessoal e a crise no casamento.
Eu sei que pareço negativista e pessimista com relação aos casamentos e relacionamentos em geral: Gente, amor acaba, passa.  No caso deles, lá se vão 15 anos de relacionamento, sendo 12 de casamento. Impossível amar “até que a morte os separe”. Amor sozinho não se sustenta. Se houver cumplicidade, amizade, confiança e etc., dura bem mais. O segredo do relacionamento durável é o medo de se separar.
Nesses dias a esposa dele falou em suicídio e ele falou em desaparecer. Não, eles não vão se matar – a menos que seja se matar entre si. Eles cansaram da relação mas têm medo de que se separar seja pior que ficar junto.
Estão nervosos, exasperados...Como em qualquer crise, basta a poeira baixar para tudo voltar ao normal, à vida insossa que parece normal. Aí eles não notam a infelicidade, que vai camuflada pelo cotidiano e pelas ocupações.
Se eles tiverem juízo, se separam e vão ser felizes, cada qual num canto.
O filho já é adolescente e não justifica o trauma maior que é viver com pais que não se bicam.
Meu primo anda pulando a cerca com profissionais do ramo erótico, pagando caro para não ter vínculo, para ter sexo comercial que não gere vínculo relacional com a prestadora do serviço. Ele é bonitinho, tem 44 anos mas parece ter 35, é bem formado, inteligente, está acabando o mestrado e de maneira direta, não teria dificuldade em arranjar mulheres. Ele não quer. Ele quer um sexo para aliviar as dores da vida e evitar dores de cabeça.
Ele nunca foi afeito a prostitutas. Só agora.
Quando a vida não é da gente, é fácil de resolver. Assim, eu sendo ele, me separaria, ficaria solteiro por, no mínimo, um ano e faria o possível para ter um desenlace amistoso com a mulher dele.
Ela é inteligente, trabalhadora, bonitinha e tem quase a mesma idade que ele. Só é reprimida e chata, mas também não demoraria e ter outro relacionamento, desde que quisesse.
Ela casou e não fez mais nada. Poderia ter feito, porque era boa aluna como é boa profissional. Agora seria a hora. Dizia Oscar Wild: “O casamento é fim do romance. E o começo da história”.
Perderam muitos anos de vida juntos, se detestando, se odiando. Mais do que se amando, como no começo. Ainda podem salvar as próprias vidas se não se preocuparem em salvar as aparências.

terça-feira, 26 de julho de 2016

O fio da questão, a raiz do problema



Vou usar palavras mais exatas que os eufemismos comuns para tratar da obrigatoriedade de seguimento de uma norma e para a perseguição ao comportamento destoante: constrangimento estético. Bullyng não daria conta disso.
Vou escolher um aspecto bastante específico e polêmico: os cabelos das mulheres mais velhas, da faixa a partir dos 50 anos.
No Brasil, cabelo é tabu. Mas geralmente o tabu focalizado é quanto à textura e aparência do cabelo, com louvor aos lisos assim como aos loiros e desprezo ao crespos, encaracolados e outros tipos fora do padrão normativo social.
No tocante ao cabelo das mulheres mais velha, há todo um movimento impetrado por mulheres cabeleireiras para que as primeiras não façam procedimentos químicos, exceto tintura e mantenham, a qualquer custo, o tamanho curto dos cabelos. A desculpa social é que cabelos longos não 'assentam' em mulheres velhas. Para mim, puro constrangimento estético que visa enquadrar as mulheres num padrão.
A verdade, porém, é o velho incômodo: a aparência de juventude que o cabelo longo confere também está associado à ideia de fertilidade. Ora, aos 50 todas estão com o pé na menopausa e, portanto, não deveriam aparentar vitalidade ou despertar aspectos de sensualidade.
Já perdi as contas do que ouço nos salões, nas costas da 'freguesa', é claro. E da última vez eu interferi e questionei tudo isso e mais um pouco. A cabeleireira, que tem 58 anos e cabelos curtos e loiros processados quimicamente na escova progressiva, argumentou que ela fez curso sobre aquilo e que não lembrava o termo específico, mas uma mulher velha ter cabelos longos era querer aparentar aquilo que ela não é. Pior seria se quisesse ter franja, com uma jovialidade reprovável e descabida.
Parei meus argumentos. Não adiantaria clamar contra o machismo.
Lembrei de quando, há cerca de uma década, um cara estava muito interessado em mim, mas desistiu e deixou claro que era um problema com a minha idade, já que eu tinha três anos a mais do que ele.
Lembrei que os homens podem nem ter cabelos e as mulheres são educadas a amar os sinais da velhice deles, a achar lindo o grisalho da experiência, a barriga gorda horrorosa que é passada coo charme de homem de verdade, os pelos brancos do corpo, como se fossem sinais da maturidade, vivência e sabedoria... Já uma mulher, nem pode ter autonomia sobre os próprios cabelos.
Minha tia fica linda de cabelos longos, aos 70 anos. Suzana Vieira também fica linda. Cabelo longo e bem cuidado fica bem na maioria das mulheres.
Não corte seu cabelo porque se sente gorda. Vamos acabar com esse mito: cabelos curtos não emagrecem, nem roupas pretas. O que emagrece é perder peso. O resto, não vale a pena.
Um cabelo longo e brega não contribui para nada, também. Cabelo mal tratado é feio de qualquer jeito.
Não gosto de homens calvos, nem de carecas. Já fiquei com alguns, porque não gostar não quer dizer que eu os elimine, uma vez que eles se compõem de outras coisas também. Mas não são meus preferenciais Eu não deixaria de ficar com alguém com vários fatores interessantes, por causa de um detalhe estético.
Vamos à outra parte dos fatos: lembra aquela velha piada que diz que OLHOS VERDES EM GENTE FEIA É IGUAL A FERIADO EM FIM DE SEMANA:  NÃO SERVE PARA NADA. E assim sendo, funciona da seguinte forma: quem é considerado feio, será feio seja como for. Intervenções estéticas melhoram, mas não resolvem a feiura.
Entretanto, quantos se revoltam porque a mulher usa lentes de contato, faz procedimentos estéticos, usa cílios postiços, coloca silicone nos seios? Se essas pessoas não forem bonitas, nenhum desses detalhes acrescentados vai torná-la bonita. Portanto, a ideia é a mesma: melhora o que há, embeleza mais a quem já tem beleza.
Para feias, feios, bonitos e bonitas (usando termos reais do que falamos em sociedade), independente do politicamente correto da beleza interior, cabe o cuidar melhor de si. Isso implica um auto-amor que supera ideia comum de autoestima, se é que essa última exista para além dos manuais práticos da felicidade instantânea.
Tenha uma pele bonita e saudável, seja higiênico (a), seja dono (a) de seu corpo e faça dos seus cabelos o que você quiser.


quinta-feira, 14 de julho de 2016

E o passado fez as malas...


Eu nunca consegui terminar uma relação sem sofrer junto com o Outro, exceto nas raríssimas vezes em que me arrependi por ter começado a relação.
Nessa de me desvencilhar dos paralelos, li há pouco uma indireta de V., para mim, uma transcrição de Guimarães Rosa, a se conformar com o fim. No caso dele, o fim de meus sentimentos - e o consequente fim das massagens no ego dele, porque ele adora ser paparicado.
Com F eu inventei que tiraria o fim de semana para ficar mesmo com outra pessoa, porém inespecífica. e parei de manter contato, para não alimentar o que eu não queria de jeito nenhum.
Mas o ex, o que se pensou namorado, ah, esse gosta de uma autocomiseração, se faz de desentendido, faz cara de cachorro na chuva, faz ameça, roga pragas...Olha, vou aproveitar e dizer com todas as letras e quem tiver juízo que tome por conselho: se uma relação fica nesse ponto, se já contabilizou vários vai-e-vem, se no último vai a pessoa não foi, desista. Lembre como era sua vida antes dessa pessoa. Você existia? Respirava? Comia? Pois é, depois dela você ainda pode. Não alimente relações doentias e também não se escore em tarja-preta para resolver seus problemas. Remédio controlado não é drops, não é bala para distrair das dores, a vida toda, exceto se você tem esquizofrenia.
Tristeza não é depressão e depressão não cura com remédio: o  remédio é localizar a causa da tristeza e procurar solução.
Ninguém quer lembrar que foi estuprada pelo tio, nem que teve família negligente, nem que admitir que tem vergonha por ter achado gostosa a carícia sexual feita pelo primo; também ninguém quer admitir que tem inveja da irmã e da amiga; que detesta a própria família; que se acha feia; que se sente inferior; que se acha burra; que tem mágoa dos pais; que odiou a primeira vez no sexo; que fez coisas de que se arrependeu; que se acha fracassada; que se sente preterida por não ter provas vivas do amor de alguém por si; que quis ser rainha da festa junina da escola; que odeia o próprio corpo, que tem vergonhas, dores, ciúmes. Ninguém quer falar disso. Isso, no geral, está sob as crises psíquicas das pessoas, ao lado de coisas positivas como a conquista de um cargo, de um título, de um bem, porque sabe que será cobrada pelo sucesso. Diz o ditado: "Prego que se destaca, leva martelada". Que ninguém pense que a vida de quem tem sucesso é fácil.
Mesmo gente cuja beleza é invejável, tem conflitos - sabe que a acharão metida, que se aproximarão por causa da beleza, mas não por amor verdadeiro...
Tem os que só sabem ser felizes se casados e os que pensam que felicidade só mediante maternidade. Ou seja, todo mundo tem conflito. todo mundo tem problema. Apenas varia.
Qual o pior deles? Todos.
Dor é dor, não importa a natureza: o tamanho da dor é o mesmo. E aí, Vai tomar um Rivotril ou uma providência?
O citado moço não aguenta passar pela dor e pela angústia da perda.
Escondo meu poeta dele. Escondo, no geral, minha vida toda, por menos que possa parecer. Ontem, mesmo, um povo de meu ex-trabalho no mundo militar, teve a cara de pau de perguntar onde estou, o que faço e quanto ganho. Assim mesmo. E eu dei respostas claras e indiretas ainda mais claras, porque não admito uma coisa dessas: é gente demais especulando meus passos. Sei que virão calúnias pesadas depois que eu me desvencilhar do moço dramático.
Hoje foi demais: repeti que a gente estava há meses afastados, que eu não sentia amor, que eu não queria ele...Não tem jeito: ele sempre volta, ignorando a conversa e o término. Penso em ir embora de minha casa e de minha cidade. Já dei passos para isso. Quando um não quer, mas o outro insiste, é preciso ir embora. Uma pena.
Eu gosto dele, mas não para relacionamento de homem e mulher.
Ele não sabe passar pela dor. A gente evita, eu sei. A gente desvia. Mas como um homem pode querer a presença de uma mulher que declara seu desamor? Como a gente pode forçar o outro a nos amar? Como pode ter ódio por coisas que não dependem da vontade?Mas não adianta: ele nega a realidade e não vê que o sonho acabou e é hora de despertar.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Termos reais da liberdade de ser


É preciso saber sobreviver ao caos. Fácil não é. O que nos cabe é ver que a vida da gente pertence à gente e é preciso tomar conta, cuidar, tomar a responsabilidade pela direção das coisas. Viver dá o maior trabalho.
Tive que dar um fora formal em alguém que não quero que saia da minha vida. Está aí uma coisa que os homens, em especial, não entendem: terminar uma relação ou um relacionamento que o outro acredita que existe é praticamente uma causa perdida quando a gente quer continuar sendo amiga da pessoa, quando lhe denota carinho, afeição e cuidado.
Sou fraca: não fico bem ao perceber que causei mágoa. Juro: até com ex-amigos e ex-amigas, eu realmente não lhe desejo o mal, oro sinceramente por boa parte deles, reconheço meus erros e pisadas de bola, quando os cometo e se as coisas redundam em término de amizade, de amores, de contato, é sempre por uma justa causa da qual conclui que insistir na manutenção da relação seria abrir as portas para novos conflitos, novas contendas, novas decepções. Acho que isso me fez ser rancorosa, não no mal sentido, mas no sentido de não esquecer do que a pessoa foi capaz de fazer a mim e, portanto, procurar não lhe dar novas chances de cometer o mesmo ou o pior. No fundo, a recorrência de alguns episódios deixa claro que a gente perdoou outras vezes...E olha no que deu?
Então, terminar não quer dizer o fim dos bons afetos, mas a mudança do tipo de afeição. Sim, eu admito: tem gente que eu gosto e gosto bem longe de mim, pois a proximidade seria inútil, cansativa, seria uma porta aberta a dissabores porque ninguém muda por nós. Desta forma, é a gente quem tem que mudar.
E não me refiro a mudar de personalidade, alterar o que se é, mas mudar de atitude no trato para conosco.
Aquele relacionamento - amor, amizade, companhia- teve suas coisas boas que o geraram e o sustentaram. Postas na balança, se essas coisas decrescem e são menos importantes que acontecimentos graves e desagradáveis está na hora de dizer tchau e encerrar o assunto.
Andei me livrando de relacionamentos paralelos. Uns eram até irreais, era gente com quem eu falava, mas que eu não via, não pegava, não estava...
Este a que me refiro, não: tenho um extremo bem querer pelo sujeito, que eu não via há mais de três meses.
Gosto dele. Temos bom companheirismo. Mas não é namoro nem coisa parecida e não quero mesmo que pareça, porque eu gosto (apesar de gostar pouco, eu sei) do poeta. Não foi por fidelidade ou por pactos similares que eu me desliguei de todos os outros: foi por mim. Eram apêndices, inúteis emocionalmente...
Depois do sonho com o meu marido de outra encarnação, acordei pior ainda no tocante a fazer a varredura desses resíduos de relacionamentos.
Mas o cara a quem me refiro, eu gosto. Gosto, tenho cuidado, carinho, um tipo de amor especial,  que os homens odeiam, que é amor de amigo, amor de irmão.
Não queria nunca ele longe de mim. Mas ele não aceita o fim e não aceita ser relocado em áreas, para ele, subalternas. Às vezes acho que é o velho sentimento de castração, por se saber desejado mas não de forma sexual.
Para mim, todo bom sentimento é válido.
Já fui mais revoltada e rebelde, mas hoje em dia eu, sinceramente, não quero causar mal-estar, mágoas, desconfortos. Mas não gosto de ver minha liberdade ameaçada...
Amo minha solidão: estar em casa sozinha, sair quando quero, não temer olhares, fofocas, mal-entendidos...
Só namoro quem me pede em namoro. Se isso não ocorrer, não assumo relacionamento nenhum. E qualquer um de nós dois poderá alegar sem ofensas que não tem nada um com o outro. Namoro só é namoro quando se formaliza. Ponto final.
Bem, a vida, neste ínterim, vai um caos. No resto, nem sei como, mas tenho dado conta do trabalho e das leituras profissionais, assim como as da vida espírita. Graças a Deus!
Também me resolvi direitinho com sentimentos por Vinícius (sim, já passou), com rolos besta com F., com essas pendências idiotas que nunca me levaram a nada. Faxina de relacionamentos mesmo.
Tenho visto, com alguma tristeza, porém, o pouco caso que os homens fazem das mulheres, talvez por acharem que quantitativamente somos muitas: ao invés de valorizar as bonitas, inteligentes, independentes, companheiras, criativas e sexualmente dispostas, preferem o velho rodízio que lhes garanta a diversidade, de modo a espantar o tédio e o compromisso. Mas não posso criticar tanto, porque no fundo eu não tenho estabilidade a oferecer; eu sou uma pessoa desconfiada, do tipo que acha que o preço da liberdade é a atenção contínua. Então, melhor todo mundo ser livre a ter que ser hipócrita.
Também decidi que nunca mais vou insistir em palavras com quem me deixa no vácuo. Ora, se não me responde, não quer falar comigo; se não me procura, não quer me ver. E se há uma lição que aprendi e repasso, rezando para o cara de quem falo um dia pensar assim também, é que quem não nos corresponde não tem culpa por isso.
Eu condeno, sim, o jogo besta; as esperas, isso de você alimentar coisas, contatos e fantasias e nunca realizar; marcar e não aparecer...Eu também fiz isso, em certo grau, mas me arrependi e vi que mantive a ideia para não magoar o sujeito. Mas não pratico nem alimento mais isso. Cada um com sua realidade e comigo, todos na real.

sábado, 2 de julho de 2016

Sob o leite derramado


Uma pergunta que a gente deveria se fazer sempre que detectasse estar enrolado numa situação ruim, seja ela um trabalho, um relacionamento, um posicionamento na família ou algo do gênero, era "afinal, o que ganho com isso?", ou seja, "qual é o meu ganho secundário?".Esse é um grande recurso para dissolver ilusões.
Não vale a pena mentir para si mesmo.
Por que reclamo de meu namorado e continuo com ele? Por que reclamo do meu emprego e continuo nele? Por que reclamo da forma como sou tratada em família, e acato os disparates que ouço?Qual substância alimenta meus relacionamento deletério, ruins, impróprios ao meu bem-estar?
Dessas perguntas, virão as respostas mentirosas, porque gostamos de nos iludir. Então as respostas serão coisas que justificam a autoflagelação, como: "eu preciso", "eu tenho necessidade material", "melhor do que estar sozinha", "eu não sei viver sem esse alguém ou sem essa coisa", "sempre foi assim", "não posso fazer nada", "todos são iguais" e daí por diante a elaboração vai variar conforme o gosto do freguês e a vontade de esconder de si mesmo qual é o seu ganho secundário,
Ganho secundário é terrível: ele arranca nossas vestes de mártires e coitadinhos e mostra que se a gente se submete a certas coisas, é porque temos algum interesse sendo saciado ali.
Mostra que se você reclama de seu companheiro ou companheira, mas não o/a larga, alguma vantagem você está levando. Pode ser vantagem sexual, vantagem social, para mostrar aos outros que não está sozinho/a; vantagem material também e isso se estende a vários tipos de ganhos não declarados.
É, parece sonegação.
Esconder dos outros, vá lá, é normal.
Esconder de si, ajuda a alimentar a dependência.
Gente, se tem uma coisa que separa pessoas é a distância cultural ou incompatibilidade intelectual. Não dá. Não tem acordo nem tem conversa. Aliás, conversa é o que não poderá ter mesmo. Como?
Já vivi isso. Não tem jeito: sou professora, acho que fico avaliando até involuntariamente. Acontece...
Normal um conhecer coisas que o outro não conhece; um gostar de coisas que destoam do outro...Normal. Mas chega a um ponto em que nada se faz em sintonia e aí não dá.
Hoje eu estava falando com uma amiga sobre um caso que eu tive.
Mas vamos pegar do específico para o genérico: num exemplo, eu arrastei um relacionamento doentio porque via no cara um esteio. Era de minha confiança, caso a casa caísse, porque não considero minha família confiável. Então, tínhamos um pacto, com senhas e procurações válidos até hoje.
Eu odeio álcool, mas ele se tornou dependente. Éramos compatíveis no começo do namoro, mas fomos nos distanciando a tal ponto que ele ficou no sertanejo e eu segui no rock; ele ficou na vida militar e eu acabei meu doutorado...E de fator em fator nos separamos.
Passemos a uns casos genérico: quem quer companhia vai ter que apostar na sorte. Gente boa não está no Tinder, não está fácil e não está de graça...Mas para quem não liga para compatibilidades, vai encontrar lá de tudo.
Conversando, ainda, com essa amiga, notamos os perfis que nos aparecem nesses tempos de tão poucos heterossexuais: os homens não fazem nada pela mulher, sexualmente falando. Tratam a gente como serviçal, querem ganhar mesmo agrados e receber sexo oral, chamarem e serem atendidos, bem tratados, com pouca ou nenhuma despesa para o encontro, e não dar nada em troca. O preço, nesse caso, poderia gerar um ganho secundário, do tipo: satisfação sexual para a mulher; acolhimento, sentimento de segurança, seja sexual, seja afetiva...Olha, é aquela questão do bem tratar: às vezes, um bombom, uma rosa, um gesto de carinho, uma plantinha, um livro, algo que um homem possa dizer: "trouxe essas balas porque passei na padaria e me lembrei de você e achei que você ia gostar"...Esses pequenos gestos que dizem: "eu agradeço pelo que você me dá, eu tenho carinho e respeito por você"...esses pequenos gestos, nós não vemos.
Essa relação tensa de egoísmo extremo gera uma multidão de gente carente e infeliz e de mulheres descrentes de relacionamentos.
Hoje em dia, então, que a mulher pega o próprio carro, vai ao encontro do homem, aprendeu técnicas e coisas do amor e do sexo para agradar ao parceiro (como eu sempre digo, mulher compra lingerie, aprende dança do ventre, lê sobre assuntos do sexo, conversa com as amigas, busca mudar, aperfeiçoar para agradar ao homem), tem postura independente, tem educação e respeito à privacidade do cara, se dispõe a experimentar sexualmente as coisas que as bases da educação repressora solidificaram nas gerações precedentes e na nossa formação, depois de tudo isso, ainda os homens se portam como se estivessem fazendo um favor ao ficarem com tal mulher.
Já aconteceu coisa similar comigo e com muitas amigas. Virou algo geral, mesmo. E o que acontece? sem reciprocidade e sem ganho secundário, corajosamente a maioria de nós opta por estar só.
Há coisas que só os homens podem nos dar, mas não darão. Aí a gente recorre ao vibrador e outros artifícios, porque dão o mesmo que eles nos dão, por um custo menor e sem perdas secundárias também. Você comprou, é seu. Usa quando quiser. Desde que saiba manusear, o resultado é garantido.
Gosto de homens, gosto do homem com que estou, mas se os ganhos vão diminuindo ou desaparecendo, perde-se o interesse, o sabor se esvai, acaba a doçura do chiclete...E aí? acabou-se o que era doce, acabou-se a relação, as razões para mantê-la. Alguns vão chorar o leite derramado.
Coragem também é isso: se desfazer daquilo que gera a falsa sensação de saciedade, completude, satisfação...Um bom termômetro é ficar longe do outro. Se"o que essa ausência tua me causou" for alívio e descanso, pode jogar fora a relação e assinar o bilhetinho azul do fim; se a ausência trouxe saudades, parabéns: ainda tem remédio - se vai curar, não se sabe. Mas vale a pena tentar fazer viver.