Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Velhos problemas do Ano Novo



Não tenho mensagens para o ano novo que, aliás, poderiam se resumir a apenas duas: livre-se do que não lhe agrada e busque conquistar o que lhe faz falta. Mas esses binarismos pouco se sustentam, pois,  bem disse Caetano Veloso, "...a vida é real e de viés", costurada em muitos ângulos e descosida em muitas direções - quando não, rota e desfiada, no Prêt-a-porter da existência que, no meu caso, me fez desfilar de saia justa.
Nessa temporada, desconfio que minha amiga não sabe ser feliz ou teme assumir a felicidade e arcar com a inveja e a crítica...Pode até ser que seja meramente porque o sucesso em uma área não atrai o sucesso em todas - estou falando de Tatiana, lógico.
Ela não está errada: a vida tem muitos compartimentos mesmo.
Todo santo dia me deparo com essa indagação entre trabalho, distância, dinheiro e meu amor pelo poeta. Como eu queria ser como os outros, que cortam laços e desatam nós como se nunca tivessem se amarrado a nada ou a ninguém. Se tem significado real para mim, não me desligo assim.
Continuo pensando o mesmo sobre as mesmas coisas... Mas esse tempo que a gente conta, para contabilizar a passagem das coisas, nós aproveitamos muito mal.
Um dia o tempo nos diz que ainda é cedo; no outro, nos diz que já estamos velhos..,Vamos passando, encolhendo nossa existência.
Excepcionalmente, acho que neste réveillon não irei à Praia do Forte nem a Guarajuba: culpa do tempo, nos dois sentido, pois que minhas companhias trabalham na segunda-feira ; quanto o prognóstico é de chuva. E desde 1998 eu não passo um Ano Novo em casa ou perto de casa. A esta altura, não planejamos nada de alternativo, salvo um possível jantar e festa temática do Anos 80. E não sou do improviso.
Olha que me deixei contagiar pelo discurso de todos, até do meu pai, dizendo que na praia iria faltar água, que teríamos engarrafamentos para ir e para voltar, num trânsito perigoso, com tudo com preços nas alturas, com pedágio caro e filas para tudo. Sim, como costumo dizer: todo mundo, ao mesmo tempo, no mesmo lugar, para fazer a mesma coisa, só pode dar em filas.
Pensei nessas agonias.
Pesadelos até para estacionar o carro na praia; ou para entrar na Aldeia dos pescadores e na cidade, após às 18 horas, porque o carro fica na frente da guarita e todos caminhamos 3 quilômetros, até na volta, sob sono...E , depois, as disputas na areia, na praia escura, com um bando de doidos gritando e jogando champanhe e cerveja para cima, batizando minhas vestes brancas e novas...para, então, voltarmos e dormimos...E acordarmos cedo porque o último idiota chegou fazendo zoada ou outro idiota acordou cedo para ir à praia. Aliás, no réveillon o número de idiotas à solta cresce vertiginosamente, na ordem de até 35% - talvez eu não queira engrossar a estatística.
Tudo está fechado e a praia está suja, cheia de oferendas e garrafas e há entulhos de vestígios da alegria alcoólica do povo na areia.
Fome: sair para ir tomar café em Guarajuba. Fila. Comida que acaba cedo. Café frio. Sol. Todo um script que talvez os infortúnios que antevemos possam me libertar nesse ano.
Não vou lamentar a viagem que não farei: vou fazer diferente.
Réveillon bom é aquele em que posso dançar. Por tal constatação, desejo que em 2017 o ritmo da minha vida seja bem alegre...Chega de ritmo lento.
Happy new year!


sábado, 17 de dezembro de 2016

Corpo inteiro


A moça da mercearia, uma jovem de menos de 20 anos, perguntou se eu ainda estava indo à academia. Respondi-lhe que, sim, que não podemos parar. Ela concordou. Vi que por dois motivos: porque me admira e faz cálculos entre minha provável idade e o estado de meu corpo; e porque ela própria adivinha a tendência genética a repetir o padrão corporal da mãe dela, que apesar de ativa é obesa.
Também sinto preguiça. Também a mim o sofá é cômodo. Mas é a velha história: quando a gente vê os resultados no espelho; e na opinião geral das pessoas, esse outro espelho que pode ser positivo e estimulante, não há como preferir a preguiça ao prazer.
Não sou dessas que desistem de um prazer, por conta de preguiça.
A gente envelhece e o metabolismo fica preguiçoso, também, Talvez seja cansado, metabolismo cansado...
Quando comecei meus treinos com um novo treinador na mesma academia, há cerca de um ano e meio, eu olhava as mulheres mais velhas que eu, fazendo exercícios no legpress com 150 quilos. Acho que, então, eu fazia 110. Pensava que nunca chegaria aos 140, sequer...Hoje, são 160 quilos. E de braços, sempre magros mas fortes, puxo pesos que superam o das moças mais preparadas. Mas isso não se faz por disputa: meu treinador é profissionalíssimo e gradativo nos pesos. Porém, nunca me subestimou.
Conselho meu: nunca, de modo algum, faça musculação ou ginástica em horário de congestionamento de gente, horário de pico.
Como eu digo, também: vá à academia sem celular e, de preferência, sem amigas, para não se desviar e se perder em conversas que degastam seu ar, sua atenção e podem esperar 80 minutos para acontecer.
A alimentação não precisa mudar: pode ser a mesma, com porções menores para quem quer emagrecer. Não adianta querer viver de coisas que não apetecem e achar que qualquer cardápio é tentação. Isso é ilusão pura. Assim como certos aparelhos são ilusões. Já disse: aliar musculação com massagens, criolipólise, drenagem, aquele gel redutor simples, mas que refresca, que pode ser baratinho mesmo, isso, sim, dá resultado. Sozinhos, cada um desses recursos podem pouco e duram menos ainda. Não há milagres: é esforço mesmo.
Caminhada sozinha, nada feito. Corrida, tudo bem, ajuda muito, em tudo. Só não vai delinear, nem tornear, mas adianta.
Reitero: não tenho corpo de madrinha de bateria de Escola de Samba, mas sou muito feliz com o corpo que tenho. E a musculação faz a diferença na forma do corpo.
Meu gosto alimentar realmente comporta sucos de beterraba, cenoura, limão, couve, acrescidos de gengibre e hortelã, portanto não é sacrifício consumir isso, em meu caso.
Para a minha sorte, odeio me sentir parada e procuro o que fazer, sempre. Mesmo que seja apenas dançar.
Quando eu for trabalhar bem longe, ano que vem, vou sentir falta de minha academia.
Estou com o coração miudinho, minúsculo, por causa disso, por mais que futuramente eu venha a ter rios de dinheiro para pagar uma boa academia lá longe onde eu for estar.
Meu poeta não sabe disso. Não sabe nada disso. Nem eu quero que saiba que eu vou para longe, por tempo indeterminado...A menos que algo mude, que coisa melhor aconteça...A esta altura da relação não-assumida reciprocamente da gente, não sei como será a vida, como será não estar disponível para os abraços, para o sexo bom, para as conversas cúmplices, para aquela pele branca que eu gosto de alisar, para os abraços bobos, para os medos dele, que às vezes escapam e o deixam inseguro sobre o fato de eu ter percebido.
Cuido do corpo antes de conhecê-lo...Ele também é desses, fitness.
Acho que o corpo dele me faz amar mais ao meu, quando perto do dele.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Presente!


Hoje eu dei alguns abraços em pessoas desconhecidas, por recomendação do palestrante do Centro Espírita (kardecista) que frequento. Estranho, isso. Não que não seja bom, nem que não seja necessário: há os mais efusivos, os frios, os tímidos, os chocados...Quisera eu que a espontaneidade prevalecesse. Acho que o aperto de mão, sincero, abrevia os desconfortos.
Falei disso porque fujo de visitas e de participar de amigo secreto, coisa que se multiplica nessa época do ano.
Odeio almoços e encontros de confraternização, seja com quem for: acho artificial, esquisito, recurso impessoal travestido de bom momento de fraternidade e amizade. Nunca fui dessas coisas de dar beijos no rosto do inimigo e cumprimentar desafetos. Por mim, troco de calçada. Entretanto, eu jamais seria indelicada a ponto de não responder a um cumprimento, a um aperto de mão, apesar de que quanto mais eu tenha respeitado e gostado de uma pessoa, menos eu tenha condições de perdoar e reatar uma relação com ela. Até meu amigo mais puro em termos de coração, JN, é assim.
O tempo foi me corrompendo. A maturidade também: observem bem que, conforme ouvi de um depoente do AA (eu não bebo álcool, mas fui acompanhar um dependente, para incentivá-lo a se tratar), há coisas que a gente não faz a um inimigo e que, todavia, faz a um ente próximo ou a um amigo. Então, se alguém gosta da gente, nos tem amor de amigo e ofendemos essa pessoa seja por palavras, injúrias, descaso, negligência, nossa ofensa será sempre maior, porque somos amigos.
Aos inimigos, toda ofensa seria compreensível, já que há ali um desamor.
Assim sendo, quem é nosso amigo se ofende e se fere se a gente faz algo cujo prejuízo será nosso. Não gosto de que meus amigos maltratem a si mesmos com vícios, maus hábitos, tendências ruins, escolhas irresponsáveis – e posso dizer que, respeitando as escolhas particulares, se eu pudesse, faria minhas amigas se casarem com gente melhor do que as atuais companhias; faria minhas amigas lerem e serem mais dadas aos livros do que ao Facebook; eu varreria o discurso derrotista fantasiado de superioridade daquelas que dizem que não querem cursar mestrado e doutorado (sabemos que isso é medo de perder, é preguiça de estudar e medo de passar e medo de passar e não conseguir escrever); eu diria para irem à academia e serem mais fortes que a preguiça e certamente ouviria coisa parecida delas para mim - claro que não no tocante ao doutorado, pois já tenho; nem à academia, que já frequento...
Eu deveria ter ouvido meus amigos em várias circunstâncias em que sucumbi a certos relacionamentos ruins que eu tive; assim como deveria ter feito muitas coisas que abreviassem meus sofrimentos, mas não fiz.
Falei dessas coisas todas também observando o quanto não temos atitudes gratuitas: esperamos que alguém nos peça, para então darmos (do abraço ao presente; do conselho à ajuda financeira àquele que está em dificuldade, porque mesmo quem ganha mil reais, pode tirar 50 e dar a um amigo gratuitamente, para que ele não se sinta constrangido em pedir, nem humilhado em aceitar; do chocolate à caixinha de chá, passando por aquelas músicas que você sabe que ele gosta e que pode baixar e dar em arquivo...No meu modo de ver, todo mundo pode, de alguma forma, presentear). Podemos dar a dica do concurso ao desempregado e dar o estímulo para que estude; podemos indicar caminhos e alegrar o outro, ou simplesmente ouvir...Ou simplesmente calar.
Já falei desta minha amiga e vou repetir: Conceição recebia minhas dores, quando eu caía. Quase sempre ela me dizia: “Você já sabe que fez o errado. Agora vamos ver o que fazer para resolver”. Isso era na adolescência. Ela não me dava lição de moral: via que eu já tinha a lição. Como amiga, oferecia o reparo. Presente lindo.

Mesmo de longe, presenteie com coisas silenciosas, sem exibições ou ostentações com orações, mensagens,  dicas ou um convite para dançar. Não somos tão pobres. Sempre que nossa vergonha ou timidez inibe o encontro ou a ação, cabe pensar porque nosso receio é maior do que a vontade. Desta resposta vira uma avaliação do quanto o outro importa para nós.