Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Tudo joia!


Aconteceu quase agora comigo, e achei um dos mais lindos episódios que poderiam ocorrer em minha vida: há uns meses eu estava falando com Ele (ou seja, o poeta), que eu nunca gostei de joias, nunca dei bola, que curtia bijuterias com design bonito e ponto final. E é assim em minha vida real: para quê eu iria querer um anel de ouro, um brinco de ouro, pedras, essas coisas, se a função da joia é ornar? se fosse para vender, tudo bem...E, depois, não me sentiria bem com três mil reais pendurados em minhas orelhas ou em meu pescoço...Nem com gente a ameaçar meu pescoço por causa do brilho de um colar.
Ele, então, concordou e sei que não foi da boca para fora.
Entre essa conversa e o dia de hoje, ganhei uns brincos, de um homem que já sabia disso: não dou bola para joias. Não quero, não me interesso e, para piorar, minha avó tinha muitas, lindas, prometidas a mim, inclusive, mas o que vi de joias foi minha família se digladiando pela posse. Também nunca me apeteceu.
Gosto de brincos pequenos.
Nunca fui de argolas e penduricalhos.
Já contei aqui, antes, da surpresa que tive quando, por acaso, avaliaram as joias que eu ganhei em minha formatura, sem saber que eram jóias. Ah, ia esquecendo: deve ter uns 16 anos que, por influência de uma amiga de trabalho, comprei uma única joia na vida: um anel de esmeralda rústica, com seis pedras...Isso por questão de investimento e para o povo não ficar falando que eu era desligada. Esse anel foi destruído, há um ano, pelo meu ex-namorado bêbado, em uma manobra idiota de tirar e colocar anel em situação simulada de emergência.
Ele não conseguiu mais tirar o anel e foi preciso romper com alicate. Adeus ouro! adeus esmeraldas! Prejuízo todo meu, apesar da promessa de ressarcimento. Isso só reforça que não nasci para joias.
Bom, minha amiga observou quando eu tirei os brincos.
Já havia observado antes e falado dos detalhes dele.
Ela me disse: vire aí esses brincos! Aposto que tem uma inscrição. Vai ter umas letras, uns números e a marcação dos quilates.
Dito e feito.
Agora vou perder a coragem de sair com aqueles brincos.
Lindos, delicados, pequenos...
Mas, que fofo foi o rapaz, para comigo: ao invés de me presentear e se exibir do que deu, escolheu o melhor que pôde e respeitou o fato de eu não ser interesseira, nem chegada a joias.
Ele me observou. Escolheu conforme meu gosto. Que gesto bonito!
Se eu gostasse dele, agradeceria com um beijo. Mas agradeço com o coração e vou contar a história a ele.
Tudo isso me lembrou Valério. Valério era assim: me entupia de coisas caras, sem se ligar de exibir preços e procedências.
Mas eu sou mesmo uma anta: me formei, na graduação, claro, em 1998: como poderiam aquele colar e anel jamais perderem cor e brilho, se fossem bijuterias?
Olha, quer saber? Meu padrinho é que foi um ouro. Assim como esse anteriormente citado.
Não sou mulher ligada em joias, nunca perceberia... No fundo, aprecio o gesto, mas não me importo com o valor em si, não: nunca venderei. Nunca venderia um presente, muito menos venderia os de valor sentimental...

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Pois que era todo seu meu coração!


Não sei por que cargas d'água fui ler o último e-mail que escrevi para V. Ah, nem cabe ocultar: Vinícius, mesmo.
Talvez fosse  meu inconsciente querendo me certificar que gosto do poeta, mas não amo e dificilmente amarei...Talvez seja o mesmo inconsciente me reforçando que não amo mais Vinícius, mas amei, por mais que me pareça absurdo.
Li e não fiquei bem.
O ex-Grande Amor da minha vida me dizia que eu escrevia para doer...que eu escrevia com intensidade, que eu me fazer ver em minhas palavras: eram dor em alma, expostas nas letras.
Hoje que não amo mais Vinícius, ler o último e-mail me doeu tanto. Poxa, é tão difícil a gente aceitar que colocou nas mãos do outro o nosso tesouro mais autêntico, mais verdadeiro, mais original, que é o coração sincero pleno de amor.
Não acho que haja obrigatoriedade de ninguém me corresponder.
Acho, porém, cruel, a postura de o ser amado se sentir dono da situação e brincar com a potência do sentimento do outro.
Aí, li: ali estava um coração desolado, sincero e lúcido, que era o meu.
Era só desabafo. Mas era tudo que eu tinha. Era eu, desnuda, real, a dizer que ele era muito importante para mim.
No fim do e-mail eu citei os Três mal amados, de João Cabral de Melo Neto, já reproduzido aqui, mas sempre me dói lembrar tudo que o amor comeu. Ainda mais quando o poeta escreve lá, que o Amor bebeu a água das quartinhas e até a dos olhos, que ninguém sabia, estavam cheio de água.
Vinícius nunca respondeu a esse e-mail.
Respondeu a poucos outros.
Hoje, ele só tem minha palavras em monossilábicos eventos comemorativos.
O amor comeu todas as minhas palavras e deixou um rombo semântico bem difícil de explicar.
Não e cruel quem não ama, mas quem usa o amor por si como tortura.
Há amores que pedem distância: são amores por parentes e amigos, já cheio de espinhos e mágoas, que não se consertam com desculpa e polidez.
Não amei, pouco gostei de G., meu amante de longa data... tenho isso: às vezes é somente sexo mesmo. Já outros, não. Não faço escolhas deliberadas. não tenho como acionar o botão de amar, mal-amar ou desamar...Gosto muito dEle, tenho saudades e etc., mas me parece, também, o mesmo que tive com Thales: paixão sexual e aquela hipnose, por ele ser lindo.
Valeu tudo que foi vivido, mesmo o amor não se concretizando: sou humana, sofri, mas me consolo por saber que amor é uma emoção linda. O problema nem é que ele não correspondeu, mas porque ele não respondeu a tudo, quando poderia tê-lo feito.
Talvez minha memória sobre esses fatos seja a memória da despedida, do morto sendo enterrado sob a cova do esquecimento...
Nada será como antes porque a vida não retrocede.
Sou chata. Não volto em sentimentos.
Aconteceu de eu ter dito "sentimento ilhado, morto, amordaçado, volta a incomodar", citando Fagner, para Vinícius, já por setembro ou outubro do ano passado...Mas passou. Veio o outro V., e a história mudou toda.
Minha vida mudou numa noite, num show do Scambo, no Ária.
Não aconteceu de eu conhecer ninguém: um barato se instalou em mim e eu mudei. Só.
Saí do show e acordei diferente. Tudo diferente.
Daí, em dezembro, comecei o namorinho com o poeta...E ei-nos aqui, até hoje - com crises e momentos felizes...
Mas minha vida ia lenta.
De resto, estou tal Leminski: "Não brigo com o destino: o que pintar, eu assino"!.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

As dúvidas e as alternativas


Há momentos em que não ter alternativas nos deixam encurralados, entristecidos e perdidos. Porém, ter alternativas demais gera a angústia da perda a partir das escolhas.
Estou com medo. Não gosto de decidir para não ter que arcar com o ônus...Por enquanto, as alternativas são poucas, mas radicais, excludentes entre si...
E abandonar meus lugares cômodos, não é tarefa fácil.
No sábado fiz uma sessão avulsa de análise - eu estava entristecida demais pelos rumos do meu namorinho com Ele. Estava com a cabeça baratinada e uma ressaca de sono da sexta passada entre três bares, a dançar e conversar, porque não consumo álcool.
Cometi um ato falho que puxou o enredo de minha vida dos quatro anos até agora. Foi só o lapso de ter dito "Alunos infantilizados", ao invés de "Adultos infantilizados" e daí escorregou a gama das questões.
Também, era uma profissional FODEX, de alta competência mesmo. E se tem uma coisa que eu sofro e apanho calada, é quando uma verdade vem bater na minha cara e eu sei que depois de enfrentá-la, tudo estará resolvido.
Feridas narcísicas, hematomas espirituais, sim, eu tenho...Mas vão cicatrizar.
Até o mais leigo dos seres perceberia que fui de um evento de família à esfera profissional, passando por várias outras. Mais uma a me confirmar como histérica - que, aliás, toda mulher é e uns raríssimos homens, também.
Nunca me convenceram mesmo de que sou egoísta. A sessão de terapia do sábado veio a confirmar: as alternativas que a vida me dá e as que eu crio, são sempre permeadas por pensar nos outros como em mim mesma. Porém, anulo a mim mesma, porque me sinto responsável pelo outro. Todos são, pois, 'adultos/alunos' infantes que dependem de mim e do meu papel de velar por eles.
Repito erros crassos, que são de minha personalidade.
Finco pé nas decisões tomadas: voltar atrás de uma decisão, não é comigo. Por isso a demora, a vertigem de decidir...
Já falei com Ele. Já estabilizei minhas angústias, pois se assim não fosse, não escreveria.
Não escrevo se estou mal.
Não escrevo se estou mega-feliz.
Dois extremos difíceis, porque na felicidade eu gosto de silenciar e viver.
Estou no meio do caminho, feliz em certa medida, pelo reconhecimento dEle frente à minha escrita, pelo respeito aos meus argumentos... - Ah, escrita acadêmica. Não dessa escrita solta e louca daqui, que não divulgo por aí...
Hoje foi um dia em que, de fato, as alternativas foram se apresentando...Não sei se há resposta certa, alternativa certa...Espero saber escolher.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

O que se parte


Não era como eu pensava: meu namoro não deu certo mesmo. Claro, continuo covarde e Ele não foi comunicado ainda disso...Acho que fico cozinhando, deambulando em mim mesma, com medo de lançar o decreto do fim durante o calor de minha sinceridade afetada.
Machista e misógino, como sempre. Ou como nunca...
Relacionamento é isso, essa complicação: para uma parte, está tudo certo; para outra, tudo é falta.
Ontem, de fato, foi demais: Ele me disse que as mulheres conversam demais. Antes, já tinha dito que eu parasse de conversinha, quando eu quis conversar sobre outras coisas. Não nego que eu estava irada e nervosa, porque ele foi novamente negligente comigo e ainda falou do meu aniversário como uma comemoração equivocada para quem faz mais um ano de vida, em direção à morte. Pelo menos, me disse temer a morte.
Falei a Ele que isso era negar o meu Ser. E que mesmo assim, meu silêncio seria comunicante.
Novamente, ouvi a velha grosseria: mulheres não deveriam falar, nem argumentar e, segundo Ele, não fosse pelo sexo, nem mereceriam uma só palavra trocada.
Na covardia, ele sempre usa expressões coletivas: mulheres. Deve saber bem que me mandar calar a boca poderia custar caro.
Esfreguei na cara dele o conceito grego clássico machista embutido naquela postura, prontamente admitido. Sim, Ele admitiu: sou um grego nascido no sertão, em outra época. E como eu não quero ser coisificada, nem estar abaixo mesmo dos escravos, tal como na sociedade grega, decidi que não quero mais Ele.
Gosto dele. Decerto, não amo. Tenho gratidão por ter me vindo gratuitamente, alegrado minha vida sexual, ter sido um bom interlocutor...Mas se me silencia, a palavra é somente dele. Exclusiva.
Sou subornável por um bom sexo, por uma boa cara: ele é lindo, bem lindo, já disse isso. É inteligente e muito bom no sexo. Essas são as moedas de troca. Isso me segura. Paro e penso que somos iguais: talvez eu não desse bom dia a boa parte dos homens com quem falei e falo, não fossem os elementos que me subornam. Mas não os diminuo. Gosto de homens. Gosto de homens como seres. E gosto de homens como seres que podem me dar satisfações físicas e emocionais também. Todo ser, para mim, é completo e complexo.
Talvez eu aja na mediocridade conveniente, deixe para lá...Mas nunca deixaria para lá, na realidade: para mim, acabou. Se eu voltar a vê-lo, será por sexo mesmo...Mas nem sei se isso se concilia, porque o desejo e a repulsa, postos numa mesma mesa, deve dar indigestão...
Talvez, agora, eu tenha dificuldade em processar minha perda. Ando chata: mandei meio mundo de ficantes e candidatos para o espaço. Não quero. Saber o que não quero, ajuda. O que busco, agora, é ser sincera com meus instintos, nessas terras de poucos heterossexuais praticantes...
Deixa estar. Mas, dentro de mim, acabou. Aos poucos vou admitir a mim mesma que há preços altos demais para se suportar um machista...Ele é ridículo nesse ponto.
Dentro de mim, tudo se separou. Até meu coração, se separou em várias partes pequenas...

sexta-feira, 8 de abril de 2016

A comemorar


Nunca me bateu a onda de divulgar as estatísticas desse blog: primeiro porque eu sou tão discreta que não divulgo no Facebook as coisas daqui; segundo, porque é necessário que poucas pessoas da vida real saibam que escrevo sobre elas e sobre mim mesma e, terceiro, porque acho um exibicionismo maluco isso de falar em números. Bom, mas são quase 150 mil visualizações até então...Nunca faço contas, mas reparo em meses em que mais de mil outros louquéticos aqui estiveram.
Tem quem venha atrás de imagens de homens nus - ah, eu tenho, sim, aqui na página; tem os que acabam aqui porque resolveram tratar de literatura ou de teoria da literatura e vão encontrar também.
E tem os que gostam de saber da minha vida que, pelo menos aqui, é um livro aberto em alguns capítulos e cujo desfecho é secreto.
De modo especial, agradeço aos meus corajosos seguidores: os gatos pingados mais amados do planeta! E agradeço aos meus visitantes e curiosos em geral.
Faço aniversário na terça-feira, dia 12 de abril, e um dos meus maiores presentes é ter a companhia de leitores de todo tipo, inclusive os acidentais, que saem à procura de uma coisa e acabam encontrando outra, e a outra é bem esta aqui.
O presente Zero dois que eu gostaria de ganhar de aniversário ( o Um é segredo e tem a ver com meu namorinho), era ir assistir à defesa de Tatiana.
Reitero que acho um desrespeito a pessoa dizer que Xis é sua melhor amiga. Melhores amigos são todos. O que acontece é de uns serem mais íntimos e outros serem mais compreensivos, umas empatias a mais aqui e ali...Mas Tatiana é meu norte, sabe? Tatiana é um amor fraternal que nem todo irmão tem pelo outro. A gente fica anos sem se ver. Ela liga para a minha casa e dá duas horas de conversa. Eu escrevo um e-mail de dois tomos e o assunto não acaba. Ela faz silêncios. Eu desapareço. Mas estamos sempre juntas.
Agradeço muito a Deus por todos os amores que me vieram de graça. Falo disso porque, por pensar em Tatiana, pensei em Gustavo que vive esbarrando em mim e tem um bem-querer tão gratuito que me acalma. Ele já foi embora para a mesma universidade em que Tati estuda, a UFMG. Ela, inclusive, não gosta dele. Ele sempre foi tão acessível, fraterno, solícito comigo... E, claro, meu amado também veio de graça, veio com a graça dos Céus, por mais que vivamos os pequenos infernos do ciúme recíproco...Nesses dias, então...
Mas, é isso: fico feliz pelos meus presentes.
Dura a vida está - caótica em vários aspectos, com dinheiro a conta-gotas e algumas repetições irritantes...Mas como não é somente isso, já decidi que o presente que darei a mim mesma é NÃO PERMITIR QUE NINGUÉM ESTRAGUE MEU ANIVERSÁRIO. E o resto é festa.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Fomos feitos finitos


Ah, fiquei bem entristecida, tocada, pela morte brutal de um ex-colega de trabalho do tempo em que dava aulas num município a 45 km daqui da cidade. A morte dos próximos sempre nos reporta à nossa e nos leva a querer aproveitar mais a vida.
Depois que me tornei espírita, porém, passei a crer que cada um dura na Terra o tempo que lhe for útil...Isso não atenua meus pavores, mas me consola por saber que aqui ficamos enquanto for preciso. As abreviações ou distensões de tempo são coisas que nós julgamos haver, mas nem sempre corresponde. O dia da morte e inevitável. Aceitemos a finitude.
Uma amiga próxima mudou muito ao perceber isso: ela deixou de trocar o piso da sala, para viajar a Paris. Ganhou mais com isso. E a sala continua lá, com um piso. Um dia terá outro piso.
Somos o que vivemos. Eis as nossas bagagens.
Aprendi muito com um namoro que eu tive e com um professor amigo que também namorava à distância: é preciso valorizar o tempo de estar junto. Isso eu aprendi com Ricardo, que me dizia não valer brigar por causa de um atraso, se ele queria tanto ficar comigo e estava brigando porque queria ficar com ele. Perderíamos nosso tempo com brigas, quando poderíamos estar em abraços e beijos.
Meu professor, tristonho, dizia de sua amada, que morava ali em Salvador: quão dura é a distância. Depois, falou de quando queria ela perto. Só para abraçar. Só para ver que ela estava ali, com ele...Por fim, falou de sexo e que os desejos não esperam.
Entendi que os desejos passam.
Penso que quando queremos sexo com quem está longe, perdemos muito. Desejar é lindo! Digo aos homens que namoro: o melhor afrodisíaco é o desejo.
Não adianta cueca branca de marca internacional, nem calcinha com cinta-liga, nem tomar estimulantes: o maior afrodisíaco é o desejo.
Com meu namorado, odeio seguir a agenda, Meus desejos não cabem numa agenda, não esperam finais de semana nem datas especiais ou horários vagos possíveis. Também não caberiam num convívio contínuo.
As pessoas deveria saber deixar saudades.
Não precisa ser saudade cortante, tipo essa citada, da longa distância...
Bastava ter vida própria, guardar a distância regulamentar, coisas que o namoro saudável dá.
Mas, não: as pessoas vivem vigiando os genitais das outras, os celulares, os desejos...Impossibilitando seus pares de serem pessoas de verdade, dissimulando os desejos...Que pena!
Não estou acima disso: não vigio o pau ninguém, mas tenho meus ciúmes...Pouco, porque sou racional, compreensiva...Porque sou um ser igual ao ser que eu gosto. Logo, entendo. Também desejo, também flerto, também escamoteio.
Deixa eu fazer só um adendo: embora não seja novidade, é tao ruim ver nossas piores impressões confirmadas! Uma ex-amiga deveria saber que, por el eu perdi o respeito e a amizade; não perdi meu caráter. jamais espalharia os segredos dela. Jamais diria os segredos dos outros que ela me contou.
Sempre soube que o focinho em minha vida, atrás dos meus segredos poderia resultar nisso.
Dito e feito: fez intrigas com a amiga em comum; falou de mim por aí, coisas terríveis.
Coisas terríveis são os adjetivos que ela escolheu para se referir a mim; não cometi coisas terríveis: sou solteira, honesta e independente. Nada temo. Mas gosto de privacidade. E, sim, tenho mais segredos que os cofres do Banco Central do Brasil. Por isso mesmo: há coisas que compartilhamos e coisas que somente os envolvidos sabem; ou que somente eu sei. O segredo vai para o túmulo. O segredo das minhas amigas também.
Segredos graves, que renderiam boas pautas e fofocas: sou ética e não conto.
Mas, sim, como esta postagem começou com morte, eis para onde caminhamos...Inevitavelmente.
O intervalo que fazemos até à cova chama-se vida: preciso cuidar da minha, ser feliz, usar o vestido reservado para a data especial, trabalhar o perdão das ofensas, renovar os desejos e desejar mais e mais...Doar meus órgãos para que sejam úteis a outras vidas e voltar ao pó. Que assim seja, mas que eu descanse em paz desde já: a paz é uma conquista, não um silêncio de túmulo...Quero estar em paz, sem ninguém me irritar, me perturbar, me tirar do sério...E é para isso que tiramos as pedras do caminho: para caminhar sem chutar as pequenas pedras das chateações, das injúrias, das falsidades, do desrespeito, das amizades irrecuperáveis, dos incômodos, dos fardos adicionais que nos aparecem...E duraremos o quanto Deus determinar.



domingo, 3 de abril de 2016

Dançar a dois


Quando escrevo aqui, geralmente escrevo com espontaneidade e acabo não fazendo revisões posteriores à escrita em si. Depois de um tempo, releio o que escrevi e acabo rindo pela pontuação faltosa, pela vírgula que ficou onde era ponto e vice-versa, pelas letras trocadas e omitidas...Mas costumo apostar na sagacidade de meu leitor que, suponho, sabe que são lapsos apenas.
Sou assim com o teclado do smarthphone: aposto que o outro entendeu que foi o corretor automático que corrigiu errado qualquer troço.
É, mas cá estou para falar do que não está escrito, embora já possa ser lido: Poxa, eu estou gostando Dele. E é sério. Tão sério que declinei de sair com Dr. T., na quinta-feira.
Continuo achando que os homens que eu namoro são muita areia para a minha carroça. Às vezes me pergunto o que foi que eles viram em mim. Já escamoteei para perguntar e obtive como resposta coisas bem esclarecedoras. Mas a pergunta não é por questão de fraca/baixa estima de mim mesma. Vou explicar uma coisa agora, que me surpreendeu, ontem, e que se correlaciona com esta citada, ressalvando que eu sou tímida, não sei flertar (correspondo se o flerte se estabelecer) e dependo da iniciativa e investida do outro para, então, algo acontecer.
Estava eu despretensiosamente dançando um forró sozinha, no cantinho entre minha mesa e o bar - ou seja, nem fui para a pista - a fim de evitar convites porque não sei dançar a dois. Lá fiquei, próxima à mesa em que minha amiga e acompanhante ficara sentada, tomando um vinho.
Lá vem um sujeito até mim. Pede para dançar, já atropelando que se trata de uma aposta com a amiga dele que nos observa. Diz que ganhará cervejas e dinheiro. Explico-lhe que não sei dançar a dois. Ele já me pega e sai dançando naquele mesmo cantinho. A música estava no fim e dançamos menos que um minuto. Ele para, esperando a próxima, dando a entender que a aposta só valeria por uma música completa. Pronto: vamos dançando. O cronômetro deve marcar quatro minutos para tudo que ele tem que fazer: começa por admitir que ele que propôs a aposta, para poder chegar até mim. Eu brinco, dizendo que a moça que ele namora, e que eu já tinha visto, vai dar uma de Ivete Sangalo e gritar "Quem é essa aí, papai?", fora que já estávamos cheios de assunto.
Ele me diz que a moça é ficante.
Passa, então, a me perguntar coisas pessoais e diz o nome dele com sobrenome. Observo o sobrenome italiano, que ele diz ser do avô.
Depois, entendo o propósito: ele sabe que há muitos homens com o nome de Daniel. Ele quer ser encontrado.
Passa a me dizer aos pares, pausada e repetidamente os números do telefone dele, implorando para eu memorizar.
Na dança, pega em meu corpo com esmero e respeito, mas traçando com as mãos a avaliação que faz - impossível não perceber o traçado da avaliação: peso, altura, formatos, aromas...- e se excita.
Para a minha sorte, o sujeito é educado, inteligente e sagaz - boas palavras, delicadeza, nem um S esquecido, nem um R omitido, nem um pronome fora de lugar. Na beleza, nada de extra, mas compatível com o que gosto: branquinho, olhos azuis, cabelos macios...
A namorada dele volta para a mesa no momento em que ele também resolve voltar - na minha cabeça, porém, a amiga dele estava vigiando a volta da namorada, não havia aposta, mas cumplicidade e armação.
Onde isso tudo se encontra com a pauta anterior: a namorada do Daniel era uma jovem loira de corpo bonito, boa dançarina, aparentemente, uma fofa. Ou seja: eu não tinha nada melhor que ela, objetivamente. Citei isso não por disputa, mas pela velha questão de que, via de regra, os homens trocam uma mulher mais velha por duas mais novas.
Pensei nas manobras que os homens fazem quando querem trair: até embaixo das barbas da namorada.
Não ha dispositivo anti-chifres no planeta - vide Matheus, que traía à esposa enquanto descia do prédio a despeito de ir ao mercadinho que fica a uns três ou quatro quarteirões do seu próprio lar.
Aí pensei no meu amado, que além de lindo, acabou de ganhar mais um prêmio literário ( ele nem sabia: eu que vi, pela internet. Na volta da viagem dele, contei  e ambos ficamos felizes): estar com um cara bonito, inteligente, criativo e etc., tem o alto preço do flerte constante, ativo e passivo.
Jogando limpo: Dr. T é um gato; meu amado é um gato também. Claro que namorei criaturas normais, criaturas também anormais e abaixo do padrão mínimo de simpatia, mas estes foram mesmo exceções ou pessoas cuja beleza foi, posteriormente, devorada pelo tempo ou pelos vícios. Mas, no todo, paro e penso como eu, que nem sou de ir atrás, consegui namorados tão bonitos (aqui incluído o Ex-Grande Amor da minha vida, que tem um corpo mais bonito que o rosto, dentre outros atributos).
Meu amigo Leonardo, quando do início do meu namoroatual, falou: "Você dá o seu preço", ou seja, eu sei o quanto valho e se eu nada tivesse de extra, não atrairia os ipos que eu atraio.
Bom, que sorte!
Decidi resolver mesmo a vida.
Entendi e aceitei que gosto Dele e que é sério o gostar.
Em respeito ao aniversário dos meus flertes, que não sei por que são todos arianos de datas vizinhas ao meu próprio aniversário, vou encerrar o contato flerteiro assim que passar o evento comemorativo.
No fundo, nem acredito que estou gostando Dele.
Escrevo aqui, claro, como espaço confessional, mas não quero nunca tornar público nosso relacionamento.
Já saímos de nossas respectivas páginas de Facebook para evitar problemas - tem sempre quem se mete; tem os ciúmes dele a respeito de tudo que eu publico, tem os meus ciúmes que ao menos são menores, tem gente fazendo pergunta, gente jogando veneno - e eu gostaria que continuasse assim.
Tenho medo de ficar sério e chato.
Sério o sentimento já é.
Chato fica quando se incorpora a rotina, o ritual, a obrigação...Tão bom é a surpresa do encontro e o encanto do não planejado...Adoro os desesperos dele, porque dá aquele rompante de me pedir para ir vê-lo naquele instante, por vontade, por necessidade, por um querer verdadeiro...
E do número do Daniel? fiz questão de esquecer. O sobrenome italiano, não: era marcante; reforçado pelo fato de também o meu bisavô ter sido italiano e a pronta identificação...Mas não vou atrás, não: tomei minha decisão. Não sou hipócrita: também tenho ego, também devo levar chifres, mas também sei renunciar a um flerte quando estou afetivamente tranquila. Vou arrumar a casa dos afetos, que precisa de asseio, faxina e nova decoração. De coração!

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Soldado das próprias batalhas


Tenho um problema bem sério com quem começa as coisa e não as conclui. Problema sério, aqui, significa certa falta de respeito para com essas pessoas, raiva, perplexidade, indignação. Já diz o ditado: "Se não for para ir até o fim, nem comece!". Aí que está, também: Há quem nem comece, por mais que queira concluir algo.
Não sou melhor que ninguém, mas me arvoro a dar conselhos não solicitados. Aqui vai um: se você quer algo, procure alcançar, ter, realizar, fazer...Não espere uma companhia, um amigo, alguém te acompanhar.
O povo idiota acha que isso é individualismo. O individualismo é primo-irmão do egoismo, mas não pode ser confundido com ele. Somos indivíduos. Procuramos par em outras individualidades. Por mais que nos pareçamos, cada indivíduo é um.
Se você não for à academia, esperando a predisposição de alguém para se matricular junto, esqueça.
Olha, aquela pessoa que sempre alega não ter tempo para a academia, o curso, a viagem, sei lá o que mais, deu desculpas a si mesma a vida inteira.
Como dizem os psicólogos, a pessoa indisposta à atividade física (à intelectual, também), teve esse perfil na infância, na adolescência, a vida inteira. Moveu-se pela preguiça na área e se amparou em suposta falta de tempo, em lares a cuidar, em mães, pais, filhos, parentes que demandavam atenção ou outros seres pretensamente dependentes de si.
Quer ter um bom réveillon? Planeje, compre, faça e vá.
Quer ir à academia? Matricule-se, compre seus acessórios e vá. É maravilhoso malhar sozinho, sem conversinhas dispersivas, sem ter que esperar por alguém, sem desvios de rotas para assunto paralelo.
Quer ir ao carnaval? Planeje e vá. Há festas que dão desconforto por estarmos sozinhos. Mas quanto se quer ir a tal festa? É seu show preferido? É sua viagem dos sonhos? Vai deixar de ir porque o amigo preguiçoso ou até disposto, não tem o mesmo sonho que você?
Olha, até para se fazer um filho, caso não se ache companhia interessada, se pode fazer sozinha, desde que se tenha o dinheiro da inseminação.
Se minhas boas saídas dependessem de companhias animadas ou solidárias, eu ficaria em casa 'every single day'.
Em meu aniversário, sim, faço questão de estar perto de quem amo, de amigos leais e divertidos. Até ceia de natal, se eu quiser, faço apenas para mim e ponto final.
Meu aniversário está bem perto, Vai ser numa terça. Farei um jantar aqui em casa, apenas para cinco pessoas, com cardápio amorosamente escolhido.
O meu amado não sabe o dia do meu aniversário. Eu que farei a surpresa. Mas vou comemorar somente com ele, sem que ele saiba de início - ele não virá ao meu jantar, é programação à parte. Juro: festa, quem faz é o coração da gente.
Não sou de confundir mágoa com trauma, mas nunca esquecerei o que minha ex-amiga fez comigo em meu aniversário.
Falando dessa mesma história - já contei zil vezes aqui, a forma como ela me deixou com um bolo na mão, sozinha, numa mesa de bar e só apareceu bem tarde, a fórceps, com cara de ódio, após ter dito que não se comprometeu a vir - o que era mentira, pois eu ia ficar em casa, com meu bolo a ser partilhado com quem aparecesse mas ela me persuadiu a sair. Foi uma dor enorme. Desfeita deste porte, no dia de meu aniversário...Aí, quando a gente planeja sozinha, apostando em si mesma, vem um corno nos chamar de egoísta e individualista. Ai de mim se não fosse eu.
Bom, se a gente tiver quem seja solidário com nossas causas, beleza. Mas nossa capacidade de execução deve estar acima da dependência da presença de colaboradores.
Você quer? vá. O medo passa, a pessoa se enturma...
Vá à academia.
Vá ao curso.
Vá à festa.
Faça a viagem...
Solidão é outra coisa (e pode ser benéfica). Egoísmo é outra coisa. Realize tudo na medida da potência dos seus desejos. E quem quiser estar conosco, que nos siga - seguir não é somente ir atrás: é se predispor a estar ao nosso lado. Na minha cabeça de ariana, a vida é assim: a gente sempre encontra um modo de fazer.