Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 28 de junho de 2016

Os visitantes


Não tenho invocações bestas com sonhos. Quando o sonho tem algum significado extra, a pessoa sempre sabe.
Também não sou afeita a cartomantes, especialmente porque quando o dom é verdadeiro, elas não podem cobrar. Trocando em miúdos: isso é mediunidade. Ateu pode ter, espírita, crente, agnóstico, budista, tanto faz...só muda que os mais radicais vão atribuir a vidência ao Capeta, outros à parapsicologia e uns tantos irão formular respostas que transitam do sagrado ao mental.
Nesta noite passada, veio até mim, em sonho claramente mediúnico, um senhor de aparentes 56 anos. Lembrei que diante de um espírito preciso ter clareza e não medo. Daí perguntei quem ele era. Ele disse ter sido meu marido. Eu quis confirmar se de fato, foi na encarnação anterior, coisas assim (ora, pois, eu tinha sido mulher...pasmei!) e perguntei em que eu poderia ajudar.
Ele disse que a gente se conheceu no trabalho, que a gente se casou e que o que eu passava hoje em dia era culpa dele.
Deixei bem claro que não lembrava de nada disso e disse que fosse o que fosse, eu o perdoava, que ele seguisse em frente, pois eu, de fato, estava cuidando da minha vida e que aceitava os percalços de que estou imbuída de formas, poderes para resolver.
Nossa! esse sonho se desenrolou numa tensão absurda, com outros desdobramentos, dos quais o suposto pai de santo me negando uma psicografia; e um pequeno, mais para anão do que para criança, a me dizer para eu não ter medo de crianças. Foram duas horas e meia de sonho em semiconsciência e eu acordei sem a menor energia, mas entendi que ele, o marido de outrora, queria e precisava ficar em paz, precisava da comunicação. Pronto! Em nome de Jesus, realmente, perdoei.
Bem dizem que quando o discípulo está pronto, o mestre aparece. Sim, apesar do medo, eu estava relativamente pronta para o contato.
Dormi de luz acesa, porque sou humana e nunca vivi algo nesta intensidade, com todos os S, R, e protocolos da situação. Entendi que cada encarnação é apenas um capítulo no livro que é a vida. Quero me sentir em paz e que quem me rodeia, morto ou vivo, tenha paz também.
Dá medo, é esquisito, desafia minha cabeça, mas foi por isso que passei a estudar e a ir ao centro espírita.
Não ignoro a sapiência de Shakespeare: "Há mais mistérios entre o Céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia". Ao que, complementa Caetano Veloso: "Vida: doce mistério!"

domingo, 26 de junho de 2016

"É segredo, é sagrado"


Há uma razão simples para que todo mundo tenha segredo: o senso de autopreservação, seja ele moral, psíquico ou da individualidade.
Se não é caso de preservação é da reserva mesmo, porque todos nós temos o direito de escolher quais de nossas experiências precisam, podem ou devem ser compartilhadas.
Somente hoje me dei conta da ocultação de um segredo meu frente a um grande amigo. Ora, dois outros amigos meus, igualmente grandes e confidentes, estavam comigo na ocasião geradora do segredo. Meus amigos também têm segredos, porque todo mundo tem mesmo.
Um, quando começou um namoro com um aluno, ocultou de mim. Não fossem as bandeiras, próprias aos apaixonados, eu nunca ficaria sabendo por declaração dele que, aliás, só veio a declarar em 2014/15, quando já havia acabado o romance.
Meu amigo da citada questão, o que compactuou comigo, ocultou de mim o fim do relacionamento dele, com um cara que eu adoro. Ah, sim, falando nos meus amigos, é isso mesmo: todo mundo gay. As exceções não passam de quatro.
Então, todo mundo tem segredo mesmo. Não significa que a gente matou alguém, roubou, fez misérias...Segredo é segredo. Hoje eu pedi ao amigo para levar para o túmulo o meu segredo. Sei que assim será.
Vou fazer uma advertência aqui: se você tem segredos e precisa do silêncio alheio, não o divida com ninguém, não escreva, não deixe pista. No máximo, confie a um analista. Nem padre, nem pastor, nem amigos.
Amigo confidente, somente aquele que vive de boca calada. Se a pessoa já e contou segredos de outrem, ela passará o seu adiante também.
E mais: se for amiga, a chance de ela vir a se tornar ex-amiga é muito grande, quando há alguns indícios. Isso indica que não se deve compartilhar segredos com tal pessoa. Desabafe com Jesus, ore, ou coloque uma cadeira vazia à sua frente e simule um interlocutor e conte tudo a esse ser inexistente e imaginário, mas não conte a ninguém. São indícios de que você poderá se dar mal:
a)    Amizade que teve idas e vindas, desavenças e reconciliações muito recorrentes;
b)    Compartilhamento de segredos alheios com você;
c)    Ocultação, dissimulação ou mentira sobre dados que essa pessoa tenha vindo a cometer e que você percebeu;
d)    Instabilidade emocional ou psíquica por parte do amigo ou amiga;
e)    Recorrência de situações de conflito, em que o amigo ou amiga usa fatos de sua vida para lhe subestimar, magoar, diminuir;
f)     Julgamento constante de seus atos e pouca indulgência;
g)    Imposição do próprio ponto de vista do amigo ou amiga, como sendo o certo, o modelo, o exemplo;
h)   Hipocrisia visível ou perceptível;
i)     Competitividade com você, seja ela explícita ou disfarçada, pois, neste caso, seus segredos serão usados para proveito próprio do amigo ou amiga, para se sobrepor ou parecer superior.

Lembre-se que nem a gente da família se deve confiar segredos de certo teor e importância. Entretanto, os segredos da família devem permanecer na família.
Tenho pessoas de confiança. Pessoas que têm minhas senhas, acesso à minha casa, aos meus outros segredos e sempre as terei, porque essas formam um time.
Guardo um segredo de uma amiga muito especial, que é trágico e lindo. É a encarnação real da história de Hamlet. Adoraria compartilhar, devido ao conteúdo fantástico. Não o faço. Prometi. Essa mesma amiga me confiou um segredo de vida íntima. Não conto. Ela sabe. Nunca contaria.
Meu orientador de mestrado, até dois meses atrás, não sabia do parentesco de um colega de trabalho dele, com um outro professor poeta sobre o qual eu escrevi. Nenhum dos dois sabiam o segredo que sei sobre um suicídio de um dos parentes dele. Nem era segredo. Mas preferi calar. Só falei agora, dez anos depois, para esclarecer umas coisas.
Não tenho segredo por eu ser a pior pessoa do mundo.
Na minha dissertação, não agradeci a Deus na página de agradecimentos: era a Deus que eu queria agradecer, não exibir socialmente gratidões. Isso seria feio. Mas uma idiota desconhecida, da plateia, reclamou de minha postura. Tenho segredos de meu contato com Deus, porque é coisa minha e dele.
Há coisas lindas que escondo, para não parecer exibida, Não vou, contar vantagens, felicidades que podem incomodar, coisas que parecerão megalomania...Conto, claro, coisas de  amor que me surpreendem, espantos de narrativas amorosas... E neste ponto, estou tranquila. Gosto do meu fofinho, gosto do que se constrói.
Até minha atividade profissional eu não atualizo no Lattes: nem sempre precisam saber em que temos trabalhado, Há momentos em que certas informações não cabem.

Estando, pois, felizes, dá vontade de colocar o outdoor e contar tudo, mas a felicidade silenciosa dura mais e sabe qual é o segredo? Ter segredos.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Tecnologias dispersivas


Chamo de tecnologias dispersivas a todos os aparelhos e recursos que cooptam nossa atenção, levando a que declinemos de obrigações, metas e compromissos, a fim de nos dedicarmos a eles.
Lógico, especialmente o Facebook, o What´s app e a Netflix – em que caiba acrescentar todas as nossas fugas pela internet e no smartphone.
Não é possível estudar ou concluir (quiçá começar) um texto dividindo a atenção com as tecnologias dispersivas.
Elas são feitas para dispersar nossa atenção, porque as notificações, as mensagens e os conteúdos se sobrepõem uns aos outros, chegam aos bandos e, no caso das séries, escravizam pela ansiedade do próximo episódio, do desfecho de coisas até mesmo já vistas.
Interessante é ver tudo isso e assistir ao crescente emprego da Ritalina entre as pessoas. Como se pode ter atenção e foco se fomos e somos estimulados a zapear em tudo?
Dose. Quem sabe estabelecer a dose, não se embriaga. Eis uma saída.
Em minha vida não há nenhuma perspectiva de grandes surpresas, coisas inadiáveis ou recados que vão mudar os rumos de meu destino. Desta forma, se não acho que as mensagens que virão, por qualquer meio, sejam elementos transformadores, posso determinar ver depois ou que horas ver/ler.
Isso ajuda a controlar à ansiedade. E também ajudam a focalizar o que realmente é importante para mim, entre a tecnologia dispersiva e o que quer que seja.
Fico dias sem Facebook, mas não fico sem consultar meu e-mail.
Gosto de sumir, também.
Há capítulos da minha vida que eu não discuto em lugar algum, há fotos que eu nunca publico, lugares a que fui e que não divulgo, gente e trabalhos que fiz e faço e que omito de todos...Isso me diz que tenho controle sobre aquilo que quero que apareça.
Isso também me diz o que esperar dos outros e que eu não devo perder tempo com a vida de gente que não me interessa, pois aí, sim, estarei dispersando minha atenção, voltando-a a eventos fúteis.
Diferente disso tudo é o uso lúdico e útil dos recursos tecnológicos: se eu estiver com sono, abro o Facebook e o sono passa, para eu voltar à atividade; se a leitura me enche, vou ao Facebook espairecer com bobagens, uso o videogame, faço algo assim e o mesmo se aplica a todo o resto.
Mas também me disperso. A vigilância ao fato é que me faz retroagir, me policiar e me corrigir.
Da mesma forma que eu não faço questão de joias, não faço questão de tecnologia de ponta: quero um telefone que me permita telefonar, que tenha recursos úteis e que dure. Pronto. Juro que não estou nem aí para o S11, se houvesse, ou para os modelos milionários. Na minha vida real, não me acrescentam nada, exceto parcelas a pagar.
Não tenho e não terei microondas. Para quê? Inútil em meu caso.
Decerto, não tenho condições de ter um carrão, mas não quero um que seja um problema pagar o IPVA, o seguro, as peças, a manutenção...E que me torne alvo preferido de ladrão. Como não posso, procuro a opção possível que atenda minhas necessidades.
Não sei viver sem telefone fixo. Acho uma pobreza absoluta, acho que é estar abaixo da linha senão da miséria, da avareza, você não ter: é que celular não serve para tudo, não tem créditos sempre e traz uma série de limitações que, na hora do vamos ver, deixam você na mão.
Ainda falando de tecnologia e inutilidades práticas, vi umas fotos de amigas minhas, cuja imagem estava perfeita demais. Outras dessas imagens, estavam bem artificiais: a moça ficou parecendo um palhacinho plastificado; em outra foto, estava uma bonequinha...E estranhei  que no Facebook, de repente, todas estivessem maquiadas do mesmo modo. Ninguém confessa a tecnologia.
Por acaso, mexendo no smartphone, vi e baixei o IsntaBeauty: este foi o segredo da duvidosa beleza do povo do Facebook.
Experimentei: uma tragédia. O recurso é bom, sim, é um photoshop poderoso e setorizado...Mas os resultados são bem artificiais.
Bem, este texto também é uma forma de dispersão, porque acabei há pouco o meu trabalho, que me cobra muita atenção...E quis espairecer, porque vou precisar criar um texto científico daqui a pouco, para um evento.
Aos que se interessam pela minha semana, eis o boletim: mandei o crush de Seabra se catar; mandei o ex-Grande Amor da Minha Vida se emendar, não quero mais flertes bestas (ele já fez a escolha dele e eu não gosto mesmo dele...então, vamos deixar de complicação). Isso também é uma forma de dispersão: pulverizar a atenção afetiva e libidinal entre os flertes, para não se dar a ninguém, em especial. Cancelei o flerte com Vinícius e quem ainda não recebeu meu bilhete azul foi por conta de eu respeitar o momento das pessoas ou estar mesmo com pena. E o resto é pura poesia no corpo, nestas noites frias do sertão em quem habito – como não sou hipócrita, ratifico: “quando bate, fica”. Ficou. Não tenho vergonha de gostar de sexo...

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Amor "aOmar" , parte I (trilha sonora do amor que dormiu)


Todo amor
Todo amor dorme
Numa caixa, numa gaveta, numa sala escura
Que às vezes visito
Como hoje num sonho
Como deneuve entre os pombos
A abençoar seus queridos
E o tempo, senhor dos enganos
Apaga os momentos sofridos
E aqui te traz vez por outra
A passar umas horas comigo
Ficamos nós dois entre sonhos
De amores novos e antigos
Te beijo no escuro silêncio da sala
Que às vezes visito
O amor dorme - música dos Paralamas do Sucesso)

Amor "aOmar"...


Invocando os sagrados poderes do Google, fiz uma combinação de dados possíveis e descobrir o que eu queria (e mais um pouco) sobre o crush, que mora em Seabra.
Não vou negar que adorei a minha astúcia. Nem sou de stalkear ninguém, mas neste caso era necessário.
Usei o mesmo método para achar Omar, um amor de adolescência-quase-infância.
Deu certo: achei.
Omar era o cara com quem eu queria ter vivido minha primeira experiência sexual, era quem eu amei sem saber que amava...Mas eu só tinha 15 anos...Ele parecia um príncipe, lindo, lindo!
Foi numa brincadeira coletiva de pagar ABC (A, de abraço; B, de beijo; C, de colada), que eu consegui beijar Omar, no meio da rua em que eu morava. Pronto: me apaixonei. Ele gostava de mim, também. Mas éramos dois idiotas.
Ele tinha criancices e um dia me deu um beijo muito sexualizado, que me assustou...Depois de um tempo eu me mudei e a gente se viu uma ou duas vezes nas festas...
Depois, nunca mais. Só em sonhos. E os amigos em comum nunca respondiam minhas perguntas sobre ele.
Viveu tanto em minha cabeça e em minhas fantasias, que eu lembrava dele quando eu via o comercial antigo da TIM, que tinha uma moça usando óculos escuros e que, quando o namorado dela lhe perguntava o que ela estava olhando, ela dizia: "O mar!", mas, na verdade, ela estava olhando Omar, um gostoso que estava na praia. Era propaganda de torpedos SMS.
Achei Omar ontem. Olhei o perfil de Omar hoje.
Pensei, com alguma tristeza, que na minha vida real, eu nunca viveria o que Gabriel García Márquez narra no romance "O amor nos tempos do cólera" - que, por sinal, já citei aqui em fase de paixão por Vinícius, aludindo à primeira fase do livro, que diz: "Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados" (Rio de Janeiro: Record, 2003,p.9).
Florentino Ariza espera por Fermina Dazapor "cinquenta e três anos, sete meses e onze dias, com as respectivas noites" (p. 429) -- que se observe tratar-se da última parte do livro. Neste interregno, ela casa com outro e fica viúva, mas  muitas peripécias até esse encontro, quando já estão bem velhos.
Deixei Omar em paz. Ele não é o rapaz de 16 anos que eu conheci.
Ele será sempre o rapaz de 16 anos que eu conheci, mas para a minha memória.
Iria bagunçar a vida dele e, hoje, ele é um homem com as malícias de homem. De fato, tudo seu preço.
Eu sei que ele lembra de mim. Fui correspondida. A gente só não se entendeu e os caminhos se distanciaram. Como em Vanilla sky, é preciso saber que o tempo passa e em que tempo abrimos os olhos. Ali, tudo é fantasia e a realidade se confunde com a ficção.
Não é por frieza, mas não acredito em amor eterno.
O lindo das coisas é que elas acabam, para deixar saudades, virar lembranças...
Sim, dói quando acaba. Mas dói mais quando acaba e a pessoa não se desprende do cadáver...arrasta a relação morta, o companheiro nulo, a emoção fria, esperando que 'a morte os separe', só por medo de tomar a iniciativa de declarar a causa mortis. Somo assim, em maioria. Somos pessoas do 'ruim com ele, pior sem ele'. Mentira inútil que construímos...Se pudéssemos viver sem dor, seria ótimo...
Bom, mas Omar é uma doce lembrança...Meu príncipe, lindo, magro e alto, que cuidava de mim sem, na época, eu perceber...Deixa Omar em paz, no mar calmo das paixões arrefecidas pelas leves ondas da lembranças boas.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Enquanto não morro, corro!


Vamos falar sério sobre as partes dolorosas da vida? Então, vamos lá, pois você não pode dormir sem saber estas duas novidades: 1) Todo mundo vai morrer um dia; 2) Antes de chegar o dia da morte, se você tiver sorte, terá envelhecido. Pronto! Agora todo mundo está sabendo.
Minha ironia hoje é porque as pessoas têm medo de pensar na morte. E uma hora ela chega. Chega e bafeja quente na nossa nuca, na morte de amigos, parentes, conhecidos, próximos, naqueles que, sem querer, a gente testemunhou expirar... E o processo é assim: a gente nasce; a gente cresce. Acabou o crescimento, tudo é envelhecimento, isto é, a gente começa a se acabar.
Falei aqui, outro dia, dos efeitos da musculação e do reiki sobre meu corpo.
Quando fui à academia, claro que eu queria melhorar meu corpo, mas pelo tipo de pessoa que sou, pouco afeita a ficar parada, contemplativa, num sofá ou num canto qualquer, queria mesmo era movimento.
Valeu a pena.
Hoje, meu treinador me pediu para eu não fazer mais exercícios aeróbicos em dia de treinamento de membros inferiores. Disse ele ser uma sobrecarga. Daí eu passei a entender que meu treino é pesado. Nunca achei isso, porque não sou atleta e, tendo envelhecido, achei que qualquer instrutor fosse me subestimar, passando um treino leve.
Eu não sabia que era pesado.
Não obstante, neste domingo eu tentei comer até enjoar, porque queria ter 61kg e não 60. Dai que tenho mesmo perdido peso e não gosto de exageros que me deixem com a cara pouco saudável.
Não gostei da advertência.
Sempre corri 5 km todo dia (3 correndo e dois andando). Faço com prazer.
Meus treinos de braço são complexos.
Mas vamos lá: não precisamos esconder a idade ou nos fingirmos de novos. Porém, precisamos de exercícios físicos, sim.
Depois que comecei, não posso mais parar.
Iria piorar tudo.
Todo dia a gente morrer. Todo dia o organismo fica mais lento, o metabolismo processa as coisas mais vagarosamente...
Minha cintura voltou para mim, já não tenho uma musculatura gelatinosa no culote, nem me envergonho do meu bumbum, como antes.
Já disse: não tenho corpo de madrinha de escola de samba, mas tenho um corpo com o qual me sinto feliz. E, ainda por cima, sou ativa, agitada, sem pretensões a sedentarismo.
Quanto mais a gente se abandona ao sofá, à inércia, à preguiça, mais a gente cede aos efeitos do envelhecimento.
Não dá para assistir à morte chegar, sem fazer nada.
A barriga sempre irá crescer, se ninguém a detiver.
A celulite irá devastar o corpo, se for deixada correr livremente pelo descampado da preguiça.
Aquele braço que parece uma mortadela ira parecer um botijão, se nada for feito.
Não é pela ditadura da moda, não: é pela saúde física e pelo bem-estar psíquico.
Todo mundo tem o direito a odiar academia - não é um prazer intrínseco, salvo para alguns obstinados. Mas há outras alternativas - dança, corrida, jogos, esportes, natação, corda para pular, sei lá mais o que...
Ninguém vai virar atriz de novela das nove por se exercitar. Porém, sem se exercitar o saldo será bem pior e ainda deixará a pessoa à mercê do processo biológico inerente ao sedentarismo a longo prazo.
Nem tudo que nos faz bem causa prazer.
O prazer é correlato, é o ganho secundário de estar bem consigo.
Tenho  medo de quando me faltar tempo - tenho medo do pretexto dos outros um dia virar um pretexto para mim. Mas nunca faltará tempo para a academia: porém, agora, tenho mais tempo e por isso os resultados são mai rápidos e visíveis.
Agora que não vou mais fazer aeróbicos como antes, entristeço. Gosto de correr. Aprendi a gostar. Antes eu respirava mal, não tinha resistência, vivia com rinite, com uns sufocamentos...
Mas é aquilo que eu disse antes: aqueles que não fizeram atividade física na adolescência, alegando falta de tempo; e na fase adulta não fizeram porque o tempo era para a faculdade, os filhos e etc., sempre fabricarão seus pretextos: a verdade é que não queriam e não fizeram. O pretexto é para si mesmos, mais que para os outros.
Quem quiser melhorar, que corra atrás (ou na frente - só não deixe de correr).


quinta-feira, 2 de junho de 2016

Concorrentes


Vou disputar uma vaga em concurso público com Tatiana. Fui eu quem insistiu para que ela concorresse. Aos 45 do segundo tempo, ela fez a inscrição.
Tatiana teve a dissertação premiada, discute, como eu, relações entre Literatura e História. A diferença é que ela sabe tudo sobre o Brasil República...E eu sou mais para Brasil Colônia.
Como concorrente, eu tenho medo dela. Isso é estimulante: adoro e admiro a minha amiga, que abunda em inteligência, competência e sagacidade...Altamente qualificada!
Um bom nível de concorrentes é estimulante, porque dá aquele medo que extrai o melhor de nós, extrai nossa responsabilidade, afinco e competência...
Tatiana é muito companheira comigo. Está numa barra danada para acabar o doutorado...
Meu amigo, ex-ficante, baixo-astral e invejoso também vai fazer o concurso. Ele que já é efetivo numa federal socada onde o vento faz a curva...Disse que quer vir para perto de Feira. Eu que falei da vaga, mandei os pontos do concurso...Não tenho isso: sempre haverá concorrência.
Minha rixa com ele é que ele é vingativo: nunca aceitou o término do lance entre nós, não admite que eu não tenha saudades do sexo, nem coisa parecida...Aí, quando pode, me evita, corta meu nome de algum trabalho intelectual para o qual me chamam, bloqueia meus caminhos nas universidades em que ele tem ascendência...
E esbarrei nele, aqui em Feira, esses dias: eu estava num péssimo dia. Meu cartão do banco foi bloqueado por imperícia minha, que inverti a sequência de letras da senha...E eu estava sem um tostão. Imagine se ele me daria? Imaginei e pedi, pois eu tinha dinheiro em casa e o empréstimo besta (dez reais) seria pago em meia hora - tempo de voltar à minha casa.
Ele perambulou comigo, conversando, disse não ter um centavo e ficou no meu pé para descobrir o nome do meu namorado, ficante, peguete, seja lá qual o for a função e o nome do cargo.
Eu inventei um nome. Ele não acreditou. Floreei o nome e ele se convenceu.
Como eu tinha reiki, escapei para dentro do Centro Espírita, sob esse pretexto, e encerrei a pauta.
Jamais dividiria nada de minha intimidade com ele.
Mal agradecido - eu ajudei no doutorado dele e nem fui convidada para a defesa, por pura vingança - especulou sobre minha vida com um amigo em comum, porque deduziu que estávamos juntos...E disso se fez o inferno. Ele me cortou de uma função que eu tinha num dado setor da universidade de outro Estado.
Hoje, em especial, não estou bem: estou cansada. Cansaço pesado que excede ao físico.
Que o amanhã traga novas cores ao meu humor. Sigo em paz, mas vou à luta!


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Fazer as pazes com a paz


Cada um com a sua paz, cada um com a sua vida.
Às vezes dou genericamente o conselho que ninguém me pediu, menos por ousadia ou por desejo de interferir, que pelo fato de sereM coisas que funcionaram para mim e que, de certo modo, são coisaS óbvias , mas que não vemos até que alguém nos diga.
Bom, primeiro: esteja em paz. Busque paz. Isso quer dizer que a gente deve evitar brigas e saber jogar água fria quando as coisas esquentam. Só procure briga se dispuser de ânimo e vontade para o engalfinhamento.
Brigue por quem você ama, brigue por uma causa, brigue para manifestar sua ira, brigue para revidar um desaforo, mas só brigue se valer a pena.
Brigar com quem é importante para a gente, brigar com quem amamos, só vai piorar a vida.
Discordar, discutir, confrontar, isso não e briga.
Se você tem amigos que só te colocam para baixo, que te criticam, que têm sempre a certeza de estarem certos e que acham que você merece ouvir despropósitos, para quê você precisa deles?
Amigos de verdade dizem palavras duras; jogam sal nas nossas feridas, mas são episódios esporádicos para a nossa própria reeducação.
Bons amigos nos dão tabefes morais, para a vergonha na cara voltar. Mas isso é feito sem desrespeito, sem humilhação...
Se os amigos só aparecem em sua vida quando as casas deles caem, reveja seu lugar de engenheiro.
Família, se está se reunindo para exibir os prodígios, pedir favores ou criticar sua vida, convém amar à distância. Isso traz a paz.
No trabalho, nada traz maior paz  que viver em silêncio.Sabe a indulgência? Pois, bem: se ouvir alguém falando de outrem, cale a sua boca. Abra seus ouvidos, mas não se meta no assunto. Fale pouco de si.
O Facebook é uma ferramenta em que você recorta episódios de sua vida. Ali não é a sua vida. Cuide de sua reputação virtual: brinque, ria, mostre felicidade, seja generoso no trato com os outros...Mas evite tratar de sua vida real em termos de ganhos, perdas, relacionamentos...Nem tudo precisa ir ao ar. É como aqui: a gente escolhe e pode escolher falsas confissões ou tratar da realidade mesmo. Porém, a gente, na vida real, não cabe nas linhas das postagens.
Eu quero é paz!
Eu quero é viver as coisas boas que não preciso estampar nas fotografias, nem nas redes sociais, nem nos cochichos com os amigos.
Tranco a minha porta. Atendo quem eu quero. Neutralizo inimigos, me livro de ex-amigos chatos e inúteis e de alguns exploradores...
Minha vida continua sendo uma batalha, uma luta...Mas nem por isso perco a paz.