Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Corta essa!


Não sou a palmatória do mundo: também erro, também tenho indecisões, também ‘deixo como está para ver como é que fica’, não por comodismo, mas por não saber como implodir o prédio sem deixar ruínas. Tenho, portanto, questões inacabadas que dependem da movimentação de uma conjuntura para, então, acabar, findar, terminar.
Parte dessas coisas ocorrem porque preciso ser responsável; outra, porque preciso medir consequências. Porém, se eu pudesse, já teria adiantado essa resolução.
Pois é: tanta gente adiando términos de relacionamento, de contratos de trabalho, de amizades...No fim do ano a gente avalia o que será arrastado para o ano seguinte e o que, enfim, será obra da decisão.
Uma pessoa amiga está nessa. Penso comigo: “o que faz alguém preservar um relacionamento que lhe é desagradável, insatisfatório, ruim, por tanto tempo?”. Há respostas, muitas respostas. Mas eis um ponto que a gente deveria levar a sério: não devemos ser como os homens, que acumulam amantes e casamento simultaneamente. Ora, se o casamento é ruim, acaba-se o casamento. Se a amante é boa, elege-se a moça como namorada. Que mania desgraçada esse povo tem de casar ou de constituir relacionamentos sérios que não têm como se sustentar.
Se a vida de solteiro é boa, fique nela. Também não invente relacionamentos para outros verem, para ostentar em rede social ou na família...quanta maluquice!
Amor pode ser bom, pode dar certo...pode: probabilidades, possibilidades...
Estou bem cansada: de novo, o velho dilema da incompreensão frente à minha necessidade de solidão.
Gosto de mim. Não é egoísmo gostar de si. Gosto de estar comigo, de estar só. Como é difícil fazer as pessoas entenderem e respeitarem isso. Aí me vem um ser humano e se instala em minha casa por seis dias. Seis dias! Seis dias em que não me sinto à vontade, em que não tenho privacidade nem momentos bons de introspecção. Logo, me canso!
Tive que explicar novamente que moro sozinha porque gosto de ficar só, de minha privacidade, de minha vida, de minha casa para mim.
Partilho muito do que é meu, de meu cotidiano, meus espaços, minhas vivências, meus poucos bens materiais...Mas, por favor, me deixe só.
Meu poeta, pelo menos, entende isso. Não tenho que gastar laudas com explicações quanto a isso...
Há dias, todavia, que torço para ele crescer. Ah, quando me indicam que Sagitário é o arquétipo da eterna criancice, eu enlouqueço! Tem dias em que preciso enfrentar as infantilidades dele que, para pior, é infantil numas coisas, mas não tem bom humor algum. Mas, tudo bem, vamos vivendo – e em cada coisa em que a gente se entende, fico temendo que essa paridade signifique que nossos defeitos também são afins. Não sei se eu aguentaria.
Olha eu aqui tratando disso e, em paralelo, concluindo que por melhor que seja um relacionamento, ele terá falhas, defeitos, problemas, lacunas...

É o que me faz gostar de namoros: sabemos disso. Não fazemos promessas de fidelidades infinitas, de amor eterno, coisas humanamente impossíveis...aceitamos os altos e baixos e não queremos arrancar a flor mais bonita do campo, nem prender o pássaro mais bonito na gaiola, para tê-los para nós. 

sábado, 9 de dezembro de 2017

Do amor à covardia


Como costumo dizer, as coisas mais simples e mais óbvias nos passam despercebidas, mas é lá que estão as melhores respostas. Assim foi que eu prestei atenção numa fala do Leandro Karnal, numa das palestras dele, e fiquei intrigada.
Dizia ele que as pessoas que ouvem vozes, só ouvem comandos para matar, atirar, destruir, se suicidar...E que ninguém ouve vozes dizendo “vá lavar suas roupas”, “vá aprender inglês”, “vá ler romances”. Não era subestima com relação aos esquizofrênicos, não. Era uma constatação sagaz.
Tá aí: fiquei pensando nisso, nessa coerência maravilhosa que ele traz.
Eu, que tenho amigas que ouvem ou já ouviram vozes, que nem sei contar quantos amigos suicidas tenho (e se tenho é porque fracassaram nas tentativas de morrer ou aprenderam a administrar a angústia de viver), que igualmente tenho um rebanho de amigos (homens) gays em constante crise de identidade sexual, trancados em armários blindados de segurança máxima, só posso me alegrar em constatar, mediante a observação do citado historiador, que essas pessoas podem ser orientadas a ouvir vozes melhores e melhorar a si mesmas.
Quem disse que viver é fácil?
Mas o povo quer resolver a vida com Rivotril, com Ritalina, com Risperidona, com vodka...
A vida nunca se resolve por completo. Porém, podemos construir um ponto de estabilidade e seguir em frente.
A segunda coisa óbvia que descobri nesta semana, foi na academia, ao encontrar um amigo queixoso do amor mal terminado com um namorado.
Por contexto geral, ele observou que as pessoas não terminavam suas relações ruins porque não aguentavam conviver com a tristeza que vem após o término.
Ele se referiu a outro amigo infeliz no amor, que preferiu manter o casamento com um rapaz que ele não amava mais, alegando que não suportava a tristeza da separação. Logo, concluímos que é assim mesmo: as pessoas preferem um relacionamento ruim à tristeza do término.
Não somos adeptos de carregar dores. O problema é que a dor existe.
Um amiga também chorosa por ter terminado com a namorada dela, escreveu mil laudas para externar a dor da separação. Até esse ponto, desceu muito baixo, interferiu na vida da ex, rastejou, tentou de tudo... E também disso eu concluí que as pessoas realmente acreditam que possa haver amor eterno.
Amor duradouro há. Amor eterno, jamais. Isso é coisa construída pela filosofia, pela literatura, pelo cinema, pela cultura em geral...Não daria para haver esse amor infinito.
As relações podem continuar, mas amor, amor sempre acaba.
Como diz uma outra amiga, a gente briga com pai, com mãe, com irmãos, com os filhos, com os seres mais amados, quanto mais com os que veem como adjuntos?
Somos covardes, isso sim..
As pessoas ficam se agredindo, desfazendo um do outro, brigando em público, sem reconhecer que se tornaram inimigas, que não se amam. Trocam ofensas num dia e presentes nas datas comemorativas, para tentar remendar o que não tem conserto. Tantos sinais e, ainda assim, as pessoas esperam os hematomas afetivos desaparecerem para fazer de conta que a relação sobreviveu. Ora, sobreviveu com a ajuda de aparelhos, artificialmente
Terminar, ficar só por tempo indeterminado, procurar outra pessoa e reiniciar outro ciclo é bastante cansativo e incerto.
Viver a eterna pressão dos ciúmes, a vigilância, a desconfiança, as inseguranças, é para quem aguenta a carga.
Meu primo hipócrita, aquele respeitável pai de família que gastava uma boa grana com prostitutas, admitiu que o casamento ele é um porre, mas que dá a ele estabilidade emocional.
Esse caso é bem engraçado, porque ela, a esposa, também enjoou dele, mas nunca terminaria o casamento porque não seria bem vista na família.
Todo mundo tem problema. Tenho muitos. Parte do que exponho, já vivi ou acompanhei quem viveu.
Contei da minha covardia em terminar uma relação ruim; o que mudou foi que eu passei a ver isso. Daí que vi e resolvi, mas levou tempo.
Tem um lado muito bom na conquista dessa paz: resolver um problema é acabar com o problema. O remédio alivia o sintoma. Os amantes aliviam os sintomas. A cura é um processo, mas não é para preguiçosos.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Do belo ao trágico


Coincidências lindas que nos ocorrem de vez em quando: na sexta passada eu obtive uma interessante vitória profissional, correlacionada à obra de meu poeta ficante (um estudo que fiz do segundo livro dele). No sábado, ele obteve a vitória num concurso literário, no sudeste. Ficamos ambos reciprocamente felizes e, novamente, olha aí a prova de que quando a gente gosta de alguém, confunde as próprias vitórias com as do outro.
De fato, ele merece.
Fez um poema lindo - e se sou crítica de mim mesma, quanto mais dele! Tanto assim que continuo fechada aos dois últimos livros que ele lançou.
Foi a primeira manifestação de respeito profissional por mim, que ele esboçou. Também, nunca abri as portas, não dou essa ousadia de deixar ele migrar para intimidades particulares. Igualmente, sempre achei que ele me subestimasse também - aquele ego é bem grande.
Bem, passando ao lado B da vida, tenho tido uns atritos com esse povo politicamente correto, esse povo da vigilância semântica, da patrulha ideológica, o povo que come certo, pensa certo, age certo, só faz o certo e só tem opiniões certas, porque a identidade de um grupo de que participo mudou completamente, virou radical ortodoxa.
Defendem fracos, oprimidos, minorias...Mas não defendem seu semelhante mais próximo, pois vivem em postura de ódio, armados, com os ouvidos abertos a fim de distorcer qualquer coisa.
Penso que para cada mal-entendido deve haver um mal-explicado. Porém, nem é assim.
Comentei do quanto o presidente brasileiro pode ser filho da pátria, mas não um filho de Deus - reiterei dizendo que ele era filho adotivo de Deus, mas cria real do capeta.
Um ser humano distorceu, de modo a parecer que eu era contra a adoção.
Tenha dó!
Olha a distância!
Eu sou a favor de que a pessoa adote até os filhos de Gandhi, quanto mais!
Fora de brincadeira, até como espírita, sei que somos fundamentalmente adotivos, adotados por nossos pais consanguíneos, porque como espíritos somos filhos de Deus. Vivo dizendo que família verdadeira é aquela que o coração escolhe - creio nisso verdadeiramente também...E vem um ser humano, que supostamente me conhece, e inventa essa para mim.
Dói um bocado, devido à injustiça.
Porém, o que eu iria querer num ambiente (virtual) em que esperam o pior de mim? Caí fora!
E se fosse? eu não teria o direito de ter uma opinião contrária?
Só é lícito pensar como a maioria pensa?
Lembrei e muito de certa pessoa que me mandava 'rever meus conceitos', sempre que eu discordava. Ou seja, rever meus conceitos é me converter aos conceitos dela, à opinião dela.
Lógico que a gente pode mudar de opinião. Que bom! Mas e a parte em que somos convictos e somos como somos?
Ortodoxias...
Enfim, ignorância sempre é algo lamentável.
Não é somente isso: é a ânsia por ofender ou por se fazer de ofendido;  é a contradição de quem defende a igualdade, mas somente a igualdade de opiniões. Nesse caso, eu nem sou contra adoção coisa nenhuma, foi a pessoa que foi escrota e quis causar em cima do meu couro.
É, deixemos as pessoas nefastas de lado, mas isso serve para refletir.
Ela já me fez muitas coisas boas. Talvez tenha esse ódio porque sonhou em ser mãe e não foi e vai adotar como último recurso e, no fundo, tenha ódio de mim, que jamais quis ser mãe.
Se eu for contar as vezes em que fui discriminada por isso, saio daqui somente em 2045.
Está aí uma coisa que poucas pessoas aceitem: que minha opinião e escolha sejam estas. É a minha verdade. É o que sou e o que eu penso.
A vida tem opções. Cada um com as suas.

domingo, 5 de novembro de 2017

Por trás da sombra


O caso é que eu me importo mais do que admito me importar. Não sei porque tenho essas coisas de me calar, às vezes...acho que é porque sei que certas coisas são claras, óbvias demais para serem discutidas...
Por que será que tudo muda depois de uma briga?? Por que será que o poeta com quem me relaciono espera que eu me enfureça para, então, fazer o que deve, agir como deve, se ao me enfurecer ele já sabe a razão e a solução para o caso?
Bem poderia ser todos os dias aquela paz, aquela ausência de conflitos, aquela extinção da guerra fria que estabeleço a cada negligência dele.
Paciência é coisa pequeninha em minha vida, mas ele desafia, ele põe a minha em vias de extinção...Depois, reclama que estou furiosa.
Tenho um relacionamento longo com o tédio. Nunca me casaria por isso: todo amor acaba; todo convívio incessante termina por sufocar e renovação não é essa bobagem de usar fantasias ou fazer viagens para lugares novos. Relacionamentos envelhecem e ficam ranzizas...
Outra face da verdadeira autoestima é composta pelo quanto a gente aprecia e si mesmo. Isso significa preservar um tempo para estar a sós consigo, se descobrindo, se curtindo, caminhando sozinho, fazendo delícias na cozinha para si mesmo; dando-se doses de prazer e satisfação... Os outros são apenas convidados com quem partilhamos coisas, talvez o melhor de nós.
Já me prendi em relacionamentos doentios porque tive dependência emocional.
Já fiz muita criancice, do tipo substituir um homem por outro parecido; construir amores rapidamente, a fim de não ter tempo para encarar o vazio da relação que acabou; já experimentei ser como os outros, vivendo amores descartáveis e vazios. Posso dizer que são péssimas opções. Melhor encarar, superar a dor e seguir com honestidade emocional.
Sou sincera: me canso das pessoas. De toda e de qualquer pessoa. Preciso sempre de um tempo.
Pratico algumas leviandades com o poeta, mas é por pura preguiça de enfrentar o desgaste das questões sérias, não é por desvio moral – são coisas dele que eu finjo acreditar, são pontos de vista que eu finjo concordar, são coisas que estão mais para o contrabando de opiniões do que para traições implícitas.
Gosto muito dele. Não amo. Amei pouco na vida. Amei menos do que eu pensava, do que falei...Hoje eu vejo o quanto decepcionei os que se pensavam amados, menos por minhas declarações gongóricas, exageradas, hiperbólicas, do que por meus gestos. Acho que tratei esse povo todo, que foi meu namorado e meu affair, com doses altas de carinho, atenção e gestos amorosos, a tal ponto que se julgavam amados – lembrei de FJ, que se achava amado. Não foi por vingança que o convenci do contrário. Há esse lado de que se quero me desvencilhar, acabo a relação e sigo meu rumo.
Hoje em dia hesito, mas sei que isso é calculismo meu: fico pesando prós e contras... Tem relacionamento meu que durou, justamente, dada a sua desimportância.
Aqui não há discurso de eterno vencedor não, porque eu admito os chifres que já levei, as humilhações pelas quais já passei; as rejeições que sofri; os foras que tomei...Minha vida não é perfeita como a dessas pessoas que se dão bem todo dia, até porque minha vida é real. Porém, essas são páginas passadas que espero que não se repitam.

Lá vou eu e o poeta...Lá vamos nós...Lá vão os nós, por tempo indeterminado.

sábado, 28 de outubro de 2017

O ser em si, só.


Às vezes pego o ritmo dos concursos e parece que não sei mais me reintegrar à vida ao sair deles.
Sei lá, altera a rotina, vivo para aquilo...Comemoro cada etapa vencida, sem alegria eufórica, apenas com o cansaço da batalha, mas já com o pé em outra...
Também não sei o que seria de minha vida sem minhas batalhas, já que não sou uma pessoa que fique tranquilamente parada à espera do próximo capítulo, do próximo desafio...Reitero a Odisseia: a vida é batalha e é jornada.
De vez em quando o desafio é comigo mesma, nas decisões. Odeio tomar decisões porque elas se enroscam no meu orgulho e se tornam coisas petrificadas, fixas e eu não sei voltar atrás – salvo, é, claro, se a decisão me gerar dor ou prejuízo...Aí eu pego o rumo de volta e reinicio em outra alternativa.
Ainda me vejo esquisita por gostar de ficar sozinha. Nada é mais gostoso que a solidão que me permite orar em voz alta, tomar banho por longos minutos, ouvir minha música preferida, cantar e dançar; dormir até quando o sono for embora; tirar fotos de mim mesma para o meu próprio deleite; ver ou rever um filme; cuidar dos meus cabelos sem ninguém para contabilizar o tempo.
Tem uma parte em A paixão segundo GH, de Clarice Lispector (ora e tem um episódio de Todo mundo odeia o Chris, em que Rochelle também o faz), em que a personagem principal comemora o fato de estar sozinha em casa.
Finalmente, as crianças na escola, o marido no trabalho, a casa sem empregada... “Eram quase dez da manhã, e há muito tempo meu apartamento não me pertencia tanto.” (LISPECTOR, 1998, p. 24).
Gosto dessa boa solidão. Para ser exata (juro: com sinceridade), até o natal de cada ano eu faço questão de passar em minha casa, sozinha. Sem falsos cumprimentos, sem amigo-secreto mala, mas com enfeite e boa comida.
Já o réveillon, tudo bem: gosto de gente, de turma, de festa.
Tenho prazo de validade de tolerância para o convívio coletivo: não aguento ninguém continuamente comigo por mais de cinco dias.
Se as viagens obrigarem a isso, vou dar um jeito e sair sozinha para estar comigo.
Isso vale para os concursos: gosto de estudar sozinha e ficar sozinha e isolada.
Gosto de ensaiar minha aula pública sozinha. Se eu não ensaiar, com certeza serei reprovada.
Há coisas que só sei fazer a dois; e outras que são só minhas – de igual maneira, há segredos só nossos. Mas, reconheço: oh, troço ruim é respeitar a privacidade dos outros.
O povo tem mania de vasculhar, de travar escuta de telefonema e família, de amigos, de catar coisas do passado.
Eis uma coisa que eu odeio e odeio tanto quanto não faço: encontrar gente que não vejo há anos e ficar perguntando sobre o contexto daquela época ou, ainda, expor situações do passado, sejam boas ou más, ao grupo em quer que eu esteja.
Passado é um território particular. Não invada nem force a entrada.
Há uma outra coisa particular que me deixa bem triste em ter feito sozinha: durante todo o tempo em que trabalhei na UFBA, aos domingos, 15h40, eu saía da minha casa, dirigindo pela BR 324 até à Barra, em Salvador, onde eu me hospedava. Ia sozinha. Tinha minha trilha sonora. Era um dor, uma tristeza, sem precedentes.
Lembro o sol intenso do verão tirando minha visão quando eu passava no trecho inicial da BR em Salvador.
Levava, além de malas e livros, a tristeza de deixar a minha casa.
Deixar a minha casa num domingo era deveras triste.
Chegar a Salvador numa noite de domingo, era sempre triste – por mais que eu rodasse no shopping para tomar café gelado, ver vitrines...Tinha o agravante de amar Vinícius, aquele amor platônico por alguém a quem nunca tive, nunca toquei, mas sempre esperei e vivi o sentimento com a mais absoluta verdade interior.
Porém, para voltar para minha casa, eu adorava estar sozinha. Uma delícia! Excitante, até.
De tudo, se eu pudesse dar um conselho, uma dica realmente útil, eu diria aos sofredores, aos desesperados, à turma da angústia: tudo se torna passado.
E diria aos felizes: aproveitem que tudo se torna passado e façam o possível para prolongar a felicidade. Vivam os prazeres com voracidade, justamente porque tudo se torna passado.



sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Insegurança máxima


Não é somente o Ex-Grande Amor da Minha Vida: algumas amigas (e ex-amigas), adoram grude e amor ostensivo.
Fazer cenas, escândalos em público por ciúmes descabidos, exibir o amor em outdoors, mostrar e fotografar intimidades de presentes que só dizem respeito a duas pessoas, como a tecer aquele ‘amor de dar inveja’, ao qual só faltam as pétalas de rosa caindo do helicóptero.
Não acho exatamente feio tudo isso. Quando eu não amava, achava que era assim que deveria ser. Eu não sabia que era uma forma doentia de lidar com sentimentos. Achava o máximo quem tinha um amado que presenteava ostensivamente. Hoje, sei que não é assim.
As pessoas estão cada vez mais sós, ainda que casadas, ainda que enturmadas – só falta a coragem de assumir.
Há coisas que eu também escondo de mim mesma, para a minha proteção. Mas no mais geral, penso e discuto sobre a morte, que um dia virá me buscar; sobre perdas, decepções, velhice, términos...Tipo de coisas que é melhor nem pensar, mas que convém pensar.
Escolhi não ter filhos e desde criança nunca vi barato em ser mãe. Nem brincando de boneca tinha aquele fascínio que a cultura impõe ou desperta nas moças habilitadas. Há muita honestidade em minha escolha.
Nunca vi tristeza em me enxergar sozinha. Acho a solidão excitante. Estar só e estar consigo. Quando abdico de estar sozinha, é porque encontrei uma companhia muita boa. Até com o meu poeta é assim: a dose da presença.
Lembrei dessas coisas porque outra amiga veio discutir nossos Ex-Grandes Amores e a postura deles, sufocante!
Acho feio e assustador alguém que passa o dia inteiro importunando quem supostamente é objeto de seu amor, com mensagem, com telefonemas, como se a pessoa não dirigisse, não fosse ao banheiro, não tivesse o direito de ter atividades suas, pessoais. Uma coisa de que nunca deveríamos prescindir é do cuidado com quem a gente inclui em nossa vida.
Esses referidos ex tinham históricos de entrar na sala do médico, dentista e ginecologista na consulta que era nossa. Nunca aceitei isso. Nunca aceitaria isso.
Um deles, inclusive, quis entrar comigo na sala da Psicanalista – algo impensável. Se tem alguma mente doente que ache que isso aí é amor e cuidado, deveria ir se tratar.
Essas são mentes perigosas e doentes, de gente sem noção, que quer ser única e absoluta na vida do Outro.
São vampiros que sugam o ar e bebem a vida do indivíduo e ainda são capazes de querer um perfil compartilhado no Facebook, num ponto de fusão que nada tem de nobre ou de saudável.
Muitas pessoas acham que relacionamento estável é isso. Certamente que não sabem que não há garantias...
Lembrei das “Mil e uma noites”, que antes de ser uma história de fascínio pela narrativa, é uma história de amor doente. Lembram? Quando o sultão descobre que a primeira esposa o traiu com um serviçal, mata a coitada e decide que, a partir dali, ele terá uma esposa por dia. No dia seguinte às núpcias, o carrasco matará aquela esposa. É o jeito que ele tem de se garantir contra a traição.
Vejam bem que doentio!
O sultão já não vê outro meio senão matar as esposas logo após o primeiro dia de sexo.
Até que Sherazade o incita, com suas histórias (a pretexto de contar histórias para a irmã dela, instalada no palácio, como se fosse um último pedido, porque ela sabe que vai morrer). Mas ele se deixa levar, porque se encanta com as histórias, que se prolongam pelas mil e uma noites.. e o resto todos nós sabemos.
Amor de segurança máxima, com cerca, alarme e ronda constante...Deus me livre!
Segurança é isso? Reforçar a vigilância com medo da perda? É isso?
Bom, se alguém nos sufoca, na esperança de se tornar nossa vida, pobre de nós: já estamos mortos.
É muito bom ter alguém com quem a gente deseja compartilhar todos os momentos da vida, mas se for toda a nossa vida, somos nós que estamos doentes e prescindimos de viver.
Tem muita gente assim no planeta. Tem gente assim bem perto de nós. Tem gente que é assim com a mãe, com o filho e com a amiga também; que não sejamos nós a ser assim.


quarta-feira, 11 de outubro de 2017

A sombra da inveja


Se tem uma dor que incomoda incessantemente, é a de notar que aquele amigo, pessoa próxima ou parente ao qual dedicamos amor e confiança, expressa inveja de nós.
Há quem goste de ser invejado. Eu, não. Acho a inveja uma afronta ao meu merecimento.
Meu poeta e ficante desfez uma amizade, recentemente, por isso. A inveja do amigo dele ficou bastante explícita. Eu entendi. Talvez o cara nem tenha percebido que a máscara caiu – digo que senti muito, porque um amigo é sempre alguém de quem a gente gosta. Desfazer uma amizade não é um ato prazeroso. A gente simplesmente não bloqueia, exclui e tira a pessoa de nossa história – ficam as marcas, ficam até as boas lembranças, mas, por outro lado, fica, em primeiro plano, o fator gerador da inimizade.
Nem sempre deixar de ser amigo significa passar a ser inimigo. Pode acontecer, claro. Contudo, respondendo por mim e por meu par, pode ser apenas a anulação daquela pessoa.
Há pessoas que eu gosto, tenho por amigas, mas não tenho confiança
Meu caso particular de enfrentamento de inveja foi doloroso: minha amiga, a quem eu costumava dar sapatos, bolsas e perfumes muitas vezes sem um único uso, viu meu guarda-roupa, meus perfumes, minhas roupas...Sentou em minha cama e chorou. Chorou de inveja e verbalizou sobre as escolhas que ela fez. Isso tem um tempo!
Falou da má escolha por parceiros e por ter tido filhos, disse que meu tesouro era minha liberdade e que tudo que eu tinha era, antes de tudo, porque eu não tinha filhos.
Vamos traduzir: era inveja de minha vida, da vida que eu tinha, uma vida que pertencia a mim e que me permitia bater a porta e sair pelo mundo; ou trancar a porta e ficar no meu mundo particular, de minha casa.
Já tive episódios de inveja, coisas esparsas, sempre no plano de admirar quem tem família culta e educada, com a qual se pode trocar ideias; mas me serviria, igualmente, uma família pobre e analfabeta que reconhecesse o valor do estudo.
Os amores bem correspondidos, quem não inveja? A beleza, a riqueza, a inteligência, a felicidade...Mas não é a inveja de querer tomar o que é do outro, nem de maldizer o merecimento a pessoa ou de atacar moralmente quem tem o que não temos.
Quando a gente é invejado, perde muito. Perde a paz e perde a confiança nos outros, logo de cara.
Tem mais medo de mal olhado e teme gente interesseira. Fora que constantemente se é vítima de maledicência e armações – quantos não morrer por serem invejados por gente doentia? Entendo muito disso, porque convivi com madrasta e sei o que passei.
Ando magoada com uma amiga que foi morar longe: todas as vezes em que mantive contato, ela foi fria e distante, monossilábica e antipática, a tal ponto que cogitei influência de terceiros.
Não procuro mais. Acabou o contato, para mim. E sinto muito, porque eu gosto dela de verdade, desejo o bem, gosto gratuitamente mesmo, sem querer empréstimos, favores ou benefícios. Todavia, acho muito escrota a atitude dela, de uma frieza sem causas. Amizades tem isso também: a gente precisa se tocar quando o outro dá claros sinais de desimportância ao nosso contato. Neste caso, acionei o ‘foda-se’ e nunca mais quero saber nada sobre ela, nem vou perguntar...E se nenhuma circunstância favorecer um encontro, nunca mais a verei – e numa boa, que seja feliz e foda-se! Tenho mais o que fazer.

Isso também é parte da autoestima: não pense que autoestima é estar bonitinho, se achar bonitinho do jeito que se é. Autoestima é ter estima por si. Se você tem um bichinho de estimação, sabe que há ali uma relação entre o amor e o cuidado. Logo, se você se ama, se cuida – por dentro e por fora. Isso inclui se preservar da maus tratos, de relações que fazem mal, inclui não fugir da balança e fazer sacrifícios pela saúde e pela preservação de si, inclui não se deixar pisotear pelos outros e agir com a devida prudência para estar bem e se melhorar. Inclui aquilo de que você se livra por não te fazer bem – seja um vício, um hábito ou uma amizade.

sábado, 23 de setembro de 2017

Uso desproporcional da força


Resolvi intitular essa postagem como ‘uso desproporcional da força’, devido a um fato ocorrido hoje. Na verdade, o fato a ser relatado foi apenas a culminância de uma tendência que se desenha num grupo de what’s app que eu participo, mas a narrativa da situação particular é porque sei que ela se generaliza.
Um amigo homossexual enviou para mim um vídeo debochado, de brincadeira, onde um ator homossexual pede ao seu suposto companheiro para sair do armário. Até aqui todos eles sabem se tratar de uma brincadeira e todos, igualmente, são pessoas respeitáveis que, por uma dose de humor escrachado, não prescindiram do respeito próprio.
Repassado ao grupo, a patrulha do politicamente correto aviltou, atacou o vídeo, a pretexto de que o ator se prestara “àquilo” e o que era um momento de leveza virou um debate denso, chato, repetitivo e desnecessário haja vista o perfil do grupo e, em particular, o meu próprio.
Há lições que devem ser dadas a quem desconhece as causas, às pessoas verdadeiramente preconceituosas que, ainda assim, não merecem ataques: merecem educação. Merecem, ainda, uma chance de compreender as coisas que lhes são objeto de preconceitos, sob outros ângulos.
Como eu disse, essa foi a culminância de um processo. Faz tempo que não se pode rir de nada – nem de um estereótipo, nem de um inglês deturpado de um bêbado num karaokê. Tudo foi obrigado a se submeter à sisudez do discurso político. E eu fico pensando em quantas minorias eu me encaixo mas, ainda assim, sei discernir quem me ofende e quem simplesmente brinca; sei o que é um estereótipo e as estratégias usadas para diluí-lo.
Vejo nisso o uso desproporcional da força – da força retórica que poderia estar a serviço de uma causa real ou contra um verdadeiro elemento opressor de minorias; da força simbólica para cooptar consciências e se colocar a serviço da conscientização, da educação das relações sociais...
Afora isso, criou-se uma barreira interior em mim, de modo que não me sinto mais integrante do grupo, não me sinto à vontade e não vou permanecer em eterna vigilância para seguir o script para só rir do que é permitido, para ser coagida a concordar com pensamentos ortodoxos, engessados nas bandeiras das causas pessoais.
Depois que a gente cresce, passa a ter escolhas. Eu escolho também aquilo a que me permito me submeter e, sendo assim, não quero me submeter a isso não. Estou fora!


sábado, 16 de setembro de 2017

Em falta


Não é porque as pessoas têm tudo que não lhes falta nada.
Sempre invejei quem teve condições favoráveis a si, tipo uma família amiga, com gente educada, letrada, harmoniosa; ou mesmo quem teve uma família pobre, de pais analfabetos, mas educógena, que valorizasse o estudar e a cultura letrada...Quem nasceu bonito, rico, inteligente...Mas nem assim se tem tudo. Mesmo quando essas coisas existem, em todo ser humano há uma falta.
Tem gente que pensa que essa falta se completa com um filho; outros pensam que a falta se compensa com casamento, com um amor a qualquer custo...ou com dinheiro...
A única coisa que nunca nos faltará é essa falta. Universal.
Tem muitos conhecidos meus (e até ex-amores) preenchendo a vida com seus vícios – em sexo, cocaína, álcool, manias de grandeza e outras drogas.
No momento minha falta também está bem evidente: é que um ex-namorado veio me fazer cobranças afetivas de uma década atrás.
Ele guardou o ódio. Ódio conservado em barril de carvalho, curtido e nunca envelhecido. Jogou na minha cara. Ódio 100% puro, concentrado. E o efeito foi corrosivo, porque nem o amor por outro, responsável por nossa separação real, existe mais. O ódio do ex, sim, existe intacto.
Jogou em minha cara as lágrimas e as dores.
Eu amava aquele a quem chamo de Ex-Grande Amor da Minha Vida. Não foi escolha. Acho que foi a Florbela Espanca quem disse algo como: “Ama-se a quem se ama e não a quem se quer amar.” Ele não entende isso.
Aconteceu com uma aluna minha também: o marido foi embora. Ficou quatro anos em outro Estado. Casou com outra. Ela deduziu que ele seguiu em frente, tudo acabado, vida que segue...Constituiu outro relacionamento. Ele soube. Veio cobrar a conta como quem cobra a anuidade de título de dívida contraída e foi violento.
Em verdade, vos digo que uma briga de palavrões e ofensas trocados fere menos que essa vazante de ódio.
Um xinga, o outro xinga e pronto. Cada um se recolhe com seu desagravo.
Mas esses exercícios de ódio doem mais.
Penso que, de tudo que vivemos, ele só conservou a memória afetiva do sofrimento quando eu me apaixonei por outro. Das incontáveis desfeitas, humilhações, traições que eu sofri, até chegar a este ponto de me apaixonar por outro homem, ele não lembra.
Mesmo quando ele casou com outra e eu inventei de seguir em frente, num novo affair, ele achou que eu pertencia a ele, que traí. Fui fiel e burramente fiel durante o relacionamento da gente e por muito tempo. Traí em outras ocasiões, por puro chumbo trocado.
Geralmente as pessoas não perdoam o fato de não mais as amarmos.
Juro: até Vini, nessa semana, gravou dois áudios para mim, a fim de dizer que estava com saudades.
Não eram saudades como nunca fora amor: é saudades de ser amado e paparicado por mim. Esse povo tem ego sensível. Eu também tenho ego.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Das batalhas e das escolhas


Nem sei se isso é preguiça ou acomodação, mas em maioria, nós somos bastante afeitos à lei do menor esforço. Nem há novidades, é o de sempre: as pessoas querem emagrecer sem deixar de comer à vontade; ter um corpo bonito sem fazer exercício; passar em concursos sem ter que estudar; ganhar sem ter que lutar, enfim, que Deus provenha as coisas, os prêmios, as conquistas...
No fundo, sabemos a receita: para mudar o que está ruim, não tem jeito, é a gente que tem que planejar e mudar.
O emprego ruim vai ser eternamente ruim. Para sair dele, só ficando nele e ir, em paralelo, se preparando, com cursos e concursos, a longo prazo, para fazer uma troca melhor; para sair de um relacionamento ruim, não basta parar e esperar outra pessoa que venha substituir a atual, é necessário ir trabalhando o distanciamento emocional e ir se melhorando para fazer jus e causar interesse em gente interessante...Enfim, nada se faz sem nossa participação.
Às vezes, o fato de sermos planejados, metódicos ou calculistas, é muito mal interpretado. Porém, sem organização e método, não se faz nem um bolo. Improviso é coisa de falta de profissionalismo, é uma aposta cega e um recurso ao que se deve dar vazão apenas se todas as alterativas possíveis forem esgotadas.
Só se conserta uma quebradeira financeira através de dinheiro. Para ter dinheiro é preciso ganhar e guardar uma parte.
Para poupar, comece guardando quantias insignificantes. Aqueles 20, 50 ou 100 reais por mês, que não lhe farão falta. Que seja pouco, mas que seja continuo.
Largue lá, na poupança. Não faça conta. Considere como sendo uma prestação.
Apenda a deixar seu dinheiro quieto. Consulte seu saldo apenas a cada quatro meses, para evitar ansiedades.
Só se permita sacar a partir do décimo mês.
Pronto! Agora você tem dinheiro. Aos poucos, vá aumentando o valor de seus depósitos.
Não se deixe vencer por gente invejosa: tem pessoas que acham que guardar dinheiro só vale se previamente se tem uma meta. Não: a gente guarda para ter tranquilidade. Você pode até dar um nome à sua poupança, mas aprenda a guardar dinheiro à toa.
Quando bem entender, use. Mas nunca deixe sua conta zerada.
Se puder, aplique em títulos da dívida pública ou em dólar, sem medo. Seu dinheiro não vai desaparecer se você o aplicar em fundos confiáveis. Nunca esqueça que capitalização não é poupança e é uma roubada, uma fria, uma cilada. Não vá nessa.
Se vai comprar carro, saiba esperar. Dá para comprar à vista ou, pelo menos, financiar o mínimo possível.
São apenas conselhos. Eu diria o mesmo para quem quer emagrecer: siga comendo o que você gosta. Diminua a quantidade de modo que não afete seu prazer de comer. Diminua 100gramas, um bombom, uma guloseima, um pão... apenas diminua.
Espere um mês. Vá diminuindo e substituindo gradativamente por alimentos menos calóricos e igualmente nutritivos. Consulte seu peso mensalmente, Se valer, prossiga com ajuda profissional e reoriente a sua dieta.
Ande 500 metros num passo mais acelerado de caminhada. 500 metros qualquer um pode caminhar.
Aumente gradativamente, contanto que não lhe cause desconforto e se você não tive impedimentos cardíacos ou restrições de saúde para atividades físicas.
Escolha sua forma de atividade física e veja o resultado.

Nesses breves conselhos, meu recado clichê para quem quer mudanças: dê o primeiro passo. Traga para si a responsabilidade de mudar. Ninguém faz isso por nós. Faça a diferença. Faça diferente.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Sobre os teus ombros


Gosto tanto dos ombros dele quanto ele gosta das minhas costas. Gosto daquelas imperfeições minúsculas, que são as espinhas, que dão uma textura suave de açúcar cristal à pele doce que ele tem...doce e branca, que fica marcada pelo batom.
Ontem ele me disse que eu o feria com meu carinho, com minha doçura e que nem percebia. É que andamos brigando...Brigar com ele detona meu dia...Ele se calou, se controlando, para não me dizer coisas que iriam me deixar irada.
Fez a parte dele para a gente não terminar.
Eu achei que eu tinha razão.
Depois, vi que a razão era dele, toda dele...Cobrei o que nem eu pagaria, joguei alto e blefei absurdamente...A consciência me aconselhou a pedir desculpas... Ele não disse que me desculpava...Depois foi que ele demonstrou que me desculpava. Mas me disse tudo que extrapolei, onde errei, onde exagerei e eu prefiro assim mesmo.
Eu disse que briga a gente deixa para travar com os inimigos, não com quem a gente gosta. Antes de mim, ele soube que não valeria o desgaste. Assim, fez-se a paz...O amor também, porque os corpos comemoram a paz de uma outra forma.
Cheguei bem perto das dores dele. Temi a intimidade. Queria que nunca passasse disso, desse namoro eterno não-reconhecido legalmente, mas praticado e exercido na lisura do nosso recíproco querer.
Ele canta feliz, ao tomar banho, sempre que a gente fica bem: acordes que acordam para a vida, para a cumplicidade...Sabemos que não é amor, mas é intenso e saboroso.

domingo, 13 de agosto de 2017

Filhos do pai


Alegria pura, sem gelo e açúcar. Nunca fui de misturar alegria e álcool. Não gosto de álcool e nada em minha vida combina com ele, por mais que eu ache vinho e champanhe coisas deveras elegantes de se degustar.
Ratifico: não é por moralismo, mas por sabores e efeitos. Gosto da vida pura. Nas tristezas e angústias, também. Se muito misturo, é um chá. Gosto de café para pensar. Minha droga é café, uma xícara de manhã e outra à noite – raramente coisas que ultrapassem 160 ml. em cada turno.
Hoje é dia dos pais. Também não coloco aditivos onde não há e, verdade seja dita, cumpri meu ritual hipócrita: telefonei para o meu pai e felicitei pela passagem da data comemorativa.
Amo meu pai, mas é um amor com mágoas – o coração, cheio de manchas roxas. A distância emocional, uns 34455km.
Meu pai não foi provedor de forma alguma: nem material nem emocionalmente. Ele não se enxerga. Não digo isso no sentido usual da palavra, mas literal: ele não olha para si, ele não sabe que é negligente e monstruoso comigo, ele se acha uma das melhores pessoas da Terra e o melhor pai que alguém poderia ter.
Meu pai me rendeu muita terapia.
Hoje, rende muita introspecção espiritual, no difícil exercício do perdão, da admissão da coerência da lei de causa e efeito.
Há famílias felizes. Há pais que são bons, porque se não proveem materialmente, são afetuosos, divertidos, interessados, presentes. Posso dizer que a pior orfandade é essa, de saber que se tem um pai vivo, geograficamente próximo, saudável e lúcido, que não dá a mínima à prole. Em meu caso, então, que sou filha única, isso pesa mais. Antes, quando eu entendia pouco das coisas, achava que meu pai não tinha obrigação de me amar e ponto final, porque as pessoas são como são e talvez ele simplesmente não soubesse amar.
Com o tempo, vi o amor imenso que ele tem pelas filhas de minha madrasta, pelos filhos delas, seus netos afetivos mas não consanguíneos.
Mas eu sou assim: tomo os venenos da vida sem anestesia. Acho que é uma covardia atroz alguém transferir para os neurotransmissores, isto é, jogar sobre um Rivotril e seus congêneres a responsabilidade de causar alegrias, de bloquear as dores...exceto quando se pode enlouquecer, perder o rumo, toda dor deve ser processada, sentida, admitida, para que passe. O ex-Grande-Amor-da-Minha-Vida, ainda que não seja dado a remédios, é extremamente covarde com as dores e com a realidade. Está sempre colorindo tudo de ilusão e fantasias de satisfação. Juro que tenho piedade – por sinal, contei que não escrevia mais para ele, como outrora, porque, de fato, aquele amor passou e hoje eu gosto de outra pessoa. Ele não digeriu bem, enciumou-se e fez um silêncio de sepulcro. Eu já tinha enterrado essa história há tempos. 

domingo, 6 de agosto de 2017

Amigos, pero no mucho...


Está tudo bem. Não deixo de escrever porque estou feliz, nem sou de ter as frescuras dos escritores profissionais que alegam só saberem escrever nos momentos de dor. Não: andei ocupada.
Também notei que não fico à vontade sem privacidade.
Não sei escrever com pessoas olhando em cima dos meus ombros.
Hoje eu resolvi escrever para expurgar meu desconforto com um povo desequilibrado que pensa que me ama ou que, declaradamente, me deseja sexualmente.
No primeiro caso, o ex-Grande Amor da Minha Vida, que não se toca que acabou e acabou há muito tempo. Ele escreve (se ligar, não atendo) para reclamar da escassez de e-mails, de notícias, a choramingar poemas e atenções de outrora.
Os casos a seguir são piores: 1) O amigo de outro ex, que se tornou marido de uma conhecida, depois de deixar declarações afetivas claras no Facebook para mim (excluí, para evitar problemas), abriu um bar temático na cidade e todo dia me chama para ir lá, de modo que já usou de todos os meios possíveis para isso. Cola e stalkeia minha vida, meus perfis, meus passos, meu status...
Da primeira vez que o excluí, no minutos posterior ele mandou novo convite. Ou seja, estava de olho em mim naquele momento.
Vive tentando forçar as coincidência. Sabe onde moro – se era amigo de meu namorado de outrora... – e me conhece há uns 20 anos. Caso perdido: mesmo eu demonstrando interesse em outro amigo em comum, numa situação social em que nos encontramos, ele volta ao mesmo ponto, declara com as mais bonitas e bem escolhidas palavras, o quanto quer ficar comigo.
Acho a esposa dele linda. O meu poeta também acha, mas ele nunca saberá dessa história. Até porque, sou feliz com quem estou, apesar de toda lisonja que eu pudesse obter da situação.
2) O outro caso é muito sintomático, também de gente que está na tocaia há uns anos, também dono de casa noturna.
Ele fez duas perguntas que, para mim, devolvem a resposta sem necessidade de minhas palavras: “Por que você nunca ficou comigo?” (e eu só disse ‘não sei’ porque fiquei constrangida); “Por que você nunca telefonou para mim?”. Bom, nunca fiquei por não querer ficar; nunca telefonei porque não tive o menor interesse. Nesse mesmo dia das perguntas, às cinco da manhã, ele me ligou. E como obteve o meu número? forçando a barra. 
3) Ex-aluno, ex-cunhado e ex-pretendente: esses se seguram em público, mas rastreiam fotos, meus passos, minha vida, perdem os olhos em cima de mim; terceirizam perguntas, examinam minha fisionomia, catam meus relacionamentos.
Não me orgulho de nada disso. Tenho pavor desse povo que quer a gente custe o que custar. Esses, que fariam qualquer coisa para ficar com a gente, me fazem ficar apavorada.
Demoram a ler ou não aceitam a interpretação de meu desinteresse. Costumo dizer ‘sim’ quando quero e ‘não’ ao que não quero. Decerto, hesito se houver situação em que caiba dúvida, mas não é esse o caso. Se eu quisesse, não adiaria o prazer de realizar o desejo. Mas, agora, desejo é paz.
Não vejo isso como vitórias para o ego. Vejo como problemas, como impeditivos para boas amizades. Só.