Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Boas vindas, boas vidas!

 

Eu quero, verdadeiramente, desejar um excelente 2023 aos meus leitores - os eventuais, os acidentais e os assíduos.



Espero que vocês tenham suficiente condições e disciplina para conquistar o que desejam e o que precisam - que saibam diferir o que DESEJAM e o que PRECISAM e que, a essa altura da vida, tenham consciência de que 'nada vem de graça, nem o pão nem a cachaça', como cantou Zeca Baleiro. As coisas boas não virão sozinhas. Se o acaso te favorecer, ajude-o!

Desejo que façam bom usa da liberdade e da independência!

Desejo, ainda, que o bem-estar do país esteja acima das divergências, dos delírios e das vaidades.

Quanto a mim, escrevo quando posso e espero poder mais neste ano!

Feliz ano novo, gente!

Culpa no Cartório

 




Escolhi utilizar as palavras e expressões que se segue, a fim de me fazer compreender e não porque concorde com elas. Então, vamos lá!

Namorei, ao longo da minha vida, três filhos sem pai. Eram pessoas maravilhosas e cientes de que aquela ausência de um nome paterno no Registro Civil e em suas derivações (RG, por exemplo) significava que a mãe ficou sozinha com a gravidez e a responsabilidade pela criação do filho. Elas não eram exceção.

Muitos dos que hoje defendem à família, se ausentaram dos seus papéis paternos – entre famosos e anônimos, entre aqueles que fugiram ou negaram a paternidade. Tinham culpa no Cartório, como diz aquela velha expressão disseminada no tecido cultural do brasileiro. O Cartório de Registro Civil de Nascimentos, naturalizou as ausências - filho de pai desconhecido (como se a mãe houvesse tido sexo com alguém sem nome, com um estranho, com um qualquer).

Em 2013, terminei com um homem ao saber que ele não assumiu seu papel de pai. Sei que é impossível dar o amor que não temos por alguém. Também sei e concordo que o laço de consanguinidade não traz o afeto obrigatório. Todos sabemos que há parentes que nos são indiferentes, outros com os quais não estabelecemos relações de confiança e amor; e, no geral, também sabemos que JAMAIS PERDOAMOS MÃES que não amam seus filhos ou que agem como os homens que citamos acima. Até nisso o machismo protege aos homens.

Reconheço, entretanto, que se um homem se propõe ao sexo com uma mulher, a proposta é o sexo. Desejar sexo não é desejar filhos. Propor sexo não é propor filhos. Imagino que um homem saiu para o pagode ou para o carnaval... Saiu folião e voltou pai. Eis um fator que não foi considerado na conta e na sentença.

Então, a consequência fora dos planos é responsabilidade dos dois – exceto quando a mulher é ludibriada, porque alguns homens retiram o preservativo sem que a mulher note. Para a legislação atual, em dados contextos em que isso ocorre, se configura estupro.

Não seria justo esquecer as tantas mulheres desonestas e sabotadoras que furam preservativos e armam situações, fingindo tomar pílula ou usar D.I.U., para engravidar e salvar seus relacionamentos, prendendo o homem. Ou obtendo a vantagem de uma pensão que igualmente possa lhe auferir lucros e garantias.

O que a gente deve sempre lembrar é que há mau caráter de todo tipo, gênero, credo, classe, religião. Assim, uma pessoa inteligente pode ser mau caráter; homem pode ser mau caráter, mulher pode ser mau caráter; gay, lésbica, trans, negro, branco, oriental, indígena, católico, protestante, ateu, não interessam as identidades: ao Humano nada escapa de sua condição de ser humano, em aspectos bons e em aspectos maus.

Fugindo às generalidades e ao contorno psicanalítico da discussão aqui trazida – excetuando, também, os pais presentes e significativos que, por infortúnios diversos, morreram ou foram mortos – a ausência do nome do pai é uma falta que dói. Para além da questão social de um nome num documento, é como ter um parente desaparecido: uma cara que não se sabe qual é; um paradeiro desconhecido; uma indefinição fantasmagórica que assusta – não se sabe se está vivo, se está morto, se está próximo...

O que eu percebi nesses homens que eu namorei e que não conheceram seus respectivos pais, foi um maior respeito às mães. Um respeito piedoso de imaginar a mãe como uma mocinha apaixonada, de 15, 18 anos, se entregando de corpo e de coração a um homem, sofrendo as reprimendas e castigos dos pais, os olhares condenatórios de vizinhos, amigos e familiares; em muitos casos, sendo expulsas de casa ou cedo abandonando sonhos de formação e de profissão, tendo, além de toda execração social, que carregar a dor de não ter sido amada por aquele homem que a deixou sozinha. Muita dor para um só ser. Em várias circunstâncias, uma dor no momento da fragilidade da gravidez, com dores físicas junto às dores psicológicas de um luto pelo amor que se foi – e a decepção por notar a covardia do homem amado.

Eu escolhi não ser mãe. Pago o preço social disso, porque sempre quiseram me obrigar a querer o que não é meu desejo. Tenho pai, que nesse quesito foi mais corajoso do que minha mãe – fui criada com ele – mas noto a leve decepção da parte dele, que constata que a filha única (eu) não renderá herdeiros. Fico, porém, com a declaração de um destes filhos sem pai que eu namorei um dia: “VOCÊ PODE SER ÚTIL À HUMANIDADE DE OUTRAS MANEIRAS”. Eu tinha 23 anos quando disse isso – confirmando o que eu já pensava aos 13 anos, como convicção de vida. Penso exatamente a mesma coisa hoje em dia e tenho o máximo respeito ao homem que entendeu e aceitou minha escolha.