Louquética

Incontinência verbal

sábado, 30 de dezembro de 2023

O fim de ano e outros recomeços

 



Não me queixo do ano que está acabando, apenas reclamo do cansaço das causas acumuladas. Posso dizer que de setembro para cá foi época de cansaço mental, de desgastes psíquicos e encargos emocionais. Nada se compara aos meus dez dias frequentando (vivendo, permanecendo) um hospital para ficar com meu tio doente. Isso significou oferecer a ele segurança, dar garantias e assistência psicológica de que o mundo dele não iria desintegrar e que ninguém da família iria decidir por ele os rumos de seus pequenos bens. Mas, até este fatídico novembro, muita água rolou sob a ponte da minha vida.

E deixei o hospital, suas filas, burocracias, negligências e tragédias, sem trazer meu tio comigo – ele morreu após uma cirurgia.

Não sou uma pessoa alienada a ponto de agradecer pelas tragédias, mas sou grata mesmo a Deus por ter sobrevivido a tantas coisas – prejuízos materiais, acidentes terceirizados, porque foram coisas que resvalaram em mim e, portanto, foram causas indiretas de perdas materiais e, claro, meu luto amoroso que me faz defrontar comigo mesmo no espelho, a duvidar de minha sanidade, porque não faz o menor sentido gostar de quem não tem o mínimo qualitativo emocional, isto é, maturidade.  Aprendi que, de fato, renunciar causa o maior peso ao ser humano. Entendi melhor porque dói escolher entre duas pessoas, entre várias opções de qualquer coisa. Devo frisar que o pessoal do poliamor resolveu isso simplesmente acumulando gente. Decerto, não sai de graça. A estrutura emocional que gira nessa assumida ausência de estabilidade, é para quem aguenta. Se a dois a gente já não tem estabilidade nem garantias, já corremos o risco de sermos trocados, deixados e preteridos, imagine quando se envolvem mais pessoas. Entretanto, é ótimo viver na sinceridade e tanto não precisar mentir, quanto não ouvir mentiras. Poliamor não exclui o respeito. Porém, ao invés de escolher uma pessoa, fica-se, em comum acordo, com quem está e quem mais vier.

Enfim, pelo cansaço também estou avaliando largar umas coisas. Também entendi que há distinções severas entre a perseverança, a persistência e a teimosia. Sob esta última está minha (e nossa) necessidade de renúncia.

Renunciar é difícil, sim. É dizer não àquilo que a gente quer e deseja. É um exercício terrível que justapõe o que se quer, o que se pode, o que convém e o que é melhor para a gente. Renunciar é desistir, mas uma desistência consciente, nobre porque faz parte da autopreservação, mas não menos dolorosa.

 Fim de ano não é fim de mundo. É somente rito de passagem.Deixa o calendário rodar