Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 31 de julho de 2019

A cada um segundo suas escolhas




Eu não sei a partir de que momento da história os homens passaram a achar que a intenção de toda mulher é ter um relacionamento socialmente assumido, isso a que os desavisados chamam de relacionamento sério; que toda mulher sonhe em casar e ter sua própria família, a qualquer custo. Eles acreditam nisso e odeiam ser contrariados. Esbravejam quando encontram a exceção, atribuem a liberdade de escolha ao feminismo.
O feminismo saudável trouxe mesmo a liberdade de escolha. De fato, se não fossem as feministas, as mulheres que odeiam o feminismo não poderiam votar em quem adora as mulheres...adora as mulheres submissas, de postura conservadora, fúteis e idiotizadas... Mas, dizem que a mulher sábia edifica o lar – e edifica como um pedreiro, carregando os pesos, acordando cedo, se sacrificando de todo modo, apesar de saber seu trabalho não será reconhecido. Grande coisa um lar padronizado, mantido por sofrimentos abafados, por hipocrisia, traições, violências! Este é o lar da maioria: feliz na fotografia, pesado no dia-a-dia.
Entretanto, não condeno às escolhas dos outros e sei que há exceções – só não as conheço, mas do fato de eu não conhecer, não se pode concluir que não existam.
Não costumam respeitar minhas escolhas quanto a isso de não querer casar, nem ter filhos, nem família padronizada. Esquecem, sempre, que eu tenho liberdade de escolha e, se eu achasse que a escolha da maioria fosse boa para mim, iria com as outras, tranquilamente, como uma boa Maria deve ir com as outras.
Fomos perdendo o direito à opinião. Mas, ter opinião contrária à opinião padronizada ofende a muitos que querem me obrigar a querer o que eu não quero.
Já falei disso aqui no blog: se você é livre, você tem escolhas. Logo, se no blog não tem coisas que te agradem, não precisa vir aqui – garanto que não haverá punição alguma por isso. Se você gosta de mulheres brancas, não se obrigue a namorar as negras; se gosta das esguias, não se envolva com as obesas; se gosta de homens negros, não precisa namorar os brancos; se gosta de musculosos, não se obrigue a namorar os magros. E dizendo isso estou ironizando a violência velada que boa parte dos casais pratica: jogar na cara do outro, na hora da briga, que preferem um tipo apesar de estarem com quem não corresponde ao seu modelo idealizado.
Será que alguém foi coagido a namorar o oposto de seu próprio gosto?
Tenho presenciado coisas assim.
Até comigo ocorreu coisa semelhante, quando um homem veio, recentemente, questionar e tentar me dissuadir de minhas escolhas. Paralelamente, eu mostrei e disse: “há tipos de mulheres mais adequados ao seu gosto, sabia? Veja melhor suas opções. Eu, por exemplo, tenho escolha, fiz as minhas escolhas e, para mim, uma pessoa como você não seria uma opção para mim. Além disso, não estou à procura, não estou disponível emocionalmente e as coisas fluem melhor quando duas vontades se encontram, você não acha?”
O sujeito ficou de mal de mim, me disse uns monossílabos de canto de boca e adorei repelir com sinceridade quem não me interessava. E este, então, foi muito engraçado: fez propostas e promessas, se apresentou como ‘um bom partido’ – ora, não estamos em eleição – julgando, ele, que toda mulher é interesseira, que quer casar seja como for...
Não sou grossa, mas ou sincera.
Má sorte de quem, tendo opção, anula a própria escolha.