Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Dez de Espadas e um conselho

 


Porquanto somos humanos, compartilhamos de sentimentos, sensações, desejos e experiências comuns, universalizadas por nossa condição. Então, através da experiência do outro, podemos colher certos aproveitamos particulares.

Não tenho autoridade para dar conselhos. Aliás, de vez em quando me exaspero com uns tantos leitores do blog, que me procuram com cobranças de respostas e resultados, ou em busca de esclarecimentos sobre determinadas pautas. Aqui é um espaço de opinião sincera, de relatos meus, que não conheço nem tenho intimidades com meu público, nesses 11 anos de existência da página – olha, nem eu acredito nesse tempo todo.

Hoje, entretanto, vou fazer diferente. Vou dar um conselho explícito e direto – esperando não ter por leitor nenhum ser humano paranoico, que nunca vi, nem conheço, nem sei o nome, porque tem de tudo nesse mundo e tem pessoas que julgam que tudo é indireta para si. As novelas não frisam à toa: “Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, fatos, datas ou lugares, terá sido mera coincidência”. Então, lá vai: ontem tirei, no tarô, um X de Espadas.

Há um tempo passei a jogar o tarô para mim mesma. Entendi o tarô como um caminho de leituras arquetípicas psicanalítica, ou seja, um jogo entre coisas inconscientes, mais do que um oráculo com mágicas de adivinhações – se bem, confesso: tarô lê mais o seu presente. Aí as interpretações são pessoais. As Lâminas têm significado geral, narrativo, imagético e dependem da posição ocupada no jogo, por exemplo. E faço o preâmbulo para me explicar melhor e passarmos ao X de Espadas e à vida de quem nem acredita em tarô – não é necessário mesmo.

Destaco o quão apavorante é o naipe de Espadas: de elemento ar, corta dos dois lados, quando surge, derruba os sonhos. Se o IX, é a carta mais temida por muitos, por representar sofrimento psíquico, desassossego, pesadelos, preocupações, medos; o X de Espadas assusta ao mostrar muitas espadas atravessando o corpo – tanto faz a origem do baralho e as variações de ilustração. Pura dor e desespero. Mas, o que pode haver de bom nisso? Primeiro, enxergar a dor e o problema (consciência da situação). Segundo, a possibilidade de reverter. Parar, pensar, observar: é preciso encontrar a saída em meio ao caos. Solidão e silêncio para estar consigo e ver a necessidade de solução.

Pensemos agora nas espadas que podem nos atravessar – no amor, no dinheiro, na vida social, nas mágoas, nas tristezas, nas coisas de que somos vítimas por não termos meios de escapar. Podemos ser esgrimistas e ter na espada uma arma, mas, no simbólico é ela que nos acerta.

Eis o conselho: o X de Espadas, para mim, representa todas as situações abusivas que pedem o fim, exigem que tenhamos as rédeas e as encerremos: as que tocam nossa interioridade, as agressões cumulativas, as questões familiares que causam feridas nunca declaradas ou nunca admitidas, os assédios morais e pesadelos de convívio, seja lá onde for. Por causa de nosso momento atual, associamos a ideia de relações abusivas ao contexto sexual, ao estupro, mas não percebemos que o homem que nos negligencia comete um abuso; que os pais egoístas que tivemos ou que os colegas que boicotam nosso trabalho cometem abusos. Toda forma de assédio, bullying, todo mau trato reiterado é um abuso. Tem gente abusiva em todo canto. Deste modo, veja que IX vem antes de X, não é? É a véspera, é o pré, é o antes, é o que antecede ao fim de um ciclo, portanto, acabe com isso. O dez é o fechamento. Não é uma carta ruim. Ao contrário, é a carta da responsabilidade sobre aquilo que te acontece, uma vez que você percebeu onde está o problema e criou a consciência do abuso.

Se a carta traz o temor e mostra o sofrimento, também te mostra: resolva. Se te parece desesperador, esfrie a cabeça, confie que tudo passa e apresse o fim dessa situação. Saiba dizer não, saiba desligar o telefone ou trocar o número, saiba fechar o ciclo se posicionando de modo diferente, pois se não puder mudar seus sentimentos, você pode mudar suas atitudes.

Não é para agir de forma intempestiva, mas aproveite a passagem de ano e tome atitudes diferentes, se livrando do lixo mental que essas pessoas, coisas e situações geram.

Acho uma infantilidade sem fim bloquear os outros, excluir, mas há pessoas para as quais a conversa jamais surtirá efeito. Considere como medida cautelar isso de manter distância. Não se ponha ao alcance do abusador, seja lá quem for.

Se não der para cortar o contato, enfrente a situação, a pratos limpos.

Se o caso for de dependência – ou seja, não se pode romper com o abusador, pois se depende dele economicamente, ou é o chefe, ou, pior, há relações parentais pelo meio, pense em formas de sair disso, mas quebre o ciclo.

Sei que datas comemorativas são guiadas por consumo, economia, comércio, mas não sou uma pessoa amarga. Acredito que são bons pretextos para expressar carinho, amor, para comemorar a existência ou acreditar num amanhã melhor. Ano novo é rito de passagem – na verdade, só muda a data. Mas pode ser época de inaugurar outra fase de vida, planejar, criar, meios, executar... fechar ciclos, encerrar, acabar, tal como a ilustração, dar aquele golpe de misericórdia, finalizar e começar outras coisas.

 


segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Respostas óbvias para questões comuns

 

 


Sendo mulher, quem nunca encarou problemas clássicos com o relacionamento com os homens? Desde situações em que a gente ama o cara, mas não tem satisfação sexual com ele e, por isso, hesita, se termina ou mantém o namoro, suportando essa falta (ou se resolve, tendo um terceiro elemento); àquelas clássicas mais clássicas, com as quais resolvi me arvorar a responder, por mera brincadeira – afinal, o especialista em sua vida é você e o acesso a este blog não substitui a orientação de um profissional – e será que tem doido que vem tomar decisões baseando-se em blogs? Bem, vejamos os típicos casos:

a) Apertem os cintos, o sujeito sumiu após o primeiro encontro; b) Visualizou a mensagem e não respondeu, por que será?;  c) Ele sumiu, mas depois apareceu...e sumiu de novo; d) Ele adora estar comigo, mas não saímos em público; e) Marcou de vir e desapareceu; f) Ele exige tanto e dá tão pouco; g) Eu sempre pago a conta por nós dois; h) Ele está no Tinder; i) Eu que sempre tomo a iniciativa de buscar contato com ele.

Nem tudo acima eu coloquei sob a forma de perguntas, seja por que em alguns casos as coisas não se dão de modo interrogativo direto, seja porque minhas amigas e eu, ao formularmos perguntas, já temos ali a resposta. Então, a gente traduz assim, para bons entendedores:

  a) Apertem os cintos, o sujeito sumiu após o primeiro encontro – Sumiu mesmo, porque queria sexo. Se gostasse, voltaria. E se não houve sexo, não voltou porque não gostou de algo em nós. Pode se tranquilizar, porque ele não foi sequestrado, nem abduzido por extraterrestre, o telefone não bugou e detonou a agenda, ele não está na UTI.

  b) Visualizou a mensagem e não respondeu, por que será? Bem, a resposta já está dada. O vácuo, o silêncio é uma resposta e das mais pesadas: a atenção é proporcional ao interesse. Se a pessoa estiver interessada, você será prioridade. E o melhor é dar uma resposta à altura, ou seja, nunca mais manter contato.

 c) Ele sumiu, mas depois apareceu...e sumiu de novo: pois é. Some e volta porque tem certeza de que você estará onde ele deixou, isto é, à espera (“Esperando, parada, pregada na pedra do porto”, como diria Chico Buarque). E este ‘espera aí, que eu já volto”, significa que você foi deixada em stand by, em modo de espera. Meu sincero conselho: levante-se e vá embora. Contudo, se você ama, não tem jeito. Precisa catar a migalha que cair desse prato e criar forças para se libertar, enfrentando as fomes do fim do esconde-esconde. Vamos falar sério? O cara está brincando com você.

d) Ele adora estar comigo, mas não saímos em público. Neste caso, está claro que o sujeito tem outras ou deseja ter todas as outras. Para tanto, convém ser visto sozinho. Isso indica seu lugar na vida dele – o porão.

e)* O "eu sempre pago a conta por nós dois", eu prefiro não comentar porque é bastante explícito e eu vou poupar adjetivos.

 f) Ele marcou de vir e desapareceu: os itens b e c estão subentendidos aqui: há descaso, desrespeito e clara falta de interesse. Quem quer a gente, busca ficar com a gente. Se não é prioridade o encontro, a pessoa sumirá tranquilamente e se você for útil, no futuro ela (re)aparece e reinicia o jogo das esperas.) 

   g) Ele exige tanto e dá tão pouco. Outro óbvio caso em que o cara te trata como última opção, com postura abusiva de superioridade, pois faz mil exigências, impõe condições, se autovalorizando de tal forma que, quem quiser desfrutar desse ser valioso, que pague seu preço. A solução? Você está na promoção, para aceitar isso?

h) Ele está no Tinder. Aí o problema é todo seu, porque quem está nos aplicativos de relacionamento não busca, ali, crescimento espiritual; nem novas amizades; nem um novo emprego. O que será que buscam, não é? Aplicativos para relacionamento são autoexplicativos, se prestam àquilo que o título já diz. Mas eu vou repetir, porque tem gente distraída no mundo: relacionamentos. De flerte, a pegação, sexo, namoro...

  i) Eu que sempre tomo a iniciativa de buscar contato com ele. Dá vontade de repetir porque, de novo, as respostas se subentendem. Se todo o esforço é seu, é porque ele não tem interesse e se acha, crendo que você pagará qualquer preço para estar com ele, que você sempre estará disponível. Não há nada de mais em nenhuma das situações acima descritas, desde que você aceite e queira; desde que não sofra.

CONCLUSÃO: Amor não é receita de bolo. E há várias formas de amar. Quem é feliz em casal, trisal, em quadrisal, que seja e viva sua fórmula particular.

Na Fidelidade ou na Fudelidade, na solidão honesta ou nos pegue-e-não-se apegue, cada um que siga o que quiser, desde que goste e não faça disso uma angústia; desde que não se force para caber no modelo que não é adequado a si.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Positivo e (in)operante

 


Houve um tempo em que me acusavam de ser pessimista.

Houve um tempo em que alimentei uma particular raiva contra os seres humanos otimistas, aqueles bem esquisitinhos, que não admitem jamais a ideia de fracasso, que detonam qualquer um que levante a hipótese de que algo pode dar errado.

O pior, eu suponho, é aquele tipo de pessoa que acha que algo deu errado por que você pensou que poderia dar errado. Basta a pessoa ser prevenida, cautelosa, para ser chamada de pessimista.

Isso chegou a tal ponto que odeio até hoje, com todas as forças da antipatia, aquela música de Lulu Santos, chamada A cura. Quando eu ouvia:

“...Existirá
E toda raça então experimentará
Para todo mal, a cura.

Existirá, em todo porto se hasteará
A velha bandeira da vida
Acenderá, todo farol iluminará
Uma ponta de esperança...”

 Ah, eu, internamente dizia: “Mas, que música filha da puta, delirante, fora da realidade!”. Um banho de otimismo fora da rota da realidade que nos cerca, totalmente sem noção.

Sempre me pareceu loucura isso de ‘pensar positivo’ e ‘vai dar tudo certo,’ mas não por tendências pessimistas: é que para dar certo é preciso atender a muitos fatores.

Nesta semana acabei lendo sobre POSITIVIDADE TÓXICA e suspirei aliviada por ver, em teoria, o que eu sempre achei: não adianta pensar positivo, se você não contribuir para que as coisas deem certo.

A gente, fazendo tudo para dar certo, já se depara com situações fortuitas e fracassos, imagine sendo um ser inadvertido?

O resultado da positividade tóxica, além da fuga da realidade, é a negligência e a negação da responsabilidade individual nos processos pleiteados.

Aí, se tudo que você tem para um concurso ou uma entrevista de emprego, é o pensamento positivo, sinto muito, mas há grande probabilidade de não dar certo. Se você se preparar, aumentarão suas chances. O que há são chances!

Agora, pensa no contrário, por exemplo: pensei positivo e perdi ou não alcancei meu alvo. Muito provavelmente não terei fair-play, vou colocar a culpa nos outros ou, pior ainda, não vou saber superar a perda.

A positividade tóxica gera uma falsa sensação de segurança, porque delega a forças externas (algumas vezes, forças sobrenaturais) o desenrolar das situações.

E se sou confiante por causa das arrogâncias da fé, como fico quando não sou agraciada com o sucesso? Novamente, à mercê de conclusões absurdas e, claro, fragilizada.

Quem nunca ouviu ou leu: ‘LUTAMOS COMO NUNCA, PERDEMOS COMO SEMPRE’? Dou risada, mas é coisa que acontece. A pessoa faz a sua parte e mesmo assim, perde.

Não é pessimismo pensar que as coisas podem errado: é somente por esse senso de realidade, que a gente aprende a andar, por exemplo, com um band-aid na bolsa, ter água mineral no carro, criar dispositivos de prevenção.

Se pensar positivo me dispensar de estudar para a prova, acho que sairei no prejuízo, porque não estarei assumindo o que me cabe.

Para mim, pensar positivo é ser responsável. Então, isso supões planejamento, organização e método.

Olha, até para sair de casa eu calculo as rotas que farei – e dentre as rotas, penso nas alternativas, caso seja necessário escapar de engarrafamentos.

Acredito que a vida é cheia de imprevistos.

A gente tem tanto pavor de nossa falta de controle sobre as coisas, que vive catando previsão do tempo, previsão astrológica, cartomancia, tarot e todo tipo de oráculo simbólico. Então, a sua proteção é o seu cuidado consigo mesmo, com a sua parte na sua vida. Coisas que não estão sob nosso domínio vão sempre existir.

Pensamento positivo, sem as ações que reforçam os planos, não funciona sozinho.

Querer pode ser poder, à medida que a gente leva a sério o que quer – o famoso e citado ‘correr atrás’, que é a metáfora do esforço para alcançar algo. Eu acredito no esforço – seja no esforço mental do estudo  ou no esforço físico para o emagrecimento.