Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

O que há de novo no ano que vem?

 


A vida nunca foi fácil e, desde sempre, enquanto seres humanos, tivemos problemas com o tempo. O tempo problemático e impreciso da duração de nossas vidas (Lembram de Fagner cantando Canteiros, com inserção do verso de Cecília Meireles: “E deixemos de coisa, e cuidemos da vida, pois se não chega a morte ou coisa parecida; e nos arrasta moço, sem ter visto a vida”?); o tempo enquanto o futuro, que desconhecemos completamente e apelamos a oráculos que, pelo menos nos sinalizem de modo genérico o que vem pela frente; apelamos às causa e efeitos, escolhendo a semente que plantamos, temendo a colheita e, pobres de nós, semeadores! Não sabemos se haverá temporal, seca ou pragas de gafanhotos; não sabemos se a semente vai vingar... Esses somos nós! E quando dominamos o tempo, vivendo, vivendo e sobrevivemos, ficamos tristes porque estamos velhos – e estar velho é o sintoma de muito viver.

Queremos também, que o tempo passe e as coisas se renovem. Fazemos rituais de passagem. A passagem temporal de 2020 para 2021 se fez acompanhar de um elemento novo e relativamente desconhecido, que foi a pandemia de COVID-19, que forçou a gente a questionar em todos os níveis, camadas, formatos e configurações, o tempo e a vida.

Eis que 2022 está logo ali. Não nos iludamos: no virar dos calendários, a vida seguirá sendo o que é, apenas agravada pela inflação e consequente miséria. Estaremos, talvez, vivos, se formos prudentes.

Em 2016, quando firmei minha relação com o Poeta, brinquei meu último carnaval, com a certeza de que ali acabava a festa para mim; que meu gosto mudou e minha procura também; que carnaval melhor que estar em paz com quem eu gosto ou curtindo outros prazeres é bem mais relevante que a festa. Brinquei muitos carnavais. O último foi maravilhoso, o melhor da década. O Carnaval ganhou outro sentido para mim, porque a ideia sempre foi me divertir com meus amigos, beijar gente, curtir praia e piscina, quebrar a rigidez da rotina bastante reta que eu tinha...

Na virada de 2020 para 2021, já era uma decisão minha não passar o réveillon na Praia do Forte, nem procurar badalações fora de casa. Eu já tinha isso em mente antes e a pandemia só precipitou as coisas.

Fácil dizer isso hoje, com tantos réveillons badalados no currículo. Mas, a verdade é que é muito esforço para pouco lucro: estradas cheias, praias cheias, restaurantes cheios e tudo caro; festas caras e nada divertidas – quando há festas, todas no mesmo padrão, com as chatices do axé baiano, alguma pérola do funk  e os desagradáveis chororôs sertanejo (universitário, pós-graduado ou analfabeto). Gosto muito da viagem posterior, as que acontecem depois do dia 02/01...aí, sim: liquidação e possibilidades de sol, hospedagens baratas, muitas rotas boas para seguir.

Dia primeiro de janeiro, as estradas estão cheias, as ruas estão vazias e fica difícil comprar comida...é a cara da ressaca!

Quero estar sozinha, em casa, no meu réveillon. Isso não precisa ser triste. Ano passado, chamei uma amiga para cá: péssima decisão. Ela chegou com sono, me fez sair para a farmácia 20 h e às 21h30, após comer sonolentamente a ceia especial e farta que fiz, dormiu e impediu que eu fizesse a festa, já com tudo arrumado e instalado no deck de minha casa – era uma festa para 03 pessoas, mas era uma festa.

Neste ano, a festa há de ser para dois. E não mais!

E para a manhã de primeiro de janeiro, vou ouvir o que ouço com alguma frequência: o U2, cantando New year's day



 

 


quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Ajuda duvidosa

 


É com muito esforço psicológico que declaro o quanto me sinto idiota por ter trabalhado de graça para um amigo explorador. Explico e espero que a explicação possa servir de alerta a muitas pessoas que, eventualmente, coloquem os pés em coisas análogas.

No ofício de professora, dada à circularidade entre departamento, campus e situações peculiares ao exercício do magistério, constituímos grupos. São grupo com gente oriunda de toda parte (outras cidades, outros departamentos, outros colegiados de uma mesma universidade, que é multicampi). No meio do caminho, muita conversa e algumas identificações. Simpatias, paridades, amigos.

Depois de algum tempo e uma boa dose de intimidade profissional, uma dessas pessoas, Yves, tentou dividir disciplina comigo, sob o argumento de me ajudar, já que ele tem um nome conhecido e a parceria poderia se converter em ganho simbólico, renome; ainda bem que não deu certo...

Outros capítulos da vida e, novamente, para ‘me ajudar", me incluiu na comissão editorial de uma revista da Universidade, em outro campus. De cara, muitos artigos para ler, normalizar (isto é, colocar tudo conforme as regras da ABNT), corrigir texto e gramática e emitir pareceres.

Serviço gratuito, com retorno apenas simbólico, para fins de engorda do currículo.

Semana passada, após dois anos de exploração, Yves exigiu acintosamente que eu desse conta dos processos anteriormente citados (ler, normalizar, corrigir), para dois textos que totalizavam 80 páginas, para concluir em 48 horas. Era noite de sexta. Meu prazo era segunda-feira.

A exigência foi feita em grupo, com vistas a me coagir, me constranger. Respondi que não o faria naquele tempo. Ele deu respostas abusivas, em grupo, escamoteando e tergiversando com elogios e gracejos duvidosos, aos quais rebati com clareza e uma coragem atípicas. Falei que dava aula, que tinha defesa de TCC, que tinha vida pessoal.

Devolvi os textos na quarta-feira, igualmente em grupo, com um breve aviso: “Yves, os textos estão revisados. Verifique sue e-mail”. Ele respondeu no grupo, um ‘ok’ meio surpreso.

Deixei o grupo três horas depois.

Antes, porém, no mesmo e-mail que constavam os artigos, escrevi tudo que somente ali percebi: que ele fazia exigências, se portando de forma desrespeitosa, como se eu não tivesse o que fazer; como seu eu tivesse que parar meu dia e priorizar um serviço cansativo, que requer atenção e disponibilidade e, por fim, esfreguei na cara o jogo sujo dele. Por isso, fica a advertência: seja porque a pessoa precise do título para concurso; seja porque a pessoa não tem experiência, é preciso dar limites ao trabalho não remunerado. É trabalho, é esforço, é responsabilidade.

Por uma única página revisada, se cobra de 06 a 08 reais. Assim, a revista dele, com o nome dele no comando, utiliza mão-de-obra qualificada e gratuita, com a desculpa de ajudar os outros.

Não se deixe explorar por orientadores, colegas, parceiros. Eu demorei para ver que obedecia a um tirano explorador, sem ganhar sequer gratidão.

Na lógica do explorador-manipulador, é ele quem está lhe fazendo um favor. Ele subverte à realidade.

E me pergunto como fui tão imbecil, sacrificando meu tempo, meu bem-estar...para ser útil a sonhos estranhos a mim. O pior: a revista científica é numa área totalmente alheia à minha área de atuação. O problema não foi estar ali, mas não sair dali antes.

Terei prejuízos morais, porque Yves, “Evil”, “é vil” e vingativo. Ao contrário do que as atitudes dele demonstram, ele é o tipo de pessoa que luta por justiça social, igualdade, oportunidades...Na teoria. Na vida real, explora mesmo; e ainda comete abusos e assédio moral, bem disfarçado.

 Então, deve me difamar por aí. Espero que as demais pessoas também acordem do pesadelo. Não se deixem explorar! Se te dá trabalho, é trabalho e tem um preço.