Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Ajuda duvidosa

 


É com muito esforço psicológico que declaro o quanto me sinto idiota por ter trabalhado de graça para um amigo explorador. Explico e espero que a explicação possa servir de alerta a muitas pessoas que, eventualmente, coloquem os pés em coisas análogas.

No ofício de professora, dada à circularidade entre departamento, campus e situações peculiares ao exercício do magistério, constituímos grupos. São grupo com gente oriunda de toda parte (outras cidades, outros departamentos, outros colegiados de uma mesma universidade, que é multicampi). No meio do caminho, muita conversa e algumas identificações. Simpatias, paridades, amigos.

Depois de algum tempo e uma boa dose de intimidade profissional, uma dessas pessoas, Yves, tentou dividir disciplina comigo, sob o argumento de me ajudar, já que ele tem um nome conhecido e a parceria poderia se converter em ganho simbólico, renome; ainda bem que não deu certo...

Outros capítulos da vida e, novamente, para ‘me ajudar", me incluiu na comissão editorial de uma revista da Universidade, em outro campus. De cara, muitos artigos para ler, normalizar (isto é, colocar tudo conforme as regras da ABNT), corrigir texto e gramática e emitir pareceres.

Serviço gratuito, com retorno apenas simbólico, para fins de engorda do currículo.

Semana passada, após dois anos de exploração, Yves exigiu acintosamente que eu desse conta dos processos anteriormente citados (ler, normalizar, corrigir), para dois textos que totalizavam 80 páginas, para concluir em 48 horas. Era noite de sexta. Meu prazo era segunda-feira.

A exigência foi feita em grupo, com vistas a me coagir, me constranger. Respondi que não o faria naquele tempo. Ele deu respostas abusivas, em grupo, escamoteando e tergiversando com elogios e gracejos duvidosos, aos quais rebati com clareza e uma coragem atípicas. Falei que dava aula, que tinha defesa de TCC, que tinha vida pessoal.

Devolvi os textos na quarta-feira, igualmente em grupo, com um breve aviso: “Yves, os textos estão revisados. Verifique sue e-mail”. Ele respondeu no grupo, um ‘ok’ meio surpreso.

Deixei o grupo três horas depois.

Antes, porém, no mesmo e-mail que constavam os artigos, escrevi tudo que somente ali percebi: que ele fazia exigências, se portando de forma desrespeitosa, como se eu não tivesse o que fazer; como seu eu tivesse que parar meu dia e priorizar um serviço cansativo, que requer atenção e disponibilidade e, por fim, esfreguei na cara o jogo sujo dele. Por isso, fica a advertência: seja porque a pessoa precise do título para concurso; seja porque a pessoa não tem experiência, é preciso dar limites ao trabalho não remunerado. É trabalho, é esforço, é responsabilidade.

Por uma única página revisada, se cobra de 06 a 08 reais. Assim, a revista dele, com o nome dele no comando, utiliza mão-de-obra qualificada e gratuita, com a desculpa de ajudar os outros.

Não se deixe explorar por orientadores, colegas, parceiros. Eu demorei para ver que obedecia a um tirano explorador, sem ganhar sequer gratidão.

Na lógica do explorador-manipulador, é ele quem está lhe fazendo um favor. Ele subverte à realidade.

E me pergunto como fui tão imbecil, sacrificando meu tempo, meu bem-estar...para ser útil a sonhos estranhos a mim. O pior: a revista científica é numa área totalmente alheia à minha área de atuação. O problema não foi estar ali, mas não sair dali antes.

Terei prejuízos morais, porque Yves, “Evil”, “é vil” e vingativo. Ao contrário do que as atitudes dele demonstram, ele é o tipo de pessoa que luta por justiça social, igualdade, oportunidades...Na teoria. Na vida real, explora mesmo; e ainda comete abusos e assédio moral, bem disfarçado.

 Então, deve me difamar por aí. Espero que as demais pessoas também acordem do pesadelo. Não se deixem explorar! Se te dá trabalho, é trabalho e tem um preço.


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