É com muito esforço psicológico que declaro o quanto me sinto
idiota por ter trabalhado de graça para um amigo explorador. Explico e espero
que a explicação possa servir de alerta a muitas pessoas que, eventualmente,
coloquem os pés em coisas análogas.
No ofício de professora, dada à circularidade entre
departamento, campus e situações peculiares ao exercício do magistério, constituímos
grupos. São grupo com gente oriunda de toda parte (outras cidades, outros
departamentos, outros colegiados de uma mesma universidade, que é multicampi).
No meio do caminho, muita conversa e algumas identificações. Simpatias,
paridades, amigos.
Depois de algum tempo e uma boa dose de intimidade
profissional, uma dessas pessoas, Yves, tentou dividir disciplina comigo, sob o
argumento de me ajudar, já que ele tem um nome conhecido e a parceria poderia se converter em ganho simbólico, renome; ainda bem que não deu certo...
Outros capítulos da vida e, novamente, para ‘me ajudar", me
incluiu na comissão editorial de uma revista da Universidade, em outro campus.
De cara, muitos artigos para ler, normalizar (isto é, colocar tudo conforme as
regras da ABNT), corrigir texto e gramática e emitir pareceres.
Serviço gratuito, com retorno apenas simbólico, para fins de
engorda do currículo.
Semana passada, após dois anos de exploração, Yves exigiu
acintosamente que eu desse conta dos processos anteriormente citados (ler,
normalizar, corrigir), para dois textos que totalizavam 80 páginas, para
concluir em 48 horas. Era noite de sexta. Meu prazo era segunda-feira.
A exigência foi feita em grupo, com vistas a me coagir, me
constranger. Respondi que não o faria naquele tempo. Ele deu respostas
abusivas, em grupo, escamoteando e tergiversando com elogios e gracejos
duvidosos, aos quais rebati com clareza e uma coragem atípicas. Falei que dava
aula, que tinha defesa de TCC, que tinha vida pessoal.
Devolvi os textos na quarta-feira, igualmente em grupo, com
um breve aviso: “Yves, os textos estão revisados. Verifique sue e-mail”. Ele
respondeu no grupo, um ‘ok’ meio surpreso.
Deixei o grupo três horas depois.
Antes, porém, no mesmo e-mail que constavam os artigos, escrevi
tudo que somente ali percebi: que ele fazia exigências, se portando de forma
desrespeitosa, como se eu não tivesse o que fazer; como seu eu tivesse que
parar meu dia e priorizar um serviço cansativo, que requer atenção e disponibilidade
e, por fim, esfreguei na cara o jogo sujo dele. Por isso, fica a advertência:
seja porque a pessoa precise do título para concurso; seja porque a pessoa não
tem experiência, é preciso dar limites ao trabalho não remunerado. É trabalho,
é esforço, é responsabilidade.
Por uma única página revisada, se cobra de 06 a 08 reais. Assim,
a revista dele, com o nome dele no comando, utiliza mão-de-obra qualificada e
gratuita, com a desculpa de ajudar os outros.
Não se deixe explorar por orientadores, colegas, parceiros. Eu demorei para ver que obedecia a um tirano explorador, sem ganhar sequer gratidão.
Na lógica do explorador-manipulador, é ele quem está lhe fazendo um favor. Ele subverte à realidade.
E me pergunto como fui tão imbecil, sacrificando meu tempo, meu bem-estar...para
ser útil a sonhos estranhos a mim. O pior: a revista científica é numa área
totalmente alheia à minha área de atuação. O problema não foi estar ali, mas
não sair dali antes.
Terei prejuízos morais, porque Yves, “Evil”, “é vil” e vingativo. Ao contrário do que as atitudes dele demonstram, ele é o tipo de pessoa que luta por justiça social, igualdade, oportunidades...Na teoria. Na vida real, explora mesmo; e ainda comete abusos e assédio moral, bem disfarçado.
Então, deve me difamar por aí. Espero que as demais pessoas também
acordem do pesadelo. Não se deixem explorar! Se te dá trabalho, é trabalho e
tem um preço.
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