Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Carnaval: currículo vitae



Tenho muitos carnavais no currículo.
Sempre gostei de festa.
Quando criança, minha tia colocava sonífero no meu suco, para que eu não inventasse de ir às festas com ela e a outra tia. Aos 4 anos eu chorava e esperneava para ir às festas que começavam nove da noite do sábado.
Aos 11, minha tia me levava às festas infantis dos domingos à tarde nos clubes. A vizinha dizia que eu parecia estar me afogando, porque me metia no meio da galera, pulava, dançava...E sabia dançar.
Aos 13, eu fugia com as filhas de minha madrasta para uma discoteca suburbana, recheada de maconheiros e gente de conduta questionável. Deixavam a gente entrar, a gente entrava. E não entendíamos nada sobre drogas, prostituição ou álcool: cada um com seu refrigerante ou sua água, em companhia de uma pseudo-irmã maior de idade...Até que minha madrasta aparecia na porta do estabelecimento e catava a gente a tapa, jogando todas dentro do carro, já às 23 horas e nós não entendíamos que mal poderia fazer sair para dançar...afinal, era o que fazíamos.
Apesar das proibições, sempre houve festa e dança em minha vida. Vi os shows dos ícones de minha adolescência e da fase adulta, brinquei micaretas e carnavais até 2016. Encerrei ali. Saí satisfeita: foi o melhor carnaval da década, para mim.
Eu havia conhecido o poeta em dezembro e o primeiro carnaval depois dele foi também o último, seja coincidência ou não. Não vou ao carnaval porque não quero mais ir.
Neste ano, acompanhei o carnaval pela TVE Bahia. Adorei. Se tem duas coisas que são melhores à distância que ao vivo, são o carnaval e a Cachoeira do Sossego, na Chapada Diamantina. O carnaval é melhor em casa, sem calor, sem cansaço, sem importunação, sem fome e sem desesperos para voltar para casa. E quanto à Cachoeira do Sossego, é linda pelo Google fotos. Ao vivo, são quatro horas de caminhada pela mata, com muitos penhascos e vegetação inóspita para, enfim, você encontrar um lugar besta cheio de pedras com uma água gelada cor de Coca-cola. Sob meu ponto de vista, não vale a pena.
Meu ponto de vista, viu? Meu! Respondo por mim, falei de mim.
Aprendi isso e só desobedeço no réveillon: datas festivas, com estradas cheias, ruas cheias, alvoroço e desassossego, é melhor ficar em casa. Claro que tem monotonia, que a cidade fica vazia...Mas, prefiro isso. Fica fácil preferir porque eu já curti muito, muito mesmo.
Não sou dessas pessoas hipócritas que se fartam de tudo e prescrevem dietas para os outros. Eu, não. Carnaval é bom – tem diversidade de festas, lugares e atrações, bastando que a pessoa escolha e vá – rua, camarote, bloco, etc; Festa também é algo ótimo.
Carnaval: Já pulei, hoje pulo fora.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

O feitiço da bondade



De vez em quando, a vida fica mais pitoresca que narrativas de filme adolescente ou ficção pouco elaborada. Vamos a uma: Mais engraçado do que o momento em que “o feitiço vira contra o feiticeiro”, é quando o feiticeiro fica enfeitiçado e magnetizado a tal ponto que não quer mais ser feiticeiro.
Resumindo essa história, uma Amiga-Fura-Olho intermediou o encontro de um cara meio mala com outra amiga nossa em comum.
Não gostei da ideia, porque a Amiga-vítima é chata, mas não merece um mentiroso e mala como o tal que lhe foi arremessado nos braços.
Em cinco dias um já eram o grande amor da vida do outro. Fez-se a intimidade sexual e ele, mala que é, disse à mediadora que a Amiga-vítima era fria e que ele gostava das novinhas.
Aos dez dias do caso, ele mudou completamente de ideia: confessou que a Amiga-vítima era muito legal, pessoa direita, de coração bom, presente, companheira, que deu a ele os melhores dias dos últimos tempo, porque trazia paz gratuitamente e que, fazendo as contas, valia mais a pena ficar com ela do que descartá-la.
Dali a dois dias, estava ele, o mala, a cercar a Amiga-vítima em precauções para livrá-la de perdas e golpes.
A Amiga Fura Olho ficou enfurecida: ninguém mudou por ela – eles já tiveram um caso e conhecem bastante um ao outro, a ponto de saber que reciprocamente não valem nada. Inveja, ela teve.
E eu, que estava inquieta, pensando em como dizer à Amiga-vítima que aquele homem tem 12 anos a mais do que declara, não tem aquela profissão, nem aqueles bens...que é um estelionatário afetivo, cheio de mentiras no bolso...
Feio ele é, mas um feio elegante não chega a incomodar e isso ela já havia visto. Fiquei feliz pelos dois: por ela não quebrar a cara e por ele ter se convertido, passando para  lado positivo da situação.
Enfeitiçado ficou ele, especialmente pela bondade dela - que tem o coração tão bom que, numa viagem comigo, catou um copinho e foi regar as plantas da recepção de onde a gente se hospedou...com ele, ela deve ter regado tão bons exemplos, que os frutos apareceram logo.
Pequenas narrativas da vida que nos fazem crer que pode ser possível ser diferente, que os finais podem tomar outros rumos – e eu, do que sei, nada direi. E passemos aos próximos capítulos.