Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O que eu esqueci de dizer sobre o natal, parte VI


Eu sempre acreditei em Papai Noel, gente...adoro fantasias!

O que eu esqueci de dizer sobre o natal, parte V


Olha só, eu estava mesmo muito ocupada no natal,daí que não deu para postar nada. Mas não deixei de esperar por Papai Noel, certo?

O que eu esqueci de dizer sobre o natal, parte IV


Sera que deste mato sai Coelho (ou cobra)?

O que eu esqueci de dizer sobre o natal, parte III


Bem, há Papai Noel que vira a cabeça da gente, não? Ai, Jesus!!!

O que eu esqueci de dizer sobre o natal, parte II


Eu nem toquei neste assunto,né? ah um assunto desse lá em casa! Ho!ho!Ho!

O que eu esqueci de dizer sobre o natal


Olha, garotas, o que faz do natal uma noite feliz: Papai Noel deste "naipe", né?

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Todo veneno, todo remédio




Tim Maia - Bom Senso

Já virei calçada maltratada
E na virada quase nada
Me restou a curtição
Já rodei o mundo quase mudo
No entanto num segundo
Este livro veio à mão
Já senti saudade
Já fiz muita coisa errada
Já pedi ajuda
Já dormi na rua
Mas lendo atingi o bom senso
A imunização racional

Trilha sonora especialmente dedicada a duas pessoas (M. e N.), que precisam aceitar o curriculum vitae que têm. É da vida, meu amigos. É a vida! A minha também é mais ou menos assim.
E explicitamente, para Beth, que voltou para o primeiro namorado, após seus dois casamentos; ao ex-Grande Amor da Minha Vida que acabou de voltar para a ex-esposa, após dois anos de separação, a todos aqueles que regrediram no tempo, pegaram o passado e colaram, recompuseram, apostaram, renovaram suas apostas, enfim, que 2011 possa nos dar coragem de seguir em frente ou condições de voltar atrás, se isso nos aprouver.
Vale a pena ser dito: tudo isso aconteceu no natal - o que há com Papai Noel?
E beijos para você, Sandro, sempre!esta página é sua, entre, saia, fique! rss! seu passe é livre, fofo!meu querido e neurótico Sandro (odeio seu sotaque ABC paulista e odeio seu cigarrro, mas quem é perfeito?). O que será que a sua mãe ingeriu durante a sua gestãção, hein?
Não sei se lendo qualquer livro se pode atingir o bom senso, mas sei que ajuda: aprendemos.
E do Universo em Desencanto, todo mundo entende, mesmo sem ter lido o livro de que fala Tim Maia.
Não é fetiche de auto-ajuda, gente, é outra experiência.Hoje em dia está tudo embaraçado por conta desse comércio ridículo de falsas soluções - forjando que você deve se resolver sozinho. Leu a letra ái de cima? "Já pedi ajuda!", então, peça mesmo.
Quem sou eu para negar minhas eternas reminiscências auto-biográficas, auto-referenciais? então, friends, " já fiz muita coisa errada".
Bem, também não sei se a imunização racional existe, se a imunização passional/afetiva existe também (pelos parâmetros de minha analista, não existe não. Ninguém decide quando NÃO se apaixonar, não há como evitar. Lobão bem diz, "A paixão não tem nada a ver com a vontade/Quando bate é o alarme de um louco desejo"), mas vamos experimentando todo veneno, todo remédio...tragam suas taças!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Previsões astrológicas para 2011 - acredite se quiser!


Áries - de 21/03 a 20/4

Para os arianos 2011 sinaliza que você deverá cultivar a paciência de um cordeiro, tal o que simboliza seu signo.
Na vida sexual os astros recomendam não ser necessária a mansidão.
Este é o meu signo e se há uma recomendação que áries deveria seguir é a de parar de bater com a cabeça contra a parede, porque isso é muito recorrente nas atitudes dos arianos - embora traga mais dores de cabeça do que solução.
COR: Vermelha
Número da sorte: o telefone dele ou dela

Touro, de 21/04 a 20/05

Em 2011 os nativos de touro devem ter sempre em vista que chifre é uma questão de cabeça, não uma condição inalterável.
Se você tem uma força de touro, vá passear em outros pastos e páre de se interessar por vacas. Caso o nativo de touro seja interessante, desimpedido, carinhoso e bonito, pode vir aqui em casa que a consulta completa é grátis.

Gêmeos, de 21/05 a 20/06

Gêmeos despertam mil fantasias nas cabeças maldosas, de modo que os menàge a trois tenderão a continuar sendo suscitados em 2011.
Aproveite e troque de lugar com quem é a sua cara e vá viver situações novas.
A conjunção astral mostra que é perigoso ser duas caras, mas já que vocês são gêmeos, nada há de mal nisso.

Câncer, de 21/06 a 20/07

O canceriano é super família, sabe defender a quem ele ama e é ceguinho, ceguinho para os erros e defeitos de seus amados.
Com tendências masoquistas, adora se deixar maltratar. Em 2011 os astros recomendam cuidado para não virar casquinha de carangueijo e atenção para não andar de lado de modo a parecer que está andando para trás. Fique de olhos abertos para os siris entoncados em sua vida amorosa.

Leão, de 21/07 a 22/08

Leonino, para começo de conversa, abaixa essa sua juba, seja com escova progressiva, escova agressiva, escova inteligente, escova superdotada ou todas as anteriores.
Como o leonino é promíscuo e até Caetano veloso o admite, ao dizer "Meu coração galinha de LEÃO/não quer mais amarrar frustração", ponha ordem nesta fila de pegações, amassos e sexo.
Em caso de desconforto espiritual,se você for bonito, inteligente, alto, independente, heterossexual e discreto apareça aqui em casa, de tarde, e eu faço uma consulta astral infalível para você.
Garanto: os nós irão se desatar, os caminhos irão se abrir e você vai sair fortalecido (ou nem tanto, porque demanda energia) - ainda que os nós a serem desatados possam ser os da minha roupa e os caminhos a serem abertos sejam aqueles que ficam entre as minhas (hum-rhum!você sabe!)
Vênus estará na casa 624, que é o número da minha casa, em confluência total com a Lua, que é onde você deverá me levar, e o alinhamento dos corpos celestes ( o meu e o seu) influencia as trocas de fluidos astrais e favorece a tomada de posições (qual você prefere?podemos discutir isso).
O número da sorte é o meu telefone e a cor pode ser branca, porque adoro rapazes clarinhos.

Virgem, de 23/08 a 22/09

Primeiro, eu não acredito em você porque hoje em dia ninguém mais é Virgem, tá?
O líder espiritual Dalai Falcão profetizou: "A virgindade não importa mais/deve ser quebrada na frente ou atrás,/pois tem certas coisas que não se concebe/ porque é dando que se recebe". Acate essa sábia voz cearense.
Em 2011 os nativos de virgem continuarão perfeccionistas, frios e egoístas como sempre, atraindo uma legião de pessoas masoquistas que adoram ser pisoteadas por vocês.
Os astros indicam o uso de gel lubrificante, porque Virgem é o signo da dor na primeira vez. A astróloga recomenda um gel pequenininho e eficaz, chamado ironicamente de Santo, vendido nas sexshop.

Libra, de 23/09 a 20/10

Dois pesos, uma medida: é o que recomendam os astros, mas se a medida for de rum, vá com calma.
A natureza sonsa e dissimulada dos librianos poderá sofrer impactos profundos a partir dos pequenos vestígios deixados, pois que não há crimes perfeitos. Siga o ensinamento do grande sábio Evintann Veshame, que diz que "Respeito é trair direito".
O mundo astral também recomendam atenção com o peso, em 2011 e a necessidade de equilibrar a vida emocional.

Escorpião, de 23/10 a 21/11

Os fofíssimos nativos deste signo sabem se defender com o rabo, onde está o seu veneno.
Na natureza, o escorpião dá a vida por um sexo satisfatório, literalmente. Então, não precisa disfarçar, parta agora mesmo para a mulher do próximo, para o homem da próxima, para o que ocorrer entre próximos e os distantes e promova um flash mob sexual em 2011 (me chama para registrar a energia do ambiente).

Sagitário, de 22/11 a 20/12

Costumam achar que você é meio cavalo, não é? não se sinta inferior por isso, pois é justamente nas partes mais desenvolvidas do cavalo que está a sua vantagem.
Em 2011 os astros prevêem flechadas certeiras nos seus alvos.

Capricórnio, de 22/12 a 20/01

Se em sua vida só dá bode, tranquilize-se: tudo vai mudar para melhor em 2011.
Sol e Plutão estão em seu signo neste exato momento, o que indica grandes possibilidades de ir à praia. Os astros esclarecem que Plutão não é o aumentativo de Pluto, seu burro!vá ler enciclopédia e consultar o Google.

Aquário, de 21/01 a 19/02

Aquarianos são pensativos e desconfiados. Claro: já estiveram cheios de piranhas, já nadaram com tubarões e muitas águas já rolaram para aquário.
Os astros recomendam a limpeza dos vidros a cada 20 dias.

Peixes, de 20/02 a 20/03

Piscianos são românticos, traidores discretos e fabricantes de sonhos: assim os descrevem os astros.
Para peixes, lave retirando as escamas, mergulhando em suco de limão por pelo menos 15 minutos.
No primeiro trimestre, peixes estará frito devido a algumas investidas amorosas. Entretanto, no resto do ano é só moqueca mesmo.

Aos nativos de todos os signos a Mãe Mara, astróloga, espírita, vidente,míope, devota de São Jorge e fã dos Beatles, deseja um excelente 2011.
Há necessidade de fortalecer a solidariedade, por isso não deixe de depositar alguma grana em minha conta.
Pensem positivo, desejem o bem, mentalize um Ford Fusion e façam um cheque com provisão de fundos nominal a mim: o Ford Fusion irá se materializar em minha garagem e eu serei muito grata a todos vocês.
Pare de sofrer agora: deposite, transfira e faça o bem a alguém que merece um carrão.
Tudo de bom, gente! Que 2011 seja um ano de luz e de grana para pagar a conta de luz!
Happy new year!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Quinze anos


Lembra de quando você tinha 15 anos? deveria lembrar, poxa! principalmente se você reclama de quem quer parecer jovem, se você critica todo tipo de vaidade, se você é aquela pessoa amarga, que lamenta o passar dos tempos ao mesmo tempo em que se volta contra aqueles que ainda são jovens.
Quantas vezes você fez 15 anos? se tem 30, fez duas vezes...Graças a Deus o tempo passou.
Não tive festa de debutante.
O que havia de tão mágico em ter 15 anos? acho que a própria juventude, não é?
Aos 15 anos eu não via a menor graça na vida. Creio que por ter madrasta e um pai negligente, ou era nulo em relação a ela, sei lá.
Também eu não tinha liberdade, nem independência.
Eu tinha era dúvida.
Tinha muita ousadia e muito medo, também.
Aos 30 eu me senti gente. Gente mesmo, de ter consciência de mim, de me perceber no mundo, de perceber meus entornos, de confirmar minhas escolhas e de desistir de algumas idéias fixas.
Agradeço muito àqueles que passaram pela minha vida e me mostraram que eu podia declinar de um orgulho, que eu podia correr atrás de um sonho, que eu podia abraçar minhas convicções, que eu podia assumir alguns afetos de ódio e de amor.
Ainda estou na casa dos trinta e acredito que os 30 completam aquilo que me falta aos 15 anos.
Há pouco eu estava assistindo à Excêntrica família de Antônia - filme muito citado por Nery, mas do qual ele nunca disse uma linha sequer -, no Telecine Cult, e fiquei observando não só o fato de ser este um excelente filme, curioso, criativo, crítico, mas me identifiquei com certas passagens, claro, por ser cômodo encontrar um subterfúgio para o que eu sei que vem por aí para mim.
Explico: o filme é narrado pela bisneta de Antônia.
Na história, as várias gerações se encontram, de alguma forma além daquela fisicamente mostrada, nas mesas em que a famílias e reúne.
A relação entre as mulheres da família é o ponto forte, num plano em que os homens são maioria em poder de mando.
Então, a filha de Antônia resolve que quer ser mãe. Quer ser mãe e não quer um marido: assim nasce Thèrèse, superdotada, leitora de Nietzsche e de Schopenhauer,e que, desde criança, sempre dialoga com um filósofo sapientíssimo, seu mentor e parceiro intelectual.
O tempo passa e Thèrése tem, agora, 20 anos.
Após experimentar uns relacionamentos com homens intelectualmente compatíveis com ela, se decepciona com a performance sexual deles e, por fim, engata um affair com seu amigo de infância.
Aí é que está a questão: desenrola-se toda uma série de ponderações sobre dar vida a alguém.
Pensando por Schopenhauer, não se dá a vida a alguém: condena-se esta pessoa a uma droga de existência,a os seus pesos, aos seus desesperos.
Thèrèse opta pela maternidade, mas é uma mãe negligente, dando a entender que sua decisão seguiu os passos do "imperativo categórico", conforme superficialmente possamos nos referir a Kant.
E eu fiquei assistindo, vidrada! eu, que pouco, perto de nada, sei sobre Schopenhauer...pensei nas desculpas que eu vou dar a ele, quando este assunto voltar - e o dia está próximo.
Como dizer a um homem que a maternidade não faz parte dos seus planos?
Como explicar que a idéia de união matrimonial lhe causa medo, pavor, temor?
Então, penso nos meus 15 anos: àquela altura, eu não sonhava, como as minhas amigas sonhavam, em casar e ter a minha casa, no sentido de casa-família.
Eu sonhava com a minha casa.
A minha, sabe?
Não pensei num marido, num noivo, num papel masculino qualquer além do papel de namorado.
É que o amor me bastava.
E eu sempre tive medo do tempo, não do que ele pudesse fazer com a minha cara, mas do que ele faz de quem a gente idealiza.
O tempo desgasta os homens; o tempo desfaz e pode refazer nossos sentimentos, nossos encantamentos...
Penso que não tenho argumentos, ou não tenho os argumentos certos - ora, mas jogar para a Filosofia a responsabilidade de responder por mim não será covardia?
Quando Joaquim me diz, em nossas conversas, que a vida, para mim, é um fardo, poxa eu concordo.
Acho que a gente todo dia se esforça para seguir vivendo, vai lutando, se quebrando, se virando para superar as tristezas peculiares à vida.
No filme se questiona isso: a vida é um presente? ora, respondo eu: É. E de grego!
Depois que você está vivo, já não há escolhas: eis a vida. Mesmo que você se suicide, isso acontecerá devido à vida, à sua relação com ela.
Escolheram sua vida por/para você.
Isso pode ser ótimo para os otimistas (rss!!!), porque pressupõe a gratidão por este presente, a conservação dele.
Agradeço muito pela minha vida, mas o custo de manutenção é alto.
Se ele soubesse que eu sou assim, complicada, será que ainda gostaria de mim como gosta?
Acho que só os amigos bem amigos são assim conosco, entendem nossas complicações. E quando falo disso, só me vem à cabeça Conceição - Conceicinha, Cinha, aquela que sempre me aceitou como eu sou, me amparou, olhou para minha cara quando eu estava errada e não me disse que eu estava errada, por saber que eu sabia o quanto eu estava errada.
No filme também a narradora diz: "os semelhantes se encontram".
Na minha vida nunca vi justeza em dizer que os oposto se atraem. Nunca me pendurei em meus opostos. Entre a identificação e o contraste, fico com a primeira.
Claro que os meus relacionamentos amorosos se compuseram por gente que não tinha nada a ver comigo em alguns pequenos setores, mas não em diferenças estúpidas e gigantescas.
Acho que falei disso tudo porque estou estourando de medo.
Não queria que ele achasse que eu não gosto dele, que não me encaixo nos planos que ele me apresenta.
Nessas horas eu queria ter 15 anos de novo e deixar que o meu pai ou algum adulto resolvesse tudo por mim.
Que nada! sou birrenta: adoro brigar pelo meu território, decidir, comandar minha vida.
Bem, não tenho mais argumentos: sou toda medo!
Transcrevo, por identificação, é óbvio, uma das mais lindas passagens de Gabriela, cravo e canela, que, pelo menos para meu parco saber, confirma Jorge Amado como um gênio da literatura nacional, em criatividade, em beleza, em conteúdo ou o que quer que seja.
Para os raciocínios rasos que seguem com o velho discurso que alega machismo na obra de Amado, em especial nesta, apenas lamento a miopia.
De minha parte, que assumidamente tenho tendências à defesa do meu gênero, transcrevo porque talvez eu tenha em mim muito dessa mensagem - que vai desde os meus 15 anos...
E foi muito importante, para mim, ter 15 anos.

CANTIGA PARA NINAR MALVINA

Dorme, menina dormida
Teu lindo sonho a sonhar,
No teu leito adormecida
Partirás a navegar.

Estou presa em meu jardim
Com flores acorrentada.
Acudam! Vão me afogar.
Acudam! Vão me matar.
Acudam! Vão me casar
Numa casa me enterrar
Na cozinha a cozinhar
Na arrumação a arrumar
No piano a dedilhar
Na missa a me confessar.
Acudam! Vão me casar
Na cama me engravidar.

No teu leito adormecida
Partirás a navegar.

Meu marido, meu senhor
Na minha vida a mandar.
A mandar na minha roupa
No meu perfume a mandar.
A mandar no meu desejo
No meu dormir a mandar.
A mandar nesse meu corpo
Nessa minh’alma a mandar.
Direito meu a chorar
Direito dele a matar

No teu leito adormecida
Partias a navegar.

Acudam! Me levem embora
Quero marido pra amar
Não quero pra respeitar
Quem seja ele – que importa?
Moço pobre ou moço rico
Bonito, feio, mulato
Me levem embora daqui
Escrava não quero ser.
Acudam! Me levem embora.

No teu leito adormecida
Partirás a navegar

A navegar partirei
Acompanhada ou sozinha.
Abençoada ou maldita
A navegar partirei.
Partirei pra me casar
A navegar partirei
Partirei pra trabalhar
A navegar partirei.
Partirei pra me encontrar
Para jamais partirei.

Dorme, menina dormida
Teu lindo sonho a sonhar.

(AMADO, Jorge. Gabriela cravo e canela: crônica de uma cidade do interior. 59 ed. São Paulo: Record, 1979 )

domingo, 19 de dezembro de 2010

Playlist para o natal


Já que me pediram, vai uma playlist básica, para dar um up grade naquela porcaria de Confraternização natalina ou nas festas sem graça com a família briguenta que abre trégua no natal:
Para alegrar, dançar e pirar na pista:
Time bomb (Rancid);
Just dance (Lady Gaga);
Like a G6 (Far Est Movement);
Represent Cuba (Orishas);
Break your heart (Taio cruz & Ludacris)
Tudo de bom (Fernanda Porto);
Teenage dream (Katy Perry);
Umbrella (Rihanna).

Para curtir dor-de-cotovelo, depressão, impulsos suicidas (corta-pulso geral), baixo astral e ressaca moral:
She (Elvis Costello);
I starded a joke (Bee Gees);
Michelle (Beatles);
Don't let me down (Beatles);
Yesterday (Beatles)
Ode to my family (The Cranberries);
Love tear Us apart (Joy Division);
Everybody hurts (R.E.M.)
Atrás da porta (seja com Chico Buarque, seja com Elis Regina, é de chorar!)
Outra vez (Roberto Carlos - além de triste, brega: é só ouvir tomando cerveja que é morte certa);
Mentiras (Adriana Calcanhoto)
Vou parar por aqui, para não dar motivo para que a festa de natal vire o epicentro da melancolia.
Para curtir momentos brega internacional, vulgo pop-brega:
Total eclipse of the heart (Bonnie Tyler);
Love hurts (Nazareth);
Agora, se quer que os mais velhos remexam, pode tocar todos aqueles baratos de festas Ploc dos anos 80. Contudo, eu recomendo: se meter faixas de Jovem Guarda e aqueles baratos nacionais das décadas de 60 e 70, vai dar uma caída cem por cento na festa.
Se quiser fazer seu priminho delicado dar pinta, já sabe, né? manda aquelas músicas da década de 70, do tipo I will survive: não vão restar dúvidas.
O Ministério da Saúde adverte: Ouvir certas músicas em festa natalina pode provocar mal-estar, vômitos, bebedeiras e inconveniências.

Dos efeitos de deslumbramento


"Conversaram para entreter o tempo. Falaram de si mesmos. De suas vidas diferentes, do acaso inverossímil de estarem nus no camarote escuro de um navio encalhado, quando o justo era pensar que já não tinham tempo senão para esperar a morte. Ela jamais ouvira dizer que ele tivesse tido uma mulher, uma que fosse, numa cidade em que tudo se sabia até mesmo antes de acontecer. Disse de um modo casual, e ele respondeu de pronto sem o mais leve tremor na voz:
- É que me conservei virgem para você.
Ela não teria acreditado nisso de maneira alguma, ainda que fosse verdade, pois suas cartas de amor estavam cheias de frases como essa que não valiam pelo seu sentido mas pelo seu poder de deslumbramento."
( Trecho do livro de Gabriel García Márquez, O amor nos tempos do cólera,p.418)

Eu também acho isso: embora nós, mulheres, saibamos que os homens, tecnicamente são iguais, adoramos acreditar na hipótese de ter encontrado um homem diferente.
Um homem diferente seria, apenas, um que não tivesse comportamento de grupo e praticasse um pouco de sinceridade.
Mas, se não há sinceridade, e daí? podemos pensar como Fermina Daza, no trecho acima transcrito: Vale o poder de deslumbramento da frase e não seu sentido tão duvidoso, ou clichê.
À parte o poder de deslumbramento que ele lança, gosto daquela dose de indubitável sinceridade - sinceridade que fere, que fervilha meus ciúmes, que me dá uma idéia clara de que "lá no Oriente tem gente com olhar de lança/na dança do meu amor", como diria Moraes Moreira.
E o bom é que ele me acalma.
No lado de querer um que não seja igual aos outros, a inteligência dele faz a diferença. Homem inteligente é o máximo.
A inteligência dele me acalma.
O encadeamento das frases, o sentido, a concatenação, tudo está ali e ele formula o Heléboro, o remédio que cura todos os males: Acalma, aconchega como um abraço bom, faz sonhar, faz dormir, faz reverter qualquer ódio, desanda os ímpetos de briga e traz a paz.
Isso também porque ele me conhece. Quando eu pensava que ele estava me conhecendo, quando eu pensava gerúndio, já era presente e eu agradeço muito por isso.
Um dia pensei com tristeza essa música que transcrevo abaixo, dos Detonautas (Você me faz tão bem).
Era, de fato, uma dor ouvir essa trilha sonora de minha separação do Grande Amor da Minha Vida ( que, volto a dizer, acabou mas não deixou de ser importante. Não ele, a pessoa que amei, mas o relacionamento em si e os sentimentos nele contidos: contiua tudo importante).
Acho que ele mudou minha relação com o passado ou pelo menos me fez dar outros significados aos meus mesmos velhos signos.
Ele é inteligente e eu aprendo com ele.
Quando eu me perco é quando eu te encontro
Quando eu me solto, seus olhos me veem
Quando eu me iludo é quando eu te esqueço
Quando eu te tenho, eu me sinto tão bem
Você me fez sentir de novo
O que eu já não me importava mais
Você me faz tão bem
Você me faz, você me faz tão bem
Quando eu te invado de silêncio
Você conforta a minha dor com atenção
E quando eu durmo no seu colo
Você me faz sentir de novo o que eu já não sentia mais
Você me faz tão bem
Você me faz, você me faz tão bem
Não tenha medo
Não tenha medo desse amor
Não faz sentido
Não faz sentido não mudar esse amor
Você me faz, você me faz tão bem

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Não é BEM o que parece


Vocês sabem muito bem o quanto eu odeio terrorismo virtual, correntes ameaçadoras e coisas afins.
Somos seres simbólicos e nos deixamos impressionar, afinal o bem, para acontecer, é cheio de protocolos, mas o mal é acessível, rápido e simples. Caberia à gente repensar por que há mensagens revestidas pelo manto do bem, a propósito de solicitar bons desejos e bons pensamentos e, no final, o mal aparece sob a forma da chantagem espiritual: ou você repassa ou o troco será abominável e temível.
Interessante, justamente, é a eficácia do simbólico implícita nisso: se algo bom acontecer, atribuimos ao milagre de dar continuidade a uma corrente. Entretanto,se nada que planejamos se concretizar, aí ficamos tementes do castigo, atribuindo isso à teimosia em não crer na corrente.
O que está em jogo, na verdade, é o próprio JOGO: jogo sádico de alguém que sabe manipular temores, juntar imagens, música, mensagens e apelo espiritual.
É, conforme eu falo, o BEM é cheio de protocolos: para acontecer você tem que cumprir mil rituais e ele não vem de graça, além de só entrar onde é convidado.
O mal é mais democrático, ocorre de graça, do nada você recebe ele. Nem precisa chamar, que alguém leva o mal até você gratuitamente, sem razões explícitas e sem maiores explicações.
Da mesma forma, se você quer bem a alguém, use a fé e use as obras, faça alguma coisa.
Penso nas formas de que o mal se reveste: é aquela pessoinha sensível e acima de qualquer suspeita que está ali, lhe oferecendo amparo, consolo, conselhos e que ganha sua confiança para depois te detonar, para perceber suas fraquezas e manipular o que puder; é a outra pessoinha fragilzinha que se queixa dos sofrimentos da infância, de ter sido preterida frente aos irmãos ou aos namorados e que você não nota que esta é uma pessoa invejosa, que responsabiliza os outros pelas suas misérias atuais, que acha que alguém está com algo que pertence, por direito, a ela; é a pessoa que te conta segredos alheios, pedindo pelo amor de Deus: "Não diga que fui eu quem disse". Opa!!!que garantias você tem de que da mesma maneira essa pessoa não vai divuylgar seus segredos?
Convivemos com estas pessoas.
Assim como as correntes, estas pessoas vêm revestidas pelo sagrado manto do bem, da sabedoria, da parcimônia, da sensibilidade...
Assim como as correntes, estas pessoas trazem, então, uma imagem comovente.
Há coisas de que a gente s equixa, por ter desejado e naõ ter obtido.
Às vezes a gente deixa de realizar um desejo por um detalhe, detalhes mínimos: 10 minutos de atraso; um papel que não foi autenticado; um termo ausente; a supressão de algum parágrafo; um problema técnico; um problema interpretativo; um pequeno incidente; falhas de terceiros que recaem sobre nós, enfim, não é nada fácil perder o que se deseja por causa de um detalhe.
Já chorei muito por isso.
Já lastimei de tal modo que ressequei a boca e alma, gritando: "Como pode? Como pode?".
Olhe que não sou uma pessoa de prêmios de consolação, nem com tendência a pintar a vida de cor-de-rosa, ressignificando as tragédias, mas devo reconhecer: para alguns desses desejos que foram imposssibilitados de acontecer devido a detalhes, dou graças a Deus.
Aquele velho ditado chinês que diz: "Cuidado com o que desejas", não é vazio não.
Muito do que a gente deseja se esvazia porque os desejos também são circunstanciais.
Peso muito entre os desejos, por exemplo: entre algo de que eu precise muito e alguém de quem eu queira manter distância, o desejo pelo último é maior.
Percebo isso: nenhum desejo em mim é maior do que o desejo de estar longe de quem me fez mal, de quem eu não gosto ou de quem eu me decepcionei moralmente. Para estes, se eu pudesse, colocaria um daqueles avisos de carroceria de caminhão: Mantenha distância.
Nada é mais gratificante do que manter distância dessas pessoas: eu, pessoalmente, nem falo mais no nome da criatura, não escrevo, não procuro, não toco no assunto com terceiros, sinceramente, sepulto. Salvo, é claro, quando abro pequenas tréguas para me acercar sobre uma máscara que cai ou algo do gênero, isto é, se o assunto for pauta de encontro entre amigos. Caso contrário, me arrisco a aconselhar: mantenha distância e amplie essa distância, tornando-a uma distância de pensamento, esqueça esse traste de criatura.
Essas correntes são extremamente perigosas: elas te prendem às pessoas realmente maléficas, a situações prejudiciais e a calabouços de dependência emocional.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Histórias sujas


Meu amigo estava na sala enquanto eu tomava banho.
Depois de muito cantarolar sob o chuveiro, resolvi perguntar ao meu amigo se ele sabia por que a gente tinha essa tendência a fazer do banheiro um karaokê, por que a gente cantava, enfim.
Sabiamente ele discorreu sobre uma teoria da Física que eu não saberia reproduzir, mas que em suma diz respeito a processos físicos e reação a eles, gerando e liberando endorfinas e substâncias afins que nos deixam cantando com a alegria de passarinhos bobos numa manhã de verão.
Isso me deixou perplexa. Não me refiro à teoria, mas ao fato de ele ter conhecimento de uma teoria destas e, ainda assim, ser resistente ao banho.
Se tem uma coisa que me deixa impotente são os meus amigos sujos: a maioria deles, incluindo uma amiga minha linda e inteligente, têm consciência de que, para eles, o banho é um desprazer, uma obrigação mais social do que higiênica e uma total perda de tempo.
Isso é extensivo ao hábito de lavar os cabelos, o rosto e escovar os dentes - ou seja, eles odeiam hábitos de higiene.
Minha impotência é porque não consigo nem mesmo convencer meu próprio tio único a tomar banho.
Muitos dos citados amigos e parente têm mesmo MEDO da água: é coisa de sob uma temperatura absurda e um calor estupendo eles quererem tomar banho de água mega-quente.
Olho enojada aquelas caras oleosas e suarentas, aqueles cabelos literalmente sebosos, com caspas intermináveis por que o melhor dos xampus anti-caspa é inútil se administrado sob água quente.
Olho ainda mais terrificada à paixão que eles têm pelo ar condicionado, como se fosse uma proteção para diminuir o calor e amortizar o mau cheiro. Muitos deles gostam de perfumes importados e tentam disfarsar sua sujeira com bons aromas. Nem sempre dá certo.
Um destes amigos vem tentando se enquadrar socialmente - digo isso porque ele agora toma um banho por dia, sabe? e ele acredita que escovando os dentes uma vez por dia está protegido porque a higiene tem essa validade de 24 horas - será sempre uma tentativa de enquadramento social, não um hábito regular nem um gosto por parte dele.
O cara que não toma banho é análogo àqueles outros tantos seres desagradáveis que, ao tomar banho, não cuidam de perfumar ou neutralizar os odores das axilas.
Tem os malucos que acham que sabonete e higiene são invenções capitalistas. Se for, problema do capitalismo! isso não desautoriza e não tira a legitimidade do hábito de higiene.
E tem mais: pode ser o cara mais gato do mundo, mas se a unha é grande, ou grande e suja ou, pior ainda, se ele deixa as unhas do dedo mínimo crescerem, saia de baixo que atrás de uma unha suja sempre vem um porco, tá?
O ser humano produz secreções de mais: é saliva, suór, lágrima, melecas de nariz, cera de ouvido, esperma, olha que a lista vai longe...e tudo isso tem sua função e precisa ser descartado para se renovar, requerendo limpeza dessas áreas constantemente.
Vou ser leve: pense aí na sua cara, após acordar por 4 dias seguidos e não lavar o rosto - e consequentemente, os olhos?
Até os gatos, os animais todos têm seus sistemas de higiene - mas um sujeito porco, bem porco, vai sempre procurar catar teorias para evitar a limpeza.
Quando minha amiga pirou, a analista me disse que ela descuidaria dos hábitos de higiene. Sim, os loucos têm cheiro próprio. Os depressivos também - se estão largados da vida, o comum é desprezarem a si de tal forma que não cuidam do banho.
Deixei de namorar um gato por um motivo oposto: ele lavava as mãos umas trinta vezes num curto intervalo de tempo; passava a Micareta vigiando a casa, para que ninguém fizesse xixi no muro e isso e mais um pouco descrevia o quadro do TOC= Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
Contudo, dos dois tipos extremos, melhor um maluquinho limpo, não é?
Mas, quanto àquele amigo citado, o da teoria, ele nunca saberá por mim que a mulher que ele amava também o amava, mas temia o convívio com aquela falta de higiene.
Uma ilusão que as pessoas têm é a de que quando se é amigo íntimo de alguém essa intimidade permite dizer muitas verdades. Ah, não dizemos verdades, não.
Assim foi que ela vislumbrou a minha cara de fracasso, após fazer o que eu podia para jogar meu amigo no caminho do chuveiro. Ela desistiu. Eu também.
Neste final de semana ele suava muito e eu propus, após meu banho, que ele também o fizesse. Em princípio veio aquela máxima que os sujos usam como pretexto: Tomar banho e usar roupa suja, dá na mesma!
Retruquei: "A roupa pode estar suja, mas você não estará e isso lhe trará conforto."
Nada feito!
De manhã, outras propostas: "você pode bochechar com creme dental e depois usar enxaguante, já que você não tem escova em minha casa."
Nada feito!
"Pode lavar o rosto, menino, para tirar essa cara de sono"
Nada feito também.
Sou impotente com todos eles.
Dói minha impotência com o meu tio único, porque é tudo cansativo. Destilar teorias, mostrar razões, pedir pelo amor de Deus, ah, nada consegue demover um sujo da zona de conforto de sua sujeira.
Nao pensem que o Cascão de Maurício de Souza é mera ficção: apareçam e eu vos mostrarei a verdade da ficção.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O Valor do Reveillon


Já passamos do tempo da hipocrisia, pelo menos no tocante à constatação de que dinheiro é importante e necessário e um agente fundamental para a felicidade.
Dinheiro não traz felicidade, dizem. Eu acho que dinheiro sempre traz felicidade. Ele não dá é garantias de que tendo mais dinheiro você será mais feliz, mas, com certeza você ficará mais feliz. Entendeu a diferença entre o ser (será) e o estar (ficar)? todo mundo se alegra com um dinheirinho a mais.
As coisas que não podem ser compradas, tudo bem, elas existem para alimentar nossas angústias.
Lembro de Nicholas Cage, em O senhor das armas, quando resolve conquistar aquela modelo que vem se tornar esposa dele: ele arrasta o que pode para impressionar a moça e ainda diz:"Dizem que amor não se compra. Eu concordo. Mas, que ele dá uma forcinha, ah, ele dá!".
Daí que essa circunferência no post de hoje é porque eu francamente finquei pé de que pagar R$ 370,00 no Camarote Oceania para este Reveillon é coisa de louco. Contudo, quem paga quer felicidade. Quem não quer um ano novo feliz? a sensação é esta, de que você está pagando e será feliz e a noite será alegre.
Reveillon, para mim, depende de festa. Sabe o que é festa? eu estou perguntando porque as pessoas não têm clara noção do que é festa, acham que reunir um bando de gente em torno de uma conversa ou de uma banda e estar em contemplação é festa.
Festa presume música e dança. E gente, claro!
Festa sem música é análogo a um churrasco sem carne, a uma suruba sem sexo, a um conjunto unitário - e, Senhor, ajudai-me a entender porque a Matemática concebeu conjunto unitário. Como pode uma única coisa, um único elemento formar um conjunto? Eu sei que, por ser mulher, as glândulas responsáveis pelo domínio matemático são escassas, mas, vá lá, irmão, pense aí: você já viu um conjunto formado por um só elemento? como pode? que paradoxo é esse? - coisa d einglês, né? one man band (banda de um homem só...vai que é coisa do Cãozinho dos teclados, o Frank Aguiar,hein?)
Deixa a matemática para lá.
Olhe, pensando bem, não deixe não: faça as contas aí para ver se vale a pena gastar uma grana por uma felicidade mínima instantânea que é o reveillon.
Papo amargo, né? tá bom: eu nunca tive um reveillon feliz.
Nunca entendi direito isso: já passei com amigos, com namorados, pulando sete ondinhas, em mar e etc., mas nunca tive um reveillon feliz.
Talvez seja a falta da festa.
Se sou hiperativa, tenho energia para gastar, para detonar, preciso canalizar esse meu fogo no...espírito para algum lugar, não é?
Agora me pergunte se eu já tive um carnaval triste? Não que eu me lembre.
Mas é um negócio isso. Sim, reveillon é negócio!
Pior é o day after: pense, a gente fica até cinco da manhã sem dormir. Aí sempre tem a peste do amigo mala que quer conversar porque não está com sono.
Tem também o vizinho que resolveu emendar um pagode no dia 01 e o som fica alto na vizinhança.
Depois de muitas perturbações, você resolve acordar sem ter dormido - haja corpo mole, ouvido zumbindo, sensação de que deitou embaixo do elefante e, a depender de sua vida sexual, vai pintar uma terrível e inexplicável dor na bunda.
Eis o dia primeiro do ano: praia? nada feito: tudo emporcalhado e uma infindável quantidade de rosas e palmas devolvidas por Yemanjá.
Restaurante e bares? tudo fechado, eles ,que lá trabalham, têm que dormir.
Nada de cinema.
Nada de praça de alimentação.
Sorria: você está sozinho.
Se estiver na Bahia, aí, mano, tu tá f#dido: é se preparar para almoçar algum enlatado esquecido na geladeira, aquele que as visitas indiscretas não devoraram e tocar a matar o tempo até o Pôr-do-som, na Barra. Aí você vê gente. Só não vai ver a cantora, né? porque tá tudo lotado de gente e o show das 17 horas começa às 20h30min.
Então "Volto para casa abatida, desencantada da vida" à espera de que a felicidade venha, finalmente no dia 02.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Eu, tu, eles


Com ela aprendeu Florentino Ariza o que já padecera muitas vezes sem saber: pode-se estar apaixonado por várias pessoas ao mesmo tempo, por todas com a mesma dor, sem trair nenhuma. Solitário entre a multidão do cais, dissera a si mesmo com um toque de raiva: " O coração tem mais quartos que uma pensão de putas."
(Trecho de O amor nos tempos do cólera, de Gabriel García Márquez. 30º ed. Rio de Janeiro: Record, 2007, p.334)
Sei que minha decisão era visível para ele e que, por muitos minutos ele ficou a balançar impacientemente a perna ao sentar ao meu lado, lendo minha reação de distância.
Dali que deve ter nascido aquele ímpeto de me pôr a nocaute, mostrando que poderia me subjugar, subornar meus instintos e assim o fez, se precipitando em me beijar quando estávamos a sós.
Ali se quebraram minhas resistências.
Perde-se o senso, a noção, o juízo e a completa referência moral e a percepção do perigo num hora dessas - e eu nunca vi C. assim.
Formou-se uma fila de carros atrás de nós porque a frente do prédio da analista é movimentadíssima e, afinal, deixamos de estar no mundo porque o mundo era somente nós dois e os nossos desesperos de beijos, de abraços e de carícias impróprias ao lugar e às circunstâncias.
Agora eu sei porque algumas pessoas acabam presas por atentado violento ao pudor e porque batem o carro sem motivo aparente.
Ele me beija acariciando os meus cabelos, conduzindo minha cabeça, em claro símbolo do desejo de me dominar.
O ariano em geral e eu em especial, sou conquistada pela cabeça, sou dominada pela cabeça e, por isso, desfaleço quando acariciam os meus cabelos.
Ele me beija me dominando, tão intensamente, me fazendo promessas vãs e dizendo os mais lindos clichês que um homem poderia dizer.
Ele desafia a força das minhas decisões quando as confronta com os meus desejos e com a habilidade que ele tem em me mostrar qual dos dois é o mais forte ( se as decisões, se os prazeres).
Mas, então,adoro aquele peste. E adoro o outro que me salvaguardou do peste...não gosto de pensar que o meu coração é uma pensão de putas...não gosto de pensar nas verdades inconvenientes.

domingo, 28 de novembro de 2010

Acima da lógica


Na minha lógica, os fracos precisam de camisas de força: bom fortificante. Não entendo é porque camisa-de-força é algo para loucos (estes já são fortes).
Também pela minha lógica, pernóstica é uma pessoa que tem as pernas compridas; meretriz é uma mulher que tem muitos méritos, ombridade é adjetivo relativo a quem tem ombros largos e catacrese, longe de ser uma figura de linguagem, seria ou uma catástrofe, cataclisma, terremoto ou doença grave. Por essas e outras é que não se deve acreditar muito em minha capacidade lógica.
E rompendo todo o encadeamento lógico, vou editar aqui o processo da história e ir ao ponto-chave:Allan poderia dizer hoje sobre si mesmo, "rompi tratados, traí os ritos".
Que bom para mim!depois que a gente se falou ontem à noite, eu não sei explicar, mas o tempo parou.
O tempo parou até depois daquele tempo todo de conversa, até meus protesto lógicos contra os amores apressados e as decisões precipitadas pararem diante da lógica dele e isso foi como encarar um terremoto sem a menor condição de me segurar em qualquer lugar. É, me desestabilizou.
Agora eu preciso ter uma longa e pausada conversa comigo mesma e isso não vai ser fácil.
Percebi que se hoje tenho maior clareza para definir o que não quero, para dizer não, para excluir, por outro lado não tenho lá muita noção do que quero.
Estar racionalizando demais e quebrando a espontaneidade que me era própria e erguendo muros de comedimento é, na verdade, não prova de maturidade, mas atestado de insegurança. Já não digo que é "melhor cair das nuvens do que do quarto andar", tenho medo de flutuar - velho paradoxo de A insustentável leveza do ser.
Aprendi a ser Tereza, a personagem do livro. Mas não a Tereza que sonha c
om os alfinetes sob as unhas, ou a que adoece de ciúmes contidos, como acontece com ela. Refiro-me à Tereza que antes de ir ao encontro de Tomas, guarda seus pertences num guarda-volume, não oferece toda a sua vida a ele:
"Conhecera Tereza três semanas antes, numa pequena cidade da Boêmia. Mal tinham passado uma hora juntos. Ela o acompanhara à estação e esperara até o momento em que ele subiu no trem. Uns dez dias depois veio vê-lo em Praga. Nesse dia logo fizeram amor. De noite ela teve um acesso de febre e passou uma semana inteira com gripe na casa dele.
Ele sentiu então um inexplicável amor por essa moça que mal conhecia. Tinha a impressão de que se tratava de uma criança que fora deixada numa cesta, untada com resina e abandonada sobre as águas de um rio para que ele a recolhesse no regaço de seu leito.
(...)
Seria melhor ficar com Tereza ou continuar sozinho?
Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação.Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que faz com que a vida pareça sempre um esboço.
(...)
Mas um dia, numa pausa entre duas operações, uma enfermeira vem avisá-lo de que está sendo chamado ao telefone. Escutou a voz de Tereza no aparelho. Estava telefonando da estação. Ele se alegrou com isso (...)
Ela chegou na noite do dia seguinte. Usava uma bolsa tiracolo com uma longa alça, ele achou-a mais elegante do que da última vez. Trazia na mão um livro: Ana Karenina de Tolstói. Tinha maneiras joviais, até mesmo um pouco ruidosas, e esforçava-se para demonstrar que estava passando inteiramente por acaso, graças a uma circunstância especial: estava em Praga por motivos profissionais, talvez (suas propostas eram muito vagas) à procura de um novo emprego.
Em seguida viram-se deitados nus e cansados no divã. Já era noite. Ele perguntou onde ela morava, ofereceu-se para levá-la de carro. Ela respondeu, embaraçada, que iria procurar um hotel e que tinha deixado a mala no depósito.
Na véspera ele temera que ela viesse oferecer-lhe toda a sua vida se a convidasse para vir para sua casa em Praga. Agora, ao ouvi-la dizer que sua mala estava no depósito da estação, pensou que ela havia depositado sua vida na estação antes de oferecê-la"
(KUNDERA, Millan. A insustentável leveza do ser, pp.12-15. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983)

Acho super instigante este ponto da narrativa, mostrando as grandes metáforas dos relacionamentos, especificamente dos relacionamentos que se constituem em meio às indecibilidades, dos medos de não acertar. E o narrador de A insustentável leveza do ser completa esta parte do capítulo dizendo que "Tomas compreendeu então que as metáforas são perigosas. Não se brinca com as metáforas. O amor pode nascer de uma simples metáfora" (P.16)
Comparativamente, eis que o ex-Grande Amor da Minha Vida acabou de me dizer, há poucos minutos atrás, o quanto se arrepende de ter sido racional nas decisões que tomou.
Ele viu que não foi racional nos termos de medir consequências, mas que foi frio e prático.
Quando uma mulher busca ser racional,em termos afetivos, ela está saindo da zona do imperativo do gênero. Isso não quer dizer que mulher é burra e irracional, mas que ela arrisca mais, que se joga nos relacionamentos, que paga os preços dos riscos, que se esbandalha, se estilhaça, vai para a U.T.I. emocional, mas tem uma sobrevida muito melhor do que os homens, esses seres medrosos por excelência.
Pensei agora no fato de que eu gosto de dormir na beira da cama. Eis uma metáfora complexa: o homem dorme na beira da cama e do seu equivalente desde os tempos das cavernas, porque ele é o defensor, ele é a tropa de frente, a avant guard, ele protege quem está no canto, se põe neste lugar vulnerável aos ataques.
Ao mesmo tempo, estar na beira da cama lhe permite maior mobilidade - entrar, sair, levantar, etc. Teoricamente, uma mulher não pode "passar por cima" de um homem, não sem que ele perceba, não sem que ele proteste.
Eu gosto da beira cama.
A beira da cama sempre foi motivo de disputa em minha casa, quando algum namorado dormiu aqui ou dormiu comigo em outro lugar.
Já acordei asfixiada porque me topei com a parede e me deu uma claustrofobia dos demônios.
Com o Outro, o miserável saía me perseguindo na cama e me espremia contra a parede. Incomodada eu acordava, porque tudo me acorda mesmo,mas tomava o lugar dele na beira da cama.
Mas, saltando as lógicas interiores, as lógicas que desafiam a razão e qualquer outro aparato lógico,todo mundo tem bagagem e tem medo de carregar a bagagem do outro, de experimentar o peso.
Esse meu percurso imaginativo e deambulatório entre as experiências passadas e aquela experiência recente mostra o peso de minha bagagem, das minhas malas.
Há bagagens que são compostas pelo passado de cada um; há aquelas malinhas e valises das vivências, dos medos, das expectativas, de todos os riscos e de todas as incertezas.
Tentemos entender Tereza.

sábado, 27 de novembro de 2010

Para meu grande amigo


E quando ele posta no MSN "Existirmos, aque será que se destina?", eu me reviro em preocupações, até porque, tudo que eu queria é ter anestésico para os momentos da dor existencial dele.
Também não me reconheci recentemente e isso é doloroso: quando será que passamos a ser tão racionais, tão práticos, tão comedidos a ponto de nunca saltar bem alto sem a segurança do pára-quedas? ora, há um tempo atrás eu me jogava, sabendo que só me restariam destroços, mas, e daí, se o salto valia o hematoma da queda?
E nós nos amarramos, não foi, meu amigo? você no seu relacionamento e eu no meu. Eu presa a ele, você preso a ela, nós em nossas eternas dependências emocionais,aceitando bem menos do que merecíamos, por acharmos que nunca teríamos,então, nada mais do que aquelas migalhas. E eram migalhas economicamente dadas, numa avareza imperdoável dos nossos respectivos pares.
Não vale citar emaranhados da filosofia existencial para tentar responder se, afinal, somos o que fizeram de nós - acho que não, viu? por pior que um dia estivemos, nunca fomos passivos - e qual seria nossa situação-limite...é que tudo se transforma mesmo. Acho que sentimentalmente eu me desfigurei: o senso prático que eu vi em mim, esse aprendizado de dizer não, de saber terminar, de saber recharçar o outro sem apelações e sem segunda-chances, poxa, isso é um tanto monstruoso. E se não for monstruoso é reificante.
É que eu nunca fui essa, sabe? nunca fui de dizer o não redondo nem a amigos, nem a amantes e a amados. Hoje isso me sai com uma praticidade assustadora.
Pior que isso é ver que tenho uns amores levianos convivendo com uns amores íntegros, que aprendo a falar outra língua, a me movimentar em outras camadas da subjetividade...
Penso nele sempre, gosto dele, é inegável, mas já não me apego ao que sinto.
Doeu ver em mim um germe dessa frieza quando eu poderia ter dito sim e aproveitado tudo sem medir consequências, sem contar o tempo, sem me importar tanto em ter ganhos ou em evitar perdas. Perdi do mesmo jeito, já que lastimo a oportunidade de que declinei porque afinal eu não poderia jogar tudo para cima e viver com ele, não daquele jeito,sem o tempo necessário para embasar a certeza da decisão. Mas não havia tempo para isso e eu, também, disse não e cortei os laços.
Assim como você, vivi relacionamentos remendados - e "se o passado é uma roupa que já não nos serve mais", demorei a ver que a roupa já estava desgastada e rota, corroída e desbotada. Se insisti foi pelo medíocre medo de ficar nua. Fizemos isso, não acha? a gente não é amigo à toa, me vejo em você demais.
Eu só queria que os teus olhos refletissem outras coisas, talvez mais alegres, talvez mais amáveis, talvez mais pueris, infantis, inocentes, incautas - ora, se me vejo em você, isso significa que era o que eu mesma gostaria de refletir.
E por que sou burra, não vi o que ele estava me dizendo.
Não percebi, senão agora, quando já é tarde, quando não há jeito e quando eu acabo de
fazer apostas no mercado instável dos amores levianos - se é que eu vou levar isso até o fim.
Não gostaria nunca de ter que encontrar C. na minha vida, não quero nada com ele, nem contato sequer, mas sei que a receita é válida, que basta fazer cara de paisagem e tudo vai estar bem.
Aprendi, my friend, que a vida cobra cinismo da gente - é a moeda corrente das relações.
Não estou triste, sabe? estou ficando cínica.
Sarcástica eu sempre fui. Louca e burra, nem se fala! mas é a primeira vez em que me vejo cínica. Pior: me vejo prática, desse tipinho de gente que mede tudo antes de expressar uma opinião ou dar uma resposta, deixando minha espontaneidade característica escondida atrás da cortina da porta principal.
Quanto isso vai durar?
Quanto vai durar o meu espanto?
Quando aprenderemos a nos proteger sem machucar os outros? e o que fazer para amenizar a dor e disfarçar as cicatrizes deixadas?
Mas eu penso é nas suas dores, nas suas cicatrizes e nessa minha impotência em te dar um alívio. Nem por isso te amo menos, meu amigo.
Não tenho band-aid, nem analgésico, nem esparadrapo, não tenho nada além do meu ombro para te oferecer. Está aqui.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O amor e a fila


Eu amo muito o meu amigo Leonardo. Amo e admiro.
De vez em quando eu fico atônita com a propensão que ele tem para encarnar angústias.
E angústias quem não as tem? mas ele me preocupa, ele me abala e me abalou apenas por colocar em epígrafe os dois primeiros versos deste poema de Vinícius que eu, mais neurótica que meu amigo, transcrevo na íntegra - e já não sei a que a integralidade se deve.

Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: — Nunca fez mal...
Quem, bêbado, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: — Rei morto, rei posto...
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: — Foi um doido amigo...
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançara um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: — Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: — Não há de ser nada...
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?


(Vinicius de Moraes - Poesia Completa e Prosa, Editora Nova Aguilar - Rio, 1998, pág. 455)

Acho que minha amizade por Léo se faz por paridades, por identidades ( os contrastes existem, claro) e acho que falo dele falando de mim, porque também suponho que posso morrer de amores e de tantas outras coisas.
Transgredi uma parte dos meus tabus, esfacelando os cacos que restaram deles, mas não deixo de, contraditoriamente, olhar com espanto as exigências dos nossos tempos.
Não obstante eu ser resistente moralmente a algumas coisas, há outras que eu sempre tive vontade de experimentar, de praticar, de dizer, de desprezar, de me desfazer e de ignorar.
Por outro lado, eu que observo o desespero das filas que andam, também pergunto até onde elas chegarão.
Ontem eu tive que confrontar com a verdade de alguns comportamentos de minhas amigas que podem ser traduzidos por desesperos biológicos: se sentem velhas e na idade limite de ter filhos... mais um pouco de tempo e elas perdem a validade, seus sonhos perdem a validade - então, estão na corrida, me dizendo que a fila anda.
Eu reclamava que minha fila andava em círculos, voltando para os mesmos elementos, os senhores meus ex-namorados.
Depois eu vi nisso um comportamento viciado/vicioso e radicalizei: terminou, terminou. Faço do cara um excluído: excluo das redes sociais, do e-mail, de tudo, principalmente da agenda. Poxa, isso é que se chama de "para sempre".
Nada disso se faz sem um pouco de angústia, apesar da paz precedente.
Mas, para quê essa droga de fila anda, corre, gira, se não chega a lugar algum?
Quebra-se o tédio de estar parado, porque estar parado dá uma mostra significativa da perda de tempo...mas aí parece que ninguém vale a pena. Que engraçado!
E se a fila se multiplicar em multidões, em aglomerações, em congestionamentos? não virão os protestos?não virão atos de vandalismo?
Meu amigo está voltando e não sei se ele vai se adaptar ao tédio daqui, se fará a escolha certa na fila dele ou se, copiando meu comportamento de outrora, vai deixar que a fila descreva uma circunferência, voltando ao mesmo ponto experimentado e fracassado.
Quem de nós pagará o enterro e as flores, se pelo jeito estamos todos num mesmo buraco, independentemente da profundidade dos sete palmos?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A graça da vida


Segundo Millôr Fernandes, "o homem é o único animal que ri. E rindo, ele mostra o animal que é".
Por trás desta frase fenomenal, com a qual concordo e rio animalescamente, um pouco de Aristóteles e uma boa porção de criatividade. Isso é o que diferencia a criação do plágio vazio: não se trata de uma repetição, um mero CTRL/C + CTRL/V, entendem?
Mas não é de se ignorar que seguimos uns modelos clássicos que exaltam as lágrimas e condenam o riso, conforme aqueles também clássicos postulados de Platão que hierarquizam a tragédia e a comédia, colocando esta última como expressão dos baixos sentimentos. E tem gente que pensa isso mesmo.
Dos vários livros sobre riso e humor que tenho aqui, todos eles passam pela análise do nosso Deus-Pai-Todo-Poderoso e Mal humorado, pois com Deus não se brinca. Poxa, eu sempre brinquei com o meu pai, mas dizem que Deus não gosta de brincadeiras.
Há um tempo duvidei disso, por isso aprendi a rir de minhas tragédias.
Não dá para rir de todas as coisas ruins, mas tem horas em que tudo de ruim vem em turma, agrupado, a galera de coisas que vão detonar qualquer ser humano e aí você pensa que Deus só pode estar de brincadeira com você. Eu, pelo menos, penso que Ele ri das besteiras que a gente faz, das idiotices que a gente comete e depois vai lá, rezar, pedir a Intervenção divina...Ele não resistiria a tantas burrices que a humanidade comete, caso não tivesse senso de humor.
Mas, digo a mim mesma em reconhecimento ao efeito alquímico do riso, ainda bem que eu sei rir de mim mesma, sei duvidar do império da racionalidade, até porque eu faço cada burrada que seria burrice maior tentar disfarçar.
O que eu acho terrível é aquele riso depreciativo que as pessoas cometem para desfazer das outras, o riso que humilha, que está a serviço não do gracejo e da presença de Espírito, mas ao rebaixamento.
Não posso ver graça no nariz de um, no cabelo do outro,nas coisas físicas, no tom de voz...observar isso em si seria ridículo e não risível.
Trabalho com livros em que o riso está presente como elemento desencadeador de raciocínios e percepções, andando em par com a ironia, com o grotesco,com aspectos políticos...
Quando choro, choro de me descabelar, choro como mulher em tango argentino, choro com desespero, choro o choro dos suicidas, até doer os olhos e ficar com dor de cabeça, até ter sono após tanta energia despendida...Mas quando rio, rio com todos os poros, me revitalizo, me auto-critico, penso:"olha, que pessoa louca!como pude fazer isso ou permitir aquilo?" e me recauchuto porque finalmente pude rir.
Para mim o riso comungado é o sinal maior da cumplicidade, como se eu e ele de fato estivéssemos nos entendendo, como se aquela fosse uma linguagem única para nós, marca mesmo de que pensamos de forma semelhante.
Acho que a vida é um fardo, que a existência cobra muito de nós - e até pergunto, como não ser louquética com tantas cobranças que a vida faz? como manter o equilíbrio? e para quê equilíbrio quando a balança da vida inclina mais para lá do que para cá, ora nos jogando em tristezas, ora nos dando alegrias, ainda que em proporções questionáveis?equilíbrio é ilusão, mas a gente luta por ele, ele é um poder simbólico para que a gente cuide melhor de nós mesmos.
Somos tendentes a considerar o choro mais valioso que o riso e prova disso é que a primeira coisa que um bebê aprende ao vir ao mundo é a chorar. Se e isso aqui, isto é, o Mundo fosse boa coisa, ninguém iria nascer chorando, né? e se os pais foram espertos, logo ensinarão que na evolução da espécie, os bem humorados sobrevivem melhor às intempéries da vida ( não me falem deste assunto na TPM, ok?).
P.S.: Já que eu falei de evolução da espécie, eu acredito que tenha havido o seguinte:
Homo loucus-loucus, o primeiro de nossos ancestrais, meio pirado de tanto ver pedras, na verdade, o primeiro louco de pedra que a Hsitória registra;
Homo riddens, que riu das misérias daquela falta de tecnologia e inventou piada até sobre si mesmo.
Homo erectus, que descobriu que se ficasse de 04 por muito tempo alguém poderia se aproveitar da posição;
Homo falatorius, que descobriu a tênue diferença entre a fofoca e a propaganda;
Homo luddens que inventou o playstattion da Idade da pedra Lascada e um complexo sistema de diversões.
Homo sexualis, que percebeu que a diversidade sexual poderia ser interessante e lançou glamour na sua Era;
Picantropus Erectus de Neanderthal, esse ancestral eu não inventei, foi meu professsor de Arqueologia que me disse que existia (juro!) e me convidou a verificar os vestígios que comprovam sua existência. Tenho pro este nosso ancestral uma simpatia imensa.
Homo Sapiens Sapiens, que somos nós, que achamos que sabemos. Em minhas aulas, porém, esclareço que o Sapiens dá origem à percepção da importância da sapiência. A sapiência , é claro, é a capacidade de engolir sapos - ai, como eu sou sábia.
Dizem que evoluiremos para o Homo Shoppings. Eu tenho um amigo que parece já ter evoluído para esse estágio, mas prefiro nem comentar.

Até debaixo d'água


Deixa eu contar um absurdo: Ilmara deu a louca que queria ir tomar um banho de mar neste domingo.
Eu tinha um encontro perto das nove da manhã, era questão de eu ligar e avisar à criatura de que ele poderia ir lá me buscar. Hesitei, mas decidi ir à praia porque eu também estava precisando. Em minha TPM, eu não estava a fim de ver o sujeito mesmo, era questão somente de ter marcado há uns dias, enfim.
O absurdo não é a loira querer ir à praia, nem que eu tenha ido com ela. O absurdo é que na segunda vez em que eu fui dar um mergulho, não entendi a aglomeraçãozinha na beira-mar, mas fiquei na minha, me refrescando. Até que me virei me dei de cara com um sujeito se masturbando na água.
Que o povo transa na água, tudo bem, normal, mas não é na onda exibicionista.
Nem acreditei, porque desse tipo de tarado eu nunca vi.
Pela primeira vez na minha vida tive medo de engravidar porque fui tomar um banho de mar. Juro! não acreditei!
Em tempos de Micareta, que a gente faz xixi em qualquer canto - e nem queiram fazer idéia de onde eu já fiz xixi (minhas alunas são testemunhas dos vexames neste sentido, porque se a vontade aperta firme, ah, não há quem segure!)- bem, nesses tempos assim, a gente saca um sujeitinho aqui , outro ali, rendendo sua oferenda para Onan (Vish, Onanistas graças a Deus seria um sacrilégio), mas daí a ir tomar banho na praia, lugar cheio de gente, de famílias e de prostituição também, óbvio, e dar de cara com um sujeito nessas condições, é muito chocante.
Tive foi medo de que ele me pedisse para dar uma mãozinha.
Ilmara tirou mais onda do que o próprio mar, riu de mim, fez piadinha e trocadilho, mas não voltou para a água até que o tarado saísse de lá, digamos assim, com as mãos abanando.
Ilmara se divertiu à beça, mostrando os que se fingem de heterossexuais, mas depilam o traseiro, fazem pose, dão pinta (e pinto, sei lá!)e estão "na pista para negócio".
Eu ligava o radar para o olhar os prováveis heterossexuais, aqueles bem seguros de si, do tipo que usam sunga branca porque literalmente confiam em seus tacos (kkk!!!) e até que vi bons exemplares. Mas ver o cara lá na beira-mar, colocando a mão na massa foi assustador.
E dizem, que na hora do calor das vontades sexuais vale um banho frio, hein? não, nesses casos parece que não funciona não.
Lembrei de uma das divisões do Corpo de Bombeiros, chamada N.O.S (lê-se "nós), que é o Núcleo de Operações Sub-aquáticas e que a gente sacaneava e dizia que era Núcleo de Orgias Submarinas ou Sub-aquáticas. Bem, a piada se transformou em pesadelo porque agora eu sei o que seria isso.
É, tarado convicto, é tarado até debaixo d'água.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Pedras que rolam não criam limo (ou Simplesmente mudanças)


Por pequenos eventos, às vezes nossa vida muda de uma forma absurda. Quando não, algo em nós muda demais: estou surpresa pela minha vontade ou pela minha constatação de que posso (ou devo?) mudar de cidade.
Tem esse meu amor incomensurável pela minha casa. Ah, esse é sentimento verdadeiro, imutável: minha casa é parte da minha história, é uma tapera, uma caverna. E é uma caverna high-tech, justamente porque não quero mexer nos vestígios da minha história.
Minha casa é minha infância e é o resumo de minhas conquistas. É o tamarindeiro que vi crescer e são as palmeiras imperiais que existiam há quase um século quando eu cheguei aqui, e que vejo imponentes; são os besouros que eu conheço pelo nome, são as plantinhas, são meu bichos e os barulhos irritantes dos passarinhos estereofônicos que me acordam. Minha casa é mais que uma herança material: são páginas reais de minha memória que eu, sinceramente, temo que a especulação imobiliária um dia tome para transformar em condomínio ou casa comercial, como já recebi propostas.
Essa é minha relação com a minha casa.
Mas vem a minha relação com a cidade, que não é nada do que eu pensava.
Imagine que essa descoberta é algo como você ter um casamento, perceber as faltas e as carências, mas ir se acomodando ou se conformando. Pois é!
Não tenho amigos aqui, não tenho namorado, não tenho vínculo, não tenho emprego aqui. O que tenho em Feira é o meu passado.
Esta é uma cidade sem concursos, uma cidade com universidades grandes e sem a criação de meios de absorção da mão de obra gerada, é uma cidade com uma prefeitura cara de pau que, quando fez um único concurso para professor, o fez em nível de Séries Iniciais, sem sequer ter a desfarçatez de pôr 01 vaga para Biologia, 02 para Letras, 01 para História, essas coisas que as prefeituras fazem para, pelo menos, disfarçar o engodo.
Não,aqui, não interessa seu nível, a cada década se faz concurso para Séries inicias, te põem a trabalhar no Ensino Fundamental e receber como se fosse Séries Inciais. O jogo é muito sujo. Mudança de nível e plano de carreira, só para 03 ou 05 anos, se ainda existir plano de carreira.
Não é ruim viver aqui, mas para mim é insuficiente.
Já viajei demais, já fiquei longe demais de casa e da cidade, neste cansativo ir e vir.
Já sonhei muito em ganhar meu pão no lugar em que vivo, mas é impossível mesmo. E se fosse possível, agora seria também insuficiente.
Talvez por isso pareça que sou mal agradecida com tudo que conquisto: tenho essa necessidade de renovação, sou hiperativa, sou a favor de qualquer "veneno anti-monotonia". Podem me chamar de tudo, menos de uma pessoa morta e parada. Eu não, eu reajo!
Se tenho momentos de letargia, movimento forças para passar, para mudar.
Aprendi a enfrentar os meus medos mesmo nas situações em que a luta está previamente perdida: quanto a isso, por mais que a gente seja otimista, convém ser realista e reconhecer o poder do mais forte. Foi assim que passou o medo de viajar de avião, o medo de me lançar aos meus desejos e ousar tocar nos lugares em que o braço parecia não alcançar.
Vou pensar mais sobre aquela viagem distante, porque aí, sim, é distante demais. Contudo, penso conforme Tati: oportunidade única. E tenho de 08 a 10 meses para pensar nisso.
Não fui à aula hoje e isso também é excepcional.
Fiquei em casa e graças a Deus, Joaquim veio almoçar comigo, veio conversar comigo e sujar todos os pratos, copos e talheres desta casa. Que bom! como a gente se entende!e aproveito para me corrigir: eu tenho, sim, amigos aqui. Tenho amigos do c#ralho, sabe? gente fina mesmo!gente solidária, presente mesmo quando longe, nem sei como dizer o quanto eles são importantes, leais e legais. Eu é que reconhecidamente sou a chata.
E comer macarrão ao molho de pimenta calabresa à moda do chef Joaquim não tem preço!
Retribuí: fiz mousse de morangos verdadeiros. Depois de comer toda a mousse, ele disse: "Odeio morangos!quase que nem aceito, mas aceitei por vergonha e agora me deliciei e adoro morangos nas receitas que você faz!". Ah, gente, me senti o último morango do cesto.
Induzi João Neto a comer morango com mel, certa vez, e ele se empanturrou. Acreditem, eu dou bons conselhos gastronômicos (vou trocar o meu livro de contos,que lançarei em breve, Todas as mulheres se chamam Maria, por um livro de culinária - garanto que será uma leitura gostosa - kkk!)
Como eu disse, não fui à aula, pela primeira vez. Então decidi que não iria ver C. porque eu estava de saco cheio dele, porque eu precisava quebrar o vínculo, porque eu sei que ele tinha certeza que me veria e preferi boicotar os desejos dele e porque acabou. Cansei de ter que conversar com os amigos tendo que dizer o sobrenome dele, para não confundirem com o homônimo, porque toda hora isso acontece e as pessoas ficam chocadas!
Então muitas coisas aconteceram neste final de semana, até em relação a administrar a saudade de Allan e a noção de que foi um evento e acabou. Ficou em mim o fruto da experiência, da mudança.
Até Ilmara me perguntou o que foi que a psicanalista fez ou me disse para que eu mudasse tanto - eu nem tenho resposta objetiva sobre isso, mas sei que encontrar Allan foi como receber aquele beijo que o Príncipe deu na Bela Adormecida, sabe? me acordou para muitas coisas, muito além do que as coisas relacionadas aos meus tabus - estes, então, foram despedaçados em partículas minúsculas.
Nunca um encontro resultou em tamanha ruptura interna.
Sinceramente, desestabilizou até mesmo a minha relação com a história de minha iniciação sexual - ora, quanto tempo perdido com uma construção cultural enlatadinha que me caiu em cheio como uma verdade inquestionável. Verdade agora reduzida a cacos.
Daí que a gente questiona mesmo o valor do tempo - o tempo cronológico, de fato, não é nada em relação ao tempo subjetivo.
Passei quase dez anos completos com uma pessoa que não causou o que 04 dias com Allan causaram.
O mesmo posso dizer dos meses em que namorei Marcelo: 03 meses que superaram essa quase década de relacionamento vicioso, cheio de tracejos edipianos, de que eu não me desvencilhava e só me fazia mal.
Talvez eu tenha dormido por cem anos, nestes dez.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Diários de Campinas, episódio V (epílogo)


Sempre me intrigou o final de As pontes de Madison: Ora, por que a Maryl Streep não mudou, ali, o seu destino? por que ela não largou tudo, àquela altura da vida, e se permitiu os riscos de uma nova relação, já que a intensidade daqueles três dias ao lado Clint Eastwood abalaram suas certezas?
Então vi que não funciona assim para os que têm muito medo dos riscos, para os que, conforme eu falo, têm o superego vigilante e, por isso mesmo, vivem fiscalizando a própria racionalidade.
Nem mesmo quando allan me pediu para ficar mais um dia eu cedi. Ao contrário, eu disse: "É que eu tenho medo. Imagino ficar aqui por causa de um homem."
Até uns dias atrás eu falava de como é que a gente demora para se tocar que o outro não quer a gente.
Agora eu apenas reforço que quem nos quer faz misérias para ficar conosco - não é só porque quem quer vai atrás, mas porque há, na força do desejo, muitos ímpetos de iniciativa, há o desejo levado a sério e não adianta chamar a quem não age assim de covarde - não é covardia. E pode ser covardia também, mas ela não explica tudo e não se sustentaria sozinha.
Pode ser que a pessoa queira a segurança do seu mundo exatamente como ele é.
Pode ser que a pessoa goste da sua zona de conforto.
Pode ser que a pessoa veja os tédios da rotina como verdadeiros esteios que só a segurança da previsibilidade pode dar.
E pode ser preguiça e descrença, também, porque não é fácil apostar no novo.
No mais, há aqueles para quem somos adereços da vaidade: então convém manter aceso o interesse do outro ainda que esteja clara a ausência de possibilidades de tornar real e concreto aquilo que é insinuado. Estes casos são incontáveis, recorrentes, eternos banho-maria de amores que, por fim, não chegarão a nada e só existem por dispositivos de egoísmo ou de masoquismo de alguma das partes.
Não falo aqui de coisas que eu não conheça - pode ver a marca d'água das minhas vivências, admito!
Allan falou comigo sobre coisas que nenhum outro homem jamais falou, manifestou a vontade de continuar junto a mim, cogitou, mediu, argumentou...e eu quase nem escrevo esta página, porque a separação foi dolorosa, porque de madrugada, 04 horas antes do meu vôo de volta, a gente tinha decidido nunca mais se ver, para evitar essa perdição conjunta: não vou para lá, largar tudo e ficar lá; ele não virá para cá também.
Sofremos desde a primeira empatia, porque ele bem percebeu que nossas paridades eram muitas e eram o suficiente para que a gente perdesse a conta de que aquele nosso contato tinha prazo de validade: expira em 04 dias.
Não deu. A intensidade, a overdose do contato, o valor da experiência de estar juntos e viver coisas que "Deus duvida" - que bom! mesmo que o preço seja esse, que bom!- converteram e modificaram nossas proteções recíprocas.
Não é mentira: o remédio de Um é Outro, desde que este outro esteja plenamente com você.
Às vezes as migalhas afetivas de que a gente se sustenta comuflam a inanição sentimental, a carência de afeto, as debilidades que a gente introjetou...então qualquer coisa serve e parece luxo.
Quando alguém dá plenamente de si, quando nos enriquece e nos fortalece de afetos, de carinho, de amor, de cumplicidade, de companheirismo, a gente finalmente percebe que vinha se sustentando de sobras, e da pior qualidade.
Não vai dar para contar nosso último dia juntos porque todas as despedidas foram extremamente dolorosas e eu cheguei doente e indisposta em casa, mesmo que conscientemente eu me dissesse que não poderia ser turista eternamente.
No momento me arrependo de não ter sido flexível, de ter me agarrado à racionalidade como se ela me desse proteção para todas as dores.
Faz um tempo que eu estou assim, racionalizando.
Minha analista me ligou enquanto eu ainda estava em Campinas e pelas palavras dela, presumi seu temor de que eu tivesse desistido não apenas de C., mas de todas as outras possibilidades, até porque eu faltei à última sessão que estava marcada.
Não vou me encontrar com C. nesta semana: ele sabe que acabou. Sabe, na verdade, que eu desisti mas talvez não saiba que eu preferiria nunca mais ter que me encontrar com ele. Tudo mudou. Tudo mudou dentro de mim.
Também de uns tempos para cá eu fiquei radical com os términos de todo tipo de relacionamento que possa haver: andei demais em círculos, sempre voltando para os mesmos namorados, sempre reclamando de certos tipos de amigos, sempre magoada por coisas advindas com o contato com a minha família. Então, quando as coisas acabam, acabam.
Não quero nomes, não quero contatos, não quero revivals: acabou.
Tenho preferido o ponto final à vírgula e às reticências, embora eu desejasse tanto repetir o que me fez bem, o que foi bom. Tudo tem seu tempo e o tempo passa. Tomara que a falta que eu sinto dele, de todas as nossas noites juntos e de todos os momentos compartilhados também passem, deixando saudades e não dores por essa ausência tão vívida - na minha cabeça fica um outro filme:Os melhores anos do resto de nossas vidas, pelo título, não pela história.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Pausa: Empreendimentos Comerciais, parte II


As disputas comerciais dão a tônica neste final de ano.
No começo era o Shopping Pintos. O Rolas veio a seguir.
No começo era o Gianecchini. O Cortez veio a seguir.
Resumindo: você pode optar agora por conhecer o Pintos por dentro, sentir seu aconchego, suas opções e finalmente ter, conforme o slogan do empreendimento, "Tudo que você mais gosta no lugar que você sempre quis". E como consumidora eu digo: "Que convite tentador"!
Dizem que o staff do shopping cogitou lançar o slogan: "Tudo que você queria no tamanho que você sonhava", mas desistiram desta opção para não gerar constrangimentos nem comparações desnecessárias. Ainda como consumidora...bem, vocês sabem a minha opinião.
O receptivo povo de Teresina, onde ficam os dois shoppings ( O Rolas e o Pintos...vish, tem espaço para todos, né?) apelidou carinhosamente o Pintos de Pintão. E para explicar as origens do Pintos, há uma placa:
"Agostinho Ignácio Pinto nasceu em 24/06/1924. Cidadão português e piauiense. Fundou a empresa em 1956. Trabalhou desde os 12 anos, até último dia, em 2007, aos 83 anos". Este, sim, um Pinto esforçado, um Pinto grande nas questões de trabalho, não acham?
Bom para o consumidor, que finalmente poderá optar entre Rolas e Pintos ou, simplesmente, ficar com os dois.

Pausa: Empreendimentos comerciais


Olha só, gente, que cara de pau é essa deste Shopping? não é montagem, não é colagem, não é mentira: o Shopping Rolas existe e foi recentemente inaugurado.
Raul Cortez, aquele mesmo, do CQC, é o garoto propaganda.
Para mim, seria o must "entrar e ficar à vontade no Rolas", sem o menor preconceito. Mas com certeza alguns machões e machistas não vão a um shopping com um nome destes, nem aguentariam trabalhar aí e suportar os trocadilhos, como: "vai entrar no rolas hoje?"; "se divertindo no rolas?"; "pega no rolas a que horas?".
Dizem que o George Clooney foi convidado a estrelar a campanha do Rolas, não sei é a informação é verdadeira, mas sei que o Rolas apareceu no momento oportuno, do tamanho que o consumidor precisa. Quem tem dinheiro já pode entrar no Rolas e sair feliz!

Pausa para a Gramática


Já sabem, não é? este texto não é meu, circula em e-mails que a gente recebe, mas eu o acho deveras engenhoso.

*REDAÇÃO DE ALUNA DA UFPE
Redação feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE Universidade Federal de Pernambuco (Recife), que venceu um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.


Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.

Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.

O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.

Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois.

Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.

Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.

Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.

Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto.

Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Pausa para lamentações


Além de estar doente, não estou dormindo bem. Sinto falta disso, sabe? acabei me acostumando com teus abraços, com as tuas mãos em meus cabelos.

Diários de Campinas, episódio IV, parte V


A entrada do parque, portão II, onde Allan e eu consolidamos nossas conversas e pretextos e de onde eu o arrastei pela mão, para fugirmos da chuva...depois eu conto as cenas de nosso último capítulo!

Diários de Campinas, episódio IV, parteIV


Eu tinha acabado de tirar esta foto, quando conheci Allan.
Fica a imagem de onde a história começa...

Diários de Campinas, episódio IV, parte III


Ah, minha galera da padaria, gente: Beto, Priscila e Queiroz!
O melhor bauru que eu já comi na vida, o cappuccino mais especial que eu experimentei e os funcionários mais alegres e cooperativos que eu já conheci.

Diários de Campinas, episódio IV, parte II


Olha, foi amizade à primeira vista: a minha queridíssima monitora Helen é mais do que prestativa, simpática e humana!
Nesta foto estão Helen e Vinícius.
Dei sorte em conhecer tanta gente fofa, gente fina, gente que me deixou saudade mesmo.

Diários de Campinas, episódio IV


Esta foto eu tirei na UNICAMP, aliás, as Alines tiraram, após minha apresentação no SETA.
Super engraçado quando duas amigas têm o mesmo nome.
Quem me apresentou às meninas foi Helen, da foto acima.
Elas, as Alines, são bem novas, estão na graduação e assim como eu adoram os Beatles, importam vinis dos Beatles e, para minha inveja, irão ao show do Paul McCartney.
Gente finíssima e mais uma razão para eu voltar de Campinas com uma imensa saudade.
Elas me deram todas as dicas, todos os caminhos, todos os indicativos, todas as informações sobre como me movimentar em Campinas.
Queria comentar o preconceito do momento, em relação à minha pesquisa: de novo eu tive que ouvir o professor comentarista questionar porque, "ao lado do brilhante António Lobo Antunes eu trouxe uma obra brasileira do jornalista Torero" (aí descartado o Pimenta, né?).
Eu me assusto com isso.
Poxa, o povo é apegado ao cânone.
Por outro lado, que hierarquização mais desagradável!
Já não basta na vida que a gente fica classificando, hierarquizando, medindo, é dizendo quem é o melhor amigo (todos os amigos são os melhores, gente, eles apenas são diferentes e nós temos mais identificações com uns que com outros, só isso), toda hora é ranking, é lista, é o maior, é o melhor, é o mais...
E pela terceira vez, apesar de educadamente eu dar a resposta cabível, por dentro eu xingo: Queperguntafilhadaputaessesescrotoinventadefazer.preconceituosoridículodementecolonizada!"
Tudo em paz com o evento, exceto pela minha impaciência em lidar com essas perguntas, com observações desse tipo.
Ora, faço Literatura comparada. Nem sempre comparamos para equiparar, mas em meu caso, deixei claro os aspectos contrastivo e a exploração dos efeitos de sentido que a literatura brasileira pós-colonial enceta no contexto das comemorações dos 500 anos do maldito Descobrimento. A isso lancei a ponte argumentativa das figurações da nacionalidade, mas ainda assim, ai que vontade de xingar!