Louquética

Incontinência verbal

domingo, 19 de dezembro de 2010

Dos efeitos de deslumbramento


"Conversaram para entreter o tempo. Falaram de si mesmos. De suas vidas diferentes, do acaso inverossímil de estarem nus no camarote escuro de um navio encalhado, quando o justo era pensar que já não tinham tempo senão para esperar a morte. Ela jamais ouvira dizer que ele tivesse tido uma mulher, uma que fosse, numa cidade em que tudo se sabia até mesmo antes de acontecer. Disse de um modo casual, e ele respondeu de pronto sem o mais leve tremor na voz:
- É que me conservei virgem para você.
Ela não teria acreditado nisso de maneira alguma, ainda que fosse verdade, pois suas cartas de amor estavam cheias de frases como essa que não valiam pelo seu sentido mas pelo seu poder de deslumbramento."
( Trecho do livro de Gabriel García Márquez, O amor nos tempos do cólera,p.418)

Eu também acho isso: embora nós, mulheres, saibamos que os homens, tecnicamente são iguais, adoramos acreditar na hipótese de ter encontrado um homem diferente.
Um homem diferente seria, apenas, um que não tivesse comportamento de grupo e praticasse um pouco de sinceridade.
Mas, se não há sinceridade, e daí? podemos pensar como Fermina Daza, no trecho acima transcrito: Vale o poder de deslumbramento da frase e não seu sentido tão duvidoso, ou clichê.
À parte o poder de deslumbramento que ele lança, gosto daquela dose de indubitável sinceridade - sinceridade que fere, que fervilha meus ciúmes, que me dá uma idéia clara de que "lá no Oriente tem gente com olhar de lança/na dança do meu amor", como diria Moraes Moreira.
E o bom é que ele me acalma.
No lado de querer um que não seja igual aos outros, a inteligência dele faz a diferença. Homem inteligente é o máximo.
A inteligência dele me acalma.
O encadeamento das frases, o sentido, a concatenação, tudo está ali e ele formula o Heléboro, o remédio que cura todos os males: Acalma, aconchega como um abraço bom, faz sonhar, faz dormir, faz reverter qualquer ódio, desanda os ímpetos de briga e traz a paz.
Isso também porque ele me conhece. Quando eu pensava que ele estava me conhecendo, quando eu pensava gerúndio, já era presente e eu agradeço muito por isso.
Um dia pensei com tristeza essa música que transcrevo abaixo, dos Detonautas (Você me faz tão bem).
Era, de fato, uma dor ouvir essa trilha sonora de minha separação do Grande Amor da Minha Vida ( que, volto a dizer, acabou mas não deixou de ser importante. Não ele, a pessoa que amei, mas o relacionamento em si e os sentimentos nele contidos: contiua tudo importante).
Acho que ele mudou minha relação com o passado ou pelo menos me fez dar outros significados aos meus mesmos velhos signos.
Ele é inteligente e eu aprendo com ele.
Quando eu me perco é quando eu te encontro
Quando eu me solto, seus olhos me veem
Quando eu me iludo é quando eu te esqueço
Quando eu te tenho, eu me sinto tão bem
Você me fez sentir de novo
O que eu já não me importava mais
Você me faz tão bem
Você me faz, você me faz tão bem
Quando eu te invado de silêncio
Você conforta a minha dor com atenção
E quando eu durmo no seu colo
Você me faz sentir de novo o que eu já não sentia mais
Você me faz tão bem
Você me faz, você me faz tão bem
Não tenha medo
Não tenha medo desse amor
Não faz sentido
Não faz sentido não mudar esse amor
Você me faz, você me faz tão bem

Nenhum comentário:

Postar um comentário