Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Conservador pós-moderno

 


Não fui assistir ao filme da Barbie, devido às filas infinitas e ao meu pouco interesse na causa, apesar da curiosidade. Irei ver com Rosana, assim espero.

Não me furto a ver com indignada surpresa o quanto as pessoas esperam encontrar filosofia, sabedoria e neutralidade num filme sobre bonecas. E embora tenha muitas críticas excelentes, pelo que vi em pequenos trechos, esse povo que protesta, reclama e quer dar lição de moral sobre uma ficção da indústria do entretenimento, realmente é um povo que desloca o foco de coisas realmente relevantes, para poder cercear e exercer controle sobre mulheres, crianças e espectadores, porque, afinal, um filme cuja censura é de 14 anos  pode desencaminhar o público. O mais interessante é que esse povo panfletário aí não desencaminha ninguém com seus gestos de misoginia, estupidez, machismo, racismo e com as hipocrisias de comportamento que as crianças e adolescentes presenciam. Quem vê, pensa que antes da Barbie era todo mundo inocente, puro e casto.

Vamos admitir: os conservadores querem conservar a culpa nos outros e conservar seus próprios poderes de oprimir; ou querem conservar o quê, afinal? Porque se for preservar os costumes, o brasileiro tem o costume de ter várias mulheres simultaneamente; tem o costume de tratar o mais fraco como otário e tem o costume de tirar vantagem de quem ele puder – e não só de pessoas, mas dos cargos que ocupa, das instituições a que tiver acessos e coisas que você só entende quando vislumbra que certos  políticos (eleitos por causa de pautas conservadoras) já roubaram tanto, já estão milionários e continuam roubando, numa sede que nunca é saciada. Conservando-se no poder...Mas, como é o povo que coloca tais figuras lá, vê-se bem que conservador é o eleitor que se conserva votando igual, ajudando a conservar os mesmos sobrenomes da política e, obviamente, conservando a impunidade. Conservar é manter e repetir – repetir que ‘foi um caso isolado’ embora ocorrido pela centésima vez, por exemplo...velhas desculpas sempre acatadas em silêncios cúmplices.