Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Crescer e ser

 


Por que é tão difícil o amadurecimento emocional, especialmente, o dos homens? Já testemunhei e já vivi tanta coisa, que chego a fica boquiaberta pelos eternos jogos, pela covardia, pelas escancaradas infantilidades...

Fica difícil manter a paz quando a gente depara com homens assim. E nem precisa ser em relacionamento amoroso, é na família, no trabalho, é no meio da rua, em circunstâncias passageiras, específicas. E, claro, a gente sonha em encontrar alguém diferente.

Há pouco eu até brinquei com isso, dizendo que encontrei um homem que me ouve com atenção...Mas, cobra caro em cada sessão. Logicamente, eu me referia ao psicanalista, porque homens não são seres de escuta e muito raramente são seres de atenção, exceto para carro, futebol ou bundas... e, à parte a brincadeira, eles dão atenção apenas ao que amam e fogem de discussões densas, porque acham desgastante.

O tempo passa e eles não mudam muito.

Ainda bem que conheci exceções. Decerto, não eram senão amigos, tipo o Léo Bernardes...tipo um ou outro coração bom que veio acompanhado de boa mente.

As mulheres, então, entram no jogo. E tudo vira jogo. Um desgaste besta!

Minha amiga loira, linda e gente boa sumiu das redes sociais, parou até de escrever, sepultou o blog, parou, calou, sumiu...provavelmente, pelos contextos da infantilização do marido dela, nas tantas vezes em que cabia conversar. Ela se reportava ao sufocamento, das tantas palavras por sair, mas que ficavam contidas, se acumulando junto com problemas e mágoas. Eles se amavam muito...Mas, como disse Drummond, “o amor é privilégio de maduros”.

E ao falar em imaturidade, volto à velha música chata do Roupa Nova, a verdadeira canção da infantilidade: “Eu compro o que a infância sonhou; se errar eu não confesso/eu sei bem que sou/e nunca me dou”.

Que show de imaturidade, intransigência e falta de noção. Não é à toa que a música se chama Coração Pirata.

Bom, a letra toda, provavelmente usa de ironia, mas vou colar aqui para que cada um tire sua própria conclusão...nem me cabe argumentar mais nada: quem tiver olhos de ver e ouvidos de ouvir, que faça a sua parte: 

Quando a paixão não dá certo
Não há porque me culpar
Eu não me permito chorar
Já não vai adiantar
E recomeço do zero, sem reclamar

O meu coração pirata
Toma tudo pela frente
Mas a alma adivinha
O preço que cobram da gente
E fica sozinha

Levo a vida como eu quero
Estou sempre com a razão
Eu jamais me desespero
Sou dono do meu coração

Ah, o espelho me disse
Você não mudou

Sou amante do sucesso
Nele eu mando, nunca peço
Eu compro o que a infância sonhou

Se errar, eu não confesso
Eu sei bem quem sou...
Eu nunca me dou

As pessoas se convencem
De que a sorte me ajudou
Mas plantei cada semente
Que o meu coração desejou

Ah, o espelho me disse
Você não mudou

Sou amante do sucesso
Nele eu mando, nunca peço
Eu compro o que a infância sonhou

Se errar eu não confesso
Eu sei bem quem sou,
E nunca me dou...

 

sábado, 21 de agosto de 2021

Retratos rotos deste tempo

 


A cada dia, um aprendizado.

Morar no Brasil não tem sido fácil e eis uma lição à qual deveríamos prestar mais atenção.

Não é somente o absurdo da situação econômica, com alto índice de desemprego, preços altos, impostos absurdos; mas, sobretudo, é a ascensão do delírio fundamentalista. Eu nunca imaginei me deparar com tanta estupidez, burrice e delírios coletivos. Não porque fôssemos, enquanto povo, um exemplo de superioridade moral ou que fizéssemos jus aos enaltecimentos que o hino nacional proclama, mas porque as coisas que os setores conservadores da sociedade brasileira defendem são totalmente contrários à lógica. Lógica básica, sabe? Tipo a pessoa se supor tão importante a ponto de defender que há microchip numa vacina contra a COVID; ou que são usados fetos humanos  na composição da vacina; ou coisas cujo absurdo faz a gente duvidar que o ser humano é mesmo racional.

Como pessoa da Literatura, tenho especial desprezo a quem emprega o termo NARRATIVA como se fosse sinônimo de mentira.

Entendo a astúcia dos que, pregando para convertidos, manobram as palavras para induzir conclusões absurdas.

Vejam bem: estamos sob uma pandemia. Isso não vai passar no próximo ano. Se muito, vamos ter melhoras a partir de junho do ano que vem – fácil de calcular, não de prever, porque somos conectados global e mundialmente; e as variantes confirmam isso. Desta forma, não adianta que uma parte do mundo esteja curada, se a outra não estiver, porque sempre haverão contatos. Sabe aquele tempo em que tínhamos áreas para fumantes? Demorou para perceberem que a fumaça não respeita limites, não fica restrita ao lugar destinado a ela e, ao que parece, a fumaça do cigarro nem sabe ler as placas. Pois, bem, o mesmo vale para o vírus.  Ele viaja, reage, se modifica.

Outro fator: reorganizar a vida após pandemia não será fácil. Reorganizar a cabeça, após um evento traumático, ao que se somarão as consequências da destruição da natureza em favor do agronegócio, da árvore que cai para virar pasto de bois; reorganizar a sociedade diante de problemas políticos em ano de eleição em que uma parte dos eleitores quer impor e obrigar à outra parte a votar como ele quer, louvando um mesmo ídolo adorado; o acirramento da burrice e da violência será outro fator que se faz sentir como indicadores de um 2022 horroroso em termos práticos para o país.

Acho incrível a força dos maus. Acho lamentável o lado justo da história estar acuado, calado, desiludido, emitindo notas de repúdio como se tratassem com adversários racionais...Sim, lutamos como nunca e perdemos como sempre. Porém, quem ganha nunca está satisfeito e sabe como boicotar a paz respeitosa dos que se tornaram opositores por ousarem pensar diferente.


sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Um homem de Capricórnio

 


A vida de um ser humano é um processo muito complexo. Para muitos, vida é a distância entre o berço e a sepultura, morada última de todo mundo que não venha a ser cremado. No meio deste caminho, as necessidades básicas (comer, beber, prover sustento, etc.) e as necessidades superiores (a vontade de saber, os desejos mais variados em todas as esferas). Como um ser em transição afetiva, faço balanços e avaliações sobre o passado e o presente. De vez em quando, tranco o coração, não quero mais ninguém.

Vivi quatro anos e meio com o Poeta, meu sagitariano querido, companheiro de literaturas, conversas, sexo e alguns conflitos.

Ele já está morando com outra. Era necessário, mas não muito previsível para quem preza a liberdade. Mudou por dentro e por fora: por dentro, porque está em trabalho formal, preocupado com dinheiro, posses e sustento, como um ser mortal qualquer; por fora, com uma vertiginosa perda de beleza e um engordar apressado e estranho. E declaro isso sem os olhos de vingança que poderiam nutrir meu parecer. Aliás, pelo contrário: desejo a ele coisas boas, oro por ele, ponho o nome no Reiki à distância.

Por vezes, comentei aqui o quanto me era estranho esse povo que constitui relacionamentos e, no término, rompe a amizade com o ex, fala mal, deseja o mal.

Eu, não. E sou grata por tudo que vivi, pela maturidade sexual alcançada com um namorado tão cúmplice, tão presente e compreensivo no plano da intimidade.

Mas, o amor que morreu faz com que eu olhe o Poeta desvencilhado das lindas vestes de sentimentos...e se torna um retrato na parede, sexy como um pé de alface...Rei morto, rei posto.

Agora, porém, após dois anos de conversa esporádica, contato contínuo, encontros, esperas e reservas, estou no enlace com o Homem de Capricórnio, meu Rei de Espadas.

Tínhamos uma solidão em comum: a de poucos pares para dividir conversas, discussões e análise de música e literatura.

Ele é mais velho que eu, só não sei o quanto, porque tenho vergonha de perguntar. Ao contrário dele, que busca devassar até meus laudos médicos e odontológicos – coisa que, sinalizando um ser controlador, me assustou e me afastou.

Desde uns dois meses, ficamos reciprocamente nesta de aproximar e afastar, por pequenas coisas, por grandes medos. Ele tem muito medo de mim. Eu tenho muito medo dele.

Não sei o que fez o barco virar, porque eu sempre procurei desculpas para não querer nada com ele. Pretextos incontáveis. Recentemente, ele me disse algo sobre isso, percebendo que eu fugia.

Abri uma porta, com o coração em sobressaltos, com medo do estranho... Depois, ele começou a me abraçar continuamente. Um abraço grande, acolhedor...E as conversas continuam, a tal ponto que deixamos de dormir para falar de coisas e coisas...

Gostei de ver nele uma nítida admiração por mim. Isso me dá um orgulho! Não é aquele orgulho besta, de ego cheio, é um orgulho de satisfação por ter coisas que agradam a alguém que eu também admiro e considero.

Tivemos bastante tempo prévio para conhecer nossos defeitos. Alguns, só o tempo revela; outros são respostas a contextos, casos isolados. A conclusão “provisória” é de que ele é uma pessoa boa e difícil. Um ser humano duro para perdoar ou ouvir uma explicação; uma pessoa que não daria a oportunidade a ninguém de apresentar sua defesa. Isso, sim, me assusta muito. Eu vejo, eu noto, eu percebo – então, estou um pouco a salvo das cegueiras da paixão.

Penso no quanto estou pondo na mesa nessa aposta. E se eu perder tudo? E como será estar sem nada? E se eu ganhar muito e, empolgada, fizer nova aposta e perder o que ganhei? E se eu perder o que eu nem tenho, penhorando tanto de mim?

Nos bons versos da música de Alceu Valença, Amor que vai:

“Amor maltrata, deseja
Amor comendo a maçã
Amor é pura incerteza
O que será amanhã?