A
vida de um ser humano é um processo muito complexo. Para muitos, vida é a
distância entre o berço e a sepultura, morada última de todo mundo que não
venha a ser cremado. No meio deste caminho, as necessidades básicas (comer,
beber, prover sustento, etc.) e as necessidades superiores (a vontade de saber,
os desejos mais variados em todas as esferas). Como um ser em transição afetiva,
faço balanços e avaliações sobre o passado e o presente. De vez em quando,
tranco o coração, não quero mais ninguém.
Vivi
quatro anos e meio com o Poeta, meu sagitariano querido, companheiro de literaturas, conversas, sexo e
alguns conflitos.
Ele
já está morando com outra. Era necessário, mas não muito previsível para quem
preza a liberdade. Mudou por dentro e por fora: por dentro, porque está em trabalho
formal, preocupado com dinheiro, posses e sustento, como um ser mortal qualquer;
por fora, com uma vertiginosa perda de beleza e um engordar apressado e
estranho. E declaro isso sem os olhos de vingança que poderiam nutrir meu
parecer. Aliás, pelo contrário: desejo a ele coisas boas, oro por ele, ponho o
nome no Reiki à distância.
Por
vezes, comentei aqui o quanto me era estranho esse povo que constitui relacionamentos
e, no término, rompe a amizade com o ex, fala mal, deseja o mal.
Eu,
não. E sou grata por tudo que vivi, pela maturidade sexual alcançada com um
namorado tão cúmplice, tão presente e compreensivo no plano da intimidade.
Mas,
o amor que morreu faz com que eu olhe o Poeta desvencilhado das lindas vestes
de sentimentos...e se torna um retrato na parede, sexy como um pé de
alface...Rei morto, rei posto.
Agora,
porém, após dois anos de conversa esporádica, contato contínuo, encontros,
esperas e reservas, estou no enlace com o Homem de Capricórnio, meu Rei de Espadas.
Tínhamos
uma solidão em comum: a de poucos pares para dividir conversas, discussões e
análise de música e literatura.
Ele
é mais velho que eu, só não sei o quanto, porque tenho vergonha de perguntar.
Ao contrário dele, que busca devassar até meus laudos médicos e odontológicos –
coisa que, sinalizando um ser controlador, me assustou e me afastou.
Desde
uns dois meses, ficamos reciprocamente nesta de aproximar e afastar, por
pequenas coisas, por grandes medos. Ele tem muito medo de mim. Eu tenho muito
medo dele.
Não
sei o que fez o barco virar, porque eu sempre procurei desculpas para não
querer nada com ele. Pretextos incontáveis. Recentemente, ele me disse algo sobre
isso, percebendo que eu fugia.
Abri
uma porta, com o coração em sobressaltos, com medo do estranho... Depois, ele
começou a me abraçar continuamente. Um abraço grande, acolhedor...E as
conversas continuam, a tal ponto que deixamos de dormir para falar de coisas e
coisas...
Gostei
de ver nele uma nítida admiração por mim. Isso me dá um orgulho! Não é aquele orgulho
besta, de ego cheio, é um orgulho de satisfação por ter coisas que agradam a
alguém que eu também admiro e considero.
Tivemos
bastante tempo prévio para conhecer nossos defeitos. Alguns, só o tempo revela;
outros são respostas a contextos, casos isolados. A conclusão “provisória” é de
que ele é uma pessoa boa e difícil. Um ser humano duro para perdoar ou ouvir
uma explicação; uma pessoa que não daria a oportunidade a ninguém de apresentar
sua defesa. Isso, sim, me assusta muito. Eu vejo, eu noto, eu percebo – então,
estou um pouco a salvo das cegueiras da paixão.
Penso
no quanto estou pondo na mesa nessa aposta. E se eu perder tudo? E como será
estar sem nada? E se eu ganhar muito e, empolgada, fizer nova aposta e perder o
que ganhei? E se eu perder o que eu nem tenho, penhorando tanto de mim?
Nos bons versos da música de Alceu Valença, Amor que vai:
“Amor maltrata, deseja
Amor comendo a maçã
Amor é pura incerteza
O que será amanhã?”
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