Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Um homem de Capricórnio

 


A vida de um ser humano é um processo muito complexo. Para muitos, vida é a distância entre o berço e a sepultura, morada última de todo mundo que não venha a ser cremado. No meio deste caminho, as necessidades básicas (comer, beber, prover sustento, etc.) e as necessidades superiores (a vontade de saber, os desejos mais variados em todas as esferas). Como um ser em transição afetiva, faço balanços e avaliações sobre o passado e o presente. De vez em quando, tranco o coração, não quero mais ninguém.

Vivi quatro anos e meio com o Poeta, meu sagitariano querido, companheiro de literaturas, conversas, sexo e alguns conflitos.

Ele já está morando com outra. Era necessário, mas não muito previsível para quem preza a liberdade. Mudou por dentro e por fora: por dentro, porque está em trabalho formal, preocupado com dinheiro, posses e sustento, como um ser mortal qualquer; por fora, com uma vertiginosa perda de beleza e um engordar apressado e estranho. E declaro isso sem os olhos de vingança que poderiam nutrir meu parecer. Aliás, pelo contrário: desejo a ele coisas boas, oro por ele, ponho o nome no Reiki à distância.

Por vezes, comentei aqui o quanto me era estranho esse povo que constitui relacionamentos e, no término, rompe a amizade com o ex, fala mal, deseja o mal.

Eu, não. E sou grata por tudo que vivi, pela maturidade sexual alcançada com um namorado tão cúmplice, tão presente e compreensivo no plano da intimidade.

Mas, o amor que morreu faz com que eu olhe o Poeta desvencilhado das lindas vestes de sentimentos...e se torna um retrato na parede, sexy como um pé de alface...Rei morto, rei posto.

Agora, porém, após dois anos de conversa esporádica, contato contínuo, encontros, esperas e reservas, estou no enlace com o Homem de Capricórnio, meu Rei de Espadas.

Tínhamos uma solidão em comum: a de poucos pares para dividir conversas, discussões e análise de música e literatura.

Ele é mais velho que eu, só não sei o quanto, porque tenho vergonha de perguntar. Ao contrário dele, que busca devassar até meus laudos médicos e odontológicos – coisa que, sinalizando um ser controlador, me assustou e me afastou.

Desde uns dois meses, ficamos reciprocamente nesta de aproximar e afastar, por pequenas coisas, por grandes medos. Ele tem muito medo de mim. Eu tenho muito medo dele.

Não sei o que fez o barco virar, porque eu sempre procurei desculpas para não querer nada com ele. Pretextos incontáveis. Recentemente, ele me disse algo sobre isso, percebendo que eu fugia.

Abri uma porta, com o coração em sobressaltos, com medo do estranho... Depois, ele começou a me abraçar continuamente. Um abraço grande, acolhedor...E as conversas continuam, a tal ponto que deixamos de dormir para falar de coisas e coisas...

Gostei de ver nele uma nítida admiração por mim. Isso me dá um orgulho! Não é aquele orgulho besta, de ego cheio, é um orgulho de satisfação por ter coisas que agradam a alguém que eu também admiro e considero.

Tivemos bastante tempo prévio para conhecer nossos defeitos. Alguns, só o tempo revela; outros são respostas a contextos, casos isolados. A conclusão “provisória” é de que ele é uma pessoa boa e difícil. Um ser humano duro para perdoar ou ouvir uma explicação; uma pessoa que não daria a oportunidade a ninguém de apresentar sua defesa. Isso, sim, me assusta muito. Eu vejo, eu noto, eu percebo – então, estou um pouco a salvo das cegueiras da paixão.

Penso no quanto estou pondo na mesa nessa aposta. E se eu perder tudo? E como será estar sem nada? E se eu ganhar muito e, empolgada, fizer nova aposta e perder o que ganhei? E se eu perder o que eu nem tenho, penhorando tanto de mim?

Nos bons versos da música de Alceu Valença, Amor que vai:

“Amor maltrata, deseja
Amor comendo a maçã
Amor é pura incerteza
O que será amanhã?


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